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Resenha Critica por Luis Paulo Penha Costa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLOGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE FARMÁCIA
SAÚDE E SOCIEDADE
Dra. Ilse Gomes Silva
Aluno: Luis Paulo Penha Costa¹
1. REFERENCIAL
Virginia Maria Gomes de Mattos Fontes. Catástrofe ambiental e a lógica capitalista. Entrevista ao canal do Youtube TV Boitempo. Disponível no sitio < https://www.youtube.com/watch?v=qBGvo3felYc >. Publicado em 1º Fev 2019.
2. CREDENCIAIS
A Profª Dra Virgínia Fontes é Historiadora com mestrado na UFF (1985) e doutorado em Filosofia - Université de Paris X, Nanterre (1992). Atua na Pós-Graduação em História da UFF. Integra o NIEP-MARX - Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o marxismo. Coordena o Grupo de Trabalho e Orientação-GTO (www.grupodetrabalhoeorientacao.com.br). Trabalhou na Fiocruz, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio-EPSJV, onde também coordenou e participa de curso de Especialização. Em atuação conjunta entre Escola Nacional de Saúde Pública-ENSP, a EPSJV e o Ministério da Saúde, coordenou coletivamente e atuou no mestrado profissional "Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais". 
Principais áreas de atuação: Teoria e Filosofia da História, Epistemologia, História do Brasil República, História Contemporânea. Autora de Reflexões Im-pertinentes (2005), de O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história (2010), coautora de Hegemonia Burguesa na Educação Pública (EPSJV, 2018) e de inúmeros artigos em periódicos nacionais e internacionais. Docente da Escola Nacional Florestan Fernandes-MST. Coordenadora do GT História e Marxismo-Anpuh. Integra diversos conselhos editoriais no país e no exterior.
3. RESUMO
O vídeo aqui resenhado é fruto de uma entrevista da Profª Drª Virginia Fontes a TV Boitempo que possui um canal no sítio do Youtube. Em uma entrevista curta ao canal a TV Boitempo, a entrevistada, com exímia maestria de quem possui domínio do conteúdo, discorre sobre a catástrofe ambiental dentro da lógica capitalista, citando alguns autores internacionalmente renomados que corroboram com a sua linha de raciocínio.
A entrevistada versa que o primeiro defeito estrutural insuperável do capital é a ruptura entre produção e controle. Isto possui diversos aspectos a começar pela crescente socialização do processo de  produção social, que de individual e localizado, passa a ser coletivo e global, atrelando toda a humanidade num abraço totalitário através de diversos expedientes (desde as leis alienadas do mercado até guerra e genocídios em nome da manutenção da ordem dominante), e de outro a crescente privatização da apropriação dos excedentes socialmente produzidos por uma ínfima casta que se eleva sob a miséria de milhões e constantemente  se expressa de forma racista e grosseira sob a imensa maioria da humanidade. No decorrer da Análise Crítica será analisado cada trecho da narrativa da Dra Virginia Fontes.
4. ANÁLISE CRÍTICA
A professora inicia suas palavras no vídeo com a seguinte premissa: “A questão seria se o mundo caminha para o colapso na questão ambiental”. A partir daí, e mostrando sua forte influência Marxista, a entrevistada analisa a importância da relação sócio metabólico, citando em sua análise o autor John Bellamy Foster.
Analisando conceitualmente o sentido de sócio metabolismo temos que:
Por sociometabolismo do capital podemos entender uma estrutura totalizante de organização e controle, cujos elementos constitutivos – capital, trabalho (assalariado) e Estado – estiveram submetidos, antes do contexto capitalista, a diferentes sistemas de controle do metabolismo social. Ao romper com a coesão e a restrição internas definidas pelos sistemas de controle precedentes, a evolução histórica do capital determinou uma mudança radical sobre o sistema sociometabólico da sociedade, que culminou gradualmente na consumação do sistema do capital plenamente desenvolvido. (RIBEIRO, 2012, p. 639)
Ainda segundo John Bellamy Foster (2011, p.1), um dos autores que a Dra Virgínia Fontes sustenta sua argumentação na entrevista, em seu artigo “Capitalism and degrowth: An impossibility theorem”; [“Capitalismo e decrescimento: um teorema da impossibilidade”], em que analisa o decrescimento proposto recentemente, acerca da catástrofe ambiental diz que:
 
Por mais valioso que o conceito de decrescimento seja num sentido ecológico, só pode adquirir significado genuíno como parte de uma crítica da acumulação do capital e parte da transição para uma ordem sustentável, igualitária, comunal – e de produtores que administram a relação metabólica entre natureza e sociedade no interesse de sucessivas gerações e da própria terra [...] É inegável, hoje, que o crescimento econômico é o principal motor da degradação ecológica do planeta. Mas, para fixar uma análise de toda a derrubar de uma “sociedade de crescimento” abstrato é perder toda a perspectiva histórica e descartar séculos de ciência social (FOSTER, 2011, p 1).
Em continuidade a entrevista, a Dra Virginia suscita o questionamento: “O que é a produção da existência?” E a própria autora responde como sendo a maneira em que os seres sociais (seres humanos) organizados entre eles, modificam e transformam a natureza, criando, portanto, novas necessidades, satisfazendo a essas novas necessidades que, por sua vez, vão gerar a possibilidade de novas necessidades. Ou seja, a autora tece uma crítica direta a fome do capital que cria consumidores por essência, dado que a cada necessidade criada, esta é satisfeita por uma necessidade nova, gerando um ciclo vicioso que escraviza a humanidade e transforma a natureza para satisfazer a essas novas exigências.
 Sobre esse ponto de vista da Dra Virginia Fontes, Marxista por essência, pode se afirmar que a natureza e suas leis existem independentemente das necessidades, desejos e da consciência humana; analisando e discutindo esse pensamento no sentido marxista, a natureza em Marx “é o conjunto da realidade, é o todo que inclui tanto o homem como a realidade extra-humana, tanto a natureza não apropriada pelo homem como aquela que ele transformou. Enfim, a natureza é a totalidade do mundo sensível, do qual o homem faz parte” (CONCEIÇÃO; ANTUNES, 2008, 170).
Ainda segundo a entrevista da Dra Virginia Fontes, esse processo histórico da relação sócio metabólico serve de aprendizado, visto que a natureza não é permanente, ela mesma sofre suas próprias catástrofes como vulcões ou terremotos, e, consequentemente, modifica a relação dos animais com a natureza e do animal ser humano, que é um ser social. Por outro lado, mesmo a natureza sempre sendo uma coisa grande demais para os seres sociais, que antes, dela possuía medos como como o temor da fome, o temor da seca, o temor da enchente, o temor da picada de cobra, o temor do raio, com a chegada da sociedade capitalista, essa natureza que antes amedrontava os seres humanos cede para ser dominada e passa a ser pensada, segunda entrevistada “como algo mecânico”.
A Virginia Fontes chega a criticar a ignorância capitalista cobre a concepção da natureza como algo mecânico: “pode ser muito eficiente para o resultado imediato e muito dramático para o resultado a longo prazo”. Essa concepção mecânica da natureza como objeto para o capitalismo encontra crítica em Marx (2012, p. 23) quando ele ressalta que “O trabalho não é a fonte de toda riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso (e é em tais valores que consiste propriamente a riqueza material!), tanto quanto o é o trabalho, que é apenas a exteriorização de uma força natural, da força de trabalho humana”.
Em outro trecho da entrevista a Dra Virginia Fontes alerta que a humanidade caminha a uma catástrofe, não em relação ao ambiente apenas, mas uma catástrofe humanitária onde se assiste a milhões de mortes por fome e doenças que já possuem cura, a programas de austeridade fiscais que devastam a vida de populações, destroem famílias. Ela cita como exemplos as investidas empresariais sobre a educação pública e a saúde pública, que mostram quanto a ausência dessa reflexão sócia metabólica é ainda mais grave, porqueela é o espelho da ausência da compreensão quando se trata de uma só humanidade, e essa humanidade precisa se relacionar sócio metabolicamente com a natureza e não unicamente com o lucro. 
Sobre o alerta acima, o primeiro aspecto que deve ser considerado é de ordem social. Em dados que podem ser consultados na rede mundial de computadores, cerca de 1 bilhão de seres humanos vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de 1 dólar por dia para sobreviver, número que a cada ano se agrava, isso sem mencionar o acesso aos bens e recursos mais elementares e necessários, como água, saneamento, saúde, educação, moradia, seguridade social e trabalho. Ou seja, 
“as primeiras vítimas dos desastres ecológicos são as camadas sociais exploradas e oprimidas [...] em particular as comunidades indígenas e camponesas que veem suas terras, suas florestas e seus rios poluídos, envenenados e devastados pelas multinacionais do petróleo e das minas, ou pelo agronegócio da soja, do óleo de palma e do gado” (LÖWY, 2012, p. 1).
Por fim, a Dra Virginia Fonte deixa a reflexão em sua entrevista que boa parte dos capitalistas sabem o risco que correm pela violência da interferência do capital na natureza. E reforça que a catástrofe social a que está sendo colocada a humanidade é a mais perigosa. A autora ainda questiona: “É possível controlar esse sócio metabolismo? ” Em uma resposta direta e otimista ela afirma que sim. Contudo cria nos ouvintes a pergunta contraditória do porquê, então, não se faz? A resposta é bem simples, o pressuposto zero da lógica capitalista é o lucro! E a própria autora conclui a expressão de Michel Lowy, o “eco socialismo”. 
O pensamento de Michel Lowy reforça o fechamento da Dra Virginia Fontes no sentido de como as bases para um pensamento ecossocialista se encontram em Marx:
”A produção capitalista […] perturba a interação metabólica entre o homem e a terra, isto é, impede o retorno ao solo de seus elementos constituintes consumidos pelo homem na forma de alimento e vestuário; daí impede o funcionamento das condições naturais eternas para a fertilidade duradoura do solo […] Todo progresso na agricultura capitalista é progresso na arte, não apenas de roubar o trabalhador, mas de roubar o solo […] Quanto mais um país […] se desenvolve com base na grande indústria, mais esse processo de destruição ocorre rapidamente. A produção capitalista […] apenas desenvolve […] ao minar simultaneamente as fontes originais de toda riqueza – o solo e o trabalhador”. (Marx, apud Lowy, 2019)
5. CONCLUSÃO
Para realizar a presente resenha da entrevista da Dra Virginia Fontes, fez necessário comparar os relatos da Dra com diversos outros autores que sustentassem sua argumentação, o que há vasta bibliografia que corrobora com suas palavras. De sua entrevista extrai-se, a partir da exposição dos pressupostos históricos que possibilitaram a existência do sistema do capital plenamente desenvolvido, da apresentação dos seus componentes orgânicos e do esclarecimento sobre como ocorre a dinâmica de inter-relação entre tais componentes, tornou-se compreensível a base material de mediações sobre a qual se fundamenta as condições para a reprodução do sistema sócio metabólico do capital.
Nesse sentido, o capital enquanto sócio metabolismo se constitui numa teia que medeia a relação primária do ser social com a natureza, sendo o trabalho a base ontológica de qualquer sociedade humana. Pois as relações sociais de produção articuladas com as forças produtivas são que estabelecem as formas sociais viáveis e historicamente funcionais em dada etapa do desenvolvimento do ser social. O próprio Marx (2011, p. 589) salienta que “a natureza não constrói máquinas nem locomotivas, ferrovias, telégrafos elétricos, máquinas de fiar automáticas, etc. Elas são produtos da indústria humana; material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza ou de sua atividade na natureza”.
E como a Dra Virginia Fontes inicia sua brilhante entrevista citando o pensamento de John Bellamy Foster, nada mais apropriado e pertinente do que fechar a análise deste trabalho com uma citação desse autor que reflete toda a síntese do que foi apresentado aqui:
A fratura metabólica sugere que a lógica da acumulação do capital cria inexoravelmente uma fratura no metabolismo entre a sociedade e a natureza, interrompendo processos básicos de reprodução natural. Isto levanta a questão da sustentabilidade ecológica – não apenas em relação à escala da economia, mas também, e de forma ainda mais importante, na forma e intensidade da interação entre a natureza e a sociedade sob o capitalismo. (FOSTER, 2007, p. 1).
6. BIBLIOGRAFIA
CONCEIÇÃO, Gilmar Henrique da; ANTUNES, Jair. Questões acerca da chamada dialética da natureza. Educare et Educare, UNIOESTE, vl. 3, n. 6, p. 165-178, jul./dez. 2008.
FOSTER, John Bellamy. A ecologia da destruição. Revista Eletrônica O Comuneiro, n. 4, mar. 2007. Disponível em< http://www.ocomuneiro.com/nr04_01_JOHN_BELLAMY.html. Acesso em 29 Jun 2021.
FOSTER, John Bellamy. Capitalismo e decrescimento – um teorema da impossibilidade. Disponível em: https://monthlyreview.org/2011/01/01/capitalism-and-degrowth-an-impossibility-theorem . Acesso em 29 Jun 2021
MARX, Karl. Grundrisse. Trad. Mario Duayer; Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011.
MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2012.
LÖWY, Michael. Rio+20 e a propaganda da “economia verde”. Entrevista concedida à Revista Caros Amigos, 23/03/2012. Disponível em: http://www.carosamigos.com.br/index.php/cotidiano/1046-michael-loewy-critica-rio20-e-a-propaganda-da-economia-verde%20-%20Acessado%20em%2010/05/2014. Acessado em: 29 Jun 2021.
LOWY, Michael. Michael Lowy reformula a opção ecossocialista. In outraspalavras.net 2019. Disponível em: https://outraspalavras.net/outrapolitica/michael-lowy-reformula-a-opcao-ecossocialista-1/. Acesso em 29 Jun 2021.
RIBEIRO, Danielle Cristine. O sistema sociometabólico do capital para István Mészáros. Anais do X Seminário de Ciências Sociais - Tecendo diálogos sobre a pesquisa social Universidade Estadual de Maringá | Departamento de Ciências Sociais 2012. Disponivel em < http://www.dcs.uem.br/xseminario/artigos_resumos/gt7/x_seminarios_gt7-r2.pdf> Acesso em 29 Jun 2021.
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¹ Luis Paulo Penha Costa, graduando do 1º período do Curso de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão.

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