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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA LEONARDO AUGUSTO DA SILVA RELATÓRIO DE QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL - PRÁTICA 1 IDENTIFICAÇÃO E CONFIRMAÇÃO DE GRUPOS FUNCIONAIS: ALDEÍDOS, CETONAS E ÁLCOOIS PRESIDENTE PRUDENTE MAIO/2021 1. OBJETIVOS Esta prática teve como objetivo a identificação e confirmação de grupos funcionais de aldeídos, cetonas e álcoois através de reações químicas. 2. INTRODUÇÃO Os grupos funcionais aldeídos e cetonas são aqueles que contêm um grupo acila ligado a um hidrogênio ou a outro carbono [1]. As representações genéricas desses grupos podem ser vistas nas Figuras 1 e 2. Figura 1 - Grupo funcional aldeído. Figura 2 - Grupo funcional cetona. Dentre suas propriedades físicas, tem-se que os aldeídos e cetonas possuem pontos de ebulição mais altos do que os alcenos, uma vez que as forças de atração dipolo-dipolo entre as moléculas são mais fortes. Todavia, quando comparados aos álcoois, os aldeídos e cetonas possuem pontos de ebulição mais baixos, porque ao contrário dos álcoois, dois grupos carbonilas não formam ligações de hidrogênio entre si [1]. Outra característica desses grupos em questão, é que seus oxigênios carbonílicos podem formar ligações de hidrogênio com os prótons do grupo hidroxila (OH-), tornando-os mais solúveis em água do que os alcenos e menos solúveis que os álcoois [1]. Ao considerarmos as reações nas quais esses grupos participam, pode-se listar algumas,dentre elas: redução a hidrocarbonetos; redução a álcoois e adição de reagentes de Grignard e compostos organolíticos para a conversão de aldeídos em álcoois secundários e de cetonas em álcoois terciários [1]. Os aldeídos e cetonas, diferentemente de alguns derivados de ácido carboxílico, não conseguem regenerar a carbonila ao sofrer uma reação, ou seja, não reagem por substituição nucleofílica. Essa característica se deve ao fato de que ao reagir aldeídos e cetonas com nucleófilos, há a formação de hidreto para os aldeídos e alcaneto para as cetonas. Esses dois grupos formados (hidreto e alcaneto) são péssimos grupos para serem deslocados em uma reação de substituição nucleofílica, logo, os aldeídos e cetonas sofrem reações de adição nucleofílica. Outro grupo funcional de estudo é o álcool. Sua representação genérica está a seguir na Figura 3: Figura 3 - Grupo funcional álcool. Os compostos que possuem esse importante grupo funcional, apresentam pontos de ebulição mais altos que os compostos apolares similares em tamanho e forma. Isso se deve às suas forças de atração excepcionalmente intensas, chamadas de ligação de hidrogênio [2]. Por fim, os álcoois são classificados como primários, secundários ou terciários e esta classificação está relacionada com o grau de substituição do carbono que leva o grupo funcional [2]. Exemplos podem ser vistos na Figura 4. Figura 4 - Exemplos de álcoois. 3. RESULTADOS 3.1 PARTE 1: ALDEÍDOS E CETONAS 3.1.1 Reação com 2,4-dinitrofenilhidrazina Quadro 1 - Substâncias testadas com o reagente 2,4-dinitrofenilhidrazina e suas respectivas colorações. Tubo Substância Coloração da solução Precipitado/cor 1 Aldeído benzóico Laranja Sim/vermelho alaranjado 2 Acetona Amarela/laranja Sim/laranja amarelado 3 n-butanol Caramelo Não Como visto no Quadro 1, ao reagir aldeído benzóico com 2,4-dinitrofenilhidrazina a solução apresentou coloração laranja e teve-se a presença de um precipitado com coloração vermelho/alaranjado. A reação ocorrida no tubo 1 está representada a seguir: Ainda, analisando o Quadro 1, pode-se notar que a reação entre acetona e 2,4-dinitrofenilhidrazina resultou numa solução amarela/laranja e que houve a presença de um precipitado com coloração laranja amarelado. A reação que ocorreu neste tubo está representada a seguir: No tubo 3, onde adicionou-se 2,4-dinitrofenilhidrazina à solução de n-butanol, não houve mudança de coloração e nem formação de precipitado. 3.1.2 Complexos de adição de bissulfito de sódio (10%) Quadro 2 - Substâncias testadas com o reagente bissulfito de sódio e suas respectivas condições. Tubo Substância Condição da solução Precipitado 1 Aldeído benzóico Turva Sim 2 Ciclohexanona Turva Sim 3 Acetato de etila Incolor Não Como visto no Quadro 2, ao reagir aldeído benzóico com bissulfito de sódio, a solução ficou turva e formou-se um precipitado. A reação ocorrida no tubo 1 está representada a seguir: Já no tubo 2, ao reagir ciclohexanona com a solução de bissulfito de sódio, a solução também ficou turva e houve a formação de um precipitado. A reação ocorrida neste tubo está a seguir: Por fim, no tubo 3, ao adicionar a solução de bissulfito de sódio à solução de acetato de etila, que é um éster, a solução permaneceu incolor e não houve formação de precipitado. 3.1.3 Reação do iodofórmio Os resultados obtidos neste teste podem ser vistos no Quadro 3 apresentado a seguir: Quadro 3 - Substâncias testadas com os reagentes hidróxido de sódio e Lugol (solução I2/KI) e suas respectivas colorações. Tubo Substância Coloração da solução Formação de precipitado amarelo 1 Aldeído benzóico + água destilada Turva/quase branco intenso Não 2 Formaldeído + água destilada Incolor Não 3 Acetona + água destilada Branca Não 4 Propanol + água destilada Incolor Não 3.1.4 Teste de Tollens (formação do espelho de prata) Quadro 4 - Substâncias testadas com o reagente de Tollens e suas respectivas colorações. Tubo Substância Coloração da solução Formação da Agº 1 Glicose Prata metálica Sim 2 Acetona Incolor Não Como visto no Quadro 4, ao reagir glicose com o reagente de Tollens no tubo 1, houve a formação da prata metálica. A reação ocorrida neste tubo está representada a seguir: Já no tubo 2, ao adicionar o reagente de Tollens à solução de acetona, não houve a formação da prata metálica e a solução permaneceu incolor. Logo, não houve reação. 3.1.5 Teste de Fehling e de Benedict Quadro 5 - Substâncias testadas com o reagente de Benedict e suas respectivas colorações antes e após o banho maria. Tubo Substância Coloração da solução Coloração da solução após o banho maria 1 Glicose Azul Marrom avermelhado 2 Acetona Azul Azul Como é possível notar no Quadro 5, ao reagir glicose com o reagente de Benedict a solução apresentou coloração azul e após o banho maria, a solução apresentou coloração marrom avermelhado (precipitado). A reação ocorrida no tubo 1 está representada a seguir: Já no caso da acetona na presença do reagente de Benedict, a solução apresentou cor azul e após o banho maria também. 3.2 PARTE 2: ÁLCOOIS 3.2.1 Teste com sódio metálico Quadro 6 - Substâncias testadas com o sódio metálico e seus respectivos comportamentos frente a liberação de gases. Tubo Substância Desprendimento de gás 1 terc-butanol Sim 2 Acetato de etila Não 3 n-butanol Sim Como visto no Quadro 6, ao adicionar um pequeno pedaço de sódio metálico à solução de terc-butanol, houve o desprendimento de gás, assim como na adição de sódio metálico à solução de n-butanol. As reações ocorridas nos tubos 1 e 3 estão representadas a seguir: TUBO 1 TUBO 3 Ao adicionar sódio metálico à solução de acetato de etila não houve a liberação de gás. 3.2.2 Presença de água no álcool Para a realização desse teste, realizou-se primeiramente a desidratação do sulfato de cobre(II). Quando hidratado, esse composto apresenta coloração azul e, quando desidratado, apresenta coloração branca. A reação de desidratação deste composto está a seguir: Quadro 7 - Substâncias testadas com o sulfato de cobre(II) anidro e suas respectivas colorações dos precipitados. Tubo Substância Coloração do precipitado 1 Etanol hidratado Azul 2 Etanol absoluto Branco É possível notarmos através do Quadro 7, que ao adicionar etanol hidratado ao pó branco de sulfato de cobre(II), formou-se um precipitado azul. Também, nota-se que ao adicionar etanol absoluto ao pó branco de sulfato de cobre(II), o precipitado permaneceu branco. 3.2.3 Oxidação- ensaio com reagente de Jones (CrO3/H2SO4) Quadro 8 - Substâncias testadas com o reagente de Jones e suas respectivas colorações. Tubo Substância Coloração 1 Acetona + n-butanol Azul esverdeado 2 Acetona + iso-butanol Azul esverdeado 3 Acetona + terc-butanol Laranja 4 Acetona Laranja Como é visto no Quadro 8, ao adicionar o reagente de Jones aos tubos 1 e 2, que continham acetona+n-butanol e acetona+iso-butanol, respectivamente, a solução apresentou coloração azul esverdeada. Como o n-butnaol e o iso-butanol são álcoois primários, a reação que ocorre é a redução do cromo(VI) para o cromo(III). A reação de redução do cromo, bem como as reações que ocorreram nos tubos 1 e 2, estão representadas a seguir: Já ao adicionar o reagente de Jones aos tubos 3 e 4, que continham acetona+terc-butanol e acetona, respectivamente, as soluções apresentaram coloração alaranjada. Como o terc-butanol é um álcool terciário, não houve reação. 4. DISCUSSÃO 4.1 PARTE 1: ALDEÍDOS E CETONAS 4.1.1 Reação com 2,4-dinitrofenilhidrazina A presença de precipitado no tubo 1 e 2 se deve a formação da 2,4-dinitrofenilhidrazona, que por sua vez serve de orientação à quantidade de conjugação no aldeído ou cetona original, comprovando assim, a presença desses grupos funcionais [3]. Já no tubo 3, considera-se que não houve reação pelo fato de que a solução permaneceu com a coloração do 2,4-dinitrofenilhidrazina. Também, outra justificativa para o ocorrido é que este teste é especialmente para a comprovação de grupos funcionais aldeídos e cetonas e que como exceção, funciona também para alguns álcoois alílicos e benzílicos [3], o que não é o caso do n-butanol. 4.1.2 Complexos de adição de bissulfito de sódio (10%) A presença de precipitado nos tubos 1 e 2, bem como o aspecto turvo apresentado pela solução se deve à formação de um complexo de adição de bissulfito, ou seja, derivados bissulfíticos, o que comprova a presença dos grupos funcionais aldeído e cetona. Já no tubo 3, como não houve formação de precipitado e a solução permaneceu incolor, entende-se que não houve reação, uma vez que o acetato de etila é um ótimo solvente e é relativamente muito volátil. Um fato importante sobre o bissulfito de sódio, é que é comumente utilizado para prevenir a oxidação e preservar o sabor de vinhos. 4.1.3 Reação do iodofórmio A base deste teste é a capacidade que alguns compostos têm de formar um precipitado de iodofórmio quando tratados com uma solução básica de iodo. Esse precipitado possui coloração amarelada [3]. Sendo assim, a partir da análise dos resultados apresentados no Quadro 3, é possível notar que não houve a formação desse precipitado em nenhum dos quatro tubos de ensaio. De acordo com a literatura, substâncias que possuem o grupo acetila (CH3CO-) ou o grupo CH3CHOH- reagem com essa solução de iodo em meio básico e formam o precipitado de iodofórmio (amarelo) e um íon carboxilato. Como as substâncias testadas não possuíam esses grupos, não haveria a formação do precipitado. Logo, foi o que ocorreu. 4.1.4 Teste de Tollens (formação do espelho de prata) A formação da prata metálica no tubo 1, se deve à presença do grupo aldeído da glicose. Tal acontecimento está de acordo com a literatura, uma vez que a maioria dos aldeídos reduz a solução amoniacal de nitrato de prata para formar um precipitado de prata metálica [3]. Já no tubo 2, não houve formação da prata metálica pelo fato de substâncias com o grupo cetona não reagirem com o reagente de Tollens. Dessa forma, foi possível comprovar a presença dos grupos funcionais aldeído e cetona. 4.1.5 Teste de Fehling e de Benedict Para iniciarmos nossa discussão, é válido sabermos que o reagente de Benedict é uma solução de citrato de sódio, carbonato de sódio e sulfato de cobre e, que este reagente é comumente utilizado para detectar a presença de glicose e outros açúcares redutores. Como foi possível observar no Quadro 5, a solução de glicose na presença do reagente de Benedict, após o banho maria, apresentou coloração marrom alaranjado (vermelho-tijolo), o que indica a redução do Cu2+ para Cu+. Esta redução do cobre indica a presença de um açúcar redutor, no caso a glicose. Logo, o teste foi positivo. Já no tubo 2, no qual continha acetona, a solução permaneceu azul pelo fato de a acetona não ser um açúcar redutor. Logo, não houve reação. 4.2 PARTE 2: ÁLCOOIS 4.2.1 Teste com sódio metálico A liberação de gás hidrogênio nos tubos 1 e 3 durante a reação dos álcoois e sódio metálico comprovou a presença do grupo álcool. Já no tubo 3, como não houve liberação de gás, comprovou-se a ausência de um álcool, uma vez que a substância utilizada no teste era um éster. 4.2.2 Presença de água no álcool A coloração azul presente no precipitado após a adição de etanol hidratado ao sulfato de cobre(II) anidro indicou que o composto retornou ao seu estado inicial de hidratado. Todavia, a permanência da coloração branca ao adicionar etanol absoluto no sulfato de cobre(II) anidro, indicou que esse composto permaneceu em sua forma anidra, uma vez que o etanol absoluto possui um alto teor de pureza (não tem águas de hidratação). Dessa forma, foi possível observar que realmente o etanol hidratado possuía águas de hidratação, enquanto o etanol absoluto não. 4.2.3 Oxidação - ensaio com reagente de Jones (CrO3/H2SO4) Os resultados obtidos neste teste foram condizentes com os resultados apresentados na literatura, uma vez que somente álcoois primários e secundários são oxidados causando a redução do cromo(VI) para o cromo(III) que possui coloração azul esverdeado e também, pelo fato de que a literatura afirma que álcoois terciários não são oxidados pelo reagente de Jones [3]. Desta forma, foi possível distinguir os álcoois primários do terciário utilizados neste teste. Nada ocorreu com a acetona pelo fato de ela já ser um componente do reagente de Jones. 5. CONCLUSÃO Através da análise dos dados obtidos em cada teste, pode-se concluir que em geral, todos os teste foram positivos quanto à identificação dos grupos funcionais aldeído, cetona e álcool, com exceção do teste de iodofórmio, pelo fato de não ter formado o precipitado amarelo (iodofórmio) em nenhum dos tubos. Dessa maneira, esses testes e os seus semelhantes, ou seja, que visam a identificação de grupos funcionais orgânicos, são de extrema importância para a aprendizagem experimental daquilo que vemos na teoria. 6. BIBLIOGRAFIA [1] A., C. F. Química Orgânica – V2. Porto Alegre: Grupo A, 2011. [2] A., C. F. Química Orgânica - V1. Porto Alegre: Grupo A, 2011. [3] ENGEL, R.G.; KRIZ, G.S.; LAMPMAN, G.M.; PAVIA, D.L. Química orgânica experimental: técnicas de escala pequena – Tradução da 3ª edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.
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