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1 Marcela Oliveira – Medicina 2020 – 1 - ESTUDAR O SISTEMA IMUNE DA CRIANÇA, E FATORES QUE POSSAM ESTIMULAR OU ALTERÁ-LO. As crianças, sobretudo os RN apresentam uma maior morbidade relacionado a patógenos quando comparados com os adultos, devido a uma imaturidade imunofisiológica. O desenvolvimento do sistema imune na criança inclui o amadurecimento da reposta imune inata, a indução de resposta antígeno-específica e memoria imunológica de patógenos, em paralelo com o desenvolvimento de tolerância aos antígenos próprios. A principal função do sistema imunológico é proteger contra agentes infecciosos. Além de atuar no desenvolvimento de neoplasias malignas. A primeira linha de defesa contra patógenos invasores é a barreira física constituída por pele e membranas mucosas. Nesse sentindo, as células epiteliais atuam como uma barreira física e também produzem substancias antimicrobianas. Assim, qualquer invasor que atravesse essas barreiras será combatido imediatamente por componentes da resposta imune inata e logo depois pela resposta imune adaptativa. Os principais componentes da resposta inata são as células epiteliais, o sistema complemento, os fagócitos e as células NK. Já a resposta adaptativa é mediada por linfócitos T (imunidade celular) e linfócitos B (imunidade humoral). A resposta imune adaptativa se diferencia da inata pela sua especificidade e pelo desenvolvimento de uma memoria imunológica, Portanto, em exposições posteriores, a memória imunológica fornece uma resposta mais rápida e intensa do que aquela primeira exposição. Esse desenvolvimento da resposta imune adaptativa pode ocorrer por meio de uma infecção ou decorrente de imunização. BARREIRAS CUTÂNEA E GASTROINTESTINAL Logo após o nascimento, a pele do bebe é colonizada pela flora microbiana. O verniz caseoso, presente no nascimento, é secretado pelas glândulas sebáceas fetais e contem proteínas e peptídeos microbianos com atividade microbicida. Essas caraterísticas da pele do RN são importantes, pois confere uma proteção contra microrganismos na fase inicial de transição do bebê para o meio externo. A colonização do trato gastrointestinal também ocorre imediatamente após o parto. No entanto, esse trato precisa ainda desenvolver tolerância aos antígenos alimentares. Estudos recentes mostram que as células epiteliais desempenham um papel importante na resposta imune das mucosas, através de produção de citocinas, fatores de crescimento e proteínas de membrana. Além disso, o aleitamento materno favorece o melhor e mais rápido amadurecimento do epitélio gastrointestinal e do sistema imune do lactente, conferindo proteção não apenas para infecções, mas também para a sensibilização de alérgenos alimentares. O leite materno além de ser fonte de IgA secretória, é rica em lactoferrina, lisoenzima, proteínas e peptídeos microbianos. 2 Marcela Oliveira – Medicina 2020 SISTEMA COMPLEMENTO A síntese de proteínas do complemento é detectada precocemente nos tecidos fetais, em torno de 6 a 14 semanas gestacionais. Os RN apresentam uma acentuada deficiência do componente C9, que é importante na lise de determinadas bactérias gram-negativas. Além disso, foi descrita também a deficiência funcional do componente C3b, o que pode resultar em comprometimento da capacidade de opsonização, dificultando a fagocitose de bactérias encapsuladas. FAGOCITOSE As células percursoras de linhagem neutrofilica são detectadas na medula óssea fetal a partir de 11ª semana. O numero de células percursoras de neutrófilos circulantes no feto e nos RN é cerca de 10 a 20 vezes maior do que nos adultos. Essa característica do sistema imunológico neonatal acarreta um déficit da resposta neutrofílica e infecções. Também a capacidade de migração dos neutrófilos neonatais para o sitio de infecção encontra-se diminuída ou mais lenta. PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS O epitélio contem uma população de células apresentadoras de antígenos (APC) pertencentes à linhagem de células dendríticas. Essas células dendríticas capturam os antígenos que penetram no epitélio pelo processo de fagocitose. Logo, as células epiteliais e os macrófagos ao encontrarem os antígenos respondem produzindo citocinas, como a TNF e a IL-1. Com a produção das citocinas, as células dendriticas migram do epitélio pelos vasos linfáticos para os linfonodos regionais. Durante esse processo, essas células amadurecem, evoluindo de células especializadas em capturar antígenos para APC capazes de estimular os linfócitos T. Nos linfonodos ocorre a interação entre APC e linfócito T e inicia-se a resposta imune específica. Os linfonodos T maduros reconhecem os peptídeos apresentados através do MHC da APC, levando a ativação e a diferenciação de linfócitos T específicos. Os linfócitos B, em resposta aos antígenos, diferenciam-se em células secretoras de anticorpos, desenvolvendo a resposta imune humoral especifica. Ao longo de toda a infância, a celularidade tímica aumenta progressivamente e o timo atinge o seu tamanho máximo aos 10 anos de vida. Após a puberdade, ele involui e ocorre substituição do córtex e da medula por tecido gorduroso. IMUNIDADE HUMORAL O estimulo e ativação dos linfócitos B resulta na formação de duas linhagens celulares: os linfócitos B de memória e os plasmócitos (células responsáveis pela secreção de substancias antígeno-especificas chamadas de imunoglobulinas) Os linfócitos B são os efetores da imunidade humoral, cuja “arma” principal é as imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM). No primeiro contato com o antígeno (resposta primária) há o período de latência de alguns dias para que seja detectado os primeiros anticorpos, geralmente da classe IgM que desaparecem em semanas a meses, seguidos de IgA e IgG. Os linfócitos B de memoria (resposta secundária) produzirão imunoglobulinas imediatamente, sem período de latência, garantindo a proteção e o não desenvolvimento da doença. A IgA atua principalmente nas mucosas, bloqueando a aderência e penetração dos microrganismo, mas também existe IgA no soro (IgA sérica). A IgM é a primeira imunoglobulina a ser encontrada no sangue na resposta imune, cerca de sete a dez dias após o estimulo antigênico. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2020 O IgG passa a predominar na resposta secundaria. Ela é uma imunoglobulina de maior concentração plasmática. O sistema imune é capaz de apresentar resposta imune humoral a partir do 6º ao 7º mês de gestação, embora a capacidade funcional atinja competência próxima ao do adulto aos 2 anos de vida. A maturação dos linfócitos B na medula óssea continua ao longo de toda a vida, mas apenas pequena parcela de linfócitos B migra da medula óssea para a circulação. Os anticorpos da classe IgM não atravessa a placenta, motivo pelo qual o RN tem dificuldades de se defender contra determinados organismos. No entanto, os anticorpos da classe IgG atravessa a placenta e garante proteção passiva ao RN. Os linfócitos B neonatais apresentam níveis aumentados de IgM de superfície quando comparados aos linfócitos B de adultos. Além disso, os linfócitos B do RN expressam IgG ou IgA acompanhados de IgM e IgD. IMUNIDADE PASSIVA MATERNA Os recém-nascidos e lactentes são parcialmente protegidos pela imunidade passiva materna, ou seja, pela transferência transplacentária de IgG materna durante a gestação. A transferência de IgG ocorre predominantemente no último trimestre da gestação e a concentração de IgG fetal após 34 semanas é igual ou superior à materna. O feto recebe anticorpos da classe IgG contra os antígenos a que a mãe foi exposta, seja por infecção ou imunização. Contudo, se os níveis de anticorpos maternos forem muitobaixos, eles poderão ser efetivos na proteção da mãe sem conferir proteção ao lactente. O RN pré-termo pode receber quantidades de IgG insuficientes para a sua proteção, pois a maior parte da IgG materna é transferida após 34 semanas de gestação. Isso explica porque os RN pré-termos possuem uma susceptibilidade aumentada a determinados patógenos. Os anticorpos maternos inibem marcadamente a resposta às vacinas contra sarampo e rubéola, mas não interferem na vacina contra a caxumba. É por essa razão que a vacina tríplice viral é postergada para os 12 meses de vida. Portanto, os diferentes componentes da resposta imune inata atingem a maturação completa ate os 2 anos de idade, enquanto o desenvolvimento da resposta imune adaptativa similar à de adultos ocorre somente no final da infância. 2 - ENTENDER COMO OCORRE O PROCESSO FISIOLÓGICO DA IMUNIZAÇÃO VACINAL. IMUNIZAÇÃO PASSIVA A imunidade passiva pode ser feita através da administração de anticorpos já formados ao individuo, e tem como característica promover a proteção transitória contra determinado agente. Essa imunização passiva pode ser feita através da aplicação de anticorpos heterólogos (obtidos de animais previamente vacinados), ou de anticorpos homólogos (obtido a partir do plasma humano). As imunoglobulinas usadas na pratica médica são praticamente formadas por IgG, cujo titulo caem a metade em cerca de 21- 28 dias. As maiores indicações da imunização passiva são: as Imunodeficiências congênitas, pessoas expostas a um agente infeccioso e que não tem tempo suficiente para aguardar o desenvolvimento da resposta protetora. Os principais tipos são contra Hepatite B, Varicela, Raiva e Tétano. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2020 IMUNIZAÇÃO ATIVA A imunização ativa é o processo através do qual induzimos uma resposta imunológica celular e humoral duradoura contra determinado agente para prevenir do adoecimento. A resposta à vacina pode ser dividida em inespecífica ou primária e específica ou secundária. Após a exposição do individuo a vacina, inicia-se a resposta primaria. Esse individuo ainda não tem memoria imunológica. Dessa forma, o período inicial de latência (1-14 dias) é caracterizado pela ausência de anticorpos circulantes. Nesse momento, o antígeno esta sendo preparado pelas células apresentadoras de antígeno para que seja reconhecido pelos linfócitos. Logo em seguida, se dá o período de crescimento (cerca de 28 dias), quando ocorre rápido aumento nos títulos de anticorpos, sendo o primeiro pico de IgM e depois de IgG. Esse período de crescimento é o que justifica o intervalo mínimo de um mês entre duas doses da mesma vacina. Após o pico de anticorpos, há um período de declínio com queda do titulo ate valores menores, mas protetores para o resto da vida (naquelas vacinas que não precisa de reforços). Dessa forma, as doses de reforço são necessárias para aquelas vacinas em que a resposta ao antígeno se assemelha menos a infecção natural, nas quais o titulo de anticorpos se torna não protetor ao longo dos nos. Na resposta secundária, uma subpopulação de linfócitos T e B que entrou em contato com o antígeno na resposta primaria se diferenciou em linfócitos de memoria. Assim, quando uma segunda dose da vacina é aplicada, há uma resposta especifica contra esses agentes biológicos. Essa resposta secundaria é caracterizada pela ausência de período de latência e por um período de crescimento maior e mais intenso. Nessa situação, a IgG é o anticorpo predominante. E como o período de crescimento é maior, durante o declínio, o titulo de anticorpos será significativamente maior do que após a primeira dose, promovendo proteção por um período prolongado. VACINAS VIVAS ATENUADAS E NÃO VIVAS As vacinas vivas atenuadas são obtidas a partir de cepas naturais dos microrganismos que são atenuadas através de passagem em meios de cultura especiais. Elas produzem uma infecção parecida com a natural, porem mais brandas. Assim, desencadeiam uma forte imunidade em longo prazo, possivelmente por toda a vida e sem a necessidade de doses de reforço. São exemplos: BCG, sarampo, rubéola, caxumba, febre amarela, poliomielite oral, rotavírus e varicela. Uma exceção é a VOP e a tríplice viral que necessitam de reforço. Já as vacinas não vivas são obtidas de diversos modos: 5 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Microrganismos inteiros inativados. Ex: vacina contra coqueluche e vacina inativada contra a pólio. Toxinas inativadas: Ex. toxoides tetânico e diftérico. Fragmentos do agente: ex vacina contra influenza. Vacinas obtidas por engenharia genética, no qual um gen do microrganismo responsável pela produção de uma proteína importante é inserido no genoma de um vetor. Ex: vacina contra hepatite B. Vacinas obtidas a partir de polissacarídeos das capsulas de algumas bactérias. Ex: vacinas antipneumocócica. Vacinas gliconconjugadas em que os componentes polissacarídeos são conjugados a proteínas, criando um complexo antígeno capaz de provocar respostas imunológicas. Ex: vacina conjugada contra meningococo e pneumococo. VACINAS CONJUGADAS São aquelas em que um antígeno pouco potente (ex:polissacarídeo) é anexado a outro de maior poder imunogênico (ex: peptídeos e proteínas) com a finalidade de induzir uma resposta imune duradoura e eficaz. Exemplos de vacinas conjugadas: anti- hemófilo, antipneumocócica conjugada e antimeningocócica conjugada. VACINAS COMBINADAS São aquelas que em um mesmo frasco são misturadas vacinas vivas atenuadas (ex: tríplice viral) ou vacinas não vivas (ex:tríplice bacteriana). Mas, é importante lembrar: nunca se combina em um mesmo frasco uma vacina viva atenuada com uma vacina não viva. VACINAÇÃO SIMULTÂNEA É aquela em que duas ou mais vacinas são aplicadas com seringas diferentes em locais diferentes, mas em um mesmo dia. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Por exemplo, a aplicação no mesmo dia da Tetra + Pólio Oral + tríplice viral. Apesar da vacina oral da pólio e da vacina tríplice ser ambas de agentes vivos atenuados, o mecanismo de indução imunológica pela vacinação contra a poliomielite é mediado através da mucosa e não interfere com a tríplice, que também é atenuada, mas injetável. Como regra geral, vacinas inativas podem ser aplicadas simultaneamente. As vacinas inativas e atenuadas (VIP, tríplice, antivaricela) podem ser administradas também no mesmo dia. Já entre as vacinas atenuadas, por exemplo, a tríplice e antivaricela pode-se administrar no mesmo dia, e se não for é preciso aguardar um intervalo de no mínimo 30 dias entre elas. Uma exceção é a vacina de febre amarela que não pode ser administrada simultaneamente com outra vacina atenuada. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO Via Oral São a VOP, contra febre tifoide, cólera oral e contra rotavírus. Via intramuscular Os locais utilizados são o vasto lateral da coxa ou o deltoide. A administração na região glútea deve ser evitada e é contraindicada para algumas vacinas como o da Hepatite B. As principais vacinas empregadas contem alumínio e geralmente são compostas de agentes “mortos”. O alumínio libera de forma lenta os antígenos depositados no musculo intensificando a resposta imune. Ex: DTP, hepatite B. Via Subcutânea São empregadas nessa via as vacinas de vírus vivos atenuados (não necessitam de alumínio). Ex: tríplice viral, febre amarela e varicela; Administração Intradérmica A BCG é composta de cepas atenuadas e é o melhor exemplo. 3 - COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO NO COMBATE ÀS DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA. A vacinação é uma das medidas mais importantes de prevenção contra doenças. É muito melhore mais fácil prevenir uma doença do que tratá-la, e é isso que as vacinas fazem. Elas protegem o corpo humano contra os vírus e bactérias que provocam vários tipos de doenças graves, que podem afetar seriamente a saúde das pessoas e inclusive levá-las à morte. A vacinação não apenas protege aqueles que recebem a vacina, mas também ajuda a comunidade como um todo. Quanto mais pessoas de uma comunidade ficarem protegidas, menor é a chance de qualquer uma delas – vacinada ou não – ficar doente. Além disso, algumas doenças preveníveis por vacina podem ser erradicadas por completo, não causando mais doença em nenhum local do mundo. Até hoje, a varíola é a única já erradicada mundialmente. O último registro da doença no mundo é de 1977. Outra doença que está em processo de erradicação é a poliomielite (paralisia infantil). No continente americano, não há casos dessa doença desde 1991. No entanto, ainda existem casos de poliomielite em outros lugares do mundo como Índia, Paquistão, Afeganistão, Nigéria, Niger, Egito e Gana – países da África e Ásia. É por isso que ainda é muito importante que todas as crianças sejam vacinadas contra a doença, segundo o calendário de vacinação e durante as campanhas nacionais contra a poliomielite. É importante destacar que as vacinas não são necessárias apenas na infância. Os idosos precisam se proteger contra gripe, 7 Marcela Oliveira – Medicina 2020 pneumonia e tétano, e as mulheres em idade fértil devem tomar vacinas contra rubéola e tétano, que, se ocorrerem enquanto elas estiverem grávidas (rubéola) ou logo após o parto (tétano), podem causar doenças graves ou até a morte de seus bebês. Os profissionais de saúde, as pessoas que viajam muito e outros grupos de pessoas, com características específicas, também têm recomendações para tomarem certas vacinas. 4 - CONHECER O CALENDÁRIO VACINAL (INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES, DOSES, IDADES ETC.). Ao nascer: BCG Protege contar formas graves da tuberculose principalmente na forma miliar meníngea. É uma vacina de vírus vivo atenuado. É administrado via intradérmica, de preferencia no braço direito, o mais precocemente possível, logo após o nascimento. Para os prematuros com <36 semanas, só administra depois que eles completarem um mês de vida e atingir 2 kg. Não se recomenda mais a revacinação de crianças que não apresentem cicatriz no local da aplicação após 6 meses. Comunicantes domiciliares de hanseníase, independente da forma clínica, podem receber uma segunda dose da vacina BCG. Em recém-nascidos filhos de mãe que utilizaram imunossupressores na gestação, ou com história familiar de imunossupressão, a vacinação poderá ser adiada ou contraindicada. HEPATITE B A primeira dose da vacina Hepatite B deve ser aplicada idealmente nas primeiras 12 horas de vida. Crianças com peso de nascimento igual ou inferior a 2 Kg ou idade gestacional < 33 semanas devem receber, obrigatoriamente, além da dose de vacina ao nascer, mais três doses da vacina (total de 4 doses: 0, 2, 4 e 6 meses). Recém-nascidos filhos de mães portadoras do vírus da hepatite B (HbsAg positivas) devem receber, além da vacina, a imunoglobulina específica para hepatite B (HBIG), na dose 0,5mL, até o sétimo dia de vida, preferencialmente logo ao nascer, no membro inferior contralateral da vacina. 2 meses PENTAVALENTE (1ª dose): Protege contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Haemophilus, Influenza B e Hepatite B. A vacina é recomendada em três doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade. VIP (1ª dose): Vacina inativada da poliomielite. As três primeiras doses, aos 2, 4 e 6 meses, devem ser feitas obrigatoriamente com a vacina pólio inativada (VIP). ROTAVÍRUS (1ª dose): Protege contra a diarreia por rotavírus. É oral. Indicada em duas doses, seguindo os limites de faixa etária: primeira dose aos 8 Marcela Oliveira – Medicina 2020 2 meses (limites de 1 mês e 15 dias até, no máximo, 3 meses e 15 dias) PNEUMOCOCICA10V (1ª dose): Protege contra doenças causadas pelo Pneumococo. A SBP recomenda, sempre que possível, o uso da vacina conjugada 13-valente, pelo seu maior espectro de proteção, no esquema de três doses no primeiro ano (2, 4, e 6 meses) e uma dose de reforço entre 12 e 15 meses de vida. 3 meses MENINGOCÓCICA C (1ª dose): Protege contra doenças causadas pela Neisseria Meningitidis. 4 meses PENTAVALENTE (2ª dose): protege contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Haemophilus, Influenza B e Hepatite B. VIP (2ª dose): vacina inativada da poliomielite. ROTAVÍRUS (2ª dose): protege contra a diarreia por rotavírus. A segunda dose aos 4 meses (limites de 3 meses e 15 dias até no máximo 7 meses e 29 dias) PNEUMOCOCICA10V (2ª dose): protege contra doenças causadas pelo Pneumococo. 5 meses MENINGOCÓCICA C (2ª dose): protege contra doenças causadas pela Neisseria Meningitidis. 6 meses PENTAVALENTE (3ª dose): protege contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Haemophilus, Influenza B e Hepatite B. VIP (3ª dose): vacina inativada da poliomielite. 9 meses FEBRE AMARELA: Indicada atualmente para toda a população brasileira e também para pessoas que se deslocam para países que exigem a comprovação de vacinação. O PNI oferece duas doses da vacina para crianças menores de 5 anos de idade, aos 9 meses e 4 anos. Acima de 5 anos o esquema preconizado é de dose única (Subcutânea). Mães que amamentem bebês menores de 6 meses de idade, quando vacinadas, devem ser orientadas para a suspensão do aleitamento materno por 10 dias após a vacinação. Deve ser evitada a aplicação da vacina febre amarela no mesmo dia que a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) em crianças menores de dois anos, devido à possível interferência na resposta imune, sendo ideal guardar um intervalo de 30 dias entre a aplicação das duas vacinas. 12 meses TRÍPLICE VIRAL: (subcutânea) Protege contra Sarampo, Caxumba e Rubéola. Em situações de risco como, por exemplo, surtos ou exposição domiciliar 9 Marcela Oliveira – Medicina 2020 ao sarampo, é possível vacinar crianças imunocompetentes de 6 a 12 meses com a vacina SCR. PNEUMOCOCICA10V (reforço): protege contra doenças causadas pelo Pneumococo. MENINGOCÓCICA C (reforço): protege contra doenças causadas pela Neisseria Meningitidis. 15 meses DTP (reforço): Protege contra Difteria, Tétano e Coqueluche. A vacina DTPa (acelular), quando possível, deve substituir a DTP (células inteiras), pois tem eficácia similar e é menos reatogênica. O esquema é de 5 doses, aos 2, 4 e 6 meses com reforço aos 15 meses. Um segundo reforço deve ser aplicado entre quatro e seis anos de idade e na adolescência, uma dose entre 14-15 anos. VOP (reforço): Essa é a vacina oral da Poliomielite. Desde 2016 a vacina VOP é bivalente, contendo os tipos 1 e 3 do poliovírus, podendo ser utilizada nas doses de reforço ou nas Campanhas Nacionais de Vacinação. Tetraviral (reforço): É um reforço da tríplice (Sarampo, caxumba e rubéola) + 1ª dose da Varicela. (Subcutânea) Em casos de surtos ou contato íntimo com caso de varicela, a vacina varicela pode ser utilizada a partir de 9 meses de vida. HEPATITE A: dose única. 4 anos DTP (reforço): Protege contra Difteria, Tétano e Coqueluche. VOP (reforço): essa é a vacina oral da Poliomielite. VARICELA (reforço) - (Subcutânea) O PNI introduziu a segunda dose da vacina varicela aos 4 anos de idade em 2018. A vacina varicela pode ser indicada na profilaxia pós-exposição dentro de cinco dias após o contato, preferencialmente nas primeiras 72 horas. FEBRE AMARELA (reforço): toda criança que toma essa vacina com idade inferior a 5 anos deve ser feita 2doses. Depois disso, é apenas dose única. (Subcutânea) Anual INFLUENZA: é feita todo ano para grupos de risco: crianças (6 meses até 6 anos), idosos (55 a 59 anos), doenças crônicas, imunosuprimidos, profissionais de saúde, pessoas que trabalham es escolas, prisioneiros, agentes carcerários Adolescente dT (reforço): protege contra tétano e difteria e deve ser feita a cada 10 anos. MENINGOCÓCICA C (reforço): fornecida de 11 a 14 anos. 10 Marcela Oliveira – Medicina 2020 HPV: é do tipo Quadrivalente, protegendo contra 4 tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). É oferecida em 2 doses para meninos de 9 a 14 anos e meninas de 11 a 14 anos. CONTRAINDICAÇÕES Todo evento que surge após a vacinação é, inicialmente, relacionado a ela, no que se denomina associação temporal. Significa dizer que até se confirmar a verdadeira causa, o sinal ou sintoma estará associado à vacinação. Os eventos adversos pós-vacinação podem acontecer devido a aspectos relacionados aos vacinados ou à vacinação. Consideramos aspectos relacionados ao individuo aqueles que envolvem respostas do organismo. Quanto aos aspectos relacionados à vacinação, pode ser em relação aos componentes da vacina, sua produção e a relação destes com a predisposição orgânica dos vacinados. Alguns aspectos devem ser observados antes da vacinação: O paciente esteve usando corticosteroides por mais de 2 semanas. Ou paciente em uso de radioterapia e medicamentos imunossupressores. Nesses casos, recomenda-se adiar a vacinação por um período de pelo menos 3 meses após o término do tratamento, para que o organismo possa ter uma resposta adequada. Só aplicar vacinas de vírus vivos 2 semanas antes ou 3 meses após o uso de derivados do sangue. Doenças agudas como resfriado não contraindica a vacinação. Uso de antibióticos não contraindica a vacinação. EFEITOS ADVERSOS BCG A vacina BCG apresenta uma evolução da cicatriz vacinal importante de ser conhecida. A família deve ser avisada sobre essa evolução normal e orientada para lavar o local apenas com água e sabão. Alguns dias após a vacinação surgirá no local de aplicação da vacina um nódulo (caroço), que evolui para uma pústula (ferida com pus), em seguida para úlcera (ferida aberta) e, finalmente, crosta (ferida com casca, em processo de cicatrização). Durante a evolução normal pode aparecer um enfartamento ganglionar, ou popularmente conhecido como “íngua” (em até 10% dos vacinados) em região axilar, supra ou infraclavicular. Geralmente 11 Marcela Oliveira – Medicina 2020 aparece três a seis semanas após a vacinação. Desde 2018, crianças que não apresentam a cicatriz no braço após receberem a BCG não deverão ser revacinadas. A presença de complicações locais deve-se geralmente à técnica inadequada, ou por aplicação intramuscular inadvertida ou por administração de dose excessiva. Reações Locais: Abcessos subcutâneos frios ou quentes. Ulceras de grandes dimensões (>1cm) que não evoluem para cicatrização dentro de 12 semanas. A conduta é notificar e acompanhar. Linfonodos grandes >3cm de diâmetro flutuantes e fistulizados. HEPATITE B Os efeitos adversos são raros e resume-se a reações locais, febre, mal-estar leve ocorrendo nas 48 horas após a aplicação. A dor local é vista em 29% dos casos e febre em apenas 6%. Contraindicações: Reação anafilática com dose administrada anteriormente. Púrpura trombocitopênica imunológica após dose administrada anteriormente. POLIOMIELITE – VOP Em raros casos pode haver paralisia aguda flácida após a administração nas crianças (4 a 45 dias após a VOP) ou nos contactantes imunodeprimidos. Esse fenômeno deve-se à mutação para neurovirulência que o vírus pode sofrer. A taxa de paralisia é maior na primeira dose da VOP. Para definição do caso de poliomielite associado À vacina é condição fundamental o achado de vírus vacinal nas fezes dos pacientes acometidos. Contraindicações: Recomenda-se o adiamento da vacina em casos de: diarreia grave ou vômitos incoercíveis, quadro clinico compatível com enterovirose e gravidez. É contraindicado também em pacientes com imunodeficiências congênitas e adquiridas, sendo nesses casos recomendada o uso da vacina inativada. POLIOMIELITE-VIP Efeitos adversos: são efeitos locais (ex: hiperemia) e sistêmicos (ex:febre) sendo mínimos. Contraindicação: apenas se houver reação anafilática em alguma das aplicações anteriores, mas este evento é muito raro. DTP (DIFTERIA, TÉTANO E COQUELUCHE). Eventos adversos: Observa-se edema e induração no local de aplicação em quase 50% dos vacinados, e geralmente decorre do efeito irritativo do alumínio. Os abcessos frios são causados pela administração da vacina IM pela via subcutânea. Já os abcessos quentes são provocados pela inoculação de bactérias na pele. A febre, sonolência, irritabilidade, choro persistente e incontrolável com duração maior que três horas, irritabilidade e manifestações graves como convulsões e encefalopatia são alguns dos efeitos sistêmicos. Contraindicação: Acredita-se que o componente pertussis seja o responsável pelas reações neurológicas, dai a criação da vacina acelular. 12 Marcela Oliveira – Medicina 2020 São contraindicação absoluta à DTP celular ou aceluar: reação anafilática à dose anterior e encefalopatia ocorrendo dentro de 7 dias após a administração da dose. TRÍPLICE VIRAL – SARAMPO, CAXUMBA E RUBÉOLA Efeitos adversos: Os efeitos locais são pouco frequentes. Já os efeitos sistêmicos inclui febre, exantema, cefaleia, irritabilidade, sintomas catarrais, encefalite. Contraindicações: Algumas situações provocam o adiamento da vacina como: doença febril moderada a grave e após uso de sangue ou hemoderivados deve-se adiar por 3 meses. São contraindicações absolutas: anafilaxia em dose anterior, gravidez, pessoas em uso de corticosteroides, pessoas em uso de quimioterapia e transplantados de medula óssea recomenda-se a vacinação após 2 anos do transplante. FEBRE AMARELA Efeitos adversos: A manifestação local mais comum é a dor na região da aplicação. Pode ocorrer febre, mialgias, cefaleia e encefalite. Além disso, reações de hipersensibilidade podem ser desencadeadas em pessoas com alergia ao ovo. Contraindicação: Crianças com menos de 6 meses; Imunodepressão transitória ou permanente induzida por doenças (neoplasia, AIDS, HIV), gestação (contraindicação relativa). Durante a amamentação até os 6 meses de idade, deve-se contraindicar a vacinação. Na impossibilidade, deve evitar a amamentação durante 15-28 dias. PNEUMOCOCO Efeitos adversos: Locais: eritema, enduração e dor no local da injeção podem ocorrer em 30 a 50% das pessoas vacinadas. Sistêmicas: febre baixa, astenia, mialgia, dor nas articulações e cefaleia também podem ocorrer. Contraindicação: reação de hipersensibilidade a algum componente da vacina. MENINGOCOCO Efeitos adversos: São raros. Quanto aos efeitos locais podemos observar eritema, enduração e dor. Também podem ocorrer febre baixa e irritabilidade. Contraindicação: reações de hipersensibilidade a algum componente da vacina. INFLUENZA Efeitos adversos: efeitos locais como dor, eritema e enduração. E febre, mal estar e mialgia podem acontecer. Contraindicação: reação anafilática prévia relacionada a ovo de galinha e seus derivados. VARICELA Efeitos adversos; dor, hiperestasia ou rubor, erupção semelhante à varicela pode ocorrer. Além disso, febre, exantema variceliforme e encefalite. Contraindicações: pacientes imunodeprimidos, pacientes em uso de corticoides devem aguardar pelo menos 1 mês, gravidez e reação anafilática. 13 Marcela Oliveira – Medicina2020 5 - ENTENDER O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE, E IDENTIFICAR AS ESFERAS GOVERNAMENTAIS QUE GARANTEM O FORNECIMENTO DA COBERTURA VACINAL. REDE DE FRIO É um sistema amplo, que inclui uma estrutura técnico-administrativa orientada pelo PNI, por meio da normatização, planejamento, avaliação e financiamento que visa à manutenção adequada da Cadeia de Frio. Já a cadeia de frio é o processo logístico da Rede de Frio para conservação dos imunobiológicos, desde o laboratório produtor até o usuário. A ESTRUTURA DA REDE DE FRIO A estrutura da rede de frio permeia as três esferas administrativas organizando-se em instancias com fluxos de distribuição e armazenamento basicamente verticalizados. 1. Instância Nacional É representada pela Coordenação-Geral do PNI, unidade gestora, estrutura técnico- administrativa da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS), sendo responsável pelas seguintes atividades de imunização desenvolvidas pelas equipes técnicas especializadas: Apoio à gestão; Gestão de insumos; Gestão de incorporação técnica, científica e de normatização; Apoio administrativo; Sistema de informações. 2. Instância Estadual A Instância Estadual organiza-se em 27 centrais estaduais de armazenamento e distribuição de imunobiológicos, geralmente, localizadas nas capitais das unidades federadas do Brasil. A Instância Estadual estabelece um planejamento compartilhado das atividades de vacinação com a Instância Nacional, em função dos Calendários de Vacinação Nacional e da situação epidemiológica. 3. Instância Regional A Instância Regional incorpora as Centrais Regionais de Rede de Frio (CRRFs) que estão subordinadas às secretarias estaduais de Saúde ocupando posição estratégica para distribuição. 4. Instância Municipal Nesta Instância encontra-se a Central Municipal de Rede de Frio (CMRF), incluída na estrutura organizacional da Secretaria Municipal de Saúde. Tem como atribuições o planejamento integrado e o armazenamento de imunobiológicos recebidos da Instância Estadual/Regional para utilização na sala de vacinação. 5. Instância Local É a instância destinada às atividades operacionais de vacinação, está em contato direto com o usuário final desta cadeia. Sala de Vacinação Representa a instância final da Rede de Frio, sendo responsável exclusivamente pelos procedimentos de vacinação de rotina, campanhas, bloqueios e intensificações. Essas salas localizam-se em unidades da Rede de Atenção Básica de Saúde e hospitais que ocupam posição estratégica em relação à rede de frio. Para a realização de sua atividade, é fundamental o armazenamento dos imunobiológicos aplicáveis em suas rotinas em equipamentos para refrigeração apropriados e dentro de condições ideais. É recomendando a utilização de freezers, além de climatização da sala de vacinação para minimizar os riscos indesejados de 14 Marcela Oliveira – Medicina 2020 alterações de temperatura dos imunobiológicos. Centro de Referência para imunobiológicos especiais (Crie) Os Centros de referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) têm como finalidade facilitar o acesso à população, em especial dos portadores de imunodeficiência congênita ou adquirida e de outras condições especiais de morbidade, para a prevenção das doenças que são objeto do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Os CRIE atendem de forma personalizada o público que necessita de produtos especiais, de alta tecnologia e alto custo que são adquiridos pelo PNI. INSTRUMENTOS PARA MONITORAMENTO E CONTROLE DA TEMPERATURA Câmeras refrigeradas que operam na faixa entre +2ºC e +8ºC. Caixas térmicas utilizadas para transporte, atividades de rotina e campanhas. Frezeers utilizados para o armazenamento de vacinas em temperaturas negativas e de bobinas reutilizáveis. Câmaras frigoríficas positivas e negativas, equipamentos de infrasestrutura utilizados nas instâncias que armazenam maiores quantidades de imunobiológicos e por períodos mais prolongados. Condicionadores de ar e equipamento de infraestrutura para climatização dos ambientes. Grupo gerador de energia aplicada às situações emergenciais para suprimento da energia elétrica. Instrumentos para medição de temperatura. Obs: Não é permitido o uso de refrigeradores de uso domestico para armazenar vacinas. 6 - CONHECER AS DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NA INFÂNCIA. 7 - DESCREVER A ETIOPATOGENIA E QUADRO CLÍNICO DAS DOENÇAS EXANTEMÁTICAS. (SARAMPO, RUBÉOLA, ERITEMA INFECCIOSO, SÍNDROME MÃO-PÉ-BOCA, EXANTEMA SÚBITO, ESCARLATINA, VARICELA E DENGUE). SARAMPO O sarampo é uma das doenças exantemáticas de maior morbimortalidade, especialmente quando acomete crianças desnutridas, com menos de um ano de idade e aquelas que vivem em países em desenvolvimento, O sarampo é uma doença de notificação compulsória. 15 Marcela Oliveira – Medicina 2020 ETIOLOGIA É causada por um vírus RNA, e antes da vacinação em massa, a população mais acometida era a de 5 a 10 anos. E atualmente a doença vem ocorrendo mais em adolescentes e adultos jovens. O homem é o único hospedeiro conhecido do vírus e sua transmissão ocorre através de pequenas gotículas de saliva eliminada através da fala, espirro ou tosse. Essas partículas virais podem permanecer suspensas no ar por ate1 hora, o que possibilita a disseminação da doença. Sendo assim, recomenda-se o isolamento respiratório dos doentes com sarampo para evitar a transmissão da doença. Os bebes nas quais a mãe foi vacinada ou foi exposta a doença na infância recebem proteção através da passagem de anticorpos pelo leite materno ate nove meses de vida, o que justifica a não vacinação da criança antes desse período. PATOGENIA O período de transmissibilidade ocorre entre 4-6 dias antes do exantema e quatro dias após o seu desaparecimento. E o período de incubação é de dez dias em média. O vírus penetra no organismo através da mucosa do trato respiratório ou da conjuntiva ocular e migra para os linfonodos regionais, replicando-se e causando intensa hiperplasia linforreticular. Ocorre então a viremia primaria que dissemina o vírus para todos os órgãos do sistema linforreticular. Em uma segunda viremia, há a propagação do vírus para as superfícies epiteliais e mucosas. No epitélio respiratório, o vírus do sarampo causa uma necrose celular, vasculite de pequenos vasos, infiltrado linfocítico e formação de células gigantes de Warthin- Finkeldey, que são patognomônicos da doença. Essas células gigantes são formadas por varias células epiteliais infectadas, dando origem a uma estrutura com mais de 26 núcleos que representa as partículas virais. O vírus do sarampo infecta os linfócitos TCD4 o que pode levar a uma imunodepressão da resposta Th1. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. 1. Período de Infecção (duração de 7 dias) Inicia-se com a fase prodrômica, na qual surgem febre, tosse produtiva, coriza, conjuntivite e fotofobia. Há o desenvolvimento de um enantema (erupção cutânea que se manifesta nas mucosas), caracterizado por pequenas lesões puntiformes, esbranquiçadas com halo avermelhado na mucosa oral principalmente na altura dos pré-molares, encontrado também nos lábios, palato duro e gengivas. Essas lesões são chamadas de Manchas de 16 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Kolplik e são patognomônicas da doença. Entre o 2º e o 4º dia começa a fase exantemática, durante o qual surge o exantema maculopapular avermelhado, inicialmente na região retroauricular com disseminação para a região frontal. Esse exantema tende a confluência em face e tronco, seguindo um padrão de distribuição cefalocaudal. A febre é máxima no pico do exantema, podendo a chegara 40ºC. Temos a chamada fácies sarampenta, caracterizada por hiperemia conjuntival, lacrimejamento, coriza mucopurulenta e rash facial. A partir do momento do inicio do exantema a febre e os sintomas respiratórios pioram. 2. Período de Remissão (a partir do 7º dia) Os sintomas constitucionais tendem a se reduzir ao longo dos dias, e o exantema resolve-se em sete dias, tornando-se acastanhado e deixando no local uma fina descamação. A tosse é o ultimo sintoma a desaparecer, podendo levar ate 10 dias. 3. Período Toxêmico É marcada pela queda da resistência imunológica do hospedeiro e surgimento das complicações, especialmente das superinfecções bacterianas e virais, mais prevalentes em crianças menores de 1-2 anos e naquelas com desnutrição. RUBÉOLA A rubéola é uma doença exantemática benigna e autolimitada quando adquirida no período pós-neonatal. O vírus da rubéola é constituído de RNA altamente sensível ao calor, pH extremo e a um numero variável de agentes químicos. Ele é geralmente transmitido através de gotículas de secreção nasofaríngea das pessoas infectadas, que penetram no organismo susceptível através da mucosa respiratória. O período de maior transmissibilidade ocorre desde 5-7 dias antes até 5-7 dias depois do aparecimento do rash cutâneo. Do epitélio respiratório, as partículas virais migram ate os linfonodos regionais e cerca de 17 dias após, ocorre a primeira viremia. O vírus da rubéola é transmitido ao feto pela via transplacentária. Os defeitos congênitos são mais graves quando a infecção materna acontece nas primeiras oito semanas de idade gestacional. As manifestações mais frequentes na SRC são: oftalmológicas, cardíacas, auditivas e neurológicas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Após um período de incubação que varia de duas a três semanas, a primeira manifestação que inicia é o rash, maculopapular puntiforme, róseo, que começa na cabeça e pescoço e se dissemina pelo tronco, dorso e Período de incubação, que varia de 8 a 12 dias (média dez dias) e corresponde ao tempo entre a entrada do vírus pela superfície mucosa e a sua migração para os linfonodos; (2) Período prodrômico, que começa com a viremia secundária, disseminação das partículas virais para as superfícies epiteliais e SNC, seguida de necrose celular; (3) Período exantemático, que marca o início da produção de anticorpos, com redução progressiva dos outros sintomas. 17 Marcela Oliveira – Medicina 2020 extremidades. Quando aparece no tronco, geralmente já esta desaparecendo da face. Junto com o exantema, podem surgir lesões rosadas (manchas de Forcheimer) e petequias em palato mole e amígdalas. O exantema da rubéola dura em media três dias e desaparece sem descamar. Além disso, é acompanhada de febre baixa, mal-estar, anorexia, mialgias, dor de garganta e hiperemia conjuntival. Surgem adenomegalias principalmente localizadas na região suboccipital, retroauricular e cervical. ERITEMA INFECIOSO É uma doença exantemática, benigna, causada pelo Parvovírus B19, e costuma acometer mais a faixa etária dos pré- escolares. O Parvovirus B19 é um DNA-vírus, sendo esse subtipo o único capaz de infectar humanos. Sua transmissão se dá através de gotículas de secreção respiratória, via transplacentária ou sanguínea. A célula alvo primária da infecção pelo Parvovírus B19 são os percursores eritróides na medula óssea, pois o receptor para as partículas virais são os antígenos P encontrados na superfície de membrana dessas células. As células endoteliais, células placentárias e células miocárdicas também possuem o antígeno P de membrana e podem ser diretamente atacados pelo vírus. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O eritema infeccioso é a manifestação mais comum da infecção. O período de incubação da doença é longo, com media de 16 dias. Os pródromos consistem em febre baixa, cefaleia, rinorréia e obstrução nasal, assemelhando-se a uma infecção viral simples de via aérea superior. O que distingue esta doenças das demais é seu exantema que evolui em 3 estágios: 1º estágio: o exantema aparece primeiro na face (aspecto de bofetada) o que somado à palidez perioral determina as maiores características do eritema infeccioso. 2º estágio: Aproximadamente um dia depois do envolvimento da face, o exantema se dissemina como manchas vermelhas simetricamente distribuídas no tronco e parte proximal das extremidades superiores e inferiores. Com a evolução, as lesões cutâneas começam a clarear centralmente, dando aparência rendilhada. Esse estágio pode durar dias ou semanas. As palmas e plantas são poupadas, e as lesões desaparecem sem descamar. 18 Marcela Oliveira – Medicina 2020 3º estágio: é o ressurgimento das alterações cutâneas depois da melhora clinica, após uma a três semanas. O exantema pode reaparecer mediante alterações ambientais, como mudança de temperatura, e exposição à luz solar. SÍNDROME MÃO-PÉ-BOCA Essa doença é uma enfermidade de alta contagiosidade, de transmissão fecal-oral e respiratória, causada pelo vírus Coxsackie. É uma doença mais frequente em crianças, especialmente entre os menores de 5 anos. É na grande maioria das vezes, uma doença benigna, autolimitada e com duração de aproximadamente uma semana. A maioria das infecções ocorre de pessoa a pessoa, direta ou indiretamente. Indivíduos infectados podem transmitir o vírus nas fezes ou por secreções respiratórias, desde alguns dias antes do inicio dos sintomas, continuando a sua excreção nas fezes por semanas depois da infecção primária. A duração da excreção respiratória geralmente é menor, limitada a 1 a 3 semanas. Considera-se a primeira semana após o início dos sintomas como o período de maior susceptibilidade da infecção. A síndrome MPB não é considerada de notificação compulsória, entretanto, a ocorrência de dois ou mais casos relacionados devem ser notificados como surto. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA A doença é causada principalmente pelo vírus coxsackievírus A16 e EV71. A complicação mais frequente é a desidratação, devido principalmente à dificuldade de ingesta de líquido pelas lesões aftosas na cavidade oral que algumas vezes resultam em dificuldade de engolir a própria saliva. As manifestações clínicas são caracterizadas pela presença de febre, dor de garganta e recusa alimentar, associadas à presença de lesões vesiculares que aparecem na mucosa bucal e na língua, e erupção pápulo vesicular localizada nas mãos e pés incluindo as palmas e plantas. As vesículas são ovaladas com formato de “grão de arroz” e as lesões ulceradas na cavidade oral podem não estar presentes em todos os casos. EXANTEMA SÚBITO OU ROSÉOLA É uma infecção comum nos lactentes e pré- escolares. O pico de maior incidência do exantema é de 6 ate os 15 meses de vida. Aos 3 anos, 95% das crianças já adquiriram a infecção. Antes do 6 meses a doença é incomum devido a proteção conferida pelos anticorpos maternos. O exantema súbito é uma doença causada pelo Herpesvírus Humano tipo 6 e 7.uma característica própria dos Herpesvírus é a capacidade peculiar de permanecer em estado latente no organismo após a primo- infecção. O HHV6 (mais frequente) e o HHV 7 são excretados pela saliva de adultos saudáveis portadores e são transmitidos às crianças pequenas através de pequenas gotículas de secreção. O vírus penetra no organismo através da mucosa nasal, oral ou conjuntival. Os principais receptores de membrana para o HHV 6e 7 são as moléculas CD dos linfócitos 19 Marcela Oliveira – Medicina 2020 T. Após o período de viremia, as partículas tornam-se latentes nas células mononucleares, glândulas salivares, rins, pulmões e SNC. O HHV 6 tem a capacidade de provocar supressão detodas as linhagens hematopoiéticas da medula óssea, estando muitas vezes associado a mielossupressão grave em pacientes pós-transplantados. O período de incubação é em media de 10 dias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O exantema súbito manifesta-se em sua forma clinica clássica em apenas ¼ das crianças infectadas pelo HHV6. Pode se iniciar com sintomas prodrômicos tipo infecção de vias aéreas superiores, como rinorréia, hiperemia conjuntival e dor de garganta. Uma linfadenomegalia cervical e occipital discreta pode aparecer, e algumas crianças apresentam leve edema palpebral. Logo após, instala-se a febre alta (40ºC) e nesse momento podem ocorrer crises convulsivas febris. Em alguns casos são verificadas ulceras no palato mole e úvula, chamadas de Manchas de Nagayama. A febre dura em media 3 a 5 dias e pode desaparecer bruscamente (em crise) ou gradualmente ao longo de 24 horas (em lise). Cerca de 12-24 horas após o desaparecimento da febre, aparece o rash, róseo, macular, não pruriginoso, primeiramente em tronco com disseminação para pescoço, face e extremidades. O período para resolução do exantema é de 3 dias. ESCARLATINA A escarlatina é uma das manifestações clinicas provocada pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes). É uma doença exantemática mais encontrada em pré-escolares e escolares, na faixa etária de 3 a 15 anos. Ocorre mais frequentemente associado À faringite. Essa infecção é mais incomum no período neonatal, fato que se deve à passagem de anticorpos protetores maternos. Os estreptococos do grupo A responsáveis pelo desenvolvimento do exantema típico da escarlatina produzem uma toxina chamada toxina eritrogênica, que pode ser do tipo A, B ou C. Como os anticorpos produzidos são também toxinas-específicos, uma criança pode apresentar escarlatina mais de uma vez, desde que sejam provocados por exotoxinas diferentes. A transmissão da infecção do trato respiratório parece ocorrer através de gotículas de saliva e de secreções nasais eliminadas pelo doente. As bactérias se fixam à mucosa da oro e da nasofaringe, iniciando a colonização e infecção. A aglomeração e o contato próximo são fatores que favorece a infecção. O individuo infectado deixa de transmitir a infecção 24 horas após o inicio do tratamento com antibiótico adequado. O período de incubação para o surgimento da faringite é de dois a cinco dias e de impetigo é de sete a dez dias. 20 Marcela Oliveira – Medicina 2020 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A doença tem inicio agudo com febre alta (39º a 40ºC), calafrios, vômitos, cefaleia, prostração, amigdalite e dor abdominal. O exantema surge após 24 a 48 horas, com aspecto eritematoso e micropapular, dando à pele uma textura áspera semelhante à “lixa”. O rash se inicia no tórax e se dissemina para pescoço e membros, poupando palmas e plantas. Na face, a fronte e as bochechas ficam hiperemiadas enquanto a região perioral torna-se pálida (Sinal de Filatov). Nas regiões flexurais (ex.: prega poplítea, axilas, prega cubital) o exantema é mais intenso, levando à formação de linhas transversais (Sinal de Pastia). O rash começa a desaparecer após a 1ª semana, iniciando-se pela face e pescoço, deixando uma descamação fina. Os pés e as mãos são os últimos a descamar e o fazem de modo mais intenso. As amígdalas frequentemente estão edemaciadas, hiperemiadas e recobertas por um exsudato. A língua, no primeiro dia da infecção, apresenta-se com aspecto de “morango branco” em função das papilas hipertrofiadas e exsudato branco recobrindo sua superfície. No terceiro dia, a língua adquire um aspecto de “morango vermelho” ou “framboesa”, pois o exsudato desaparece e as papilas linguais avermelhadas tornam-se evidentes. VARICELA ZÓSTER A varicela nada mais é do que a catapora. Essa doença tem um curso benigno e autolimitado na infância. Embora seja uma doença imunoprevinível, continua sendo bastante comum em nosso meio, uma vez que a vacina foi introduzida no Calendário Básico da Criança apenas em 2013. A doença é causada pelo Vírus Varicela Zoster e o ser humano é o único reservatório do agente. O VVZ é capaz de causar infecção primária, latente e recorrente. A capacidade de estabelecer uma infecção latente após a infecção primária é uma característica comum de diversos membros da família dos herpesvírus. A infecção primária leva ao quadro de varicela. Após a primoinfecção, o vírus estabelece infecção latente nos gânglios sensoriais e a reativação provoca o quadro de herpes-zóster, mais comuns em indivíduos mais velhos e com comorbidades. O leigo costuma chamar esse quadro de “cobreiro”. O vírus é encontrado nas secreções respiratórias e no líquido das lesões cutâneas do paciente com varicela e pode disseminar-se por via aérea e pelo contato direto com as lesões. A transmissibilidade tem inicio um a dois dias antes do surgimento do exantema e persiste ate o momento em que todas as vesículas se transformaram em 21 Marcela Oliveira – Medicina 2020 crostas (o que em geral ocorre de três a sete dias após o inicio das lesões). O vírus é inoculado na mucosa do trato respiratório superior e nos tecidos linfoides e começa a se replicar. Tem inicio o período de incubação da doença que dura entre 10 e 21 dias. Ocorre uma primeira viremia subclínica, que espalha o vírus pelo sistema reticuloendotelial. Passam-se alguns dias e ocorre a disseminação cutânea do vírus por meio de uma segunda viremia, que dura de três a sete dias. Próximo ao fim do período de incubação, o vírus é novamente transportado para a mucosa respiratória, começando a ser eliminado antes do aparecimento do exantema. A doença é autolimitada devido à própria resposta imune do hospedeiro, que é capaz de conter a replicação viral. Após o controle da doença, o VVZ não é eliminado do organismo. Ele caminha de forma retrógrada pelos axônios sensoriais e alcança os gânglios das raízes dorsais, permanecendo em estado de latência por muitos anos. O vírus latente pode sofrer reativação, se replicar nos gânglios e fazer o caminho de volta pelos nervos ate a área da pele correspondente, levando ao surgimento faz lesões do quadro de herpes-zóster. É isso que explica a distribuição típica do exantema. O surgimento das novas lesões na pele também é autolimitado e a formação das crostas ocorre em ate duas semanas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. A doença costuma começar entre 14 e 16 dias após o contágio. As crianças menores simplesmente não costumam apresentar prodrômos. As manifestações cutâneas costumam serem as primeiras alterações. As crianças maiores e adultos podem apresentar febre moderada, mal-estar, adinamia, anorexia e dor abdominal. Esses sintomas surgem um a dois dias antes do exantema. A lesão inicial consiste em mácula eritematosa e pruriginosa, que se converte em pápula, que evolui em vesícula de conteúdo cristalino. Essa vesícula lembra uma “gota de orvalho sobre a pétala”. Em 24-48 horas, cada vesícula evolui como pústula com umbilicação central e formação de crostas. Uma coisa interessante de se observar, é que ao mesmo tempo em que algumas vesículas já se tornaram crostas, há novas vesículas surgindo. Por esse motivo, em uma mesma região do corpo, podemos encontrar lesões em vários estágios evolutivos, que da origem ao polimorfismo regional. Essas lesões também se espalham nas mucosas, atingindo orofaringe, mucosa vaginal e conjuntiva. As primeiras lesões em geral surgem no couro cabeludo, na face e no tronco. O exantema tem uma distribuição centrípeta, ou seja, é mais evidente no centro do corpo. O surgimento de novas lesões dura em media de 2 a 4 dias. No momento em que todas as lesões tornam-se crostase novas lesões param de surgir, sabemos que a viremia foi interrompida. Isso é fundamental para sabermos o momento em que o indivíduo parou de transmitir o vírus e pode retomar as suas atividades normais. Todas as crostas irão finalmente desaparecer entre uma e duas semanas deixando áreas 22 Marcela Oliveira – Medicina 2020 de hipo ou hiperpigmentação. A formação de cicatrizes permanentes não é comum, exceto quando ocorre a infecção secundária de uma lesão. DENGUE A dengue é uma doença febril exantemática aguda causada por um vírus de RNA do gênero Flavivírus, que compreende 4 sorotipos conhecidos (DENV 1, 2 , 3 e 4). A transmissão se da por meio de picadas de mosquitos femeas do gênero Aedes, sendo o A. aegypt o principal vetor no Brasil. Entre 2007 e 2009 registrou-se um aumento significativo de casos graves em crianças com a recirculação do DENV2. A dengue na criança pode ser assintomática ou manifestar-se como síndrome febril com sinais e sintomas inespecíficos, como apatia, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos, diarreia sem sinais de localização. Já os menores de 2 anos de idade, os sinais e sintomas de dor podem manifestar-se por choro persistente, sonolência ou irritabilidade, que pode sugerir outros quadros infecciosos febris, comuns dessa faixa etária, como o exantema súbito.
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