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(Livro 1) Meu Alfa me Odeia - Natchan93

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Prévia do material em texto

Sinopse
No dia do seu aniversário de 18 anos, Aurora Craton sentiu o chamado do
seu parceiro, enquanto trabalhava servindo os convidados na festa do
líder da matilha. Mas o parceiro de Aurora é ninguém menos que
Wolfgang, o alfa do bando Lua de Sangue. Ao descobrir que sua parceira
é apenas uma criada, Wolfgang não apenas se recusou a aceitá-la, como
ainda ameaçou marcá-la como uma renegada se ela ousar contar a
alguém que é a parceira dele.
Aurora não tem escolha a não ser permanecer na matilha, condenada
à solidão. Mas, ela imagina, que deve existir uma razão para a Deusa da
Lua ter unido os dois...
Classificação etária: 16+
Autor original: Natchan93
E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio
https://t.me/SBDLivros
https://t.me/oslobosdomilenio
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
 
Capítulo 1
Aurora
Acasalamento...
Imprinting...
Alma gêmea...
Amor verdadeiro
Ao crescer na sociedade dos lobos, ouvi muito essas palavras em nossa
aldeia.
Sim, você leu direito. Sociedade dos lobos.
Eu sou uma lobisomem. Acredite ou não, nós existimos. Na verdade,
a gente vive entre os humanos — fato totalmente ignorado por eles.
Normalmente, a gente anda por aí nas nossas formas humanas e
desenvolvemos a capacidade de nos transformarmos em lobos no nosso
aniversário de 18 anos.
E, quando isso acontece, encontramos nosso parceiro.
Funciona assim: a Deusa da Lua criou uma alma gêmea para cada um
de nós. E, quando a encontramos, não amamos ninguém que não seja
aquela pessoa para o resto de nossas vidas.
Porém, poucos de nós temos essa chance. Hoje em dia, é raro um lobo
conseguir encontrar seu parceiro.
Principalmente porque, a cada dia, somos menos e menos lobos,
graças à incessante perseguição de caçadores humanos e rastreadores
renegados.
Meus pais foram alguns dos poucos sortudos que conseguiram se
casar com seus parceiros.
Meu pai conheceu minha mãe em uma reunião das aldeias vizinhas,
e, logo de cara, se apaixonou profundamente por ela. Mas, infelizmente,
minha mãe morreu no parto — enquanto eu, Aurora Craton, nascia.
Na solidão do luto, meu pai se casou novamente, e sua segunda
esposa, que virou minha madrasta, passou a governar a família Craton.
Meu pai era um guerreiro da nossa matilha, o gama, para ser mais
precisa, mas, há cinco anos, ele morreu em ação.
Agora, eu estava a poucos dias de completar dezoito anos. E estava
nervosa com a expectativa de finalmente conhecer minha loba.
E, o mais importante, de encontrar meu parceiro.
— Aurora! Você já terminou de lavar a roupa? O jantar está pronto! —
gritou minha madrasta de dentro de casa.
— Já estou indo, Montana! — respondi também gritando, enquanto
pendurava a última peça de roupa no varal. Olhei para o céu,
aproveitando o calor que o sol oferecia.
Era um acontecimento raro, já que nós morávamos em uma pequena
aldeia chamada Iliamna, no Alasca.
Nossa matilha, a Lua de Sangue, vivia entre humanos que não faziam
ideia da nossa existência.
Quando entrei em casa, fui recebida pela careta horrenda da minha
madrasta.
— Por que você demorou tanto? Estou morrendo de fome! — ela
reclamou.
— Você podia ter começado sem mim, — respondi, me sentando para
comer.
Eu preciso dar esse crédito para a Montana. A comida dela é
excelente.
— Então, Rory... em alguns dias você irá fazer 18 anos, certo? —
perguntou minha madrasta.
Olhei para ela, por cima do meu prato. — Oi? Ah... sim, — murmurei,
voltando a atenção para a minha comida.
— Sabe... já está na hora de você começar a ganhar seu próprio
dinheiro. A pensão do Rodrick está ficando cada vez mais minguada.
Olhei para ela de novo, quase engasgando com a minha comida.
— Como é?
— Sim, já não era grande coisa para começar, querida. E ter que
dividi-la entre nós duas tem causado um enorme impacto sobre as
finanças, — ela disse.
— Então, decidi oferecer seu nome para a casa do líder. Eles precisam
urgentemente de criados para trabalhar na comemoração do aniversário
do alfa, — continuou.
— Você fez o quê? — gritei. Então, me levantei tão bruscamente que
minha cadeira caiu para trás. — Como você pôde?
— Preste atenção, Rory! Já passou da hora de você ajudar com as
despesas por aqui.
Ela cruzou os braços.
— A festa do alfa é um dos maiores eventos do ano. Eles precisam de
qualquer mão extra que conseguirem.
Ela levantou as sobrancelhas.
— Pense nisso! Talvez você conheça seu parceiro nessa noite.
Eu não conseguia acreditar naquilo. Bufei, irritada, e saí pisando duro
em direção ao meu quarto. Eu não queria ficar nem mais um minuto
perto dela.
Não que ela fosse uma má pessoa. A Montana praticamente me criou
após a morte do meu pai. Mas ela era tão irritante às vezes, presumindo
que fosse lá o que ela decidisse por mim era a escolha certa.
Peguei meu celular e fiz uma chamada de vídeo para a minha melhor
amiga, Emma Johnson.
— Ei, boo! — ela me cumprimentou com uma gosma preta
assustadora no rosto.
— Que diabos você tem na cara? — perguntei, erguendo uma
sobrancelha.
— Ah, é uma máscara de carvão. Tracy deu a dica, então decidi
experimentá-la, — disse ela, encolhendo os ombros enquanto engolia um
Cheetos.
— E aí? Quais são os planos para o seu niver? Você deve estar super
animada em fazer 18 anos. Você vai conhecer seu parceiro! — ela gritou,
entusiasmada.
Revirei meus olhos.
— Mal posso esperar para fazer 18 anos, — continuou Emma.
— Antes de mais nada, nem tenho certeza de que vou mesmo
conhecer meu parceiro. Você sabe que isso é uma coisa que só acontece
uma vez durante a lua azul.
Eu rolei sobre a cama e abracei meu ursinho de pelúcia.
— E vou ter que trabalhar no meu aniversário, então não vai dar para
fazer muita coisa.
— Como assim você vai trabalhar nessa noite? — ela perguntou
ofegante. — Ô, minha Deusa. — Você não... — ela me lançou um olhar
desconfiado.
— Não, eu não. Mas a Montana sim, — eu disse, revirando os olhos
novamente.
— O quê?! Por que ela fez isso? — perguntou Emma, confusa.
— Ela disse que essa seria a melhor maneira de eu encontrar meu
parceiro.
— Ah, vai! Ela não pode estar falando sério! — as narinas da Emma se
abriram. — Às vezes não consigo entender sua madrasta, cara.
— É, bom... não tem muito que fazer. Vou na porcaria do baile,
trabalhar a noite toda, ganhar meu dinheiro e voltar para casa, — eu
disse, sufocando um bocejo.
— Bom... se você está dizendo... Eu te ligo mais tarde, então. Vou lá
tirar essa coisa da minha cara e pegar algo para comer. Te amo, boo, —
disse ela, saltando da cama.
— Amo você mais.
Desliguei e me estiquei na minha cama.
É mesmo tão importante assim encontrar meu parceiro?
Já nem é mais uma coisa tão comum.
E se ele for um esquisitão?
Essas perguntas ficaram dançando na minha cabeça até eu cair no
sono.
Acordei algumas horas mais tarde. Saí da cama, desci e descobri que
estava sozinha em casa.
— Montana deve ter saído, — pensei em voz alta antes de voltar para
o meu quarto. Eu não estava com fome, então não me preocupei em
preparar nada.
Como de costume, minha madrasta não estava em casa, então eu
também não precisava me incomodar com ela. Mas suas palavras idiotas
continuavam ecoando na minha cabeça.
E se eu encontrar meu parceiro nessa noite?
Vou embora com ele imediatamente?
Ele vai mesmo gostar de mim? Eu vou gostar dele?
— Argh! Isso é tão irritante! — bufei, apertando meu travesseiro.
No dia seguinte, acordei com um barulho parecido com uma
martelada na porta do meu quarto.
— Já estou acordada, já estou acordada! — gritei. Pulei da cama,
tropecei até a porta, abri e dei de cara com a minha madrasta.
— O que você quer? — perguntei.
— Querida, você jádeveria estar vestida. Você tem que estar na casa
do líder em uma hora. — ela disse, sorrindo.
— Por quê? — perguntei, exasperada.
— Como assim 'por quê'? Já falamos sobre isso, Aurora. — ela disse.
— Não, não falamos! Você tomou a decisão por mim. — eu devolvi. —
Sabe de uma coisa? Eu vou, sim, e espero encontrar meu parceiro lá, para
ele me levar para longe deste lugar e de você!
Bati a porta na cara dela.
Uma hora depois eu estava vestida e a caminho da casa do líder,
reclamando baixinho sobre como a minha vida era miserável.
Mal sabia eu...
— Eu provavelmente deveria pedir desculpas para Montana na volta.
— murmurei para mim mesma.
Ao me aproximar da casa do líder, não pude deixar de me sentir
perturbada por sua opulência. Era extravagantemente grande.
Quantas pessoas moravam ali?
Um guarda estava a postos na entrada. Ele me olhou da cabeça aos
pés antes de falar.
— Qual é o motivo da sua visita?
— Hum, fui contratada como criada para ajudar na celebração do
alfa. — respondi, me sentindo um pouco intimidada.
— Nome? — perguntou ele, puxando uma prancheta.
— É, hum... Aurora Craton, senhor. — minha voz saiu num guincho.
Ele verificou a lista e acenou com a cabeça. Levei um segundo para
entender que isso significava que eu tinha permissão para entrar.
Eu estive na casa do líder apenas uma vez, quando meu pai ainda era
vivo.
Eu tinha uns seis anos e nós dois estávamos brincando no parque
quando ele foi convocado para uma reunião urgente.
Como não tinha mais ninguém com quem me deixar em tão pouco
tempo, meu pai me levou com ele.
Eu me lembro de ele ter me colocado numa cadeira do lado de fora da
sala de reunião.
— Fique aí quietinha, Rory. Não vou demorar. — Ele deu uns
tapinhas na minha cabeça e entrou no espaço cheio de outros
lobisomens.
Enquanto eu estava sentada ali, um homem enorme veio caminhando
na minha direção.
Ele tinha cabelos longos e pretos, olhos escuros como ônix e um
horrível corte no rosto.
Ao lado dele estava um garoto, com a mesma massa de cabelos negros
e os mesmos olhos azuis brilhantes. O menino estava discutindo com o
homem mais velho.
— Mas eu sou o futuro alfa, pai! Eu deveria estar nessa reunião com
você!
Eram o alfa da matilha e seu filho.
— Você ainda não está pronto para reuniões como essa, filho. —
respondeu o alfa em uma voz monótona e com uma expressão estóica.
Eles se aproximavam cada vez mais, então rapidamente deslizei da
cadeira e curvei minha cabeça em sinal de respeito.
Era o que meu pai e os outros aldeões sempre faziam quando viam o
alfa.
Eles nem tomaram conhecimento da minha presença, apesar de eu
estar bem na frente deles. Os dois apenas continuaram conversando.
— Eles mataram minha mãe! Aqueles desgraçados mataram minha
mãe e quero que eles paguem por isso. — gritou o garoto.
Ele estava tremendo e as lágrimas ameaçavam cair do canto dos seus
olhos.
Seu pai ficou ali, sem expressão, antes de finalmente falar.
— Filho, quando chegar a hora, você irá se juntar a nós na sala de
reunião. Mas, por enquanto, continue com seus treinos de defesa, —
disse o homem, enquanto girava a maçaneta da porta.
— Eu vingarei sua mãe, — completou o alfa em um tom ameaçador
antes de desaparecer atrás da porta.
Eu levantei um pouco a cabeça para olhar para o menino, que estava
encarando a porta. Seus olhos estavam vermelhos com as lágrimas
querendo cair, seus punhos cerrados.
O garoto finalmente me notou. Ele se virou para mim e me encarou,
enxugando rapidamente as lágrimas com o braço.
— Há quanto tempo você está aí? Quem te deixou entrar? — ele
perguntou, ainda me encarando.
— Hum... meu pai foi convocado para uma importante reunião com
os alfas e os anciãos, senhor. — respondi rapidamente, curvando minha
cabeça mais uma vez.
— Quem é seu pai? Qual é o nome dele? — perguntou ele, ainda não
convencido.
— Rodrick Craton, senhor. — respondi, mexendo as mãos
nervosamente.
— Craton? Seu pai é o gama? — ele perguntou, mais calmo dessa vez.
Naquela época, eu não estava muito familiarizada com os status da
matilha. Eu sabia que havia o alfa, o líder. Depois o beta, o seu segundo
em comando.
E o gama, responsável pela estratégia e organização de todos os
eventos e reuniões.
Depois havia os anciãos, os curandeiros ou médicos lobisomens, os
guerreiros, os buscadores e os pacificadores.
Eu sabia que o papel do papai na matilha era importante, mas eu não
entendia o quanto.
— Hum... sim? — eu disse.
— Isso é uma resposta ou uma pergunta? — ele perguntou, zombando
de mim.
— Ééé... resposta, senhor. Meu pai é o gama, — respondi, tentando
falar com mais confiança.
Ele me olhou nos olhos por um momento, depois balançou a cabeça e
acenou com a mão, me dispensando.
— Continue com... com o que você estava fazendo aí. — E, com isso,
ele girou sobre os calcanhares e foi embora.
— Ei, você aí! — Fui arrancada das minhas lembranças por uma voz
gritando comigo.
Uma senhora de cinquenta e tantos anos estava andando em minha
direção o mais rápido que conseguia. Seu rosto era uma carranca.
— Você é uma das criadas voluntárias para o baile de gala? — ela
perguntou.
— S-sim, senhora. Sou Aurora Craton, senhora, — respondi,
curvando minha cabeça.
Senti uma leve pancada no ombro e levantei a cabeça para ver a
senhora tapando a boca com a mão.
— Rory? — perguntou ela.
— Sim, senhora, — respondi, confusa com sua mudança de atitude.
Ela me surpreendeu ao me dar um grande abraço.
— Aaah, Rory! A última vez que eu te vi você era apenas uma menina.
Veja como você cresceu! — Ela me empurrou de volta, me analisando da
cabeça aos pés.
— Você já encontrou um parceiro? — perguntou.
— Hum, não, senhora. Eu só faço 18 daqui a alguns dias. Eu... eu te
conheço? — perguntei.
— Ah! Desculpe, minha criança. Eu sou Kala, a criada-chefe da casa
do líder e a parteira da aldeia. Conheci seu pai, quando ele era o gama da
matilha. E conhecia sua mãe também.
Sua expressão se tomou triste.
— Eu estava lá no dia em que ela... — Kala não conseguiu terminar a
frase. — Sinto muito por não ter conseguido salvá-la, querida.
Coloquei uma mão em seu ombro para tranquilizá-la.
— Está tudo bem, Senhora Kala, — eu disse, sorrindo. — É um prazer
conhecê-la.
— Então você está aqui para nos ajudar para a grande noite de
amanhã, hein? — ela perguntou, caminhando na direção de onde veio.
Eu a segui.
— Sim, senhora. Minha madrasta ofereceu meu nome. Lamento dizer
que eu nem sabia que tanta ajuda era necessária. — eu disse, coçando
minha cabeça.
— Bem, graças à Deusa ela fez isso. Precisamos de todo apoio que
conseguirmos. — ela respondeu. Enquanto falava, abriu duas grandes
portas douradas que revelaram um vasto salão.
Não é de admirar que eles precisem de tanta ajuda, pensei.
O lugar era enorme!
Capítulo 2
Aurora
Levamos um dia inteiro e mais metade do outro dia para preparar o local
para a festa.
A Senhora Kala me contou que haveria mais de seiscentos
convidados, entre nossa matilha e as vizinhas, com as quais
compartilhamos um tratado de paz.
Quando terminamos de arrumar tudo, a Senhora Kala me mandou
para casa para que eu pudesse descansar algumas horas. Eu tinha que
estar de volta à casa do líder ao cair da noite. A festa não começaria antes
das nove horas.
Quando cheguei em casa, fui recebida pela desagradável visão de
minha madrasta andando nua pela sala...
— Ecaaalt, — eu disse em voz alta, para chamar a atenção dela. —
Sabe, esses cômodos foram feitos especificamente para a nossa
privacidade. Não para andarmos completamente nuas pela casa.
Eu virei de costas, esperando que ela pegasse algumas roupas.
— Ah, desculpe por isso, querida. Eu não estava esperando você tão
cedo. Acabei de voltar da patrulha na área sul do vilarejo, — ela
respondeu, indiferente.
Minha madrasta era uma buscadora, ela tinha um olfato apurado.
Ocasionalmente, o alfa a designou para a patrulha, para ver se ela
conseguia farejar os renegados que andavam pela fronteira ultimamente.
— Que seja, — revirei os olhos para ela, subi direto para o meu quarto
e me joguei na cama.Tentei dormir, mas o sono não chegou, então me levantei e decidi
descer para preparar o jantar.
Quando cheguei lá embaixo, percebi que estava completamente
sozinha em casa. Montana saiu de novo.
Encolhi os ombros.
— Melhor para mim.
Entrei na cozinha e fiz uma massa, depois sentei em frente à TV e
comecei a procurar um filme para assistir.
Meu celular tocou. Olhei para a tela e sorri quando vi que era minha
amiga.
— Ei, Em, — atendi, enquanto descia a lista de filmes na TV.
— E aí... como foi a limpeza e a preparação para a grande festa? — ela
perguntou.
— Até agora, bem cansativo. Aquele lugar é enorme. Achei que a
gente nunca terminaria a decoração. — Enquanto falava, enfiei uma
garfada na boca.
— Argh, posso imaginar. Que horas começa? — ela perguntou.
— Eu tenho que estar lá por volta das cinco e meia. O tormento todo
começa às oito.
— Você sabe que horas vai sair?
— Não, na verdade, mas tenho certeza que não vai ser antes da meia-
noite
— Puxa... que saco isso. Acho que vou ter que te desejar um feliz
aniversário amanhã.
— Sim, eles me mandaram deixar o celular em casa, então não vou
conseguir ler nenhuma mensagem até voltar para cá.
Emma rosnou.
— Isso, sim, é um saco.
Não pude deixar de dar uma risadinha.
Passamos o resto da tarde conversando e rindo. Eu mal me dei conta
do tempo voando.
Poucas horas depois, estava a caminho da casa do líder. Eu me
apresentei no portão, fui para os aposentos dos criados e vesti meu
uniforme oficial.
A roupa consistia em uma camisa branca com mangas compridas, um
laço vermelho, calças pretas de cintura alta e sapatos de salto pretos.
Quando terminamos de nos vestir, nós todos, criados, fomos para a
sala de gala, onde as luzes estavam apagadas. Cada um de nós pegou uma
bandeja e se preparou para receber os convidados.
A Senhora Kala designou a cada criado uma seção de mesas, em que
deveríamos ficar de olho, depois nos instruiu a ficar de pé contra a parede
mais próxima da área determinada.
O espaço logo começou a se encher de pessoas, todas vestidas com
seus trajes mais caros.
Os últimos a entrar foram nossos aliados, a matilha Lua Azul, vinda
do oeste.
Seu alfa entrou com a filha, Tallulah Wilhelm. Ela era a garota mais
bonita que eu já tinha visto.
Ela tinha um cabelo loiro, longo e lindo, uma pele bronzeada e
brilhantes olhos de avelã. Todo o seu ser exalava perfeição.
Depois deles, entrou o gama da nossa matilha, Remus Boman, que
estava na casa dos vinte e tantos anos. Ele estava de mãos dadas com sua
parceira, Aspen.
Remus tinha cabelos escuros, com alguns fios grisalhos aqui e ali. Ele
tinha olhos castanhos e era um dos homens mais baixos da nossa aldeia.
Mas, apesar do tamanho, ele não somente era um dos mais
inteligentes da matilha, mas um dos mais fortes.
Em seguida veio o beta, Maximus Barone. Ele era alto, com cabelos
loiros e olhos verdes.
Todas as meninas eram loucas por ele, apesar de ele ser um
mulherengo. Maximus era o segundo lobo mais forte do grupo.
Por último, mas não menos importante, o herói do momento pisou
no salão.
Nosso alfa, Wolfgang Fortier Gagliardi. Se o beta deixava as mulheres
loucas, era o alfa quem tinha o poder de fazer calcinhas caírem.
Ele tinha uma massa de cabelos negros — que davam sempre a
impressão de que ele acabou de sair da cama — e olhos tão azuis que
brilhavam como safiras.
Ele era enorme, e eu podia ver os músculos salientes marcando suas
roupas. Era como se ele tivesse sido desenhado pela própria Deusa.
Mas havia um problema com ele...
O homem não sabia sorrir, nem ser simpático com ninguém.
Apesar de ser lindo de morrer, aquela cara fechada, combinada à sua
poderosa aura alfa, afugentava as pessoas.
Na maioria das vezes, ele era visto apenas com o seu beta, que, por
acaso, era seu amigo de infância. Ou com Tallulah, a filha do outro alfa.
Por um momento, nossos olhos se encontraram, e seu olhar intenso
me pregou no chão. A coisa toda durou uma fração de segundo, mas foi o
suficiente para mexer comigo por dentro.
Quando o alfa tomou seu lugar, todos fizeram o mesmo.
E assim começou a festa.
Estava passando tudo muito rápido. Eu estava tão ocupada com
minhas mesas que nem me dei conta da velocidade com que o tempo
corria.
— Rory, a Senhora Kala precisa de você na cozinha, — disse um dos
meus colegas de trabalho.
— Vou lá num minuto, — respondi, recolhendo pratos vazios e
enchendo algumas taças de champanhe.
Quando entrei na área da cozinha, fui recebida com uma chuva de
confetes.
— Feliz aniversário, Aurora! — todos gritaram. Trouxeram um lindo
bolo com dezoito velas.
— Ah, minha Deusa! Gente, vocês não precisavam! — eu disse,
olhando para o bolo maravilhada.
— Ah, pára com isso! Não é todo dia que se faz dezoito anos, — disse
um dos cozinheiros.
— Sim, muito em breve você irá ouvir sua loba.
— Então será capaz de se transformar e... — a Senhora Karla arrastou
o 'e' enquanto olhava para todos. — ... encontrar seu parceiro!
Revirei meus olhos enquanto eles davam risada.
Comemos um pouco do bolo e voltamos para o salão para continuar
nosso trabalho.
De repente, ouvi uma voz estranha na minha cabeça.
— Olá, Aurora..., — era sutil, mas clara como o dia.
Era a minha loba. Ela tinha finalmente despertado.
— Hum... olá? — respondi em minha mente.
Ela riu e veio à tona. Seu pêlo era branco como a neve e seus olhos
eram roxos.
— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Rhea. Eu sou sua loba, — disse
ela, sentada ali, olhando para mim.
— O prazer é meu, Rhea, — respondi. — Espero que consigamos nos dar
b...
Minhas palavras foram interrompidas por um aroma delicioso que
encheu minhas narinas. O cheiro era uma mistura de pinheiro-bravo,
amêndoas e âmbar.
Era inebriante, quase como se estivesse me atraindo em sua direção.
Rhea também sentiu. Ela apontou o focinho lá para o alto, farejando.
Em seguida ela disse algo que me arrepiou até os ossos.
— Nosso parceiro está aqui. Posso sentir o cheiro dele.
Capítulo 3
Wolfgang
Não acredito que deixei Max e Remus darem essa festa de merda.
Meu aniversário foi há três meses. Qual é o sentido de comemorar
agora?
Eu sabia que eles só queriam uma desculpa para dar uma festa.
— Vamos, Wolfgang, é só uma noite! Quero ver se consigo finalmente
encontrar minha parceira. — Max choramingou. Ele apoiou o queixo na
minha mesa, implorando.
— Você vive dizendo isso. E, nessa busca pela sua parceira, você já
dormiu com cerca de 90% da população feminina. — Remus
argumentou. Ele tinha uma pilha de papéis nas mãos.
— Ah, cala a boca. Você não liga porque já tem uma parceira. — Max
disparou para Remus, que era o mais velho de nós três.
Ele tinha 29 anos e Max e eu tínhamos 26.
Todos nós havíamos assumido os papéis que nos foram designados no
início da vida, após a grande guerra.
E após a maioria dos líderes — incluindo meu pai, o falecido Alfa, o
pai de Max, seu segundo em comando, e o gama Craton — terem
morrido em combate contra os renegados.
— O fato de eu estar com a Aspen não tem nada a ver com isso. Eu
quero um momento para relaxar tanto quanto você, Max, mas nossas
obrigações vêm primeiro. — Remus argumentou.
— Mas eu quero encontrar minha parceira! — Max reclamou,
parecendo uma criança. Às vezes, eu me perguntava como diabos ele
conseguiu o título de beta.
— Você vai encontrar sua parceira no devido tempo. Agora, a gente
precisa descobrir um jeito de nos livrar do renegado Klaus e dos seus
lacaios. — Remus disse.
— Argh. A gente está correndo atrás desses idiotas há um ano! Uma
noite de folga não vai fazer mal a ninguém. Além disso, quem sabe você
finalmente não encontra sua parceira também, Wolfie? — disse Max,
erguendo as sobrancelhas.
— Não estou interessado, — respondi. E era verdade.
A última coisa que passava pela minha cabeça era encontrar minha
parceira — e ter que me preocupar com a segurança dela e da minha
prole.
Tudo o que eu queria era pegar aquele desgraçado do Klaus e acabar
com essa guerra.
— Como assim 'não estou interessado'? Sabe, estou começando a
achar que você pode não se interessarpor lobas... — ele disse com um
sorriso, recebendo de volta meu olhar fulminante.
— Se você me permite dizer, senhor, ele está certo. Ninguém nunca
viu você interessado em uma mulher. Aliás, a gente nunca nem viu você
falando com uma. — Remus acrescentou.
Eu o encarei, enquanto Max dava risada do meu lado.
— Tá bom! Vou permitir que vocês deem essa maldita festa no fim do
mês, — eu disse, apertando meu nariz. — Mas, depois disso, a gente volta
direto para caçar e aniquilar o Klaus.
— Oba! — Max deu um pulo de alegria.
— Sim, senhor, — disse Remus. — Vamos começar então os
preparativos para a gala.
Foi assim que acabei aqui hoje, nesta festa onde eu nem queria estar.
Agora, nós, os líderes — o alfa da matilha Lua Azul e sua filha
Tallulah, Remus e sua parceira, Max e eu, — estávamos do lado de fora da
porta do grande salão, esperando o anúncio.
Um por um, eles entraram quando seus nomes foram chamados.
Meu nome foi o último. Entrei, sem me preocupar com as pessoas ao
meu redor.
Assim que cheguei à mesa, olhei à minha volta. Meus olhos
encontraram um par de olhos acinzentados que pareciam conseguir
enxergar minha alma.
Era uma criada simples, que estava no canto mais distante, à minha
esquerda. Ela parecia intrigante, com aqueles enormes olhos cinzentos e
cabelos castanhos.
Eu rapidamente desviei o olhar e concentrei meu foco em outro lugar.
A festa seguiu devagar, para o meu desgosto. Eu já estava entediado
de ter que rejeitar constantemente as garotas me convidando para
dançar.
Até a filha do alfa Lua Azul, a Tallulah, veio até mim, batendo os cílios
e tentando me seduzir.
— Ei, Wolfgang, — disse ela com uma voz doce. Eu só acenei para ela
com a cabeça e continuei com os braços cruzados.
— Bela festa a sua. Eu não sabia que você era o tipo de cara que dava
festas como essa, — disse ela.
— Eu não fiz merda nenhuma. Max e Remus que inventaram essa
festa. Apenas dei minha autorização, — respondi, já perdendo a pouca
paciência que tinha.
Naquele momento, fui abordado por um idiota bêbado.
— Ei, aniversariante! — Max passou o braço por cima do meu ombro
enquanto tentava manter o equilíbrio.
— Sabe, meu aniversário foi há meses. Isso aqui é só para tirar você do
meu pé, — respondi.
— Ah, vamos lá, não seja estraga-prazeres. Não é possível que você
esteja entediado, — ele disse com a fala arrastada, enquanto bebia sua
cerveja.
— Estou, sim, na verdade. Só continuo aqui porque sou o anfitrião, —
olhei para ele. — Você já encontrou sua parceira? Eu quero acabar com
essa festa logo.
Lamentei a pergunta no momento em que ela saiu da minha boca.
Max começou a chorar e jogou os braços sobre os meus ombros.
— Não! Estou começando a acreditar que não tenho um par. Ah,
Deusa da Lua! Será meu destino ser um lobo solitário para sempre? — ele
gritou, segurando meus braços.
— Me solta, seu idiota!
Mas ele me segurava com uma mão de ferro.
— Não, você precisa me consolar! Estou com o coração partido, não
consigo encontrar minha parceira.
— Eu disse para você me largar! — Parei abruptamente quando um
perfume celestial penetrou em minhas narinas. Empurrei Max para o
lado, tentando farejar o ar em busca da fonte.
— O que... ei! — Max começou a choramingar, mas eu o interrompi.
— Você está sentindo esse cheiro? — perguntei a ele.
— Que cheiro? — perguntou Tallulah. Esqueci completamente que
ela ainda estava ali.
— Hum? — Max cheirou o ar. — Eu não sei exatamente que cheiro
devo sentir, cara.
Eu o ignorei. O cheiro era doce e delicado, como baunilha e
marshmallow.
De repente, meu lobo, Cronnos, estava uivando como um louco na
minha cabeça. Ele deu um pulo e correu de um lado para o outro,
também farejando o ar.
— Cara... eu posso sentir o cheiro dela. Sinto o cheiro da minha parceira
disse Cronnos dentro da minha mente.
Eu gelei. Isso não podia estar acontecendo. Eu não consegui
encontrar minha parceira em oito anos. Por que agora?
— Wolfgang? Você está bem? — Tallulah perguntou.
— É, cara. Você ficou muito pálido. Tá tudo bem? — Max perguntou.
— Hã... sim. Estou bem, — eu disse, ainda focado naquele cheiro.
— Nossa parceira está aqui, garoto, finalmente. Vá encontrá-la! Eu posso
sentir o cheiro dela! — Cronnos gritou.
Eu saí do transe.
— Preciso usar o banheiro. Desculpem. — Afastei-me de Max e
Tallulah.
Eu tinha que encontrá-la. Aquele perfume estava me atraindo como
um ímã.
Caminhei entre os convidados, sem reconhecer nenhum deles.
Tudo o que eu tinha em mente era encontrá-la. Cronnos ainda estava
gritando na minha cabeça.
Continuei andando até que minha mão instintivamente agarrou
outra mão, pequena e macia.
Olhei para frente e fiquei cara a cara com ninguém menos que a
criada de olhos acinzentados que eu tinha visto antes.
— Parceira... — nós dois dissemos ao mesmo tempo.
Capítulo 4
Aurora
— Parceiro... — nós dois falamos juntos.
E encarei os olhos azuis mais intensos que já vi na minha vida.
— É ele, Aurora! Ele é nosso companheiro! Rhea gritou na minha
cabeça, dando piruetas.
Eu olhei para a pessoa diante de mim, segurando minha mão com
força, mas, ao mesmo tempo, gentilmente.
Era o alfa da matilha, Wolfgang.
Ficamos nos encarando pelo que pareceu uma eternidade, mas
provavelmente foram apenas alguns minutos. De repente, ele soltou
minha mão. Perdi seu calor quase instantaneamente.
Ele olhou para mim com uma expressão de choque.
— Você?
Sua voz transbordava desdém. Então ele balançou a cabeça, como se
não acreditasse no que estava vendo, e se virou para ir embora.
— Espere... — Agarrei sua mão instintivamente e senti um
formigamento quando minha pele tocou a dele.
Mas ele puxou a mão dele de volta como se a minha estivesse imunda.
Ele olhou para mim.
— Nunca. Mais. Toque. Em. Mim. Criada — ele rosnou, com os dentes
cerrados. Então se virou mais uma vez e foi embora.
Eu estava em choque.
Lágrimas ameaçavam cair. Senti como se todo mundo estivesse
olhando para mim. Eles viram toda a cena.
Eu estava morrendo de vergonha. Então, eu me virei e corri o mais
rápido que pude.
Longe do salão...
Longe dos sussurros...
Longe da vergonha...
— Aurora, o que você está fazendo? Vá atrás dele! — — minha loba
gritou na minha cabeça, mas a ignorei.
Continuei correndo até sair pela porta da frente e chegar ao jardim
aberto que levava aos portões, mas não parei ali.
Corri até chegar em casa, sem me importar mais com o trabalho —
nem com o uniforme que esqueci de tirar.
— Aurora? É você? — ouvi minha madrasta me chamar da sala.
Voei pelas escadas, e entrei no meu quarto, bati a porta e me joguei na
cama, abraçando meu travesseiro e chorando.
Pouco tempo depois, a porta do quarto se abriu e Montana entrou.
— Achei que a festa acabaria tarde. O que aconteceu?
Não respondi. Simplesmente continuei chorando.
— Aurora, qual é o problema? — ela perguntou com uma voz
preocupada.
— Só me deixa em paz, — eu disse através do travesseiro onde a
minha cara estava enfiada.
Mas, como de costume, Montana ignorou minhas vontades e senti a
cama afundar quando ela se sentou ao meu lado. Sua mão fria acariciou
minha cabeça.
— Pronto, calma, — disse ela. — Você não deveria estar chorando
agora, minha querida. Não no seu aniversário. Mas eu sei o que vai te
animar.
Senti o movimento do colchão quando minha madrasta se levantou.
Minha curiosidade me venceu, então espiei por cima do travesseiro e a vi
segurando um velho envelope.
— Aqui, — disse ela, entregando-o para mim. — Seu pai me confiou
isso aqui e pediu para eu te dar apenas quando você fizesse 18 anos.
Peguei o envelope e abri, era uma carta escrita à mão. Reconheci a
letra do meu pai.
Montana deve ter percebido que era um momento íntimo e saiu
rapidamente do quarto.
C R
Cara R�y,
Não consigo i�gi�r o quanto tem si� �fícil para você
�nter sua boa ín�le e seu c�ação ter� neste �n� cruel.
Mas sei que você será a luz � escuridão. Aquela que não
cederá à neg�ivi�de.
A esta altura, você certamente a��receu e se t��u
u� bela e talent�a jovem, e a qualquer �mento poderá
encontrar seu ver�deiro e ú�co a�r.Não se desespere caso ele não apareça ime��amente.
Ape�s a Deusa � Lua sabe o p�quê �s decisões dela.
Mas, se você se sentir zanga�, �goa� ou desaponta�,
saiba que, mes� que eu ten� parti�, sem�e estarei ao seu
la�.
Não deixe que seus sentiment� a impeça de ver as bênçã�
que a cercam.
Peça à Deusa � Lua para per�tir que você veja o
�n� � �neira co� sua mãe e eu o vi�s, e você se
t��rá a �lher que deseja ser...
Um reflexo �s seus pais. Para seus a�g� e seu �turo
parceiro.
Com to� o a�r que existe � meu c�ação,
Papai.
Eu virei uma cachoeira de novo, mas agora as lágrimas eram de
felicidade.
Papai estava certo. Ficar triste e chorar era um desperdício de energia.
Tanto quanto foi para mim, deve ter sido um choque para o Alfa
Wolfgang descobrir que éramos parceiros.
Talvez, com o tempo, ele conseguiria aceitar isso.
Eu só tinha que ser paciente.
Wolfgang
Uma criada.
Uma ômega é a porcaria da minha parceira?!
Isso só pode ser uma piada!
Fiquei andando pra lá e pra cá no meu escritório, tentando lidar com
o que tinha acabado de acontecer.
Quer dizer, eu era um alfa, pelo amor de Deus. Minha linhagem é
muito antiga, é uma longa sucessão de líderes nobres.
Então, por que diabos a Deusa da Lua me botou como par de uma
criada comum?
Chutei minha cadeira com tanta força que ela se espatifou na parede.
— Droga! — Sentei na minha mesa, tentando me acalmar.
— O que diabos tem de errado com você, garoto? — Cronnos falou na
minha consciência.
— Agora não. — Fechei os olhos e abaixei minha cabeça, contando até
dez para me acalmar antes que eu fizesse mais estragos.
— Ah não, você não ouse, seu cretininho. Por nove anos eu tive que ficar
por aqui, esperando minha parceira aparecer. E agora que ela finalmente
surgiu, você vai fugir como um covarde? — Cronnos rosnou.
— Levante-se e vá atrás dela. Ela está magoada. Eu posso sentir a dor
dela, — disse ele. Um flash dos inocentes olhos acinzentados da garota,
transbordando choque e lágrimas, veio à minha mente. De repente, me
senti envergonhado.
Acho que eu não deveria ter falado com ela daquela maneira.
Balancei minha cabeça, negando.
— Ela é perda de tempo. Não posso aceitar alguém como ela como minha
Luna. Não tenho escolha. Preciso rejeitá-la, — pensei de volta para o meu
lobo.
— Não se atreva ou juro pela Deusa que vou morder seu traseiro real, —
Cronnos rosnou em minha cabeça.
Eu o ignorei. Não havia outra maneira. Eu tinha que fazer isso.
— Remus... preciso de você aqui no meu escritório imediatamente, — eu
me conectei telepaticamente com o meu gama.
Eu teria chamado Max, mas ele ainda estava bêbado como um gambá,
então não dava para contar com ele.
— Estou a caminho, alfa, — Remus respondeu quase
instantaneamente. Cinco minutos depois, ele estava batendo na porta.
— Remus, preciso do nome completo e de uma investigação do
histórico de uma das criadas que trabalharam hoje à noite no baile de
gala, — eu disse, enquanto ele olhava espantado para a bagunça que eu
tinha feito.
— Vou pedir à Senhora Kala as fichas de todas as criadas. Você está
procurando algo específico, — ele perguntou.
Minha mente imediatamente voltou para os seus lindos olhos
cinzentos.
— Olhos acinzentados e cabelos castanhos, — respondi.
— Muito bem, — ele assentiu. — Quando você precisa disso, alfa?
— Amanhã de manhã.
Capítulo 5
Aurora
O dia amanheceu, com um sol forte para contrastar com meu humor
sombrio. Eu fiquei com as palavras do meu pai na cabeça e fiz o possível
para não ficar pensando na noite péssima que tive.
Tomei um banho e procurei algo para vestir, eu ia voltar à casa do
líder para devolver o uniforme.
E também para confrontar Alfa Wolfgang sobre a noite passada.
Qual é a pior coisa que poderia acontecer? pensei comigo mesma.
Se ele não gosta de mim, pode me rejeitar Então, nós dois seguiremos em
frente.
Mas a ideia de ser rejeitada por ele me fez estremecer.
Se ele me desse as costas, eu ficaria sem um parceiro pelo resto da
minha vida — ao contrário dele, que tem o poder de escolher outra
pessoa, mesmo sem conexão.
Como um alfa, ele podia rejeitar qualquer loba que a Deusa da Lua
designasse como sua parceira.
E se ele me rejeitar? Eu me perguntei enquanto uma gota de suor
gelado escorria pela minha têmpora.
— Ele não vai te rejeitar. Relaxa. Apenas fale com ele, — Rhea tentou me
tranquilizar.
— Rory! Você poderia vir aqui por um momento? — minha madrasta
gritou lá de baixo.
— Estou indo, — respondi. Escovei meu cabelo e coloquei uma
presilha para segurar minha franja. Estava começando a ficar muito
longa.
Herdei os cabelos longos e sedosos, e a pele clara da minha mãe, e
ganhei os fios castanhos e os olhos acinzentados do meu pai. Eu era uma
mistura completa dos dois.
— Aurora! Desça agora mesmo! — minha madrasta gritou mais uma
vez.
— Argh! Qual é o problema dela logo cedo? — resmunguei. Peguei a
sacola com o uniforme cuidadosamente dobrado e, o meu celular e saí do
quarto.
— O que você quer, Monta..., — o resto das palavras ficaram presas na
garganta quando meus olhos se conectaram com os olhos azuis gelados
que me encaravam.
— A-Alfa Wolfgang, — eu disse, ofegante e surpresa. Ele estava
parado no meio da nossa pequena sala, com seu gama e a Senhora Kala.
— Aurora, tenha mais respeito, — Montana sibilou ao meu lado, me
despertando do meu transe.
— Ah, me desculpem. Bom dia, alfa Wolfgang, gama Remus, Senhora
Kala, — eu disse, curvando minha cabeça em sinal de respeito.
— Senhora Craton, estamos aqui para recuperar algo que você tirou
do baile de gala ontem à noite. Não iremos acusá-la de roubo, mas
faremos disso um aviso, — disse gama Remus.
— Hum... algo que eu peguei? Não peguei nada. — Fiquei chocada e
confusa. Do que eles estavam falando?
— Hum, você levou o uniforme com você na noite passada, querida,
— a Senhora Kala esclareceu.
— Ah! É isso? Eu estava prestes a levá-lo de volta..., — comecei a dizer,
mas fui interrompida por alfa Wolfgang.
— Roubos não são tolerados neste bando, Senhorita Craton. Você
tem sorte de estarmos apenas avisando desta vez. Da próxima, o chicote
será sua punição e vamos trancá-la na masmorra por um mês!
Sua voz era tão áspera que comecei a tremer.
— Tenho certeza de que deve ter sido um mal-entendido, alfa
Wolfgang. Eu sei que Rory não faria uma coisa dessas, — disse a Senhora
Kala.
— Isso mesmo, — Montana concordou. — Eu garanto a você, alfa,
que minha Rory não é uma ladra. Algo ou alguém fez com que ela fosse
embora correndo da festa. Ela chegou em casa chorando ontem à noite.
Montana entrou na minha frente, tentando me defender.
— Certamente, em sua pressa de chegar em casa em segurança e
longe de quem quer que a tenha machucado, ela se esqueceu de devolver
o uniforme.
Eu não conseguia falar. Eu estava tremendo, pregada no chão,
lutando contra as lágrimas que queriam desesperadamente cair.
Por que ele estava sendo tão mau comigo?
— Quem fez isso com você, Rory? — a Senhora Kala perguntou de
repente.
Olhei para o alfa, que me deu um aviso silencioso. Fechei minha boca
com força e olhei para os meus pés.
— Posso ter uma palavra com a Senhorita Craton? Sozinho? — o alfa
Wolfgang perguntou.
Eu me virei para Montana, que me encarou brevemente e então olhou
para as três pessoas que estavam diante de nós.
— Hum. Claro, — ela disse. Meu coração deu um salto, em pânico. —
Por aqui. Vou servir chá para vocês.
Ela acompanhou o gama e a Senhora Kala até a cozinha, me deixando
sozinha com o alfa.
Ficamos ali em silêncio por alguns minutos antes que ele finalmente
falasse.
— Vou dizer isso apenas uma vez, então ouça com atenção, Senhorita
Craton. Eu sou o alfa deste bando, conhecido pela minha força e minha
destreza em cuidar desta vila, assim como meu pai e meus ancestrais
fizeram.
Ele olhou para mim.
— Todos esperam muito de mim. Especialmente o tipo de parceira
que apresento como minha Luna...
Ele parou de falar por um momento, enquanto me avaliava da cabeça
aos pés.
— E tenho certeza que você não se qualifica. Espero, para o seu
próprio bem, que ainda nãotenha contado a ninguém. Porque eu vou
negar.
Pronto, era isso.. Olhei para ele lá, parado, sua expressão estóica
como sempre.
Era o que eu mais temia. Ele ia me rejeitar.
Eu seria solitária pelo resto da minha vida.
— Por que não sou boa o suficiente, alfa? — ousei perguntar, minha
voz trêmula, saindo quase como um sussurro.
— O quê?
— Eu perguntei... por que não sou boa o suficiente para você? Por que
você vai me condenar a ser uma loba solitária? — perguntei, agora
olhando diretamente nos olhos dele.
Lágrimas rolavam pelo meu rosto.
— Porque você não passa de uma plebeia. Você seria um risco para
mim se fosse minha parceira, — ele disse.
Wolfgang balançou a cabeça.
— Eu mandei te investigarem. Você não tem nenhum talento nem
habilidade que possam ser úteis para mim como líder, para governar e
proteger minha matilha.
Baixei a cabeça de vergonha. Era isso e apenas isso o que ele pensava
de mim..
Um risco. Uma pessoa sem valor algum. Alguém que não tinha nada a
oferecer a ele como parceira.
— Eu... eu entendo.., — eu disse, sem olhar para ele.
Tinha como minha vida ficar pior que isso?
Capítulo 6
Wolfgang
Droga! O que diabos há de errado comigo?
Vim aqui com uma missão: rejeitá-la e seguir com a minha vida.
Mas eu não conseguia pronunciar as palavras certas..
Fiquei lá divagando sobre ela ser um risco e ser inútil para mim e para
o bando como minha parceira, mas não conseguia rejeitá-la.
Ela ficou parada na minha frente, tremendo e chorando, enquanto
me escutava dizer os motivos pelos quais eu não a queria.
Senti um impulso urgente de abraçá-la e nunca mais soltá-la.
Mas eu não podia fazer isso. Eu não podia arriscar a segurança da
matilha só por causa dela.
— Pare de tagarelar, garoto! Você está partindo o coração dela! —
Cronnos gritou na minha cabeça. Olhei fundo em seus olhos. Aqueles
enormes olhos acinzentados que revelavam todas as emoções dentro
dela. Eu estava com medo de que sua figura frágil entrasse em colapso a
qualquer momento.
— Eu... eu entendo, — ela finalmente disse. Ela olhou para os pés
enquanto suas mãos, visivelmente trêmulas, brincavam com a sacola.
É agora ou nunca. Rejeite-a e supere isso.
— Eu... — comecei a falar, mas fui interrompido por uma garota
estranha com cabelos ruivos, e pernas e braços compridos, que correu até
Aurora, abraçando-a.
— Rory, você está bem? — ela perguntou e segurou os ombros
trêmulos de Aurora, que chorava.
— Emma! — Aurora gritou, tentando controlar os soluços.
Então, meu gama e a Senhora Kala voltaram da cozinha com a
Senhora Craton, que imediatamente foi para perto da menina.
Todos demonstravam simpatia por ela, que tremia e soluçava nos
braços da amiga.
— Alfa, você não precisava ter sido tão duro com ela, — Remus me
repreendeu. — A Aurora obviamente levou o uniforme por acidente. Ela
estava perturbada porque algum idiota a magoou na noite passada.
Tenho certeza de que ela não fará nada assim novamente.
Imagina se ele soubesse que o idiota era eu.
— É este o uniforme, meu amor? — Kala perguntou, apontando para
a sacola que Aurora segurava.
Ela apenas acenou com a cabeça.
— Vou levá-lo comigo então, querida, — Kala pegou a sacola da mão
de Aurora e sorriu para mim.
— Viu? Sem nenhum dano. O uniforme está de novo em nossa posse,
— Kala disse e veio para o meu lado.
Eu me esforcei ao máximo para manter uma expressão estóica, como
sempre. Aurora ainda se recusava a olhar para mim.
Respirei fundo e fui em direção à porta.
— Estamos saindo.
Deixei a casa de Aurora, ainda ouvindo seus soluços.
Cronnos começou a me dar um sermão sobre estar machucando a
garota novamente, mas eu só conseguia pensar no fracote que eu era.
E que eu ainda não tinha conseguido rejeitá-la.
Aurora
Assim que Montana fechou a porta, subi correndo as escadas e entrei no
meu quarto, trancando a porta atrás de mim. Eu não queria ouvir
nenhuma das perguntas dela, nem as de Emma.
O que eu diria? Eu não poderia contar a elas porque eu estava tão
triste.
E não tinha nada a ver com me chamarem de ladra. Era porque agora
eu sabia, sem dúvida nenhuma, que o Alfa Wolfgang não me queria.
— Aurora, não chore... Ele te quer, sim. Ele simplesmente não quer aceitar
isso., — disse Rhea, tentando fazer eu me sentir melhor.
Mas eu só conseguia chorar sem parar.
— Rors! Vamos, boo. Abra. O que está acontecendo? — Ouvi minha
melhor amiga falando do outro lado da porta.
— Não quero falar sobre isso, — respondi.
— Vamos, querida. Não chore. Não foi nada sério. Todos entenderam
que foi apenas um engano, — disse Montana.
— Por favor, abra. Eu odeio ver você assim... — ela continuou.
— Vão embora... me deixem em paz, — gritei da minha cama.
Eu ouvi Montana suspirar.
— Acho que você deveria ir para casa, Em, — ela disse, se afastando da
porta.
— Liga pra mim quando você se sentir melhor, ok? Estou aqui para
você, — ouvi minha amiga dizer antes de ir embora.
Não sei em qual momento, mas finalmente adormeci.
Quando acordei, estava quase anoitecendo, então me levantei e decidi
dar uma caminhada para clarear as ideias.
Desci as escadas e vi minha madrasta dormindo profundamente no
sofá da sala.
Eu não queria acordá-la, então saí silenciosamente de casa e desci
para o parque onde meu pai costumava me levar para brincar.
Assim que cheguei lá, o sol já tinha ido embora e a lua brilhava
intensamente sobre a minha cabeça. Sentei-me em um dos balanços e
pensei sobre tudo o que tinha acontecido hoje.
A maneira como o alfa Wolfgang me tratou. As coisas que ele disse
sobre mim.
Minha tristeza logo foi substituída por raiva. Meu corpo ferveu de
ódio. Senti que poderia explodir a qualquer minuto.
— Está na hora da sua transformação, Aurora. Como é a sua primeira
vez, vai doer um pouco, — disse Rhea dentro da minha cabeça.
— Recomendo que você corra para a floresta, tire suas roupas e as
esconda em algum lugar Assim que completarmos a transformação, elas vão
se rasgar, e você ficará nua quando voltar à sua forma humana, — ela
explicou.
Eu me lembrei vagamente do meu pai fazendo piada sobre ficar sem
roupa depois de se transformar, e ter que voltar para casa se cobrindo
com qualquer folha ou pedaço de papelão que pudesse encontrar.
Olhei em volta e vi que estava completamente sozinha. Levantei-me,
corri para a floresta logo além do parquinho e me escondi atrás de uma
árvore.
Olhei ao redor mais uma vez, apenas para ter certeza de que estava só,
então tirei minhas roupas rapidamente.
Eu as escondi na cavidade de um baú e esperei por mais instruções de
Rhea.
— Ok, agora concentre-se. Sinta a aura que estou mandando para você.
Você sentirá o calor emanar de seu peito e se espalhar por todo o corpo. Não
lute contra. Apenas deixe essa sensação assumir o controle.
Fiz o que ela me disse e senti um formigamento no peito.
Lentamente, começou a ficar mais forte.
Então uma explosão de dor irrompeu dentro de mim, como se cada
osso do meu corpo estivesse se partindo em dois.
— Aaah! — Agarrei meus braços quando a dor se intensificou.
— Não lute contra. Deixe tomar conta de você, — disse Rhea em minha
mente.
Fiz o melhor que pude para não me conter. Deixar ir. A dor se
espalhou para os meus braços e pernas, dedos das mãos e dos pés.
Eu podia sentir cada osso dentro de mim se esticando. Minhas pernas
dobrando-se para trás de um jeito estranho.
Caí no chão, observando minhas mãos lentamente se transformando
em patas com garras afiadas. Uma grossa pelagem se espalhou sobre
mim, cobrindo minha nudez.
Minha boca se alongou, transformando-se em um focinho, enquanto
presas afiadas substituíram meus dentes.
Eu olhei para a lua e senti todos os meus sentidos se intensificarem.
Minha visão era aguçada como a de um gato. Eu podia ver uma
pequena joaninha voando sobre um arbusto a alguns quilômetros de
onde eu estava.
Meu olfato também ficou mais forte, permitindo-me sentir o cheiro
do orvalho que apenas começava a pousar na grama. Eu podia sentir o
cheiro de coelhos que passavam correndo pela árvore ali perto.
Eu podia sentir o cheiro de tudo aquilômetros de distância.
— Você conseguiu, Aurora! Você se transformou. Como você se sente?. —
Rhea me perguntou.
— Eu sinto... vontade de correr! — eu disse para a minha loba interior,
que deu uma risada doce em resposta.
— Então corra! O que você está esperando?
Não pensei duas vezes, apenas corri como um cachorro selvagem.
Corri tão rápido que minha visão ficou turva. Eu me sentia tão livre,
tão viva.
Alguns quilômetros depois, cheguei a uma clareira com um enorme
lago. Eu estava sedenta, então fui até a água e baixei minha cabeça para
bebê-la.
Mas parei quando vi meu reflexo.
Meu pêlo era branco como a neve e meus olhos roxos brilhavam,
como uma ametista. Nunca vi ou ouvi falar de uma transformação como
a minha antes.
— Talvez você seja única, — Rhea me disse.
Bufei e bebi água.
— Sim, certo, — respondi.
Deitei na clareira, descansando depois de toda aquela corrida.
— Você é especial, Aurora. Só você não enxerga isso ainda. — Rhea
continuou.
— Eu não sou especial, Rhea. Sou inútil. Você ouviu o próprio alfa
dizendo isso. Ele não vai me aceitar como sua parceira porque sou fraca. Uma
loba inútil.
Enquanto falava, lembrei-me de suas palavras dolorosas. Eu não pude
evitar o gemido que escapou de dentro de mim.
Isso é inútil. Não tem nada de bom nesta cidade para mim. Talvez eu
deva arrumar minhas coisas e ir embora, pensei comigo mesma.
Eu poderia ir para a aldeia onde minha mãe cresceu, no leste. Sempre
sonhei em ir para lá um dia.
Eu estava imersa em meus pensamentos quando ouvi um galho
estalando.
Eu me levantei repentinamente, entrei em estado de alerta e olhei
para o lugar de onde o som saiu.
E dei de cara com um enorme lobo preto com gelados olhos azuis.
Eles pareciam tão familiares mas eu não sabia dizer onde os tinha visto
antes.
O lobo veio ameaçadoramente na minha direção. Ele rosnou,
mostrando suas presas.
Merda.
Capítulo 7
Wolfgang
Corri pela floresta, tentando apagar da minha mente tudo o que
aconteceu nessa tarde.
E tentando calar Cronnos, que ainda estava latindo sobre eu ter
arruinado sua chance no amor.
Decidi assumir o serviço de patrulha esta noite para tirá-la da minha
cabeça, mas eu não conseguia parar de pensar naqueles lindos olhos
acinzentados me encarando com tristeza.
— Ela está aqui fora! Eu posso senti-la! — Cronnos começou a gritar na
minha cabeça.
— Que porra você está falando, seu saco de pulgas velho? perguntei ao
meu lobo.
Em seguida, um cheiro doce entrou nas minhas narinas.
Eu reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Era ela...
Aurora estava aqui. Mas o que ela estava fazendo tão longe de casa a
esta hora da noite? Não era seguro correr sem proteção.
A raiva cresceu dentro de mim.
Que porra ela estava fazendo aqui na floresta, perto da fronteira,
sozinha?
— Quem se importa?! Encontre-a antes que algo aconteça com ela! —
Cronnos gritou na minha cabeça.
Corri na direção do cheiro dela — a ansiedade aumentou ao perceber
que o perfume estava mais forte perto da fronteira da nossa matilha.
Cheguei a uma clareira. Bem ao lado do lago, estava sentada uma
linda loba com pelo branco como a neve e olhos que brilhavam como
ametistas.
Quem era essa loba? Ela era linda, mas eu nunca tinha visto uma
transformação assim antes.
Normalmente, a verdadeira forma de um lobo lembrava suas
características humanas. O pêlo seria semelhante à cor do cabelo
humano, os olhos permaneciam com a mesma tonalidade.
Mas esse espécime era completamente diferente.
Pelo branco e olhos roxos...
O que isso significava?
Eu li algo sobre isso antes, mas não conseguia me lembrar o que era.
Eu fiquei muito impressionado com a beleza dela.
— Isso é inútil. Não tem nada de bom nesta cidade para mim. Talvez eu
deva arrumar minhas coisas e ir embora.
Essa era a voz de Aurora, tocando em minha cabeça. Era a loba
Aurora?
Ela estava planejando ir embora?
— Eu poderia ir para a aldeia onde minha mãe cresceu, no leste. Sempre
sonhei em ir para lá um dia.
Era Aurora. Por que sua loba assumiu essa forma?
Mas eu não podia pensar nisso agora.
Ela estava realmente cogitando deixar a aldeia.
Seria o melhor para nós dois, especialmente para mim, mas...
Por que me irritou tanto ela querer ir embora?
Inconscientemente, dei um passo em sua direção, pisando em um
galho, que estalou, alertando-a da minha presença.
Ela se levantou, em guarda e pronta para receber o atacante.
Eu não tinha escolha. Avancei de onde estava escondido e rosnei para
ela, mostrando minha superioridade.
Eu queria tanto marcá-la agora.
— Merda. — Foi tudo que a ouvi dizer — e meu lobo reagiu com outro
rosnado.
Aurora
Com cautela, observei o lobo se aproximar. Ele rosnou, e isso foi o
suficiente para eu me encolher de medo. Sua aura exalava autoridade.
— Então você está planejando fugir da vila, Senhorita Craton? — ouvi
uma voz lá no fundo da minha cabeça.
Foi quando o vento trouxe seu cheiro e reconheci o lobo.
Era o alfa Wolfgang...
Baixei a cabeça da minha loba até meu focinho tocar o chão.
— Eu te fiz uma pergunta, Senhorita Craton, — ele falou novamente na
minha cabeça.
Deve ser uma conexão mental. Ouvi meu pai e os outros falarem
sobre isso.
Levantei minha cabeça para olhar para ele.
— É seu plano deixar a aldeia, Senhorita Craton? — perguntou
novamente.
— Hum... sim, senhor. Mas como você...? — comecei a dizer, mas ele me
interrompeu, falando mais uma vez em minha mente.
— Na forma de lobo, somos capazes de ouvir os pensamentos de qualquer
lobo da matilha a qual pertencemos. Você não é exceção.
Engasguei com a revelação repentina. Claro, eles podiam ler a mente
um do outro, mas apenas se estivessem próximos.
Há quanto tempo ele estava aqui me ouvindo, então? Eu teria que ser
mais cuidadosa.
— Então, Senhorita Craton. Você planejou deixar a aldeia porque eu não
quero te aceitar? ele perguntou, ameaçador. Então, se aproximou e
começou a me circundar.
— Já que você me rejeitou, senhor, não tenho por que estar nesta aldeia,
— respondi, olhando para o chão.
Afinal, eu não tinha parceiro e nem família viva no vilarejo. Meus pais
estão mortos e não tenho irmãos.
Montana me criou e cuidou de mim, mas eu não sou nada mais do
que a filha de seu falecido marido. Ela não teve escolha a não ser cuidar
de mim até que eu pudesse me defender.
Mas, agora, eu era legalmente uma adulta. Eu poderia ir embora e
cuidar de mim mesma.
— Você sabia que para deixar esta matilha você precisa de uma licença
que só o alfa pode conceder? Caso contrário, será marcada como uma
renegada, disse ele. Seus olhos azuis encararam os meus profundamente.
— E adivinha? Não estou com vontade de lhe dar essa licença. Então, a
menos que você queira ser marcada como uma renegada e vagar por aí sem a
proteção de um bando, você nunca irá deixar este lugar, — ele continuou.
Eu fiquei lá ouvindo, atordoada.
— Co-com licença, senhor? , — falei, ainda tentando digerir suas
palavras.
— Você está proibida de deixar esta vila, Senhorita Craton. Se você fizer
isso, vou marcá-la como uma renegada. Está claro? disse ele. Então me deu
as costas e começou a se afastar.
— Por quê?! — gritei na minha mente, impedindo-o de ir mais longe.
— Por que você está fazendo isso comigo? Você já me rejeitou, me
condenando a ficar sozinha, sem um parceiro, pelo resto da minha vida. Por
que você está me proibindo de ir embora?
Tentei me manter firme, para não ser intimidada por sua aura.
— Rejeitei você? Quando eu fiz isso? — ele perguntou, Virando-se para
me encarar.
— N-na minha casa, quando você disse que eu era... inútil.. nessa última
parte, baixei a cabeça, envergonhada.
— Eu disse que você era inútil para mim, Senhorita Craton... ele voltou
para onde eu estava. — Mas eu nunca tive a oportunidade de rejeitá-la
apropriadamente.
Ficamos em silêncio, um de frente para o outro.
Ele estava certo. Ele nunca disse realmente as palavras.
Eu sabia o que viria a seguir. Ele não hesitaria desta vez.
Ainda com a cabeça baixa, fechei os olhos bem fechados, tentando
evitar que as lágrimas caíssem, e esperei.
— No entanto,não vou rejeitá-la ainda.
Levantei a cabeça e olhei para ele, perplexa.
— O quê? — Eu perguntei, o choque estampado no meu rosto.
— Não vou rejeitá-la ainda, Senhorita Craton. Tenho outros planos para
você. Mas você não dirá a ninguém na aldeia que somos parceiros. Como eu
disse antes, se fizer isso, vou negar. E vou marcar você e para quem quer que
você diga, como renegados.
Com isso, ele me deu as costas mais uma vez.
— Volte para casa. É tarde demais para uma simples loba ômega como
você estar aqui sozinha, — disse ele. E desapareceu nos arbustos, me
deixando lá, atordoada e magoada.
O que ele queria comigo?
Capítulo 8
Aurora
Voltei para casa me sentindo completamente derrotada. Eu podia sentir a
exaustão tomando conta do meu corpo.
Achei que é isso que acontece quando você se transforma em lobo
pela primeira vez sem ter comido uma refeição decente nas últimas 48
horas.
Agora que parei para pensar nisso, perdi dois dias seguidos chorando
sem parar, tudo por causa da minha suposta alma gêmea.
Entrei pela porta e quase caí para trás quando alguém correu na
minha direção e me esmagou num abraço. Era minha madrasta,
Montana.
— Onde você estava?! Levantei da cama, fui dar uma olhada no seu
quarto e você não estava lá! — ela exclamou. — Liguei para a casa de
Emma, mas você também não estava lá!
— Sinto muito, Montana. Eu... minha loba precisava correr, — eu
disse, tentando acalmá-la um pouco.
— Sua loba? Você finalmente a conheceu? Ah, minha Deusa, Rory! —
ela gritou de alegria. — Qual é o nome dela? Como ela é? Quando vamos
dar um passeio juntas?
Ela me bombardeou de perguntas, mas senti minhas últimas forças
me abandonarem.
— Vou responder todas as suas perguntas amanhã, tá? Agora eu
realmente preciso me deitar, — eu disse.
— Claro, claro! As primeiras transformações são sempre muito
cansativas. Você deve estar exausta. Venha, deixe-me ajudar você a ir para
a cama.
Ela jogou um dos meus braços sobre o ombro dela e me ajudou a
subir as escadas.
— Obrigada, Montana, — eu disse, antes de me entregar à escuridão
do quarto.
Eu me senti naquela bela clareira que encontrei essa noite.
Eu estava em minha forma humana.
O lugar era tranquilo e sereno. Era dia e o sol estava brilhando sobre o
lago. A grama selvagem que crescia ao redor da água balançava com a
brisa de verão.
De repente, uma nuvem escura cobriu o céu, e o lugar tornou-se
sombrio.
O lago parecia cada vez mais tenebroso à medida que as ondas
inquietantes perturbavam suas águas antes pacíficas e a doce brisa de
verão se transformava em um vento forte e sibilante.
A grama verde desbotou e secou, deixando uma horrenda trilha de
solo seco e rachado ao meu redor.
Então, o som de folhas secas farfalhando e galhos caídos se partindo
chamou minha atenção, deixando-me em estado de alerta.
Olhei à minha volta com medo e tentei chamar minha loba, mas não
tive resposta.
De dentro dos poucos arbustos cujas folhas secas ainda estavam
intactas saiu um enorme lobo preto com olhos azuis brilhantes. Suas
presas estavam à mostra e ele rosnava para mim.
O lobo se aproximou cada vez mais, até que finalmente avançou em
mim, cravando suas presas afiadas no meu pescoço.
Acordei com Montana me cutucando suavemente.
Eu estava ofegante e suando enquanto olhava para minha madrasta
confusa e com medo.
Foi só um pesadelo.
— O que foi? Sei que prometi ir correr com você, mas não está um
pouco cedo demais? — resmunguei.
Eu me sentei na cama, olhando para o meu despertador na mesinha
de cabeceira, mas, quando me virei para Montana, percebi sua expressão
sombria. Imediatamente, soube que tinha algo errado.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Você... você tem uma visita, querida, — ela disse, e senti o medo e a
tristeza em sua voz.
— Quem está...? — comecei a perguntar, mas ela me interrompeu.
— Apresse-se e desça apresentável, meu amor, — disse Montana.
Então ela se levantou, me deixando totalmente confusa.
Seria o alfa de novo, querendo me atormentar?
No fim das contas, eu estava certa.
A pessoa que me esperava, sentada na nossa sala, era a criada-chefe do
líder. Ela estava conversando alegremente com a minha madrasta, que
tinha uma expressão sombria.
O que eu fiz agora?
— Senhora Kala? — chamei, e as duas se viraram para mim.
A senhora idosa me deu um sorriso radiante.
— Rory! É sempre bom ver você, querida. — Ela se aproximou de mim
e me abraçou com força..
— Você já arrumou suas coisas? — ela perguntou.
Minha confusão aumentou.
— Arrumar minhas coisas? Para quê? — perguntei.
— Para vir embora comigo, querida! Sua madrasta não te contou?
Olhei para Montana, cujo rosto ficava mais e mais sombrio.
— Ir embora? O que você quer dizer com 'ir embora'? Para onde? —
perguntei, me sentindo frustrada.
— Para a casa do líder, querida. O alfa ordenou que você se mudasse
imediatamente como uma das criadas.
A Senhora Kala anunciou aquilo como se fosse a melhor notícia do
mundo.
— O quê?! — gritei. Eu me esquivei das garras da senhora mais velha
e corri para Montana.
— Do que ela está falando? — perguntei à minha madrasta. Lágrimas
escorriam pelo rosto dela.
Mesmo na casa dos quarenta anos, sendo uma loba, ela ainda tinha
uma aparência jovem.
Seus olhos castanhos, que tinham algumas rugas aqui e ali, agora
choravam para valer e ela me abraçou com força.
— Ah, Rory. Eu também não entendi nada, mas é uma ordem direta
do alfa. Não temos escolha a não ser obedecer, ou nós duas podemos ser
punidas. — Ela acariciou minha cabeça enquanto falava.
— Mas eu não quero morar lá. Esta é a minha casa! — argumentei.
— É sua casa, e sempre será, querida. Tenho certeza que você poderá
vir me visitar de vez em quando, mas no momento não temos outra
opção. O alfa deu a ordem.
— Isso não é justo! — gritei.
— Sinto muito, Rory, mas é como sua madrasta disse. Essa é uma
ordem direta do alfa. Você deve vir comigo imediatamente. Podemos
agendar visitas para sua madrasta nos fins de semana, assim que você se
acomodar., — a Senhora Kala disse, tentando me persuadir.
Eu me virei para olhar para a única figura familiar que me restava.
— Eu não quero te deixar sozinha, — falei para ela. E era verdade.
Embora Montana e eu nem sempre concordássemos, foi ela quem me
criou e cuidou de mim depois que o meu pai morreu.
— Eu vou ficar bem, querida. Tenho certeza que o alfa vai permitir
que a gente se encontre.
Eu duvidava muito disso.
— Sinto muito, querida. Mas devemos nos apressar, — a Senhora Kala
nos interrompeu.
Eu a ignorei e continuei olhando para minha madrasta.
— Vai ficar tudo bem, Rory, — disse Montana. — Vá em frente e
arrume suas coisas. Não queremos deixar o alfa irritado.
Eu pensei sobre isso. Deixar aquele homem irritado.
Que diferença faria? Ele estava sempre irritado.
Mesmo assim, balancei a cabeça e subi para o meu quarto para
empacotar minhas coisas, recolhendo tudo que eu iria precisar, antes de
deixar o lugar que sempre chamei de casa.
Assim que terminei de arrumar minhas coisas, desci e peguei parte da
conversa entre a Senhora Kala e a Montana.
— Ele a acusou de roubo ontem! Por que ele a quer lá como criada? —
minha madrasta perguntou.
— Eu realmente não sei, Senhora Craton. Eu me perguntei a mesma
coisa quando o pedido chegou esta manhã, mas a ordem de um alfa é
final. Nós apenas temos que acatá-la, por mais bizarra que pareça, — a
Senhora Kala respondeu.
Limpei minha garganta ruidosamente e as mulheres voltaram sua
atenção para mim.
— Estou pronta..., — eu disse.
— Perfeito. Não temos tempo a perder. Vamos indo, — disse a
Senhora Kala. Ela se levantou e se dirigiu à porta.
Fui atrás dela, parei e me virei para encarar minha madrasta pela
última vez.
— Vai ficar tudo bem, Rory. Lembre-se, esta sempre será sua casa, —
disse Montana, tentando parecer encorajadora.
Corri e a abracei o mais forte que pude, e ela me abraçou de volta com
a mesma intensidade.
— Vou sentir falta de implicar com você, — eu disse a ela. As lágrimas
correram incontrolavelmente pelo meu rosto, molhando seus ombros.
Ela deu uma risadaleve.
— Eu vou sentir falta de tentar acordá-la de manhã, — disse ela. — Se
cuide, querida.
Nós nos separamos e eu segui a chefe das empregadas, mas não antes
de olhar para minha casa uma última vez.
Capítulo 9
Wolfgang
Agora tenho certeza de que perdi a cabeça de vez.
Por que diabos eu fiz isso?
Ontem à noite, depois que encontrei Aurora, não apenas a proibi de
deixar a aldeia, mas também voltei para casa e ordenei a Remus que
dissesse à Senhora Kala para ir buscar Aurora Craton imediatamente e
trazê-la para minha casa como uma nova criada.
Eu podia ver a confusão no rosto do meu gama enquanto eu dava a
ordem. Eu também estava confuso, mas simplesmente não podia arriscar
deixá-la lá fora, sem supervisão.
Não depois de ouvir seus pensamentos sobre abandonar a aldeia.
Mas por que fiquei tão zangado quando descobri que ela estava
pensando em ir embora?
Por que ainda me importei? Eu não a queria como minha parceira,
então por que fiquei tão furioso?
— Porque você a ama, seu idiota. — Cronnos respondeu, mas eu o
bloqueei.
— Tem certeza, senhor? Estamos falando sobre a mesma criada que
você pensou que tinha roubado aquele uniforme na outra noite, não é?
— Remus perguntou, como se estivesse inseguro sobre a minha sanidade
mental.
— Sim, — respondi, mantendo meus olhos nos arquivos que
continham todas as informações de Aurora.
Tudo. Do aniversário dela aos certificados do ensino médio. E todos
eles gritaram uma coisa.
Essa garota era uma Maria-qualquer, mais genérica impossível.
— E você a quer de volta aqui na casa da matilha, como uma criada?
— Remus me pressionou, ainda não convencido.
— Eu gaguejei? Faça a Senhora Kala trazê-la aqui logo cedo. E
acomode-a no quarto ao lado do meu. — Olhei para Remus, também sem
acreditar nas minhas próprias palavras.
— Senhor? Mas se o senhor está trazendo ela aqui como uma criada, o
lugar apropriado para ela seria nos aposentos dos criados, no primeiro
andar, — Remus disse, incrédulo.
— Eu sei onde são os aposentos dos criados, mas preciso ficar de olho
naquela garota. Então você a colocará ao lado do meu quarto, está claro?
— gritei, socando a mesa, minha paciência já estava acabando.
— Ficar de olho, senhor? — perguntou Remus. Percebi que minha
explosão deve ter disparado um alarme na cabeça do meu observador
gama.
— Não temos certeza se ela é realmente uma ladra ou não. Sua
madrasta disse que ela estava perturbada com algo naquela noite. Então,
eu gostaria de dar a ela o benefício da dúvida, contratando-a como
criada.
Eu falei com uma voz sem emoção, tentando encobrir qualquer sinal
que demonstrasse um interesse em Aurora.
— Por que não designar um guerreiro para vigiá-la, então, senhor?
Trazê-la para a casa a deixaria com o caminho livre para todos os bens
valiosos que possuímos. — Remus comentou
Fiquei com ainda mais raiva por ele acreditar que Aurora poderia ser
de fato uma ladra.
— E de quem é a culpa? — Cronnos rosnou na minha cabeça.
— Não. Eu serei o único cuidando dela, — falei entre dentes. —
Agora, vá e notifique a Senhora Kala. Eu quero a garota aqui antes do
meio-dia. Ela ficará no quarto ao lado do meu e será a minha criada.
Entendido?
Meu tom não deixou espaço para mais perguntas.
— Sim, senhor, — Remus respondeu. E saiu imediatamente.
Sentei-me novamente e comecei a mexer nos papéis, parando naquele
que mencionava sua madrasta, que, por acaso, era uma caçadora do
bando. Uma das nossas melhores, para ser mais preciso.
Então encontrei aquele que detalhava a morte do pai dela.
Ele e meu pai morreram no mesmo dia.
Nós dois perdemos, no mesmo dia, o único membro da família que
nos restava, com a diferença que eu já era adolescente na época.
Ela tinha apenas sete anos...
Peguei a foto dela no arquivo e olhei para aqueles grandes olhos
acinzentados.
— O que você está fazendo comigo, Aurora Craton? — murmurei em
voz alta.
Aurora
— Pronto, querida, aqui estamos. Sua nova casa, — disse a Senhora Kala
enquanto caminhávamos pelo enorme corredor que levava às escadas.
Encontramos o beta e o gama no fim dos degraus.
— Ela finalmente está aqui! — gritou o loiro. Ele se aproximou e
pegou minha mala.
— Bem-vinda, Aurora. Estou ansioso para conhecer a garota que
chamou a atenção de nosso alfa, — ele disse, estendendo sua mão livre.
— Hum, oi, beta Maximus. — Tentei fazer uma reverência, mas fui
interrompida no meio da descida.
— Não precisa ser tão formal comigo. Você pode me chamar de Max.
— Ele me deu uma piscadela, mas foi empurrado pelo gama.
— Já se apresentou o bastante, Max. A garota deve estar assustada o
suficiente sem o seu flerte. Senhorita Craton, sou o gama Remus
Bowman. Bem-vinda à casa do líder.
Ele empurrou os óculos enquanto falava, um cacoete.
— O-obrigada, gama Bowman, — respondi, curvando minha cabeça.
— O alfa requisitou você como criada pessoal. Seu quarto é o vizinho
ao dele, — ele disse.
— Hã? — Eu fiquei boquiaberta, mas ele ignorou meu choque e
continuou falando.
— Você ficará encarregada de levar suas refeições e também de
entregar sua roupa lavada todas as manhãs, entendido?
Remus ergueu uma sobrancelha e me olhou com cautela.
— Hum, sim. Mas por quê? — perguntei. Olhei para a Senhora Kala.
— Pe...pensei que eu seria apenas uma criada comum.
— Não, minha querida, foi uma ordem específica do alfa designar
você como sua criada pessoal, — a Senhora Kala disse, sorrindo
docemente.
— Mas por que eu? — perguntei, ainda pasma.
— Porque eu mandei. Por isso. — ecoou uma voz grave sobre as
nossas cabeças. Os calafrios percorreram minha espinha.
Todos nós olhamos para o topo das escadas para ver o alfa, cujos
olhos azuis gelados olharam diretamente para mim.
Nós quatro curvamos nossas cabeças quando vimos nosso líder.
— Alfa Wolfgang, — dissemos em uníssono, enquanto ele descia as
escadas.
— Muito bem. Venha. — Ele se virou e me conduziu escada acima,
para longe de todos os outros.
Caminhamos pelo corredor e entramos à direita, parando diante de
uma enorme porta dupla de mogno.
Wolfgang pegou uma chave e abriu-a, depois entrou. Nervosamente,
eu o segui.
A sala era sofisticada e elegante, com paredes pintadas de azul-escuro.
A parede à esquerda tinha uma enorme biblioteca cheia de livros que iam
até o teto.
Do lado oposto, estava um sofá de couro em forma de L com uma
linda mesa de chá na frente dele. Havia ainda uma enorme janela com
belas cortinas aveludadas.
Com vista para a janela, estava uma grande mesa com um
computador Apple ao lado de uma pilha de papéis, canetas e outras
coisas.
Tinha uma cadeira de couro atrás dela e duas menores de madeira na
frente, para convidados.
As paredes estavam repletas de retratos, nos quais reconheci nossos
alfas anteriores.
Este deve ser o escritório dele.
Alfa Wolfgang contornou a grande mesa e se sentou. Fiquei parada na
frente dele, sem saber se deveria sentar ou não. Decidi ficar em pé.
— Espero que ainda hoje você esteja devidamente instalada. Seus
deveres começam amanhã. Eu bebo minha primeira xícara de café às seis
da manhã em ponto. Minhas roupas devem estar prontas às sete, e o café
da manhã deve ser servido às oito e meia no meu quarto.
Ele me olhou com sua costumeira expressão estóica.
— Enquanto faço minha refeição, você vai arrumar minha cama e
recolher minha roupa suja. Bebo outra xícara de café às onze e espero o
almoço pronto à uma da tarde. O almoço é sempre servido na sala de
jantar do alfa. Kala vai te mostrar onde fica.
Fiquei lá, na frente dele, ouvindo suas ordens e fazendo o possível
para memorizá-las.
— Depois do almoço, estarei patrulhando, então você terá as tardes
livres para fazer o que quiser, com exceção de deixar a mansão. O jantar é
servido na sala de jantar às sete horas em ponto. Está tudo claro?
Fiz que sim com a cabeça.
— Prefiro palavras em vez de sinais corporais, entendeu, Senhorita
Craton?
— S-Sim, senhor, — chiei.
— Muito bem. Seu quarto é aquele ao lado do meu. Vá se acomodar.
Com isso, ele voltou sua atenção para os papéis que estavam sobre sua
mesa.
Fiquei lá, incapaz de me moverum centímetro. Havia algo que eu
precisava perguntar, mas não sabia como. Ele percebeu minha confusão.
— Teve alguma coisa que você não entendeu? — ele perguntou,
exasperado.
— N-não senhor. Eu... eu queria perguntar sobre a Montana. Minha
madrasta. — eu disse.
— O que tem ela? — ele perguntou, sem se preocupar em olhar para
mim.
— Terei permissão para visitá-la?
Ele largou o papel que estava lendo e olhou para mim por um minuto
antes de voltar sua atenção de novo para o trabalho.
— Você pode vê-la aos domingos. Esse será o seu dia de folga, — disse
ele. — Você pode ir agora. Eu também tenho trabalho para terminar.
Eu tomei isso como minha deixa para sair.
— Sim senhor.
Capítulo 10
Aurora
Fui encontrar a Senhora Kala nas dependências dos criados e ela me
acompanhou até o quarto andar da mansão.
— Aqui, apenas o quarto do alfa está ocupado. O beta, o gama e os
anciãos moram no terceiro andar, — ela disse.
— O segundo andar é apenas para convidados e escritórios, — ela
continuou. — E você já conheceu o primeiro andar.
Eu a segui, tentando me lembrar de cada virada que demos.
— Aqui estamos nós, querida. Este é o seu quarto, — disse, de pé
diante de uma porta.
— O quarto do alfa fica no fim do corredor. — Ela apontou para uma
porta solitária.
— Aqui estão suas chaves. O beta Barone já deixou sua bagagem lá. Vá
se acomodar. Daqui a pouco chamo você para o almoço, — disse a
Senhora Kala gentilmente.
— Hum, eu realmente não estou com fome. Vou apenas arrumar
minhas coisas e me deitar um pouco, — respondi.
— Tem certeza, querida? Você também não tomou café da manhã... —
ela disse, preocupada.
— Sim, senhora. — Sorri para assegurá-la de que eu estava bem.
— Muito bem. Sei que você está exausta com tudo isso, então vou
deixá-la descansar. Mas volto para te procurar para o jantar, certo?
Eu suspeitava que não adiantaria discutir com ela sobre o jantar,
então só suspirei e afirmei com a cabeça.
— Arrume seu quarto do jeito que preferir. Venho dar uma olhada em
você mais tarde, querida, — disse a Senhora Kala.
— Obrigada, Senhora Kala.
A mulher idosa saiu, me deixando sozinha no enorme aposento, que
era decorado com tinta pastel e enfeites brancos.
No centro, havia uma cama queen size com lençóis brancos simples.
Numa das paredes havia uma pequena lareira acesa para manter o
ambiente aquecido.
Ao lado da cama, estava uma adorável cadeira branca onde eu podia
me imaginar lendo. E, bem atrás da cadeira, tinha uma porta de vidro
com cortinas grossas que levava à varanda.
Na parede oposta à cama, tinha uma enorme TV instalada entre duas
portas, pendurada acima da chaminé.
A primeira porta se abria para um espaçoso banheiro, que tinha uma
bela banheira de mármore e um chuveiro ao lado dela.
A parede tinha um espelho enorme, e a bancada era longa o suficiente
para acomodar quatro pessoas.
A segunda porta devia ser um closet. Cada lado da parede tinha tantos
cabides e gavetas que certamente eu jamais conseguiria usar todos.
Fui até a porta de vidro e a abri, saindo para a enorme varanda.
Eu não pude deixar de suspirar de alegria enquanto admirava o lindo
jardim de rosas que ficava abaixo. Seu aroma imediatamente entrou no
quarto.
Talvez não seja tão ruim morar aqui, pensei comigo mesma.
— Claro que não! Estaremos mais próximas do nosso parceiro! — Rhea,
que tinha ficado em silêncio todo esse tempo, de repente gritou na
minha cabeça, me fazendo pular de susto.
— Sim, vamos estar mais próximas. Mas como sua escrava particular, —
retruquei.
— Não importa. Com o tempo, ele vai perceber que pertencemos um ao
outro. — insistiu Rhea.
Revirei meus olhos.
— Mas e se ele não me quiser? — perguntei enquanto voltava para o
quarto.
— Ele vai te querer! Eu sei disso! — disse Rhea, cheia de determinação.
— Sim, claro. Olhe para nós! Ele literalmente nos transformou em suas
escravas. Ah, Deusa, por favor, me dê forças para suportar o que ainda está
por vir.
Eu estava lutando para controlar minha cabeça, que continuava
imaginando toda e qualquer tortura possível que Wolfgang podia ter
reservado para mim.
Passei o resto da tarde desfazendo as malas e guardando minhas
coisas. Algumas horas depois, alguém bateu na porta.
— Sim? — falei de dentro do armário.
A porta se abriu e uma pequena ruiva apareceu.
— Posso entrar?
Eu a reconheci: era Aspen, a parceira do gama Remus.
— Claro, — sorri para ela.
O gama Bowen e a Aspen eram um daqueles casais de sorte que a
Deusa havia conectado.
Já ouvi dizer que, antes de encontrar sua parceira, o gama era um
workaholic todo certinho e tenso.
Até que um dia, alguns anos atrás, durante uma patrulha com o alfa,
ele sentiu um cheiro que o imobilizou.
Remus revirou o vilarejo em busca daquele perfume, até que
encontrou, nos arredores da aldeia uma loba solitária, desconfiada e
assustada. Aspen era uma nômade, feita ór�ã pela guerra. Ela vagou de
aldeia em aldeia, em busca de refúgio, até chegar à Montanha Branca.
Assim que ela colocou os pés em nosso território, a conexão entre eles
se manifestou.
E, desde então, eles são inseparáveis.
— Vim checar se você precisa de ajuda para se instalar, mas estou
vendo que você já está bem.
Ela sorriu e se sentou na minha cama.
— Sim, eu não trouxe muita coisa por enquanto, — eu disse. Fechei a
porta do armário e fui me sentar ao lado dela.
Ela estendeu a mão.
— Você é Aurora, certo? É um prazer conhecer você. Meu nome é
Aspen.
Era uma mulher linda, de um jeito muito singular. Ela era alguns
centímetros mais alta do que eu, com pele negra e olhos verdes
brilhantes. Seu cabelo afro estava modelado em um penteado alto,
encaracolado e vermelho, que ela adornou com uma bandana verde,
combinando com seus olhos.
Apesar de meu corpo pequeno, ela era voluptuosa, o que fez eu me
lembrar dos meus seios minúsculos. Eu apertei a mão dela, oferecendo
meu melhor sorriso.
— O prazer é meu, Aspen.
— Então, você é a criada pessoal do alfa, hein? Eu posso ver porque
ele te designou. Você é belíssima! — ela gritou, me olhando de um jeito
que me deixou ainda mais sem-graça.
— Hum... obrigada? Mas não acho que eu esteja aqui porque ele gosta
de mim. Vim para cá apenas para trabalhar. — Peguei um travesseiro e o
abracei com força enquanto falava.
— Ah, por favor. Eu conheço o Alfa há três anos e nunca o vi pedir
uma criada. Agora, de repente, ele se interessou por você.
Corei quando ela me olhou bem nos olhos.
— Viu só? Nosso parceiro está interessado em nós. É por isso que ele nos
trouxe aqui para a mansão. Ele tem medo de que a gente vá embora a voz de
Rhea ecoou na minha cabeça.
— Sinceramente, duvido, — eu disse às duas, lembrando-me das
palavras do alfa na noite anterior, quando nos encontramos na floresta.
Rhea revirou os olhos e se deitou. Aspen apenas encolheu os ombros.
— Bom, ache o que quiser. Sei do que estou falando. Quer dizer, o
cara te colocou no quarto ao lado dele.
Aspen deu uma risadinha.
— Eu não ficaria surpresa se, em pouco tempo, você estiver dormindo
na cama dele. É o que eu esperaria, pelo menos.
Corei com a ideia de dormir nos braços fortes de Wolfgang.
— Não acho que seria apropriado.
— Claro que não. Mas, vai, estamos falando do Alfa Wolfgang Fortier
Gagliardi.
Ela levantou os braços, exasperada. — Quer dizer, ele não é o Remus,
mas é o homem mais desejado da aldeia e obviamente está de olho em
você, Aurora.
Ela colocou as mãos na cintura e me deu uma piscadela.
— Bom, tenho que ir. Remus e eu vamos encontrar o alfa da Lua Azul
e seu bando na fronteira.
Ela se levantou e foi em direção à porta.
— Os Wilhelm estão vindo de novo? — perguntei.
O bando da Lua Azul era um de nossos aliados mais fortes.
Desde que Alfa Wolfgang assumiu o comando da nossa matilha, ele
tem o dever de conquistar o maior número possível de aliados, para,
assim, conseguir acabar com a guerra com os renegados.
— Sim, — ela suspirou. — Ou seja, temos que aturar Tallulah e suas
manias. Até mais. — Ela se despediu e saiu do quarto.
Tallulah Wilhelm. Filha do alfa da matilha da Lua Azul, Colt Wilhelm.

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