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Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Psicologia Processos Psicológicos Básicos II Prof. Dr. Nelson Torro Alves Discente: Maria Teresa Soares Cardoso Cornélio Matrícula: 20180176840 A filosofia para compreender os processos de sensação e percepção João Pessoa 2020 Introdução O presente trabalho visa compreender as perspectivas que a Filosofia e a Psicologia têm a respeito dos conceitos de sensação e percepção, que são primariamente, considerados como partes integrantes dos processos psicológicos básicos. Segundo Schiffman (2000), sensação pode ser definida como o processo inicial de detecção e codificação que ocorre no contato inicial com o mundo. Ademais, Ries (2004) a define como um processo que está envolvido na recepção do estímulo, seja de origem interna ou externa; compreende à atividade dos sentidos. Nessa perspectiva, entende-se que as sensações estão relacionadas às experiências diretas e imediatas com o mundo. Por outro lado, a percepção é compreendida como a atribuição de significado e interpretação a partir do que é captado pelas sensações. Nessa mesma perspectiva, Ries (2004) afirma que esta, compreende a interpretação pessoal que é dada aos estímulos que nos chegam através dos sentidos. De modo geral a diferenciação entre os conceitos é difícil por serem intrínsecos e dependentes entre si, portanto pode-se entendê-los como os meios e modo como o ser humano se relaciona e compreende o mundo. Ries (2004), diz que a sensação e a percepção compreendem a processos biológicos e psicológicos distintos mas complementares que nos permitem conhecer e detectar a realidade. E assim como a Psicologia, a Filosofia se ocupou em estudar e teorizar como se dão os processos de sensação e percepção. Surgiram, assim, correntes de pensamento que propunham, cada uma a seu modo, entender o funcionamento da sensação e da percepção e como os seres humanos o compreendiam e o utilizavam para se relacionar com o mundo. Pressupostos filosóficos sobre sensação e percepção Schiffman (2000) ressalta duas correntes teóricas que surgiram no século XVII, empirismo e racionalismo. John Locke (1632-1704), é um dos principais filósofos do conceito empirista, que propõe uma busca pelo conhecimento mediante a observação da natureza e a experiência prática, assim, ele postula: "Não existe nada no intelecto que não tenha passado pelos sentidos". Em outras palavras, o empirismo demonstra que a fonte de conhecimento dá-se a partir dos sentidos, da experiência sensorial (Schiffman, 2000). Além de John Locke como teórico empirista, George Berkeley e Thomas Hobbes contribuíram com essa teoria. Em Hobbes, pode-se notar que o ponto-chave de sua teoria é que a percepção é formada pela sensação. Isso porque, para ele, a razão e a cognição não se distinguem dos sentidos (Stigar e Ruthes, 2015). Berkeley, por sua vez, compreende que a percepção é a única realidade que se tem certeza e que o mundo, a realidade palpável não existe até que seja sentida. Do outro lado da vertente filosófica, os racionalistas, representados principalmente por René Descartes, baseiam seus conhecimentos integralmente na razão, em vista disso, dão especial valor e importância à matemática e às comprovações científicas (Oliveira e Mourão-Júnior, 2013). No racionalismo a sensação e a percepção dependem do sujeito do conhecimento e a coisa exterior é apenas a ocasião para que a sensação ou percepção ocorram (Oliveira e Mourão-Júnior, 2013). Saindo dessa comparação antagônica entre empirismo e racionalismo, um filósofo se sobressai nessa discussão, Merleau-Ponty. Esse teórico do mesmo modo compreende que a sensação e a percepção traz a primazia de onde provém o conhecimento humano. Questiona o intelectualismo, que vem a ser um privilégio ao intelecto para apreensão do conhecimento sem uma justificativa razoável. Assim, ele argumenta que, quando estamos no mundo e percebemos as coisas que compõem o mundo, o que chega primeiro à nós é através da sensibilidade, e somente depois é que se forma o pensamento lógico e elaborado das coisas. A percepção e a sensação é, portanto, nosso primeiro contato com as coisas e com o mundo. No livro Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty tece uma crítica à compreensão positivista da percepção, que a considera como algo distinto da sensação. E nesse sentido, para Ponty, a sensação na verdade não é uma qualidade, nem consciência de um estado ou de uma qualidade como define o empirismo e o intelectualismo; mas sim, uma expressão corporal, se faz pelo movimento (Nóbrega, 2008). Conclusão De modo geral, diante de todos os pressupostos teóricos supracitados, pode-se compreender e ressaltar a importância e significância de tais conceitos: sensação e percepção. É através de ambos que é possível compreender como ocorre a compreensão, significação e contato que os seres humanos têm com o mundo. A Filosofia assim como a Psicologia tenta por diferentes vias compreender como esse processos se formam e se relacionam. Logo não percebemos a realidade como ela é, mas como nós somos. Existem por isso, grandes diferenças individuais na percepção. Pode-se compreender a partir disso que a percepção está diretamente ligada à estrutura e à dinâmica da personalidade de um indivíduo (Ries, 2004). Isso traz grandes contribuições à Psicologia por se tratar de uma área que estuda exatamente à subjetividade humana e como ela se constrói. Referências Nóbrega, T. P. D. (2008). Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Estudos de Psicologia (Natal), 13(2), 141-148. Oliveira, A. O., & Mourão-Júnior, C. A. (2013). Estudo teórico sobre percepção na filosofia e nas neurociências. Revista Neuropsicologia Latinoamericana, 5(2), 41-53. Ries, B. E. (2004). Sensação e percepção. Psicologia e Educação: fundamentos e reflexões. Stigar, R., & Ruthes, V. R. M. (2015). A sensação e percepção em Thomas Hobbes. Revista Filosofia Capital-ISSN 1982-6613, 10, 8-16. Schiffman, H. R. (2000). Sensação E Percepção . Grupo Gen-LTC.
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