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Apostila-Completa-Teoria-do-Conhecimento-PDF FAVENI

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DO CONHECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 .NATUREZA, OS LIMITES E OS PROBLEMAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
 .......................................................................................................................................................... 3 
1.1 Senso comum ................................................................................................... 4 
1.2 Conhecimento Teológico (religioso).................................................................. 5 
1.3 Conhecimento filosófico .................................................................................... 5 
1.4 Conhecimento científico.................................................................................... 7 
2 A “VERDADE” EM CIÊNCIA: OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE ............................ 7 
2.1 Critérios de cientificidade .................................................................................. 8 
2.2 Espírito científico: A função da curiosidade ...................................................... 9 
3 O POSITIVISMO ..................................................................................................................... 12 
3.1 O Positivismo: A Divinização da Ciência ........................................................ 12 
3.2 Positivismo social............................................................................................ 14 
3.3 Positivismo evolucionista ................................................................................ 14 
3.4 Teses fundamentais do positivismo ................................................................ 15 
4 AUGUSTO COMTE ................................................................................................................ 16 
4.1 Obras...... ........................................................................................................ 18 
4.2 A Lei dos Três Estados ................................................................................... 18 
4.3 A classificação das Ciências ........................................................................... 20 
4.4 A religião da humanidade ............................................................................... 21 
5 O POSITIVISMO NO BRASIL .............................................................................................. 22 
6 JOHN STUART MILL ............................................................................................................. 23 
6.1 A crítica ao silogismo e o princípio da uniformidade da natureza ................... 25 
6.2 O utilitarismo de Stuart Mill ............................................................................. 26 
7 ORIGEM DA DIALÉTICA ...................................................................................................... 27 
7.1 O Trabalho ...................................................................................................... 36 
 
 
7.2 A Alienação ..................................................................................................... 40 
7.3 A Totalidade .................................................................................................... 43 
7.4 A Contradição e a Mediação ........................................................................... 47 
7.5 A “fluidificação” dos conceitos ........................................................................ 51 
7.6 As Leis Da Dialética ........................................................................................ 55 
7.7 O Sujeito E A História ..................................................................................... 57 
8 METODOLOGIA DAS CIENCIAS SOCIAIS ..................................................................... 63 
8.1 Atualidade De Max Weber .............................................................................. 63 
8.2 Roscher e Knies e os problemas lógicos de Economia Política Histórica.......68 
8.3 A objetividade cognoscitiva da Ciência Social e da Política Social ................. 72 
8.4 Estudos críticas sobre a lógica das Ciências da Cultura ................................ 74 
8.5 Stammler e a superação da concepção materialista da História .................... 80 
8.6 A teoria sobre o limite do aproveitamento e a "Lei Fundamental da Psicofísica" 
....................................................................................................................................86 
9 PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 87 
9.1 Teoria e filosofia da comunicação .................................................................. 87 
9.2 A Dupla Hermenêutica Da Pesquisa Em Comunicação ................................. 88 
9.3 Tradições Intelectuais Através Dos Século ..................................................... 90 
9.4 Concepções Interdisciplinares Através Das Décadas..................................... 93 
9.5 O Processo De Comunicação ......................................................................... 96 
9.6 O Processo De Pesquisa .............................................................................. 100 
10 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ...................................................................................................104 
 
 
 
 
3 
 
1 NATUREZA, OS LIMITES E OS PROBLEMAS DO CONHECIMENTO 
CIENTÍFICO 
 
Fonte: revistamelhor.com.br 
É próprio do homem produzir conhecimento. Este conhecimento constitui o 
patrimônio histórico-cultural da humanidade, resultante de um processo cumulativo, 
decorrente de toda a história da vida humana. De fato, o homem vem, 
incessantemente, construindo conhecimento, produzindo arte, ciência e tecnologia, 
organizando o espaço físico e social. 
 
O domínio do conhecimento possibilita ao homem não só conhecer o mundo, mas 
também compreender, explicar e transformar sua própria realidade. 
 
Todavia, para que a sociedade possa caminhar e desenvolver-se, é 
imprescindível que todos tenham acesso a esse conhecimento, cuja apropriação pode 
dar-se de diversas maneiras. O conhecimento possui dois elementos básicos: um 
sujeito e um objeto. O sujeito é o homem, o ser racional e cognoscente ; o objeto é a 
realidade na qual vive. Existe relação estreita entre o sujeito e objeto; o homem só é 
sujeito quando está conhecendo o objeto, e a realidade só se torna objeto quando é 
 
4 
 
conhecida pelo sujeito. Tipos de conhecimento: senso comum, teológico (religioso), 
filosófico e científico Entre os conhecimentos que o homem produz na tentativa de 
explicar e compreender o mundo, dar sentido para as coisas, destacam-se: 
 
 O senso comum, 
 O teológico (religioso), 
 O conhecimento filosófico e 
 O conhecimento científico. 
1.1 Senso comum 
É o modo espontâneo e pré-crítico de conhecer. Todo homem, no percurso de 
sua existência, acumula conhecimentos e experiências daquilo que viveu, viu e ouviu 
de outras pessoas, interiorizando as tradições da sociedade. Assim, o senso comum 
refere-se a opiniões individuais e subjetivas das pessoas sobre as coisas e os 
acontecimentos, como resultado de suas próprias experiências. É um conhecimento 
que se adquire independentemente de estudos ou pesquisas, entendido como sendo 
aquele que aborda os fatos sem lhes investigar as causas, sem recorrer à 
fundamentação técnica, sistemática ou objetiva. 
Também chamado de “vulgar”, “popular” e “empírico” é o conhecimento do 
dia-a-dia, do cotidiano, da vida das pessoas (...) Faz parte da tradição de uma 
comunidade e resulta de simples transmissão de uma geração a outra. 
(BARBOSA, 2006, p. 45) 
Tais características, entretanto, não devem fazer supor que este tipo de 
conhecimento seja desprezível ou desprovido de significação. O senso comum: 
(. . .) é a primeira compreensãodo mundo resultante da herança fecunda de 
um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. 
Pelo senso comum, fazemos julgamentos, estabelecemos projetos de vida 
adquirimos convicções e confiança para agir. (ARANHA; MARTINS, 1992, 
p.56). 
 
 
5 
 
 
Fonte:meugibi.com.br 
Apesar do senso comum não poder ser desprezado, pois é a partir dele que o 
indivíduo acumula conhecimento e experiências de vida, ele é muito subjetivo e 
pessoal. Uma opinião pessoal não pode ser considerada como verdade, a menos que 
seja demonstrada cientificamente. Já os conhecimentos teológicos (religioso) e 
filosófico são inexperimentáveis, pois dependem do exercício do pensamento e advém 
da necessidade de transcendência que o homem possui; é um exercício de pensar os 
acontecimentos além de suas aparências. 
1.2 Conhecimento Teológico (religioso) 
É a crença em divindades, forças superiores, manifestações divinas. Esse tipo 
de conhecimento não admite questionamentos, não se baseia na razão e sim, na Fé. 
A “verdade” surge da revelação 
1.3 Conhecimento filosófico 
Busca respostas na reflexão dos homens sobre si mesmos e sobre a realidade. 
Os temas de reflexão filosóficos mudam na medida em que o contexto histórico se 
transforma: 
Quanto ao objeto de conhecimento da filosofia, pode-se indicá-lo como sendo 
o tudo. Procura-se conhecer o ser e o não ser, o bem e o mal, o mundo dos 
 
6 
 
seres, dos homens. As proposições filosóficas são situadas em um contexto 
cultural que considera o homem inserido na história. A filosofia é, pois, uma 
reflexão crítica também da sociedade, da política, do direito e da educação, 
e é o seu fundamento. (BARROS; LEHFELD, 2000, p.35) 
 
Nem todos os pensadores e cientistas chegam às mesmas conclusões sobre as 
questões que envolvem as “verdades”. 
 
Pode-se pensar filosoficamente a ciência, a arte, a religião, o homem etc. e 
quando assim se procede, procura-se conhecer as causas primeiras dos fenômenos, 
contrariamente ao que sucede com o conhecimento científico, que fica restrito às 
causas próximas, às suas particularidades. Ao mesmo tempo em que produz 
conhecimentos, o homem interroga-se a respeito de sua validade: o que é a verdade? 
Pode-se confiar na capacidade cognitiva do ser humano? Quando os conhecimentos 
advindos dela podem ser considerados verdadeiros? Historicamente, desde os 
primeiros filósofos até os nossos dias, debatesse o problema: a verdade está no objeto 
ou na relação do sujeito com o objeto? Este debate é fecundo, fazendo com que 
surjam diversas interpretações sobre a questão da verdade e da validade do 
conhecimento. Cada pensador, cada corrente filosófica, cada cientista responde a 
essas questões de maneira diferente. 
 
 
Fonte: cultura.culturamix.com.br 
http://www.cultura.culturamix.com.br/
 
7 
 
E é até bom que não seja assim, para que os conceitos e achados científicos 
sejam exaustivamente testados, comprovados, reduzindo as margens de erros. Toda 
essa polêmica, tratada aqui de maneira bastante ligeira, na medida em que desafia o 
espírito humano e provoca divergências aparentemente inconciliáveis, é benéfica e só 
tem estimulado o aprofundamento de questões ligadas à epistemologia e à filosofia 
da ciência. 
1.4 Conhecimento científico 
O conhecimento científico, ao contrário do conhecimento comum: 
Busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações 
universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever 
acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza 
(ARANHA; MARTINS, 1992, p.89) 
2 A “VERDADE” EM CIÊNCIA: OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE 
 
Fonte: andersonhander.wordpress.com.br 
Ao contrário do uso pouco rigoroso que o homem comum faz da palavra ciência 
em seu cotidiano, no meio acadêmico, esta palavra é tomada no seu sentido estrito: 
trata-se de uma forma de conhecimento sistemático dos fenômenos naturais, sociais, 
 
8 
 
biológicos, matemáticos, físicos e químicos, pelos quais se pode chegar a um conjunto 
de conclusões lógicas, demonstráveis por meio de pesquisas. 
(...) a ciência busca um ideal de comunicação universal: a linguagem 
científica comunica informação a quem quer que possa entende-la, mercê de 
um treinamento anterior (...) a comunicação dos resultados e das técnicas da 
ciência serve não apenas para divulgar, mas também para multiplicar as 
possibilidades da confirmação ou refutação do conhecimento que está sendo 
comunicado por parte da comunidade científica (...)” (MOREIRA, 2004, p. 10) 
Por mais que a mensagem, ou a ciência seja "objetiva", não devemos esquecer 
que, no momento exato em que a pessoa - o sujeito - toma consciência de sua 
existência, esta se torna também, "subjetiva". Cada ser possui sua própria visão de 
realidade, seu modo de guardar informações, baseado em sua experiência de vida. 
Ou seja, todos os esforços buscando a objetividade e caráter universal do 
conhecimento tornam-se nulos no momento em que atingem seu objetivo, a 
divulgação. Isso ocorre, pois, milhares de pessoas com milhares de experiências de 
vida diferentes irão criar interpretações pessoais das mais variadas categorias. Assim, 
as verdades científicas são provisórias, pois são datadas, ou seja, com as 
transformações sociais, políticas, econômicas e culturais nos diferentes contextos 
históricos, as ciências se transformam e, consequentemente, as verdades também 
sofrem alterações. 
2.1 Critérios de cientificidade 
Um dos requisitos primordiais para um assunto ou fato estudado alcançar o 
estatuto da ciência é a utilização de métodos científicos. O entendimento do método 
passou a ser condição necessária ao estabelecimento de limites, na demarcação do 
que se considera científico ou não. 
Nos dias de hoje, muitas áreas da ciência se sobrepõem de tal forma que 
estudiosos de áreas diferentes podem se dedicar a um mesmo tipo de 
problema, com pontos de vistas distintas (OLIVEIRA, 1997, p.48). 
Se diversos são os enfoques, diversos também os modos de se levantar fatos 
e de se produzir ideias. Ou seja, as formas de procedimentos técnico e lógico do 
raciocínio científico são variadas, como vários são os métodos para o 
desenvolvimento da ciência. O método guia o trabalho intelectual (produção das 
ideias, experimentos e teorias) e avalia os resultados obtidos. No processo de 
 
9 
 
produção do conhecimento, o pesquisador elege o método que lhe parece mais 
apropriado à natureza do assunto que vai estudar. Método e conteúdo devem estar 
relacionados, uma vez que, tão importante quanto o conhecimento, é a maneira como 
se chegou a ele. 
 
Todo trabalho científico, seja de natureza teórico conceitual ou de natureza empírica, 
deve esclarecer o caminho percorrido para sua efetivação. 
 
O estudante pesquisador deve compreender que se existem diversos métodos 
para a realização de pesquisas que buscam contribuir para o desenvolvimento das 
ciências, algumas questões são fundamentais e devem ser respondidas para uma 
maior compreensão do que é ciência e da importância da ciência, tais como: 
 
 Afinal, quais são os critérios de cientificidade? 
 O que diferencia teorias científicas de outros tipos de teoria (teorias 
metafísicas e especulativas)? 
 O que leva cientistas a considerar uma teoria melhor do que a outra, 
quando ambas se propõem a explicar os mesmos fenômenos? 
 
Para responder estes dilemas, a própria comunidade científica / acadêmica 
estabelece critérios para que uma teoria, estudo ou descoberta tenha valor científico, 
tais como: coerência, consistência, originalidade e objetividade, aplicabilidade, 
replicabilidade, além de se submeter, necessariamente, à apreciação crítica da 
comunidade científica, após sua imprescindível divulgação. 
2.2 Espírito científico: A função da curiosidade 
A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para 
interpretá-la e para dominá-la. Cada geração recebe um mundointerpretado por 
gerações anteriores. Esta história está constituída por interpretações místicas, 
proféticas, filosóficas, científicas, enfim, por ideologias. Cada indivíduo que vem ao 
mundo já o encontra pensado, pronto: regras morais estabelecidas, sociedade 
organizada, religiões estruturadas, leis codificadas, classificações preparadas. No 
entanto, tal estruturação do mundo não justifica a alguém se sentir dispensado de 
 
10 
 
repensar este mundo, porque caso contrário tem-se o lugar comum, a mediocridade 
e, o que é pior, a alienação. (BASTOS; KELLER, 2000, p.54) 
A ciência experimental surgiu e desenvolveu-se no início do século XVII, 
sempre imersa nas discussões filosóficas que tratavam sobre os limites do raciocínio 
científico, sobre o que a ciência considerava como verdade e questionava a 
capacidade do homem em conhecer o universo através dos seus falhos instrumentos 
pessoais. Havia uma urgente necessidade de aperfeiçoar os sentidos físicos: visão, 
audição e tato, bem como amplificar o poder por meio das máquinas. 
O espírito humano, sempre curioso e duvidando de tudo, tentava se apoiar nas 
variadas filosofias, na tentativa de encontrar soluções para os problemas humanos. 
Apesar de todos os avanços nos campos das ciências, foi somente no século XX que 
a filosofia científica ganhou autonomia como disciplina. A ciência passou a ser um 
fator de história e de cultura entrelaçando-se com concepções de ordem moral, política 
e ética. A curiosidade passa a ter função especial para o cientista, uma vez que é 
fundamental para o desenvolvimento da própria ciência obter o perfeito entendimento 
de determinada teoria, estabelecendo-se por vezes o confronto com outras teorias no 
passado ou no presente A evolução constante do homem, por meio do conhecimento 
científico tem aumentado a longevidade, solucionado problemas seculares e, 
consequentemente, levará a humanidade a padrões de vida cada vez melhores. Pelo 
menos é este o objetivo da ciência. O ser humano vive em constantes 
questionamentos sobre a própria existência e deseja ansiosamente encontrar 
respostas e, para isso, cria representações da realidade que percebe e a isso chama 
de conhecimento. Esse conhecimento sistematizado, comprovado por outras 
pessoas, chama-se conhecimento científico. 
O conhecimento científico é aquele que resulta da investigação científica, seus 
métodos e técnicas. Deriva da necessidade de achar soluções para os diversos 
problemas do dia-a-dia e também de explicar de modo sistematizado e comprovado, 
teorias capazes de replicação, testagem e de comprovação empírica. Desta forma, o 
conhecimento científico surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para 
problemas de ordem prática da vida diária, mas do desejo de fornecer explicações 
sistemáticas que possam ser testadas e criticadas por meio de provas empíricas. 
Essa busca do ser humano para achar solução para os seus problemas levou 
ao desenvolvimento do conhecimento científico, que ajuda na solução dos problemas. 
Paradoxalmente, muitos homens têm criado problemas no uso de muitas descobertas 
 
11 
 
e invenções. Mas é o mau uso que traz consequências indesejáveis. Certamente o 
bom uso das descobertas e criações humanas traz bem-estar, saúde e conforto. Dê 
uma olhada ao seu redor: a luz elétrica, o celular, o computador, o avião, a Internet, 
não são boas soluções? A investigação científica se inicia quando se descobre que 
os conhecimentos existentes originários, quer do senso comum, quer do corpo de 
conhecimentos existentes na ciência, são insuficientes para explicar os problemas 
surgidos. 
O conhecimento prévio que nos lança a um problema pode ser tanto do 
conhecimento ordinário quanto do científico. Quando o homem sai de uma posição 
meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle 
dos mesmos, para uma atitude racionalista e lógica, que busca entender o mundo por 
meio de questionamentos, é que surge a necessidade de se propor um conjunto de 
métodos que funcionem como uma ferramenta adequada para essa investigação e 
compreensão do mundo que o cerca. O homem quer ir além da realidade 
imediatamente percebida e lançar princípios explicativos que sirvam de base para a 
organização e classificação que caracteriza o conhecimento. Por meio desses 
métodos se obtêm enunciados, teorias, leis, que explicam as condições que 
determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos associados a um problema, 
sendo possível fazer predições sobre esses fenômenos e construir um corpo de novos 
enunciados, quiçá novas leis e teorias, fundamentados na verificação dessas 
predições, e na correspondência desses enunciados com a realidade fenomenal. A 
ciência se vale da crítica persistente que persegue a localização dos erros, por meio 
de procedimentos rigorosos de testagem que a própria comunidade científica reavalia 
e aperfeiçoa constantemente. 
Esse método crítico de constante identificação de dificuldades, contradições e 
erros de uma teoria, garante à ciência uma confiabilidade. O que se opõe ao espírito 
científico é o dogma, que bloqueia a crítica por se julgar autossuficiente e clarividente 
na sua compreensão do mundo, e acaba por impedir eventuais correções e 
aperfeiçoamentos, muitas vezes induzindo ao erro, fraudes, ignorância e 
comportamento intolerante. É, portanto, errôneo achar que a dogmatização de um 
conhecimento é superior só porque é imutável. O verdadeiro espírito científico 
consiste, justamente, em não dogmatizar os resultados de uma pesquisa, mas em 
tratá-los como eternas hipóteses que merecem constante investigação. 
 
12 
 
A curiosidade que leva ao desenvolvimento do espírito científico é uma busca 
permanente da verdade, com consciência da necessidade dessa busca, expondo as 
suas hipóteses à constante crítica, livre de crenças e interesses pessoais, conclusões 
precipitadas e preconceitos. Embora não se possam alcançar todas as respostas, o 
esforço por conhecer e a busca da verdade continuam a ser as razões mais fortes da 
investigação científica.1 
3 O POSITIVISMO 
3.1 O Positivismo: A Divinização da Ciência 
 
Fonte: www.ieccmemorias.wordpress.com.br 
O positivismo foi um movimento filosófico do século XIX que teve como principal 
característica a romantização da Ciência, ou seja, a crença de que ela deveria servir 
como guia exclusiva da vida individual e social do homem: deveria ser, assim, o único 
conhecimento, a única moral, a única religião possível. Exercendo grande influência 
em todo o pensamento europeu, o positivismo tinha em sua essência as ideias 
empiristas, o que o fez ser considerado por alguns estudiosos como um 
 
1 Texto Extraído: PEDERIVA, Ana Barbara Ap. Epistemologia. Disponível em: 
https://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_2010/mat_grad_mpc/unidade2/texto_teoric
o.pdf. 
https://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_2010/mat_grad_mpc/unidade2/texto_teorico.pdf
https://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_2010/mat_grad_mpc/unidade2/texto_teorico.pdf
 
13 
 
desenvolvimento do empirismo. Tendo como principal representante Augusto Comte 
(1789-1857), o movimento positivista espalhou-se por todo o mundo ocidental e 
manifestou-se nas mais diversas áreas do conhecimento. Derivado do latim positum, 
o termo positivismo refere-se àquilo que está posto, situado, que existe na realidade, 
referindo-se, portanto, a tudo o que pode ser observado e experimentado. Esse termo 
foi u utilizado pela primeira vez por Sain t-Simon (1760-1825), um dos fundadores do 
socialismo utópico, para designar o método exato das Ciências e sua extensão para 
a Filosofia, acreditando que o avanço da Ciência determinaria as mudanças políticas, 
sociais, morais e religiosas pelas quais a sociedade deveria passar. 
Tendo em vista a definição do termo, fica clara a crítica dopositivismo a 
qualquer filosofia metafísica, a qual buscava algo que ultrapassasse a simples 
aparência dos seres, ou seja, a filosofia que buscava uma essência imaterial das 
coisas por meio da razão. Para a filosofia positivista, só é conhecimento aquele que 
diz respeito ao mundo material (empírico), sendo que tudo aquilo que não se possa 
experimentar não existe ou não pode ser conhecido. O positivismo desenvolveu-se 
plenamente em uma Europa que vivia um quadro político de paz substancial, a qual 
se deu logo após os movimentos revolucionários de 1848, conhecidos também como 
A primavera dos povos, e, também, em um contexto de expansão colonial europeia 
na África e na Ásia. 
Nesse contexto social e político, a Europa vivenciava a concretização de seu 
desenvolvimento industrial, o que trouxe uma mudança radical no modo de ser e de 
viver dos homens, graças aos avanços proporcionados pelo desenvolvimento das 
ciências e pela produção de novas tecnologias. Tais tecnologias modificaram todo o 
modo de produção dentro das indústrias, trazendo como inevitável consequência o 
crescimento vertiginoso das cidades, que se tornaram centros urbanos cada vez mais 
procurados por trabalhadores em busca de novas oportunidades de emprego e renda, 
rompendo com o antigo equilíbrio entre cidade e campo em larga escala, criando-se 
assim um ciclo virtuoso entre oferta e procura, pois, à medida que a produção 
aumentava, crescia também o número de trabalhadores assalariados, o que, 
consequentemente, gerava mais produção. 
Naquele momento, ocorreram importantes avanços científicos, como na 
Medicina, por exemplo, que encontrou solução para algumas das doenças infecciosas 
que afligiam a humanidade. Foi nesse período também que a Revolução Industrial 
atingiu o auge de seu desenvolvimento, o que mudou radicalmente a vida dos homens. 
 
14 
 
O entusiasmo com o progresso da humanidade, visto como algo certo e irrefreável, e 
com a construção de uma vida melhor e mais feliz, a qual seria proporcionada pelos 
avanços científicos, pode ser notado em diversos aspectos da vida humana, tendo-se 
em vista a crença de que todos os problemas seriam resolvidos pelo conhecimento 
científico aplicado na indústria e na educação. 
De 1830 a 1890, os avanços dos conhecimentos nos vários campos do saber 
se fizeram notáveis. Na Física, os estudos de Hertz sobre o Eletromagnetismo e os 
de Joule e Thomson sobre a Termodinâmica foram os grandes destaques. No campo 
da Biologia, Pasteur desenvolveu a microbiologia. Bernard desenvolveu a Fisiologia e 
a medicina experimental e Darwin, sua Teoria Evolucionista. Nesse momento da 
História, como sinal do crescente conhecimento da Engenharia e de suas tecnologias, 
foram construídos a Torre Eiffel, em Paris, e o canal de Suez, ligando a Europa à Ásia, 
o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. O positivismo encontrou, assim, seus principais 
pontos de apoio na estabilidade política da Europa, no notável crescimento das 
indústrias, no desenvolvimento latente das ciências e no aparecimento de novas 
tecnologias. Visto como o romantismo da Ciência, o positivismo acompanhou e 
estimulou o surgimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade 
moderna, o que se expressa no otimismo que acompanhou a origem do movimento 
de industrialização. Essa corrente de pensamento pode ser dividida em duas formas 
históricas essenciais. 
3.2 Positivismo social 
Essa forma de positivismo, representada por Saint-Simon, Augusto Comte e 
John Stuart Mill, surgiu da necessidade de constituir a Ciência como o fundamento de 
uma nova ordenação social e religiosa da sociedade. 
3.3 Positivismo evolucionista 
Essa segunda forma, representada por Spencer, ampliou o conceito de 
progresso do positivismo e lutou por sua imposição em todos os campos da Ciência. 
Os principais representantes do positivismo foram: na França, Augusto Comte (1798-
1857); na Inglaterra, Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903); na 
Alemanha, Jakob Moleschott (1822-1919) e Ernest Haeckel (1834-1919); na Itália, 
 
15 
 
Roberto Ardigò (1828-1920). Em cada um desses países, o positivismo mostrou traços 
próprios e desenvolvimentos específicos. Porém, alguns princípios são comuns a 
todas essas ramificações, garantindo ao positivismo seu caráter de movimento 
filosófico. 
3.4 Teses fundamentais do positivismo 
A Ciência é o único conhecimento possível e seu método é o único válido para 
a obtenção do conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que 
não sejam acessíveis ao método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. 
A investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, 
não tem nenhum valor. O método da Ciência busca descrever os fatos e mostrar as 
relações constantes entre eles, expressando-os em leis que permitem ao homem 
realizar a previsão dos fatos futuros, tese defendida por Comte. No campo da 
evolução, Spencer afirma que as experiências permitem prever a gênese evolutiva 
dos fatos mais complexos a partir dos mais simples, uma vez que a lei advinda da 
observação e da experiência da natureza é a tradução da regularidade observada na 
natureza. Assim, o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no 
domínio sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da 
natureza quanto no estudo da sociedade. Os fatos naturais, além de constituírem as 
relações de causa e efeito no mundo natural, também o fazem no mundo social, nas 
relações entre os homens, o que deixa clara a importância da Sociologia para o 
positivismo. O método da Ciência, por ser o único válido, deve ser estendido a todos 
os campos de indagação e da atividade humana, que, tanto no campo individual 
quanto no social, deve ser guiada por ele. 
O método científico é, portanto, o único capaz de possibilitar a compreensão 
do mundo e também a resolução de seus problemas. Por essa razão, surge a crença 
de que a Ciência é capaz de construir um mundo melhor, resolvendo todos os 
problemas humanos e sociais. O método da Ciência, por ser o único válido, deve ser 
estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana, que, tanto no 
campo individual quanto no social, deve ser guiada por ele. O método científico é, 
portanto, o único capaz de possibilitar a compreensão do mundo e também a 
resolução de seus problemas. Por essa razão, surge a crença de que a Ciência é 
capaz de construir um mundo melhor, resolvendo todos os problemas humanos e 
 
16 
 
sociais nesse período, acreditava-se que o positivismo construiria um mundo melhor 
e mais justo, em que todos teriam garantidas as melhores condições de vida, 
proporcionando a plena felicidade a todos. Esse estágio de desenvolvimento humano 
seria inevitável e, por isso, o positivismo trazia uma visão messiânica da História, 
acreditando que o mundo positivista era o último e perfeito. 
O positivismo foi visto como o auge dos ideais iluministas que, rompendo com 
uma concepção idealista de conhecimento, valorizavam os fatos empíricos como os 
únicos capazes de levar ao conhecimento verdadeiro, além de valorizarem a fé na 
racionalidade, o poder da Ciência para resolver os problemas humanos e sociais e a 
cultura como criação exclusivamente humana sem a interferência da divindade. De 
uma forma geral, o positivismo pecou pela confiança acrítica na Ciência, vista como 
aquela que produziria um novo mundo pelo progresso. A inevitabilidade de fendida 
pelo positivismo era considerada inquestionável, o que fugia ao espírito da própria 
Filosofia. O pensamento positivista levou à formulação de críticas a todo o 
conhecimento que não fosse real e empiricamente comprovado. Assim, ainda que o 
positivismo tenha caído, mais tarde, em uma concepção metafísica de igual 
proporção, a metafísica e qualquer concepção idealista de mundo eram combatidas 
como formas inferiores e antiquadas depensamento. Alguns marxistas criticaram o 
positivismo ao vislumbrar, nessa concepção de progresso inevitável, a concretização 
dos ideais burgueses e dominadores. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram 
substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única capaz de compreender o 
mundo. O mundo espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de 
espírito ou essência foram substituídas pela ideia de matéria. 
4 AUGUSTO COMTE 
Nascido em 19 de janeiro de 1798, em Montpellier, França, membro de uma 
modesta família católica, Augusto Comte ficou conhecido como o fundador da 
Sociologia e como o maior representante do positivismo enquanto movimento 
filosófico. 
 
17 
 
 
Fonte: ifestradas.wordpress.com.br 
Apesar da educação religiosa recebida, afastou-se da fé católica aos 14 anos 
de idade, ingressando, em 1814, na Escola Politécnica de Paris (École 
Polytechnique), a qual exerceu forte influência sobre seu pensamento. Comte foi 
expulso dessa escola em 1816 por participar de um motim realizado pelos alunos em 
uma época marcada pelas mudanças políticas pós-napoleônicas. Retornou em 
seguida à sua cidade natal, onde estudou Medicina por pouco tempo. Em 1817, 
retornou a Paris, passando a sobreviver de seu trabalho como professor particular de 
Matemática e escrevendo para alguns jornais. 
Aqueles foram tempos tortuosos para Comte, que passava por necessidades 
financeiras, tendo de recorrer constantemente ao dinheiro enviado pela mãe para 
sobreviver. Durante certo tempo, foi secretário de um banqueiro na cidade e, de 1818 
a 1824, tornou-se secretário do socialista utópico Conde de Saint-Simon, sobre o qual 
teceu duras críticas mais tarde. Em 2 de abril de 1826, iniciou seu curso público de 
Filosofia Positiva. Abandonado pela mulher, sofreu sérias perturbações mentais, 
suspendendo o curso de Filosofia, o qual retomou somente em 1829, tendo mantido-
o até 1842, período de publicação da redação do curso. Em 1844, começou seu 
envolvimento amoroso com Clodilde de Vaux, que faleceu no ano seguinte, vítima de 
tuberculose. Com a morte da amada, Comte vivenciou maus momentos, o que 
influenciou fortemente para que seu pensamento se tornasse uma espécie de 
misticismo, com a consequente fundação da religião da humanidade em 1852. Comte 
 
18 
 
faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris, possivelmente acometido de câncer. 
Sua última casa, situada à Rua Monsieur-le-Prince, nº 10, em Paris, foi posteriormente 
adquirida por alguns positivistas e transformada no Museu Casa de Augusto Comte. 
4.1 Obras 
 Planos de trabalhos científicos para reorganizar a sociedade, 1822. 
 Curso de filosofia positiva, sua obra-prima, publicado em seis volumes, 
escrito de 1830 a 1842. 
 Discurso sobre o espírito positivo, 1844. 
 Discurso sobre o conjunto do positivismo, 1948, reunindo, no 4º volume, 
seis opúsculos editados de 1819 a 1828. 
 Sistema de política positiva, instituindo a religião da humanidade, em 
quatro volumes, escritos de 1851 a 1854. 
 Catecismo positivista ou sumária exposição da religião da humanidade, 
1852. 
 Síntese subjetiva ou sistema universal de concepções próprias ao 
estado normal da humanidade, 1856. 
 Além dessas obras, há três ou trás publicadas postumamente. 
4.2 A Lei dos Três Estados 
A ideia-chave do positivismo comtiano é a Lei dos Três Estados, a qual ele 
chamava, inclusive, de “minha grande lei”. De acordo com a teoria comtiana, a 
humanidade vivenciou três estágios de concepções sobre o mundo, sendo que em 
cada estágio haveria a ideia de futuro enquanto progresso e, portanto, o estágio 
posterior seria sempre melhor e mais perfeito do que o anterior. O conhecimento do 
mundo aprimorou-se ao longo do tempo, o que levou ao consequente aprimoramento 
das concepções sobre o mundo. A humanidade avançou de uma condição rudimentar 
e bárbara para uma condição civilizada de mundo, progresso este que se manifestou 
no aprimoramento constante dos homens e de suas visões sobre a realidade, o que 
explicaria, inclusive, as transformações da História. A lógica que permeia essa teoria 
é a de que a humanidade, enquanto não houvesse atingido o auge de seu 
 
19 
 
desenvolvimento, conheceria o mundo de forma imperfeita. Porém, essas formas 
imperfeitas iriam sendo substituídas por outras melhores até que a humanidade 
chegasse ao último estágio do conhecimento, em que as antigas superstições e os 
pré-conceitos tornassem-se desnecessários e obsoletos. Os estágios da humanidade 
são: 
1º Estado – Teológico: Nesse estágio, o ser humano explica a realidade 
apelando para entidades sobrenaturais (os “deuses”). Busca-se, dessa forma, o 
absoluto e as causas primeiras e finais representadas por questões como “de onde 
viemos?” e “para onde vamos?”. No estágio teológico, os fenômenos são vistos como 
produtos da ação direta de seres sobrenaturais cuja vontade arbitrária comanda a 
realidade. 
2º Estado – Metafísico: O estágio metafísico é uma espécie de meio-termo 
entre o estado teológico e o positivo. No lugar dos deuses, há a presença de entidades 
abstratas, como essência e substância dos seres, para explicar a realidade. 
Permanece, no entanto, a busca por respostas às questões “de onde viemos?” e “para 
onde vamos?”. Procura-se, assim, o absoluto, com a diferença de que este não é mais 
uma divindade, mas sim conceitos abstratos como essência e ideias. Para Comte, as 
explicações teológicas ou metafísica são ingenuamente psicológicas, possuindo 
importância, sobretudo histórica, como crítica e negação da explicação teológica 
precedente, mas não encerrando a verdade em si mesmas. Nesse segundo estágio, 
fala-se de natureza, de povo, etc. como conceitos abstratos e absolutos. 
3º Estado – Positivo: Essa é a etapa final e definitiva do conhecimento sobre o 
mundo, na qual não se busca mais o “porquê” das coisas, mas sim o “como” elas são. 
Esse conhecimento se estabelece por meio das descobertas e do estudo das leis 
naturais, ou seja, das relações de causa e efeito a que todas as coisas estão 
submetidas. Nesse estágio, que consiste no apogeu das etapas anteriores, a 
imaginação é excluída e prioriza-se a observação dos fenômenos concretos, 
encontrando-se, assim, as leis por detrás de seu funcionamento. 
 
É no estado positivo que o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter 
conhecimentos absolutos, renuncia a perguntar qual é sua origem, qual o destino do 
universo e quais as causas íntimas dos fenômenos para procurar somente descobrir, 
com o uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, isto é, 
suas relações invariáveis de sucessão e semelhança. 
 
20 
 
 
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 20. Coleção Os 
Pensadores. 
 
Para Comte, esses estágios são necessários para a evolução da humanidade 
e do homem, representando fases de compreensão da realidade que se sucedem 
rumo à perfeição do saber. Assim, sua Lei dos Três Estágios serviria para 
compreender o desenvolvimento do homem, o qual estaria no estado teológico em 
sua infância, no metafísico em sua juventude e no positivo em sua maturidade. 
Segundo Comte, a época em que ele vivia já passava pelo estágio positivo e, assim, 
qualquer forma de conhecer a realidade que não fosse pela Ciência deveria ser 
extinta, já que o progresso e a construção de um mundo perfeito ocorreriam apenas 
como consequência do conhecimento científico. 
 
Estudando o desenvolvimento da inteligência humana [...] desde sua primeira 
manifestação até hoje, creio ter descoberto uma grande lei fundamental [...] Esta lei 
consiste no seguinte: cada uma de nossas concepções principais e cada ramo de 
nossos conhecimentos passam necessariamente por três estágios teóricos diferentes: 
o estágio teológico ou fictício, o estágio metafísico ou abstrato e o estágio científico 
ou positivo [...] daí três tipos defilosofia ou de sistemas conceituais gerais sobre o 
conjunto dos fenômenos, que se excluem reciprocamente. O primeiro é um ponto de 
partida necessário da inteligência humana; o terceiro é seu estado fixo e definitivo; o 
segundo destina-se unicamente a servir como etapa de transição. 
 
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os 
pensadores. 
4.3 A classificação das Ciências 
Comte classificou as Ciências a partir das mais gerais para as menos gerais, 
de acordo com a generalidade do seu objeto. Logo, segundo essa concepção, a mais 
geral de todas as Ciências seria a Matemática, seguida da Astronomia, da Física, da 
Química, da Biologia e da Sociologia, com objetos progressivamente menos gerais, e, 
portanto, mais complexos. Partindo dessa classificação, a Sociologia comtiana figura 
 
21 
 
como a mais complexa de todas as Ciências. Para Comte, os caminhos para se 
alcançar o conhecimento das leis que regem a sociedade são a observação, o 
experimento e o método comparativo. Segundo o filósofo, para se passar de uma 
sociedade desordenada para uma ordenada, é necessário um conhecimento científico 
sobre tal sociedade e, para que esse conhecimento seja eficaz, deve-se encontrar as 
leis que regem os fenômenos sociais de modo que se perceba as relações de causa 
e efeito no interior dessa sociedade. Comte chama a Sociologia de “física social”, pois, 
assim como a Física encontra as leis dos fenômenos naturais e dos movimentos dos 
corpos, a Sociologia é capaz de encontrar as leis que regem a sociedade. Comte não 
menciona a Filosofia em sua classificação, uma vez que ela tem o papel de 
ordenadora e de instrumento de conhecimento de todas as outras Ciências. 
4.4 A religião da humanidade 
Em sua última grande obra, O sistema de política positiva, escrita entre os anos 
1851 e 1854, Comte demonstrou sua crença de que a teoria positiva pudesse produzir 
uma sociedade regenerada. O aperfeiçoamento dos homens se daria por meio da 
Ciência e das leis sociais, as quais assumiriam o papel de religião. Porém, nessa 
religião positiva, não se adoraria uma divindade extraterrena, mas sim a própria 
humanidade. O amor a deus, portanto, presente no estágio teológico, cederia lugar, 
no estado positivo, ao amor à humanidade. Para Comte, a ideia de humanidade 
representa todos os indivíduos que existem, existiram e que ainda irão existir, sendo 
um conceito que engloba mais do que apenas os indivíduos particulares. Todos os 
indivíduos são como células de um grande organismo, a humanidade, que deve ser 
venerada como eram os deuses. Tomando como base a organização do catolicismo, 
como cultos, ritos, hierarquia e doutrina, Comte afirmou que a nova religião da 
humanidade também deveria ter dogmas, os quais consistiriam nas verdades 
científicas e na Filosofia Positiva. Também existiriam sacramentos, como o batismo 
secular, a crisma e a unção dos enfermos, e seriam construídos templos, os institutos 
científicos, dentre outros. 
 
 
 
 
 
22 
 
Capela do positivismo ou da religião da humanidade em Porto Alegre, RS. Em sua fachada, a frase 
de Comte: O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim. 
 
Fonte: pt.wikipedia.org.com.br 
5 O POSITIVISMO NO BRASIL 
O positivismo, enquanto movimento filosófico, espalhou-se por todo o mundo, 
chegando ao Brasil e ocupando lugar de destaque na política e no pensamento 
nacionais durante a passagem do século XIX para o XX. Dentre os mais importantes 
positivistas, destacam-se o Coronel Benjamin Constant, considerado o fundador da 
república brasileira, e os pensadores Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes 
(1855-1927). Além disso, cabe ressaltar que os governos de Deodoro da Fonseca e 
Floriano Peixoto foram especialmente marcados pelas influências positivistas. 
 
A partir da segunda metade do século XIX, as ideias de Augusto Comte permearam 
as mentalidades de muitos mestres e estudantes militares, políticos, escritores, 
filósofos e historiadores. Vários brasileiros adotaram, ou melhor, se converteram ao 
positivismo, dentre eles o professor de Matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro, 
Benjamin Constant, o mais influente de todos. Tais influências estimularam 
movimentos de caráter republicano e abolicionista, em oposição à monarquia e ao 
escravismo dominante no Brasil. A Proclamação da República, ocorrida através de 
http://www.pt.wikipedia.org.com.br/
 
23 
 
um golpe militar, com apoio de setores da aristocracia brasileira, especialmente a 
paulista, foi o resultado “natural” desse movimento. 
 
VALENTIM, Oséias Faustino. O Brasil e o positivismo. Rio de Janeiro: Publit, 2010. 
 
A expressão mais clara da influência do positivismo no Brasil figura na própria 
Bandeira Nacional, que traz a máxima política positivista “Ordem e Progresso”, 
originada como uma variação da citação de Comte: “O Amor por princípio e a Ordem 
por base; o Progresso por fim”, que representa o desejo de uma sociedade justa, 
fraterna e progressista. Tal frase conduz ao pensamento de que a ordem das coisas, 
expressa no conhecimento científico a partir das relações de causa e efeito, levaria 
ao progresso inevitável na vida material e na sociedade, sendo esta a principal crença 
do positivismo. De acordo com a perspectiva positivista, o progresso é fruto de uma 
atitude racional deliberada, podendo ser alcançado por meio de decisões racionais e 
científica, as quais devem ser tomadas por governos competentes, constituídos de 
pessoas capacitadas. 
6 JOHN STUART MILL 
 
Fonte: novacidadania.com.br 
 
24 
 
Nascido em Londres, em 1806, Stuart Mill teve contato com a Filosofia desde 
muito cedo. Seu pai, James Mill, foi um importante filósofo da corrente utilitarista de 
Jeremy Bentham, o qual havia sido, inclusive, professor de Stuart Mill. Bentham 
considerava o hedonismo (do grego hedonê: prazer, alegria, desejo) psicológico como 
o princípio governante da conduta humana. Para ele, dor e prazer eram os “mestres 
soberanos” da humanidade. Dessa ideia, nasceu a teoria moral do utilitarismo, 
segundo a qual o único fim da conduta humana é alcançar a maior felicidade para o 
maior número de pessoas possível. 
James Mill queria que o filho se tornasse um gênio, e, para isso, esmerou-se 
em proporcionar a Stuart Mill uma educação apropriada, escolhendo inclusive suas 
amizades. Adepto da teoria da tábula rasa de John Locke, James Mill sabia que o filho 
deveria passar por experiências construtivas para que pudesse desenvolver ideias 
superiores. Por isso, a educação de Stuart Mill foi muito rigorosa, pois ele deveria ser 
aquele a assegurar o sucesso do utilitarismo no futuro. Devido aos planos de seu pai, 
Stuart Mill foi educado exclusivamente em casa, garantindo a James Mill total 
participação nas etapas da educação intelectual de seu filho. Com apenas três anos 
de idade, Stuart Mill já havia aprendido o alfabeto grego e um grande número de 
palavras nessa língua. Com oito anos, já havia lido Esopo, Xenofonte, Heródoto, 
Diógenes, Isócrates e seis diálogos de Platão, além de muitos livros sobre a História 
da Inglaterra. Foi com essa idade também que aprendeu latim e álgebra, tendo sido 
escolhido como tutor dos membros mais jovens de sua família. Antes mesmo de 
completar dez anos de idade, Stuart Mill já lia livros em latim e em grego que somente 
eram lidos pelos jovens mais velhos nas escolas e nas universidades. Aos dezoito 
anos, começou a estudar Lógica, lendo os tratados lógicos de Aristóteles no original 
grego. Estudou Economia através dos trabalhos de Adam Smith e de David Ricardo, 
grandes pensadores utilitaristas e dois dos principais representantes do positivismo 
social na Inglaterra. Ainda com dezoito anos, afirmou, em sua Autobiografia, que era 
uma “máquina lógica”. 
Com 21 anos, Stuart Mill caiu em profunda depressão, recuperando-se 
somente anos depois. JamesMill queria que o filho se tornasse um gênio, e, para isso, 
esmerou-se em proporcionar a Stuart Mill uma educação apropriada, escolhendo 
inclusive suas amizades. Adepto da teoria da tábula rasa de John Locke, James Mill 
sabia que o filho deveria passar por experiências construtivas para que pudesse 
desenvolver ideias superiores. Por isso, a educação de Stuart Mill foi muito rigorosa, 
 
25 
 
pois ele deveria ser aquele a assegurar o sucesso do utilitarismo no futuro. Devido 
aos planos de seu pai, Stuart Mill foi educado exclusivamente em casa, garantindo a 
James Mill total participação nas etapas da educação intelectual de seu filho. Com 
apenas três anos de idade, Stuart Mill já havia aprendido o alfabeto grego e um grande 
número de palavras nessa língua. Com oito anos, já havia lido Esopo, Xenofonte, 
Heródoto, Diógenes, Isócrates e seis diálogos de Platão, além de muitos livros sobre 
a História da Inglaterra. 
Foi com essa idade também que aprendeu latim e álgebra, tendo sido escolhido 
como tutor dos membros mais jovens de sua família. Antes mesmo de completar dez 
anos de idade, Stuart Mill já lia livros em latim e em grego que somente eram lidos 
pelos jovens mais velhos nas escolas e nas universidades. Aos dezoito anos, 
começou a estudar Lógica, lendo os tratados lógicos de Aristóteles no original grego. 
Estudou Economia através dos trabalhos de Adam Smith e de David Ricardo, grandes 
pensadores utilitaristas e dois dos principais representantes do positivismo social na 
Inglaterra. Ainda com dezoito anos, afirmou, em sua Autobiografia, que era uma 
“máquina lógica”. Com 21 anos, Stuart Mill caiu em profunda depressão, recuperando-
se somente anos depois. 
6.1 A crítica ao silogismo e o princípio da uniformidade da natureza 
Em sua obra Sistema de lógica dedutiva, Mill empenhou-se em criticar o 
silogismo lógico, que tem sua conclusão ou dedução inferida necessariamente das 
premissas do próprio silogismo. Um bom e clássico exemplo de silogismo é: “Todo 
homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”. Concluir que Sócrates 
é mortal é chegar a uma ideia que já estava contida nas premissas do argumento. 
Partindo desse raciocínio, fica claro que a conclusão dedutiva não acrescenta nada 
às informações presentes nas premissas. Por isso, para Mill, o argumento dedutivo 
ou silogístico é estéril. Stuart Mill afirmava que a verdade da proposição “Todo homem 
é mortal” provinha das experiências, realizadas anteriormente, de observar vários 
homens mortos. Por isso, o filósofo defendia que toda inferência é feita “do particular 
para o particular”, ou seja, em todos os casos, o conhecimento obtido por meio de um 
raciocínio lógico é proveniente de experiências anteriores do mesmo caso. 
A proposição geral de um raciocínio dedutivo não passa, portanto, de um 
conjunto de experiências particulares feitas anteriormente. Com isso, Mill buscou 
 
26 
 
defender que todo conhecimento é de natureza empírica. Diante dessa posição 
filosófica, surge, entretanto, uma questão: se todo o conhecimento vem de 
experiências particulares, inclusive as proposições gerais de uma dedução têm sua 
origem em experiências realizadas anteriormente, como é possível ao homem 
generalizar uma dada informação? No exemplo anterior, ao se afirmar que “Todo 
homem é mortal”, faz-se uma generalização, uma vez que é impossível a alguém 
observar todos os casos particulares do mundo para chegar a essa verdade. Como 
solução para esse problema, Mill afirmou que a garantia para que as inferências que 
levam às generalizações ocorram em todos os casos é a de que “o curso da natureza 
é uniforme”, ou seja, a natureza age sempre da mesma maneira, seguindo uma 
mesma causalidade, e é somente graças a esse princípio que se pode alcançar um 
conhecimento por meio da indução lógica. 
6.2 O utilitarismo de Stuart Mill 
O utilitarismo é uma das doutrinas éticas que consideram a felicidade o bem 
maior a ser buscado em toda e qualquer ação. Logo, a ação humana deve ter como 
critério de bem e mal o “princípio da maior felicidade”, conhecido também como 
princípio da utilidade, que encontra suas origens na filosofia de Epicuro. Bentham, 
porém, foi quem desenvolveu essa ideia com maior sistematização. Segundo ele, na 
obra Uma investigação dos princípios da moral e da legislação, de 1789: 
[...]o princípio da maior felicidade é aquele que aprova ou desaprova qualquer 
ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade da 
pessoa cujo interesse está em jogo. BENTHAM, Jeremy. Uma investigação 
dos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril cultural, 1974. p. 4. 
A melhor ação seria, portanto, aquela que proporcionaria maior prazer ou 
felicidade ao indivíduo ou à comunidade, definindo-se o critério de certo ou errado de 
acordo com o maior grau de felicidade para um maior número de pessoas. De acordo 
com Bentham, são sete os critérios utilizados para definir se uma ação irá trazer ou 
não a felicidade, os quais devem auxiliar na avaliação das dores e dos prazeres para 
a tomada de decisão: intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou 
longinquidade, fecundidade, pureza e extensão. Essa posição filosófica de Bentham, 
porém, pode ser facilmente confundida com o hedonismo (a busca do prazer sem se 
preocupar com as consequências posteriores), uma vez que o princípio da maior 
 
27 
 
felicidade está ligado ao prazer, e nem tudo o que traz prazer para o homem é 
necessariamente bom. 
Há de se distinguir os tipos de prazeres, como o faz Epicuro, mas de forma 
mais sistemática, de modo que se evite o erro do subjetivismo e do egoísmo, pois, 
aquilo que seria prazer e felicidade para uns, poderia não o ser para outros. Buscando 
justificar a posição ética de seu mestre, Stuart Mill reelabora sua tese, defendendo a 
necessidade de unir ao hedonismo aspectos do estoicismo e do cristianismo. Faz-se 
necessária, assim, uma distinção clara entre os prazeres humanos e os prazeres 
animais. Tal distinção se dá qualitativamente, sendo que os prazeres melhores e 
superiores, chamados por Mill de prazeres mentais, estão ligados ao pensamento, 
enquanto os prazeres inferiores, chamados de prazeres corporais, estão ligados ao 
corpo. Stuart Mill acreditava que o homem deveria buscar em sua vida os prazeres 
que lhe fariam alcançar a felicidade, fazendo a distinção adequada desses prazeres, 
sendo que os prazeres superiores e mentais é que fariam o homem verdadeiramente 
feliz, embora os prazeres inferiores e corporais não devessem ser deixados de lado, 
precisando apenas ser buscados com moderação e comedimento.2 
7 ORIGEM DA DIALÉTICA 
Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos, passou a ser a 
arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de 
definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão. Aristóteles 
considerava Zênon de Eleia (aprox. 490- -430 a.C.) o fundador da dialética. Outros 
consideram ser Sócrates o primeiro (469-399 a.C.). Numa discussão sobre a função 
da filosofia (que estava sendo caracterizada como uma atividade inútil), Sócrates 
desafiou os generais Lachés e Nícias a definirem o que era a bravura e o político 
Caliclés a definir o que era a política e a justiça, para demonstrar a eles que só a 
filosofia - por meio da dialética - podia lhes proporcionar os instrumentos 
indispensáveis para entenderem a essência daquilo que faziam e das atividades 
profissionais a que se dedicavam. Na acepção moderna, entretanto, dialética significa 
outra coisa: é o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de 
 
2 Texto Extraído: O positivismo: a divinização da ciência. Filosofia. Colégio Práxis. Disponível: 
https://colegiopxsflamboyant.com.br/Documentos/Capitulo12.pdf. 
https://colegiopxsflamboyant.com.br/Documentos/Capitulo12.pdf
 
28compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente 
transformação. 
No sentido moderno da palavra, o pensador dialético mais radical da Grécia 
antiga foi, sem dúvida, Heráclito de Éfeso (aprox. 540-480 a.C.). Nos fragmentos 
deixados por Heráclito, pode-se ler que tudo existe em constante mudança, que o 
conflito é o pai e o rei de todas as coisas. Lê-se também que vida ou morte, sono ou 
vigília, juventude ou velhice são realidades que se transformam umas nas outras. O 
fragmento ne 91, em especial, tornou-se famoso: nele se lê que um homem não toma 
banho duas vezes no mesmo rio. Por quê? Porque da segunda vez não será o mesmo 
homem e nem estará se banhando no mesmo rio (ambos terão mudado). Os gregos 
acharam essa concepção de Heráclito muito abstrata, muito unilateral. Chamaram o 
filósofo de Heráclito, o Obscuro. Havia certa perplexidade em relação ao problema do 
movimento, da mudança. O que é que explicava que os seres se transformassem, que 
eles deixassem de ser aquilo que eram e passassem a ser algo que antes não eram? 
Heráclito respondia a essa pergunta de maneira muito perturbadora, negando a 
existência de qualquer estabilidade no ser. Os gregos preferiram a resposta que era 
dada por um outro pensador da mesma época: Parmênides. 
Parmênides ensinava que a essência profunda do ser era imutável e dizia que 
o movimento (a mudança) era um fenômeno de superfície. Essa linha de pensamento 
que podemos chamar de metafísica - acabou prevalecendo sobre a dialética de 
Heráclito. A metafísica não impediu que se desenvolvesse o conhecimento científico 
dos aspectos mais estáveis da realidade (embora dificultasse bastante o 
aprofundamento do conhecimento científico dos aspectos mais dinâmicos e mais 
instáveis da realidade). 
De maneira geral, independentemente das intenções dos filósofos, a 
concepção metafísica prevaleceu, ao longo da história, porque correspondia, nas 
sociedades divididas em classes, aos interesses das classes dominantes, sempre 
preocupadas em organizar duradouramente o que já está funcionando, sempre 
interessadas em “amarrar” bem tanto os valores e conceitos como as instituições 
existentes, para impedir que os homens cedam à tentação de querer mudar o regime 
social vigente. A concepção dialética foi reprimida historicamente: foi empurrada para 
posições secundárias, condenada a exercer uma influência limitada. A metafísica se 
tornou hegemônica. Mas a dialética não desapareceu. 
 
 
29 
 
 
Fonte: filosofia.com.br 
Para sobreviver, precisou renunciar às suas expressões mais drásticas, 
precisou conciliar com a metafísica, porém conseguiu manter espaços significativos 
nas ideias de diversos filósofos de enorme importância. Aristóteles, por exemplo, um 
pensador nascido mais de um século depois da morte de Heráclito, reintroduziu 
princípios dialéticos em explicações dominadas pelo modo de pensar metafísico. 
Embora menos radical do que Heráclito, Aristóteles (384-322 a.C.) foi um pensador 
de horizontes mais amplos que o seu antecessor; e é a ele que se deve, em boa parte, 
a sobrevivência da dialética. Aristóteles observou que nós damos o mesmo nome de 
movimento a processos muito diferentes, que vão desde o mero deslocamento 
mecânico de um corpo no espaço, desde o mero aumento quantitativo de alguma 
coisa, até a modificação qualitativa de um ser ou o nascimento de um ser novo. Para 
explicar cada movimento, precisamos verificar qual é a natureza dele. Segundo 
Aristóteles, todas as coisas possuem determinadas potencialidades; os movimentos 
das coisas são potencialidades que estão se atualizando, isto é, são possibilidades 
que estão se transformando em realidades efetivas. 
 
 
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Fonte:neinordin.com.br 
Com seus conceitos de ato e potência, Aristóteles conseguiu impedir que o 
movimento fosse considerado apenas uma ilusão desprezível, um aspecto superficial 
da realidade; graças a ele, os filósofos não abandonaram completamente o estudo do 
lado dinâmico e mutável do real. Nas sociedades feudais, entretanto, durante os 
séculos da Idade Média, a dialética sofreu novas derrotas e ficou bastante 
enfraquecida. No regime feudal, a vida social era estratificada, as pessoas cresciam, 
viviam e morriam fazendo as mesmas coisas, pertencendo à classe social em que 
tinham nascido; quase não aconteciam alterações significativas. A ideologia 
dominante - a ideologia das classes dominantes - era monopólio da Igreja elaborada 
dentro dos mosteiros por padres que levavam uma vida muito parada. Por isso, a 
dialética foi sendo cada vez mais expulsa da filosofia. A própria palavra dialética se 
tornou uma espécie de sinônimo de lógica (ou então passou a ser empregada, em 
alguns casos, com o significado pejorativo de “lógica das aparências”). 
No regime de cidade-Estado, da Grécia antiga, embora houvesse estratificação 
social, havia uma ampla circulação tanto de mercadorias como de ideias: o comércio 
e a discussão sobre os problemas de interesse coletivo faziam parte da vida dos 
cidadãos. No regime feudal, a vida nas cidades sofreu um esvaziamento; e no campo 
havia pouco comércio e poucas oportunidades para discutir organizadamente. O 
número dos cidadãos que debatiam era reduzido e as ideias discutidas ficaram um 
tanto desligadas da vida prática. 
 
31 
 
A dialética ficou sufocada. Para sobreviver, ela precisou lutar para assegurar à 
filosofia um espaço próprio, que não ficasse diretamente dominado pelo imperialismo 
da teologia (ideologia dominante, na época). Um dos ideólogos mais famosos do 
século XI, Petrus Damianus (1007-1072), dizia que, para o ser humano, a única coisa 
importante era a salvação da sua alma; que a maneira mais segura de salvar a alma 
era se tornar monge; e que um monge não precisava de filosofia. O árabe Averróis e 
o francês Abelardo procuraram, por caminhos muito diferentes, defender o espaço da 
filosofia, sem desafiar a teologia. Averróis (1126-1198), apoiando-se em Aristóteles, 
afirmou que a versão filosófica da Verdade não precisava coincidir, de maneira 
imediata e total, com sua versão teológica. Abelardo (1079-1142) conseguiu discutir 
longamente sobre as relações entre as categorias universais e as coisas singulares 
em termos de pura lógica, mostrando assim, na prática, que existiam problemas 
importantes cuja abordagem não precisava da teologia. 
No século XIV, a vida começou a se modificar, o comércio se desenvolveu e 
sacudiu os hábitos da sociedade feudal. Os filósofos refletem isso. Guilherme de 
Occam (aprox. 1285-1349) é típico da nova situação que estava surgindo; sua vida é 
bem mais movimentada que a da maioria dos filósofos medievais: ele estudou na 
Inglaterra (em Oxford), viveu na França (em Avignon), andou às turras com o papa, 
fugiu para Pisa (na Itália) e acabou morrendo em Munique (na Alemanha). Occam 
sustentava que, exatamente porque Deus é todo-poderoso e porque a vontade de 
Deus não pode ter limites, tudo no mundo é contingente, tudo poderia ser diferente do 
que é (se Deus quisesse); por isso, a teologia (que tratava de Deus) não devia interferir 
— segundo Occam — no estudo das coisas contingentes do mundo empírico. A 
chamada “revolução comercial”, esboçada no século XIV deflagrou-se no século XV 
e suas consequências marcaram profundamente o século XVI. Foi a época do 
Renascimento e da descoberta da América. 
As artes e as ciências se insurgiram contra os hábitos mentais da Idade Média: 
mostraram que o universo era muito maior e mais complicado do que os ideólogos 
medievais pensavam; e mostraram que o ser humano era potencialmente muito mais 
livre do que eles imaginavam. O movimento voltou a se impor à reflexão e ao debate, 
tornou-se outra vez um tem a fundamental. O astrônomo polonês Nicolau Copérnico 
(1473-1543) descobriu que Ptolomeu tinha se enganado, que a Terra nem era imóvel 
nem era o centro do universo, que ela girava em torno doSol. 
 
 
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Fonte:www.galeriadometeorito.com.br 
Galileu (1564-1642) e Descartes (1596-1650) descobriram que a condição 
natural dos corpos era o movimento e não o estado de repouso. A maneira de 
conceber o ser humano também sofreu importantes alterações. Pico delia Mirandola 
(1463-1494) sustentou que o fato de o homem ser “inacabado” e, portanto, pode 
evoluir, lhe conferia uma dignidade especial e lhe dava até certa vantagem em 
comparação com os deuses e anjos (que são eternos, perfeitos e por isso não 
mudam). Giordano Bruno (1548-1600) exaltou o homo faber, quer dizer, o homem 
capaz de dominar as forças naturais e de modificar criadoramente o mundo. Com o 
Renascimento, a dialética pôde sair dos subterrâneos em que tinha sido obrigada a 
viver durante vários séculos: deixou o seu refúgio e veio à luz do dia. Conquistou 
posições que conseguiu manter nos séculos seguintes. O caráter instável, dinâmico e 
contraditório da condição humana foi corajosamente reconhecido por um pensador 
místico e conservador, como Pascal (1623-1654). 
Outro filósofo conservador, o italiano Giambattista Vico (1680-1744), também 
ajudou a dialética a se fortalecer. Vico achava que o homem não podia conhecer a 
natureza, que tinha sido feita por Deus e só por Deus podia ser efetivamente 
conhecida; mas sustentava que o homem podia conhecer sua própria história, já que 
a realidade histórica é obra humana, é criada por nós. Essa formulação constituiu um 
poderoso estímulo à busca de um método adequado à correta compreensão da 
realidade histórica (quer dizer, à elaboração do método dialético). Elementos de 
dialética se encontram no pensamento de diversos filósofos do século XVII, como 
Leibniz (1646-1716), Spinoza (1632-1677), Hobbes (1588- -1679) e Pierre Bayle 
 
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(1647-1706). Elementos de dialética se achavam já, também, nas reflexões do 
inquieto Montaigne (1533-1592), no século XVI. 
Montaigne dizia, por exemplo: “Todas as coisas estão sujeitas a passar de uma 
mudança a outra; a razão, buscando nelas uma subsistência real, só pode frustrar-se, 
pois nada pode apreender de permanente, já que tudo ou está começando a ser e 
absolutamente ainda não é - ou então já está começando a morrer antes de ter sido” 
(,Essais, II, 12). Mas tanto Montaigne como os pensadores do século XVII viviam e 
pensavam, de certo modo, numa situação de isolamento em relação à dinâmica social, 
em relação aos movimentos políticos da época. Os contatos que eles mantinham eram 
com personalidades e não com organizações ou tendências que pudessem refletir 
alguma coisa do que se passava nas bases da sociedade. Por isso, a visão que tinham 
da história - isto é, do processo transformador da condição humana e das estruturas 
sociais - ou era gratuitamente otimista, superficial, ou então assumia um tom 
melancólico, um conteúdo conservador negativista. Só na segunda metade do século 
XVIII é que a situação dos filósofos começou a mudar. 
O amadurecimento do processo histórico que desembocou na Revolução 
Francesa criou condições que permitiram aos filósofos uma compreensão mais 
concreta da dinâmica das transformações sociais. O movimento que refletiu esse 
processo de preparação da Revolução Francesa no plano das ideias se chamou 
iluminismo. Os filósofos iluministas acompanharam de perto as reivindicações 
plebeias, as articulações da burocracia, as manifestações políticas nas ruas, a rápida 
mudança nos costumes; perceberam que o que restava do mundo feudal devia 
desaparecer e pretenderam contribuir para que o mundo novo, que estava surgindo, 
fosse um mundo racional. Em sua maioria, os iluministas se contentaram com uma 
visão mais ou menos simplificada do processo de transformação social que viam 
realizar-se e apoiavam: não procuraram refletir aprofundadamente sobre suas 
contradições internas. Por isso, não trouxeram grandes contribuições para o avanço 
da dialética. Há, porém, uma exceção; o maior dos filósofos iluministas é também o 
autor de uma obra rica em observações de grande interesse para a concepção 
dialética do mundo: Denis Diderot (1713-1784). 
Diderot compreendeu que o indivíduo era condicionado por um movimento mais 
amplo, pelas mudanças da sociedade em que vivia. “Sou como sou” - escreveu ele - 
“porque foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente 
eu também serei modificado”. E acrescentou: “O todo está sempre mudando”. No 
 
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Sonho de D ’Alembert, imaginou que D’Alembert, seu amigo, sonhando dizia coisas, 
tais como: “Todos os seres circulam uns nos outros. Tudo é um fluxo perpétuo. O que 
é um ser? A soma de um certo número de tendências. E a vida? A vida é uma 
sucessão de ações e reações. Nascer, viver e passar é mudar de formas”. D’Alembert 
ficou chocado com a “loucura” que Diderot tinha escrito e o texto, redigido em 1769, 
acabou só sendo publicado em 1830. No Suplemento a viagem de Bougainville, 
publicado em 1796, Diderot aconselhava seus leitores: “Examinem todas as 
instituições políticas, civis e religiosas; ou muito me engano ou vocês verão nelas o 
gênero humano subjugado, a cada século mais submetido ao jugo de um punhado de 
meliantes”. E recomendava: “Desconfiem de quem quer impor a ordem”. Uma das 
obras mais famosas de Diderot é O sobrinho de Rameau, que relata uma conversa 
entre o filósofo e um jovem vigarista, sobrinho de um músico célebre. 
Diderot se coloca, habilmente, numa posição moderada, mas coloca na boca 
do seu interlocutor uma argumentação brilhante, uma defesa altamente perturbadora 
da vigarice, de modo que a moral vigente fica bastante abalada em seus fundamentos, 
no fim do diálogo. Diderot assume os elementos conservadores que sabe existirem 
no seu pensamento, mas permite ao jovem vigarista que desenvolva seus pontos de 
vista com extraordinária desenvoltura; o resultado é um confronto fascinante, que 
Hegel e Marx consideraram um primor de dialética. Ao lado de Diderot, quem deu a 
maior contribuição à dialética na segunda metade do século XVIII foi Jean-Jacques 
Rousseau (1712-1778). Ao contrário dos iluministas, Rousseau não tinha confiança 
na razão humana: preferia confiar mais na natureza. Segundo ele, os homens nasciam 
livres, a natureza lhes dava a vida com liberdade, mas a organização da sociedade 
lhes tolhia o exercício da liberdade natural. O problema com que Rousseau se 
defrontava, então, era o de assegurar bases para um contrato social que permitisse 
aos indivíduos terem na vida social uma liberdade capaz de compensar o sacrifício da 
liberdade com que nasceram. 
 
 
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Fonte: www.paginadoenock.com.br 
Observando a estrutura da sociedade do seu tempo e suas contradições, 
Rousseau concluiu que os conflitos de interesses entre os indivíduos tinham se 
tornado exagerados, que a propriedade estava muito mal distribuída, o poder estava 
concentrado em poucas mãos, as pessoas estavam escravizadas ao egoísmo delas. 
Rousseau considerava necessária uma democratização da vida social; para ele, as 
comunidades efetivamente democráticas não poderiam basear-se em critérios 
formais, puramente quantitativos (a vontade de todos): precisariam apoiar-se numa 
vontade geral criada por um movimento de convergência que levaria os indivíduos a 
superarem a estreiteza do egoísmo deles, que os levaria a se reconhecerem 
concretam ente uns nos outros e a adotarem uma perspectiva universal 
(verdadeiramente livre) no encaminhamento de soluções para seus problemas. 
Os caminhos que deveriam ser seguidos para que os homens chegassem a 
essa “convergência”, a essa “universalidade”, exigiriam a remoção de muitos 
obstáculos. Rousseau sabia que as mudanças sociais profundas, realizadas por 
sujeitos coletivos, não costumam ser tranquilas; sabia que as transformações 
necessárias por ele apontadas deveriam ser um tanto tumultuadas. Mas achava que 
“um pouco de agitação retém pera as almas; e o que faz avançara humanidade é 
menos a paz do que a liberdade”. Embora divergisse de Diderot em várias coisas, ele 
concordava num ponto crucial: nenhum dos dois se deixava intimidar pela “ideologia 
da ordem”, de conteúdo nitidamente conservador. Por isso, se entende que no século 
 
36 
 
XX um conservador radical - Maurice Barres - tenha escrito que Diderot e Rousseau 
(duas “forças de desordem”) são responsáveis por muitos dos males que nos afligem. 
7.1 O Trabalho 
No final do século XVIII e no começo do século XIX, os conflitos políticos já não 
eram mais abafados nos corredores dos palácios e estouravam nas ruas. As lutas que 
precederam e desencadearam a Revolução Francesa envolveram muita gente, 
entraram na vida de milhões de pessoas; as guerras napoleônicas também 
mobilizaram as massas populares e os homens do povo foram obrigados a pensar 
sobre questões políticas que antes eram discutidas apenas por uma elite reduzida, 
mas que naquele período estavam invadindo a esfera da vida cotidiana de quase todo 
mundo. Essa situação se refletiu na filosofia. Se refletiu até na filosofia que se 
elaborava na longínqua cidade de Königsberg, na Prússia oriental (hoje a cidade se 
chama Kaliningrado e fica na atual Rússia), onde nasceu, viveu, escreveu e morreu 
aquele que provavelmente é o maior dos pensadores metafísicos modernos: 
Immanuel Kant (1724-1804). 
Pessoalmente, Kant viveu na mais rigorosa rotina; até seus passeios tinham 
hora marcada (o poeta Heine conta que os vizinhos do filósofo acertavam seus 
relógios quando ele saía de casa, às 15h30, para dar uma volta). Ao seu redor, porém, 
as rotinas estavam sendo quebradas, a história da Europa estava pondo a nu muitas 
contradições e Kant não pôde deixar de pensar sobre a contradição, em geral. Kant 
percebeu que a consciência humana não se limita a registrar passivamente 
impressões provenientes do mundo exterior, que ela é sempre a consciência de um 
ser que interfere ativamente na realidade; e observou que isso complicava 
extraordinariamente o processo do conhecimento humano. Sustentou que todas as 
filosofias até então vinham sendo ingênuas ou dogmáticas, pois tentavam interpretar 
o que era a realidade antes de ter resolvido uma questão prévia: o que é o 
conhecimento? O centro da filosofia, para Kant, não podia deixar de ser a reflexão 
sobre a questão do conhecimento, a questão da exata natureza e dos limites do 
conhecimento humano. 
Fixando sua atenção naquilo que ele chamou de “razão pura”, o filósofo se 
convenceu, então, de que na própria “razão pura” (anterior à experiência) existiam 
certas contradições - as “antinomias” - que nunca poderiam ser expulsas do 
 
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pensamento humano por nenhuma lógica Outro filósofo alemão, de uma geração 
posterior, demonstrou que a contradição não era apenas uma dimensão essencial na 
consciência do sujeito do conhecimento, conforme Kant tinha concluído; era um 
princípio básico que não podia ser suprimido nem da consciência do sujeito nem da 
realidade objetiva. Esse novo pensador, que se chamava Georg Wilhelm Friedrich 
Hegel (1770-1831), sustentava que a questão central da filosofia era a questão do ser, 
mesmo, e não a do conhecimento. 
Contra Kant, ele argumentou: Se eu pergunto o que é o conhecimento, já na 
palavra é está em jogo uma certa concepção de ser; a questão do conhecimento, 
daquilo que o conhecimento é, só pode ser concretam ente discutida a partir da 
questão do ser”. Hegel concordava com Kant num ponto essencial: no 
reconhecimento de que o sujeito humano é essencialmente ativo e está sempre 
interferindo na realidade. Na época da Revolução Francesa, entusiasmado com a 
tomada da Bastilha pelo povo e com a derrubada de instituições antiquíssimas (que 
pareciam eternas), Hegel - então com 19 anos - plantou uma “árvore da liberdade” em 
Tübingen, onde morava, em homenagem à França. Naquele momento, o poder 
humano de intervir na realidade lhe pareceu quase ilimitado; o sujeito humano lhe 
pareceu quase onipotente. Logo, porém, a vida se encarregou de jogar água fria no 
entusiasmo do filósofo. 
A Revolução Francesa atravessou uma fase de terror, com a guilhotina tendo 
inúmeras cabeças, e depois veio a ser controlada por Napoleão Bonaparte (mas o 
próprio Napoleão foi derrotado e a Europa se viu dominada pela política 
ultraconservadora da Santa Aliança). Além disso, a Alemanha, país onde o pensador 
vivia, era tão atrasada que nem sequer tinha conseguido alcançar a sua unidade como 
nação: estava dividida em governos regionais, cada um mais reacionário que o outro. 
Hegel descobriu, então, com amargura, que o homem transforma ativamente a 
realidade, mas quem impõe o ritmo e as condições dessa transformação ao sujeito é, 
em última análise, a realidade objetiva. Para avaliar de maneira realista as 
possibilidades do sujeito humano, Hegel procurou estudar seus movimentos no plano 
objetivo — das atividades políticas e econômicas. Dedicou-se à leitura e ao exame 
dos escritos de Adam Smith e dos teóricos da economia política inglesa clássica. 
Lukács mostrou, em seu livro sobre O jovem Hegel, que na base do pensamento de 
Hegel está não só uma reflexão aprofundada sobre a Revolução Francesa, como 
também uma reflexão radical sobre a chamada revolução industrial, que vinha se 
 
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realizando na Inglaterra. Hegel percebe que o trabalho é a mola que impulsiona o 
desenvolvimento humano; é no trabalho que o homem se produz a si mesmo; o 
trabalho é o núcleo a partir do qual podem ser compreendidas as formas complicadas 
da atividade criadora do sujeito humano. 
No trabalho se encontra tanto a resistência do objeto (que nunca pode ser 
ignorada) como o poder do sujeito, a capacidade que o sujeito tem de encaminhar, 
com habilidade e persistência, uma superação dessa resistência. Foi com o trabalho 
que o ser humano “desgrudou” um pouco da natureza e pôde, pela primeira vez, 
contrapor-se como sujeito ao mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, 
não existiria a relação sujeito-objeto. O trabalho criou para o homem a possibilidade 
de ir além da pura natureza. “A natureza, como tal, não cria nada de propriamente 
humano”, observa o filósofo soviético Evald Iliênkov. O homem não deixa de ser um 
animal, de pertencer à natureza; porém, já não pertence inteiramente a ela. Os 
animais agem apenas em função das necessidades imediatas e se guiam pelos 
instintos (que são forças naturais); o ser humano, contudo, é capaz de antecipar na 
sua cabeça os resultados das suas ações, é capaz de escolher os caminhos que vai 
seguir para tentar alcançar suas finalidades. A natureza dita o comportamento aos 
animais; o homem, no entanto, conquistou certa autonomia diante dela. O trabalho 
permitiu ao homem dominar algumas das energias da natureza; permitiu-lhe, como 
escreveu o brasileiro José Arthur Giannotti, ter “parte da natureza à sua disposição”. 
O trabalho é o conceito-chave para nós compreendermos o que é a superação 
dialética. Para expressar a sua concepção da superação dialética, Hegel usou a 
palavra alemã aufheben, um verbo que significa suspender. Mas esse suspender tem 
três sentidos diferentes. O primeiro sentido é o de negar, anular, cancelar (como 
ocorre, por exemplo, quando suspendemos um passeio por causa do mau tempo, ou 
quando um estudante é suspenso das aulas e não pode comparecer à escola durante 
algum tempo). O segundo sentido é o de erguer alguma coisa e mantê-la erguida para 
protegê-la (como a gente vê, por exemplo, num poema de Manuel Bandeira, quando 
o poeta fala do quarto onde morou há muitos anos e diz que ele foi preservado porque 
ficou “intacto, suspenso no ar”). E o terceiro sentido é o de elevar a qualidade, 
promover a passagem de alguma coisa para um plano superior, suspender o nível. 
Pois bem: Hegel emprega a palavra com os três sentidos diferentes ao mesmo tempo. 
Para ele, a superação dialética é simultaneamente a negação de

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