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Teoria Geral da Educação Sumário Introdução 1 - Formas de Compreensão do Processo Educacional 2 - Por uma Teoria Geral da Educação 3 - Escolas Tradicional e Nova 4 - Tendências Tecnicistas Introdução Olá, prezado estudante! Nesta unidade, vamos analisar quais os principais elementos que compõem uma possível Teoria Geral da Educação, formando uma pedagogia dos dias de hoje. Inicialmente, veremos de que maneira a �loso�a se relaciona com a Teoria Geral da Educação e qual o papel que cabe a cada uma delas. Analisaremos os fundamentos estruturais dessa relação e como a mudança de paradigmas - a exemplo daquele realizado pela sociologia - modi�cou o objeto de estudo da pedagogia. Compreenderemos, assim, como essas relações geraram a unidade da própria disciplina pedagógica. AUTORIA Simone da Silva Viana Piterson Balmat Gonçalves Veremos, além disso, quais os elementos que devem compor uma possível Teoria Geral da Educação, observando qual o papel do educador nesse processo e como a epistemologia da educação pode ser organizada para esse �m. Por �m, veremos como se formam a Escola Tradicional e a Nova da educação, analisando as tendências tecnicistas dos dias atuais. Bons estudos! Formas de Compreensão do Processo Educacional: da Metafísica à Concepção Cientí�ca A �loso�a é, em essência, o ponto de síntese de todas as disciplinas do conhecimento. É nela que se encontra o questionamento central da validade e necessidade teórica, ética e estética de um sistema de conhecimento. Validada em seus pressupostos, uma disciplina do conhecimento adquire autonomia e, assim, é capaz de se auto-organizar a partir de diversos fatos que são absorvidos pelo pesquisador, segundo os princípios que foram legitimados pela importância histórica daquela disciplina. Dessa maneira é que nasce uma ciência. Nesse sentido, vale lembrar que, como já pudemos analisar, a estrutura lógica do método cientí�co compreende uma série de etapas. 1 - Enunciado de um problema - nessa etapa o cientista deve enunciar o seu problema com clareza e precisão, e procurar todos os instrumentos possíveis para tentar resolvê-lo. 2 - Formulação de hipóteses - o cientista propõe uma resposta possível, que constitui uma hipótese a ser avaliada na sua investigação. Isso signi�ca que a hipótese é uma resposta não comprovada, que deve ser “testada” cienti�camente. 3 - Testes experimentais da hipótese - nesta fase, o cientista deve testar a validade de sua hipótese, procurando investigar a consequência da solução proposta. Esta investigação deve ser controlada pelo cientista, para que o fator relevante previsto na hipótese seja su�cientemente destacado na ocorrência do fato-problema. 4 - Conclusão - é a a�rmação dos resultados da pesquisa cientí�ca, con�rmando ou corrigindo a hipótese formulada e testada. (COTRIM, 1987, p. 48). Assim, a educação é um fato, medido em seus aspectos éticos e estéticos pela �loso�a. A conclusão da análise �losó�ca cria condições de investigação teórica, pois liga o investigador aos pressupostos, criando um sistema de conhecimento próprio, que se autoalimenta e se altera, conforme o momento histórico em que o fato é analisado. Esse sistema cria uma disciplina, a que chamamos pedagogia, e sua base de sustentação precisa ser uma Teoria Geral - surgindo daí a importância de estudarmos essa questão. A pretensão de toda ciência é ser universal - aliás, tendo sido, por muito tempo, a busca por encontrar o que é perfeito. Relacionando isso ao que foi exposto nos parágrafos anteriores, chegamos à conclusão de que quando se investiga a importância da pedagogia, por exemplo, a �loso�a entende o seu valor ético para o conhecimento humano, capaz de criar condições de desenvolvimento para todos em todos os momentos. A pesquisa em torno de questões a respeito do processo educacional con�rma a necessidade histórica da própria pesquisa, justamente porque todas as constatações se con�rmam perante os valores éticos que a pressupõem, criando novas condições investigativas, para alimentar um sistema que se cria e se justi�ca constantemente. A cada nova investigação, novas teorias são criadas, revisando todo o sistema, a partir da coerência da própria pesquisa realizada. Um dos pontos mais altos de revisão teórica, no que diz respeito à ciência da educação, foi observar que a busca por princípios ideais e universais acaba sempre entrando em con�ito com a realidade de cada situação particular, que pouco ou nada tem de ideal. Assim, a pretensão à universalidade do conhecimento humano, que se remete à estrutura metafísica de entendimento de mundo, acaba por ser contraditória com as particularidades dos indivíduos. Percebendo essas condições, até mesmo pela falência da prática educacional - como ocorreu, durante o século XX, a conclusão dos efeitos nocivos do distanciamento entre as diversas ciências, fazendo surgir teorias a respeito da multi e interdisciplinaridade -, de tempos em tempos, novas formas de compreensão de mundo surgiram, modi�cando o método de investigação, os valores que fundam e, por �m, as perguntas que a �loso�a faz. É assim que educar vai de Deus ao mundo ideal, e do mundo ideal para aos problemas particulares. É a respeito disso que, agora, vamos tratar. A prática de educar permaneceu imersa nessa estrutura durante muito tempo, buscando perpetuar a tradição familiar ou comunitária. Segundo ensinamentos religiosos e de senso comum, dava sentido de vida e orientação prática ao indivíduo, uma vez que tinha também um caráter instrumental, criando o “bom” escravo, guerreiro, político, agricultor etc. Surgem, em seguida, sem que a prática de educar anterior fosse suprimida, as primeiras teorias a respeito da forma que se deve educar. Além do caráter instrumental, educar passa também a ser uma tentativa de concretizar elos de civilidade entre os membros de uma sociedade. Assim, principalmente na Grécia, se ensinava ao cidadão a cidadania e todas as disciplinas que lhes são intrínsecas. Em um primeiro momento, surgem os so�stas, criando as disciplinas retóricas e pensando política, segundo Aranha (2006); em seguida, o pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles, preocupados com a formação ética do cidadão grego, REFLITA Ensinar é, em grande parte, um ato de conformação. Quem educa quer, respondendo a um sistema social ou aos próprios interesses, conformar outro ao que parece necessário à civilidade. trabalhando, em essência, os problemas relacionados à justiça. Preocupada em atingir um grau de totalidade, a investigação a respeito da formação ética do cidadão busca um padrão ideal de comportamento que faz nascer a metafísica da educação, ou seja, não é a realidade, o problema individual que importa, mas, sim, aquilo que está além da realidade, que serviria de fundamento do convívio geral. Essa tendência, que já era observada nas investigações a respeito das ciências naturais (física, matemática etc.), vem a ser tornar o padrão de análise de todas as que vieram a se denominar ciências do espírito. E o comportamento do indivíduo não só se tornou o objeto de pesquisa como também a base pela qual se pode pensar, por exemplo, a educação: aquele que pensa a educação participa de um mundo com regras ao qual todos pertencem, em qualquer momento do tempo e do espaço, com tendência ao ideal ético que ele investiga. Apesar de ter havido modi�cações em alguns dos pressupostos, como quando Kant trata da razão como limite lógico, espacial e temporal em que o homem se situa, a metafísica continua a ser o pressuposto de toda formação teórica (KANT, 2009, p. 65). A tendência metafísica começa a perder força a partir do século XVIII, sendo esse paradigma efetivamente substituído, devido à preocupação concreta trazida pelo pensamento sociológico do século XIX, reconhecidamente os de Comte, Marx e Durkheim (MASCARO, 2001, p. 71). A dialética de Marx está pautada nos problemas reais da sociedades (nas condições materiais de existência), acentuando a noção de práxis, de vivência cotidiana e particular dos problemassociais, e não mais na investigação sobre o que é ideal, como fundamento para que a teoria se forme, justamente, para a superação desses problemas particulares. Assim, analisada a condição material de uma sociedade, que, Figura 1 - Lousa Fonte: Sergey Nivens / 123RF. para ele, se percebe pela sua organização econômica, ou fatores de produção, uma teoria deve se formar, preocupada em alterar o estado de coisas. Uma vez aplicada a teoria, surgem novas condições, que precisam ser novamente analisadas por uma nova teoria, que, em diálogo constante com a realidade material, cria, cada vez mais, condições de justiça concreta a todos. Por conta disso, a teoria da educação passa a se preocupar com o processo de conscientização social contra arbitrariedades e formas de situar, cada um, nas mesmas condições econômicas, políticas, jurídicas e éticas de todos. Durkheim, por sua vez, que grande interesse despertou acerca das condições sociais da educação, compreendia a educação como um fato social concreto e, portanto, interativo, de maneira que o fenômeno entre educador e educando deveria ser objeto de análise de diversas investigações particulares. Abandonando a pretensão à perfeição, a investigação deveria ter o mínimo de participação dos valores do pesquisador, a �m de atingir a compreensão do que é pedagogia. Nas palavras de Aranha (2006, p. 149): O desenvolvimento da sociologia amplia a compreensão da escola como grupo social complexo e da educação como processo de perpetuação e desenvolvimento da sociedade. Na passagem do século XIX para o XX, o sociólogo francês Émile Durkheim analisa pela primeira vez o caráter social da educação, desenvolvendo uma abordagem cientí�ca não mais centrada no conceito, mas no fato concreto da educação. A sociologia aplicada à educação privilegia a atitude descritiva e volta-se para o exame dos elementos reais, tais como a análise da inserção da escola em determinado campo da realidade, os instrumentos utilizados, o caráter das instituições escolares, a herança social (tradições, ideias, técnicas etc.), a interação entre quem recebe e quem transmite a educação e assim por diante. Todos esses elementos, apesar de in�uírem de maneira decisiva sobre a formação da teoria da educação, não respondem quais são os pressupostos capazes de levar à compreensão de uma Teoria Geral da Educação e assim, os elementos fundamentais da pedagogia. É a respeito desse tema que o próximo capítulo trata. Por uma Teoria Geral da Educação Uma Teoria Geral da Educação não pode se confundir com a Filoso�a da Educação. Como expusemos até agora, o papel da Filoso�a da Educação é reunir consigo as questões primordiais a respeito da educação: a sua necessidade histórica e social, a que �m ela deve servir etc. A Teoria Geral da Educação, por sua vez, visa reunir e organizar todos os elementos que integram esse fato social chamado educação. Assim, o �m do que é educação é falado pela �loso�a, a ciência investiga esse objeto e, dentro da investigação, há uma de caráter geral, em que se reúnem os elementos centrais do que é educação, gerando coerência e coesão do sistema educativo. Nos dias de hoje, uma Teoria Geral da Educação busca dar autonomia cientí�ca à pedagogia, liberando-a de outras disciplinas, como a sociologia e a psicologia, ao mesmo tempo que agrega em seu bojo alguns elementos dessas e outras disciplinas, que acabam por enriquecer o seu método. Assim, por mais que a �loso�a seja responsável pelas primeiras perguntas que a pedagogia faz, e a sociologia, com seus métodos, tenha alterado a forma de pesquisa da pedagogia, dando ao objeto desta ciência preocupações com problemas reais e a possibilitando tornar-se instrumento de transformação social, sua Teoria Geral é a dona de seus questionamentos, podendo revisar os seus objetos de análise no momento em que lhe for pertinente. Nas palavras de Aranha (2006, p. 151): A partir da consciência dos problemas educacionais de seu tempo, o pedagogo estabelece objetivos realizáveis, busca os meios para atingi- los, veri�ca a sua e�cácia, revê os processos utilizados, e assim por diante. Só dessa forma a educação se tornará instrumento real de transformação. É dessa maneira, com a sua autonomia cientí�ca, que a pedagogia prova a sua importância, tendo a sua pesquisa caráter dialético entre teoria e prática, devendo orientar a ação dos indivíduos, justamente para realização de processos de mudança social. Esse processo procura encontrar novas formas de ação para o homem que se quer formar, diante de uma sociedade também que se busca reorganizar. Assim, quem se deve educar, como e onde são educados são os elementos iniciais da pesquisa pedagógica, que precisam estar integrados entre si, para que realmente exista pedagogia. Os métodos e os conteúdos ministrados não podem ser utilizados, assim, de maneira aleatória, devendo existir uma integração teórica, que a Teoria Geral deve proporcionar. São elementos da Teoria Geral da Educação a �gura do educador, a do educando, o conteúdo a ser ministrado, a maneira pela qual ele deve ser sistematizado, as formas de avaliação e em que deve consistir a disciplina escolar. A esse respeito, cabe destacar dois pontos. Primeiro elemento O primeiro elemento da Teoria Geral trata da formação do próprio educador. Nesse momento, ele deve ser munido em três aspectos, como nos mostra Aranha (2006): na quali�cação, onde deve adquirir conhecimentos cientí�cos para ministrar, na formação pedagógica, de maneira que o ensino que ministre seja capaz de superar o conhecimento de senso comum e crie sistemas de conhecimento e na formação ética e política, de maneira que o processo educacional transmita valores, capazes de fazer um mundo mais igual e materialmente justo a todos. Nesse sentido, Paulo Freire assim expõe: O direito e o dever de viver a prática educativa em coerência com a nossa opção política. Daí que se a nossa é uma opção progressista, substantivamente democrática, devemos, respeitando o direito que têm os educandos de também optar e de aprender a optar, para o que precisam de liberdade, testemunhar-lhes a liberdade com que optamos (ou os obstáculos que tivemos para fazê-lo) e jamais tentar sub- repticiamente ou não impor-lhes nossa escolha. (FREIRE, 2001, p. 69-70). De todos os aspectos que devem cobrir a formação do educador, é no momento de formação pedagógica que existe maior di�culdade, justamente porque se confunde erudição com ensino. O saber enciclopédico não torna alguém educador. Educar não é apenas um processo de transmissão de conteúdo. Esses conteúdos devem seguir uma ordem sistemática, com a qual a tarefa de educar atinge a �nalidade pretendida pelo educador. No caso da realidade brasileira, vemos que, exceto nos casos em que se faz necessária a graduação em pedagogia, por mais que exista a necessidade de licenciatura para habilitar ao ensino, o que se veri�ca é que não se forma um educador, mas, sim, um técnico da área. Assim, a pessoa que se dirige à docência carrega consigo muito pouca coerência teórica, ética ou política, de maneira que métodos de ensino são aplicados de maneira aleatória, confusa, não existindo uma �nalidade clara para o ato de educar. Segundo elemento Um segundo elemento de uma Teoria Geral da Educação reside na maneira pela qual a sua epistemologia se renova. Mesmo que não exista apenas uma forma de se pensar o processo pelo qual se realiza o conhecimento, há diversos métodos a serem utilizados, em maior ou menor grau, a depender da matéria. A química, por exemplo, privilegia métodos indutivos, e a matemática, processos dedutivos, a pedagogia precisa responder, sempre, a algumas perguntas que lhe são próprias. Para tanto, a forma de pensar a pedagogia vem tendendo a uma realidade interacionista, no sentido de que para o ato de educar não basta apenas a transmissão, mas se compreende em processos de interação. Nesse ponto, a forma de se criar métodos de ensino precisa privilegiar a mutualidade, reduzindo a dicotomia entre educador e educando. Nesse sentido,cabe destacar a análise de Libâneo: A pedagogia crítico-social dos conteúdos entende o ato pedagógico como encontro do aluno com a cultura socialmente construída, pela mediação do professor e das situações pedagógicas. Concebe, assim, uma cultura dinâmica, enquanto criação humana e histórica, e o aluno como ser ativo, produto e produtor do seu próprio meio social, integrando os momentos da transmissão/assimilação ativa dos conhecimentos. (LIBÂNEO, 1986, p.76-77). Assim, a pedagogia crítico-social é a tendência pedagógica que prioriza a mediação entre educador e educando, defendendo a transmissão de conteúdos historicamente relacionados à realidade do educando. Desenvolve, no processo educativo, conteúdos vivos, articulados e dinâmicos, reinterpretando-os e ressigni�cando-os na sistematização do conhecimento cientí�co. Pensar a educação deve-se, assim, em seus pressupostos gerais, se remeter a um processo dinâmico de inter-relação entre a necessidade de ensinar, a capacidade do professor e a experiência de vida do educando, valorizando a sua própria visão de mundo, que se agrega, em forma de diálogo, à experiência do educador que pode criar, com essa experiência, novas formas de pensar a própria educação. Com essa dinâmica, a Teoria Geral da Educação alimenta-se constantemente, criando condições não apenas de conformar, mas de transformar cada indivíduo de maneira particular, com vistas em um mundo mais igual. Teoria do conhecimento no decorrer da modernidade e contemporaneidade INATISMO O inatismo pressupõem que existe uma maneira universal de se entender o mundo. Assim, por mais que cada indivíduo possa pensar livremente, existe uma força natural, chamada Razão, que organiza a maneira pela qual o mundo deve ser compreendido. Nessa corrente, podemos destacar dois autores: DESCARTES (SÉCULO XVII): Partiu da compreensão de que a dúvida sobre todas as coisas gera a indeterminação da realidade e a impossibilidade de conceber um método seguro de conhecimento. Sendo que a única coisa que não se pode colocar em dúvida é a consciência daquele que duvida, concluiu que a consciência é universal, pressupõe todas as formas de ver o mundo e é nela que se encontra a possibilidade de se formar um método seguro. KANT (SÉCULO XVIII): Partindo do pressuposto cartesiano, Kant investiga quais os pressupostos epistemológicos, axiológicos e estéticos da Razão. Chega à conclusão de que a liberdade é pressuposto da Razão enquanto forma inata da moral, sendo que o sujeito é capaz de ser livre dos próprios desejos. Enquanto estética, a Razão é a força que nutre a imaginação e conduz à noção do que é belo. Como conhecimento, a Razão é a estrutura lógico-espacial e temporal da forma de entender e organizar a realidade. EMPIRISMO O empirismo, ou psicologismo para alguns, é uma forma de realização da teoria do conhecimento que pressupõe a sensibilidade como fator primordial para a formação da realidade conhecida. Podemos, nesse sentido, destacar dois autores: LOCKE (SÉCULO XVII): Locke pensa que o conhecimento, por mais que tome o sujeito como pressuposto, precisa receber dos objetos formas de sentir o mundo, que geram a realidade. Desse ponto, o homem re�ete as suas próprias condições e, assim, é capaz de organizar os elementos que o cercam. COMTE (SÉCULO XIX): Por mais que Comte não seja comumente colocado dentre os empiristas - sendo mais conhecido como pai do positivismo -, ele é herdeiro dessa corrente justamente porque coloca na observação e na experimentação as condições pelas quais o conhecimento pode se formar. Escolas Tradicional e Nova A chamada escola tradicional é uma denominação utilizada, comumente, para designar tendências na maneira de ensinar, adquiridas do século XVI até os dias de hoje, em que, em suma, se enxerga o educando como uma �gura frágil, que necessita de disciplina para ter uma correta formação. Com a ruptura da visão inatista e ideal de mundo, a escola tradicional passa por diversas críticas, que culminam na chamada escola nova e na reforma gradual de diversos dos seus valores. É inegável, no entanto, que diversos dos princípios que dirigem a escola tradicional são imprescindíveis ao estudo e à própria estrutura da pedagogia, motivo pelo qual a sua importância histórica não se reduz apenas à crítica, mas deve se dirigir também à análise dos valores que a integram. A primeira das suas características reside na relação verticalizada entre professor e aluno. Aquele que ensina possui posição de autoridade com relação aos que aprendem, sendo também modelo ético do educando. Destacando-se, historicamente, um ponto ou outro no processo (autoridade ou modelo ético), tem-se que o aluno possui, em grande medida, função passiva dentro dessa estrutura. Existe, além disso, uma valorização da tradição e grandes modelos e estruturas do saber. A exposição, assim, possui lugar privilegiado nessa atividade, assim como a avaliação deve privilegiar a atividade da memorização dos conteúdos ministrados, justamente para que o que foi vivido permaneça vivo por meio do aluno. A atividade educacional se compenetra nessa relação de prova de conhecimentos. A forma de controle da relação se estabelece em critérios punitivos, que cria graus de importância entre os estudantes, conforme a avaliação que eles recebem. Por muito tempo, se aceitou a intimidação física como forma de disciplina do educando. A escola nova, por sua vez, parte da crítica da estrutura que a escola tradicional funda, agregados a fundamentos de inclinação humanizante e igualitária da educação. Sua crítica concorda com as mudanças na visão de mundo operadas durante todo o século XIX e nas modi�cações da compreensão de mundo, trazidas pela sociologia, de maneira que saber se torna, essencialmente, saber agir. A preocupação passa a �car mais acentuada, assim, na maneira como se é possível educar para dar autonomia, dentro da dinâmica de mudança constante da realidade, em que a tradição encontra menos força que a preocupação com os problemas que o homem e a sociedade enfrentam, por meio das relações que são estabelecidas. A escola nova tem algumas características, podendo ser destacadas algumas delas: @freepik Com o avanço do positivismo, durante o século XIX, alguns dos valores da escola tradicional foram sendo substituídos pela teoria que se edi�cava, de maneira que a preocupação com o método cientí�co passa a se acentuar como recurso pedagógico. O aluno passa a ter um papel menos passivo, podendo se valer do método para transformar a realidade e chegar a novas conclusões. Nesse período, são formulados por Herbart cinco passos para o desenvolvimento do aluno, iniciando-se na sua preparação, em que o professor recorda o que foi ensinado; apresentação, passando um novo conhecimento; assimilação, em que é possível realizar a comparação do que é apresentado com o conhecimento antigo; sistematização, em que se chega a concepções de caráter geral; e aplicação, na qual o aluno pode trazer novos exemplos, a partir do que foi aprendido (HERBART, 2003, pp. 44-45). Há uma mudança de paradigma na relação entre aluno e professor. O aluno passa a ser o principal objeto de preocupação da pedagogia, de maneira que a sua estrutura antropológica e psicológica começa a ser estudada. Não se trata mais de ver o estudante como receptor da tradição, mas de formar o educando, a �m de que ele possa ser um instrumento de transformação social. O conteúdo não se volta para a atividade de receber conhecimentos, mas de capacitar o educando a elaborar conhecimentos. A ideia de sistematização pode até ser passada adiante, mas quem deve abstrair o que foi passado é o educando. Assim, ele adquire uma posição ativa no processo educacional, enquanto o educador atua como um facilitador desse processo. Metodologicamente, o que aprende, percebido em sua totalidade, é orientado a agir, a fazer por si o caminho a ser percorrido, enquanto o educador o auxilia nessa tarefa, seja por meio de conhecimentos que passa, seja por conduzir psicologicamente o aprendizao objeto pretendido. A intuição da criança passa a ser um elemento a ser utilizado no processo de aprendizagem, com o objetivo de adquirir o conhecimento de maneira integral. Como diz Aranha: Devido à in�uência da psicologia e ao fato de muitas escolas novas terem surgido a partir do acompanhamento de crianças anormais, há uma constante preocupação com a individualização das atividades, embora não sejam desprezados os trabalhos em grupo, importantes para a socialização das experiências. (ARANHA, 2006, p. 168). Essa tendência conduziu a importantes reformas, como, em 1925, a reforma de Rocha Vaz, dentre outras alterações nas estruturas básicas da educação brasileira. Contudo, por conta da sua inspiração liberal, diversas críticas são tecidas à escola nova, como no que se refere à percepção equivocada de que a instituição escolar e seu método, por si só, seriam ferramentas de transformação social, sem considerar as desigualdades sociais e diversos aspectos ideológicos que governam a atuação estatal na condução desse ensino. A esse respeito, cabe destacar, no Brasil, a teoria crítico-social dos conteúdos, que in�uenciou pensadores como Paulo Freire. Os processos de avaliação e disciplina também se modi�cam, de maneira que avaliar passa a ser uma forma de compreender as etapas pelas quais o educando passa, para atingir o objetivo de sua formação. A cooperação do professor, nessa tarefa, é imprescindível para se atingir os �ns de orientação para o educando. A disciplina dá lugar a um estado de conscientização e responsabilidade, de maneira que é concedida autonomia ao que aprende, ao mesmo tempo que ele passa a ser responsável pelos seus atos e com o mundo que o cerca. Até o movimento crítico, de inspirações socialistas absorver boa parte da formação intelectual dos pensadores da pedagogia brasileira, a escola nova foi responsável por trazer inovações importantes na primeira metade do século XX. Tendo inspirado os idealizadores da Proclamação da República brasileira, realizou importantes mudanças neste país. Novamente nas palavras de Aranha: No Brasil, o movimento da escola nova só começou no século XX, na década de 20, com diversas reformas esparsas do ensino público. Suas ideias expressaram- se de maneira clara em 1932, no Manifesto dos pioneiros da educação nova, cujos principais signatários foram Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Esse manifesto foi muito importante na história da pedagogia porque representou a tomada de consciência da defasagem existente entre a educação e as exigências do desenvolvimento. (ARANHA, 2006, p. 170). Figura 2 - Educação Contemporânea Fonte: Angela Waye / 123RF. SAIBA MAIS O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, foi elaborado por Fernando Azevedo e assinado por 26 educadores brasileiros, líderes do movimento de renovação educacional. Dentre muitas ideias em defesa de uma Política Nacional de Educação, era notória a preocupação em consolidar uma escola pública e leiga, como situação ideal. Para entender melhor o assunto, acesse o link a seguir e �que por dentro: <http://bit.ly/2U9m5xC>. Acesso em: 16 ago. 2019. Fonte: Elaborado pelo autor. http://bit.ly/2U9m5xC Tendências Tecnicistas Com o avanço do volume, na sociedade contemporânea, sobre circulação de bens e serviços, surge uma tendência à tecnização do ensino. A técnica pode ser compreendida como o aspecto prático e útil de uma ciência. Dessa maneira, quando toda ciência precisa ser desenvolvida para um �m útil, que é concretizado pela técnica. Como há, na nossa sociedade, a necessidade de constante de ganhos, justamente por uma hipertro�a do comando econômico, utilidade se confunde com lucro e produção de riquezas. As tendências derivadas dessa lógica atingem o sistema de ensino, fazendo que o ensino se incline, cada vez mais, à pro�ssionalização. No Brasil, as tendências tecnicistas ganharam força durante o regime militar, por in�uência do governo americano, que subsidiou as reformas realizadas nesse sentido. Assim, os seus pontos altos estão na instrumentalização do ensino e na utilidade econômica dos conteúdos ministrados. Pensar o processo educativo se torna uma atividade, prioritariamente, operacional, visando ao lucro. A escola se torna o caminho para se atingir os �ns econômicos do Estado e a porta de entrada para o mercado de trabalho. Diversas são as críticas realizadas a esse sistema de ensino, principalmente as de inspirações crítico-sociais, como as realizadas por Paulo Freire. SAIBA MAIS A Lei 5.692/71 e a Ditadura Militar A Lei 5.692/71, considerada uma Reforma do 1º e 2º Graus no período dos governos militares no Brasil, aglutinou o Ensino Primário com o Ginasial, passando de 4 para 8 anos obrigatórios. Com a criação da escola única pro�ssionalizante, esperava-se que no término, o aluno estivesse capacitado para ingressar no mercado de trabalho. As disciplinas Filoso�a, História e Geogra�a passaram a fazer parte dos Estudos Sociais. O vídeo disponibilizado a seguir é de suma importância para a compreensão da Lei 5.692/71, promulgada na Ditadura Militar, no Brasil. Para saber mais, acesse o link: <http://bit.ly/31Zd4tY>. Acesso em: 17 jan. 2020. Fonte: Elaborado pelo autor. http://bit.ly/31Zd4tY Vale destacar, por �m, que nenhuma teoria ou orientação principiológica substitui integralmente outra, mas elas se integram, justamente para formar o cabedal teórico do que viemos a compreender como pedagogia, nos dias de hoje. É importante ao pedagogo conhecê-las e dominá-las, a de �m de poder operar, da maneira mais plena possível, a sua atividade transformadora. CONECTE-SE Paulo Freire No vídeo disponível no link a seguir, você tem acesso a uma entrevista realizada com Paulo Freire, em 1994. O professor fala sobre sua trajetória pro�ssional, seus ideais e contribuições à educação brasileira. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=2C518zxDAo0. Acesso em: 16 ago. 2019. Fonte: Elaborado pelo autor. Livro https://www.youtube.com/watch?v=2C518zxDAo0 Livro
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