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1 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 Epidemiologia • Altíssima letalidade: incidência próxima a mortalidade; é a grande particularidade. • Décima neoplasia mais frequente (2% das neoplasias e 4% dos óbitos); • Idade: sexta a sétima década, como a maioria dos cânceres digestivos. • 20% lesões ressecáveis ao diagnóstico; 30% localmente avançado; 50% metastático (sobrevida média de 4 a 6 meses). • Sobrevida em 5 anos desde o inicial ao mais avançado: 5% (ressecados 20% - 20 a 24%); As incidências e prevalências podem ser vistas no INCA (Instituto de Câncer). Fatores de risco • Idade > 70 anos; • Tabagismo (RR 3,7x); • História familiar; • Síndromes hereditárias: • Síndrome de Peutz Jegher (onde tem uma hipercromia de mucosa – lábios, conjuntiva dos olhos), Melanoma múltiplo familiar, Li-Fraumeni (síndrome de acometimento de cânceres precoce – antes da idade habitual; tendem a ter segundos primários – câncer de pâncreas e de mama, por exemplo); • Obesidade: assim como no fígado (esteatose → modificação celular → CA), o pâncreas também tem uma liposubstituição que modifica a arquitetura do pâncreas e estimula as mutações e, com isso, o câncer. • Etilismo: pacientes com pancreatite crônica ou mesmo etilismo tem uma incidência maior. • Dieta rica em sal e condimentos: prevalente assim como no estômago. Apresentação clínica Assim como as neoplasias que não exigem rastreio, o câncer de pâncreas geralmente é descoberto quando o paciente é assintomático e está fazendo um exame de imagem por qualquer outro motivo ou caso tenha algum sintoma relacionado a expansão tumoral. Quando tem tumores de cabeça, o paciente pode ter uma icterícia obstrutiva, associada a outros sinais (colúria, acolia e prurido). • Sinal de Curvoisier- terrier: imagina que fechou a via biliar embaixo (riscado de azul) por conta de um neo de cabeça de pâncreas → dilatação de vias biliares e por contiguidade vai ter uma vesícula hiperdistendida, mas indolor. O médico palpa a vesícula no exame físico, mas não vai ser uma vesícula de colecistite. Esse caso mostra que a hiperdistensão da vesícula não é necessariamente colecistite. Vesícula hiperdistendida, indolor → Sinal de Curvoisier-terrier. É um sinal de neoplasias periampulares, não é só cabeça de pâncreas. • Colangite: Por conta da estase da bile, na via biliar, existe uma translocação das bactérias que estariam no intestino grosso para a via biliar. É, inclusive, a mesma fisiopatologia de quando se tem uma icterícia obstrutiva por cálculo. Um paciente com coledocolitíase é internado para tratamento precoce porque a bile parada é um fator predisponente para fazer colangite. No SUS, é feito CPRE ambulatorial, na maioria dos serviços. A maior complicação da coledocolitíase com icterícia obstrutiva é colangite. Se o paciente não tem colangite, não é uma emergência, mas é uma urgência, com solicitação de CPRE hospitalar. SINAIS DE FALÊNCIA DO PÂNCREAS • Diabetes com diagnóstico em indivíduos > 50 anos (fora da faixa de diagnóstico de diabetes – normalmente é na 4º década) e perda de peso; • Descompensação súbita de DM tipo 2 em um paciente que faz tratamento adequado; significa que por algum motivo ele tá com perda de função de pâncreas que pode ser por perda de função do parênquima devido a substituição tumoral. *Síndrome de anorexia e caquexia: é uma síndrome de resposta inflamatória relacionada ao tumor, Capítulo pâncreas 2 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 fazendo com que o paciente tenha anorexia. Dentro da SIRS (síndrome de resposta inflamatória sistêmica) tem hiperglicemia relacionada. Na SIRS, por si só, por conta dessa hiperglicemia, em diabéticos vai acabar parecendo uma descompensação do diabetes. • Pancreatite aguda sem fatores de risco; Tumores iniciais podem fazer reação inflamatória no órgão. Exemplo: todas as vezes tem que mandar apêndice e vesícula para biópsia, porque a apresentação inicial pode ser o processo inflamatório do próprio órgão. Ex. tumores de apêndice abrirem com apendicite; tumores de pâncreas abrirem com pancreatite. • Náuseas, vômitos, perda de peso, dor abdominal com irradiação para dorso (por conta do pâncreas ser um órgão retroperitoneal): sintomas de doenças pancreáticas. Diagnóstico Quando se está pensando em pacientes assintomáticos, o diagnóstico vai ser por exames de imagem, quando por investigação de alguma outra causa, fez um achado de câncer de pâncreas. • USG de abdome: não é um bom exame para pâncreas, porque o pâncreas é um órgão retroperitoneal e na frente dele tem o cólon transverso e as vísceras móveis (intestino delgado). Quando tem uma interposição gasosa nessa víscera maciça (pâncreas), não dá pra ver extremamente bem. Muitos USG descrevem ¨Pâncreas normal ...¨, mas existe um protocolo para fazer USG eletivo; o paciente toma luftal, faz não sei quanto tempo de jejum para diminuir essa interposição gasosa para que o pâncreas possa ser visto. O USG não é o exame de escolha, mas é possível fazer diagnóstico quando se faz esses protocolos específicos. • CPRM/TAC de abdome: Os melhores exames para diagnóstico de lesões de pâncreas são TC/RNM. Quando o paciente tem suspeita de câncer de pâncreas, o melhor exame para diagnóstico é tomografia de abdômen. Quando o paciente tem uma icterícia obstrutiva (muito vista, já que o principal local de câncer de pâncreas é em cabeça), o principal exame diagnóstico é a ressonância de abdômen com colangiorressonância. • Se chega um paciente no ambulatório com o quadro/suspeito típica de CA de pâncreas → TC. • Se chega um paciente com quadro de icterícia obstrutiva (ex. olho amarelo há 15 dias) → RNM. SINAIS VISTOS NOS EXAMES DE IMAGEM A imagem clássica do adenocarcinoma (principal lesão) de pâncreas é uma lesão hipovascular sólida no pâncreas. A principal dúvida é quando a primeira fase da TC (sem contraste) e a lesão aparece um cinza mais claro (liquido) do que o parênquima → cisto de pâncreas. Depois joga contraste para ver qual o comportamento daquele cisto (adenocarcinoma?). Caso seja uma lesão que na fase sem contraste não aparece e quando joga contraste fica hipovascular, cinza mais escuro do que o parênquima (que está mais branco agora) → tumor de pâncreas. Quando tem uma lesão líquida, na fase sem contraste, ela aparece um cinza mais escuro; já na lesão sólida, na fase sem contraste, ela normalmente não aparece no parênquima ou aparece um pouquinho mais escura. Para diferenciar uma lesão sólida de uma lesão cística, é preciso a fase sem contaste. TIRANDO DÚVIDA A PARTE DA AULA: Imagem A: porção circulada corresponde ao músculo psoas; imagem B: a porção circulada corresponde ao rim. Ambas são tomografias sem contraste. Nessa outra tomografia, a lesão destacada é cística. A certeza de que é cística vem por saber que é uma tomografia sem contraste e o cinza é de uma tonalidade mais escura que a víscera (em verde). 3 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 Voltando para o diagnóstico: Recapitulando, quando se pensa em diagnóstico de lesões sólidas de pâncreas, quando a principal suspeita já é uma neoplasia (paciente com perda de peso, dor abdominal e epigástrio com irradiação para dorso, 60/70 anos), faz-se tomografia de abdome. Paciente com icterícia obstrutiva, faz-se CPRM. SINAIS INDIRETOS DE CA DE PÂNCREAS ❖ Atrofia do parênquima; ❖ Dilatação do Wirsung; ❖ Relação com estruturas vasculares; Desenho: lesão obstrutiva do pâncreas. A obstrução estaria no Wirsung (ducto pancreático principal). No final do pâncreas tem uma dilatação do Wirsung e o parênquima pancreático pode estar contraído/atrofiado por perda de função; com o passar do tempo essa dificuldadede excreção do suco pancreático faz com que ocorra uma perda de função pancreática, seguindo por atrofia do órgão. Uma outra parte importante para se olhar no exame de imagem, quando se pensa em lesão de pâncreas, é avaliar a relação com estruturas vasculares, pois o estadiamento de pâncreas é baseado no tamanho da lesão e na invasão vascular. Perto do pâncreas tem a artéria mesentérica superior (extremamente importante, pois faz a divisão anatômica do cabeça do corpo e da cauda pancreática). Ao fazer o estadiamento do tumor de pâncreas, o mais importante é saber se consegue ou não tirar a lesão. Para isso, a lesão não pode ter comunicação com a artéria mesentérica superior e com o tronco celíaco (sai da aorta). • Marcador tumoral – CEA (relação com adenocarcinoma), CA 19-9 (marcador específico para pâncreas e colangiocarcinoma – neoplasias de vias biliares do trato hepatobiliopancreático; >200 doença peritoneal); • Laparoscopia estadiadora: depois de diagnosticado; A finalidade é de estadiar. Antes de fazer uma xifo-púbica ou subcostal direita, por exemplo, primeiro passa o vídeo para ver se não está em estado avançado (acometimento de fígado, de peritônio) ... Em caso de não ter doença nesses outros locais, e se a via não for laparoscópica, abre-se o paciente e realiza a cirurgia. • Biópsia: é utilizada em salvo exceções. Não é necessário realizar biópsia para diagnóstico de câncer de pâncreas. Se, por exemplo, o médico encontrar uma lesão hipovascular do pâncreas em um paciente com alto risco de câncer de pâncreas, o diagnóstico é fechado como CA de pâncreas. Se não tiver o exame de imagem extremamente compatível com CA de pâncreas (não é um nódulo sólido, é um cisto) é necessário realizar biópsia (saber se é um cisto adenocarcinoma). Mas, de uma forma geral, o diagnóstico de câncer de pâncreas é imagem e marcador tumoral. Estadiamento Tumor primário T0 Ausência de tumor primário Tx Tumor primário não pode ser avaliado Tis Tumor in situ T1 Tumor de 2cm ou menos T2 Tumor de mais de 2cm confinado ao pâncreas T3 Tumor se estende além do pâncreas, porém pouca o TC e/ou AMS T4 Tumor se estende além do pâncreas e invade o TC e/ou AMS Linfonodos regionais (N) Nx Linfonodo regional não avaliável N0 Ausência de linfonodo regional acometido N1 Linfonodo regional acometido pela neoplasia Metástase a distância (M) Mx Metástase a distância não avaliada M0 Ausência de metástase a distância M1 Presença de metástase a distância Estádio Tumor Linfonodo Metástase 0 Tis N0 M0 IA T2 N0 M0 IB T2 N0 M0 4 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 IIA T3 N0 M0 IIB T1-3 N1 M0 III T4 Qualquer N M0 IV Qualquer T Qualquer N M1 Lembrar: paciente com suspeita de câncer de pâncreas, fez o exame de imagem e o marcador tumoral positivos → câncer de pâncreas. Já pode tratar? Não, primeiro faz o estadiamento. Não se trata sem saber o grau de invasão, doenças à distância, marcador tumoral... Só dá pra tratar qualquer tumor quanto se sabe o estadiamento dele. Para o pâncreas, se não tiver acometimento de mesentérica nem de tronco celíaco e nem metástase → tratamento cirúrgico. As lesões que não são cirúrgicas são aquelas que não se consegue tirar, necessitando do tratamento paliativo de conversão. No estadiamento é importante: o tamanho (se é menor ou maior que 2 cm e se tem ou não acometimento vascular), se tem N positivo (lembrar que em pâncreas é linfonodo peripancreático. Se tiver um linfonodo pélvico esse não é peripancreático, sendo considerado metástase) e metástases. Metástases do trato gastrointestinal é achado por tomografia de tórax e abdome, pois tumores do trato gastrointestinal vão dar metástases para fígado e pulmão devido a circulação. Critérios de ressecabilidade • Tumores ressecáveis: sem invasão vascular (AMS, TC); • Tumores boderline: neoadjuvância (invasão de AMS < 180, ou passíveis de reconstrução vascular); • Irressecáveis: metastáticos, invasão de AMS > 180, TC ou veia porta sem possibilidade de reconstrução vascular. Os critérios de ressecabilidade é a parte importante do estadiamento. Se a lesão invadir MAS (artéria mensentérica superior) ou TC (tronco celíaco) é irressecável. Existe uma particularidade em relação a AMS e TC; se a lesão acomete menos de 180º (imagine um círculo - 360º), consegue-se vir por baixo e levantar a lesão, porém para fazer isso, é necessária uma terapia de conversão. Se a lesão faz 180º e passa, por exemplo, 200º, essa lesão abraça o vaso; essas lesões que abraçam o vaso são lesões não-cirúrgicas; não tem mais nada para fazer pelo paciente. Tratamento É feito depois do diagnóstico, TC de abdome e tórax, marcador tumoral, estadiamento. Lesão ressecável → a cirurgia depende de alguns fatores. • Ressecção cirúrgica com margens livres: ❖ Lesão de cabeça de pâncreas → Duodenopancreatectomia ou gastroduodenopancreatectomia. Tem escola que faz gastro sistematicamente, já outras fazem duodeno sistematicamente, preservando o piloro; a escola que preserva o piloro faz isso na intenção de que a manutenção do mecanismo fisiopatológico de esvaziamento gástrico é importante para o paciente ao longo dos anos. Nessa lógica, pacientes jovens, com índice de sobrevida alta, a tendência é realizar duodenopancreatectomia. A maioria dos serviços não tira o estômago; sabe-se que existe um grau de gastroparesia associado, que é a parada da eliminação da secreção gástrica, mas já se considera que pode haver uma morbidade pós-operatória intra-hospitalar um pouco maior, mas a qualidade de vida pós-operatória é melhor, por ter redução da possibilidade de refluxo alcalino, gastrites ... (não sei se a pró tava falando da duodenopancreatectomia ou da gastroduodenopancreatectomia). Os dois termos são aceitos e não são “pegadinha” na hora da prova. Eles podem fazer uma pegadinha quando estiver tratando de margens, por exemplo, 5 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 tumor de cabeça de pâncreas com invasão de primeira porção de duodeno, se o cirurgião precisar de margens de estômago para retirar a lesão, faz- se então gastroduodenopancreatectomia em qualquer escola, porque margem positiva é doença não tratada. Não sendo margem, pode fazer qualquer uma das duas. Existem dois tipos de reconstrução: é necessário colocar a secreção alimentar pra cair em algum lugar e fazer toda a parte de digestão. 1→ reconstrução em alça única, onde o estômago e o duodeno são retirados e é necessário reconstruir. A primeira reconstrução é na porção do pâncreas, a segunda é a biliodigestiva e a terceira é gastroenteroanastomose (imagem 2 acima). A outra forma de reconstrução (imagem abaixo) é a reconstrução em Y de Roux. *Obs.: a imagem acima de reconstrução em Y de Roux mostra um tumor gástrico, mas a professora não achou uma imagem de tumor de pâncreas. ❖ Lesão de corpo e cauda do pâncreas → Pancreatectomia corpo caudal. Deve-se ligar todas as pancreáticas derivadas da esplênica e retira o corpo e a cauda do pâncreas. Quando se está falando de lesões de cauda de pâncreas, essa porção acaba invadindo o hilo esplênico, necessitando realizar pancreatectomia corpo-caudal + esplenectomia. Alguns cirurgiões fazem esplenectomia de forma sistemática, pois do ponto de vista cirúrgico é realmente mais tranquilo. Todas as vezes que se retira o baço, deve-se lembrar que ele é um importante órgão do sistema hematopoiético e de defesa, principalmente contra microrganismos encapsulados, por isso que quando se faz esplenectomia se faz a vacinação contra microrganismos encapsulados no pré-operatório, 15 dias antes da cirurgia, para que o paciente não faça uma sepse fulminante por encapsulados no pós- operatório.• Ressecção cirúrgica com margens livres: ❖ Pancreatectomia total? A pancreatectomia total é uma possibilidade quando se precisa de margens livres e precisa tirar o pâncreas todo. Normalmente, essa pancreatectomia total é utilizada como estratégia com recidiva ou margens positivas, fiz uma pancreatectomia cefálica, duodenopancreatectomia, e peguei margem comprometida no corpo, teoricamente é necessário fazer a pancreatectomia total. Quando se pensa na alternativa de pancreatectomia total, é exceção, pacientes jovens, que precisarão entrar na lista de transplante de pâncreas, ou fazer reposição de todas as enzimas endócrinas e exócrinas do pâncreas. É caso de raríssimas exceções. Dica da professora: Caso tenha em prova, pancreatectomia como alternativa, não é resposta. • Linfadenectomia: quando se fala em câncer, deve-se falar em linfadenectomia. ❖ Ligamento hepatoduodenal; ❖ Artéria hepática; ❖ Linfonodos infrapilóricos e retropancreáticos. A linfadenectomia para câncer deve envolver os linfonodos da artéria esplênica, da artéria hepática e pancreática superiores e inferiores que vão junto com a peça e tronco celíaco que está perto. Caso for retirar o pâncreas, deve levar junto o ligamento hepatopancreático, hepatoduodenal, piloro, pâncreas (anterior e posterior), esses são os 6 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 linfonodos peripancreáticos que estão no N do TNM, que está tudo pertinho. Qualquer linfonodo fora desses: ligamento hepatoduodenal, artéria hepática, linfonodos infrapilóricos e retropancreáticos, são linfonodos metastáticos. Tratamento multimodal Funcionamento do tratamento multimodal: Se for um CA de pâncreas na cabeça que é ressecável, a ideia é ressecar, não fazendo quimio, uma vez que CA de pâncreas é tratamento cirúrgico. Quimioterapia em pâncreas é quimioterapia de conversão ou quimioterapia adjuvante quando tem linfonodo positivo. Com relação a cirurgia, não precisa fazer neoadjuvância nem adjuvância, salvo exceções. Se for um paciente boderline que possui por exemplo acometimento de mesentérica menor que 180°, será feita quimio e radioterapia de conversão pré- operatória (tentar trazer esse paciente para um paciente cirúrgico) e vai reestadiar. Caso a doença fique estável com a quimio ou tenha diminuído, o próximo passo é operar e, quando opera esse paciente que fez quimioterapia e respondeu, normalmente o mantém em adjuvância. Por outro lado, se for feito a quimio e a radio e ele progrediu, não tem mais o que ser feito, além dele ter progredido, já era um mal respondedor. Não é mesma coisa que já pegar um paciente ressecável. Quando o paciente já é irressecável inicialmente no pré-operatório, converter é uma tentativa de exceção, para tentar resgatar esse paciente e fazer um tratamento cirúrgico, que é o tratamento da lesão; se não, não oferece tratamento para o paciente, oferece paliação. Conversão é a mesma coisa de neoadjuvância? É, mas a diferença é que quando se fala em neoadjuvância, é quando tem um CEC de esôfago T2, T3 ou T4 e vai fazer neoadjuvância, porque está no protocolo. O paciente de CEC de esôfago, não vai diretamente para cirurgia, como nosso paciente do pâncreas, tem que ir para quimio antes, para depois ir para cirurgia. Já o paciente do pâncreas, não tem que ir para quimio antes, tem que fazer cirurgia, ele vai para quimio quando é um paciente boderline, em que tem uma invasão pequena de mesentérica ou tronco celíaco e eu quero que ele descole desses vasos. Nesse caso é feita uma quimioterapia de conversão, que é uma neoadjuvância, mas não está dentro do protocolo, porque o paciente do pâncreas não faz neoadjuvância, somente se for boderline. Dentro da neoadjuvância, tem um capítulo a parte, que é a conversão, porque a terapia de conversão não faz parte do protocolo para pâncreas, como faz parte do protocolo para estômago e esôfago, ela entra apenas em casos de exceção em pâncreas, casos que queremos que a doença diminua para poder operar, por isso que é chamada de conversão, porque converte um paciente não cirúrgico em um paciente cirúrgico. Tumores periampulares • Tumores localizados: ❖ Porção cefálica do pâncreas; ❖ Ampola de Vater (papila); ❖ Segunda porção do duodeno; ❖ Colédoco distal (colangiocarcinoma). Como o próprio nome diz, são tumores perto da ampola; esses tumores abrem de forma semelhante com síndrome colestática. • Diagnóstico impreciso. • Semelhanças: ❖ Icterícia obstrutiva; É um diagnóstico difícil, porque é difícil afirmar qual dos 4 tumores periampulares é, numa apresentação inicial (síndrome colestática). Como são muito perto um do outro, aparece com icterícia obstrutiva, obstrução do colédoco que gera essa icterícia, entrando do diagnóstico de icterícia obstrutiva de uma forma geral. 7 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 A particularidade desses tumores periampulares é que é uma icterícia obstrutiva com um padrão flutuante (hoje o paciente faz icterícia, depois de um tempo melhora a icterícia, e nesse momento ele deixa de ir ao médico, depois essa icterícia retorna), ocorre porque o tumor necrosa, morre, essa porção necrótica sai pela ampola para o duodeno, melhora a icterícia. A necrose tumoral faz a icterícia flutuante. ❖ Adenocarcinoma (hepatobiliopancreático); O tipo mais comum é o adenocarcinoma, assim como cabeça de pâncreas, duodeno, papila, todos eles têm maior prevalência de adenocarcinomas. Os subtipos são vistos pela imuno-histoquímica ▪ Tipo intestinal (75%); ▪ Pancreatobiliar (25%). ❖ Duodenopancreatectomia. O tratamento para esses tumores é a duodenopancreatectomia, retirando duodeno e cabeça de pâncreas; por conta da vascularização não consegue tirar apenas duodeno, não consegue tirar pâncreas, inclusive por conta da drenagem de via biliar, drenagem de pâncreas que cai junto na papila. Logo, quando pensa em tirar papila, tem que tirar o bloco como um todo. Tumores de papila • Segundo mais frequente dos periampulares (o 1° é o cabeça de pâncreas); • Síndrome colestática/ icterícia flutuante, vesícula de CT; • USG (entra no contexto de icterícia) /RNM/CPRE/Duodenoscopia; O primeiro exame feito quando se pensa em icterícia obstrutiva é o USG de abdome, porque queremos saber se o paciente tem colelitíase e isso é coledocolitíase que é a causa mais frequente de icterícia obstrutiva. Depois do USG, teoricamente parte para RNM de abdome, provavelmente, caso na ressonância seja vista uma lesão com imagem negativa como já foi mostrado, isso é coledocolitíase, parte para CPRE. Se na RNM de abdome for visto o sinal do duplo ducto, sendo um o colédoco e o outro Wirsung (ambos marcados em azul), ambos dilatados, isso faz chamar atenção para o periampular, partindo-se para duodenoscopia. Pode lançar mão de CPRE enquanto tiver realizando a duodenoscopia (endoscopia com visão para cima, endoscópio mais articulado). Ao ser identificado na duodenoscopia um periampular, mas que a papila está preservada, ou seja, provável lesão de duodeno, biopsia e vai para o estadiamento. Se for um periampular papila para dentro, colangiocarcinoma, CA de cabeça de pâncreas, acabou o exame e parte para o estadiamento. Se for vista na endoscopia uma lesão polipoide, pediculada, pode fazer o tratamento, que é a ressecção local; se dessa ressecção local tiver uma displasia, acabou o tratamento, terminou com a ressecção local. Se nessa lesão vier adenocarcinoma, mesmo adenocarcinoma T1 de papila, pode ter até 40% de metástase linfonodal, devendo partir para duodenopancreatectomia. Faz a biópsia quando ao fazer a RNM de abdome diagnosticou-se um tumor periampular que é o sinal do duplo ducto, acreditando que é uma lesão periampular,pede-se uma duodenoscopia; na duodenoscopia, viu-se uma lesão sugestiva de, por exemplo, um adenoma, uma lesão polipoide pediculada, retirou a lesão, fez uma biópsia excisional. Se veio adenoma, terminou o tratamento; veio adenocarcinoma, faz-se duodenopancreatectomia. Se estiver tratando lesão extensa, em segunda porção do duodeno (periampular), indo para dentro do intestino delgado, também pode-se fazer biópsia. A lesão da imagem superior esquerda, é uma lesão séssil, de difícil ressecção, deve-se partir para o tratamento cirúrgico, essa lesão com esse aspecto de carne de peixe, pode-se fazer biópsia da lesão, mas, caso não consiga ressecar e a biópsia vier só uma displasia ou um adenoma, ou volta para duodenopancreatectomia ou biopsia de novo, não se fica satisfeito em deixar essa lesão, até porque o paciente está com uma icterícia obstrutiva. 8 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 8 As lesões passiveis de ressecção são lesões pediculadas. • Tratamentos: ❖ Adenoma: ressecção local – Ampulectomia; ❖ Não ressecável localmente ou adenocarcinoma: DP; ❖ Sem adjuvância. Tumores de duodeno • Obstrução intestinal alta e emagrecimento, sangramento; • Icterícia infrequente (só quando está relacionado ao periampular mesmo, de duodeno); Caso a lesão seja nos círculos em azul, terá obstrução intestinal e o que ocorrerá é vômito, porque toda secreção salivar (900mL), biliar (1,5L), suco gástrico (1,5L), não desce. Então, o paciente vomita muito, caracterizando a obstrução intestinal alta, podendo ter sangramento por descamação. • Diagnóstico: EDA (ECO) + Biópsia ou TC. • Tratamento: ❖ Adenoma: ressecção local – EDA; ❖ Adenocarcinoma: duodenopancreactomia; ❖ Sem adjuvância; só considera adjuvância nos casos de (N+). Dúvida: Quando vai estratificar o colangiocarcinoma, tem uma parte que realiza EDA e colono, é para os 3 tipos (intra-hepático e extra-hepático)? Resposta: A ideia da EDA e colonoscopia é imaginar que lesões do fígado, hipovasculares, podem ser metástase. Se pensa em lesões que podem ser metástase, dos colangios, o que pode ser é o intra- hepático. Só pede EDA e colono quando se vê uma lesão hipovascular do fígado. No caso de um adenoma de terço médio, que só tem icterícia obstrutiva, não precisa de EDA e colono.
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