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Degenerações São alterações celulares morfológicas reversíveis decorrentes de alterações bioquímicas, resultando no acúmulo de sustâncias no meio intracelular. Classificadas de acordo com a substância que se acumula, podendo ser: 1. Acúmulo de água e eletrólitos – Degeneração hidrópica 2. Acúmulo de proteínas – Degeneração hialina e degeneração mucóide 3. Acúmulo de lipídeos – Esteatose 4. Acúmulo de carboidratos – Glicogenose 1) Degeneração hidrópica* ▪ Caracterizada pelo acúmulo de água e eletrólitos no interior das células . ▪ É a primeira manifestação de dano celular. ▪ O retículo endoplasmático liso é a primeira organela a se expandir, seguido pelo citoplasma, provocando rearranjo das organelas. *sinônimos: degeneração vacuolar; degeneração granular, tumefação turva; degeneração albuminosa Causas e mecanismos: - É provocada por transtornos no equilíbrio hidroeletrolítico resultando na retenção de água e eletrólitos no interior das células. Esses transtornos são desencadeados por: 1) Alteração na produção ou consumo de ATP: Provocado por hipóxia, desacoplamento na cadeia respiratória da mitocôndria, etc. 2) Perturbação na integridade da membrana 3) Modificação ou inibição da atividade de componentes das bombas hidroeletrolíticas Equilíbrio hidroeletrolítico: mantido por bombas hidroeletrolíticas (ex: Na+/K+/ATPase) que transportam eletrólitos para dentro e fora da célula pela membrana plasmática mantendo essas concentrações constantes. - Em todos os casos, esses transtornos vão levar a: ▪ Retenção de sódio ▪ Redução do potássio intracelular (devido ao mau funcionamento da bomba Na+/K+/ATPase) ▪ Aumento da pressão osmótica intracelular (devido ao acúmulo de sódio) levando ao acúmulo de água no interior da célula Características macroscópicas: ▪ Aumento do peso e volume tecidual. ▪ Órgão com tonalidade pálida (por conta da compressão de capilares). ▪ Perda da elasticidade tecidual. Características microscópicas: ▪ As células aumentam seu volume ▪ O núcleo é deslocado para a periferia ▪ Presença de grânulos eosinofílicos ▪ Aumento da proporção citoplasma/núcleo ▪ Vacuolização do citoplasma ▪ Presença de resíduos de organelas e proteínas Hepatóticos, coloração HE, 400x 2) 2.1 Degeneração hialina ▪ Caracterizada pelo acúmulo de material acidófilo (proteínas). Causas e mecanismos: - Condensação de filamentos de proteínas formando corpúsculos no interior das células. As características variam de acordo com a gravidade da lesão e removido o estímulo lesivo, as células voltam ao normal - Acúmulo de material de origem viral. - Ação de endotoxinas bacterianas, linfócitos T e macrófagos → degenerando fibras esqueléticas e cardíacas. - Ação de IL-1 e TNF-α no catabolismo proteico Tipos de corpúsculo: ▪ Corpúsculo hialino de Mallory-Denk: Presente nos hepatóticos em casos de alcoolismo e esteato-hepatite. São originados pela ação de radicais livres sobre filamentos de queratina e proteínas do citoesqueleto resultando em aglomerados. ▪ Corpúsculos hialinos de Councilman-Rocha Lima: Presentes em hepatites virais correspondendo a hepatócitos em apoptose. . Hepatócitos, coloração HE, 400x. A seta aponta um corpúsculo hialino de Mallory, principal característica microscópica. 2) 2.2 Degeneração mucóide ▪ Ocorrem devido a uma hiperprodução de muco por células dos tratos digestivo e respiratório, gerando o acúmulo de mucina ▪ Esse tipo de degeneração pode causar morte celular 3) Esteatose ▪ Acúmulo de gorduras (mono, di ou triglicerídeos) no citoplasma de células que, normalmente, não as armazenam. ▪ O órgão mais atingido é o fígado por estar envolvido no metabolismo lipídico, mas também pode ser encontrada no epitélio tubular renal, no miocárdio, nos músculos esqueléticos e no pâncreas. Causas e mecanismos: - Pode ser provocada por agressões diversas: 1) Aumento da captação ou síntese de ácidos graxos: com excesso de acetil-CoA sintetiza-se mais ácidos graxos (AG). 2) Diminuição do uso de triglicerídos e AG: com a falta de ATP ocorre uma diminuição na produção de lipídeos complexos a partir desses produtos, que podem se acumular. Captação e destino de ácidos graxos em hepatócitos 3) Etanol: No fígado, o ácool pode ser metabolizado por 3 vias: 1. Sistema microssomal (enzima CYP2E1); 2. Álcool desidrogenase (ADH); 3. Via da catalase. Nas três vias, o produto final é o acetaldeído que por ação da aldeído- desidrogenase (ALDH) na mitocôndria, é convertido em acetil- CoA . Em excesso, o Acetil-CoA entra na síntese de AG que acabam se acumulando. . . Vias de metabolização do etanol Além disso, a ADH utiliza NAD para a conversão do etanol em acetaldeído. O NAD é necessário para a oxidação de lipídeos → diminuição de NAD diminui a quebra de AG → acúmulo nos hepatócitos. Os hepatócitos retiram da circulação ácidos graxos e triglicerídeos que são utilizados para: 1. Produção de colesterol; 2. Síntese de fosfolipídeos, esfingolipídeos, mono, di ou triglicerídeos; 3. Geração de energia pela β-oxidação. 4) Hipóxia: na anemia, insuficiência cardíaca e insuficiência respiratória há menor disponibilidade de O2 no ciclo de Krebs, reduzindo a síntese de ATP. Diminuindo o ATP, reduz-se a síntese de lípideos complexos e na utilização dos ácidos graxos. 5) Alterações na dieta: maior ingesta de ácidos graxos favorece seu acúmulo mas a carência de proteínas gera deficiência na síntese das apoproteínas, reduzindo a formação de lipoproteínas e a excreção de triglicerídeos. 6) Agentes tóxicos: O tetracloreto de carbono (CCI4) é capaz de lesar o retículo rugoso, reduzindo a síntese de proteínas, afetando a síntese de lipoproteínas. Consequências: - Apesar de ser uma lesão reversível, pode evoluir para morte celular, esteato- hepatite, fibrose e cirrose. - Embolia gordurosa causada pelo rompimento dos hepatócitos. - Pode agravar insuficiência cardíaca. - Geração de ceramida que é um indutor de apoptose. Características macroscópicas: ▪ Aumento do volume e peso do órgão. ▪ Bordas arredondadas. ▪ Coloração amarelada. Características microscópicas: ▪ Espaços vazios no interior da célula por conta da técnica histológica que dissolve a gordura. ▪ Núcleo deslocado para a periferia em estágios mais avançados, conferindo o aspecto de “anel de bacharel”. ▪ Hepatócitos com aspecto de adipócitos. Para observar a gordura no interior das células pode-se usar outros tipos de coloração como oil red-O e Sudam IV que coram os lipídeos em vermelho- alaranjado. Hepatóticos, coloração HE, 400x. As setas apontam células com aspecto de anel de bacharel. 4) Glicogenoses ▪ Doenças genéticas que levam ao acúmulo de glicogênio em células do fígado, rins, músculos esqueléticos e coração. ▪ O acúmulo pode ser no citosol ou no lissosomo das células. Causas e mecanismos: 1) Deficiência de enzimas que degradam o glicogênio. 2) Reabsorção excessiva de glicose nos glomérulos: ocorre na diabetes mellitus. Tipos de glicogenoses: Nome Distúrbio enzimático Tecido afetado Doença de von Gierke Glicose-6-fosfatase Fígado, rim Doença de Pompe α-1,4-glicosidase Generalizada Doença de Cori Amilo-1,6-glicosidase Fígado, coração, músculos Doença de Hers Fosforilase do glicogênio do fígado Fígado e leucócitos Doença por deficiência de fosfofrutocinase do músculo Fosfofrutocinase do músculo Músculo esquelético Referências: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. https://www.ufrgs.br/patologiageral
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