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AULA 10 - 2[6368]

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Prévia do material em texto

Alyson Barros	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Aula 10 
22 de novembro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras 
providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o curso. Não adianta sair para protestar contra a corrupção 
dos outros quando não damos o exemplo. Faça o bom uso desse material de acordo com as instruções aqui oferecidas. 
Novembro 2015 
08	Fall	
	
2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
Considerações Iniciais 
 
 Faltam 3 semanas para a sua prova!!! Ê que felicidade!!! Restam 
poucas vagas no nosso curso presencial dos dias 5 e 6 de dezembro na 
Aliança Francesa. Corre que ainda dá tempo: www.psicologianova.com.br! 
 Última aula em pdf e temos temas que considero “especiais”. 
Chamo de especiais pois não se encaixam bem em canto nenhum do 
edital. A FUNIVERSA é boa, por exemplo, na aplicação da psicologia 
institucional na escola, mas, e aqui? Nops. Poucas questões e ainda teve a 
audácia de colocar higiene mental (eu sei que esse conceito é diferente 
de psico-higiene) e intervenção institucional. Trabalharemos a psicologia 
institucional bem de leve. E o tópico de orientação familiar? Mais enxuto 
que ele, só as questões da própria FUNIVERSA. 
 Essa é a nossa aula mais curta, mas você deve dar a mesma 
atenção de sempre. Vamos começar!!! 
 
 
Objetivos e níveis da higiene mental. 
 
 Começaremos definindo a higiene mental e a psico0higiene já 
para não termos problemas. A psico-higiene, método adotado por Bleger, 
trabalha com pessoas saudáveis e na promoção da saúde. E a higiene 
mental? O relatório n˚ 31 da OMS de dezembro de 1952 diz que “a higiene 
mental consiste nas atividades e técnicas que promovem e mantêm a 
saúde mental”. Assim, a higiene mental é mais ampla, por considerar o 
lado patológico humano. 
 Vejamos uma breve sistematização: 
Higiene Mental (Bleger) Psico-higiene (Alyson e Bleger) 
Higiene mental é o estudo da 
administração dos conhecimentos, 
atividades técnicas e recursos 
psicológicos da saúde e da doença 
como fenômenos sociais e 
coletivos. 
Ela faz parte da higiene mental, mas 
enfatiza mais a parte saudável 
humana e a prevenção. Consiste em 
não esperar que a pessoa doente 
venha consultar e sim sair a tratar e 
a intervir nos processos 
psicológicos que gravitam e afetam 
a estrutura da personalidade e, 
portanto, as relações entre os seres 
	
	
3 
humanos, motivando com isto o 
público para que possa concorrer a 
solicitar seus serviços em condições 
que não impliquem doença. 
 
 Um dos grandes problemas no estudo do conceito de higiene 
mental para concursos é a sua pouca relação com um movimento mais 
amplo de saúde que ocorreu no Brasil e no mundo chamado: movimento 
higienista1. Para esse movimento, o conceito de higiene é um pouco mais 
amplo, mas ainda relacionado ao que adotaremos. Veja: 
 Em busca da nação saudável, as propostas de higienização dos 
espaços públicos e dos corpos foram adentrando os lares brasileiros. 
Nesse contexto urbano, industrial, moderno, à medida que as doenças 
físicas foram sendo minimizadas, outra preocupação, além daquela 
circunscrita ao domínio da biologia e da fisiologia, começou a inquietar 
esses intelectuais: a 'higiene mental'. Nesse sentido, outro membro da Liga 
Brasileira de Higiene Mental, o médico Carlos Penafiel (1925, p.11) declara: 
a máquina na indústria moderna, atividades 
febricitantes impossíveis com o músculo humano, 
assim também com o músculo animal, mas que 
vieram requerer muito mais das qualidades 
cerebrais do operário do que de suas qualidade 
físicas -, criaram, neste meio século último, novos 
problemas médicos psico-físicos que estão a 
desafiar a higiene pública, ou mais especialmente a 
Higiene Mental. 
 A 'higiene mental' procurou trabalhar em ligação com a 'higiene 
geral', mas dedicando-se mais particularmente a salvaguardar a saúde 
psíquica dos indivíduos. Segundo Fontenelle (1925, p.1), devia-se 
considerar a importância da atividade psíquica profundamente 
entrelaçada com a física, surgindo, assim, "a higiene mental como uma 
cogitação especial". 
 A expansão das ações higienistas para este novo campo de 
atuação - a mente - desenvolveu a ideia de que, mais do que um trabalho 
curativo, era necessário realizar um trabalho de cunho preventivo, voltado 
para a vida coletiva, intervindo no comércio, na indústria, na educação, no 
domínio criminológico, na imigração e, entre eles, na família, pois "os 
conflitos passam [passaram] a ser conflitos de desajustamento de 
personalidade. Desajustamentos na família. Desajustamento na sociedade. 
																																																								
1	Tem	 menos	 relação	 ainda	 com	 a	 area	 organizacional	 ou	 com	 a	 FUNIVERSA.	
Paciência.	
	
4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
Crivado de toda a sorte de solicitações, o cérebro humano tornou-se 
como um arco retesado, vibrando às menores influências do ambiente" 
(Ramos, 1941, p.18). Hasteando a nova bandeira da higiene pública, a LBHM 
tornou-se um importante veículo de defesa da ordem e do progresso 
nacional, e a família 'mentalmente saudável' e 'moralmente higiênica' 
estava incluída na estratégia de 'nacionalização'. 
 É importante destacar que esse movimento médico-higienista não 
teve caráter popular, ou seja, não foi gerado no seio da população em 
geral. "Tratava-se de um pequeno grupo, em termos numéricos, formado 
por médicos em sua maioria e, a considerar os padrões da época, com 
grandes eruditos dentre eles" (Boarini, Yamamoto, 2004, p.63). 
... 
 Também é importante pontuar que esse movimento não foi 
marcado pela homogeneidade de modelos de conhecimento e de prática, 
pelo contrário, por vezes, eram apresentadas ideias e propostas 
conflitantes, tais como as ideias eugenistas e higienistas. Entretanto, por 
mais divergentes que pudessem ser, esses modelos médicos de 
conhecimento e de prática caracterizavam-se sempre por ter o Estado, 
constituído como aparelho, como interlocutor e propunham serem dele o 
discurso e a estratégia política dominantes. Todos exprimiam o propósito 
de constituir a ordem social e política do capitalismo, sublinhando sempre 
o caráter objetivo da intervenção científica na sociedade, supondo a 
ciência como universal e as técnicas como neutras. 
 Os higienistas apontavam o meio como fator decisivo para os 
problemas de personalidade e desajustes sociais. Já os adeptos da 
eugenia localizavam o fator decisivo dos males na herança genética. Para 
nos ajudar nessa diferenciação, citaremos o doutor Mirandolino Caldas, 
que, em 1932, era o diretor da Clínica de Eufrenia e secretário-geral da 
Liga Brasileira de Higiene Mental, também membro honorário da Liga 
Argentina de Higiene Mental. 
De acordo com o conceito desde muito 
consagrado, a higiene não é uma ciência no rigor 
do termo; é, antes, um conjunto de dados e de 
conhecimentos extraído das ciências físicas e 
naturais e, particularmente, das ciências médicas, 
formando um verdadeiro código que ensina ao 
homem os preceitos indispensáveis á conservação 
da saúde. A higiene ensina a evitar as doenças e a 
conservar a saúde dentro de sua relatividade, 
defende o indivíduo e a sociedade da voragem das 
epidemias, mas não estuda os meios de firmar o 
tipo morfologicamente perfeito. Este estudo 
pertence à eugenia (Caldas, 1932, p.30). 
	
	
5 
Fonte: MOURA, Renata Heller de and BOARINI, Maria Lucia. A saúde da 
família sob as lentes da higiene mental. Hist. cienc. saude-
Manguinhos [online]. 2012, vol.19, n.1 [cited 2013-06-24], pp. 217-235 . 
Available from: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702012000100012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104-
5970. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702012000100012. 
 
 Esse fragmento de texto mostra que o movimento higienista foimaior que o movimento de psico-higiene mental, e era uma oposição ao 
modelo médico privatista tradicional (que ainda existe). 
 Obviamente que a psico-higiene está alinhada com esse 
movimento maior, principalmente quando se opõe ao modelo americano e 
europeu de psicologia baseada no atendimento individual e distanciada da 
realidade. Além disso, para Bleger (1984), o psicólogo clínico havia se 
fechado no significado da escola Freudiana, a qual se limitava ao pronto 
atendimento em salas fechadas e individualizadas. Guirado (1986) diz que 
o psicólogo deve trabalhar com os recursos que lhe advêm da Psicologia 
e não como se propõe, atualmente, como que advêm da Psicanálise. 
Bleger (1984) diz que a função do Psicólogo Clínico não deve ser 
basicamente a terapia e sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene 
mental. 
 Colocarei, a seguir, um trecho do excelente livro de Bleger 
intitulado Psico-Higiene e Psicologia Inst itucional , de 1984. Ele avalia a 
separação do psicólogo clínico da atuação social e conclui que os 
psicólogos devem ter uma maior responsabilidade social sempre 
buscando a psico-higiene. Para Guirado (1986), a psico-higiene busca 
proporcionar condições para a vida e a saúde nos grupos básicos de 
interação, como a família, a escola, o trabalho, e as atividades 
comunitárias. Esse livro é a grande referência da área e uma grande 
provocação aos trabalhos alienantes da psicologia. Bleger fala que o 
psicólogo clínico deve tomar as rédeas, assim como projetos e ações 
devem e têm que partir dos próprios profissionais. 
 
 
Capítulo 1 - O psicólogo clínico e a higiene mental 
... 
Objetivos da higiene mental 
 Um dos primeiros objetivos, com o qual historicamente nasce a 
higiene mental, figura ou se encontra entre os propósitos do movimento 
	
6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
que moveu o livro de C. W. Beers, publicado em 1908: "fazer algo pelo 
doente mental", no sentido de modificar a assistência psiquiátrica, 
levando-a a condições mais humanas (melhores hospitais e melhor 
atenção) e com isto à possibilidade de uma maior proporção de curas. 
 Um segundo passo histórico de fundamental importância se dá ao 
colocar como objetivo já não só o propósito anterior e sim também, 
basicamente, o diagnóstico precoce das doenças mentais, com o que se 
possibilita não só uma taxa mais elevada de curas como também 
diminuição de sofrimentos e do tempo necessário de internação, 
chegando-se a que esta seja em algumas ocasiões desnecessária. Isto 
significa que, uma vez preenchidas as necessidades básicas mínimas de 
leitos, se propenda a uma melhor utilização dos mesmos, com um critério 
funcional ou dinâmico da internação, mediante o diagnóstico precoce – 
momentos em que a internação pode ser obviada ou reduzida em sua 
duração. Isto segue sendo para nós um objetivo fundamental, no nível em 
que se desenvolve ou realiza a assistência psiquiátrica em nosso país; em 
geral, o diagnóstico se faz ainda muito tardiamente e se diagnostica a 
doença mental em momentos ou períodos equivalentes ao do diagnóstico 
do câncer quando já há caquexia e metástase. Nisto, o psicólogo clínico 
pode colaborar de maneira muito fundamental, mas a responsabilidade 
deste problema recai preponderantemente sobre o psiquiatra. 
 Um terceiro objetivo, que foi se delineando cada vez mais firme e 
nitidamente, já não se refere somente à possibilidade do diagnóstico 
precoce, e sim basicamente à profilaxia ou prevenção das doenças 
mentais, agindo antes que estas façam sua aparição e, em consequência, 
evitando-as. 
 Enquanto que se têm desenvolvido, em certa medida, os objetivos 
anteriores, aparece na higiene mental a necessidade de atender à 
reabilitação, quer seja do paciente que deve se reintegrar à vida plena, 
quer seja do curado com déficit ou sequelas, ou quer seja daquele por 
quem a medicina curativa não pode fazer nada. 
 O objetivo historicamente mais recente na higiene mental já não se 
refere tão só à doença ou à sua profilaxia e sim também à promoção de 
um maior equilíbrio, de um melhor nível de saúde na população. Desta 
maneira, já não interessa somente a ausência de doença e sim o 
desenvolvimento pleno dos indivíduos e da comunidade total. A ênfase da 
higiene mental translada-se, assim, da doença à saúde e, com isto, à 
atenção da vida cotidiana dos seres humanos. E isto é, para nós, de vital 
importância e interesse. 
 Estes cinco objetivos da higiene mental não se sucedem 
cronologicamente e em forma rigorosa em sua aplicação nem tampouco 
se excluem e, inclusive, os limites entre um e outro não são totalmente 
nítidos; a terapêutica – por exemplo – rende benefícios diretos à profilaxia 
	
	
7 
enquanto que curar um sujeito pode significar que ele não gravite 
patologicamente sobre seus filhos e, por outra parte, se atuamos no nível 
da profilaxia, isto é inseparável do melhoramento do nível da saúde da 
comunidade. Além disso, não deixa de ser certo que, em boa medida, os 
conhecimentos necessários para atuar na profilaxia, na reabilitação e na 
promoção da saúde derivam do campo da patologia e da terapêutica. A 
profilaxia, como possibilidade concreta, chega muito tarde no campo da 
psiquiatria, pelo fato de que para desenvolvê-la requer-se conhecer as 
causas da doença, o qual —em forma cientificamente rigorosa – fica ainda 
como uma perspectiva do futuro. De tal maneira, a profilaxia específica 
(atacar uma causa para evitar uma dada doença) só se torna atualmente 
possível em muito poucos casos (paralisia geral progressiva, por exemplo), 
de tal maneira que nossa arma profilática mais poderosa no presente é de 
caráter inespecífico: a proteção da saúde e, com isto, a promoção de 
melhores condições de vida. 
... 
Âmbitos de atuação 
 Nesta passagem do psicólogo clínico da doença à promoção da 
saúde, ao encontro das pessoas em suas ocupações e tarefas ordinárias e 
cotidianas, encontramo-nos nos distintos níveis de organização, entre os 
quais temos que ter em conta, fundamentalmente, as instituições, os 
grupos, a comunidade, a sociedade. 
 Uma instituição não é só um lugar onde o psicólogo pode 
trabalhar; é um nível de sua tarefa. Quando ingressa para trabalhar em 
uma instituição (escola, hospital, fábrica, clube, etc.), o primeiro que deve 
fazer é não abrir um gabinete, nem laboratório, nem consultório em 
atenção aos indivíduos doentes que integram a instituição. Sua primeira 
tarefa é investigar e tratar a própria instituição; este é o seu primeiro 
"cliente", o mais importante. 
 Não se deve criar outra instituição dentro da primeira, à maneira de 
uma superestrutura, porque a psico-higiene não é uma superestrutura que 
tem que ser manejada à parte ou acrescentada à vida e às instituições, 
mas sim dentro das mesmas. Deve-se examinar a instituição a partir do 
ponto de vista psicológico: seus objetivos, funções, meios, tarefas, etc.; as 
lideranças formais e informais, a comunicação entre os status (vertical) e 
os intra status (horizontal), etc. Tendo sempre em conta que esta 
indagação em si já é uma atuação que modifica a instituição e cria, além 
disso, distintos tipos de tensões com o próprio psicólogo, que este tem 
que atender como parte integrante de sua tarefa. O psicólogo é, em uma 
instituição, um colaborador e de nenhuma maneira deve se converter em 
centro da mesma; suas funções devem se exercer através dos integrantes 
regulares da mesma. Nesta ordem de coisas, o psicólogo é um 
especialista em tensões da relação ou comunicação humana e este é o 
	
8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
campo específico sobre o qual deve atuar. A psico-higiene em uma 
instituição deve funcionar engrenada ou incluída no processo regular ou 
habitual da mesma e não se transformar em uma superestrutura 
sobreposta. Os que o consultam e os acontecimentos que deve atender 
não devem ser encarados em função da problemática individual e sim 
institucional. 
 Um segundo nível, muito relacionado com o anterior,é o da 
atuação sobre os grupos humanos. É muito variada a composição dos 
grupos e o psicólogo deve tender a atuar sobre os que configuram 
"unidades naturais", quer dizer, grupos pré-formados, aqueles que já têm 
dinamicamente configurada a sua função dentro de determinada 
instituição social: o grupo familiar, o fabril, o educacional, a equipe de 
trabalho, etc. Outra de suas modalidades é a dos grupos artificiais, que 
podem ser homogêneos ou heterogêneos, em idade, sexo, problemática, 
grau de saúde ou de doença, etc. As técnicas grupais a utilizar devem ser 
escolhidas, segundo o caso, entre as disponíveis: terapêuticas, de 
discussão, operativas, de tarefa, etc. 
 O trabalho sobre o nível da comunidade tem que se fazer 
aproveitando todos os meios de comunicação (rádio, televisão, cartazes, 
jornais, folhetos, etc.) e os organismos e instituições já existentes (clube, 
fábrica, escola, hospital, etc.), atuando sobre a problemática, as tarefas e as 
situações de tensão coletiva. As técnicas são também variadas e devem 
se adequar aos problemas, objetivos perseguidos e realizações factíveis. 
 Sem ânimo de apresentar uma classificação exaustiva ou integral, 
os tipos de situação ou de problemática nos quais o psicólogo deve 
intervir podem se agrupar da seguinte maneira: 1 – Momentos ou períodos 
do desenvolvimento ou da evolução normal: gravidez, parto, lactância, 
infância, puberdade, juventude, maturidade, idade crítica, velhice; 2 – 
Momentos de mudança ou de crise: imigração ou emigração, casamento, 
viuvez, serviço militar, etc.; 3 – Situações de tensão normal ou anormal nas 
relações humanas: família, escolas, fábricas, etc.; 4 – Organização e 
dinâmica de instituições sociais: escolas, tribunais, clubes, etc.; 5 – 
Problemas que criam ansiedade em momentos ou períodos mais 
específicos da vida; sexualidade, orientação profissional, escolha de 
trabalho, etc.; 6 – Situações altamente significativas que requerem 
informação, educação ou direção: educação das crianças, jogos, ócio em 
todas as idades, adoção de menores, etc. Como é fácil deduzir, o 
psicólogo intervém absolutamente em tudo o que inclui ou implica seres 
humanos, para a proteção de tudo o que concerne aos fatores 
psicológicos da vida, em suas múltiplas manifestações: interessa-se, em 
toda a sua amplitude, pela assimilação e integração de experiências em 
uma aprendizagem adequada, com plena satisfação de todas as 
necessidades psicológicas. 
	
	
9 
 Fora de todos estes aspectos da psico-higiene, mais implicados no 
objetivo de promoção da saúde, toca também ao psicólogo assumir um 
papel de importância em todos os enumerados anteriormente: 
terapêutica, profilaxia, reabilitação, diagnóstico precoce. Detivemo-nos 
mais especialmente na promoção da saúde porque cremos que é aí onde 
deve se centrar predominantemente o esforço da higiene mental, ainda 
que em centros ou dispensários eminentemente terapêuticos ou de 
reabilitação. Confio que, progressivamente e com esta amplitude, a psico-
higiene será o campo específico do psicólogo clínico. Como pode se 
deduzir do até aqui exposto a psico-higiene não exclui a possibilidade do 
exercício privado de uma profissão. Aqui o psicólogo encontra-se com 
uma anomalia muito particular, que, em grande proporção, encontram 
também bom número de outros profissionais: a de que, com muitíssima 
frequência, as atividades profissionais mais racionais e socialmente mais 
produtivas são as menos ou pior remuneradas. Por outra parte, e em forma 
quase paralela, possuímos em todos os campos da higiene muito mais 
conhecimentos do que realmente podemos aplicar, devido a limitações 
econômicas, sociais e políticas. O problema de incrementar a efetividade 
dos profissionais é distinto ao do melhoramento de sua competência 
científica e técnica. 
Fonte: Bleger. Psico-higiene e Psicologia Institucional (1984) – Capítulo 1. 
Disponível em: http://imagem.casasbahia.com.br/html/conteudo-
produto/12-livros/275264/275264.pdf 
 
 A ênfase da higiene mental desloca-se da doença para a saúde, e 
assim preocupa-se também com a promoção de um maior equilíbrio, de 
um melhor nível de saúde na população. Resumindo, os cinco objetivos da 
higiene mental são: melhores condições na assistência psiquiátrica, 
diagnóstico precoce, prevenção, reabilitação e promoção da saúde. 
 Eles são melhores explicados ao longo do livro. Tomei a liberdade 
de resumir de forma mais didática: 
1. Melhores condições na assistência psiquiátrica 
(Instrução): significa aceitar e identificar a doença mental e 
criar mecanismos de tratamento e prevenção. “Fazer algo 
pelo doente mental”. A partir dos passos iniciais para 
conseguir um trato mais humano para o doente mental, se 
adiantou muito no melhoramento das instituições 
assistenciais, tanto um incremento não só da quantidade 
como também da variedade de instituições assistenciais. 
Os hospitais foram melhores aproveitados, incluindo 
internações mais breves, melhoria nos tratamentos etc. O 
ponto culminante desde desenvolvimento foi a criação das 
	
1 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
comunidades terapêuticas, que consiste em modificar a 
estrutura institucional para converter a organização e as 
relações em agentes positivos para os seres que a 
integram. 
2. Diagnóstico Precoce: Significa detectar precocemente 
as doenças mentais pode dar lugar a um aproveitamento 
maior dos serviços hospitalares. 
3. Prevenção da Doença: Ao psicólogo correspondem os 
aspectos psicológicos desta tarefa e a isto é dado o nome 
de psicoprofilaxia, a qual se inclui totalmente dentro da 
higiene mental, diferente da psico-higiene que a 
ultrapassa, já que deixa de girar ao redor da doença 
mental. A psicoprofilaxia não significa prevenção e sim que 
se deve definir como o emprego dos recursos psicológicos 
para prevenir doenças. 
4. Reabilitação: Consiste na ajuda psicológica ao sujeito 
curado ou com certo déficit, para que possa se ressituar na 
comunidade e se reintegrar na sua família, reduzindo o 
impacto dos favores que desencadearam ou 
condicionaram sua doença ou que possam voltar a torná-lo 
doente. A intervenção do psicólogo na reabilitação 
ultrapassa os limites da higiene mental e atua na higiene 
como um todo. 
5. Promoção da Saúde: A promoção da saúde se inclui 
na denominação de prevenção positiva, denominação que 
não consideramos adequada porque implica fazer girar a 
saúde e todos os fenômenos humanos ao redor da 
medicina e da doença. 
 
 Os dois primeiros objetivos (instrução e diagnóstico precoce) 
requerem uma ampla participação do psicólogo, não só quanto ao 
psicodiagnóstico e a psicoterapia, mas também na difusão de 
conhecimentos que alertem a comunidade para solicitar ajuda médica ou 
psicológica, combater os preconceitos da doença mental, ter atenção aos 
fatores psicológicos intervindo no funcionamento das instituições 
assistenciais etc. Quanto à tarefa frente ao doente e ao possível doente, o 
psicólogo é um profissional que desempenha dentro do campo da higiene 
mental, um papel de integrante de uma equipe ou assessor ou consultor; 
mas frente aos organismos que enfrentam o problema da doença mental, 
sua tarefa pertence mais ao campo da psico-higiene. 
 Além disso, dentro da prevenção ou da profilaxia da doença 
mental, tem-se a diferença entre prevenção específica e inespecífica. A 
	
	
11 
específica se trata de combater determinada causa ou elo da série causal. 
A segunda não pode-se agir sobre causas específicas, seja porque não 
existem ou seja porque não as conhecemos. As situações não médicas 
correspondem ao psicólogo, quer seja por sua ação direta ou por seu 
assessoramento a outros profissionais em tudo o que significa atender os 
fatores psicológicos perturbados na vida corrente em suas múltiplas 
manifestações e fenômenos humanos. 
 E os níveis de análise e promoção da psico-higiene: 
Nível 1: as instituições 
Nível 2: os grupos 
Nível 3: a comunidade 
Nível 4: a sociedade. 
 Observe quetanto nos objetivos quanto nos níveis, não há 
hierarquia! 
Para finalizar esse assunto, encontrei uma opinião bastante acalorada que 
remete à atuação do psicólogo em equipes. 
 O objetivo mais recente da higiene mental não mais é a doença ou 
à sua profilaxia e sim a promoção de um maior equilíbrio, de um melhor 
nível de saúde na população. Ou seja, tira-se o foco da doença ou 
ausência da mesma, e sim o desenvolvimento pleno dos indivíduos e da 
comunidade total. E essa é a grande questão de nossa discussão: o 
psicólogo clínico ocupa um lugar em toda a equipe da saúde pública, em 
qualquer e em todos os objetivos da higiene mental nos quais tem 
funções específicas a cumprir (as da psico-higiene). 
 Devemos é claro estudar e ficar prevenidos a atitudes e aos 
preconceitos dos outros profissionais e até mesmo de outros psicólogos 
frente a psico-higiene. Não dando margem para que possa ser vista a 
psicologia clínica como impotente nem tão pouco como onipotente. O 
profissional deve agir em sua condição inseparável de ser humano: um 
não deve absorver nem anular o outro. 
Fonte: http://humanopsc.blogspot.com.br/2011/11/resenha-sobre-
psico-higiene.html 
 
 
	
1 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
Objetivos, métodos e técnicas de 
intervenção do psicólogo no campo 
institucional. 
 
 Vamos falar de coisa boa, vamos falar de Psicologia Institucional. A 
psicologia institucional não deve ser confundida com a psicologia 
organizacional nem com a psicologia do trabalho. Segundo Guirado (2009) 
a Psicologia Institucional não deve ser entendida, também, como uma área 
de atuação profissional, ao lado daquelas já conhecidas (clínica, social e 
do trabalho, escolar, experimental), mas como um modo de fazer 
concretamente a psicologia; um modo de produzi-la na interface com 
outras modalidades do conhecimento humano (Guirado, 2009). Perceba 
que a elevação do conceito e a postura de Guirado é justificada pelo seu 
apreço à Psicologia Institucional e ao conjunto de conceitos aos quais a 
mesma se contrapôs. Em outras palavras, podemos dizer que a Psicologia 
Institucional é o nome dado à abordagem das Instituições, fundamentada 
no referencial psicanalítico que possui métodos e objetivos próprios. 
 Apesar dessa terminologia não estar limitada ao viés psicanalítico, 
para o nosso caso importará saber que os conceitos aqui trabalhados e 
seus subtítulos estão contidos nas concepções de Bleger sobre a 
Psicologia Institucional e alguns outros poucos autores. Caso você tenha 
estudado um pouco antes e associado esse conceito à ideia de psicologia 
organizacional clássica, cometeu um equívoco. Aqui, trata-se mais de levar 
a psicoterapia para uma adaptação organizacional do que trabalhar 
conceitos organizacionais de desempenho, seleção e administração no 
convívio institucional. Apesar das duas áreas possuírem correlações, 
veremos, no decorrer deste tópico, as diferenças entre as duas. 
 Inicialmente, é importante deixar claro que existem algumas 
vertentes da Psicologia Institucional. Daremos prioridade para dois autores 
que merecem destaque nessa área: Bleger e Guirado. Nos dois casos 
temos uma atuação psicanalítica interpretada sob o viés institucional. 
Existem outros autores, como Lapassade (que será citado aqui) e Rogers. 
Mas Bleger e Guirado que efetuam os esforços mais qualificados e 
consistentes para descrever a atuação da Psicologia Institucional e que 
referenciarão 99% das questões de qualquer concurso sobre o tema. 
 Vamos a um recorte da teoria antes de separarmos o pensamento 
de Bleger e de Guirado: 
O nome Psicologia Institucional inclui uma variedade de formas de 
atuação, não estando, portanto, apenas restrita ao trabalho, mas também 
	
	
13 
podendo ser apropriada em tais espaços. Essas formas estão além de 
apenas incluir a intervenção em uma instituição (escola, hospital, empresa, 
comunidade etc.); possuem em comum a ênfase à instituição como um 
todo como objeto de intervenção. Além disso, para a Psicologia 
Institucional, os sujeitos são percebidos como constituídos e constitutivos 
das relações institucionais. Essa concepção privilegia a posição do sujeito 
na estrutura e não suas capacidades individuais. Assim, os conflitos são 
considerados como expressões dessa articulação de posições e não 
como sintoma de um indivíduo que está na instituição. 
Bleger, psicanalista argentino, é um dos autores que se destaca 
nessa corrente com sua abordagem da psico-higiene e psicologia 
institucional. Para o autor, o psicólogo deve atuar na promoção de saúde 
(psico-higiene) e para isso deve passar do enfoque individual ao social. 
Seu objetivo deve ser o de conseguir a melhor organização e as condições 
que tendem a promover a saúde dos integrantes da instituição, através de 
uma intervenção sobretudo intergrupal. Ele destaca que o psicólogo não 
deve ser o profissional da alienação, submissão ou desumanização. O ser 
humano, sua saúde e sua integração constituem seu objetivo de trabalho. 
Lapassade propõe uma intervenção que assume um caráter 
político imediato: o trabalho em âmbito organizativo dos grupos no sentido 
da libertação da palavra social e da tomada de decisão por esses grupos. 
Para o autor, é a ação que faz a análise, e o analista será sempre “um com 
os outros” no processo de pensar e executar as decisões do grupo. O 
lugar que o grupo trabalhado ocupa na estrutura de poder, entre os 
grupos da organização, é diretamente defrontado e trazido como objeto 
de análise. As relações de poder são o centro das reflexões. 
Guirado traz que a Psicologia Institucional se propõe a fazer uma 
análise do cotidiano por meio de uma fala que veicula 
reconhecimento/desconhecimento sobre ele. O efeito é o de estabelecer, 
na validação do vivido, um “corte” para pensar. 
Fonte: 
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4992/000507648.pdf
?sequence=1 
 
 Vamos organizar um pouco os nossos conhecimentos para não 
perdermos o rumo. Na psicologia Institucional, os sujeitos são entendidos 
(somente) a partir do contexto em que se insere. Isso funciona tanto para 
instituições como o trabalho como para a família. Nessas instituições ele 
desempenha papéis e estabelece relações institucionais. Quando um 
conflito surge, não é a manifestação da doença do indivíduo apenas, mas 
um problema das relações institucionais. 
	
1 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
 Para Bleger o psicólogo tem um papel fundamental na psico-
higiene (sinônimo de promoção de saúde mental no âmbito laboral) e 
deve abandonar sua psicologia individualista para uma psicologia social. 
Seu método de intervenção é, sobretudo, intergrupal. Tranquilo até aqui? 
Grifou? 
 Falaremos um pouquinho de Bleger e prometo mudar de assunto 
depois, combinado? 
 
 
Bleger 
 Temos um pai do termo “Psicologia Institucional”: J. Bleger. Ele foi 
um psiquiatra argentino de orientação psicanalítica inglesa que aliou 
psicanálise e marxismo para pensar a atuação do profissional em 
psicologia para além das práticas terapêuticas e consultorias. Para Bleger, 
a Psicologia Institucional, em sua essência, seria uma junção entre a 
psicanálise e a psicologia social. Isso significa que as dimensões analíticas 
e o contexto social devem ser objetos de análise para que o sujeito seja 
entendido a partir da ótica institucional. 
 Esse autor retoma e amplia os estudos sobre grupos, entendendo 
que a instituição é um grupo que resulta dos vários acordos que se 
estabelecem entre a organização e as pessoas a quem a organização 
delega as atribuições, contidas nas suas funções. Através do 
entendimento da dinâmica institucional, ele enfatiza a importância de 
discriminarmos objetivos do psicólogo e os objetivos da instituição. Propõe 
que a psicologia institucional se constitua num processo de investigação e 
ação, onde o método clínico de indagação operativa é o instrumento 
básico de pesquisa. Questiona também o papel social do psicólogo, 
chamando atenção sobrea melhor administração dos recursos deste 
profissional, propondo uma abordagem preferencial preventiva e de 
promoção de saúde. 
 
Instituição: grupo que resulta dos vários acordos que se estabelecem 
entre a organização e as pessoas a quem a organização delega as 
atribuições, contidas nas suas funções. 
 
 Em seu livro Psico-higiene e Psicologia Inst i tucional , fica claro 
que o psicólogo opera com os grupos, desde os de contato direto com a 
clientela até a direção, por meio de um enquadre que preserva os 
princípios básicos do trabalho clínico psicanalítico, bem como suas 
	
	
15 
justificativas. Ainda, a compreensão que tem das relações interpessoais 
guarda uma formulação muito interessante: a da simbiose e ambiguidade 
nos vínculos e ele mesmo aproxima essa compreensão às ideias de M. 
Klein a respeito de posições nas relações de objeto; mais do que ao 
conceito de narcisismo em Freud (Guirado, 2009). 
 O psicólogo, no contexto institucional, atua como uma interface 
entre a atuação clínica e a de pesquisador organizacional. Para Bleger o 
campo institucional: 
a) é um campo de aplicação da psicologia, mas também é 
um campo de investigação; 
b) é um campo eminentemente prático e a constatação da 
realidade deve ser o núcleo da ciência (é a prática é que deve 
influenciar na formação da teoria). 
 
 E o que é o método clínico de indagação operativa? Bleger fala 
que o método se caracteriza por uma observação detalhada, cuidadosa e 
completa, realizada em um enquadramento rigoroso. Este enquadramento 
(enquadre) pode-se definir como o conjunto das condições nas quais se 
realiza a observação e constitui uma fixação de variáveis que tanto nos 
serve tanto como meio de padronização como de sistema de referência 
do observado. 
Em outras palavras, a compreensão da dinâmica institucional ocorre 
através da indagação operativa, que é um processo descrito a partir dos 
seguintes pressupostos: 
a) observação de acontecimentos e seus detalhes, com a 
continuidade ou sucessão em que os mesmos se dão; 
b) compreensão do significado dos acontecimentos e da 
forma como eles se relacionam ou integram; 
c) incluir os resultados da dita compreensão, no momento 
oportuno, em forma de interpretação, assinalamento ou 
reflexão; 
d) considerar o passo anterior como uma hipótese que ao ser 
emitida inclui-se como um nova variável, e o registro de seu 
efeito. 
 Para o próprio psicólogo não se trata de uma “aplicação” da 
psicologia – que conduz rapidamente a estereótipos -, mas sim a de uma 
conjunção de sua condição de profissional e investigador. A investigação 
modifica o investigador e o objetivo de estudo, o que, por sua vez, é 
investigado na nova condição modificada. 
	
1 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
Os objetivos da instituição na contratação do psicólogo devem estar bem 
claros. Além disso, o psicólogo deve identificar, em qualquer contexto 
institucional, quais são os objetivos implícitos das demandas formais e 
informais a respeito do seu trabalho. Cabe destacar inicialmente que cada 
tarefa solicitada ao psicólogo deve ter um enquadramento particular em 
função da unidade e da totalidade da instituição. Destaca-se que o próprio 
Bleger afirma que dentro do contexto institucional, o psicólogo não pode 
se fixar de modo hierarquicamente submisso. Ele não deve ser um 
psicólogo empregado, mas um psicólogo consultor. Impõe-se assim um 
distanciamento entre o objeto de estudo e o psicólogo, o que é benéfico 
para o trabalho. 
 
Nota Rápida: Consultor é uma pessoa que está em posição de exercer 
alguma influência sobre um indivíduo, grupo ou organização, mas não tem 
poder direto para produzir mudanças ou programas de implementação. 
Esta atividade visa à investigação, identificação estudos e soluções de 
problemas gerais ou parciais, atinentes à estrutura, ao funcionamento e à 
administração de empresas e entidades privadas ou estatais. A consultoria 
externa possui entre suas atribuições “ensinar” ao gestor a realizar 
algumas ações em sua empresa. Enquanto que o consultor interno 
colabora com a elaboração da visão, missão e objetivos da empresa, 
realiza suas atividades visando à efetivação dos planos elaborados pela 
empresa e buscando atingir as metas estabelecidas junto à organização. 
Para Bleger, o psicólogo tem um papel consultivo lato sensu. 
 
 Nessa visão de atravessar hierarquias, o psicólogo deve 
ultrapassar e reconhecer os sintomas dos problemas que são indicados na 
"queixa" da instituição para não ficar preso e atrelado apenas ao que os 
administradores demandam. Essa questão da vinculação direta com os 
administradores seria um dos problemas da inserção do psicólogo na 
instituição. Outro problema é a divergência entre objetivos de trabalho 
diferentes. Não adiantará tentar mudar aspectos de uma instituição se as 
pessoas que dela fazem parte não julgam úteis as mudanças. Assim, se 
uma instituição apresenta uma vontade muito divergente em relação ao 
psicólogo, o seu trabalho restará impossível. 
 O compromisso do psicólogo é de sempre tentar mudar o que 
está errado e não de mudar as suas prioridades em decorrência das 
vontades administrativas ou dos empregados. Por motivos óbvios o seu 
trabalho deve estar contextualizado e isso não deve implicar em uma 
superposição de vontades do psicólogo de forma totalitária sobre a 
instituição. Esse deve manter-se comprometido com a natureza da 
psicologia institucional: perceber quais são as mudanças necessárias e 
	
	
17 
desejáveis em cada instituição, e assessorar o processo dinâmico da 
referida instituição. 
 O levantamento de dados iniciais sobre a relação do psicólogo 
com a instituição é definida por Bleger da seguinte maneira: 
 Dada uma instituição, o psicólogo centra sua atenção na atividade 
humana em que ela tem lugar e no efeito da mesma, para aqueles que 
nela desenvolvem dita atividade. Para isto, impõe-se um mínimo de 
informação sobre a própria instituição que, por exemplo, inclui: 
a) finalidade ou objetivo da instituição; 
b) instalações e procedimentos com os quais se satisfaz seu 
objetivo; 
c) situação geográfica e relações com a comunidade; 
d) relações com outras instituições; 
e) origem e formação; 
f) evolução, história, crescimento, mudanças, flutuações, suas 
tradições; 
g) organização e normas que a regem; 
h) contingente humano que nela intervém: sua estratificação social e 
estratificação de tarefas; 
i) avaliação dos resultados de seu funcionamento; resultado para a 
instituição e para seus integrantes. Itens que a própria instituição 
utiliza para isto. 
Fonte: Bleger, p.38 
 
 Ainda para Bleger, para realizar um diagnóstico adequado, é 
preciso identificar os grupos sociais envolvidos no problema focalizado na 
instituição (seja ela uma escola, indústria, hospital, etc.) e as suas relações 
sociais. Essas duas dimensões devem ser levadas em conta ao se fazer 
um diagnóstico, planejar um método de intervenção e intervir. A grande 
ideia de Bleger foi ter levado o psicólogo do contexto clínico para o 
contexto institucional. Essa tradução ocorre quando mudamos a forma de 
atuar do profissional. Ele deve passar das atividades psicoterápicas 
(doente e cura) à da psico-higiene (população sadia e promoção de 
saúde). Para isso, impõe-se uma passagem dos enfoques individuais aos 
sociais. 
 O psicólogo institucional pode se definir, neste sentido, como um 
técnico da relação interpessoal ou como um técnico dos vínculos 
humanos e, pode se dizer também que é o técnico da explicitação do 
	
1 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
implícito. Ajuda a compreender os problemas e todas as variáveis 
possíveis dos mesmos, mas ele próprio não decide, não resolve nem 
executa. O papel de assessor ou consultor deve ser rigorosamente 
mantido, deixando a solução e execução em mãos dos organismos 
próprios da instituição: o psicólogo não deve ser em nenhum caso nem 
um administrador nem um diretor nem um executivo,nem deve sobrepor-
se na instituição como um novo organismo. 
 O psicólogo é um investigador. A investigação, no contexto da 
psico-higiene, ocorre a partir do método clínico, utilizando indagação 
operativa; esta indagação observa os acontecimentos que se dão na 
instituição, compreendendo o relacionamento entre eles e sua integração, 
visando uma ação e julgamentos mais efetivos por parte do psicólogo 
institucional. 
 Outra técnica importante, citada por Bleger, é o enquadramento. 
Segundo o próprio autor (Psicopr, 2005), essa técnica possui as seguintes 
características: 
a) O psicólogo deve ter dissociação instrumental (ele deve 
estar algo distante do objeto de estudo); 
b) As relações que dizem respeito às funções profissionais 
devem estar claras; quanto dias por semana, a independência 
(desejada, mas nem sempre alcançada...) do psicólogo e 
outros detalhes operacionais devem estar bem claros tão 
rápido quanto for possível; 
c) É necessário o esclarecimento da tarefa (o quanto antes, 
pois é gentil explicar às pessoas o que você estará fazendo 
na instituição); 
d) Este esclarecimento da tarefa deve ser realizado em todos 
os grupos nos quais o psicólogo for agir. Para agir no grupo, 
será necessária a aprovação do trabalho pelo grupo, porque 
trabalhos aceitos por coerção nunca produzem os resultados 
desejados; 
e) É necessário esclarecer como será a informação dos 
resultados (para quem e o que informar); 
f) É importante o segredo profissional. Os relatórios sobre o 
grupo só podem ser apresentados a alguém depois da 
aprovação de todo o grupo; 
g) Deve-se limitar os contatos extraprofissionais e 
principalmente não transmitir informações sobre a tarefa do 
psicólogo extra profissionalmente; 
	
	
19 
h) Tentar não tomar partido por nenhum setor nem posição 
da instituição (embora eu considere a imparcialidade apenas 
uma meta inalcançável); 
i) A função do psicólogo deve ser meramente a de assessor 
ou consultor (não se deve assumir outras funções na 
instituição, como diretoria); 
j) Não assumir responsabilidades alheias; 
k) Não formar superestruturas que desgostem ou se 
sobreponham com as autoridades ou líderes da instituição; 
l) Não fomentar a dependência psicológica; deve-se tentar 
resolvê-la; 
m) Assumir a função de um estudo dos problemas, não 
meramente uma aplicação de métodos aprendidos; 
n) Ter como índice de avaliação o grau de compreensão, 
independência e melhoramento das relações numa 
instituição; 
o) A operatividade da informação depende do grau de 
veracidade e do timing, e ainda, da quantificação. Deve-se 
fazer compreender as relações em um grupo, para isso é 
necessário dar a informação certa na hora e quantidade 
certas. 
p) Reconhecer e investigar as resistências ao trabalho do 
psicólogo; 
q) Deve-se ter como meta uma instituição que seja capaz de 
explicitar e resolver os conflitos (sempre) existentes; 
r) Não aceitar prazos fixos para o cumprimento da tarefa (o 
que pode ser um grande problema). 
 
 Um ponto que sempre deve ser analisado pelo psicólogo é a 
dinâmica institucional. Essa dinâmica institucional refere-se ao grau de 
comprometimento das pessoas com o processo de mudança. Não se 
espera uma instituição livre de conflitos, aliás, conflito é o que se espera 
de um lugar caracterizado pela interação de pessoas. É importante que 
haja algum grau de dinâmica para que o psicólogo possa agir. Menor o 
grau de dinâmica, maior o grau de ataque que o psicólogo sofre em seu 
enquadramento pessoal. Se não há um mínimo grau de dinâmica o 
psicólogo deve desistir de uma possível intervenção. Seu papel não será 
aceito e será boicotado em seu trabalho. 
	
2 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
 O psicólogo é – seja por sua mera presença – um agente de 
mudança e um catalisador ou depositário de conflitos e, por isso, as forças 
operantes na instituição vão agir no sentido de anular ou amortizar suas 
funções e sua ação; uma das modalidades mais comuns em que isto se 
tenta ou se consegue é a de enquistar o psicólogo em alguma atividade 
estereotipada, com o que se consegue um efeito mágico, tranquilizador 
(“há um psicólogo”) ao mesmo tempo em que se alude sua ação ou 
imobilização. 
 Uma das concepções principais que atravessa a obra de Bleger, 
incluídos nessa seara a entrevista psicológica e o seu trabalho 
institucional, é a concepção de promoção de saúde. Essa promoção de 
saúde não encontra equivalência perfeita com a definição de ausência de 
doença, mas a ultrapassa quando postula o enfoque social e psíquico e é 
sinônima, para Bleger, de psico-higiene. 
 Em suma, para Bleger, quem trabalha com psicologia institucional, 
estará, ao mesmo tempo, tomando, tanto a instituição e suas relações 
quanto a intervenção do psicólogo, a partir de uma perspectiva 
psicanalítica; ou da perspectiva de uma psicanálise. Interpretações ou 
assinalamentos, informados por esta compreensão das relações 
institucionais, definem sua inserção nos grupos, seu fazer. Para Guirado 
(2009), muito da psicologia institucional é perdido nas convicções de 
Bleger em função da limitação de atributos e da dificuldade de 
aplicabilidade dos conceitos. 
 No entanto, a posição de Bleger apresenta uma limitação: para ele 
o psicólogo institucional deverá ser apenas um assessor, sem nenhum 
outro vínculo com a Instituição. Obviamente não é esta a realidade da 
maioria dos psicólogos que atuam na área social. 
 
 
Promoção da saúde como paradigma 
reestruturante de intervenção: o papel 
do psicólogo nessa perspectiva e sua 
inserção na equipe multidisciplinar. 
 
Estudamos isso na aula 09 no tópico de equipes multidisciplinares. 
 
 
	
	
21 
 
 
Mediação de Conflitos. 
	
	 Independente de todo o aparato judicial para a promoção da justiça, 
sempre teremos conflitos que não serão levados à esfera jurídica e 
conflitos que são levados à essa esfera, mas que irão sofrer pela sua 
morosidade. A justiça brasileira é caracterizada pelo excesso de processos 
e complexidade recursal, apelatória, o que atrapalha a fiel execução da 
função de justiça. Para tentar desatolar o judiciário, o Conselho Nacional 
de Justiça e o Ministério da Justiça têm incentivado práticas extrajudiciais 
de solução de conflitos, como a negociação, conciliação, mediação e 
arbitragem. Essas práticas extrajudiciais são formas de resolução de lides2. 
 Antes de falarmos das diferenças entre mediação, arbitragem, 
conciliação e negociação, é preciso diferenciar autocomposição (decisão 
proferida pelas partes, por consenso) de heterocomposição (decisão 
proferida por terceiros). 
 Vejamos: 
Autocomposição 
Uma das técnicas de solução de conflitos, que vem 
adquirindo satisfatório crescimento no país é a 
autocomposição, que tem como principal fundamento a 
vontade das partes. 
A principal vantagem da autocomposição é a 
celeridade processual, visto que as próprias partes se ajustam 
para solucionar o conflito. Existem algumas formas de 
autocomposição, sendo as principais: 
a) Autodefesa/Autotutela 
Por regra é proibida, porém é aceita nos casos de 
legítima defesa real e estado de necessidade real, além de 
outros casos específicos; 
b) Conciliação 
Neste caso é eleito um conciliador, que é responsável 
por aproximar as partes na tentativa de que as mesmas 
cheguem a um acordo; 
c) Mediação 
																																																								
2 O conflito é definido como uma lide. Lide é o conflito de interesse caracterizado e que, 
de modo geral, ocorre dentro do Poder Judiciário. 
	
2 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
Semelhante à conciliação, é eleito um mediador que 
além de aproximar as partes ele também já apresenta 
propostas para a solução do conflito; 
Neste caso, é necessário que o mediador possua 
conhecimento técnico para induzir as partes a um acordo; 
d) Transação 
Esta forma de autocomposição possui um elemento 
essencial, a res dúbia – coisa duvidosa; 
É aplicável nos casosonde existe o direito objetivo (ex. 
FGTS não pago), o interessado tem direito, porém, além disto, 
alega que fazia horas-extras no trabalho, esta última alegação 
deve ser provada, existindo dúvida neste caso; 
 
Heterocomposição 
A heterocomposição é a técnica pela qual as partes 
elegem um terceiro para “julgar” a lide com as mesmas 
prerrogativas do poder judiciário. 
As duas formas principais são: Arbitragem (Lei 
9307/96) e Jurisdição. 
Fonte: OLIVEIRA, Geisa Cadilhe de. Técnicas de solução de 
conflitos: autocomposição e heterocomposição. Conteudo 
Juridico, Brasilia-DF: 19 dez. 2013. Disponivel em: 
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.46327&
seo=1>. Acesso em: 29 nov. 2015. 
 
 A jurisdição é a resolução do conflito mediante uma ação que será 
julgada pelo Poder Judiciário. 
 A autotutela é a solução imposta, por meio da força (física, moral, 
econômica, política etc.), por um dos litigantes contra o outro. Na 
linguagem popular, significa “fazer justiça com as próprias mãos”. 
Tanto a autocomposição quanto a heterocomposição são soluções 
de conflitos válidas no nosso sistema vigente, devendo ser devidamente 
utilizadas de forma a resolver os conflitos de interesses existentes. Apesar 
da variedade de métodos existentes, nosso foco será na negociação, 
mediação, arbitragem e conciliação. 
 Segundo Gonçalves e Maciel (Concurso da Magistratura: Noções 
gerais de direito e formação humanística, 2011), a mediação e a conciliação 
são formas alternativas de resolução de conflitos e se enquadram nos 
sistemas não judiciais de composição de litígios. Para esses autores, 
	
	
23 
basicamente o Direito possui duas funções sociais: a de prevenir conflitos 
e de compor conflitos. Previne à medida que o Direito promove um 
disciplinamento social, evitando o quanto possível o choque de interesses. 
Compõe conflito, pois, uma vez estabelecido, o Direito proporciona a 
discussão dos interesses antagônicos das partes no conflito. Alguns 
autores usam acomodação em vez de composição de conflitos. 
Podemos encontrar quatro tipos de composição de conflitos, ainda 
segundo esses autores: 
a) A negociação direta - neste caso, as partes se entendem 
mutuamente e estabelecem um acordo, negociam que uma 
das partes se submete aos interesses da outra de maneira 
que cessa o conflito. 
b) A mediação ou conciliação - quando a negociação direta 
fracassa entra em cena um mediador, ou conciliador, que 
busca um entendimento entre as partes a fim de acomodá-
las, dirimindo as divergências para que não seja necessário às 
partes o litígio. 
c) O arbitramento - neste caso, não existe a consensualidade. 
Um árbitro é escolhido pelas partes para que decida sobre o 
conflito. Apesar de ser extrajudicial, a decisão tem o caráter e 
título exclusivo judicial. 
d) A composição jurídica - quando os casos “a” e “b” 
fracassam, é necessário apelar ao aparato estatal para a 
resolução do litígio. Neste caso, mediante critérios 
conhecidos pelas partes é resolvido o conflito por meio do 
aparelho judicial. 
 
 Perceba que, para esses autores a mediação foi colocada como 
sinônimo da conciliação. Na verdade, esses termos não são sinônimos. 
Mesmo assim, dois pontos são ainda dignos de destaque desses autores: 
É de salientar que tanto da negociação quanto da mediação o 
Estado não participa. São ações que movimentam apenas pessoas 
envolvidas no conflito. Somente no caso de não resolução, o Estado é 
acionado. 
[...] 
É interessante salientar que a composição extrajudicial busca a 
acomodação de conflitos optando pela negociação ou mediação não 
envolve uma coerção sobre os indivíduos envolvidos. Eles devem chegar 
a uma solução pacífica sobre o conflito e que ambos entendam como a 
melhor solução, mesmo nos casos em que há um conciliador. No caso do 
	
2 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
arbitramento, há uma certa coação, uma vez que age segundo normas 
contratuais e previstas em lei, mas a força dessa coação não é tanta, 
como as ações que levam à coação de uma acomodação jurídica. Os 
sistemas não jurídicos são consequência dos novos direitos e de novos 
tipos de conflitos que não existiam, não eram discutidos em décadas 
anteriores. Esses conflitos exigem novos mecanismos procedimentais que 
possam valer na sua composição sem interferência do Estado. Isso força a 
emergência de mudanças estruturais de tribunais, ou novos tribunais, 
novos profissionais, a fim de facilitar uma solução. Solução onde possam 
ser utilizados mecanismos formais ou informais para o litígio. A mediação, 
o arbitramento, ou mesmo a negociação são instrumentos que vêm ao 
encontro dessas questões 
Fonte: Gonçalves e Maciel. Concurso da Magistratura: Noções gerais de 
direito e formação humanística, 2011. 
 
A melhor definição dos procedimentos alternativos na resolução de 
disputas é dada por David Zimmerman e Antônio Mathias Coltro em seu 
livro: Aspectos Psicológicos na Prática Jurídica. Esse livro é de 2002 e é 
importante para a área das práticas jurídicas, mas para fins de concurso, 
apenas o capítulo 35 nos interessa. Mesmo assim, é uma boa indicação 
para a o entendimento de alguns pontos da psicologia jurídica. 
 Esses autores definem: 
a) Negociação: é o processo pelo qual as pessoas, partes, ou 
seus representantes com posições divergentes buscam o 
consenso através do diálogo direto, concedendo e pleiteando 
espontaneamente com estratégias próprias, e resolvendo suas 
próprias dificuldades sem a necessidade de intervenção de 
terceiros. 
b) Arbitragem: é o processo pelo qual as partes, de comum 
acordo, aceitam que um terceiro – o árbitro – tome decisões, ou 
seja, arbitre a solução para uma determinada disputa. Os 
interessados poderão apresentar fatos, testemunhos e 
argumentos que serão julgados, tendo como embasamento 
princípios jurídicos. 
c) Conciliação: é o processo em que um terceiro – o conciliador 
– busca levar as partes a um entendimento com vistas ao 
acordo. Este processo é muitas vezes confundido com a 
Mediação. Embora existam semelhanças, também existem 
diferenças. Esta questão tem levado muitos profissionais do 
direito que trabalham na busca da concordância a acreditarem 
estar mediando conflitos, quando na realidade estão 
conciliando. 
	
	
25 
d) Mediação: é o processo de gestão de controvérsias no qual 
um profissional - o mediador - intervém de forma imparcial e 
neutra, facilitando a comunicação entre os envolvidos, com 
vistas à solução da disputa. Esta solução, de benefício mútuo, 
será construída pelos próprios participantes, a partir da 
identificação dos seus interesses e necessidades, e será 
legitimada através de um acordo voluntário que 
consubstanciará o seu cumprimento. O mediador pode ser 
oriundo de diferentes campos profissionais, distinguindo-se pelo 
fato de possuir capacitação teórica e metodológica específica. 
 
Como percebido, a arbitragem é considerada uma “jurisdição 
privada”. 
Mas Alyson, não entendi a diferença entre conciliação e mediação. 
Calma que explico. A diferença básica está na condução e no nível de 
trabalho adotado. Na mediação os conflitos são administrados pelos 
próprios interessados através de decisões conjuntas – respeitadas as 
individualidades – e aspectos emocionais também são encofados para a 
busca de um consenso comum. Desse modo, os envolvidos são 
protagonistas das decisões assumidas adquirindo habilidades para gerir 
suas próprias diferenças. No contexto familiar, por exemplo, a mediação 
serve para que o indivíduo trabalhe a resolução do conflito do ponto de 
vista familiar e não apenas individual. A conciliação, por sua vez, é 
orientada para o “conflito manifesto”, a queixa trazida pelas partes. É o 
conciliador que conduz o diálogo para a negociação e para o desfecho do 
problema. 
Segundo o CNJ, normalmente a mediação é usada em casos mais 
complexos e a conciliação, nos mais simples. A mediação é indicada nas 
situações de relações continuadas, como as familiares, ea conciliação, nos 
casos eventuais. 
 Podemos fazer a seguinte comparação entre conciliação, mediação 
e arbitragem3: 
 
Conciliação Mediação Arbitragem 
Forma de 
autocomposição do 
Forma de 
autocomposição do 
Forma de 
heterocomposição do 
																																																								
3 Fonte: Márcio André Lopes Cavalcante. Comentários à Lei 13.140/2015 (Lei da 
Mediação). Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br/2015/06/comentarios-lei-
131402015-lei-da.html 
	
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conflito. conflito. conflito. 
O terceiro não decide 
o conflito. Ele facilita 
que as partes 
cheguem ao acordo. 
O terceiro não decide o 
conflito. Ele facilita que 
as partes cheguem ao 
acordo. 
O terceiro é quem 
decide o conflito. 
Atua 
preferencialmente nos 
casos em que não 
houver vínculo anterior 
entre as partes. 
Atua preferencialmente 
nos casos em que 
houver vínculo anterior 
entre as partes 
Atua tanto em um caso 
como no outro. 
Propõe soluções para 
os litigantes. 
Não propõe soluções 
para os litigantes. 
Decide o conflito. 
 
Segundo o Senado Federal: 
Pelo projeto aprovado no Senado [aprovado e em vigor], nas 
questões extrajudiciais qualquer pessoa que tenha confiança das partes 
pode ser mediador. Já para ser mediador judicial, o interessado deve ter 
curso superior completo, formado há pelos menos dois anos em 
instituição reconhecida pelo Ministério da Educação. É também necessário 
que se capacite em uma escola de formação de mediadores reconhecida 
pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ou 
pelos tribunais. 
Os tribunais, por sua vez, deverão manter cadastros atualizados de 
mediadores. A remuneração aos mediadores judiciais será definida pelos 
tribunais e paga pelas partes em conflito. O serviço é gratuito, contudo, 
para pessoas mais pobres. 
 Uma das características da mediação é a agilidade. A judicial deve 
ser resolvida em até 60 dias. Se o prazo não for suficiente, mas a 
negociação estiver caminhando para um pacto, o juiz pode conceder 
tempo extra. Na extrajudicial, não está definido um limite, mas o acordo 
deve ocorrer em até três meses. 
Fonte: http://www12.senado.leg.br/cidadania/edicoes/518/o-que-e-
preciso-para-ser-mediador 
 
Segundo Zimmerman e Coltro (2002), a mediação é uma 
possibilidade de intervir através de uma abordagem interdisciplinar, 
incluindo o jurídico e o psicológico, com o reconhecimento das relações 
de fato juntamente com as de direito. O reconhecimento das relações de 
	
	
27 
fato como possíveis produtoras de efeito jurídico referenda a Mediação, 
que ainda não tem um amparo legal. A simples aplicação da lei não 
resolve, na prática, questões como essa. 
 Fiorelli e Mangini (Psicologia Jurídica, 2012), vão um pouco além e 
definem os Métodos Extrajudiciais de Soluções de Controvérsias (ou 
Conflitos), da seguinte maneira: 
a) Arbitragem – neste método (também adversarial), a decisão 
cabe a um terceiro, o árbitro, escolhido pelas partes. O método 
aplica-se quando há “cláusula compromissória”, ou então, o 
“compromisso arbitral” firmado pelos interessados. A arbitragem 
distingue-se, pois, do julgamento, pelo fato de as partes 
influenciarem diretamente a escolha do(s) árbitro(s), escolhido 
livremente pelos litigantes. Isso se reflete na confiança que 
inspira às partes, baseada na especialidade que detém sobre 
determinada matéria e na idoneidade (consolidada ao longo da 
sua vida profissional e pessoal). 
b) Negociação - a negociação é, e sempre foi, muito utilizada 
para lidar com situações de conflito; as perdas e os ganhos de 
cada parte são colocados na mesa e constituem as cartas com 
as quais a negociação se desenvolve, com objetivos claramente 
definidos. Existe a negociação informal, presente na 
acomodação, e inclusive no aconselhamento. [...] A negociação, 
por outro lado, está presente nos métodos seguintes, a 
conciliação e a mediação, como parte integrante da condução 
dos trabalhos. Ela também pode acontecer no transcorrer da 
arbitragem ou do julgamento, com a participação de 
promotores, advogados e árbitros. 
c) Conciliação – conciliação e mediação constituem métodos 
cooperativos de tratamento de conflitos. Os dois diferem 
substancialmente dos métodos formais anteriores. O objetivo da 
conciliação é colocar fim ao conflito manifesto, isto é, a questão 
trazida pelas partes. O conciliador envolve-se segundo sua visão 
do que é justo ou não; na busca de soluções, interfere e 
questiona os litigantes. O conciliador, entretanto, não tem poder 
de decisão, que deve ser tomada, cooperativamente, pelas 
partes. Na conciliação, não há interesse em buscar ou identificar 
razões ocultas que levaram ao conflito e outras questões 
pessoais dos envolvidos. [...] Não há relação necessária entre as 
partes. O conciliador procura mostrar as vantagens de um 
acordo, ainda que com concessões mútuas, para evitar outros 
tipos de prejuízo (demora, incerteza quanto aos resultados, etc.). 
d) Mediação – na mediação, um terceiro, o mediador, atua para 
promover a solução do conflito por meio do realinhamento das 
divergências entre as partes, os mediandos. Para isso, o 
	
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mediador explora o conflito para identificar os interesses que se 
encontram além ou ocultos pelas queixas manifestas (as 
posições). O mediador não decide, não sugere soluções, mas 
trabalha para que os mediandos as encontrem e se 
comprometam com elas. Reconhecer o ponto de vista do outro 
é fundamental e o mediador empenha-se para que isso 
aconteça. A pedra de toque é a cooperação e são diversas as 
técnicas empregadas. De maneira semelhante ao que acontece 
na conciliação, a mediação abrange a negociação assistida, que 
faz parte do processo. É fundamental que os participantes 
aceitem a ajuda do mediador para lidar com as suas diferenças. 
O marco distintivo da mediação, em relação aos outros 
métodos, encontra-se na presença de conteúdos emocionais no 
desenho do acordo. 
 
 
 
A Lei de Arbitragem 
 
A Lei nº 9.307/96 – Lei de Arbitragem alterou a denominação do 
ato decisório do árbitro para “sentença” arbitral. Por não depender de 
homologação judicial, a sentença arbitral, por si só, produz entre as partes 
e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos 
do Poder Judiciário, constituindo, inclusive, título executivo, na hipótese 
desta ser condenatória, conforme dispõe o artigo 31 da Lei de Arbitragem. 
A lei estipula a possibilidade de cláusula compromissória: 
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de 
seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de 
arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o 
compromisso arbitral. 
 
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da 
qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter 
à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente 
a tal contrato. 
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por 
escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em 
documento apartado que a ele se refira. 
O art. 23 da Lei de Arbitragem determina que a sentença arbitral 
deverá ser proferida no prazo convencionado pelas partes. Se estas nada 
	
	
29 
estipularem no compromisso, dispõe o mesmo artigo que o árbitro deverá 
proferir a sentença no prazo de seis meses, contados da instituição da 
arbitragem, ou da substituição do árbitro, caso esta ocorra. 
A arbitragem, através da prolação da sentença, extingue a 
controvérsia existente entre as partes que a elegeram como meio hábil 
para tal fim, produzindo os efeitos da coisa julgada entre elas. 
Além da coisa julgada, a lei outorga às sentenças condenatórias 
proferidas através da arbitragem a força de título executivo, produzindo 
entre as partes os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do 
Poder Judiciário. 
 Existe a possibilidade de recurso na arbitragem? A Lei de 
Arbitragem, em seuartigo 18, diz o seguinte: 
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que 
proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo 
Poder Judiciário. 
Assim, a decisão é irrecorrível e não necessita de homologação do 
Poder Judiciário. 
No entanto, a Lei permite que a parte que solicite ao árbitro o 
esclarecimento sobre determinado ponto que não ficou totalmente claro, 
ou certa matéria que deveria ser decidida e, por qualquer razão, não o foi. 
Art. 30. No prazo de 5 (cinco) dias, a contar do recebimento 
da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, 
salvo se outro prazo for acordado entre as partes, a parte 
interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá 
solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que: 
I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral; 
II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou 
contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto 
omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão. 
 
 
Tipos de Mediação 
 
 Temos a mediação extrajudicial e a mediação judicial. A mediação 
extrajudicial pode ser realizada por qualquer pessoa ou empresa de 
confiança das partes enquanto que a mediação judicial é feita por 
mediador com nome disponível nos tribunais. 
	
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 O Código do Processo Civil, de 2015, previu a existência dessa 
atividade de mediação por empresas e as denominou “câmaras privadas 
de mediação e conciliação”. 
 Esse assunto está regulamentado em detalhes na Lei nº 
13.140/2015 (Lei da Mediação). 
 
Remuneração da mediação 
 
 E ai? Quem paga a mediação? 
 
Se o conciliador ou mediador for servidor concursado do Tribunal (§ 
6º do art. 167 do CPC 2015), ele receberá remuneração mensal pelo 
exercício do cargo. 
Se o conciliador ou mediador for profissional externo, cadastrado no 
banco de dados do Tribunal: deverá receber por cada trabalho que 
realizar, com remuneração prevista em tabela fixada pelo Tribunal, 
conforme parâmetros estabelecidos pelo CNJ (art. 169 do CPC 2015). 
A remuneração devida aos mediadores judiciais será custeada pelas 
partes. Obs: deverá ser assegurada a gratuidade da mediação para os 
litigantes que forem economicamente necessitados (§ 2º do art. 4º da Lei). 
EXCEÇÃO: a mediação e a conciliação podem ser realizadas como 
trabalho voluntário, observada a legislação pertinente e a regulamentação 
do Tribunal (§ 1º do art. 169 do CPC 2015). 
Fonte: Márcio André Lopes Cavalcante. Comentários à Lei 13.140/2015 (Lei 
da Mediação). Disponível em: 
http://www.dizerodireito.com.br/2015/06/comentarios-lei-131402015-lei-
da.html 
 
Princípios da Mediação 
 
 Segundo Zimmerman e Coltro (2002), o processo mediador rege-se 
por princípios éticos universais, concernentes tanto às partes quanto ao 
mediador. Em relação às partes, os princípios são: 
1) Voluntariedade – este é o critério mais difundido, juntamente 
com a convicção de que a Mediação só será eficaz se os 
participantes estiverem exercendo seu direito de escolha. É a 
participação voluntária dos envolvidos que referenda a 
	
	
31 
Mediação no desejo de evitar um processo judicial litigioso, 
quando: 
a. As partes, por iniciativa própria ou por 
encaminhamento de amigos ou de outros profissionais, 
buscam um mediador não ligado ao judiciário para mediar 
suas disputas. 
b. As partes são encaminhadas por um juiz, que sugere a 
Mediação como um recurso, sendo denominada de 
Mediação preceptiva. A voluntariedade ocorre pela decisão 
ou não de aceitarem esse recurso. Neste caso, o processo 
judicial ficará em suspenso enquanto a Mediação estiver 
em curso. Ao término dela, as partes retornarão ao juiz, 
dando continuidade ao procedimento legal, que poderá ser 
a homologação dos acordos negociados na Mediação. Em 
casos de interrupção ou desistência, ocorrerá a retomada 
do processo legal. O encaminhamento preceptivo é 
polêmico, não tendo aceitação em todos os países. Ele é 
considerado, por alguns, contraditório ao próprio princípio 
da voluntariedade, impregnado que está pelo poder do 
juiz. 
2) Livre decisão – as decisões acordadas durante o processo 
mediador serão de exclusiva responsabilidade dos interessados, 
ficando o mediador apenas como facilitador da comunicação e 
administrados das discussões. Este livre-arbítrio é o princípio 
que fundamenta o cumprimento dos acordos diferenciados, 
diferenciando a Mediação substancialmente da Arbitragem, da 
Conciliação e do Juízo. 
 
Princípios Éticos do Mediador 
 
Seguimos com Zimmerman e Coltro (2002) que dizem que no que 
tange ao mediador, temos como princípios éticos fundamentais que 
regem sua conduta: 
a) Imparcialidade: não estará defendendo os interesses das 
partes, nem representando a nenhuma delas, mas sim 
valorizando cada uma e criando espaços para um recíproco 
respeito e escuta. A imparcialidade não impede que o mediador 
procure eliminar os desequilíbrios que possam ocorrer entre as 
partes, em função da maior ou menor habilidade ou poder de 
negociação de uma delas na busca da equidade, princípio 
básico da justiça. 
b) Neutralidade: é a capacidade de o mediador respeitar as 
diferenças e as idiossincrasias das pessoas, tendo presente a 
	
3 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R 
 
necessidade de adequação ao contexto legal, sem interferir nos 
acordos negociados pelas partes, nem induzir ou influenciar o 
seu conteúdo a partir de sua própria escala de valores. 
c) Confidencialidade: as informações obtidas não poderão ser 
reveladas sem o consentimento das partes, exceto em casos de 
maus-tratos, risco a vida ou delitos graves. 
d) Profissionalização: a Mediação requer do profissional uma 
formação adequada no manejo de conflitos, na administração 
de disputas e na busca de soluções que equalizem os direitos e 
responsabilidades das partes. Quem a exerce deverá passar por 
uma formação teórica prévia e receber treinamento prático e 
específico. É fundamental ao mediador possuir um excelente 
nível de autoconhecimento, empatia, respeito ao outro e escuta 
continente. 
 
Modalidades da Mediação 
 
 Adivinha quem vou citar? Zimmerman e Coltro (2002) novamente. 
 De acordo com os diversos contextos, encontramos diferentes tipos 
de prática da Mediação: 
1) Mediação global e Mediação parcial – quando acorda a 
totalidade das questões referentes à disputa, denomina-se 
Mediação global. Quando alude a apenas alguns tópicos 
específicos, Mediação parcial. 
2) Mediação fechada e Mediação aberta – a Mediação fechada 
ocorre quando as informações obtidas no transcurso do 
procedimento incluem unicamente os itens acordados pelas 
partes no termo de entendimento sendo os demais somente 
citados. No caso da Mediação aberta, o mediador poderá incluir 
no relato, quando necessário, informações reveladas no 
processo de Mediação. 
3) Mediação intrajudicial e Mediação extrajudicial – a 
Mediação poderá ser intrajudicial quando se desenvolver no 
âmbito da tramitação do processo judicial independentemente 
do momento processual. Ela requer um encaminhamento 
judicial, com suspensão temporária do processo. A Mediação 
extrajudicial é independente de um processo judicial e ocorre 
fora do seu âmbito, podendo ser administrada por pessoa física 
ou associação sem ferir aspectos legais. Ela poderá também ser 
encaminhada por um juiz, havendo da mesma forma a 
interrupção do processo. 
	
	
33 
4) Mediação pública e Mediação privada – os vínculos 
empregatícios do mediador com uma associação Judiciária, ou 
com outras instituições públicas, caracteriza a Mediação pública. 
Já a Mediação privada é exercida por um mediador profissional 
autônomo, ou por um membro do quadro de mediadores e 
associações profissionais. 
5) Mediação simples e co-Mediação – em relação ao número 
de mediadores, podemos diferenciar a Mediação simples, na 
qual haverá um único profissional a intervir, da co-Mediação, em 
que trabalhará uma equipe de profissionais, com semelhante oudiferentes formações, ao mesmo tempo ou alternando suas 
intervenções, dependendo das peculiaridades do caso. 
 
Antes de encerrarmos, vamos aprofundar em duas legislações que 
você deve dominar. 
 
Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010 
 
Não, essa resolução não cairá em seu concurso (espero eu), mas é 
digna de destaque pelos conceitos (posições) adotados sobre a 
conciliação e mediação. Essa resolução dispõe, entre outras coisas, sobre 
o tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder 
Judiciário. Veja: 
CONSIDERANDO que, por isso, cabe ao Judiciário estabelecer 
política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos 
conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na 
sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os 
serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam 
sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial 
dos consensuais, como a mediação e a conciliação; 
[...] 
CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são instrumentos 
efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que a sua 
apropriada disciplina em programas já implementados nos país tem 
reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a 
quantidade de recursos e de execução de sentenças; 
[...] 
CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar e 
uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros métodos 
consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar disparidades de 
	
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orientação e práticas, bem como para assegurar a boa execução da 
política pública, respeitadas as especificidades de cada segmento da 
Justiça; 
CONSIDERANDO que a organização dos serviços de conciliação, 
mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos deve 
servir de princípio e base para a criação de Juízos de resolução alternativa 
de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria; 
 
Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos 
conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução 
dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. 
Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe oferecer mecanismos de 
soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, 
como a mediação e a conciliação bem assim prestar atendimento e 
orientação ao cidadão. [...] 
Art. 2º Na implementação da política Judiciária Nacional, com vista à boa 
qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, 
serão observados: 
I - centralização das estruturas judiciárias; 
II - adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e 
mediadores; 
III - acompanhamento estatístico específico. 
[...] 
Art. 12. Nos Centros, bem como todos os demais órgãos judiciários nos 
quais se realizem sessões de conciliação e mediação, somente serão 
admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma deste ato 
(Anexo I), cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso 
de capacitação, podendo fazê-lo por meio de parcerias. 
§ 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no caput 
poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores da 
exigência do certificado de conclusão do curso de capacitação, mas 
deverão disponibilizar cursos de treinamento e aperfeiçoamento, na 
forma do Anexo I, como condição prévia de atuação nos Centros. 
§ 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em 
métodos consensuais de solução de conflitos deverão submeter-se 
a reciclagem permanente e à avaliação do usuário. 
§ 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de 
mediadores e conciliadores deverão observar o conteúdo 
programático, com número de exercícios simulados e carga horária 
	
	
35 
mínimos estabelecidos pelo CNJ (Anexo I) e deverão ser seguidos 
necessariamente de estágio supervisionado. 
§ 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do 
entendimento entre as partes ficarão sujeitos ao código de ética 
estabelecido pelo Conselho (Anexo II). 
 
 
Lei nº 13.140, de 26 de junho de 20154. 
 
 Essa lei5 trata da mediação judicial e extrajudicial de conflitos. Mas 
Alyson, a mediação não é método extrajudicial? Sim, e continua sendo, 
mesmo no caso da mediação judicial. Na verdade, esse serviço é 
remunerado pelos tribunais, faz parte dos tribunais, mas o sistema de 
solução da controvérsia é paralelo ao que ocorre no âmbito jurídico. 
A mediação judicial é aquela realizada no curso do processo, dentro 
das dependências do Fórum. Já a mediação extrajudicial é voluntária, ou 
seja, as partes a procuram, e é realizada fora do processo e do ambiente 
do fórum, podendo, no entanto, versar igualmente sobre os casos de 
direito de família e sobre caos que já estejam sob a apreciação do 
judiciário. Outro aspecto relevante é que, na mediação extrajudicial, o 
procedimento é voluntário e, ao contrario da mediação judicial, é realizada 
dentro de dependências particulares dos tribunais. 
Vamos diferenciar os dois tipos de mediação: 
 
Mediação extrajudicial Mediação judicial 
ocorre quando as partes optam por 
tentar resolver o conflito por meio 
da mediação antes de ingressarem 
na via judicial. 
é a que se dá após a ação já ter sido 
proposta, quando, então, as partes 
tentam um acordo facilitado pelo 
mediador. 
As partes pagam os custos da 
mediação. 
As partes pagam os custos da 
mediação. 
As partes escolhem o mediador. ? 
 
																																																								
4 Perceba que existem dois tipos de mediador, o mediador e o mediador judicial. Essa lei 
tratará do mediador judicial. 
5 A Lei da Mediação entrará em vigor no dia 26/12/2015. 
	
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E quem escolhe o mediador judicial? Não sei. Essa polêmica ocorre 
nesse ponto em função das divergências entre a presente lei e o Código 
de Processo Civil de 2015. 
Segundo o Código de Processo Civil de 2015, as partes podem 
escolher o mediador judicial. Veja o que diz o art. 165, § 1º do novo CPC, 
que só entrará em vigor em março de 2016: 
Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o 
conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de 
mediação. 
§ 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes 
poderá ou não estar cadastrado no tribunal. 
 
Segundo a Lei nº 13.140/2015, as partes não podem escolher o 
mediador judicial. Ela diz o seguinte: 
Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos 
à prévia aceitação das partes, observado o disposto no art. 5º 
desta Lei. 
 
 Vamos estudar o que diz a lei. Meus comentários estão em 
vermelho. 
 
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de 
controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no 
âmbito da administração pública. 
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por 
terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas 
partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções 
consensuais para a controvérsia. 
 
 A mediação é um meio autocompositivo, ou seja, é um meio onde 
as partes envolvidas tomam a decisão. Para a lei, a mediação é: 
a) uma atividade técnica: é um procedimento que tem 
características e objetivo próprio; 
b) exercida por terceiro imparcial: o terceiro, o mediador, não 
pode decidir ou privilegiar uma das posições em detrimento 
da outra; 
c) sem poder decisório: o mediador não decide; 
	
	
37 
d) escolhido ou aceito pelas partes: o mediador é de livre 
escolha das partes ou sugerido por terceiro e aceito pelas 
partes; e 
e) que estimula a identificar ou desenvolver soluções 
consensuais para a controvérsia: o mediador tem o papel 
de desenvolver a controvérsia direcionando-a para uma 
resolução pacífica. 
 
CAPÍTULO I - DA MEDIAÇÃO 
Seção I - Disposições Gerais

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