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Alyson Barros Aula 10 22 de novembro Este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o curso. Não adianta sair para protestar contra a corrupção dos outros quando não damos o exemplo. Faça o bom uso desse material de acordo com as instruções aqui oferecidas. Novembro 2015 08 Fall 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Considerações Iniciais Faltam 3 semanas para a sua prova!!! Ê que felicidade!!! Restam poucas vagas no nosso curso presencial dos dias 5 e 6 de dezembro na Aliança Francesa. Corre que ainda dá tempo: www.psicologianova.com.br! Última aula em pdf e temos temas que considero “especiais”. Chamo de especiais pois não se encaixam bem em canto nenhum do edital. A FUNIVERSA é boa, por exemplo, na aplicação da psicologia institucional na escola, mas, e aqui? Nops. Poucas questões e ainda teve a audácia de colocar higiene mental (eu sei que esse conceito é diferente de psico-higiene) e intervenção institucional. Trabalharemos a psicologia institucional bem de leve. E o tópico de orientação familiar? Mais enxuto que ele, só as questões da própria FUNIVERSA. Essa é a nossa aula mais curta, mas você deve dar a mesma atenção de sempre. Vamos começar!!! Objetivos e níveis da higiene mental. Começaremos definindo a higiene mental e a psico0higiene já para não termos problemas. A psico-higiene, método adotado por Bleger, trabalha com pessoas saudáveis e na promoção da saúde. E a higiene mental? O relatório n˚ 31 da OMS de dezembro de 1952 diz que “a higiene mental consiste nas atividades e técnicas que promovem e mantêm a saúde mental”. Assim, a higiene mental é mais ampla, por considerar o lado patológico humano. Vejamos uma breve sistematização: Higiene Mental (Bleger) Psico-higiene (Alyson e Bleger) Higiene mental é o estudo da administração dos conhecimentos, atividades técnicas e recursos psicológicos da saúde e da doença como fenômenos sociais e coletivos. Ela faz parte da higiene mental, mas enfatiza mais a parte saudável humana e a prevenção. Consiste em não esperar que a pessoa doente venha consultar e sim sair a tratar e a intervir nos processos psicológicos que gravitam e afetam a estrutura da personalidade e, portanto, as relações entre os seres 3 humanos, motivando com isto o público para que possa concorrer a solicitar seus serviços em condições que não impliquem doença. Um dos grandes problemas no estudo do conceito de higiene mental para concursos é a sua pouca relação com um movimento mais amplo de saúde que ocorreu no Brasil e no mundo chamado: movimento higienista1. Para esse movimento, o conceito de higiene é um pouco mais amplo, mas ainda relacionado ao que adotaremos. Veja: Em busca da nação saudável, as propostas de higienização dos espaços públicos e dos corpos foram adentrando os lares brasileiros. Nesse contexto urbano, industrial, moderno, à medida que as doenças físicas foram sendo minimizadas, outra preocupação, além daquela circunscrita ao domínio da biologia e da fisiologia, começou a inquietar esses intelectuais: a 'higiene mental'. Nesse sentido, outro membro da Liga Brasileira de Higiene Mental, o médico Carlos Penafiel (1925, p.11) declara: a máquina na indústria moderna, atividades febricitantes impossíveis com o músculo humano, assim também com o músculo animal, mas que vieram requerer muito mais das qualidades cerebrais do operário do que de suas qualidade físicas -, criaram, neste meio século último, novos problemas médicos psico-físicos que estão a desafiar a higiene pública, ou mais especialmente a Higiene Mental. A 'higiene mental' procurou trabalhar em ligação com a 'higiene geral', mas dedicando-se mais particularmente a salvaguardar a saúde psíquica dos indivíduos. Segundo Fontenelle (1925, p.1), devia-se considerar a importância da atividade psíquica profundamente entrelaçada com a física, surgindo, assim, "a higiene mental como uma cogitação especial". A expansão das ações higienistas para este novo campo de atuação - a mente - desenvolveu a ideia de que, mais do que um trabalho curativo, era necessário realizar um trabalho de cunho preventivo, voltado para a vida coletiva, intervindo no comércio, na indústria, na educação, no domínio criminológico, na imigração e, entre eles, na família, pois "os conflitos passam [passaram] a ser conflitos de desajustamento de personalidade. Desajustamentos na família. Desajustamento na sociedade. 1 Tem menos relação ainda com a area organizacional ou com a FUNIVERSA. Paciência. 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Crivado de toda a sorte de solicitações, o cérebro humano tornou-se como um arco retesado, vibrando às menores influências do ambiente" (Ramos, 1941, p.18). Hasteando a nova bandeira da higiene pública, a LBHM tornou-se um importante veículo de defesa da ordem e do progresso nacional, e a família 'mentalmente saudável' e 'moralmente higiênica' estava incluída na estratégia de 'nacionalização'. É importante destacar que esse movimento médico-higienista não teve caráter popular, ou seja, não foi gerado no seio da população em geral. "Tratava-se de um pequeno grupo, em termos numéricos, formado por médicos em sua maioria e, a considerar os padrões da época, com grandes eruditos dentre eles" (Boarini, Yamamoto, 2004, p.63). ... Também é importante pontuar que esse movimento não foi marcado pela homogeneidade de modelos de conhecimento e de prática, pelo contrário, por vezes, eram apresentadas ideias e propostas conflitantes, tais como as ideias eugenistas e higienistas. Entretanto, por mais divergentes que pudessem ser, esses modelos médicos de conhecimento e de prática caracterizavam-se sempre por ter o Estado, constituído como aparelho, como interlocutor e propunham serem dele o discurso e a estratégia política dominantes. Todos exprimiam o propósito de constituir a ordem social e política do capitalismo, sublinhando sempre o caráter objetivo da intervenção científica na sociedade, supondo a ciência como universal e as técnicas como neutras. Os higienistas apontavam o meio como fator decisivo para os problemas de personalidade e desajustes sociais. Já os adeptos da eugenia localizavam o fator decisivo dos males na herança genética. Para nos ajudar nessa diferenciação, citaremos o doutor Mirandolino Caldas, que, em 1932, era o diretor da Clínica de Eufrenia e secretário-geral da Liga Brasileira de Higiene Mental, também membro honorário da Liga Argentina de Higiene Mental. De acordo com o conceito desde muito consagrado, a higiene não é uma ciência no rigor do termo; é, antes, um conjunto de dados e de conhecimentos extraído das ciências físicas e naturais e, particularmente, das ciências médicas, formando um verdadeiro código que ensina ao homem os preceitos indispensáveis á conservação da saúde. A higiene ensina a evitar as doenças e a conservar a saúde dentro de sua relatividade, defende o indivíduo e a sociedade da voragem das epidemias, mas não estuda os meios de firmar o tipo morfologicamente perfeito. Este estudo pertence à eugenia (Caldas, 1932, p.30). 5 Fonte: MOURA, Renata Heller de and BOARINI, Maria Lucia. A saúde da família sob as lentes da higiene mental. Hist. cienc. saude- Manguinhos [online]. 2012, vol.19, n.1 [cited 2013-06-24], pp. 217-235 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 59702012000100012&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104- 5970. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702012000100012. Esse fragmento de texto mostra que o movimento higienista foimaior que o movimento de psico-higiene mental, e era uma oposição ao modelo médico privatista tradicional (que ainda existe). Obviamente que a psico-higiene está alinhada com esse movimento maior, principalmente quando se opõe ao modelo americano e europeu de psicologia baseada no atendimento individual e distanciada da realidade. Além disso, para Bleger (1984), o psicólogo clínico havia se fechado no significado da escola Freudiana, a qual se limitava ao pronto atendimento em salas fechadas e individualizadas. Guirado (1986) diz que o psicólogo deve trabalhar com os recursos que lhe advêm da Psicologia e não como se propõe, atualmente, como que advêm da Psicanálise. Bleger (1984) diz que a função do Psicólogo Clínico não deve ser basicamente a terapia e sim a saúde pública e, dentro dela, a higiene mental. Colocarei, a seguir, um trecho do excelente livro de Bleger intitulado Psico-Higiene e Psicologia Inst itucional , de 1984. Ele avalia a separação do psicólogo clínico da atuação social e conclui que os psicólogos devem ter uma maior responsabilidade social sempre buscando a psico-higiene. Para Guirado (1986), a psico-higiene busca proporcionar condições para a vida e a saúde nos grupos básicos de interação, como a família, a escola, o trabalho, e as atividades comunitárias. Esse livro é a grande referência da área e uma grande provocação aos trabalhos alienantes da psicologia. Bleger fala que o psicólogo clínico deve tomar as rédeas, assim como projetos e ações devem e têm que partir dos próprios profissionais. Capítulo 1 - O psicólogo clínico e a higiene mental ... Objetivos da higiene mental Um dos primeiros objetivos, com o qual historicamente nasce a higiene mental, figura ou se encontra entre os propósitos do movimento 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R que moveu o livro de C. W. Beers, publicado em 1908: "fazer algo pelo doente mental", no sentido de modificar a assistência psiquiátrica, levando-a a condições mais humanas (melhores hospitais e melhor atenção) e com isto à possibilidade de uma maior proporção de curas. Um segundo passo histórico de fundamental importância se dá ao colocar como objetivo já não só o propósito anterior e sim também, basicamente, o diagnóstico precoce das doenças mentais, com o que se possibilita não só uma taxa mais elevada de curas como também diminuição de sofrimentos e do tempo necessário de internação, chegando-se a que esta seja em algumas ocasiões desnecessária. Isto significa que, uma vez preenchidas as necessidades básicas mínimas de leitos, se propenda a uma melhor utilização dos mesmos, com um critério funcional ou dinâmico da internação, mediante o diagnóstico precoce – momentos em que a internação pode ser obviada ou reduzida em sua duração. Isto segue sendo para nós um objetivo fundamental, no nível em que se desenvolve ou realiza a assistência psiquiátrica em nosso país; em geral, o diagnóstico se faz ainda muito tardiamente e se diagnostica a doença mental em momentos ou períodos equivalentes ao do diagnóstico do câncer quando já há caquexia e metástase. Nisto, o psicólogo clínico pode colaborar de maneira muito fundamental, mas a responsabilidade deste problema recai preponderantemente sobre o psiquiatra. Um terceiro objetivo, que foi se delineando cada vez mais firme e nitidamente, já não se refere somente à possibilidade do diagnóstico precoce, e sim basicamente à profilaxia ou prevenção das doenças mentais, agindo antes que estas façam sua aparição e, em consequência, evitando-as. Enquanto que se têm desenvolvido, em certa medida, os objetivos anteriores, aparece na higiene mental a necessidade de atender à reabilitação, quer seja do paciente que deve se reintegrar à vida plena, quer seja do curado com déficit ou sequelas, ou quer seja daquele por quem a medicina curativa não pode fazer nada. O objetivo historicamente mais recente na higiene mental já não se refere tão só à doença ou à sua profilaxia e sim também à promoção de um maior equilíbrio, de um melhor nível de saúde na população. Desta maneira, já não interessa somente a ausência de doença e sim o desenvolvimento pleno dos indivíduos e da comunidade total. A ênfase da higiene mental translada-se, assim, da doença à saúde e, com isto, à atenção da vida cotidiana dos seres humanos. E isto é, para nós, de vital importância e interesse. Estes cinco objetivos da higiene mental não se sucedem cronologicamente e em forma rigorosa em sua aplicação nem tampouco se excluem e, inclusive, os limites entre um e outro não são totalmente nítidos; a terapêutica – por exemplo – rende benefícios diretos à profilaxia 7 enquanto que curar um sujeito pode significar que ele não gravite patologicamente sobre seus filhos e, por outra parte, se atuamos no nível da profilaxia, isto é inseparável do melhoramento do nível da saúde da comunidade. Além disso, não deixa de ser certo que, em boa medida, os conhecimentos necessários para atuar na profilaxia, na reabilitação e na promoção da saúde derivam do campo da patologia e da terapêutica. A profilaxia, como possibilidade concreta, chega muito tarde no campo da psiquiatria, pelo fato de que para desenvolvê-la requer-se conhecer as causas da doença, o qual —em forma cientificamente rigorosa – fica ainda como uma perspectiva do futuro. De tal maneira, a profilaxia específica (atacar uma causa para evitar uma dada doença) só se torna atualmente possível em muito poucos casos (paralisia geral progressiva, por exemplo), de tal maneira que nossa arma profilática mais poderosa no presente é de caráter inespecífico: a proteção da saúde e, com isto, a promoção de melhores condições de vida. ... Âmbitos de atuação Nesta passagem do psicólogo clínico da doença à promoção da saúde, ao encontro das pessoas em suas ocupações e tarefas ordinárias e cotidianas, encontramo-nos nos distintos níveis de organização, entre os quais temos que ter em conta, fundamentalmente, as instituições, os grupos, a comunidade, a sociedade. Uma instituição não é só um lugar onde o psicólogo pode trabalhar; é um nível de sua tarefa. Quando ingressa para trabalhar em uma instituição (escola, hospital, fábrica, clube, etc.), o primeiro que deve fazer é não abrir um gabinete, nem laboratório, nem consultório em atenção aos indivíduos doentes que integram a instituição. Sua primeira tarefa é investigar e tratar a própria instituição; este é o seu primeiro "cliente", o mais importante. Não se deve criar outra instituição dentro da primeira, à maneira de uma superestrutura, porque a psico-higiene não é uma superestrutura que tem que ser manejada à parte ou acrescentada à vida e às instituições, mas sim dentro das mesmas. Deve-se examinar a instituição a partir do ponto de vista psicológico: seus objetivos, funções, meios, tarefas, etc.; as lideranças formais e informais, a comunicação entre os status (vertical) e os intra status (horizontal), etc. Tendo sempre em conta que esta indagação em si já é uma atuação que modifica a instituição e cria, além disso, distintos tipos de tensões com o próprio psicólogo, que este tem que atender como parte integrante de sua tarefa. O psicólogo é, em uma instituição, um colaborador e de nenhuma maneira deve se converter em centro da mesma; suas funções devem se exercer através dos integrantes regulares da mesma. Nesta ordem de coisas, o psicólogo é um especialista em tensões da relação ou comunicação humana e este é o 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R campo específico sobre o qual deve atuar. A psico-higiene em uma instituição deve funcionar engrenada ou incluída no processo regular ou habitual da mesma e não se transformar em uma superestrutura sobreposta. Os que o consultam e os acontecimentos que deve atender não devem ser encarados em função da problemática individual e sim institucional. Um segundo nível, muito relacionado com o anterior,é o da atuação sobre os grupos humanos. É muito variada a composição dos grupos e o psicólogo deve tender a atuar sobre os que configuram "unidades naturais", quer dizer, grupos pré-formados, aqueles que já têm dinamicamente configurada a sua função dentro de determinada instituição social: o grupo familiar, o fabril, o educacional, a equipe de trabalho, etc. Outra de suas modalidades é a dos grupos artificiais, que podem ser homogêneos ou heterogêneos, em idade, sexo, problemática, grau de saúde ou de doença, etc. As técnicas grupais a utilizar devem ser escolhidas, segundo o caso, entre as disponíveis: terapêuticas, de discussão, operativas, de tarefa, etc. O trabalho sobre o nível da comunidade tem que se fazer aproveitando todos os meios de comunicação (rádio, televisão, cartazes, jornais, folhetos, etc.) e os organismos e instituições já existentes (clube, fábrica, escola, hospital, etc.), atuando sobre a problemática, as tarefas e as situações de tensão coletiva. As técnicas são também variadas e devem se adequar aos problemas, objetivos perseguidos e realizações factíveis. Sem ânimo de apresentar uma classificação exaustiva ou integral, os tipos de situação ou de problemática nos quais o psicólogo deve intervir podem se agrupar da seguinte maneira: 1 – Momentos ou períodos do desenvolvimento ou da evolução normal: gravidez, parto, lactância, infância, puberdade, juventude, maturidade, idade crítica, velhice; 2 – Momentos de mudança ou de crise: imigração ou emigração, casamento, viuvez, serviço militar, etc.; 3 – Situações de tensão normal ou anormal nas relações humanas: família, escolas, fábricas, etc.; 4 – Organização e dinâmica de instituições sociais: escolas, tribunais, clubes, etc.; 5 – Problemas que criam ansiedade em momentos ou períodos mais específicos da vida; sexualidade, orientação profissional, escolha de trabalho, etc.; 6 – Situações altamente significativas que requerem informação, educação ou direção: educação das crianças, jogos, ócio em todas as idades, adoção de menores, etc. Como é fácil deduzir, o psicólogo intervém absolutamente em tudo o que inclui ou implica seres humanos, para a proteção de tudo o que concerne aos fatores psicológicos da vida, em suas múltiplas manifestações: interessa-se, em toda a sua amplitude, pela assimilação e integração de experiências em uma aprendizagem adequada, com plena satisfação de todas as necessidades psicológicas. 9 Fora de todos estes aspectos da psico-higiene, mais implicados no objetivo de promoção da saúde, toca também ao psicólogo assumir um papel de importância em todos os enumerados anteriormente: terapêutica, profilaxia, reabilitação, diagnóstico precoce. Detivemo-nos mais especialmente na promoção da saúde porque cremos que é aí onde deve se centrar predominantemente o esforço da higiene mental, ainda que em centros ou dispensários eminentemente terapêuticos ou de reabilitação. Confio que, progressivamente e com esta amplitude, a psico- higiene será o campo específico do psicólogo clínico. Como pode se deduzir do até aqui exposto a psico-higiene não exclui a possibilidade do exercício privado de uma profissão. Aqui o psicólogo encontra-se com uma anomalia muito particular, que, em grande proporção, encontram também bom número de outros profissionais: a de que, com muitíssima frequência, as atividades profissionais mais racionais e socialmente mais produtivas são as menos ou pior remuneradas. Por outra parte, e em forma quase paralela, possuímos em todos os campos da higiene muito mais conhecimentos do que realmente podemos aplicar, devido a limitações econômicas, sociais e políticas. O problema de incrementar a efetividade dos profissionais é distinto ao do melhoramento de sua competência científica e técnica. Fonte: Bleger. Psico-higiene e Psicologia Institucional (1984) – Capítulo 1. Disponível em: http://imagem.casasbahia.com.br/html/conteudo- produto/12-livros/275264/275264.pdf A ênfase da higiene mental desloca-se da doença para a saúde, e assim preocupa-se também com a promoção de um maior equilíbrio, de um melhor nível de saúde na população. Resumindo, os cinco objetivos da higiene mental são: melhores condições na assistência psiquiátrica, diagnóstico precoce, prevenção, reabilitação e promoção da saúde. Eles são melhores explicados ao longo do livro. Tomei a liberdade de resumir de forma mais didática: 1. Melhores condições na assistência psiquiátrica (Instrução): significa aceitar e identificar a doença mental e criar mecanismos de tratamento e prevenção. “Fazer algo pelo doente mental”. A partir dos passos iniciais para conseguir um trato mais humano para o doente mental, se adiantou muito no melhoramento das instituições assistenciais, tanto um incremento não só da quantidade como também da variedade de instituições assistenciais. Os hospitais foram melhores aproveitados, incluindo internações mais breves, melhoria nos tratamentos etc. O ponto culminante desde desenvolvimento foi a criação das 1 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R comunidades terapêuticas, que consiste em modificar a estrutura institucional para converter a organização e as relações em agentes positivos para os seres que a integram. 2. Diagnóstico Precoce: Significa detectar precocemente as doenças mentais pode dar lugar a um aproveitamento maior dos serviços hospitalares. 3. Prevenção da Doença: Ao psicólogo correspondem os aspectos psicológicos desta tarefa e a isto é dado o nome de psicoprofilaxia, a qual se inclui totalmente dentro da higiene mental, diferente da psico-higiene que a ultrapassa, já que deixa de girar ao redor da doença mental. A psicoprofilaxia não significa prevenção e sim que se deve definir como o emprego dos recursos psicológicos para prevenir doenças. 4. Reabilitação: Consiste na ajuda psicológica ao sujeito curado ou com certo déficit, para que possa se ressituar na comunidade e se reintegrar na sua família, reduzindo o impacto dos favores que desencadearam ou condicionaram sua doença ou que possam voltar a torná-lo doente. A intervenção do psicólogo na reabilitação ultrapassa os limites da higiene mental e atua na higiene como um todo. 5. Promoção da Saúde: A promoção da saúde se inclui na denominação de prevenção positiva, denominação que não consideramos adequada porque implica fazer girar a saúde e todos os fenômenos humanos ao redor da medicina e da doença. Os dois primeiros objetivos (instrução e diagnóstico precoce) requerem uma ampla participação do psicólogo, não só quanto ao psicodiagnóstico e a psicoterapia, mas também na difusão de conhecimentos que alertem a comunidade para solicitar ajuda médica ou psicológica, combater os preconceitos da doença mental, ter atenção aos fatores psicológicos intervindo no funcionamento das instituições assistenciais etc. Quanto à tarefa frente ao doente e ao possível doente, o psicólogo é um profissional que desempenha dentro do campo da higiene mental, um papel de integrante de uma equipe ou assessor ou consultor; mas frente aos organismos que enfrentam o problema da doença mental, sua tarefa pertence mais ao campo da psico-higiene. Além disso, dentro da prevenção ou da profilaxia da doença mental, tem-se a diferença entre prevenção específica e inespecífica. A 11 específica se trata de combater determinada causa ou elo da série causal. A segunda não pode-se agir sobre causas específicas, seja porque não existem ou seja porque não as conhecemos. As situações não médicas correspondem ao psicólogo, quer seja por sua ação direta ou por seu assessoramento a outros profissionais em tudo o que significa atender os fatores psicológicos perturbados na vida corrente em suas múltiplas manifestações e fenômenos humanos. E os níveis de análise e promoção da psico-higiene: Nível 1: as instituições Nível 2: os grupos Nível 3: a comunidade Nível 4: a sociedade. Observe quetanto nos objetivos quanto nos níveis, não há hierarquia! Para finalizar esse assunto, encontrei uma opinião bastante acalorada que remete à atuação do psicólogo em equipes. O objetivo mais recente da higiene mental não mais é a doença ou à sua profilaxia e sim a promoção de um maior equilíbrio, de um melhor nível de saúde na população. Ou seja, tira-se o foco da doença ou ausência da mesma, e sim o desenvolvimento pleno dos indivíduos e da comunidade total. E essa é a grande questão de nossa discussão: o psicólogo clínico ocupa um lugar em toda a equipe da saúde pública, em qualquer e em todos os objetivos da higiene mental nos quais tem funções específicas a cumprir (as da psico-higiene). Devemos é claro estudar e ficar prevenidos a atitudes e aos preconceitos dos outros profissionais e até mesmo de outros psicólogos frente a psico-higiene. Não dando margem para que possa ser vista a psicologia clínica como impotente nem tão pouco como onipotente. O profissional deve agir em sua condição inseparável de ser humano: um não deve absorver nem anular o outro. Fonte: http://humanopsc.blogspot.com.br/2011/11/resenha-sobre- psico-higiene.html 1 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Objetivos, métodos e técnicas de intervenção do psicólogo no campo institucional. Vamos falar de coisa boa, vamos falar de Psicologia Institucional. A psicologia institucional não deve ser confundida com a psicologia organizacional nem com a psicologia do trabalho. Segundo Guirado (2009) a Psicologia Institucional não deve ser entendida, também, como uma área de atuação profissional, ao lado daquelas já conhecidas (clínica, social e do trabalho, escolar, experimental), mas como um modo de fazer concretamente a psicologia; um modo de produzi-la na interface com outras modalidades do conhecimento humano (Guirado, 2009). Perceba que a elevação do conceito e a postura de Guirado é justificada pelo seu apreço à Psicologia Institucional e ao conjunto de conceitos aos quais a mesma se contrapôs. Em outras palavras, podemos dizer que a Psicologia Institucional é o nome dado à abordagem das Instituições, fundamentada no referencial psicanalítico que possui métodos e objetivos próprios. Apesar dessa terminologia não estar limitada ao viés psicanalítico, para o nosso caso importará saber que os conceitos aqui trabalhados e seus subtítulos estão contidos nas concepções de Bleger sobre a Psicologia Institucional e alguns outros poucos autores. Caso você tenha estudado um pouco antes e associado esse conceito à ideia de psicologia organizacional clássica, cometeu um equívoco. Aqui, trata-se mais de levar a psicoterapia para uma adaptação organizacional do que trabalhar conceitos organizacionais de desempenho, seleção e administração no convívio institucional. Apesar das duas áreas possuírem correlações, veremos, no decorrer deste tópico, as diferenças entre as duas. Inicialmente, é importante deixar claro que existem algumas vertentes da Psicologia Institucional. Daremos prioridade para dois autores que merecem destaque nessa área: Bleger e Guirado. Nos dois casos temos uma atuação psicanalítica interpretada sob o viés institucional. Existem outros autores, como Lapassade (que será citado aqui) e Rogers. Mas Bleger e Guirado que efetuam os esforços mais qualificados e consistentes para descrever a atuação da Psicologia Institucional e que referenciarão 99% das questões de qualquer concurso sobre o tema. Vamos a um recorte da teoria antes de separarmos o pensamento de Bleger e de Guirado: O nome Psicologia Institucional inclui uma variedade de formas de atuação, não estando, portanto, apenas restrita ao trabalho, mas também 13 podendo ser apropriada em tais espaços. Essas formas estão além de apenas incluir a intervenção em uma instituição (escola, hospital, empresa, comunidade etc.); possuem em comum a ênfase à instituição como um todo como objeto de intervenção. Além disso, para a Psicologia Institucional, os sujeitos são percebidos como constituídos e constitutivos das relações institucionais. Essa concepção privilegia a posição do sujeito na estrutura e não suas capacidades individuais. Assim, os conflitos são considerados como expressões dessa articulação de posições e não como sintoma de um indivíduo que está na instituição. Bleger, psicanalista argentino, é um dos autores que se destaca nessa corrente com sua abordagem da psico-higiene e psicologia institucional. Para o autor, o psicólogo deve atuar na promoção de saúde (psico-higiene) e para isso deve passar do enfoque individual ao social. Seu objetivo deve ser o de conseguir a melhor organização e as condições que tendem a promover a saúde dos integrantes da instituição, através de uma intervenção sobretudo intergrupal. Ele destaca que o psicólogo não deve ser o profissional da alienação, submissão ou desumanização. O ser humano, sua saúde e sua integração constituem seu objetivo de trabalho. Lapassade propõe uma intervenção que assume um caráter político imediato: o trabalho em âmbito organizativo dos grupos no sentido da libertação da palavra social e da tomada de decisão por esses grupos. Para o autor, é a ação que faz a análise, e o analista será sempre “um com os outros” no processo de pensar e executar as decisões do grupo. O lugar que o grupo trabalhado ocupa na estrutura de poder, entre os grupos da organização, é diretamente defrontado e trazido como objeto de análise. As relações de poder são o centro das reflexões. Guirado traz que a Psicologia Institucional se propõe a fazer uma análise do cotidiano por meio de uma fala que veicula reconhecimento/desconhecimento sobre ele. O efeito é o de estabelecer, na validação do vivido, um “corte” para pensar. Fonte: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4992/000507648.pdf ?sequence=1 Vamos organizar um pouco os nossos conhecimentos para não perdermos o rumo. Na psicologia Institucional, os sujeitos são entendidos (somente) a partir do contexto em que se insere. Isso funciona tanto para instituições como o trabalho como para a família. Nessas instituições ele desempenha papéis e estabelece relações institucionais. Quando um conflito surge, não é a manifestação da doença do indivíduo apenas, mas um problema das relações institucionais. 1 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Para Bleger o psicólogo tem um papel fundamental na psico- higiene (sinônimo de promoção de saúde mental no âmbito laboral) e deve abandonar sua psicologia individualista para uma psicologia social. Seu método de intervenção é, sobretudo, intergrupal. Tranquilo até aqui? Grifou? Falaremos um pouquinho de Bleger e prometo mudar de assunto depois, combinado? Bleger Temos um pai do termo “Psicologia Institucional”: J. Bleger. Ele foi um psiquiatra argentino de orientação psicanalítica inglesa que aliou psicanálise e marxismo para pensar a atuação do profissional em psicologia para além das práticas terapêuticas e consultorias. Para Bleger, a Psicologia Institucional, em sua essência, seria uma junção entre a psicanálise e a psicologia social. Isso significa que as dimensões analíticas e o contexto social devem ser objetos de análise para que o sujeito seja entendido a partir da ótica institucional. Esse autor retoma e amplia os estudos sobre grupos, entendendo que a instituição é um grupo que resulta dos vários acordos que se estabelecem entre a organização e as pessoas a quem a organização delega as atribuições, contidas nas suas funções. Através do entendimento da dinâmica institucional, ele enfatiza a importância de discriminarmos objetivos do psicólogo e os objetivos da instituição. Propõe que a psicologia institucional se constitua num processo de investigação e ação, onde o método clínico de indagação operativa é o instrumento básico de pesquisa. Questiona também o papel social do psicólogo, chamando atenção sobrea melhor administração dos recursos deste profissional, propondo uma abordagem preferencial preventiva e de promoção de saúde. Instituição: grupo que resulta dos vários acordos que se estabelecem entre a organização e as pessoas a quem a organização delega as atribuições, contidas nas suas funções. Em seu livro Psico-higiene e Psicologia Inst i tucional , fica claro que o psicólogo opera com os grupos, desde os de contato direto com a clientela até a direção, por meio de um enquadre que preserva os princípios básicos do trabalho clínico psicanalítico, bem como suas 15 justificativas. Ainda, a compreensão que tem das relações interpessoais guarda uma formulação muito interessante: a da simbiose e ambiguidade nos vínculos e ele mesmo aproxima essa compreensão às ideias de M. Klein a respeito de posições nas relações de objeto; mais do que ao conceito de narcisismo em Freud (Guirado, 2009). O psicólogo, no contexto institucional, atua como uma interface entre a atuação clínica e a de pesquisador organizacional. Para Bleger o campo institucional: a) é um campo de aplicação da psicologia, mas também é um campo de investigação; b) é um campo eminentemente prático e a constatação da realidade deve ser o núcleo da ciência (é a prática é que deve influenciar na formação da teoria). E o que é o método clínico de indagação operativa? Bleger fala que o método se caracteriza por uma observação detalhada, cuidadosa e completa, realizada em um enquadramento rigoroso. Este enquadramento (enquadre) pode-se definir como o conjunto das condições nas quais se realiza a observação e constitui uma fixação de variáveis que tanto nos serve tanto como meio de padronização como de sistema de referência do observado. Em outras palavras, a compreensão da dinâmica institucional ocorre através da indagação operativa, que é um processo descrito a partir dos seguintes pressupostos: a) observação de acontecimentos e seus detalhes, com a continuidade ou sucessão em que os mesmos se dão; b) compreensão do significado dos acontecimentos e da forma como eles se relacionam ou integram; c) incluir os resultados da dita compreensão, no momento oportuno, em forma de interpretação, assinalamento ou reflexão; d) considerar o passo anterior como uma hipótese que ao ser emitida inclui-se como um nova variável, e o registro de seu efeito. Para o próprio psicólogo não se trata de uma “aplicação” da psicologia – que conduz rapidamente a estereótipos -, mas sim a de uma conjunção de sua condição de profissional e investigador. A investigação modifica o investigador e o objetivo de estudo, o que, por sua vez, é investigado na nova condição modificada. 1 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Os objetivos da instituição na contratação do psicólogo devem estar bem claros. Além disso, o psicólogo deve identificar, em qualquer contexto institucional, quais são os objetivos implícitos das demandas formais e informais a respeito do seu trabalho. Cabe destacar inicialmente que cada tarefa solicitada ao psicólogo deve ter um enquadramento particular em função da unidade e da totalidade da instituição. Destaca-se que o próprio Bleger afirma que dentro do contexto institucional, o psicólogo não pode se fixar de modo hierarquicamente submisso. Ele não deve ser um psicólogo empregado, mas um psicólogo consultor. Impõe-se assim um distanciamento entre o objeto de estudo e o psicólogo, o que é benéfico para o trabalho. Nota Rápida: Consultor é uma pessoa que está em posição de exercer alguma influência sobre um indivíduo, grupo ou organização, mas não tem poder direto para produzir mudanças ou programas de implementação. Esta atividade visa à investigação, identificação estudos e soluções de problemas gerais ou parciais, atinentes à estrutura, ao funcionamento e à administração de empresas e entidades privadas ou estatais. A consultoria externa possui entre suas atribuições “ensinar” ao gestor a realizar algumas ações em sua empresa. Enquanto que o consultor interno colabora com a elaboração da visão, missão e objetivos da empresa, realiza suas atividades visando à efetivação dos planos elaborados pela empresa e buscando atingir as metas estabelecidas junto à organização. Para Bleger, o psicólogo tem um papel consultivo lato sensu. Nessa visão de atravessar hierarquias, o psicólogo deve ultrapassar e reconhecer os sintomas dos problemas que são indicados na "queixa" da instituição para não ficar preso e atrelado apenas ao que os administradores demandam. Essa questão da vinculação direta com os administradores seria um dos problemas da inserção do psicólogo na instituição. Outro problema é a divergência entre objetivos de trabalho diferentes. Não adiantará tentar mudar aspectos de uma instituição se as pessoas que dela fazem parte não julgam úteis as mudanças. Assim, se uma instituição apresenta uma vontade muito divergente em relação ao psicólogo, o seu trabalho restará impossível. O compromisso do psicólogo é de sempre tentar mudar o que está errado e não de mudar as suas prioridades em decorrência das vontades administrativas ou dos empregados. Por motivos óbvios o seu trabalho deve estar contextualizado e isso não deve implicar em uma superposição de vontades do psicólogo de forma totalitária sobre a instituição. Esse deve manter-se comprometido com a natureza da psicologia institucional: perceber quais são as mudanças necessárias e 17 desejáveis em cada instituição, e assessorar o processo dinâmico da referida instituição. O levantamento de dados iniciais sobre a relação do psicólogo com a instituição é definida por Bleger da seguinte maneira: Dada uma instituição, o psicólogo centra sua atenção na atividade humana em que ela tem lugar e no efeito da mesma, para aqueles que nela desenvolvem dita atividade. Para isto, impõe-se um mínimo de informação sobre a própria instituição que, por exemplo, inclui: a) finalidade ou objetivo da instituição; b) instalações e procedimentos com os quais se satisfaz seu objetivo; c) situação geográfica e relações com a comunidade; d) relações com outras instituições; e) origem e formação; f) evolução, história, crescimento, mudanças, flutuações, suas tradições; g) organização e normas que a regem; h) contingente humano que nela intervém: sua estratificação social e estratificação de tarefas; i) avaliação dos resultados de seu funcionamento; resultado para a instituição e para seus integrantes. Itens que a própria instituição utiliza para isto. Fonte: Bleger, p.38 Ainda para Bleger, para realizar um diagnóstico adequado, é preciso identificar os grupos sociais envolvidos no problema focalizado na instituição (seja ela uma escola, indústria, hospital, etc.) e as suas relações sociais. Essas duas dimensões devem ser levadas em conta ao se fazer um diagnóstico, planejar um método de intervenção e intervir. A grande ideia de Bleger foi ter levado o psicólogo do contexto clínico para o contexto institucional. Essa tradução ocorre quando mudamos a forma de atuar do profissional. Ele deve passar das atividades psicoterápicas (doente e cura) à da psico-higiene (população sadia e promoção de saúde). Para isso, impõe-se uma passagem dos enfoques individuais aos sociais. O psicólogo institucional pode se definir, neste sentido, como um técnico da relação interpessoal ou como um técnico dos vínculos humanos e, pode se dizer também que é o técnico da explicitação do 1 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R implícito. Ajuda a compreender os problemas e todas as variáveis possíveis dos mesmos, mas ele próprio não decide, não resolve nem executa. O papel de assessor ou consultor deve ser rigorosamente mantido, deixando a solução e execução em mãos dos organismos próprios da instituição: o psicólogo não deve ser em nenhum caso nem um administrador nem um diretor nem um executivo,nem deve sobrepor- se na instituição como um novo organismo. O psicólogo é um investigador. A investigação, no contexto da psico-higiene, ocorre a partir do método clínico, utilizando indagação operativa; esta indagação observa os acontecimentos que se dão na instituição, compreendendo o relacionamento entre eles e sua integração, visando uma ação e julgamentos mais efetivos por parte do psicólogo institucional. Outra técnica importante, citada por Bleger, é o enquadramento. Segundo o próprio autor (Psicopr, 2005), essa técnica possui as seguintes características: a) O psicólogo deve ter dissociação instrumental (ele deve estar algo distante do objeto de estudo); b) As relações que dizem respeito às funções profissionais devem estar claras; quanto dias por semana, a independência (desejada, mas nem sempre alcançada...) do psicólogo e outros detalhes operacionais devem estar bem claros tão rápido quanto for possível; c) É necessário o esclarecimento da tarefa (o quanto antes, pois é gentil explicar às pessoas o que você estará fazendo na instituição); d) Este esclarecimento da tarefa deve ser realizado em todos os grupos nos quais o psicólogo for agir. Para agir no grupo, será necessária a aprovação do trabalho pelo grupo, porque trabalhos aceitos por coerção nunca produzem os resultados desejados; e) É necessário esclarecer como será a informação dos resultados (para quem e o que informar); f) É importante o segredo profissional. Os relatórios sobre o grupo só podem ser apresentados a alguém depois da aprovação de todo o grupo; g) Deve-se limitar os contatos extraprofissionais e principalmente não transmitir informações sobre a tarefa do psicólogo extra profissionalmente; 19 h) Tentar não tomar partido por nenhum setor nem posição da instituição (embora eu considere a imparcialidade apenas uma meta inalcançável); i) A função do psicólogo deve ser meramente a de assessor ou consultor (não se deve assumir outras funções na instituição, como diretoria); j) Não assumir responsabilidades alheias; k) Não formar superestruturas que desgostem ou se sobreponham com as autoridades ou líderes da instituição; l) Não fomentar a dependência psicológica; deve-se tentar resolvê-la; m) Assumir a função de um estudo dos problemas, não meramente uma aplicação de métodos aprendidos; n) Ter como índice de avaliação o grau de compreensão, independência e melhoramento das relações numa instituição; o) A operatividade da informação depende do grau de veracidade e do timing, e ainda, da quantificação. Deve-se fazer compreender as relações em um grupo, para isso é necessário dar a informação certa na hora e quantidade certas. p) Reconhecer e investigar as resistências ao trabalho do psicólogo; q) Deve-se ter como meta uma instituição que seja capaz de explicitar e resolver os conflitos (sempre) existentes; r) Não aceitar prazos fixos para o cumprimento da tarefa (o que pode ser um grande problema). Um ponto que sempre deve ser analisado pelo psicólogo é a dinâmica institucional. Essa dinâmica institucional refere-se ao grau de comprometimento das pessoas com o processo de mudança. Não se espera uma instituição livre de conflitos, aliás, conflito é o que se espera de um lugar caracterizado pela interação de pessoas. É importante que haja algum grau de dinâmica para que o psicólogo possa agir. Menor o grau de dinâmica, maior o grau de ataque que o psicólogo sofre em seu enquadramento pessoal. Se não há um mínimo grau de dinâmica o psicólogo deve desistir de uma possível intervenção. Seu papel não será aceito e será boicotado em seu trabalho. 2 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R O psicólogo é – seja por sua mera presença – um agente de mudança e um catalisador ou depositário de conflitos e, por isso, as forças operantes na instituição vão agir no sentido de anular ou amortizar suas funções e sua ação; uma das modalidades mais comuns em que isto se tenta ou se consegue é a de enquistar o psicólogo em alguma atividade estereotipada, com o que se consegue um efeito mágico, tranquilizador (“há um psicólogo”) ao mesmo tempo em que se alude sua ação ou imobilização. Uma das concepções principais que atravessa a obra de Bleger, incluídos nessa seara a entrevista psicológica e o seu trabalho institucional, é a concepção de promoção de saúde. Essa promoção de saúde não encontra equivalência perfeita com a definição de ausência de doença, mas a ultrapassa quando postula o enfoque social e psíquico e é sinônima, para Bleger, de psico-higiene. Em suma, para Bleger, quem trabalha com psicologia institucional, estará, ao mesmo tempo, tomando, tanto a instituição e suas relações quanto a intervenção do psicólogo, a partir de uma perspectiva psicanalítica; ou da perspectiva de uma psicanálise. Interpretações ou assinalamentos, informados por esta compreensão das relações institucionais, definem sua inserção nos grupos, seu fazer. Para Guirado (2009), muito da psicologia institucional é perdido nas convicções de Bleger em função da limitação de atributos e da dificuldade de aplicabilidade dos conceitos. No entanto, a posição de Bleger apresenta uma limitação: para ele o psicólogo institucional deverá ser apenas um assessor, sem nenhum outro vínculo com a Instituição. Obviamente não é esta a realidade da maioria dos psicólogos que atuam na área social. Promoção da saúde como paradigma reestruturante de intervenção: o papel do psicólogo nessa perspectiva e sua inserção na equipe multidisciplinar. Estudamos isso na aula 09 no tópico de equipes multidisciplinares. 21 Mediação de Conflitos. Independente de todo o aparato judicial para a promoção da justiça, sempre teremos conflitos que não serão levados à esfera jurídica e conflitos que são levados à essa esfera, mas que irão sofrer pela sua morosidade. A justiça brasileira é caracterizada pelo excesso de processos e complexidade recursal, apelatória, o que atrapalha a fiel execução da função de justiça. Para tentar desatolar o judiciário, o Conselho Nacional de Justiça e o Ministério da Justiça têm incentivado práticas extrajudiciais de solução de conflitos, como a negociação, conciliação, mediação e arbitragem. Essas práticas extrajudiciais são formas de resolução de lides2. Antes de falarmos das diferenças entre mediação, arbitragem, conciliação e negociação, é preciso diferenciar autocomposição (decisão proferida pelas partes, por consenso) de heterocomposição (decisão proferida por terceiros). Vejamos: Autocomposição Uma das técnicas de solução de conflitos, que vem adquirindo satisfatório crescimento no país é a autocomposição, que tem como principal fundamento a vontade das partes. A principal vantagem da autocomposição é a celeridade processual, visto que as próprias partes se ajustam para solucionar o conflito. Existem algumas formas de autocomposição, sendo as principais: a) Autodefesa/Autotutela Por regra é proibida, porém é aceita nos casos de legítima defesa real e estado de necessidade real, além de outros casos específicos; b) Conciliação Neste caso é eleito um conciliador, que é responsável por aproximar as partes na tentativa de que as mesmas cheguem a um acordo; c) Mediação 2 O conflito é definido como uma lide. Lide é o conflito de interesse caracterizado e que, de modo geral, ocorre dentro do Poder Judiciário. 2 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R Semelhante à conciliação, é eleito um mediador que além de aproximar as partes ele também já apresenta propostas para a solução do conflito; Neste caso, é necessário que o mediador possua conhecimento técnico para induzir as partes a um acordo; d) Transação Esta forma de autocomposição possui um elemento essencial, a res dúbia – coisa duvidosa; É aplicável nos casosonde existe o direito objetivo (ex. FGTS não pago), o interessado tem direito, porém, além disto, alega que fazia horas-extras no trabalho, esta última alegação deve ser provada, existindo dúvida neste caso; Heterocomposição A heterocomposição é a técnica pela qual as partes elegem um terceiro para “julgar” a lide com as mesmas prerrogativas do poder judiciário. As duas formas principais são: Arbitragem (Lei 9307/96) e Jurisdição. Fonte: OLIVEIRA, Geisa Cadilhe de. Técnicas de solução de conflitos: autocomposição e heterocomposição. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 19 dez. 2013. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.46327& seo=1>. Acesso em: 29 nov. 2015. A jurisdição é a resolução do conflito mediante uma ação que será julgada pelo Poder Judiciário. A autotutela é a solução imposta, por meio da força (física, moral, econômica, política etc.), por um dos litigantes contra o outro. Na linguagem popular, significa “fazer justiça com as próprias mãos”. Tanto a autocomposição quanto a heterocomposição são soluções de conflitos válidas no nosso sistema vigente, devendo ser devidamente utilizadas de forma a resolver os conflitos de interesses existentes. Apesar da variedade de métodos existentes, nosso foco será na negociação, mediação, arbitragem e conciliação. Segundo Gonçalves e Maciel (Concurso da Magistratura: Noções gerais de direito e formação humanística, 2011), a mediação e a conciliação são formas alternativas de resolução de conflitos e se enquadram nos sistemas não judiciais de composição de litígios. Para esses autores, 23 basicamente o Direito possui duas funções sociais: a de prevenir conflitos e de compor conflitos. Previne à medida que o Direito promove um disciplinamento social, evitando o quanto possível o choque de interesses. Compõe conflito, pois, uma vez estabelecido, o Direito proporciona a discussão dos interesses antagônicos das partes no conflito. Alguns autores usam acomodação em vez de composição de conflitos. Podemos encontrar quatro tipos de composição de conflitos, ainda segundo esses autores: a) A negociação direta - neste caso, as partes se entendem mutuamente e estabelecem um acordo, negociam que uma das partes se submete aos interesses da outra de maneira que cessa o conflito. b) A mediação ou conciliação - quando a negociação direta fracassa entra em cena um mediador, ou conciliador, que busca um entendimento entre as partes a fim de acomodá- las, dirimindo as divergências para que não seja necessário às partes o litígio. c) O arbitramento - neste caso, não existe a consensualidade. Um árbitro é escolhido pelas partes para que decida sobre o conflito. Apesar de ser extrajudicial, a decisão tem o caráter e título exclusivo judicial. d) A composição jurídica - quando os casos “a” e “b” fracassam, é necessário apelar ao aparato estatal para a resolução do litígio. Neste caso, mediante critérios conhecidos pelas partes é resolvido o conflito por meio do aparelho judicial. Perceba que, para esses autores a mediação foi colocada como sinônimo da conciliação. Na verdade, esses termos não são sinônimos. Mesmo assim, dois pontos são ainda dignos de destaque desses autores: É de salientar que tanto da negociação quanto da mediação o Estado não participa. São ações que movimentam apenas pessoas envolvidas no conflito. Somente no caso de não resolução, o Estado é acionado. [...] É interessante salientar que a composição extrajudicial busca a acomodação de conflitos optando pela negociação ou mediação não envolve uma coerção sobre os indivíduos envolvidos. Eles devem chegar a uma solução pacífica sobre o conflito e que ambos entendam como a melhor solução, mesmo nos casos em que há um conciliador. No caso do 2 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R arbitramento, há uma certa coação, uma vez que age segundo normas contratuais e previstas em lei, mas a força dessa coação não é tanta, como as ações que levam à coação de uma acomodação jurídica. Os sistemas não jurídicos são consequência dos novos direitos e de novos tipos de conflitos que não existiam, não eram discutidos em décadas anteriores. Esses conflitos exigem novos mecanismos procedimentais que possam valer na sua composição sem interferência do Estado. Isso força a emergência de mudanças estruturais de tribunais, ou novos tribunais, novos profissionais, a fim de facilitar uma solução. Solução onde possam ser utilizados mecanismos formais ou informais para o litígio. A mediação, o arbitramento, ou mesmo a negociação são instrumentos que vêm ao encontro dessas questões Fonte: Gonçalves e Maciel. Concurso da Magistratura: Noções gerais de direito e formação humanística, 2011. A melhor definição dos procedimentos alternativos na resolução de disputas é dada por David Zimmerman e Antônio Mathias Coltro em seu livro: Aspectos Psicológicos na Prática Jurídica. Esse livro é de 2002 e é importante para a área das práticas jurídicas, mas para fins de concurso, apenas o capítulo 35 nos interessa. Mesmo assim, é uma boa indicação para a o entendimento de alguns pontos da psicologia jurídica. Esses autores definem: a) Negociação: é o processo pelo qual as pessoas, partes, ou seus representantes com posições divergentes buscam o consenso através do diálogo direto, concedendo e pleiteando espontaneamente com estratégias próprias, e resolvendo suas próprias dificuldades sem a necessidade de intervenção de terceiros. b) Arbitragem: é o processo pelo qual as partes, de comum acordo, aceitam que um terceiro – o árbitro – tome decisões, ou seja, arbitre a solução para uma determinada disputa. Os interessados poderão apresentar fatos, testemunhos e argumentos que serão julgados, tendo como embasamento princípios jurídicos. c) Conciliação: é o processo em que um terceiro – o conciliador – busca levar as partes a um entendimento com vistas ao acordo. Este processo é muitas vezes confundido com a Mediação. Embora existam semelhanças, também existem diferenças. Esta questão tem levado muitos profissionais do direito que trabalham na busca da concordância a acreditarem estar mediando conflitos, quando na realidade estão conciliando. 25 d) Mediação: é o processo de gestão de controvérsias no qual um profissional - o mediador - intervém de forma imparcial e neutra, facilitando a comunicação entre os envolvidos, com vistas à solução da disputa. Esta solução, de benefício mútuo, será construída pelos próprios participantes, a partir da identificação dos seus interesses e necessidades, e será legitimada através de um acordo voluntário que consubstanciará o seu cumprimento. O mediador pode ser oriundo de diferentes campos profissionais, distinguindo-se pelo fato de possuir capacitação teórica e metodológica específica. Como percebido, a arbitragem é considerada uma “jurisdição privada”. Mas Alyson, não entendi a diferença entre conciliação e mediação. Calma que explico. A diferença básica está na condução e no nível de trabalho adotado. Na mediação os conflitos são administrados pelos próprios interessados através de decisões conjuntas – respeitadas as individualidades – e aspectos emocionais também são encofados para a busca de um consenso comum. Desse modo, os envolvidos são protagonistas das decisões assumidas adquirindo habilidades para gerir suas próprias diferenças. No contexto familiar, por exemplo, a mediação serve para que o indivíduo trabalhe a resolução do conflito do ponto de vista familiar e não apenas individual. A conciliação, por sua vez, é orientada para o “conflito manifesto”, a queixa trazida pelas partes. É o conciliador que conduz o diálogo para a negociação e para o desfecho do problema. Segundo o CNJ, normalmente a mediação é usada em casos mais complexos e a conciliação, nos mais simples. A mediação é indicada nas situações de relações continuadas, como as familiares, ea conciliação, nos casos eventuais. Podemos fazer a seguinte comparação entre conciliação, mediação e arbitragem3: Conciliação Mediação Arbitragem Forma de autocomposição do Forma de autocomposição do Forma de heterocomposição do 3 Fonte: Márcio André Lopes Cavalcante. Comentários à Lei 13.140/2015 (Lei da Mediação). Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br/2015/06/comentarios-lei- 131402015-lei-da.html 2 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R conflito. conflito. conflito. O terceiro não decide o conflito. Ele facilita que as partes cheguem ao acordo. O terceiro não decide o conflito. Ele facilita que as partes cheguem ao acordo. O terceiro é quem decide o conflito. Atua preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes. Atua preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes Atua tanto em um caso como no outro. Propõe soluções para os litigantes. Não propõe soluções para os litigantes. Decide o conflito. Segundo o Senado Federal: Pelo projeto aprovado no Senado [aprovado e em vigor], nas questões extrajudiciais qualquer pessoa que tenha confiança das partes pode ser mediador. Já para ser mediador judicial, o interessado deve ter curso superior completo, formado há pelos menos dois anos em instituição reconhecida pelo Ministério da Educação. É também necessário que se capacite em uma escola de formação de mediadores reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ou pelos tribunais. Os tribunais, por sua vez, deverão manter cadastros atualizados de mediadores. A remuneração aos mediadores judiciais será definida pelos tribunais e paga pelas partes em conflito. O serviço é gratuito, contudo, para pessoas mais pobres. Uma das características da mediação é a agilidade. A judicial deve ser resolvida em até 60 dias. Se o prazo não for suficiente, mas a negociação estiver caminhando para um pacto, o juiz pode conceder tempo extra. Na extrajudicial, não está definido um limite, mas o acordo deve ocorrer em até três meses. Fonte: http://www12.senado.leg.br/cidadania/edicoes/518/o-que-e- preciso-para-ser-mediador Segundo Zimmerman e Coltro (2002), a mediação é uma possibilidade de intervir através de uma abordagem interdisciplinar, incluindo o jurídico e o psicológico, com o reconhecimento das relações de fato juntamente com as de direito. O reconhecimento das relações de 27 fato como possíveis produtoras de efeito jurídico referenda a Mediação, que ainda não tem um amparo legal. A simples aplicação da lei não resolve, na prática, questões como essa. Fiorelli e Mangini (Psicologia Jurídica, 2012), vão um pouco além e definem os Métodos Extrajudiciais de Soluções de Controvérsias (ou Conflitos), da seguinte maneira: a) Arbitragem – neste método (também adversarial), a decisão cabe a um terceiro, o árbitro, escolhido pelas partes. O método aplica-se quando há “cláusula compromissória”, ou então, o “compromisso arbitral” firmado pelos interessados. A arbitragem distingue-se, pois, do julgamento, pelo fato de as partes influenciarem diretamente a escolha do(s) árbitro(s), escolhido livremente pelos litigantes. Isso se reflete na confiança que inspira às partes, baseada na especialidade que detém sobre determinada matéria e na idoneidade (consolidada ao longo da sua vida profissional e pessoal). b) Negociação - a negociação é, e sempre foi, muito utilizada para lidar com situações de conflito; as perdas e os ganhos de cada parte são colocados na mesa e constituem as cartas com as quais a negociação se desenvolve, com objetivos claramente definidos. Existe a negociação informal, presente na acomodação, e inclusive no aconselhamento. [...] A negociação, por outro lado, está presente nos métodos seguintes, a conciliação e a mediação, como parte integrante da condução dos trabalhos. Ela também pode acontecer no transcorrer da arbitragem ou do julgamento, com a participação de promotores, advogados e árbitros. c) Conciliação – conciliação e mediação constituem métodos cooperativos de tratamento de conflitos. Os dois diferem substancialmente dos métodos formais anteriores. O objetivo da conciliação é colocar fim ao conflito manifesto, isto é, a questão trazida pelas partes. O conciliador envolve-se segundo sua visão do que é justo ou não; na busca de soluções, interfere e questiona os litigantes. O conciliador, entretanto, não tem poder de decisão, que deve ser tomada, cooperativamente, pelas partes. Na conciliação, não há interesse em buscar ou identificar razões ocultas que levaram ao conflito e outras questões pessoais dos envolvidos. [...] Não há relação necessária entre as partes. O conciliador procura mostrar as vantagens de um acordo, ainda que com concessões mútuas, para evitar outros tipos de prejuízo (demora, incerteza quanto aos resultados, etc.). d) Mediação – na mediação, um terceiro, o mediador, atua para promover a solução do conflito por meio do realinhamento das divergências entre as partes, os mediandos. Para isso, o 2 8 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R mediador explora o conflito para identificar os interesses que se encontram além ou ocultos pelas queixas manifestas (as posições). O mediador não decide, não sugere soluções, mas trabalha para que os mediandos as encontrem e se comprometam com elas. Reconhecer o ponto de vista do outro é fundamental e o mediador empenha-se para que isso aconteça. A pedra de toque é a cooperação e são diversas as técnicas empregadas. De maneira semelhante ao que acontece na conciliação, a mediação abrange a negociação assistida, que faz parte do processo. É fundamental que os participantes aceitem a ajuda do mediador para lidar com as suas diferenças. O marco distintivo da mediação, em relação aos outros métodos, encontra-se na presença de conteúdos emocionais no desenho do acordo. A Lei de Arbitragem A Lei nº 9.307/96 – Lei de Arbitragem alterou a denominação do ato decisório do árbitro para “sentença” arbitral. Por não depender de homologação judicial, a sentença arbitral, por si só, produz entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário, constituindo, inclusive, título executivo, na hipótese desta ser condenatória, conforme dispõe o artigo 31 da Lei de Arbitragem. A lei estipula a possibilidade de cláusula compromissória: Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. § 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. O art. 23 da Lei de Arbitragem determina que a sentença arbitral deverá ser proferida no prazo convencionado pelas partes. Se estas nada 29 estipularem no compromisso, dispõe o mesmo artigo que o árbitro deverá proferir a sentença no prazo de seis meses, contados da instituição da arbitragem, ou da substituição do árbitro, caso esta ocorra. A arbitragem, através da prolação da sentença, extingue a controvérsia existente entre as partes que a elegeram como meio hábil para tal fim, produzindo os efeitos da coisa julgada entre elas. Além da coisa julgada, a lei outorga às sentenças condenatórias proferidas através da arbitragem a força de título executivo, produzindo entre as partes os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário. Existe a possibilidade de recurso na arbitragem? A Lei de Arbitragem, em seuartigo 18, diz o seguinte: Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário. Assim, a decisão é irrecorrível e não necessita de homologação do Poder Judiciário. No entanto, a Lei permite que a parte que solicite ao árbitro o esclarecimento sobre determinado ponto que não ficou totalmente claro, ou certa matéria que deveria ser decidida e, por qualquer razão, não o foi. Art. 30. No prazo de 5 (cinco) dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, salvo se outro prazo for acordado entre as partes, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que: I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral; II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão. Tipos de Mediação Temos a mediação extrajudicial e a mediação judicial. A mediação extrajudicial pode ser realizada por qualquer pessoa ou empresa de confiança das partes enquanto que a mediação judicial é feita por mediador com nome disponível nos tribunais. 3 0 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R O Código do Processo Civil, de 2015, previu a existência dessa atividade de mediação por empresas e as denominou “câmaras privadas de mediação e conciliação”. Esse assunto está regulamentado em detalhes na Lei nº 13.140/2015 (Lei da Mediação). Remuneração da mediação E ai? Quem paga a mediação? Se o conciliador ou mediador for servidor concursado do Tribunal (§ 6º do art. 167 do CPC 2015), ele receberá remuneração mensal pelo exercício do cargo. Se o conciliador ou mediador for profissional externo, cadastrado no banco de dados do Tribunal: deverá receber por cada trabalho que realizar, com remuneração prevista em tabela fixada pelo Tribunal, conforme parâmetros estabelecidos pelo CNJ (art. 169 do CPC 2015). A remuneração devida aos mediadores judiciais será custeada pelas partes. Obs: deverá ser assegurada a gratuidade da mediação para os litigantes que forem economicamente necessitados (§ 2º do art. 4º da Lei). EXCEÇÃO: a mediação e a conciliação podem ser realizadas como trabalho voluntário, observada a legislação pertinente e a regulamentação do Tribunal (§ 1º do art. 169 do CPC 2015). Fonte: Márcio André Lopes Cavalcante. Comentários à Lei 13.140/2015 (Lei da Mediação). Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br/2015/06/comentarios-lei-131402015-lei- da.html Princípios da Mediação Segundo Zimmerman e Coltro (2002), o processo mediador rege-se por princípios éticos universais, concernentes tanto às partes quanto ao mediador. Em relação às partes, os princípios são: 1) Voluntariedade – este é o critério mais difundido, juntamente com a convicção de que a Mediação só será eficaz se os participantes estiverem exercendo seu direito de escolha. É a participação voluntária dos envolvidos que referenda a 31 Mediação no desejo de evitar um processo judicial litigioso, quando: a. As partes, por iniciativa própria ou por encaminhamento de amigos ou de outros profissionais, buscam um mediador não ligado ao judiciário para mediar suas disputas. b. As partes são encaminhadas por um juiz, que sugere a Mediação como um recurso, sendo denominada de Mediação preceptiva. A voluntariedade ocorre pela decisão ou não de aceitarem esse recurso. Neste caso, o processo judicial ficará em suspenso enquanto a Mediação estiver em curso. Ao término dela, as partes retornarão ao juiz, dando continuidade ao procedimento legal, que poderá ser a homologação dos acordos negociados na Mediação. Em casos de interrupção ou desistência, ocorrerá a retomada do processo legal. O encaminhamento preceptivo é polêmico, não tendo aceitação em todos os países. Ele é considerado, por alguns, contraditório ao próprio princípio da voluntariedade, impregnado que está pelo poder do juiz. 2) Livre decisão – as decisões acordadas durante o processo mediador serão de exclusiva responsabilidade dos interessados, ficando o mediador apenas como facilitador da comunicação e administrados das discussões. Este livre-arbítrio é o princípio que fundamenta o cumprimento dos acordos diferenciados, diferenciando a Mediação substancialmente da Arbitragem, da Conciliação e do Juízo. Princípios Éticos do Mediador Seguimos com Zimmerman e Coltro (2002) que dizem que no que tange ao mediador, temos como princípios éticos fundamentais que regem sua conduta: a) Imparcialidade: não estará defendendo os interesses das partes, nem representando a nenhuma delas, mas sim valorizando cada uma e criando espaços para um recíproco respeito e escuta. A imparcialidade não impede que o mediador procure eliminar os desequilíbrios que possam ocorrer entre as partes, em função da maior ou menor habilidade ou poder de negociação de uma delas na busca da equidade, princípio básico da justiça. b) Neutralidade: é a capacidade de o mediador respeitar as diferenças e as idiossincrasias das pessoas, tendo presente a 3 2 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R necessidade de adequação ao contexto legal, sem interferir nos acordos negociados pelas partes, nem induzir ou influenciar o seu conteúdo a partir de sua própria escala de valores. c) Confidencialidade: as informações obtidas não poderão ser reveladas sem o consentimento das partes, exceto em casos de maus-tratos, risco a vida ou delitos graves. d) Profissionalização: a Mediação requer do profissional uma formação adequada no manejo de conflitos, na administração de disputas e na busca de soluções que equalizem os direitos e responsabilidades das partes. Quem a exerce deverá passar por uma formação teórica prévia e receber treinamento prático e específico. É fundamental ao mediador possuir um excelente nível de autoconhecimento, empatia, respeito ao outro e escuta continente. Modalidades da Mediação Adivinha quem vou citar? Zimmerman e Coltro (2002) novamente. De acordo com os diversos contextos, encontramos diferentes tipos de prática da Mediação: 1) Mediação global e Mediação parcial – quando acorda a totalidade das questões referentes à disputa, denomina-se Mediação global. Quando alude a apenas alguns tópicos específicos, Mediação parcial. 2) Mediação fechada e Mediação aberta – a Mediação fechada ocorre quando as informações obtidas no transcurso do procedimento incluem unicamente os itens acordados pelas partes no termo de entendimento sendo os demais somente citados. No caso da Mediação aberta, o mediador poderá incluir no relato, quando necessário, informações reveladas no processo de Mediação. 3) Mediação intrajudicial e Mediação extrajudicial – a Mediação poderá ser intrajudicial quando se desenvolver no âmbito da tramitação do processo judicial independentemente do momento processual. Ela requer um encaminhamento judicial, com suspensão temporária do processo. A Mediação extrajudicial é independente de um processo judicial e ocorre fora do seu âmbito, podendo ser administrada por pessoa física ou associação sem ferir aspectos legais. Ela poderá também ser encaminhada por um juiz, havendo da mesma forma a interrupção do processo. 33 4) Mediação pública e Mediação privada – os vínculos empregatícios do mediador com uma associação Judiciária, ou com outras instituições públicas, caracteriza a Mediação pública. Já a Mediação privada é exercida por um mediador profissional autônomo, ou por um membro do quadro de mediadores e associações profissionais. 5) Mediação simples e co-Mediação – em relação ao número de mediadores, podemos diferenciar a Mediação simples, na qual haverá um único profissional a intervir, da co-Mediação, em que trabalhará uma equipe de profissionais, com semelhante oudiferentes formações, ao mesmo tempo ou alternando suas intervenções, dependendo das peculiaridades do caso. Antes de encerrarmos, vamos aprofundar em duas legislações que você deve dominar. Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010 Não, essa resolução não cairá em seu concurso (espero eu), mas é digna de destaque pelos conceitos (posições) adotados sobre a conciliação e mediação. Essa resolução dispõe, entre outras coisas, sobre o tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. Veja: CONSIDERANDO que, por isso, cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação; [...] CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em programas já implementados nos país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças; [...] CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar disparidades de 3 4 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R orientação e práticas, bem como para assegurar a boa execução da política pública, respeitadas as especificidades de cada segmento da Justiça; CONSIDERANDO que a organização dos serviços de conciliação, mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos deve servir de princípio e base para a criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos, verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria; Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe oferecer mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. [...] Art. 2º Na implementação da política Judiciária Nacional, com vista à boa qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, serão observados: I - centralização das estruturas judiciárias; II - adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e mediadores; III - acompanhamento estatístico específico. [...] Art. 12. Nos Centros, bem como todos os demais órgãos judiciários nos quais se realizem sessões de conciliação e mediação, somente serão admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma deste ato (Anexo I), cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso de capacitação, podendo fazê-lo por meio de parcerias. § 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no caput poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores da exigência do certificado de conclusão do curso de capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de treinamento e aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como condição prévia de atuação nos Centros. § 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos deverão submeter-se a reciclagem permanente e à avaliação do usuário. § 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores e conciliadores deverão observar o conteúdo programático, com número de exercícios simulados e carga horária 35 mínimos estabelecidos pelo CNJ (Anexo I) e deverão ser seguidos necessariamente de estágio supervisionado. § 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do entendimento entre as partes ficarão sujeitos ao código de ética estabelecido pelo Conselho (Anexo II). Lei nº 13.140, de 26 de junho de 20154. Essa lei5 trata da mediação judicial e extrajudicial de conflitos. Mas Alyson, a mediação não é método extrajudicial? Sim, e continua sendo, mesmo no caso da mediação judicial. Na verdade, esse serviço é remunerado pelos tribunais, faz parte dos tribunais, mas o sistema de solução da controvérsia é paralelo ao que ocorre no âmbito jurídico. A mediação judicial é aquela realizada no curso do processo, dentro das dependências do Fórum. Já a mediação extrajudicial é voluntária, ou seja, as partes a procuram, e é realizada fora do processo e do ambiente do fórum, podendo, no entanto, versar igualmente sobre os casos de direito de família e sobre caos que já estejam sob a apreciação do judiciário. Outro aspecto relevante é que, na mediação extrajudicial, o procedimento é voluntário e, ao contrario da mediação judicial, é realizada dentro de dependências particulares dos tribunais. Vamos diferenciar os dois tipos de mediação: Mediação extrajudicial Mediação judicial ocorre quando as partes optam por tentar resolver o conflito por meio da mediação antes de ingressarem na via judicial. é a que se dá após a ação já ter sido proposta, quando, então, as partes tentam um acordo facilitado pelo mediador. As partes pagam os custos da mediação. As partes pagam os custos da mediação. As partes escolhem o mediador. ? 4 Perceba que existem dois tipos de mediador, o mediador e o mediador judicial. Essa lei tratará do mediador judicial. 5 A Lei da Mediação entrará em vigor no dia 26/12/2015. 3 6 W W W . P S I C O L O G I A N O V A . C O M . B R E quem escolhe o mediador judicial? Não sei. Essa polêmica ocorre nesse ponto em função das divergências entre a presente lei e o Código de Processo Civil de 2015. Segundo o Código de Processo Civil de 2015, as partes podem escolher o mediador judicial. Veja o que diz o art. 165, § 1º do novo CPC, que só entrará em vigor em março de 2016: Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação. § 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal. Segundo a Lei nº 13.140/2015, as partes não podem escolher o mediador judicial. Ela diz o seguinte: Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não estarão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o disposto no art. 5º desta Lei. Vamos estudar o que diz a lei. Meus comentários estão em vermelho. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. A mediação é um meio autocompositivo, ou seja, é um meio onde as partes envolvidas tomam a decisão. Para a lei, a mediação é: a) uma atividade técnica: é um procedimento que tem características e objetivo próprio; b) exercida por terceiro imparcial: o terceiro, o mediador, não pode decidir ou privilegiar uma das posições em detrimento da outra; c) sem poder decisório: o mediador não decide; 37 d) escolhido ou aceito pelas partes: o mediador é de livre escolha das partes ou sugerido por terceiro e aceito pelas partes; e e) que estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia: o mediador tem o papel de desenvolver a controvérsia direcionando-a para uma resolução pacífica. CAPÍTULO I - DA MEDIAÇÃO Seção I - Disposições Gerais
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