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Das Teorias Críticas à Construção do Currículo Pós- moderno Objetivos: • Refletir sobre as teorias criticas do currículo e suas repercussões na construção do currículo no Brasil. • Discutir a construção do currículo escolar na pós- modernidade, com ênfase nos aspectos éticos e estéticos das formações. Introdução: As teorias de currículo estão inseridas em momentos históricos e vinculadas a leituras de sociedade e visões de mundo específicas. Na aula de hoje vamos falar sobre a perspectiva de pós- modernidade. Porém, antes vamos voltar no pensamento moderno para entendermos as teorias oriundas desse período e a quebra de paradigmas que desencadeou o pensamento pós-moderno. PARTE I: Modernidade e Currículo Características gerais: • Influência do Iluminismo - (supremacia da razão, antropocentrismo). • Industrialização e Urbanização. • Teorias tradicionais: incorporam pressupostos deste modelo de sociedade. Implicações das Teorias Tradicionais: Escola reprodutora: ❖ Busca eficiência e eficácia. ❖ Define de metas e objetivos mensuráveis. ❖ Estimula competição. Teorias Críticas do Currículo: Surgimento As Teorias Críticas estão inseridas no contexto da Modernidade. Elas questionam o Capitalismo e o papel do Currículo nesse novo modelo de sociedade. Crítica à escola em sua abordagem a aceitação- adaptação- ajuste à ordem social capitalista. Surgimento de estudos e publicações Europa, Canadá, França que se tornaram referências das “teorias críticas do currículo”. Alerta sobre o papel da escola como reprodutora do status quo e das desigualdades sociais. Teóricos que Influenciaram as Teorias Críticas: Teóricos Reprodutivistas: • Defendem que a escola é reprodutora da ordem social estabelecida. • Principais autores “reprodutivistas”: Louis Althusser e Pierre Bourdieu e Jean-Cloude Passerron. • As ideias desses autores (Althusser, Passeron e Bourdieu) provocaram significativa ruptura com as teorias tradicionais. Louis Althusser ( filósofo francês) Livro: Aparelhos Ideológicos de Estado Questiona a ideologia, a reprodução e as relações de poder nas instituições: estado, família, religião, mídia e escola. Louis Althusser ( filósofo francês) Noção althusseriana de ideologia: • Constituída por aquelas crenças à aceitação de estruturas sociais (capitalistas) existentes como boas e desejáveis. • Contribui para status quo e da sociedade capitalista e reproduz seus componentes econômicos - força de trabalho e os meios de produção; • Difundi valores e crenças explicitas ou implicitamente com o objetivo de garantir a manutenção da estrutura social. Pierre Bourdieu e Jean- Claude Passeron ( Sociólogos franceses) Livro: “A reprodução” (1970) Embora não sejam associados a uma abordagem marxista, esses autores utilizam conceitos do universo econômico, como capital, para analisar as práticas educativas e seu papel no processo de sucesso ou fracasso escolar. Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron ( Sociólogos franceses): • Segundo esses autores, o capital cultural dos alunos e alunas das classes dominadas é desconsiderado e desvalorizado. • O vácuo entre o “capital cultural” dos alunos e o “capital cultural” difundido e valorizado pela escola determina o seu fracasso escolar e favorece a manutenção das desigualdades sociais. A PEDAGOGIA PROPOSTA POR BOURDIEU E PASSERON: • Cabe à instituição escolar proporcionar às crianças das classes dominadas uma imersão semelhante a que as crianças das classes dominantes têm fora do espaço escolar. • Colocar as crianças das classes dominadas em condições de aprendizagem menos desiguais às das crianças das classes mais privilegiadas. ESTUDOS HENRI GIROUX : • Chamam a atenção para o caráter histórico, ético e político do conhecimento, do currículo e suas implicações para a reprodução das desigualdades e injustiças sociais. • Defendem a ideia de que a escola, como esfera pública democrática tanto pode ter um papel reprodutor quanto pode ter um papel libertador e de resistência. • Os professores assumem um papel relevante como “intelectuais transformadores”, abrindo espaço para que a voz das classes dominadas também possa ser ouvida e valorizada. PRECURSORES DAS TEORIAS CRÍTICAS DO CURRÍCULO Michael Apple e outros estudiosos contribuíram para o surgimento da Nova Sociologia da Educação (NSE) NSE - corrente de pensamento denominada Sociologia do Currículo. Michael Young e Basil Bernstein presentes nos estudos de Apple Relações de poder e o papel do conhecimento escolar nos processos de reprodução social e cultural. Teorias Críticas do Currículo: • As teorias críticas colocam em questão precisamente os pressupostos dos arranjos sociais e educacionais. São teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical. • Preocupam-se com questões sociais, políticas e com as relações de poder no âmbito educacional. Teorias Críticas do Currículo: Síntese • Deslocam o foco dos métodos e técnicas de ensino para analise dos atos do currículo que reproduzem desigualdades e injustiças do mundo capitalista. • Adotam um modelo educacional que privilegia os múltiplos saberes. Teorias Críticas do Currículo: Síntese As Teorias Críticas mudaram o foco da análise: • Ao invés de : Como fazer o currículo ? • Questionam: O que o currículo faz com as pessoas, com os alunos? PARTE II: A Crítica sobre a Teoria Crítica: • Trazem novos desafios para as discussões curriculares. • Instigam novas reflexões, no sentido de relativizar os próprios pilares dos conhecimentos até então produzidos. • Ampliar o olhar para o currículo, incluindo novas nuances e configurações como multiculturalismo, raça, etnia, gênero, etc. • A crítica da crítica se consolida como Teoria Pós-Crítica, surge a partir de outro paradigma: A Pós-Modernidade. O Pensamento Pós-Moderno: Não há unicidade de pensamento em relação ao termo “pós- modernidade. É uma concepção de definição complexa com diferentes pontos de vista sobre a sua formação e significado. A ideia de "pós-modernismo" surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. O Pensamento Pós-Moderno: Para Silva (2004, p.111), “o pós-modernismo não representa, entretanto, uma teoria coerente, unificada, mas um conjunto variado de perspectivas, abrangendo uma diversidade de campos intelectuais, políticos, estéticos, epistemológicos.” Estamos falando de um “pensamento” multifacetado, amplo e complexo que não se restringe a uma área de conhecimento ou a determinados teóricos. Abarca distintos objetos de estudo e preocupações. O Contexto “Pós-Moderno”: As teorias pós-críticas são pensadas a partir das diversas situações ocorridas na sociedade, como: ❖ Esgotamento do modelo taylorista-fordista de produção; Concentração de renda; ❖ As transformações no mundo do trabalho/desemprego estrutural; Consumismo; ❖ Novas tecnologias; ❖ Globalização e homogeneização das expressões culturais; A partir deste contexto, surgem na década de 1990, novos estudos curriculares impondo a conexão entre o currículo e a cultura. O Currículo e os Estudos Culturais: O tema dos estudos culturais no currículo é fundamental para entendermos a questão do pensamento pós-moderno nos currículos. Sua origem remonta aos meados dos anos sessenta, quando um grupo de estudiosos cria o Centro de Estudos Culturais Contemporâneos na Universidade de Birmingham (Inglaterra) e buscavam seus fundamentos na Teoria Crítica, na vertente dos filósofos da Escola de Frankfurt e do neo-marxista italiano Antônio Gramsci. O Currículo e os Estudos Culturais: Ainda na Inglaterra desenvolve-se uma reflexão teórica sobre a escola e o currículo entre as temáticas da Nova Sociologia da Educação, que tem como expoente principal o sociólogo Michael Young, autor do livro Conhecimento e Controle (1971). Volta-se para a investigação da relação entre o poder, a ideologia, o controle social e a forma como os conhecimentos são selecionados,organizados e tratados pela escola. Para ele, os conteúdos escolares, expressos nos livros didáticos, guias curriculares ou outros materiais pedagógicos e na prática escolar contribuem para a manutenção das desigualdades sociais. O Currículo e os Estudos Culturais: Dois movimentos podem ser observados nos estudos culturais de currículo: O primeiro desenvolveu os estudos do campo do currículo sob a inspiração das denominadas teorias críticas que deslocaram o eixo da reflexão das questões pedagógicas e de aprendizagem, para a busca de conexão entre saber, currículo e ideologia. O segundo, desloca o eixo da reflexão de currículo tendo por base as críticas à escola capitalista e os embates entre capital e trabalho para o eixo saber, currículo, discurso e poder, à luz das reflexões pós-modernistas e pós-estruturalistas, daí a designação de estudos pós-críticos (SILVA, 2000). A Herança Modernista presente nos currículos escolares: Embora alguns autores pensem os tempos atuais como pós- moderno. A escola contemporânea é fortemente marcada pelo modelo “modernista”. • Currículo linear, sequencial, estático, segmentado em disciplinas; • Perspectiva monocultural; • Supervalorização do conhecimento científico em detrimento do Conhecimento cotidiano; • Padronização e universalização, um modelo ideal de indivíduos. A Herança Modernista presente nos currículos escolares: Segundo Silva (2004, p. 111-112) a “escola é moderna” porque: “seu objetivo consiste em transmitir o conhecimento científico, em formar um ser humano supostamente racional e autônomo e em moldar o cidadão e a cidadã da moderna democracia representativa. É através desse sujeito racional, autônomo e democrático que se pode chegar ao ideal moderno de uma sociedade racional, progressista, moderna.” Moderno X Pós-Moderno: Para Refletir: Todos os alunos devem aprender as mesmas coisas, do mesmo modo, no mesmo tempo? Que cultura está mais presente e vale mais nos conteúdos curriculares: a da classe dominante ou da dominada? Ênfases: Teorias Críticas (Modernidade) Teorias Pós-críticas (Pós-Modernidade) - Ideologia - Reprodução cultural e social - Poder - Classe Social - Relações Sociais de Produção - Conscientização - Emancipação e libertação - Currículo Oculto - Resistência - Identidade - Diferença - Subjetividade - Significação e discurso - Saber-poder - Representação - Cultura - Gênero, raça, etnia, sexualidade - Multiculturalimo Movimento Multicultural: Surgimento do Multiculturalismo O movimento multiculturalista se inicia no final do século XIX, nos Estados Unidos, com a ação principal do movimento negro para combater a discriminação racial no país e lutar pelos seus direitos civis. Reivindicação dos grupos culturais dominados, principalmente nos Estados Unidos, com o objetivo de terem suas culturas representadas e reconhecidas na cultura nacional; Movimento Multicultural: • O multiculturalismo se refere a estudos voltados para as diferentes culturas espalhadas nos lugares do mundo, objetivando a partir da aprendizagem a importância de cada cultura a fim de evitar os conflitos sociais. • Podendo também estar voltado à política, quando os grupos como negros, índios, mulheres e outros reivindicam perante as autoridades políticas seus direitos e deveres como cidadãos. Movimento Multicultural: Objetivos principais do multiculturalismo: A luta pelos direitos civis dos grupos dominados, excluídos por conta de não pertencer a uma cultura e classe social considerada superior a euro americana, branco, letrado, masculino, heterossexual e cristão. Crítica à tendência homogeneizante do currículo privilegiando valores e representações da cultura dominante: branca, masculina, européia, heterossexual. Referências: MACEDO, Roberto Sidnei. Currículo: Campo, conceito e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2017. SILVA, Maria Aparecida, currículo para além da pós-modernidade. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação(ANPED), 2006. Disponível em: http://www.fe.unicamp.br/gtcurriculoanped/29RA/trabalhos/silvaMA.pdf Vieira, Samantha Aparecida Moura Martins. Currículo: teoria e prática. Rio de Janeiro: SESES, 2017.