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FONTES DO DPP E APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL CONCEITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL Depois de analisar os principais princípios, mister examinar agora a conceituação, as características e as finalidades do Direito Processual Penal, bem como falar sobre as suas principais fontes. Vamos lá! 1 – Conceito do Direito Processual Penal “conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (JOSÉ FREDERICO MARQUES, 1980). CONCEITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 – Conceito do Direito Processual Penal Tendo em vista o conceito clássico de MARQUES (1980), estabelece-se como objeto principal da disciplina a regulação da aplicação jurisdicional do Direito Penal. Ou seja, praticado um fato definido como crime, surge para o Estado o direito de punir, que se exercita por meio do Direito Processual Penal. Dessa forma, tem-se que o Processo Penal é instrumental à aplicação do Direito Penal – extraindo-se tal conclusão do brocardo jurídico nulla poena sine judicio; nulla poena sine judicie (nenhuma pena pode ser imposta sem processo; nenhuma pena pode ser imposta senão pelo juiz). Cumpre salientar que muito mais que um Direito, há para o Estado um verdadeiro dever de punir (poder-dever de punir), pois, a partir do momento em que ele assume para si a aplicação do Direito, mediante a jurisdição, afastando-se a tutela privada, deve determinar a aplicação das sanções penais aos responsáveis por infrações penais, sob pena de colocar-se em risco a convivência social. CONCEITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 – Conceito do Direito Processual Penal Sob esse viés, o processo penal é hipótese de jurisdição necessária: nesta seara, o ordenamento jurídico não confere aos titulares dos interesses em conflito a possibilidade outorgada pelo direito privado de aplicar espontaneamente o direito material na solução das controvérsias oriundas das relações da vida (CAPEZ, 2016). Pelo fato de envolver bens e interesses mais caros à sociedade, o direito de punir deve ser exercido necessariamente pelo próprio Estado, por meio de seus órgãos componentes, não sendo possível, portanto, a atuação do particular nesta seara. Por tal razão, veda-se a vingança privada, vez que o artigo 345 do Código Penal tipifica como crime o exercício arbitrário das próprias razões. CONCEITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 – Conceito do Direito Processual Penal Atualmente, o conceito clássico de MARQUES (1980) precisa ser complementado, tendo em vista que ele destaca apenas uma das faces do processo penal, qual seja a pretensão punitiva, ignorando que nos tempos atuais, há que se ter em mente uma visão constitucional do processo penal - Processo Penal Constitucional. Para essa visão mais moderna, inaugurada pela Carta Magna de 1988, o processo penal deve ser entendido não só como meio de aplicação do Direito Penal ao caso concreto, mas também como uma forma de proteção dos direitos fundamentais do indivíduo contra a força impingida pelo Estado na persecução penal, afinal de contas há uma franca desigualdade material entre eles, já que o Estado investiga (Polícia Judiciária), acusa (MP) e julga (juiz), enquanto o réu apenas se defende, buscando a sua liberdade. Isso acaba causando um rompimento do conceito clássico do Processo Penal. FINALIDADES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 –Finalidades do Direito Processual Penal A) Realização do Direito Penal Objetivo = O Direito Processual Penal visa aplicação do Direito Penal Objetivo, respeitados os princípios constitucionais que asseguram os valores de liberdade e da dignidade do homem. “O fim do processo penal é impessoal e objetivo, ultrapassa o fim subjetivo das partes, uma vez que a própria atividade das partes é subordinada, dentro das garantias necessárias a um fim superior de justiça, à realização do direito objetivo” (FERREIRA, apud MESSA, 2017). B) Tutela jurídica (finalidade mediata) = O Direito Processual Penal visa a proteção dos bens jurídicos fundamentais para a sociedade, permitindo o reconhecimento jurídico da existência de um crime e a aplicação da sanção penal. C) Descoberta da verdade real = O Direito Processual Penal busca investigar como os fatos se passaram na realidade, apurando as infrações penais e sua autoria, para posterior aplicação da sanção penal, visando a proteção dos direitos fundamentais da pessoa e o restabelecimento da paz jurídica, com a preservação da segurança pública e da liberdade jurídica. FINALIDADES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 –Finalidades do Direito Processual Penal D) Defesa da sociedade = O Direito Processual Penal visa a aplicação das sanções penais aos infratores, de forma a satisfazer o interesse público consubstanciado no restabelecimento da paz jurídica, violada com a prática da infração penal. E) Segurança jurídico-criminal = O Direito Processual Penal busca a solução jurisdicional da lide penal por meio do devido processo legal. FINALIDADES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 –Finalidades do Direito Processual Penal Para Tourinho Filho (2011) finalidade do Direito Processual Penal se divide em duas espécies, quais sejam: A) Finalidade mediata: é a manutenção da paz social; confunde-se com a própria finalidade do Direito Penal; e, B) Finalidade imediata: é a realização da pretensão punitiva derivada da prática de um delito, pela utilização da garantia jurisdicional. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 3 – Características e Posição Enciclopédica do Direito Processual Penal 1 – Autonomia = não é hierarquicamente inferior ao direito material, possuindo regras e princípios próprios. 2 – Instrumentalidade = é meio de aplicação do direito material penal. 3 – Normatividade = é uma disciplina normativa, possuindo inclusive codificação própria, o Código de Processo Penal. De outro lado, integra o Direito Público, em virtude da presença marcante do Estado nesta seara e pelo manifesto interesse público na sua aplicação, haja vista o escopo de pacificação social. DA RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO 4 – Da relação com outros ramos do Direito a)Direito Empresarial = a lei de falência fornece diretrizes para o processo e julgamento dos crimes falimentares. b)Direito Tributário = o Direito Processual Penal estabelece normas sobre o processo e julgamento dos crimes contra a ordem tributária c)Direito Civil = no Direito Processual Penal, serão observadas as restrições à prova, estabelecidas na lei civil, quanto ao estado de pessoas. Há causas de impedimento e suspeição ligadas ao Direito de Família. d)Direito Processual Civil = o Direito Processual Penal e o Civil têm a mesma natureza instrumental, como meio que visa efetivar o direito material, diferenciando apenas no conteúdo, pois o Civil regula a pretensão extrapenal e o Penal regula pretensão penal. Lembrando que o Código de Processo Civil pode ser aplicado de forma subsidiária no âmbito do processo penal. e)Direito Administrativo = fornece normas básicas sobre a estruturação da Administração Pública, da qual fazem parte os sujeitos processuais que atuam na persecução penal, como a autoridade policial, o Ministério Público e o juiz. DA RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO 4 – Da relação com outros ramos do Direito f) Direito Constitucional = fornece os princípios básicos do Direito Processual Penal, estabelecendo e regulando seus institutos, como sua fonte legislativa, o indulto e outros. O Direito Processual Penal é subordinado às normas de Direito Constitucional, em virtude do princípio da supremacia constitucional. A Constituição é fonte do Direito Processual Penal. Os sistemas processuais refletem a estrutura política do Estado estabelecida no Direito Constitucional. g) Direito Financeiro = o Direito Processual Penal estabelece normas sobre o processo e o julgamento dos crimes contra o sistema financeiro. h) Direito da SeguridadeSocial = as normas sobre o processo e o julgamento dos crimes contra a Seguridade Social, nas suas áreas de saúde, assistência social e previdência social são estabelecidas pelo Direito Processual Penal. i) Direito Internacional = o Direito Processual Penal estabelece normas de convivência internacional, por exemplo regulamentando o envio e o recebimento de carta rogatória e a homologação de sentença estrangeira. Existe a possibilidade de aplicação de atos internacionais sobre processo penal, além da cooperação internacional. DA RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM AS CIÊNCIAS AUXILIARES 4 – Da relação com outros ramos do Direito j) Direito Penal = as normas e princípios sobre a realização do Direito Penal são estabelecidos pelo Direito Processual Penal. Existem alguns institutos híbridos ou mistos, ou seja, regulados tanto pelo Direito Penal quanto pelo Direito Processual Penal, como no caso da ação penal. O Direito Penal protege o processo por meio da previsão de crimes que tutelam a Administração da Justiça. 5 – Relação com as ciências auxiliares A) Medicina Legal = o Direito Processual Penal utiliza conhecimentos técnico- científicos de todas as ciências que subsidiam a Medicina, visando fornecer esclarecimentos para a atuação da Justiça. B) Psiquiatria forense ou judiciária = é uma especialidade da psiquiatria que ajuda na avaliação da capacidade das pessoas de serem responsabilizadas criminalmente (quando não o podem, são chamadas “inimputáveis”), baseando-se no estado mental do indivíduo avaliado e determinando recomendações. DA RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM AS CIÊNCIAS AUXILIARES 5 – Relação com as ciências auxiliares C) Psicologia Jurídica = o Direito Processual Penal aplica o saber psicológico nas relações por ele reguladas. A Psicologia Judiciária abrange a Psicologia Criminal (a que estuda aspectos psíquicos do criminoso e como se origina e se processa a ação criminosa, abrangendo a psicologia do delinquente, do delito e das testemunhas), a Psicologia Forense (a aplicada no âmbito de um processo ou procedimento em andamento no Foro) e a Psicologia Judiciária (a que estuda a ação sob imediata subordinação à autoridade judiciária, envolvendo práticas periciais). D) Criminalística = é o estudo de várias técnicas de investigação criminal visando a descoberta da materialidade do crime e sua respectiva autoria. Há procedimentos científicos para demonstração das provas. E) Criminologia = é um conjunto de conhecimentos sobre o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo (SUTHERLAND). É formada por três partes = 1) antropologia criminal (estuda o modo fisiopsíquico do delinquente); 2) psicologia criminal (estuda a estrutura psicológica do agente); 3) sociologia criminal (estuda as causas sociais ou ambientais da criminalidade). DA RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM AS CIÊNCIAS AUXILIARES 5 – Relação com as ciências auxiliares C) Psicologia Jurídica = o Direito Processual Penal aplica o saber psicológico nas relações por ele reguladas. A Psicologia Judiciária abrange a Psicologia Criminal (a que estuda aspectos psíquicos do criminoso e como se origina e se processa a ação criminosa, abrangendo a psicologia do delinquente, do delito e das testemunhas), a Psicologia Forense (a aplicada no âmbito de um processo ou procedimento em andamento no Foro) e a Psicologia Judiciária (a que estuda a ação sob imediata subordinação à autoridade judiciária, envolvendo práticas periciais). D) Criminalística = é o estudo de várias técnicas de investigação criminal visando a descoberta da materialidade do crime e sua respectiva autoria. Há procedimentos científicos para demonstração das provas. E) Criminologia = é um conjunto de conhecimentos sobre o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo (SUTHERLAND). É formada por três partes = 1) antropologia criminal (estuda o modo fisiopsíquico do delinquente); 2) psicologia criminal (estuda a estrutura psicológica do agente); 3) sociologia criminal (estuda as causas sociais ou ambientais da criminalidade). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL Fonte = lugar de onde nasce o Direito Processual Penal. 1 - Fontes Materiais ou de Produção = dizem respeito ao órgão encarregado de elaborar o Direito Processual Penal. É competência privativa da União, nos termos do artigo 22, I, da CF, legislar sobre direito processual penal. Lei Complementar Federal poderá autorizar os Estados e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas da matéria relativa ao Direito Processual Penal. É matéria de competência concorrente a criação, o funcionamento e o processo dos juizados de pequenas causas (artigo 24, X, da CF), direito penitenciário (artigo 24, I, da CF) e procedimentos em matéria processual (artigo 24, XI, da CF). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1 - Fontes Materiais ou de Produção (continuação) Na competência concorrente, a União edita as normas gerais; os Estados e o Distrito Federal editam as normas específicas; os Municípios são responsáveis por suplementar a legislação federal e estadual naquilo que couber (artigo 24, §§1º ao 4º, combinado com o artigo 30, II, ambos da CF). É de competência privativa do Presidente da República conceder, via decreto, indulto, por força do previsto no artigo 84, XII, da Constituição Federal. É vedada a edição de medidas provisórias sobre direito processual penal, nos termos do artigo 62, §1º, I, b, da Constituição Federal. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 - Formais ou de cognição ou de conhecimento: são os meios de expressão do Direito Processual Penal, as fontes de revelação. Referem-se aos meios pelos quais as normas jurídicas são reveladas no ordenamento jurídico. São subdivididas em duas espécies: fontes primárias ou imediatas ou diretas e fontes secundárias ou mediatas ou indiretas ou indiretas ou supletivas. 1 – Fontes Primárias ou imediatas ou diretas = São aquelas aplicadas imediatamente. Consideram-se fontes primárias do Processo Penal: a lei, entendida em sentido amplo, para incluir a própria CF; os tratados, convenções e regras de Direito Internacional (nos termos do artigo 1º, inciso I, do CPP, e artigo 5º, §3º, da CF, com a redação dada pela EC 45/04). VIGÊNCIA, REVOGAÇÃO E REPRISTINAÇÃO DA LEI Vigência = marco a partir do qual a lei processual já poderá ser aplicada. Em regra, a lei tem vigência indeterminada. Ao período compreendido entre a publicação da norma e a sua vigência, destinado aos cidadãos para tomarem conhecimento da mesma, recebe o nome de vacatio legis. Se o texto legal nada disser, a lei entrará em vigor no período de 45 dias após a sua publicação. Revogação = processo pelo qual se encerra a vigência de uma lei, podendo ser expressa (quando a revogação está prevista expressamente na lei revogadora), tácita (quando a lei posterior regulamenta de modo diverso a matéria que era disciplinada pela lei antiga). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL VIGÊNCIA, REVOGAÇÃO E REPRISTINAÇÃO DA LEI Revogação = parcial (ou derrogação – apenas uma parte ou partes da lei antiga são revogadas pela nova lei) ou total (ab-rogação – a lei antiga é totalmente revogada pela nova lei). Temos ainda a auto-revogação, ocorre, segundo MIRABETE (2005) quando cessa a situação de emergência na lei excepcional ou se esgota o prazo da lei temporária. Repristinação Instituto pelo qual a lei que fora revogada volta a vigorar quando a lei revogadora perde a sua vigência (MIRABETE, 2005). Nos termos do artigo 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei nº 4.657/1942), salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter sido a lei revogadora perdido a vigência. Com isso, só se fala em repristinação se a lei nova prever essa situação ou se, mesmo não o fazendo, da interpretação da nova lei se conclui que foi essa, implicitamente, a intenção do legislador. FONTES DODIREITO PROCESSUAL PENAL 2 – Fontes Secundárias ou mediatas ou indiretas ou supletivas = são aquelas aplicadas na ausência das fontes primárias, nos termos do artigo 4º da LINDB –Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei nº 4.657/42). Consideram-se fontes secundárias do Processo Penal: costumes; princípios gerais do direito; analogia. 2.1 – Costumes: São regras de conduta praticadas “de modo geral, constante e uniforme (elemento interno), com a consciência de sua obrigatoriedade (elemento externo)” (MIRABETE, 2004, p. 57). Podem ser contra legem (contra a lei); secundum legem (de acordo com a lei); praeter legem (visam suprir lacunas). É de se ressaltar, porém, que os costumes não têm o condão de revogar dispositivos legais (TÁVORA; ALENCAR, 2020). 2.2 – Princípios Gerais do Direito: “são verdades fundantes” de um sistema de conhecimento (MIGUEL REALE, 2006). Em outros termos, mandamentos nucleares de um sistema. “são premissas éticas extraídas da legislação e do ordenamento jurídico em geral” (MIRABETE, 2004, p. 58). A função dos princípios gerais do Direito na área do Direito Processual Penal é estabelecer as bases teóricas ou as razões lógicas do processo penal, fornecendo regras básicas para a sua interpretação. A sua aplicação no Processo Penal está permitida expressamente pelo artigo 3º do CPP. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2.3 – Analogia: é a aplicação de lei que regula caso semelhante a um caso não previsto em lei. É um modo de autointegração da norma. Já a interpretação analógica é forma de interpretação da norma processual penal. No Direito Processual Penal, é possível o emprego da analogia, nos termos do artigo 3º do CPP. A analogia pode ser legal, quando aplicada lei ao caso omisso; ou jurídica, quando aplica um princípio geral do direito ao caso omisso. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL IMPORTANTE: “A analogia ou aplicação analógica, conforme teor do artigo 3º do CPP difere da interpretação analógica: nesta a própria lei autoriza o seu complemento, já prevendo hipótese de preenchimento, geralmente por meio de uma expressão genérica, que resume situações casuísticas precedentes (exemplo: no artigo 121, §2º, inciso I, do CP, quando é utilizada a expressão genérica “ou por outro motivo torpe” para a definição da qualificadora de motivo torpe no crime de homicídio, após a menção a hipóteses casuísticas “mediante paga ou promessa de recompensa”); na analogia, aplica-se o regramento jurídico de uma dada situação semelhante a outra, na qual não há solução aparente – há verdadeira criação de uma norma (exemplo: o Código de Processo Civil de 1973, no artigo 207, e o Código de Processo Civil de 2015, no artigo 265, permitem a transmissão por telefone de carta precatória ou de ordem, desde que haja a confirmação do emissor; no Processo Penal, não há norma nesse sentido, mas, por analogia, é possível a concessão de ordem de habeas corpus por telefone. A analogia é forma de autointegração da norma, ao passo que a intepretação analógica é forma de interpretação da norma processual penal. Ambas podem ser feitas in malam partem no Processo Penal”. (ALVES, 2020). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL OBSERVAÇÃO: “Há séria polêmica em definir-se a doutrina e a jurisprudência são fontes do Direito. Vem prevalecendo o entendimento de que, na verdade, elas são formas de interpretação do Direito, pois não possuem efeitos obrigatórios. Entretanto, quanto à jurisprudência, há de se ressaltar que as súmulas vinculantes do STF e as decisões proferidas em controle concentrado de constitucionalidade têm força obrigatória, constituindo-se assim em verdadeiras fontes do Direito”. (ALVES, 2020, p. 32). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL SÚMULAS VINCULANTES Competência: STF. Iniciativa: o STF poderá, de ofício ou por provocação, editar, rever ou cancelar enunciado de súmula vinculante. São legitimados a propor a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante: o Presidente da República; a Mesa do Senado Federal; a Mesa da Câmara dos Deputados; o Procurador-Geral da República; o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; o Defensor Público-Geral da União; partido político com representação no Congresso Nacional; confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; o Governador de Estado ou do Distrito Federal; os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL SÚMULAS VINCULANTES Requisito: após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, pode-se editar enunciado de súmula. Efeitos: a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como se poderá proceder à sua revisão ou cancelamento. Objeto: é a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja, entre órgãos judiciários ou entre estes e a administração pública, controvérsia atual que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre idêntica questão. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL SÚMULAS VINCULANTES Quórum: a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula com efeito vinculante dependerão de decisão tomada por 2/3 dos membros do STF, em sessão plenária. Publicidade: no prazo de 10 dias após a sessão em que editar, rever ou cancelar enunciado de súmula com efeito vinculante, o STF fará publicar, em sessão especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União, o respectivo enunciado. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL SÚMULAS VINCULANTES Efeito ex nunc: a súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o STF, por decisão de 2/3 dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público. Cabimento da revisão ou cancelamento: revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o STF, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL SÚMULAS VINCULANTES Proibição: a proposta de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante não autoriza a suspensão dos processos em que se discuta a mesma questão. Controle: da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente, caberá reclamação ao STF, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação. Contra omissão o ato da administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas. Ao julgar procedente a reclamação, o STF anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso. Aplicação Subsidiária: o procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula com efeito vinculante obedecerá, subsidiariamente, ao disposto no Regimento Interno do STF. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO Enquanto à lei penal aplica-se o princípio da territorialidade (CP, art. 5º) e da extraterritorialidade incondicionada e condicionada (CP, art. 7º), o Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lex fori. E, isso por um motivo óbvio: a atividade jurisdicional é um dos aspectos da soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado. Na visão da doutrina, todavia, há situações em que a lei processual penal de um Estado pode ser aplicada fora de seus limites territoriais:a) aplicação da lei processual penal de um Estado em território nullhis; b) quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato processual; c) em caso de guerra, em território ocupado. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO O art. 1º, do CPP dispõe que o processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, pelo Código de Processo Penal, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II — as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial; V - os processos por crimes de imprensa. Ademais, segundo o parágrafo único do art. 1º, aplicar-se-á, entretanto, o CPP aos processos referidos nos incisos IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO Além do art. 1º do CPP, especial atenção também deve ser dispensada ao art. 5º, § 4º, da Constituição Federal, que prevê que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Artigo 5º, §4º, CF – Para Pacelli tem-se aí mais uma hipótese de não aplicação da lei processual penal brasileira aos crimes praticados no país, nas restritas situações em que o Estado brasileiro reconhecer a necessidade do exercício da jurisdição penal internacional. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO A - TRATADOS, CONVENÇÕES E REGRAS DE DIREITO INTERNACIONAL Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas famílias, assim como funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA etc.) gozam de imunidade diplomática, que consiste na prerrogativa de responder no seu país de origem pelo delito praticado no Brasil. Tais pessoas não podem ser presas e nem julgadas pela autoridade do país onde exercem suas funções, seja qual for o crime praticado (CPP, art. 1º, inciso I). Admite-se renúncia expressa à garantia da imunidade pelo Estado acreditante, ou seja, aquele que envia o Chefe de Estado ou representante. Tal imunidade não é extensiva aos empregados particulares dos agentes diplomáticos. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO A - TRATADOS, CONVENÇÕES E REGRAS DE DIREITO INTERNACIONAL Quanto ao cônsul, este só goza de imunidade em relação aos crimes funcionais. Esse o motivo pelo qual, ao apreciar habeas corpus referente a crime de pedofilia supostamente praticado pelo Cônsul de Israel no Rio de Janeiro, posicionou-se a Suprema Corte pela inexistência de obstáculo à prisão preventiva, nos termos do art. 41 da Convenção de Viena, pois os fatos imputados ao paciente não guardavam pertinência com o desempenho das funções consulares. B - PRERROGATIVAS CONSTITUCIONAIS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DE OUTRAS AUTORIDADES 3 - PROCESSOS DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR 4 - PROCESSOS DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL ESPECIAL Não se aplica mais. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO ESPAÇO 5 - CRIMES DE IMPRENSA Com a declaração de não recepção, pelo STF, da Lei de Imprensa, não se aplica mais. 6 - CRIMES ELEITORAIS Apesar de não estar previsto no art. 1º do CPP, para Renato Brasileiro deve ser considerado como uma exceção. Destaca-se que a motivação política ou mesmo eleitoral não é suficiente para definir a competência da Justiça Especial de que estamos tratando. Da mesma forma, a existência de campanha eleitoral é irrelevante, pois, de per si, não é suficiente para caracterizar os crimes eleitorais à falta de tipificação legal no Código Eleitoral ou em leis eleitorais extravagantes. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO Por força da Constituição Federal (art. 5º, XL), a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, cuidando-se de norma penal mais gravosa, vige o princípio da irretroatividade. Da mesma forma que a lei penal mais grave não pode retroagir, é certo que a lei mais benéfica é dotada de extratividade: fala-se, assim, em ultratividade quando a lei, mesmo depois de ser revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência; por sua vez, retroatividade seria a possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO Raciocínio distinto, porém, é aplicável ao processo penal. De acordo com o art. 2º, do CPP, que consagra o denominado princípio tempus regit actum, “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Como se vê, por força do art. 2º do CPP, incide no processo penal o princípio da aplicabilidade imediata, no sentido de que a norma processual se aplica tão logo entre em vigor, sem prejuízo da validade dos atos já praticados anteriormente. O fundamento da aplicação imediata da lei processual é que se presume seja ela mais perfeita do que a anterior, por atentar mais aos interesses da Justiça, salvaguardar melhor o direito das partes, garantir defesa mais ampla ao acusado, etc. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO Portanto, ao contrário da lei penal, que leva em conta o momento da prática delituosa (tempus delicti), a aplicação imediata da lei processual leva em consideração o momento da prática do ato processual (tempus regit actum). Do princípio tempus regit actum derivam dois efeitos: a) os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior são considerados válidos; b) as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar restante do processo. A - NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da aplicação imediata (tempus regit actum). APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO A - NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS Daí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja, situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela prevista em diploma de natureza distinta. Tais normas não se confundem com as normas processuais materiais. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar incorporada a diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Diplomáticas Fundamento: Convenção de Viena, assinada em 18 de abril de 1961, aprovada no Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 103 de 1964, e ratificada em 23 de fevereiro de 1965. Imunidades Diplomáticas Estas imunidades foram criadas para que houvesse extremo respeito ao Estado representado, e para que as pessoas que exerçam essas funções possam exercê-las de forma eficaz. Desta forma essa imunidade é válida no Brasil somente para aqueles países que compartilham da Convenção, ou que possuem reciprocidade, ou seja, o mesmo tratamento com brasileiros que residem em função internacional, fora do país. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Diplomáticas Essa imunidade não deve ser vista como benefício ou privilégio pessoal, e sim como uma prerrogativa funcional, pois estas só são de alcance a pessoas com certas funções ou atividade que exercem. Imunidade diplomática consiste na permissão de responder em seu país um delito cometidono Brasil. Essas imunidades são dadas aos chefes de governo ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros de sua comitiva, sendo o grau de parentesco atingido, definido por tratados. Ao embaixador, sua família, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e sua família. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Diplomáticas Essas imunidades não alcançam os empregados particulares dos agentes diplomáticos. A sede da embaixada estrangeira no Brasil é território brasileiro para fins penais, entanto, lhe é dada certos privilégios nas relações com as autoridades brasileiras, estas não podem ser objeto de busca sem autorização do embaixador ou de quem é de direito. Se o delito é cometido na sede brasileira, é aplicada ao autor da ação a lei penal brasileira, exceto se esse goza de imunidade diplomática. A imunidade diplomática possui a natureza jurídica do ius puniendi, ou seja, o direito de punir o autor não nasce para o país em que o delito foi cometido, e sim para o seu país de origem. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Diplomáticas A imunidade exclui o processo e a pena em território brasileiro, porém não impede que a polícia local investigue o crime e busque informações necessárias para o devido esclarecimento, logo, as informações colhidas aqui deverão ser encaminhadas ao Estado cabível de processo, para que lá sejam tomadas as medidas necessárias e aplicáveis de acordo com sua legislação. https://jus.com.br/tudo/processo APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidade do cônsul Só em relação aos crimes funcionais. Imunidades Parlamentares Absolutas: Artigo 53 da CF/88 Os membros do Congresso Nacional são inimputáveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos emitidos em razão do exercício do mandato. Os representantes do Congresso Nacional não são passíveis de reparação de danos, desde que suas opiniões, palavras e votos, sejam proferidas como causa de suas atividades funcionais, dentro ou fora do Congresso, e também após ao mandato, pois estas são por ele protegidas. O parlamentar atua no exercício regular de direito, e de suas funções, logo a imunidade absoluta não protege a pessoa, e sim suas funções, não podendo ser renunciada. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Parlamentares Contra o parlamentar não poderá ser instalado inquérito policial, ou processo-crime por delito de opinião, palavra ou voto. Com o fim do mandato a imunidade se esgota, porém não poderá ser processado por qualquer infração cometida durante seu mandato. Imunidades Relativas, Formais ou Processuais Essas imunidades alcançam deputados e senadores, não alcançando suplentes. PRISÃO = Podem ser presos em flagrante delito por crime inafiançável. E, no caso da prisão os autos são encaminhados para a Casa Legislativa Respectiva. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Parlamentares Relativas, Formais ou Processuais PRISÃO = O voto da maioria absoluta dos membros irá decidir pela soltura ou manutenção da prisão do parlamentar. PROCESSO = São julgados e processados perante o STF. a) Crimes cometidos antes da diplomação = o processo sobe para o STF. – Este era o entendimento anterior da Corte Suprema. Atualmente, o STF entende que não possui mais competência para julgar tais delitos. b) Crimes cometidos após a diplomação = o processo pode ser iniciado perante o STF, mas a Casa é informada acerca da sua existência, para que por voto da maioria absoluta decida pela sustação ou continuidade da ação penal. O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO DE DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES APLICA-SE APENAS AOS CRIMES COMETIDOS DURANTE O EXERCÍCIO DO CARGO E RELACIONADOS ÀS FUNÇÕES DESEMPENHADAS. APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Imunidades Parlamentares Relativas, Formais ou Processuais PROCESSO = São julgados e processados perante o STF. b) Crimes cometidos após a diplomação = a Casa Legislativa Respectiva terá o prazo de 45 dias para decidir sobre o pedido de sustação. PRESIDENTE DA REPÚBLICA Julgado e processado pelo STF. Não pode ser preso em flagrante delito. Somente pode ser processado se houver o juízo de admissibilidade, ou seja, a Câmara dos Deputados por 2/3 deve decidir pelo recebimento ou não da denúncia contra o Presidente da República. OBS: O Presidente da República somente poderá ser investigado ou processado durante o seu mandato por atos relacionados ao exercício da sua função. GOVERNADORES DOS ESTADOS = STJ. PREFEITOS = TJ (crime comum), TFR (crime de desvio de verba pública federal), TRE (crimes eleitorais). VEREADOR Apenas goza da imunidade material e dentro do município onde exerce a vereança. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 1- NOÇÕES GERAIS Interpretar a lei para NUCCI (2019) é atividade realizada por todo o operador do Direito, vez que o legislador nem sempre é feliz na elaboração das normas, pois muitas vezes emprega termos contraditórios, incompletos, obscuros e dúbios, dificultando a aplicabilidade da lei. A atividade interpretativa não se liga ao processo de criação da norma, também não consiste em suprir lacunas, mas está relacionada ao fato de apresentar o real sentido de uma lei. Para Mirabete (2004), a interpretação é a extração do real conteúdo da lei, buscando dar sentido lógico à sua aplicação. Ele defende também que a interpretação é necessária para se alcançar o sentido léxico das palavras utilizadas pelo legislador, com vistas a alcançar a vontade da lei. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2 – ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2.1 – Quanto ao sujeito que a realiza ou à origem A) AUTÊNTICA OU LEGISLATIVA = É a que procede da mesma origem da lei e possui força cogente. Se ela estiver na própria legislação interpretada, é conhecida como interpretação contextual. Exemplo: conceito de flagrante delito vem previsto no CPP; conceitos de funcionário público e de residência previstos no CP. A interpretação também pode vir de uma lei posterior, a qual foi criada para esclarecer algum ponto controverso de lei anterior, onde possuirá efeito retroativo. B) JURISPRUDENCIAL OU JUDICIAL = Interpretação que advém do “conjunto de manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num sentido razoavelmente constante”. Orientação dada pelos juízos e Tribunais, em regra sem força obrigatória. EXCEÇÃO: SUMULAS VINCULANTES. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2 – ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2.1 – Quanto ao sujeito que a realiza ou à origem C) DOUTRINÁRIA OU CIENTÍFICA = Entendimento dado aos dispositivos legais pelos doutrinadores e estudiosos do Direito. 2.2 – Quanto aos meios empregados A) GRAMATICAL OU LITERAL = Interpretação que se apega aos exatos significados das palavras inseridas no texto legal. B) SISTEMÁTICA = Sendo a interpretação gramatical insuficiente, deve ser feito um confronto lógico entre os dispositivos da lei, o que resulta numa interpretação sistemática. C) LÓGICA = Vale das regras de raciocínio e conclusão para compreender o espírito da lei. D) HISTÓRICA = Analisa o contexto da votação do diploma legislativo, os debates, as emendas propostas, etc. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2 – ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2.2 – Quanto aos meios empregados D) TELEOLÓGICA = o intérprete procura o real sentido e o alcance da lei. 2.3 – Quanto aos resultados A) DECLARATIVA = Apenas declara o que está consignado no texto legal, sem ampliá-lo ou reduzi-lo. B) RESTRITIVA = Neste tipo de interpretação, o intérprete procura restringir o alcance dos termos utilizados na lei com vistas a atingir o seu verdadeiro significado. C) EXTENSIVA ou AMPIATIVA = Nesta modalidade de interpretação, o intérprete amplia o sentido dos termos/das palavras que estão no texto legal, com vistas a dar uma maior eficiência à norma. Isso ocorre, porque o legislador disse menos do que deveria dizer. Exemplo: o artigo254 do CPP ao tratar da suspeição, menciona o juiz, mas por intepretação extensiva, a causa se aplica também aos jurados, pois são os juízes de fato no Tribunal do Júri. A interpretação extensiva vem prevista expressamente no artigo 3º do CPP, conforme se infere a seguir: “a lei processual penal ADMITIRÁ interpretação extensiva (...)”. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2 – ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2.3 – Quanto aos resultados D) ANALÓGICA = Também prevista no artigo 3º do CPP, é um tipo de interpretação na qual o intérprete se vale de um processo de semelhança com outros termos inseridos na mesma norma com a finalidade de analisar o conteúdo de algum termo que gere dúvidas ou que esteja em aberto (NUCCI, 2019). Ocorre quando fórmulas casuísticas inseridas em um dispositivo são acompanhadas de expressões genéricas, abertas, e, o intérprete utiliza a analogia para uma correta interpretação destas últimas (MIRABETE, 2005). EXEMPLO: Quando a lei se refere a “quaisquer outros elementos” no artigo 6º, IX, do CPP, está mencionado outros dados referentes à “vida pregressa do indiciado”. Quando menciona “repartição congênere” refere-se a órgãos que atuem com o objetivo de identificação e estatística (MIRABETE, 2005). E) PROGRESSIVA OU ADAPTATIVA OU EVOLUTIVA = este tipo de interpretação ocorre para que sejam alcançadas no processo novas concepções advindas das mudanças sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem nortear a lei processual já estabelecida. Exemplo: O CPP fala em Tribunal de Apelação, mas na intepretação progressiva ou adaptativa ou evolutiva, o intérprete entende que a norma está falando em Tribunal de Justiça. INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2 – ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL 2.4 – OBSERVAÇÕES SOBRE A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL A) O processo penal admite todas as formas de interpretação que foram estudadas anteriormente; B) O artigo 3º do CPP permite expressamente a interpretação analógica, sendo a forma mais expansiva de todas; C) O artigo 3º do CPP também admite a analogia no processo penal, que é considerada como forma de integração ou auto integração da norma, a qual serve para suprir lacunas; D) Não se pode olvidar que analogia, costumes e princípios gerais do Direito, segundo o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro são fontes do Direito; e, E) Por fim, embora semelhantes os conceitos de interpretação extensiva, interpretação analógica e analogia não se confundem. Na interpretação extensiva, o legislador disse menos do que poderia ou que queria dizer, motivo pelo qual é preciso ampliar o conteúdo de um termo para alcançar o autêntico sentido da norma. Na interpretação analógica, existe termo expresso no próprio dispositivo legal que permite a interpretação de outro termo pertencente a ele que seja duvidoso ou polêmico. Já a analogia é fonte secundária do Direito, processo de integração da norma, que ocorre quando uma situação análoga, semelhante à outra que não tem solução expressa, é a ela é aplicada, imaginando-se que o efeito será o mesmo. Exemplo: o CPC em seu artigo 265 permite a transmissão de carta precatória por telefone, tal previsão não tem no CPP, razão pela qual poderá ser aplicado aquele dispositivo analogicamente no processo penal (ALVES, 2020). DISTINÇÃO ENTRE ANALOGIA E INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ANALOGIA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA É forma de autointegração da norma processual penal. É forma de interpretação da norma processual penal. Aplica-se o regramento jurídico de uma dada situação semelhante a outra, na qual não há solução aparente – há verdadeira criação de uma norma. A própria lei autoriza o seu complemento, já prevendo hipótese de preenchimento, geralmente por meio de uma expressão genérica, que resume situações casuísticas precedentes. Pode ser feita in malam partem no Processo Penal (não no Direito Penal). Pode ser feita in malam partem no Processo Penal e no Direito Penal. C
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