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Analgésicos Opioides e Anestésicos Locais - Analgésico é um fármaco capaz de reduzir a sensação dolorosa; - Alguns fármacos possuem uma analgesia tão grande que quase chegam a ser um anestésico. Definição de Dor - Experiência sensorial (envolve transdução de sinais periféricos no sistema nervoso central) e/ou emocional (expressão de certos comportamentos ao sentir a dor) desagradável associada ao dano tecidual potencial (poderia ter acontecido, mas não aconteceu, reflexo rápido) ou real (lesão tecidual ocorre de fato); - Anti-inflamatórios reduzem a sensação dolorosa; - Analgésicos opioides atuam na parte sensorial e emocional. Fisiologia do sistema nociceptivo - Nocicepção: mecanismo de transmissão de estímulos nocivos periféricos para o SNC; - Captado pelos neurônios periféricos e são convertidos em sinais elétricos, conduzido para o sistema nervoso central, para que se sinta a dor; - Quatro componentes: · Neurônios aferentes primários (nociceptores); · Neurônios aferente secundário; · Tálamo; · Córtex somatossensorial. - Quatro componentes fazem parte da via ascendente da dor (vai da periferia ao sistema nervoso central). Nervos sensitivos - Se estendem da periferia até a medula; - Nervo aferente primário com 3 tipos de fibras: · Fibras Aβ: mielínicas (condução rápida), baixo limiar de disparo (muito fácil de serem estimuladas), estímulos táteis (ex.: mão no ombro), muito calibrosas; · Fibras ADelta: mielínicas (condução rápida), alto limiar de disparo (mais difíceis de serem estimuladas, precisa de estímulos mais grosseiros), estímulos dolorosos > dor fisiológica ou nociceptiva = dor rápida; · Fibras C: amielínicas (condução lenta), alto limiar de disparo (mais difíceis de serem estimuladas, precisa de estímulos mais grosseiros), estímulos dolorosos. Demoram mais para serem estimuladas e demoram mais por serem “desligadas” > dor patológica. - Apenas as fibras Adelta e Fibras C são consideradas nociceptores; - Estímulo vai para a medula espinhal. Via ascendente da dor - Neurônio aferente primário chega no corno dorsal da medula, fazendo sinapse com um segundo neurônio; - Neurônio aferente secundário que recebe o estímulo; - Neurônio aferente secundário passa por várias áreas, inclusive pelo tálamo (região de integração do SNC); - Chega no córtex somatossensorial, onde se tem a percepção da dor. - Estímulo doloroso > gera potencial de ação (por estímulo elétrico) no nociceptor; - Neurotransmissor presente: glutamato; - Abertura dos canais de cálcio favorece a exocitose do glutamato; - Glutamato é o principal neurotransmissor excitatório > NMDA (receptor excitatório); - Despolarização do nociceptor; - Abertura de canais de Ca no terminal nervoso: liberação de glutamato; - Estímulo do neurônio aferente secundário > segue adiante até chegar no córtex somatossensorial. Resumindo: Estímulo nociceptivo > neurônio aferente primário (nociceptores – fibras C e ADelta) > liberação de glutamato no neurônio secundário (corno dorsal da medula) > tálamo > córtex somatossensorial > percepção da dor; Dor patológica Sensibilização periférica: - Alteração do limiar das fibras C (em condições normais possuem alto limiar de disparo) > passam a ser mais facilmente ativadas; - Depende da produção de mediadores inflamatórios no local do estímulo doloroso; - Citocinas, bradicinina, prostaglandinas; - Via se torna mais fácil de ser ativada > sensibilização. Sensibilização central: - Ocorre no corno dorsal da medula (ponto de comunicação entre neurônio primário e secundário) - Depende da ativação repetida de receptores NMDA do neurônio secundário (liberação de glutamato); - Liberação de neurotrofinas (aumenta brotos dendríticos = aumenta a conexão entre neurônio primário e secundário); - Facilitam a transdução de sinal entre os neurônios primário e secundário (estabelecimento de mais sinapses); - Via se torna mais fácil de ser ativada > sensibilização. - É por conta das sensibilizações que fica dolorido > exemplo: torção, começa a ficar dolorido e começa a claudicar por conta da dor; - Alodinia = dolorido. Ativação da via da dor - Dor patológica Dor inflamatória: - Caracterizada por lesão de tecido ósseo, muscular e ligamentar; - Amplificação sensorial: alodinia; - Ausência de lesão em tecido nervoso. Dor neuropática: - Caracterizada por lesão de nervos nociceptivos ou no SNC; - Alodinia > alta intensidade; - Formação de neuromas = cicatrizes nos neurônios, disparos permanentes; - Exemplo: dor do membro fantasma (dor mesmo com a ausência do membro). Dor mista: - Caracterizada por lesão de tecido ósseo, muscular, ligamentar, nervos nociceptivos ou no SNC; - Alodinia > alta intensidade; - Exemplo: dor do câncer. Dor disfuncional: - Ausência de lesão tecidual ou nervosa aparente; - Alodinia > intensidade moderada; - Parece que o sistema nociceptivo não está funcionando muito bem; - Exemplo: fibromialgia = não tem lesão aparente, mas está sentindo dor. Via descendente da dor Mecanismos endógenos de analgesia - Caminho oposto da via ascendente; - Córtex > corno dorsal da medula; - Liberação de neurotransmissores que regulam o fluxo entre as duras fibras; - Inibe fluxo de informação das fibras primária e secundária; - Exercício físico é um estímulo da via descendente, inibindo a transdução de sinal; - A própria dor pode causar a ativação dessa via; - Acupuntura também ativa a via descendente. Neurotransmissores envolvidos na via descendente da dor - Noradrenalina; - Serotonina; - Endorfinas; - Dinorfinas; - Encefalinas; - Últimos 3 tipos são opioides endógenos (“opioides naturais”). - Receptores µ são os principais > presentes no corno dorsal da medula, ou seja, estão envolvidos no mecanismo que induz a sensação de analgesia. Papel dos receptores de opioides na analgesia Localização dos receptores µ: - Terminação do neurônio aferente primário: fecham os canais de cálcio > inibe entrada de cálcio > inibe liberação de glutamato - Corpo celular do neurônio de segunda ordem: estimula a abertura de canais de potássio > efluxo/saída de potássio > hiperpolarização > diminui a taxa de disparos do neurônio. Ações celulares: - Inibem canais de Ca; - Estimulam canais de K; - Inibição da transmissão nos neurônios da via ascendente. Fármacos analgésicos opioides - Mimetizam a ação dos opioides endógenos; - São substâncias agonistas de receptores opioides µ. - Ópio: palavra derivada do gredo > suco; - Analgésicos opioides: produtos naturais obtidos do suco da papoula (planta Papaver somniferum); - 3400 anos a.C.: sumérios > assírios, babilônicos e egípcios: propriedades euforizantes do ópio; - 1550 a.C.: Papiro de Ebers: tratamento de cefaleia e sedação; - 1806: William Serturner: isolou a morfina (protótipo) > Morpheus, deus grego dos sonhos. Opioides fortes: - Potentes; - Morfina, hidromorfona, oximorfona, fentanila, sulfentanila, remifentanila, carfentanila, petidina, metadona, meperidina. Opioides leves a moderados: - Potentes, mas menos que os opioides fortes; - Codeína, hidrocodona, oxicodona, tramadol. Opioides com baixa atividade analgésica: - Difenoxilato, loperamida. Mecanismo de ação - Agonistas de receptores opioides µ; - Potencialização dos efeitos opioides endógenos; - Reduzem o disparo do neurônio aferente secundário; - Agonista de receptor µ no corno dorsal da medula: reduzem a liberação de transmissores no neurônio aferente primário. - Agonista de receptor µ na periferia: reduzem a geração de impulsos nos nociceptores. Resumo: - Inibição da geração de impulsos periféricos nos neurônios aferentes primários; - Inibição da liberação de neurotransmissores excitatórios na medula; - Inibição do disparo de neurônios aferentes secundários; - Elevada potência analgésica. Farmacocinética - Vias de administração: intravenosa, intramuscular, subcutânea, transdérmica (adesivos); - Via oral: fármacos absorvidos no intestino e precisam passar pelo fígado > fármacos possuem extenso metabolismo de primeira passagem > baixa biodisponibilidade por via oral > exceção: tramadol e codeína(antes é convertida em morfina); - Reações de Fase I: fentanila, petidina, sulfentalina, hidromorfona; - Reações de Fase II: morfina, hidromorfona. - Petidina > fase 1 > norpetidina; - Hidromorfona > fase 2 > hidromorfona 3-glicuríndeo; - Morfina > fase 2 > morfina 3-glicuronídeo; - Possuem propriedades neuroexcitatórias (agitação psicomotora, agressividade, convulsões); - Animais mais sensíveis aos metabólitos: felinos, equinos, bovinos; - Necessário a associação com tranquilizantes: acepromazina, xilazina > “neuroleptoanalgesia” > neuroléptico = tranquilizante; - Analgésico Meperidina: menos efeitos excitatórios. Usos clínicos - Dor moderada a intensa: câncer e outras doenças terminais, traumatismos ósseos, pós-operatório (meperidina em felinos, equinos); - Dor aguda e intensa: cólica em equinos (meperidina). Medicação pré-anestésica: - Tosse: codeína. Redução da atividade do centro da tosse; - Imobilização de animais silvestres: etorfina (3000 a 4000 vezes mais potente que a morfina), carfentanila (8000 a 10000 vezes mais potente que a morfina); Dor crônica: - Até funciona para dores crônicas; - Uso crônico de opioides está relacionado a efeitos tóxicos. Efeitos adversos Toxicidade com uso crônico: - Tolerância farmacológica; - Dependência física > neuroadaptação do SNC > síndrome de abstinência. Toxicidade com uso agudo: - Euforia, sedação, agressividade e excitação (felinos, equinos e bovinos); - Depressão cardiorrespiratória: receptores opioides no bulbo; - Náuseas e vômitos: receptores opioides na zona de gatilho quimiorreceptora (próxima do centro do vômito, desencadeando o reflexo); - Constipação (receptores opioides do TGI); - Pruído. - Exemplo: diacetilmorfina (derivada da morfina) = heroína. Tratamento de intoxicação por opioides - Mecanismo de ação: antagonista de receptores µ-opioides. Anestésicos Locais Histórico - Final do século XIX: descoberta das propriedades anestésicas da cocaína; - Nativos dos Andes: mastigavam macerados das folhas da planta: · Propriedades estimulantes e euforizantes; · Produção de dormência na língua. - 1860: · Albert Biemann: isolamento da cocaína. - 1884: · Carl Koller: introduziu a cocaína como anestésico tópico para cirurgias oftalmológicas; · Halstead: uso de cocaína injetada para outros procedimentos cirúrgicos. - 1892: toxicidade e potencial de abuso a partir da cocaína: · Einhorn: síntese da procaína. Anestesia local - Perda de sensibilidade em uma região limitada do corpo; - Anestesia local diferente da regional: · Anestesia local é em uma região muito pequena; · Anestesia regional é em uma região um pouco maior. Exemplo: anestesia rack. - Os anestésicos locais bloqueiam transitoriamente a transmissão de impulsos nervosos em neurônios sensitivos determinando a perda de sensações; - Não afeta apenas o neurônio “da dor”, mas também os sensitivos. Transmissão do impulso nervoso 1. Potencial de repouso: - Membrana polarizada (lado externo positivo e lado interno negativo). 2. Potencial de ação: - Abertura dos canais de Na sensíveis à voltagem; - Entrada de Na e despolarização da membrana; - Excitação dos neurônios. 3. Repolarização da membrana: - Abertura de canais de K > saída de K - Retorno ao potencial de repouso da membrana. Mecanismo de ação - Abertura de canais de Na: essenciais à geração e transmissão do impulso nervoso. Repouso = fechados, estímulo = abertos; - Anestésicos locais: bloqueiam os canais de Na sensíveis à voltagem pela porção intracelular do canal de sódio (não atua nas alças extracelulares), ou seja, precisa entrar no neurônio para atuar. - Impedem a geração e a propagação de impulsos nervosos; - Leva à perda transitória de sensações mecânicas, térmicas e dolorosas; - Anestésicos locais devem primeiramente atravessar a membrana celular por difusão passiva lipídica; - Grau de ionização das moléculas influencia na velocidade da ação dos anestésicos; - Todos os anestésicos locais são bases fracas (qualquer molécula que consegue receber um próton); - Equilíbrio entre a forma não-ionizada (permeável aos lipídeos, B+) e forma ionizada (impermeável aos lipídeos, BH+) - pH extracelular é mais básico > quantidade de íons H+ é baixa no meio extracelular > quantidade de produtos é menor que o reagente > sentido favorecido é o A > favorece a formação da forma não ionizada que irá entrar no neurônio; - pH intracelular é mais ácido > maior quantidade de íons H+ no meio intracelular > moléculas se ionizam > forma ionizada é a forma ativa do anestésico > irão bloquear os canais de sódio. Acidose metabólica/tecidual: - pH extracelular mais ácido > muitos prótons > sentido favorecido é o B > grande parte das moléculas ficam ionizadas > moléculas ionizadas são impermeável aos lipídeos > não consegue entrar no neurônio; - Lipossolubilidade influencia na ação dos anestésicos; - Mediadores inflamatórios acidificam o meio externo; - Processo inflamatório retarda o início da anestesia. Exemplo: retirada de um siso inflamado, dificuldade da ação da anestesia; - Em locais inflamados: associar o anestésico com bicarbonato de sódio. ^^^ MATÉRIA DE PROVA ^^^ Química e farmacocinética - Grupo lipofílico: anel aromático; - Grupo ionizável: amina terciária; - Cadeia intermediária: tipo éster ou amida > grupo lipofílico + grupo ionizáve. É o que influencia na farmacocinética, possui tempos de ação diferentes. Ligação éster: - Altamente suscetíveis à hidrólise (mais fácil de ser quebrada) por esterases plasmáticas e hepática > rapidamente inativados: ação curta; - Cocaína, procaína, tetracaína, benzocaína. Ligação amida: - Mais estáveis: meia-vida maior, ligação amida é mais estável; - Metabolismo hepático > enzimas de Fase I; - Lidocaína, mepivacaína, bupivacaína, ropivacaína. Efeitos tóxicos Neurotoxicidade: - Baixas doses: efeitos estimulatórios; - Bloqueio de neurônios inibitórios; - Tremor, agitação e convulsões; - Altas doses: depressão cardiorrespiratória. Cardiotoxicidade: - Arritmia cardíaca; - Diminuição da excitabilidade e contratilidade cardíaca; - Parada cardíaca. - Vasodilatação: bloqueio de neurônios simpáticos que inervam as arteríolas. Favorece a absorção e distribuição dos anestésicos locais > toxicidade; - Associação com vasoconstritores: adrenalina, noradrenalina, fenilefrina. Reduz a absorção do anestésico > diminuição dos efeitos sistêmicos tóxicos. Aplicações clínicas - Procedimentos cirúrgicos de pequeno e médio porte; - Colírios, anestesia epidural (aplicado no espaço peridural), raquianestesia (aplicado no espaço subaracnóideo), anestesia mucosa (procedimentos odontológicos, endoscopia); - Lidocaína em gel: cateterismo vesical, sondagem enteral e nasogástica; - Anestesia intra-articular (equinos); - Íleo pós-operatório (equinos) > paralisia da atividade do íleo devido a abertura da cavidade abdominal (estimula reflexo neural, simpática periférica) > anestesia inibe esse reflexo neural; - Arritmias cardíacas ventriculares (cães e gatos) – emergência-lidocaína > bloqueio de canais de sódio no coração; - Remoção de pontos gatilhos (Síndrome Dolorosa Miofascial); - Dor neuropática (adesivos transdérmicos de lidocaína).
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