Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estocolmo 2015 ISTO É LEAN ISBN, MOBI: 978-91-87791-17-8 ISBN, EPUB: 978-91-87791-16-1 ISBN, PRINTED VERSION: 978-91-87791-02-4 Primeira edição © Rheologica Publishing, 2015 TRADUTOR: Vera Jordan REVISOR TÉCNICO: A. Márcio T. Thomé DESIGN GRÁFICO E LAYOUT: Sheelagh Gaw/Helena Lundin ILUSTRAÇÕES: Helen Bågeryd DESIGN DA CAPA: Joakim Palm Karlsson/Babak Shermond FOTO, CAPA: iStockphoto FOTO, RETRATOS DE AUTORES: Lasse Lychnell EPUB/MOBI: Erik Engren EDITORA: Rheologica Publsihing www.rheologica.com Elogios a ISTO É LEAN “Isto É Lean nos oferece um relato e a descrição, fáceis de entender, estruturados e inspiradores do lean . Talvez o mais importante sejam o valor e o efeito do desenvolvimento mútuo de toda a organização e a forma estruturada de trabalhar, desde os colaboradores até os executivos. Aqui há benefícios enormes a se obter — tanto para os colaboradores como para a companhia e organização, e não menos para o cliente!” H ANNA B RANDT G ONZÁLEZ Secretária Permanente, Unionen (o maior sindicato da Suécia) “Isto É Lean é muito mais que um título apelativo de mais um livro a respeito do tema. É um estudo lean (enxuto) de uma estratégia de operações específicas e de importância fundamental para as organizações que aspiram a agregar valor àqueles que desejam receber valor. Ele capta os valores, princípios, métodos e ferramentas que moldam uma visão dinâmica da urgência de melhoria. E faz isso com eficiência de recursos – em menos páginas do que livros semelhantes – e também com eficiência de fluxo – focando as necessidades de compreensão do leitor. Modig e Åhlström têm grande respeito por seu leitor, com quem se comprometem como a um membro da equipe. Eles contam histórias, usam metáforas, e esboçam cenários para visualizar conceitos importantes e questionar ideias equivocadas. Eles nutrem um grande respeito pela história do Sistema Toyota de Produção e demonstram o valor desse respeito na efetivação de uma estratégia de operações lean. No final do livro eles deixam o leitor seguro quanto ao que pensam acerca da pesca (como pensar em melhoria), ao mesmo tempo em que dão espaço de ação suficiente para o leitor descobrir o próprio modo de aprender a pescar.” P ROFESSOR P AUL C OUGHLAN Trinity College Dublin “Isto É Lean é um livro maravilhoso e inovador que fará muito para ajudar as pessoas a obter uma compreensão apurada da gestão lean . Ele apresenta ideias e conceitos de um jeito único, fáceis para qualquer um entender e aplicar. É um livro fantástico. Eu amo muito este livro.” P ROFESSOR B OB E MILIANI Central Connecticut State University “Para mim, lean tem a ver com aprendizado contínuo! Independente de ter ganhado ou perdido, eu sempre tentei aprender algo novo. Isto É Lean descreve como a Toyota tornou-se uma das organizações mais bem-sucedidas do mundo. A Toyota sempre teve um foco constante no aprendizado. A capacidade de aprender é o que cria sucesso sustentável.” M AGDALENA F ORSBERG Mito do Biatlo, Oradora Motivacional, Orientadora “Isto É Lean descreve como as organizações podem criar excelência operacional de classe mundial. Implica trabalho em equipe, respeito, desafiar a si mesmo e à equipe, e melhoria contínua. Não importa se é uma organização ou um atleta fabuloso: as chaves para o sucesso são universais. O desempenho de classe mundial é uma questão de se ter sempre a mentalidade correta!” P ETER ”F OPPA” F ORSBERG Mito do Hockey no Gelo, Investidor “Lean é um termo aparentemente fácil de lembrar, porém, um conceito um tanto difícil de entender com precisão. Muitos executivos em todo o mundo ainda pensam que a real essência da produção lean é o corte de custos, o que está errado. Isto É Lean é um dos livros mais concisos acerca do tema, de fácil compreensão e divertido de ler, que o ajudará a entender a essência dessa importante filosofia de gestão dos séculos 20 e 21.” P ROFESSOR T AKAHIRO F UJIMOTO University of Tokyo “Este livro sobre a Gestão Lean ‘deve ser lido’ por gerentes e funcionários, em organizações de manufatura e de serviços. Modig e Åhlström fizeram um excelente trabalho não apenas selecionando os conceitos mais importantes da vasta literatura sobre gestão lean , mas também oferecendo explicações claras de cada um deles. Os livros a respeito de gestão quase sempre são abarrotados de informações interessantes, porém superficiais, ao passo que este livro não desperdiça uma frase. Se o seu objetivo for tornar os processos de sua empresa mais eficazes, certifique-se de que cada um que faz parte dela leia este livro. Primeiro, ele informará seus funcionários acerca dos conceitos lean e, segundo, os inspirará a aplicá-los rapidamente.” P ROFESSOR K EITH G OFFIN Cranfield School of Management “Nós aplicamos o raciocínio descrito no livro em muitas funções, inclusive TI e P&D. Uma linguagem e metodologia em comum facilitam a interação entre as funções, o que é uma necessidade em uma companhia orientada para o fluxo. Os autores, por meio de uma descrição lógica e clara, conseguiram tornar acessível a muitas pessoas uma questão complexa.” P ER H ALLBERG Presidente em Exercício e CEO, Scania “Eu achei o Isto É Lean muito agradável, com uma introdução precisa e com o uso de alguns exemplos e ilustrações do começo ao fim, bom estilo de escrita e o mais importante, uma exposição segura dos conceitos. O livro é uma contribuição muito válida para a nossa área.” P ROFESSOR T ERRY H ILL Membro Emérito, University of Oxford “Nós recorremos com frequência às boas publicações das poucas histórias de sucesso para aprender acerca do lean . A verdade, entretanto, é que o lean evolui constantemente à medida que se adapta a algum contexto novo em que seja aplicado, então, simplesmente copiar a receita de outra pessoa raramente leva à sua implementação sustentável. No livro Isto É Lean , Niklas Modig e Pär Åhlström dão um importante passo na superação dos zunzuns, ilustrando os mecanismos fundamentais que estão verdadeiramente em jogo. É um livro realmente perspicaz, que será de grande valia para empresas de serviços e manufatura, tanto na definição como na orientação das suas jornadas lean .” D R M ATTHIAS H OLWEG Saïd Business School, University of Oxford “Um livro de fácil compreensão, que oferece ao curioso o entendimento básico do lean , estabelece ordem entre os conceitos para os que estão iniciando e desafia os que acham que já ‘são lean ’. É uma leitura maravilhosa, que eu recomendo vivamente aos colaboradores, gerentes, membros da diretoria, autoridades eleitas politicamente e todos os demais que queiram criar mais valor no que fazem.” H ANS K ARLSSON Diretor- geral, Värmland County Council “Isto É Lean é uma leitura altamente relevante para executivos de todos os setores. Mostra que a excelência operacional não é uma situação estática, mas tem a necessidade constante de ser reinventada e otimizada. As empresas de alto desempenho podem manter a vantagem competitiva ainda mais forçando o retorno constante à visão de foco no cliente. Com tantos stakeholders puxando para direções distintas em uma organização, retornar à essência da experiência com o cliente pode ser um alívio! Lean é uma mentalidade que ajuda a liderar o caminho nessas iterações decisivas. Eu não encontrei um livro que ensine o conceito e aplicação do lean melhor do que este!” J OHN L AGERLING VP de desenvolvimento de negócios, Mobile and Product Partnerships, Facebook “O livro enfatiza um fenômeno que é predominante no sistema judiciário sueco atual. Cada área do sistema judiciário é eficiente por si só, mas elas atuam de maneira independente uma da outra, sem coordenação, o que torna o sistematotal ineficiente. Um aumento de foco na eficiência de fluxo dentro do processo judiciário geraria um resultado mais humanitário e mais rápido. Como consequência, os custos diminuiriam naturalmente para o Estado.” A NDERS L ECKNE Gerente geral, Kronoberg Remand Centre “Criar um entendimento comum do lean em uma organização global com empresas em 1.600 endereços diferentes é um desafio imenso. O livro será de grande valia para o nosso esforço contínuo de melhorar o valor entregue ao cliente.” C HRISTIAN L EVIN Vice-Presidente Executivo, Chefe de Operações Comerciais, Scania “Os autores criaram uma estrutura simples e lógica para se compreender o lean . O livro ajudou nossa organização a focar as questões certas.” H ANS N ARFSTRÖM Vice-Presidente Sênior, Serviços de Operações e SRS Office, Scania “O livro é incrivelmente inspirador e tem como alvo tanto ‘iniciantes’ como aqueles que pensam que já sabem o que é lean . Eu e minha equipe de gestão fomos muito inspirados pelo livro e decidi que todos os 1.100 empregados de minha organização deveriam ter o próprio exemplar como uma inspiração e suporte em nossa estratégia de se tornar uma organização lean . Isto É Lean possibilitou que toda a organização tivesse uma linguagem comum acerca do tema, o que é um pré-requisito para que funcione em uma organização grande. O livro é fácil de ler, pedagogicamente estruturado e convincente. Eu posso recomendá-lo vivamente.” U LF N ÄSSTRÖM Vice-President, Saab AB, Business Area Electronic Defence systems “Ler Isto É Lean é como ler um bom romance... cativa desde o primeiro parágrafo (os casos de câncer). Ele atrai você para dentro dos personagens (o grande conceito de eficiência de fluxo), revela a trama e vai detalhando lentamente (as leis e teorias) antes de revelar a importância das relações (criando e desenvolvendo organizações lean ) e faz você perceber que todos viverão felizes para todo o sempre (bastando apegar-se ao lean ). Os exemplos e explicações do livro são de primeira e, tendo eu mesmo pesquisado e aplicado o lean em serviços públicos, posso dizer que este livro ultrapassa as fronteiras de maneira integral e relevante ao focar os conceitos. É leitura obrigatória, desde o iniciante até o expert. Como todo livro ou bom romance, você aprende algo novo cada vez que o lê!” P ROFESSOR Z OE R ADNOR Loughborough University “Moda tem a ver com autoexpressão, evocar o desejo e fazer as pessoas sonharem. Moda também é, por definição, mudança. Portanto, flexibilidade, responsividade e rapidez na colocação do produto no mercado são traços centrais das empresas de moda atuais. Isto É Lean sintetiza a essência de como as companhias bem administradas criam fluxo por toda a cadeia de valor e desenvolvem a capacidade de aprender, o que faz seus consumidores finais realmente felizes. O lean é simples, mas não é fácil – para todo o líder de negócio que está buscando ir mais além, ao mesmo tempo em que usa poucos recursos, eu recomendo vivamente este livro.” M IKAEL S CHILLER Presidente Executivo, ACNE Studios “Isto É Lean é simplesmente fantástico. Um livro claro, interessante, relevante e inteligente de verdade. Eu gosto demais das histórias; elas tornam o livro emocionante.” P ROFESSOR N IGEL S LACK Professor Emérito, Warwick Business School “O mundo está em uma crise séria. Precisamos encontrar novas maneiras de gerir recursos e diminuir riscos de escassez. Isto É Lean demonstra que a compreensão atual de ‘eficiência real’ está incorreta. As organizações subestimam e desperdiçam recursos sem saber. O livro capta os últimos insights de como temos de reformar e renovar nossa visão de excelência operacional. Também mostra como o pensamento holístico, integração e foco no usuário final são as pedras angulares para se criar valor econômico e social.” P ETTER S TORDALEN Investidor, Hotel Tycoon, Desenvolvedor de Patrimônio e Ambientalista “Isto É Lean é uma introdução muito boa ao pensamento lean e de grande valia para a criação de um quadro e linguagem comuns em toda a organização. Primeiro os alto executivos leram o livro e participaram de um workshop com um dos autores. Em seguida, decidimos comprar um exemplar para cada gerente. Agora todo mundo entende nossos dois princípios mais importantes de ‘eficiência de fluxo’ e ‘garantia de qualidade em cada etapa’.” B RITTA W ALLGREN Diretora Administrativa, Capio S:t Görans Hospital “Eu li diversos livros que tentam explicar a verdadeira essência do lean nestes meus 25 anos de empresa automotiva. Este é, de longe, o melhor. A forma como descreve o lean abrirá os olhos de muitas pessoas que não captaram o potencial dessa questão complexa. Este livro é uma obrigação para todos que administram uma cadeia de valor atualmente.” L ARS W REBO Vice-presidente Sênior, Produção, Volvo Car Corporation Ao Professor Christer Karlsson, que levou o lean para a Suécia. De seu primeiro e último PhD da SSE (Escola de Economia de Estocolmo). Prefácio Anos atrás eu aprendi o valor de simplificar com um gerente de produção que assumira um cargo novo como chefe de uma grande fábrica. Ele explicou como a simplificação lhe permitia entender o que estava acontecendo, ao contrário de se otimizar algo que era complexo demais para se entender plenamente. Este livro ilustra a beleza da simplificação. Cobre desde a cacofonia dos termos e métodos lean até as ideias básicas, além de uma definição funcional do tema: uma estratégia de eficiência de fluxo, com princípios básicos de just-in-time e gestão visual. A clareza e simplicidade dos conceitos permitem aos gerentes aplicá-los até mesmo em operações complexas, com muitos produtos e muitos atores, nas quais são distraídos facilmente pelas demandas e problemas frequentes que os bombardeiam. É valioso para os que não sabem o que é lean e também para os que já estudaram muitos métodos afins. Professor Christoph H. Loch Director, Cambridge Judge Business School Agradecimentos Quando escrevemos a versão sueca deste livro, no verão de 2011, nossa ideia era simplesmente unificar dois capítulos de livro publicados anteriormente. Depois de oito semanas intensas, tínhamos um livro completamente novo. Quando foi traduzido para o inglês, decidimos, por alguma razão desconhecida, reescrevê-lo. Talvez estivéssemos aderindo ao princípio básico do lean , a melhoria contínua. Desta vez, contudo, não passamos dias agradáveis de verão na frente de nossos computadores, mas sim noites e finais de semana de inverno e primavera. Ao fazermos a transição para o inglês, nós, certamente, contamos com o apoio de diversas pessoas. Nossos agradecimentos especiais vão para Sheelagh Gaw, que proveu a primeira tradução e todos os tipos de apoio no processo de reescrever o livro traduzido. Agradecimentos também a James Morrison, nosso editor, que nos ajudou a burilar a linguagem e fazê-la fluir. Qualquer coisa estranha que possa ter sobrado é falha única e exclusivamente nossa. Agradecimentos a Helen Bågeryd, cujas ilustrações desenhadas à mão agregaram um pouco mais ao livro. Para traduzir o livro para o português, precisamos de ajuda extra e somos muito gratos a algumas pessoas que nos auxiliaram nessa tarefa. Estamos em dívida com Vera Jordan, que traduziu o livro e garantiu o fluir da linguagem. Também somos muito gratos a Márcio Thomé, que nos ajudou a garantir a precisão técnica dos termos empregados no livro. Agradecimentos a Rui Sousa por seu gentil apoio ao nosso livro. Ainda, as ideias transmitidas neste livro não teriam existido não fossem todas as organizações que encontramos ao longo dos anos em nossa pesquisa e em nossas palestras. Vocês sempre abriram as portas e nos receberam com entusiasmo. Juntos, temos conseguidodesenvolver e aprimorar as ideias de o que “é” o lean . Sem vocês, o fluxo de nossa produção de conhecimento seria impossível. Muito obrigado! Devemos gratidão especial às entidades que ofereceram bolsas possibilitando o estudo na Toyota, Japão: European Institute of Japanese Studies, the Japanese Embassy in Sweden, the Japanese Government (Monbukagakusho), Prince Carl Gustaf’s Foundation, Swedish Institute, Sweden-Japan Foundation, e Marcus Wallenberg’s Foundation for Education in International Business. Seu discernimento e generosidade em patrocinar a pesquisa exploratória proveu a base para este livro. AGRADECIMENTOS DA PARTE DE NIKLAS: Eu gostaria de agradecer às pessoas que possibilitaram a execução de meu estudo na Toyota. Agradecimentos ao Takahiro Fujimoto e Tadashi Tanaka, que me acolheram em sua equipe de pesquisa na Tokyo University e que abriram as portas da Toyota. Agradecimento ao Ryusuke Kosuge, que é um amigo chegado e sempre foi meu “camarada” durante a pesquisa da Toyota. Também gostaria de agradecer a minha família, parentes e colegas por toda a força, amor e compreensão. AGRADECIMENTOS DA PARTE DE PÄR: Um obrigado amplo e coletivo a todos os que possibilitaram e participaram de minha “exploração do lean ”. A exploração começou em janeiro de 1993 com a oportunidade de participar e estudar a transformação lean de uma companhia. Obrigado a todos por abrir as portas a um estudante no início do doutorado. A London Business School foi uma passagem importante em minhas explorações do lean . Foi ali que o Professor Christopher A. Voss ensinou-me muito sobre pesquisa e excelência operacional. Meu obrigado mais cordial vai para a minha família. Vocês são o ponto de partida e chegada para todas as minhas explorações. Obrigado à Sheelagh, por sua paciência, entusiasmo e suporte constante. Obrigado ao Sebastian e Sophie por suportarem a minha ausência: eu e meu livro, ora, estamos os dois acabados agora. FINALMENTE: Nós dois queremos agradecer ao nosso amigo, colega e mentor, o Professor Christer Karlsson, que não apenas nos foi um supervisor fenomenal durante os estudos de doutorado, mas também contribuiu para o desenvolvimento conceitual do lean em nível global. Estocolmo, maio de 2015 Niklas Modig Pär Åhlström INTRODUÇÃO Tratamento 500 vezes mais rápido Alice acha que tem câncer Ela acabou de descobrir um nódulo em sua mama esquerda. Um espasmo de ansiedade a acomete. Ela sabe que uma entre dez mulheres desenvolve o câncer de mama. É a forma de câncer mais comum entre as mulheres. A preocupação que sente é devastadora. Primeira coisa na segunda-feira de manhã: Alice decide descobrir se o nódulo é o que ela teme. Ela telefona para a Unidade Básica de Saúde e fala longamente com a enfermeira. A profissional é gentil e solidária e consegue agendar uma consulta horas mais tarde, naquele mesmo dia. Alice está aliviada e aceita a consulta, ainda que não seja com o médico que ela está acostumada. Ela liga para o trabalho e cancela todas as reuniões daquele dia. O médico é muito atencioso, mas não consegue aliviar a preocupação de Alice. Ele não pode eliminar a possibilidade de o nódulo ser cancerígeno. Então escreve uma carta de encaminhamento que é enviada diretamente ao hospital, o qual enviará os detalhes da consulta a Alice. Durante aquela semana Alice checa o correio diariamente na expectativa da carta. Quando a semana termina sem receber carta alguma, ela começa a ficar preocupada. Ao fim de dez dias, ela telefona para o hospital. Depois de esperar na fila do atendimento telefônico, acaba conseguindo falar com a enfermeira. Após cinco minutos de busca, a enfermeira encontra a carta de encaminhamento de Alice e promete que será analisada naquele dia. Quatro dias depois, Alice recebe uma carta do hospital dizendo que sua consulta foi agendada para a semana seguinte. No dia da mamografia e ultrassom Alice sai com bastante antecedência para encontrar um estacionamento e o endereço certo. Tudo corre melhor do que a expectativa e ela já está na sala de espera 45 minutos antes do horário agendado. Ao dirigir-se à recepcionista, é solicitado que ela aguarde sua vez. O horário agendado para Alice não só chega como passa da hora, porém, seu nome não é chamado. Cinco minutos depois, ela indaga à recepcionista, que lhe diz que há um atraso e que ela deve simplesmente sentar e aguardar o seu nome ser chamado. Uns 15 minutos após o horário agendado, uma enfermeira surge e pede desculpas a Alice por fazê-la esperar. Ela é instruída a aguardar em uma sala de exames enquanto o médico se inteira de seu caso. O exame transcorre suavemente e Alice é informada de que receberá detalhes sobre uma consulta com um cirurgião de mama. De volta a casa, Alice fala com seu marido acerca do crescente temor que a acomete. A pior parte é não saber. Sua preocupação faz até que ela pare de trabalhar temporariamente. Dez dias depois da visita ao hospital, Alice recebe uma carta com detalhes de seu horário de consulta com o cirurgião de mama. Com base nos resultados de teste, o cirurgião não consegue ter certeza de que seja câncer, mas também não pode descartar a hipótese. Envia-se um segundo encaminhamento, desta vez a um citologista, que recolherá amostras de tecidos para análises laboratoriais. Mediante tamanha resposta vaga do cirurgião de mama, Alice vai para casa ansiosa e agoniada. Ela se esforça para lembrar o que ele disse acerca do próximo passo. Telefona para o hospital no dia seguinte, porém não consegue falar com ninguém que possa ajudá-la. Relutante, ela deixa o seu número de telefone e aguarda o retorno da ligação. Um pouco mais tarde naquela manhã alguém do hospital retorna a ligação de Alice e fala da próxima consulta ao citologista e da biópsia com agulha fina. Suas informações foram anotadas e no prazo de duas semanas Alice terá uma consulta. Ela estava esperando uma consulta no prazo de poucos dias, mas a enfermeira explica que o citologista é muito ocupado e não há disponibilidade para consultas antes desse prazo. Quando acontece de fato, o procedimento desagradável passa relativamente rápido. O médico explica que a amostra de tecido será enviada ao laboratório para análise e os resultados serão remetidos ao cirurgião de mama que Alice conheceu no hospital há duas semanas. Isso significa que haverá outra carta com um novo horário para consulta com o cirurgião de mama. A enfermeira não sabe dizer quanto tempo Alice terá de esperar pelos resultados. Seis semanas após a primeira visita à Unidade Básica de Saúde, Alice finalmente consegue ver o cirurgião de mama novamente e traz o marido junto para ter apoio moral. Depois de ler o prontuário e estudar todos os resultados de exames de Alice, o médico informa o diagnóstico. Sara sente um nódulo em sua mama Durante o banho numa terça-feira de manhã, Sara sente que sua mama esquerda parece diferente, como se tivesse um nódulo. Ela passa o restante da manhã sentindo um temor agoniante e não consegue se concentrar no trabalho. No almoço, ela fala de sua preocupação a Susana, sua amiga íntima. Susana comenta com Sara um artigo que ela leu sobre um teste em um hospital local, cuja ideia é criar uma “clínica de atendimento integral para patologias mamárias”. A clínica foi aberta alguns anos atrás como um lugar onde as mulheres pudessem ir sem ter de primeiro ser encaminhadas por um clínico geral. Sara descobre que a clínica abre nas tardes de quinta-feira. Durante dois dias ela não consegue pensar em outra coisa senão esse nódulo em sua mama, que parece ter crescido desde o momento em que ela o percebeu. Tudo que leu na internet parece tê- la deixado ainda mais ansiosa. Sara chega à clínica um pouco antes das quatroda tarde na terça-feira. Imediatamente uma enfermeira a cumprimenta e a leva para uma sala de exames, onde faz o exame preliminar. A enfermeira confirma que o nódulo requer um exame mais abrangente e pede que Sara aguarde na sala de espera enquanto ela conversa com o cirurgião de mama. Quinze minutos depois, o cirurgião de mama solicita que Sara o acompanhe até a sala de exame. O médico pede que Sara explique brevemente por que está ali e em seguida a examina. O cirurgião decide que Sara precisará fazer mamografia, ultrassom e uma biópsia com agulha fina. Sara é reconduzida à sala de espera e percebe que as outras mulheres ali parecem estar tão preocupadas quanto ela. Quando o seu nome é chamado, Sara acompanha a radiologista até a sala de raios-X, onde as fotos da mama são feitas. Em seguida, o médico usa o ultrassom para confirmar o que Sara já sabe: há um nódulo na mama esquerda. A enfermeira leva Sara a um citologista, que realiza a biópsia com agulha fina. O médico não pode dizer se é câncer, mas a análise da amostra de tecido dirá. Mais uma vez Sara se vê aguardando na sala de espera para ver o cirurgião de mama. Ao ser chamada no consultório novamente, ela percebe que já são quase 18 horas. Eles se sentam e o cirurgião dá o diagnóstico para Sara. Isto É Lean Isto É Lean é um livro sobre uma nova forma de eficiência que chamamos de “eficiência de fluxo”. A eficiência de fluxo foca a quantidade de tempo que leva para identificar uma necessidade e satisfazê-la. Tanto Alice como Sara tinham a mesma necessidade: queriam descobrir se tinham câncer. As duas passaram por vários exames e receberam diagnósticos. As semelhanças acabam aí. Quarenta e dois dias se passaram desde a primeira visita de Alice ao clínico geral até o momento em que recebeu o diagnóstico, o que equivale a 1.008 horas. No caso de Sara, foram apenas duas horas entre o primeiro contato com a enfermeira na clínica de atendimento integral para patologias mamárias e o recebimento do diagnóstico. O processo diagnóstico de Sara foi 500 vezes mais rápido do que o de Alice. É uma diferença grande? É uma diferença enorme! A primeira parte deste livro (capítulos 1 a 4) define a eficiência de fluxo, como ela é criada e por que várias decisões melhoram ou pioram essa eficiência. Essa parte explica particularmente o paradoxo da eficiência, como e por que as organizações estão de fato perdendo recursos quando pensam que estão sendo muito eficientes. A segunda parte do livro (capítulos 5 a 11) descreve como e por que a Toyota se tornou uma das organizações mais bem-sucedidas do mundo por criar um fluxo eficiente de produção de carros. Inspirado pela Toyota, o mundo ocidental criou o conceito de lean. Atualmente, embora o lean seja um dos conceitos de gestão mais difundidos no mundo, as definições de tal conceito são inacreditavelmente incongruentes. Essa incongruência torna difícil, se não impossível, criar conhecimento e formar um consenso, além de, consequentemente, triunfar nos esforços de implementação do lean. Este livro descreve o que é lean, como uma organização se torna lean e qual a aparência de uma organização lean . A CAPÍTULO 1 Do foco no recurso para o foco no cliente s histórias de Alice e Sara ilustram duas formas de eficiência: eficiência de recursos e eficiência de fluxo. A tradicional e mais comum delas é a eficiência de recursos. O processo diagnóstico de Alice foi realizado em um sistema de saúde organizado para utilizar os recursos de forma eficiente. A eficiência de recursos foca empregar de maneira eficiente os recursos que agregam valor em uma organização. Esses são os recursos que foram usados no processo diagnóstico das duas mulheres. Contudo, o processo diagnóstico de Sara foi realizado em um sistema de saúde que foca a eficiência de fluxo. A eficiência de fluxo foca a unidade que é processada na organização. Nos dois casos citados, a unidade são as pacientes, Alice e Sara. Este capítulo analisa os dois processos diagnósticos divergentes, a fim de ilustrar as diferenças importantes entre eficiência de recursos e eficiência de fluxo. Alice passa pelo sistema de saúde com eficiência nos recursos O sistema de saúde de Alice organiza-se em torno do foco nos recursos e seu uso eficiente. Seu processo diagnóstico abrangeu várias organizações e funções – a Unidade Básica de Saúde, o hospital, o setor de raios-X e o setor de citologia – cada um deles focando uma área de competência (medicina geral, cirurgia, radiologia e patologia, respectivamente). Para acessar o sistema de saúde e receber um diagnóstico, Alice teve de interagir com o hospital por meio de carta, telefone e pessoalmente. Alice fez cinco viagens no total, quatro ao hospital e uma à Unidade Básica de Saúde, e teve de passar muitos dias fazendo contatos em busca de tratamento. Ela própria coordenou a logística entre os diversos contatos, garantindo a sua chegada pontual a cada uma das consultas. Enquanto estava nessas consultas, Alice teve de parar de trabalhar temporariamente, com todos os custos envolvidos para ela e para o seu empregador. O tempo da primeira visita à Unidade Básica de Saúde até o diagnóstico foi extremamente longo, comparado ao tempo real utilizado na realização de exames do processo diagnóstico. O longo tempo de espera entre as consultas gerou temor e ansiedade para Alice. As diferentes etapas no processo diagnóstico agregaram valor, contudo, elas foram responsáveis por apenas uma pequena parcela das seis semanas entre a primeira e a última consulta. Esse ponto pode ser visto na figura da página seguinte, que ilustra o processo diagnóstico de Alice. Eficiência de Recursos – utilizando os recursos Eficiência de recursos, a forma tradicional de eficiência, implica usar os recursos o máximo possível. Por mais de duzentos anos o desenvolvimento industrial apoiou seu crescimento na utilização de recursos. A divisão em tarefas menores do trabalho que chega, e a execução dessas tarefas por indivíduos e funções organizacionais, são um princípio básico nesse desenvolvimento industrial. Outro princípio é realizar economias de escalas. Agrupar tarefas menores de modo que indivíduos, partes de uma organização ou a organização toda, possam executar a mesma tarefa repetidas vezes, aumenta a eficiência do recursos. O aumento na eficiência de recursos é com frequência surpreendente, com um efeito notável no custo unitário do produto. O uso eficiente dos recursos foi, durante muito tempo, a maneira mais comum de olhar a eficiência e continua a dominar o modo que as organizações, em diferentes ramos e setores são formadas, controladas e geridas. A eficiência de recursos foca os recursos que uma organização precisa para fabricar um produto ou oferecer um serviço, como pessoal, locais, equipamentos, ferramentas e sistemas de informação. As organizações que executaram os processos de diagnóstico de Alice e Sara empregaram diversos recursos físicos, inclusive prédios, salas de espera, salas de exame, equipamentos de raios-X, bem como recursos humanos que incluíam enfermeiras, cirurgiões da mama, radiologistas, citologistas, enfermeiras assistentes e o pessoal administrativo. A eficiência de recursos é uma medição de quanto um recurso é utilizado em relação a um período específico. Por exemplo, a medição pode mostrar quanto um equipamento de ressonância magnética é usado durante um período de 24 horas: A eficiência de recursos neste exemplo é de 25%, o que significa que o equipamento de ressonância magnética é usado por apenas 25% do tempo real. O período poderia ser definido também conforme o horário de atendimento do setor de raios-X, istoé, das 8 às 16 horas. Neste caso, a eficiência de recursos seria seis das oito horas, ou 75%. É evidente que a eficiência de recursos não se limita a um simples aparelho de ressonância magnética. Ela pode ser medida em um nível de abstração mais elevado do que máquinas ou pessoas. A utilização de uma combinação de recursos pode ser medida, por exemplo, para um departamento ou toda uma organização. Em um nível organizacional, a eficiência de recursos indica quão bem uma organização está utilizando todos os seus recursos e se os recursos estão agregando valor ou estão “parados”. Do ponto de vista econômico, faz sentido lutar pelo uso mais eficiente possível dos recursos. A razão para isso é o custo de oportunidade. A seguir, dois exemplos de custo de oportunidade: Se empregar dez médicos, um hospital deve certificar-se de que esses médicos trabalhem o máximo possível, caso contrário tal hospital poderia ter empregado nove médicos e usado para outro fim o dinheiro economizado. Um hospital investiu dezenas de milhares de reais em um novo Equipamento de raios-X. Consequentemente, o equipamento deveria ser usado o máximo possível; caso contrário, tal hospital poderia ter gasto parte do dinheiro em outra coisa qualquer. O custo de oportunidade é a perda por não utilizar os recursos ao máximo. Se não tivéssemos empregado nossos recursos na capacidade máxima, poderíamos ao menos ter usado parte do dinheiro que empregamos neles para outra finalidade. Há alternativas de uso para esse dinheiro, como liquidar um empréstimo, emprestar dinheiro a terceiros e investir em títulos. Todas as organizações lidam com custos de oportunidade pelo dinheiro que gastam ao adquirir ou pagar por recursos, o que torna importante a todas elas o uso eficiente de tais recursos. Para entender a importância da eficiência de recursos, precisamos apenas olhar para nós mesmos. Por exemplo, se compramos uma televisão nova, é natural nos certificarmos de que esteja sendo usada; pois queremos bom custo-benefício. Portanto, eficiência de recursos é um jeito natural de olhar as coisas, porque nos é natural querer bom custo-benefício. Sara passa pelo sistema de saúde com eficiência no fluxo O sistema de saúde que realizou os exames de Sara consistia em uma instituição que focava a necessidade específica do paciente: diagnosticar câncer de mama. A instituição abrangia uma combinação de áreas de competência diferentes. Dentro da organização havia cirurgião da mama, radiologista, citologista, secretária, enfermeira para fazer raios-X e enfermeira assistente, todos em uma equipe multifuncional. Criar uma instituição que se organize em torno de uma necessidade específica requer o trabalho conjunto de todo o pessoal. Por conseguinte, Sara precisou de uma única consulta, na qual encontrou todos os especialistas em um mesmo lugar. Demorou apenas algumas horas, o que significa que ela precisou se ausentar do trabalho bem menos tempo que Alice. Sara recebeu o diagnóstico 500 vezes mais rápido que Alice. A figura a seguir retrata o processo diagnóstico de Sara. Eficiência de fluxo – satisfazendo as necessidades Definimos eficiência de fluxo como uma nova forma de eficiência. A eficiência de fluxo é nova no sentido de que rompe com o foco histórico e natural na utilização eficiente de recursos. Contudo, eficiência de fluxo não é um fenômeno totalmente novo. Na realidade, os antecedentes de um foco eficiente em fluxo podem remontar ao século 16, mais precisamente ao Arsenal Veneziano localizado ao norte da Itália, que era o estaleiro mais poderoso e eficiente do mundo. O estaleiro era capaz de produzir uma embarcação mercantil ou naval totalmente equipada em menos de um dia. Em qualquer lugar da Europa a produção de uma embarcação com tamanho semelhante poderia levar meses. A eficiência de fluxo foca a “unidade” processada na organização. Em produção, a unidade é um produto constituído de diferentes tipos de componentes que são processados em vários estágios para criá-lo. Em serviços, a unidade é quase sempre um cliente, cujas necessidades são atendidas por meio de atividades diferentes. Aqui nós nos referimos a esse tipo de eficiência como eficiência de fluxo, porque o foco está na unidade que “flui” pela organização: a unidade de fluxo. Alice e Sara são exemplos de duas unidades de fluxo distintas que fluíram por sistemas de saúde distintos. Eficiência de fluxo é a medição de quanto uma unidade de fluxo é processada durante um período específico. Define-se o tempo do momento em que uma necessidade é identificada até o momento em que é satisfeita. Por exemplo, a eficiência de fluxo pode mostrar como a eficiência de um posto de saúde local satisfaz a necessidade de um cliente: A eficiência de fluxo na tabela citada é 33%, o que significa que a paciente recebe valor durante 33% do tempo em que está no posto de saúde. Nesse exemplo, presume-se que o tempo que a paciente não passou consultando um médico ou outro membro do quadro de funcionários (ou seja, tempo de espera) é um tempo que não agrega valor. A eficiência de fluxo é definida a partir da perspectiva da unidade de fluxo, e o fator importante é o tempo durante o qual a unidade de fluxo recebe valor. Em um nível organizacional, a eficiência de fluxo indica quão bem uma organização processa suas unidades de fluxo. A unidade de fluxo está recebendo valor ou está “parada”? Comparando a eficiência de fluxo em dois sistemas de saúde As experiências de Alice e Sara ilustram as características e efeitos da eficiência de recursos e eficiência de fluxo. As diferenças se tornam mais perceptíveis quando se olha a eficiência de fluxo nos dois sistemas. O processo diagnóstico de Alice levou 42 dias, ou 1.008 horas. Presumindo-se que o tempo envolvido nos diversos procedimentos foi de duas horas, a eficiência de fluxo no caso de Alice foi de 0,2%. Eficiência de fluxo = 2 horas/1.008 horas = 0,2 % Portanto, somente uma pequena fração de todo o processo diagnóstico agregou valor de fato para Alice. Isso mostra que seu processo diagnóstico não foi eficiente em termos de fluxo. Sara recebeu o diagnóstico no mesmo dia que visitou a clínica pela primeira vez e o tempo que ela passou esperando foi o tempo real da análise dos exames. Podemos presumir que Sara teve de esperar um tempo total de 40 minutos das duas horas que levou seu processo diagnóstico; o restante do tempo ela passou com os funcionários da clínica. Isso significa que o tempo total de agregação de valor foi de 80 minutos e, portanto, a eficiência de fluxo foi de 67%. Eficiência de fluxo = 80 minutos / 120 minutos = 67% A tabela a seguir sintetiza os dois exemplos. A diferença mais evidente é o tempo que leva para o diagnóstico: 42 dias contra duas horas. Mais do que qualquer coisa, essa diferença aumentou a quantidade de preocupação sentida por uma das duas mulheres. Os 42 dias sem saber o diagnóstico fizeram a preocupação de Alice aumentar consideravelmente. Embora estivesse preocupada, Sara ficou muito menos tempo sem saber o diagnóstico. Qual rota pegar? Qual é melhor, eficiência de recursos ou eficiência de fluxo? Como já discutimos, a eficiência de recursos é a forma prevalente de eficiência. Via de regra, as organizações se constituem, portanto, em torno de funções específicas e se especializam em recursos. Ao mesmo tempo em que é importante usar recursos de maneira eficiente, também é importante satisfazer as necessidades dos clientes de modo eficiente. Para se ter tanto uma utilização elevada como clientes satisfeitos, a eficiência de recursos e a eficiência de fluxo são igualmente importantes. Logo, por que alguém não desejaria alcançar alta eficiência de recursos e alta eficiência de fluxo? A resposta é queé muito difícil, se não impossível, obter um bom resultado nas duas formas de eficiência. Na segunda parte do livro abordaremos novamente como as organizações podem combinar elevada eficiência de recursos e elevada eficiência de fluxo. A melhor maneira de entender por que é difícil obter bom resultado nas duas formas de eficiência, e como isso pode ser feito, é entender como funcionam os processos. A eficiência de fluxo é criada por meio de processos. Um processo é um grupo de atividades que, juntas, criam a rota para uma unidade de fluxo e atendem a sua necessidade. A CAPÍTULO 2 Os processos são vitais para a eficiência de fluxo eficiência de fluxo é criada por meio dos processos de uma organização. Para compreender a eficiência de fluxo, é necessário entender como os processos funcionam. Todas as organizações têm processos. Existem processos de desenvolvimento, processos de compra, processos de produção, processos de entrega, processos de atendimento, e assim por diante. Todos nós vivenciamos muitos processos, diariamente. Este capítulo explica o que são processos, descreve seus elementos importantes e a eficiência de fluxo. Esses elementos são importantes porque estabelecem a base para se entender o que é eficiência de fluxo. Filmando a jornada de Alice rumo a um diagnóstico Em nosso primeiro exemplo Alice passou por um processo que a levou da descoberta de um nódulo na mama ao diagnóstico. Para descrever o processo de Alice, precisamos partir do ponto de vista dela própria e faremos isso colocando uma câmera de vídeo imaginária sobre o seu ombro. Essa câmera registra a visão de Alice conforme ela avança no processo: desde sua primeira consulta ao clínico geral até o recebimento do diagnóstico. O filme de 42 dias de Alice pode ser dividido em videoclipes que cobrem o diagnóstico e videoclipes que não o cobrem. Os exemplos de videoclipes que cobrem o diagnóstico incluem a enfermeira realizando a mamografia, Alice com o cirurgião de mama e o citologista recolhendo amostras de tecido. Exemplos de videoclipes que não cobrem o diagnóstico incluem Alice esperando em casa ou indo e voltando às diversas consultas. O filme de 42 dias também pode ser dividido com base no fato de os videoclipes terem agregado valor a Alice ou não. Os videoclipes que cobrem atividades que agregaram valor a Alice seriam rotulados de “videoclipes com valor agregado”, enquanto os que não lhe agregaram nenhum valor seriam rotulados de “videoclipes sem valor agregado”. A eficiência de fluxo diz respeito a apagar todos os videoclipes sem valor agregado e depois pegar todos os videoclipes com valor agregado e editá-los em curta-metragem de ação. Os processos são definidos a partir da perspectiva da unidade de fluxo Assim como o processo de Alice foi definido com base no filme registrado pela câmera em seu ombro, qualquer processo deve ser definido a partir da perspectiva da unidade de fluxo. As unidades de fluxo são vitais nos processos, porque elas são as unidades que estão sendo processadas. Na realidade, a palavra processo, que se origina das palavras processus e procedere, em latim, significa “mover para frente”. Em um processo, algo é movido para frente; chamamos esse algo de unidades de fluxo. Uma unidade de fluxo pode ser material, informação ou pessoas: Material: Em uma fábrica de carro, o material é movido para frente, processado por máquinas e montado, para se tornar carros. No exemplo do câncer de mama, os exames que as mulheres fazem são movidos para frente, isto é, passados adiante e analisados, a fim de se tornarem resultados. Informação: Ao solicitar permissão para ampliar a casa, você envia um requerimento ao Departamento Municipal de Planejamento Urbano. O requerimento passa por vários estágios e é enviado a diferentes partes. No exemplo do câncer de mama, as cartas de encaminhamento são exemplos de informações como unidades de fluxo. Pessoas: Os clientes em um parque temático são um exemplo de pessoas como unidades de fluxo. Eles experimentam uma sequência de atividades desde o momento que chegam até irem embora. No exemplo do câncer de mama, as pacientes Alice e Sara são unidades de fluxo. Definir o processo a partir da perspectiva da unidade de fluxo é importante. Muitas organizações cometem o erro de definir um processo a partir do ponto de vista da organização e suas várias funções, o que significa que a câmera estaria somente no ombro do médico. Embora a câmera filmasse as mesmas atividades como se estivesse no ombro de Alice, não é a mesma coisa. Para entender a eficiência de fluxo, é importante sempre definir o processo a partir da perspectiva da unidade de fluxo. As duas formas de eficiência diferem em termos de dependência Assumir a perspectiva da unidade de fluxo nos possibilita entender uma diferença sutil, porém importante, entre eficiência de recursos e eficiência de fluxo. Embora seja geral, a diferença pode ser explicada voltando-se ao exemplo da saúde. Qualquer forma de atividade em que um sistema de saúde satisfaça as necessidades de seus pacientes envolve uma transferência de valor. A transferência de valor se dá entre os recursos dos quais a organização é formada e a unidade de fluxo sendo processada. O paciente é o receptor do valor transmitido, por exemplo, pelo pessoal do sistema de saúde. A transferência de valor ocorre quando um lado (os recursos) agrega valor e o outro lado (a unidade de fluxo) recebe valor. Consequentemente, temos as seguintes relações: Alta eficiência de recursos significa uma alta porcentagem de tempo de agregação de valor em relação a um período específico. Os recursos agregam valor o máximo possível. O filme da câmera do médico é cheio de ação. Alta eficiência de fluxo significa uma alta porcentagem de tempo de recebimento de valor em relação ao tempo total. A unidade de fluxo captura valor o máximo possível. O filme da câmera da paciente é cheio de ação. A eficiência de recursos foca a utilização de recursos específicos, enquanto a eficiência de fluxo foca como uma unidade de fluxo específica se move por entre o processo. A diferença entre essas duas formas de eficiência pode ser ilustrada como uma diferença na dependência entre recursos e unidades de fluxo. O paciente está se adaptando à situação do médico (garantindo alta eficiência de recursos), ou o médico está se adaptando à situação do paciente (garantindo alta eficiência de fluxo)? A figura a seguir ilustra a diferença na dependência para as duas formas de eficiência. A diferença na dependência é o fator chave que diferencia as duas formas de eficiência. Na eficiência de recursos, é mais importante “vincular o trabalho às pessoas” para garantir que cada recurso sempre tenha uma unidade de fluxo para processar. Na eficiência de fluxo, entretanto, é mais importante “vincular as pessoas ao trabalho”, ou seja, garantir que cada unidade de fluxo esteja sempre sendo processada por um recurso. Os limites do sistema determinam o tempo de atravessamento Uma característica importante de um processo é que você pode definir os pontos de início e fim do jeito que quiser. Você determina os limites do sistema . Poderia se dizer que o processo de câncer de mama teve início quando Alice chegou ao consultório do clínico geral e foi encerrado quando ela o deixou. Ou poderia se dizer que teve início quando ela começou a se preocupar pela primeira vez e terminou quando ela recebeu o diagnóstico. É você mesmo que sempre escolhe os limites do sistema. A definição dos limites do sistema é importante, dado que determina a medida crítica dos tempos de atravessamento ou de processamento. O tempo de atravessamento de uma unidadede fluxo é um dos elementos necessários para calcular a eficiência de fluxo. O tempo de atravessamento é simplesmente o tempo que leva para a unidade de fluxo se mover por todo o processo, conforme definido, do início ao fim. É importante olhar para o tempo de processamento a partir da perspectiva da unidade de fluxo. O tempo de processamento para Alice foi de 42 dias, contra duas horas para Sara. Nesses exemplos, o processo foi definido como o tempo desde o primeiro contato com o sistema de saúde até o ponto em que a paciente recebeu o diagnóstico. A maior parte das organizações achará desafiador definir o processo (e portanto, o tempo de atravessamento) como tendo início no surgimento de uma necessidade e terminando quando esta é atendida. Contudo, tal definição pode levar a efeitos interessantes e inovações. Por exemplo, se definido como tendo início no momento em que sai de casa ou escritório até a hora em que entra no avião, o tempo de processamento para um passageiro de uma companhia aérea será muito longo. Com o objetivo de encurtar este tempo de processamento, a companhia aérea britânica Virgin Atlantic lançou um serviço para executivos atarefados. O serviço implicava buscar os passageiros em seus locais de trabalho e levá-los a Heathrow de motocicleta passando pelo tráfego pesado de Londres, e em Heathrow eles poderiam pegar um “expresso” até o aeroporto. Os passageiros podiam embarcar no avião sem ter de ficar em filas e ir direto à Primeira Classe. Ao enxergar todo o fluxo do cliente, a Virgin Atlantic pôde oferecer um serviço com preço acima da concorrência. Classificando as atividades no processo Todos os processos consistem de uma sequência de atividades nas quais se processa a unidade de fluxo. Como no caso de Alice, essas atividades podem ser divididas em vários videoclipes ou, de modo mais geral, em categorias diferentes. Duas dimensões básicas dessas categorias são particularmente importantes para entender a eficiência de fluxo: valor e necessidades. Atividades que agregam valor O conceito de atividades que agregam valor é crucial para entender-se a eficiência de fluxo. Ao se definir as atividades que agregam valor, é vital assumir a perspectiva da unidade de fluxo. Da perspectiva da unidade de fluxo, as atividades agregam valor quando a unidade de fluxo recebe valor. Agrega-se valor quando algo acontece para a unidade de fluxo, ou quando ela é movida adiante (está sendo processada). Os exemplos de atividades que agregam valor incluem: Quando materiais para um carro são processados em uma máquina; Quando um funcionário do Departamento Municipal de Planejamento Urbano lida com um requerimento de planejamento; e Quando Alice e Sara se encontram com o pessoal da saúde. Assim, uma atividade que agrega valor é aquela em que a unidade de fluxo está sendo processada. Usando o mesmo raciocínio, uma atividade que não agrega valor – uma atividade desperdiçadora – é a que não processa a unidade de fluxo. Alguns exemplos de atividades desperdiçadoras ocorrem: Quando materiais estão aguardando em um almoxarifado; Quando uma requisição de planejamento fica numa pilha de papéis na mesa de alguém esperando para ser tratada; e Quando Alice tem de esperar duas semanas para o primeiro horário de mamografia disponível. Contudo, é importante observar que até os tempos de espera podem agregar valor em certos casos. Maturar queijo ou envelhecer uísque são exemplos de espera (armazenamento) que agregam valor, porque a espera é parte do processo. Nesses casos, o armazenamento agrega valor à unidade de fluxo (o queijo ou o uísque). A necessidade define o valor O valor sempre é definido a partir da perspectiva do cliente. É claro que o conceito de “cliente” pode ser problemático. Quem é o cliente do setor público? Quem é o cliente para o corpo de bombeiros? Se for difícil identificar um cliente específico, então o foco pode mudar para a necessidade que a organização satisfaz. Em vez disso, poderíamos perguntar: “Que necessidade o corpo de bombeiros satisfaz?” Entre outras coisas, o corpo de bombeiros se especializa em satisfazer a necessidade de apagar incêndios. Portanto, o processo poderia ser definido a partir do momento em que a necessidade é identificada (alguém descobre um incêndio) até o momento em que ela é satisfeita (o corpo de bombeiros apaga o fogo com sucesso). Necessidades diretas e indiretas Quando pessoas são unidades de fluxo, é importante a clareza acerca da diferença entre necessidade direta e necessidade indireta. Tanto Alice como Sara precisavam saber se tinham câncer. Nós chamamos isso de uma necessidade direta , porque essa necessidade foi a razão de as duas mulheres iniciarem um processo diagnóstico. Alice e Sara também tinham necessidades indiretas , como a necessidade de se sentir segura, a necessidade de ser atendida profissionalmente e a necessidade de entender e ser informada. As necessidades diretas dizem respeito a criar um resultado concreto (por exemplo, chegar a um diagnóstico), enquanto as necessidades indiretas dizem respeito à experiência. Portanto, quando as pessoas são unidades de fluxo, é importante analisar as necessidades diretas e indiretas, mesmo que o foco principal esteja geralmente nas necessidades diretas. No departamento de acidentes e emergência de um hospital, é natural que se foque as necessidades diretas (salvar a vida de um paciente), porque o paciente pode estar inconsciente ou muito ferido. No entanto, se um médico estiver dando ao paciente os resultados de um exame de câncer, haverá naturalmente um foco mais forte nas necessidades indiretas. O médico desejará garantir que, apesar de às vezes ter de dar notícias ruins, o faça com sensibilidade e crie uma experiência o mais positiva possível. Nos negócios, as escolhas estratégicas determinam quais necessidades são colocadas em foco. As companhias aéreas com tarifas baixas focam as necessidades diretas, ou seja, “transportar pessoas”. O cliente que compra um bilhete na classe executiva espera que o voo seja uma experiência agradável. Neste caso, tanto a necessidade direta (o transporte) como a necessidade indireta (a experiência) são atendidas. Os parques temáticos da Disney são um excelente exemplo de se lidar com necessidades indiretas. Enquanto estamos na fila para a montanha-russa, coisas estão acontecendo o tempo todo em derredor. Isso nos faz sentir que estamos vivenciando valor, apesar do fato de não estarmos fazendo nada além de esperar. O modo como percebemos o que está acontecendo é quase sempre mais importante do que está acontecendo de fato (ou não está acontecendo, neste caso). A necessidade que temos ao visitarmos um parque temático da Disney não é apenas de sermos distraídos pelas atrações (necessidade direta), mas também de sermos entretidos o tempo todo (necessidade indireta). A Upplands Motor, uma concessionária de carros de Estocolmo, é outro exemplo de como uma companhia pode ser boa em trabalhar com as necessidades indiretas dos clientes. Os clientes que chegam à concessionária são recebidos com a seguinte informação: “Bem-vindo! Por favor, retire uma senha e aguarde sua vez. Se esperar mais de dez minutos contando do momento em que pegou a senha até o momento em que receber ajuda da central de atendimento, nós daremos um tanque de combustível grátis para o carro no qual você veio até aqui.” A espera nunca é chata na Upplands Motor. Eles oferecem café aos clientes, almoço, acesso livre a internet, tratamentos de beleza, massagens, ou uma carona até um campo de treinamento de golfe que fica próximo dali. A Upplands Motor foca continuamente a experiência do cliente. A eficiênciade fluxo é uma atividade que agrega valor em relação ao tempo de atravessamento Tendo definido o tempo de atravessamento e as atividades que agregam valor, podemos proporcionar uma definição precisa da eficiência de fluxo: A eficiência de fluxo é a soma de atividades que agregam valor em relação ao tempo de atravessamento. O próprio tempo de atravessamento é geralmente um indicador de valor; ou seja, quanto mais rápido vai, tanto melhor. Porém, não precisa ser, conforme pode explicar o conceito de necessidades indiretas. Imagine um dentista muito eficiente em fluxo. Você chega na hora exata da consulta. Assim que passa pela porta, você já está no consultório. Não há sala de espera. A cadeira já está meio reclinada para economizar tempo. Você senta e é imediatamente colocado numa posição de descanso. O dentista já está preparado e a broca também, e não demora cinco segundos para ela estar em seu dente. Todo o procedimento é finalizado em cinco minutos. Trata-se de uma eficiência de fluxo de classe mundial! Ou talvez não! Talvez o cliente tenha necessidades indiretas. Para uma pessoa que tem medo desse tipo de profissional, esta não seria uma visita a um dentista eficiente em fluxo. Um paciente assim precisa de tempo para sentar e relaxar na sala de espera, e talvez para ir ao banheiro. O paciente quer que o dentista converse e explique o que vai acontecer. Mais do que anestesia, o paciente quer ser reconfortado. Ao mesmo tempo em que todas estas atividades agregariam ao tempo de atravessamento, elas também agregariam valor, de modo que o processo seria mais eficiente em fluxo. O conceito de necessidades indiretas também pode ser usado para analisar o exemplo inicial de câncer de mama. No caso de Sara, ela pode ter recebido o diagnóstico um pouco rápido demais. Ter a primeira consulta com uma enfermeira e receber o diagnóstico duas horas depois poderia ser uma experiência emocionalmente turbulenta. Sara pode ter precisado de um pouquinho mais de tempo entre os vários estágios para absorver tudo que está acontecendo com ela. Essa é uma necessidade indireta que surge da necessidade direta de um diagnóstico. A necessidade sempre determina quais são as atividades que agregam valor e, portanto, o que é eficiência de fluxo. A eficiência de fluxo é a densidade da transferência de valor É importante esclarecer também que a nossa definição de eficiência de fluxo considera a densidade do valor de transferência, desde um recurso até uma unidade de fluxo. Mais especificamente, a eficiência de fluxo, refere-se à parcela de atividades que agregam valor em relação ao tempo de atravessamento. Contudo, é possível melhorar o valor do cliente aumentando-se (ou diminuindo-se) a velocidade da transferência de valor. Ilustramos isso com um exemplo. É verão e você quer um visual novo. Então, você marca um horário com o seu cabeleireiro favorito, o Marco Antonio, da Mega Hair Design. Ele corta o seu cabelo em quarenta minutos, e o tempo total da visita é de 50 minutos. Portanto, o tempo de agregação de valor é de 40 minutos de um tempo de atravessamento total de 50 minutos, o que representa uma eficiência de 80%. Seu amigo se impressiona com o seu novo visual e marca um horário com o Jean, da Studio Hair, que sempre oferece cortes excelentes. Jean leva apenas 30 minutos para finalizar o corte, de um tempo total de 40 minutos que seu amigo passou no salão. Portanto, a eficiência de fluxo do corte de cabelo de seu amigo é de 75%. Jean termina o corte dez minutos mais rápido que Marco Antonio; a velocidade da transferência de valor foi mais rápida. Contudo, comparar os dois de uma perspectiva da eficiência de fluxo indicaria que Marco Antonio é mais eficiente que Jean. Porém, trata-se de uma comparação irreal, já que as velocidades da transferência de valor foram diferentes. Estamos comparando alhos e bugalhos. Eficiência de fluxo não tem a ver com aumentar a velocidade das atividades que agregam valor. Tem a ver com maximizar a densidade da transferência de valor e eliminar as atividades que não agregam valor. Em vez de ter a ver com cortar o cabelo mais rápido, tem a ver com reduzir o tempo de espera para o cliente. No que tange às atividades que agregam valor, a eficiência de fluxo enfatiza a identificação da velocidade “correta”. O que é correto para o consumidor? O que é correto para o empregado? A intenção é maximizar o valor do cliente alcançando-se um bom equilíbrio. As organizações consistem de muitos processos Há muitos mal-entendidos acerca dos processos. Talvez o mais relevante seja que os processos são restritos a rotinas de trabalho formalizadas. Nada poderia estar mais distante da verdade. Em muitas organizações a palavra processo é usada para descrever rotinas de trabalho formalizadas. Essas rotinas de trabalho são documentadas em sistemas distintos e descrevem o modo que certa tarefa deve ser executada, como o recrutamento de um novo membro do quadro de funcionários ou a compra de luvas. Pode-se documentar até mesmo a informação de quem realizará cada tarefa e a ordem em que as tarefas devem ser realizadas. Ver os processos somente como rotinas de trabalho formalizadas não contempla todo o significado do termo processo. É importante entender que todas as organizações têm processos, independente de serem formalizados ou não. Os processos são a pedra angular de todas as organizações; é neles que as organizações fazem o que fazem. É por intermédio dos processos que a eficiência de fluxo é criada. Então, quantos processos formam uma organização? Alguns pesquisadores alegam que todas as organizações podem ser descritas com pouco menos de vinte processos principais, como desde o pedido do cliente até a entrega, ou desde a ideia até o produto. Isso é um extremo. O outro extremo pode ser ilustrado usando-se a Volvo Car Corporation, que definiu e documentou milhares de processos de uma só vez. Então, qual extremo do espectro está correto? A resposta é: depende. O número de processos em uma organização depende primeiramente de como os limites do sistema foram definidos, onde a organização vê o processo se iniciar e terminar. A organização pode estabelecer os limites do sistema onde quiser, o que torna difícil especificar o número de processos. O número de processos também depende do nível de abstração. Um processo em um alto nível de abstração pode incluir companhias distintas que compram, produzem e vendem um produto em uma cadeia de suprimentos, desde as matérias-primas até o consumidor final. Um processo em um baixo nível de abstração pode constituir-se das máquinas diferentes que são usadas na fábrica para produzir um componente simples para um produto. Os níveis de abstração significam que uma organização pode ser vista como constituída de alguns processos principais, sendo cada um deles formado por vários subprocessos. Cada subprocesso, por sua vez, é constituído de mais subprocessos, e assim por diante. Finalmente, chegamos ao nível das sequências de atividades individuais, que são as partes menores de um processo. Devido ao fato de os processos poderem ser definidos de maneiras diferentes e analisados em níveis diversos, dizer quantos processos são necessários para constituir uma organização sempre será uma avaliação subjetiva. P CAPÍTULO 3 O que faz um processo fluir ara entender o que impede que as organizações tenham fluxos eficientes, é importante perceber que os processos operam de acordo com determinadas leis. A palavra “leis” é vital aqui. Essas leis, que podem ser comprovadas matematicamente, são universais; elas se aplicam independente de qual tipo de unidade de fluxo esteja sendo processada ou de como o processo esteja definido. Este capítulo explica três leis. Cada umadelas ilustra como os processos funcionam e por que é difícil atingir uma alta eficiência de fluxo. As três leis também nos ajudam a entender por que é difícil combinar alta eficiência de recursos e alta eficiência de fluxo. O que torna isso particularmente difícil é que todos os processos, em diversos níveis, estão sujeitos à variação. O processo de embarque em um voo Você está chegando atrasado ao aeroporto. A sensação não é boa, já que você gosta de ter bastante tempo para olhar as lojas e talvez escolher um novo perfume ou uma garrafa de vinho. As coisas deram erradas hoje, desde a hora que você saiu. O táxi atrasou por causa do trânsito, o que o fez perder o ônibus que você planejara pegar para o aeroporto. Por sorte, o check-in normalmente não é problema. As filas diminuíram surpreendentemente desde que se introduziu o check-in on-line. Felizmente, você fez o check-in on-line e garantiu um dos bancos mais procurados na fileira de saída de emergência, o que lhe permite espaço extra para as pernas. Infelizmente, a fila para o check-in foi substituída por uma fila para despachar bagagem e, como há somente um balcão aberto, tudo que você tem a fazer é entrar nela. Esperar para despachar a bagagem é mais estressante que o normal, já que você sabe que a parte mais difícil, que é passar pelo controle de segurança, ainda está por vir. Depois de todos os ataques terroristas ocorridos em todo o mundo na última década, os controles de segurança com suas filas se tornaram o maior fator de estresse do aeroporto. Passando tranquilamente pelo posto de check-in automatizado, você finalmente chega ao controle de segurança. Como sempre, há longas filas. Você olha para o relógio e percebe que o tempo está ficando escasso. Seus níveis de estresse começam a aumentar, e a única coisa que você consegue pensar é em passar pelas revistas de segurança o mais rápido possível. Quando chega à segurança, tem uma boa caminhada até o portão. Você percebe que uma das filas está mais curta que as outras. Você muda para a fila mais curta antes que outra pessoa tenha chance de perceber a oportunidade. Você respira fundo e começa instantaneamente a se sentir um pouco mais calmo. Para sua decepção, você descobre rapidamente que na verdade essa fila está andando mais devagar do que a outra, muito devagar mesmo. Seu sentimento de calma vira estresse novamente. A causa da demora é um senhor idoso. Ele tem uma porção de coisas que precisa colocar sobre a esteira rolante e está claro que não sabia que é preciso esvaziar os bolsos. Também lhe pedem que ele tire os sapatos. Ele não está nada feliz, nem o pessoal da segurança. Você olha para o outro lado e vê que a senhora que estava atrás de você na outra fila acabou de passar pela segurança. Hoje não é o meu dia , você pensa. Você já abandonou a ideia de poder ver as lojas e agora está se preparando para correr para o portão. Enquanto corre para o portão de embarque, você jura que sairá de casa muito mais cedo na próxima vez; pois teria valido a pena para evitar todo esse estresse. Você se consola com o fato de que a chamada para o seu voo começou a piscar no painel: “Dirija-se ao Portão”. Você sabe que geralmente chamam os passageiros para se dirigir ao portão um pouco antes de o embarque começar. Você chega ao portão justamente no anúncio da última chamada e caminha confiante para a verificação do cartão de embarque e identidade. Porém, a fila continua a bordo enquanto você espera todos acharem lugares para guardar suas bagagens de todos os tamanhos possíveis e impossíveis e se sentarem. Finalmente, você se senta na fileira da saída de emergência e agora pode estender as pernas e relaxar. Chegar da entrada do aeroporto ao assento no avião pode envolver bastante estresse e parte desse estresse pode se explicar com as leis que determinam como todos os processos funcionam. A Lei de Little A primeira lei que nos ajuda a entender como os processos funcionam é a Lei de Little. Trata-se de uma lei intuitivamente simples, e podemos utilizar como exemplo a experiência da escolha de uma fila no controle de segurança. A Lei de Little explica por que a segunda fila demorou mais do que a primeira que fora escolhida. A Lei de Little no controle de segurança Seu interesse é passar pelo controle de segurança o mais rápido possível. Em outras palavras, você queria um tempo de atravessamento curto, por isso escolheu a fila mais curta. O que você não levou em consideração foi o tempo médio que o funcionário demorava para examinar cada pessoa. Esse tempo era maior na fila para a qual você se mudou do que na fila em que você estava inicialmente. O tempo de atravessamento é o produto do número total de pessoas na fila e o tempo médio que é preciso para examinar uma pessoa. A experiência de escolher uma fila no controle de segurança ilustra a Lei de Little, que declara que: Tempo de atravessamento = unidades de fluxo em processo × tempo de ciclo Como já definido anteriormente, o tempo de atravessamento depende dos limites estabelecidos para o sistema, isto é, onde definimos que o processo começa e termina. Nesse exemplo, o processo começa quando você entra na fila e acaba quando tiver passado pelo controle de segurança. Os limites do sistema também poderiam ser definidos a partir do momento em que você entrou no aeroporto até o instante em que embarcou no avião. O que é importante é que as leis se aplicam independente de onde estabelecemos os limites. Devemos ajustar o modo que definimos unidades de fluxo em processo, bem como o tempo de ciclo, ao modo que definimos os limites de sistema dos processos. “Unidades de fluxo em processo” são todas as unidades de fluxo dentro dos limites do sistema escolhidos: todas as unidades de fluxo que iniciaram o processo, mas ainda não saíram dele. No exemplo do aeroporto, as unidades de fluxo no processo são os passageiros que estão na fila do controle de segurança, mas que ainda não passaram pelas revistas. O tempo de ciclo é o tempo médio entre a finalização do processo de duas unidades de fluxo e se refere ao ritmo no qual as unidades de fluxo se movem ao longo do processo. Em nosso exemplo, o tempo de ciclo é o tempo médio que leva entre uma pessoa finalizar as revistas de segurança e a próxima pessoa completar sua revista de segurança. O exemplo a seguir mostra como você poderia ter aplicado a Lei de Little ao escolher uma fila. Suponha que há quinze pessoas na fila onde você estava e dez na fila para a qual você se mudou. Na primeira fila, mais rápida, passa uma pessoa a cada minuto pela segurança. Na outra, a fila mais lenta, passa uma pessoa a cada dois minutos. O que se aplicaria é: Tempo de atravessamento na primeira fila = 15 pessoas × 1 minuto = 15 minutos Tempo de atravessamento na segunda fila = 10 pessoas × 2 minutos = 20 minutos A Lei de Little e o tempo de atravessamento A Lei de Little nos mostra que o tempo de atravessamento é afetado por duas coisas: O número de unidades de fluxo no processo e o tempo de ciclo. Um tempo de ciclo longo significa um tempo de atravessamento mais longo. O ciclo de tempo longo ocorre quando não é possível trabalhar mais rápido ou quando há capacidade insuficiente. A Lei de Little também mostra que o tempo de atravessamento aumenta se aumentar o número das unidades de fluxo no processo. Quanto mais pessoas na nossa frente na fila do controle de segurança, tanto mais tempo leva para todos passarem (visto que o tempo de ciclo é constante). Portanto, ter unidades de fluxo no processo aumenta o tempo de atravessamento. Há um paradoxo aqui. Para assegurar uma eficiência de recursos alta, devemos sempre utilizar nossos recursos ao máximo, de preferência 100%. Para fazer isso, sempre deve haver trabalhoa se fazer; o trabalho jamais pode ser finalizado. Isso significa que precisamos de um buffer de unidades de fluxo para que não arrisquemos ter de esperar para trabalhar. É melhor que as unidades de fluxo esperem que estejamos livres do que esperar que elas venham até nós. Podemos ilustrar isso com um especialista treinado na saúde. Se o foco estiver na alta utilização de recursos, é melhor que os pacientes esperem pelo especialista do que o especialista esperar pelos pacientes. O paradoxo é, portanto, que garantir um buffer de unidades de fluxo a fim de assegurar a máxima utilização de recursos serve para aumentar o tempo de atravessamento. Retornando ao exemplo do início, podemos ver o efeito da Lei de Little. No caso de Alice, o sistema de saúde é organizado para lidar com vários diagnósticos e o foco está na eficiência de recursos. É importante utilizar as várias funções especialistas, então as filas asseguram que os especialistas não fiquem sem trabalho. Isso significa que Alice deve esperar entre os vários estágios no processo de obtenção de um diagnóstico. O tempo de atravessamento é longo e a eficiência de fluxo é baixa. Sara, no entanto, passa por um sistema de saúde focado em uma necessidade: a necessidade de se obter um diagnóstico de câncer de mama. Há menos “pacientes no processo” em qualquer ponto no tempo, o que significa que o tempo de atravessamento é mais curto e a eficiência de fluxo é mais alta. A lei dos gargalos A segunda lei que nos ajuda a compreender como funcionam os processos, bem como o que impede as organizações de aumentar a eficiência de fluxo, é a lei dos gargalos. Como no exemplo de se chegar da porta do aeroporto ao cobiçado assento, você raramente se movimenta pelo aeroporto sem se deparar com obstáculos. Há muitos pontos em que as filas se formam a caminho do aeroporto. Esses pontos são chamados de gargalos . Eles são estágios no processo, na forma de subprocessos ou atividades individuais que, como o gargalo de uma garrafa, limitam o fluxo. É aqui que o fluxo de uma pessoa pelo aeroporto, do momento em que ela chega até que esteja sentada no avião, pode ser bloqueado. Os gargalos aumentam o tempo de atravessamento Basicamente, a lei dos gargalos declara que o tempo de atravessamento em um processo é afetado principalmente pelo estágio que tem o maior tempo de ciclo. É relativamente simples entender o que são os gargalos, conforme ilustra o exemplo do aeroporto. Em termos formais, um gargalo é o estágio que tem o tempo de ciclo mais longo no processo. Um gargalo também pode ser visto como o estágio que tem o fluxo mais vagaroso no processo; é o estágio que “limita” o fluxo. Consequentemente, os gargalos limitarão o fluxo em todo o processo. Os processos com gargalos apresentam duas características chave: 1. Imediatamente antes de um gargalo há sempre uma fila, independente de ser material, informação ou pessoas fluindo pelo processo. No geral, pode-se ver claramente em qual estágio do processo está o gargalo, especialmente quando as unidades de fluxo são materiais ou pessoas. Quando a unidade de fluxo é informação, pode ser mais difícil ver a fila no gargalo, mas ela existe. 2. Os estágios de atividade após gargalo devem esperar para ser ativados, o que significa que não serão plenamente utilizados. Devido ao gargalo ser o estágio da atividade com rendimento mais lento, os estágios que estão depois desse gargalo trabalharão em ritmo mais lento do que poderiam ter. Ainda que seja eliminado, por exemplo, pela adição de recursos extras ou trabalho mais rápido, o gargalo reaparecerá em outro lugar. É como o jogo de fliperama “Whac-A-Mole” (Acerte a Toupeira), em que as toupeiras surgem dos buracos e você tem de acertá-las com uma marreta, forçando-as a entrar no buraco novamente. Tão logo você acerta uma (ou até antes), outra já surge do buraco. Da mesma maneira, os gargalos do processo se movimentam e surgem em novos lugares. Os gargalos expandem o tempo de atravessamento, visto que uma fila de unidades de fluxo se forma e espera para ser processada. Pode-se entender isso usando-se a Lei de Little. Como há uma fila, há unidades de fluxo em processo. Dado que nós não mudamos o tempo de ciclo (pela adição de recursos extras ou pelo trabalho mais rápido), a adição de unidades de fluxo no processo aumentará o tempo de atravessamento. Devido aos gargalos causarem atrasos, é o tempo que não agrega valor que normalmente aumenta o tempo de atravessamento. Se lutarmos por uma alta eficiência de fluxo, então desejaremos evitar gargalos em nossos processos. Entretanto, se lutamos tão diligentemente para evitar gargalos, por que eles aparecem? Por que os gargalos aparecem Há duas razões pelas quais os gargalos surgem nos processos. Atende-se a primeira condição para gargalos se os estágios do processo tiverem de ser executados em determinada ordem. No exemplo do aeroporto, você tem de chegar ali antes de poder despachar as bagagens. Você precisa ter despachado a bagagem antes de poder passar pelo controle de segurança. Você precisa ter passado pelo controle de segurança antes de poder dirigir-se ao portão de embarque e precisa ter passado pelo portão de embarque antes de poder embarcar no avião. É natural que essa condição seja atendida, especialmente se os limites do sistema para o processo forem relativamente amplos. A definição mais vasta possível de limites do sistema define o início de um processo como o ponto no qual uma necessidade surgiu e o final do processo como o ponto no qual ela foi atendida. As necessidades normalmente não podem ser atendidas por meio de atividades que possam ser realizadas simultaneamente em um único lugar e pela mesma pessoa. Na realidade, faz parte da natureza de uma organização dividir atividades que devem ser realizadas para atender a uma necessidade em diferentes etapas. A segunda razão da existência de gargalos é a variação. Precisa haver variação no processo. As pessoas levam uma quantidade variável de tempo para passar no controle de segurança do aeroporto. Algumas têm computadores que precisam ser retirados da bagagem de mão, outras esquecem que há moedas em seus bolsos e outras esquecem que têm frascos de perfumes maiores do que os 100 ml permitidos. Tudo isso leva à variação no tempo de atendimento. Em princípio, é impossível eliminar a variação, e mostrou-se que ela tem um efeito muito negativo no processo e eficiência de fluxo. Isso se explica pela lei do efeito da variação nos processos. A lei do efeito da variação nos processos A terceira lei que nos ajuda a entender como funcionam os processos diz respeito à conexão entre variação, recursos, eficiência e tempo de atravessamento. A chave aqui é a variação, a qual tem um impacto profundo na eficiência de fluxo. Ela tem um impacto especialmente negativo na capacidade de uma organização de combinar alta eficiência de recursos e alta eficiência de fluxo. Por essa razão, é vital entender a variação e seu impacto para se entender a eficiência de fluxo. O que é variação? Sempre haverá variação nos processos. As razões para a variação são potencialmente intermináveis, porém podem ser divididas em três fontes distintas: recursos, unidades de fluxo e fatores externos. Recursos: As máquinas podem ser propensas a quebrar, o que causa variação. Alguns sistemas operacionais são lentos, outros mais rápidos. Médicos diferentes levam tempos diferentes para examinar um paciente. Funcionários experientes são rápidos e trabalham de acordo com rotinas claras, ao passo que funcionários novos trabalham mais devagar. Unidades de fluxo: Os clientes de um salão de cabeleireiros têm demandas distintas de cortes de cabelo. Os
Compartilhar