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HISTÓRIA DO BRASIL IMPÉRIO

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2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
RAFAEL RICARTE DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DO BRASIL 
IMPÉRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ªEdição 
Sobral/2017 
 
4 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
 
Apresentação do Professor 
Sobre o autor 
 
 
UNIDADE DE ESTUDO I – A CRISE DO SISTEMA COLONIAL 
 
A crise portuguesa do século XVIII e a administração pombalina 
A família real no Brasil 
A Revolução Pernambucana de 1817 
A Independência do Brasil 
 
UNIDADE DE ESTUDO II – A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E O 
PRIMEIRO REINADO 
 
O primeiro Reinado e a Constituição de 1824 
A Confederação do Equador 
A abdicação de D. Pedro I 
 
UNIDADE DE ESTUDO III – REGÊNCIAS E REVOLTAS NO BRASIL 
IMPERIAL 
 
 Regência e Reformas Liberais 
 O controle: a Guarda Nacional e o Código de Processo Criminal 
 O Ato Adicional de 1834 e o Golpe da Maioridade 
 As revoltas regenciais 
 
UNIDADE DE ESTUDO IV – O SEGUNDO REINADO E A CONSOLIDAÇÃO 
DO IMPÉRIO 
A disputa entre Liberais e Conservadores 
O “parlamentarismo à brasileira” 
 
6 
 
A Guerra do Paraguai 
O Imperador, o IHGB e a construção da nação brasileira 
 
UNIDADE DE ESTUDO V – ESCRAVIDÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NO 
BRASIL IMPERIAL 
 
Escravidão, movimento abolicionista e pós-abolição no Brasil 
A economia cafeeira e a modernização 
A Lei de Terras de 1850 
Os imigrantes no Brasil 
 
UNIDADE DE ESTUDO VI – TRANSIÇÃO PARA A REPÚBLICA 
 
A crise do regime monárquico 
Os partidos e o movimento republicano 
O povo bestializado 
 
 
Bibliografia 
Bibliografia Web 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Apresentação do Professor 
 
Olá estudante! 
 
Seja bem-vindo à disciplina de História do Brasil II! 
 
Este material foi elaborado para debatermos sobre a História do Brasil 
Imperial, tomando como eixo as questões políticas, econômicas e os 
movimentos sociais do período em questão. Convidamos você a pensar na 
construção de uma história e uma identidade para a jovem nação e seu povo. 
 
O material foi escrito de modo a facilitar o seu aprendizado, buscando 
levantar algumas questões ao longo do texto, analisando tabelas e mapas, 
como também articulando a escrita com os principais autores que analisam o 
Brasil no período imperial. 
 
Ao longo de sua leitura, procure observar os questionamentos 
sugeridos pelo autor e busque aprofundar seus conhecimentos nas obras 
sugeridas. Ao planejarmos este material, objetivamos que você possa 
compreender este período tão importante para a construção do Estado 
nacional brasileiro. 
 
Agora é com você! Leia o material com atenção, faça as atividades 
sugeridas e interaja no Ambiente Virtual de Aprendizagem com seus colegas e 
tutor. 
 
Bom estudo! 
 
O Autor. 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
Rafael Ricarte da Silva. Doutorando em História Social pela 
Universidade Federal do Ceará, com Estágio de Doutorado Sanduíche 
no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), Mestre em História Social 
(2010) e Licenciado em História pela UFC (2007). Especialista em 
Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela 
Universidade Federal Fluminense (2012). Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa - 
História do Ceará Colonial: economia, memória e sociedade. Tem experiência na área 
de História, com ênfase em História Moderna e História do Brasil Colonial, atuando 
nos seguintes temas: História Agrária, História das Elites, História e Direito e História 
do Ceará Colonial. Atualmente, é professor do Curso de Graduação a distância em 
História das Faculdades INTA, setor de História do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
A CRISE DO SISTEMA 
COLONIAL 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
A crise portuguesa do século XVIII e a administração 
pombalina 
 
 
Antes de iniciarmos nossos estudos acerca do período imperial no 
Brasil, é interessante pontuarmos alguns aspectos da colonização portuguesa 
na América e entendermos o que foi a crise do sistema colonial no transcorrer 
do século XVIII. 
 
A colonização portuguesa na América estendeu-se por mais de 
trezentos anos e esteve assentada na grande propriedade territorial (latifúndio), 
na produção monocultora, voltada para a exportação e mão de obra escrava. 
Esta última, num primeiro momento, foi a partir da exploração do trabalho 
indígena. Posteriormente, com os africanos escravizados. 
 
Nos primeiros anos da conquista da América, os portugueses não 
sistematizaram um domínio sobre as terras recém-descobertas. Somente a 
partir da década de 1530 com a implementação das capitanias hereditárias e 
na segunda metade do século XVI com a criação do Governo Geral é que a 
exploração no litoral da América portuguesa ganha impulso. 
 
Esse cenário transformou-se ao longo dos mais de trezentos anos da 
“colonização” lusitana. A América e a África, ou seja, o Atlântico transforma-se 
no principal eixo econômico e colonial de Portugal, sendo o Brasil a principal 
colônia. Assim, a partir da segunda metade do século XVI, segundo Vitorino 
Magalhães Godinho (1978), em Ensaios II, a Coroa portuguesa buscou 
intensificar suas relações na conquista da América devido aos ataques de 
nações inimigas e ao cenário de diminuição de receitas nas Índias. Para o 
autor, este quadro de inversão da política de conquista da Ásia para o Atlântico 
possibilitou uma viagem estrutural do Império português para o Atlântico no 
transcorrer da segunda metade do século XVII. 
 
 
12 
 
Neste contexto, segundo Maria Fernanda Bicalho, em seu livro A 
cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII, a partir do limiar do 
século XVII, redefiniram-se hegemonias – coloniais e europeias – e alianças 
políticas que transferiram o eixo político-econômico do Oriente para o Oceano 
Atlântico. Assim, “[...] já em meados do século XVII o eixo dinâmico do Império 
colonial português havia se afirmado definitivamente no Atlântico, ficando as 
possessões orientais num plano secundário” (BICALHO, 2013, p. 51). 
 
 
Mas, o que resultou desta mudança? Como esta viragem estrutural 
modificou o processo de conquista na América lusa? 
 
 
Neste cenário, a conquista da costa leste-oeste da América portuguesa 
e a investida aos sertões mostraram-se essenciais. Os conflitos que 
envolveram a conquista do Maranhão frente aos franceses e as entradas aos 
sertões das Capitanias do Norte do Estado do Brasil, após a guerra de 
reconquista sobre os holandeses na Capitania Geral de Pernambuco, 
estabeleceram a supremacia lusitana neste espaço com a consolidação de 
pontos de proteção que possibilitavam o comércio e a comunicação entre as 
diversas partes constitutivas do Império ultramarino português. 
 
A afirmação dos domínios da metrópole na América possibilitou a 
formação de uma sociedade colonial, estruturada por meio das relações 
econômicas, políticas, culturais e sociais permeadas pela exploração 
econômica e a escravidão. Entretanto, a partir da segunda metade do século 
XVIII o sistema colonial montado pela Coroa portuguesa começou a enfrentar 
problemas devido às conjunturas imperiais. 
 
Em finais do século XVIII, Portugal apresentava um cenário de crise 
política e econômica. Para compreendermos este contexto de crise, é 
necessário que recuarmos até o século XVII, momento de revoluções e 
grandes transformações na Europa e na América do Norte. Nesse período, a 
 
13 
 
Europa era marcada pela crescente influência da burguesia e dos ideais 
iluministas. Ideais que foram essenciais para as Revoluções Industrial, 
Francesa e Americana, bem como para a sedimentação ideológica dos 
movimentos de contestação ao Antigo Regime na EuropaOcidental, marcado 
por privilégios corporativos e por uma monarquia absolutista. 
 
Para Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Fernandes 
Machado, em O Império do Brasil, a crise do Antigo Regime e, por extensão, 
do sistema colonial foi marcada pelos: 
 
[...] acontecimentos do final do século XVIII que deram corpo e 
alma a tais mudanças. A gestação da Revolução Industrial 
inglesa, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução 
Francesa constituíram-se nos marcos dessa modernidade. As 
ideias e práticas, que reverberaram a partir deles, abalaram os 
alicerces do Antigo Regime, tanto na maior parte do continente 
europeu, quanto de suas colônias na América, ainda que 
desigualmente. A tormenta napoleônica completou a obra 
(NEVES; MACHADO, 1999, p. 24). 
 
Portugal, neste contexto internacional, apresentava-se em situação 
complicada. Pioneira no processo de conquistas ultramarinas, os portugueses 
agora enfrentavam forte concorrência de outros impérios europeus, como por 
exemplo, do holandês, francês e inglês. Essas rivalidades geraram conflitos 
que repercutiram nas conquistas além-mar, exemplo dos conflitos entre 
Inglaterra e França. Enquanto os franceses alcançaram grande influência frente 
outras monarquias europeias, os ingleses conquistavam espaços e acordos no 
mundo ultramarino. 
 
A fragilidade da economia portuguesa neste período não permitiu que a 
Coroa permanecesse com a postura de neutralidade até então adotada frente 
aos conflitos entre franceses e ingleses. Desta maneira, os lusos assinaram 
acordos comerciais com os britânicos. Acordos estes que beneficiaram, 
sobretudo, os ingleses como no Tratado de Methuen efetivado em 1703. 
 
 
14 
 
O Tratado de Methuen previa o fim das restrições à entrada de vinhos 
portugueses na Inglaterra e de tecidos ingleses em Portugal. Como a venda de 
tecidos ingleses era superior ao comércio de vinhos portugueses entre as duas 
nações, Portugal passou a acumular um déficit em sua balança comercial. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Você sabe quais outros tratados a Coroa portuguesa assinou? Foi 
somente com os ingleses? 
Pesquise e comente com seus colegas de Curso no fórum da disciplina. 
 
Com o quadro de debilidade econômica por qual Portugal passava, a 
solução adotada pela Coroa lusitana foi o aumento do controle sobre o 
comércio colonial e a exploração de ouro nas Minas Gerais. Entretanto, a partir 
da segunda metade do século XVIII, a exploração de ouro passou a sofrer uma 
constante queda na produção, diminuindo as receitas da metrópole. 
 
Para reverter este cenário e garantir mais receitas, uma série de 
medidas foram tomadas pelo ministro de Estado da Guerra e dos Negócios 
Estrangeiros, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal. 
Dentre as medidas adotadas, podemos ressaltar: 
 
 Criação de Casas de Inspeção do Tabaco e do Açúcar em 1751; 
 Criação de companhias de comércio: Companhia Geral do Grão-Pará 
e Maranhão em 1755 e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba 
em 1759; 
 Emissão do decreto de 1758 que determinava a proibição da 
escravização de indígenas na América portuguesa; 
 Expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e das conquistas 
ultramarinas em 1759; 
 Criação do Erário Real em 1761 para a cobrança do quinto e impedir 
o contrabando e a sonegação; 
 Transferência da sede do governo de Salvador para o Rio de Janeiro. 
 
 
15 
 
 
Marquês de Pombal: Nasceu em Lisboa no dia 13 de 
maio de 1699 e faleceu em Pombal no dia 08 de maio de 
1782. Tornou-se um grande ministro do governo de D. 
José I, conhecedor dos assuntos relacionados à História 
e à Legislação. 
 
 
 
Apesar dessas medidas, a crise colonial permaneceu. Aliada à questão 
econômica, o crescente interesse dos ingleses no mercado consumidor das 
colônias na América, o processo de independência dos Estados Unidos e o 
descontentamento das elites coloniais com a forte exploração por parte da 
Coroa portuguesa por meio dos elevados impostos, impulsionaram os 
movimentos de contestação à ordem colonial. 
 
Paralelamente, temos uma conjuntura europeia de expansão das 
forças napoleônicas em processo de crescente conquista, afetando 
diretamente os interesses lusitanos. Naquele contexto, a vinda da Família Real 
em 1808 transformou as relações coloniais entre Portugal e Brasil. 
 
A Família Real no Brasil 
 
Houve muita confusão no embarque e a viagem não foi fácil. 
Uma tempestade dividiu a frota; navios estavam superlotados, 
daí resultando falta de comida e água; a troca de roupa foi 
improvisada com cobertas e lençóis fornecidos pela marinha 
inglesa; para completar, o ataque dos piolhos obrigou as 
mulheres a raspar o cabelo. Mas esses aspectos novelescos 
não podem ocultar o fato de que, a partir da vinda da família 
real para o Brasil, ocorreu uma reviravolta nas relações entre a 
Metrópole e a Colônia (FAUSTO, 2004, p. 121). 
 
 
16 
 
A vinda da Família Real para o Brasil, conforme expôs Boris Fausto 
(2004), trouxe mudanças para o sistema colonial. A transferência da Corte 
portuguesa para a Colônia foi uma das consequências do processo 
expansionista de Napoleão Bonaparte na Europa Ocidental. Ao impor o 
Bloqueio Continental ao comércio entre ingleses e demais países do 
continente, os franceses afetaram diretamente Portugal. Em novembro de 
1807, as tropas francesas foram em direção a capital portuguesa. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Convidamos você para pesquisar quais os objetivos e os 
desdobramentos do Bloqueio Continental imposto por Napoleão Bonaparte na 
Europa Ocidental. 
Compartilhe com os colegas de Curso o resultado de suas pesquisas no 
fórum da disciplina no Ambiente Virtual. 
 
A saída pensada pelo Príncipe Dom João foi o embarque para o Brasil, 
transferindo entre os dias 25 e 27 de novembro a “máquina” administrativa da 
Coroa para a Colônia, ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, 
funcionários do Tesouro, patentes do exército e da marinha e membros do alto 
clero. 
 
A chegada de Dom João ao Brasil em 22 de maio de 1808 inaugurou 
uma nova etapa na história da Colônia, agora detentora da sede administrativa 
da Coroa lusitana. A transferência deste aparato burocrático da Metrópole para 
a Colônia foi um caso singular nas relações coloniais, despertando o interesse 
de diversos historiadores que buscaram compreender este evento. 
 
Dentre esses estudos, podemos citar o de Maria Odila Leite da Silva 
Dias (2005) que, em A interiorização da metrópole e outros estudos, 
afirmou que a vinda da Corte portuguesa para a Colônia proporcionou o 
enraizamento do Estado português no Centro-Sul do Brasil, transformando a 
Colônia em uma metrópole interiorizada. 
 
 
17 
 
 
Figura 1 - Transferência da família real para o Brasil 
 
 
Fonte: <https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-
familia-real-portuguesa-ao-brasil/>. 
 
 
As mudanças ocorridas com a transferência da Corte para o Brasil 
começaram tão logo se instalaram os elementos do aparato burocrático. Dom 
João, em 28 de janeiro de 1808, decretou a abertura dos portos às nações 
amigas. 
 
Nesse caso, tratava-se do encerramento do sistema colonial que 
perdurara por mais de trezentos anos, conferindo legitimidade às relações 
comerciais entre o Brasil e a Inglaterra. Outras alterações foram realizadas pelo 
príncipe regente: revogação de decretos que proibiam a instalação de 
manufaturas na Colônia, a importação de matérias primas para a indústria ficou 
livre de tributos e concessão de subsídios às indústrias de lã, seda e ferro 
(FAUSTO, 2004). 
 
Essas medidas agradaram e beneficiaram a Inglaterra, que passou a 
comercializar seus produtos manufaturados no Brasil. Os proprietários rurais 
também foram contemplados com essas medidas, possibilitando o comércio de 
seus gêneros, destinados à exportação, com mercados externos além do 
português. Ademais, Boris Fausto(2004), em História do Brasil, nos adverte 
que “[...] a escalada inglesa pelo controle do mercado colonial brasileiro 
culminou no Tratado de Navegação e Comércio, assinado após longas 
negociações em fevereiro de 1810” (FAUSTO, 2004, p. 124). 
https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-familia-real-portuguesa-ao-brasil/
https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-familia-real-portuguesa-ao-brasil/
 
18 
 
 O que determinava o Tratado de Navegação e Comércio? 
 
 
 Podemos afirmar que esse tratado buscou garantir mais um benefício 
para a Inglaterra e seus produtos. As mercadorias inglesas comercializadas no 
Brasil seriam taxadas em 15%, taxa inferior aos 16% cobrados aos produtos 
portugueses e aos 24% das demais nações. 
 
Ainda em 1810, foi firmado outro tratado entre Portugal e Inglaterra, o 
Tratado de Aliança e Amizade que refletiu no tráfico de escravos para o Brasil. 
Pelo acordo, ficava estabelecido que “[...] a Coroa portuguesa se obrigava a 
limitar o tráfico de escravos aos territórios sob seu domínio e prometia 
vagamente tomar medidas para restringi-lo” (FAUSTO, 2004, p. 125). Após o 
término da guerra contra as tropas de Napoleão, Portugal assinou novo tratado 
que determinava mais restrições ao tráfico de escravos, inclusive com a 
permissão para “visitar” navios que fossem suspeitos de transportar escravos. 
 
Para além das questões políticas, administrativas e econômicas, a 
vinda da Família Real para a Colônia transformou culturalmente parte do Brasil, 
especialmente a cidade do Rio de Janeiro. Segundo Luiz Carlos Villalta e 
André Pedroso Becho (2008), as mudanças efetivadas com a transferência da 
Corte para o Rio de Janeiro foram sentidas na vida e nos costumes, sendo que: 
 
Os anos da permanência da Corte no Brasil (1808-1821) 
trouxeram mudanças radicais na vida e nos costumes da antiga 
colônia. Nesse processo, D. João, longe de ser um bobalhão, 
mostrou-se um político hábil. Governou na confluência de 
interesses da Corte portuguesa, da abastada sociedade 
fluminense e, de resto, da região Centro-Sul do Brasil, cujo 
apoio econômico e político era essencial para a sobrevivência 
da monarquia. Como contrapartida ao suporte financeiro de 
grandes comerciantes e proprietários, o rei fez farta distribuição 
de mercês e títulos (VILLALTA; BECHO, 2008, p. 1). 
 
 
 
19 
 
As mudanças foram implementadas na tentativa de copiar o modo de 
vida europeu, buscando adequar o espaço urbano e social. Assim, criou-se a 
imprensa régia, a biblioteca, o horto e transplantaram-se as cerimônias 
realizadas nas cortes europeias. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Essas transformações urbanísticas realizadas pela Corte portuguesa no 
Rio de Janeiro atendiam a toda população? A quem se destinavam esses 
novos espaços de sociabilidade? 
Participe do fórum de conteúdo da disciplina e discuta essas questões 
com os demais colegas e tutor. 
 
 
Destacamos também, a presença de cientistas e viajantes estrangeiros 
no Brasil neste contexto oitocentista que buscaram analisar e escrever suas 
impressões acerca do que encontraram pelo Brasil, exemplo do zoólogo Spix, 
do botânico Martius e dos pintores Taunay e Debret. 
 
A transferência da Corte para o Rio de Janeiro redefiniu não só a 
relação entre Metrópole e Colônia, mas também as dinâmicas organizacionais, 
políticas e econômicas antes estabelecidas no Brasil. A região Centro-Sul 
passou a ser o centro das decisões políticas e principal eixo econômico, 
formando uma forte elite regional que se envolveria diretamente nas 
articulações para o processo de independência do Brasil. A região do que hoje 
conhecemos como o Nordeste brasileiro, até então a principal área econômica 
da Colônia, perdeu espaço na hierarquia política-econômica do Brasil. 
 
 A Revolução Pernambucana de 1817 
 
A desigualdade regional causada com a instalação da Família Real no 
Rio de Janeiro pode ser colocada como um dos motivos de descontentamento 
no “Nordeste”. Paralelo a essa questão, podemos incluir o crescente aumento 
 
20 
 
de impostos cobrados para cobrir os gastos com a Corte e com as batalhas 
militares impetradas por D. João na região do Rio da Prata. 
 
A combinação desses problemas é frequentemente apresentada como 
sendo parte dos fatores para a invasão do movimento que ficou conhecido 
como Revolução Pernambucana de 1817. Esse movimento contou com uma 
ampla participação social, tendo entre os integrantes de suas forças: padres, 
juízes, proprietários rurais, comerciantes, artesãos e militares. Assim como 
eram heterogêneos seus membros, diferentes também foram os objetivos 
almejados por seus integrantes. Segundo Boris Fausto (2004, p. 128): 
 
Para as camadas pobres da cidade, a independência estava 
associada à ideia de igualdade, uma igualdade mais para cima 
do que para baixo [...]. Para os grandes proprietários rurais, 
tratava-se de acabar com a centralização imposta pela Coroa e 
tomar em suas mãos o destino, se não da Colônia, pelo menos 
do Nordeste. 
 
A revolução começou na cidade de Recife e alcançou o sertão em 
estados como Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte, conforme podemos 
visualizar no mapa abaixo. 
 
 Figura 2 - Pernambuco em 1817 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: <http://historiasylvio.blogspot.com.br/2013/11/revolucao-pernambucana-de-1817.html>. 
 
 
21 
 
A partir do movimento no Recife, implementou-se na região do levante 
um governo republicano que previa a igualdade de direitos e liberdade 
religiosa. Após 74 dias de conflitos entre os revolucionários e as forças da 
Corte, a Revolução Pernambucana de 1817 foi sufocada com a prisão e a 
execução dos líderes. Apesar da derrota, a Revolução Pernambucana 
representou um grande marco no processo de contestação do domínio lusitano 
no Brasil e propagou e sedimentou os ideais republicanos na região, conforme 
veremos nos movimentos ocorridos posteriormente em Pernambuco. 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia a obra Nação e cidadania no Império – Novos Horizontes. A obra é 
interessante para historiadores e cientistas sociais, assim como para quem 
viveu no Brasil monárquico. Acesse no google books. 
 
 
A Independência do Brasil 
 
A Independência se explica por um conjunto de fatores, tanto 
internos como externos, mas foram os ventos trazidos de fora 
que imprimiram aos acontecimentos um rumo imprevisto pela 
maioria dos atores envolvidos, em uma escalada que passou 
da defesa da autonomia brasileira à ideia de independência 
(FAUSTO, 2004, p. 129). 
 
 
O processo de independência do Brasil foi gestado, conforme expõe 
Boris Fausto (2004), a partir de variados fatores. O Brasil, em 1815, com o fim 
dos combates contra as tropas francesas, passou a integrar o Reino Unido a 
Portugal e Algarves. Com esta decisão, Dom João (Dom João VI com a morte 
da rainha) reorganizava a monarquia portuguesa e extinguia a relação 
metrópole-colônia existente até então. 
 
https://books.google.com.br/books?id=9-WQ8ceCEfUC&printsec=frontcover&dq=isbn:8520007686&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9p-maluXPAhXTPpAKHdPTDjYQ6AEIHjAA#v=onepage&q&f=false
 
22 
 
Em 1820, surgiu na cidade do Porto um movimento de contestação ao 
processo que vinha se desenvolvendo ao longo dos anos de transferência da 
Corte para o Brasil. A Revolução Liberal de 1820 exigia, dentre outros pontos, 
o retorno do rei D. João VI a Lisboa, mudanças políticas e econômicas e uma 
nova constituição. Segundo Mário Maestri (1997, p. 28): 
 
A nova constituição garantia a soberania da nação, delimitava 
os poderes do soberano, dissolvia a Inquisição, abria os 
empregos públicos à cidadania, impunha a liberdade de 
imprensa, terminava com os privilégios eclesiásticos, 
assegurava os direitos individuais e de propriedade. Entretanto, 
Portugal era apenas uma nação agrícola atrasada. O passado 
de esplendor devia-seà exploração parasitária das colônias, 
em geral, e do Brasil, em especial. O liberalismo português, no 
que se refere ao Brasil, assumia um caráter recolonizador. A 
independência seria para Portugal, não para o Brasil. 
 
Assim, a Revolução Liberal de 1820 apresentava ambiguidades no 
plano político para o reino lusitano. A postura liberal não era colocada em 
prática quando se pensava no Brasil. Essa contradição foi sentida pelos 
“brasileiros” quando os revolucionários convocaram as Cortes (Parlamento 
português) e aprovaram medidas restritivas à liberdade administrativa e ao 
comércio do Brasil. 
 
A saída buscada por Dom João VI para tentar contornar a crise foi o 
retorno a Portugal, deixando seu filho Pedro no Brasil como príncipe regente. 
Esta situação agradou parte da elite política e econômica do Brasil, pois 
garantia a manutenção dos privilégios conquistados desde a chegada da 
Família Real. Entretanto, as Cortes pressionaram pelo retorno também de D. 
Pedro a Portugal. 
 
Em resposta as pressões das Cortes, o príncipe regente decidiu ficar 
no Brasil. No dia 09 de janeiro de 1822, o Dia do Fico, marcou-se a opção pela 
ruptura. Dentre as medidas adotadas por Dom Pedro estavam a criação de um 
exército, a formação de um novo ministério e a posterior convocação de uma 
 
23 
 
assembleia constituinte. Ainda em 1822, essas decisões tomadas por Dom 
Pedro foram revogadas pelas Cortes. 
 
A independência do Brasil, proclamada em 07 de setembro de 1822, 
resultou, como vimos, de fatores internos e externos. A aliança estabelecida 
entre a elite rural brasileira e Dom Pedro proporcionou uma ruptura sem 
grandes transformações e participação popular, mantendo os privilégios e 
garantindo o nascimento de uma monarquia nos trópicos. 
 
Figura 3 - Pintura de Pedro Américo, intitulada Independência ou 
Morte ou O Grito do Ipiranga 
 
 
Fonte: <http://historiaporimagem.blogspot.com.br/2011/09/o-grito-do-ipiranga-
independencia.html>. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a partir desse famoso quadro, elaborado sob 
encomenda, podemos ver a construção/representação de algumas imagens 
acerca do grito do Ipiranga. Que ideia a pintura buscou expressar? De que 
forma D. Pedro está retratado? Qual a finalidade da obra? 
Compartilhe suas impressões no fórum da disciplina no Ambiente 
Virtual de Aprendizagem. 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
 
 
 
A FORMAÇÃO DO ESTADO 
BRASILEIRO E O PRIMEIRO 
REINADO 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
O primeiro Reinado e a Constituição de 1824 
 
 A Independência do Brasil e a instituição de um governo monárquico 
revela a singularidade que este processo de “ruptura” com Portugal obteve. Ao 
seu redor, o Brasil tinha uma América permeada de Repúblicas pós-
independência. A opção pela Monarquia, além de representar uma 
singularidade, certamente nos demonstra a pouca participação popular, o 
desinteresse por grandes transformações sociais e a influência da elite agrária 
na manutenção dos seus privilégios. Vejamos o que José Murilo de Carvalho 
(1996) afirma sobre este processo de independência e constituição de sua elite 
política: 
 
O Brasil dispunha, ao tornar-se independente, de uma elite 
ideologicamente homogênea devido a sua formação jurídica 
em Portugal, a seu treinamento no funcionalismo público e ao 
isolamento ideológico em relação a doutrinas revolucionárias. 
Essa elite se reproduziu em condições muito semelhantes após 
a Independência, ao concentrar a formação de seus futuros 
membros em duas escolas de direito, ao fazê-los passar pela 
magistratura, ao circulá-los por vários cargos políticos e por 
várias províncias (CARVALHO, 1996, p. 34). 
 
 
Esta uniformidade da elite e a tentativa de evitar movimentos de 
contestação ao regime monárquico não conseguiram deter o surgimento de 
revoltas que buscavam questionar a ordem estabelecida. Assim, ocorreram 
diversas resistências pelo Brasil, exemplo da Batalha do Jenipapo em 1823 
no Piauí e da guerra pela Província da Cisplatina em 1825. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, convidamos você a pesquisar as motivações, o 
desenvolvimento desses movimentos de resistência ao governo imperial, a 
ordem estabelecida e como D. Pedro I conseguiu sufocar as contestações. 
Compartilhe no fórum da disciplina suas pesquisas. 
 
 
28 
 
Apesar dos movimentos de contestação, em poucos anos a 
consolidação do processo de Independência estava realizada. O 
reconhecimento externo veio com os Estados Unidos em 1824 e, 
posteriormente, de forma oficial, com a Inglaterra. Entretanto, a legitimidade 
internacional da monarquia brasileira dependia do reconhecimento de Portugal, 
efetivado em agosto de 1825 após acordo para o pagamento de uma 
compensação de 2 milhões de libras e a aceitação, por parte do Brasil, de não 
se unir a qualquer outra colônia portuguesa. Este acordo foi capitaneado pela 
Inglaterra, a quem também coube o empréstimo do dinheiro para o pagamento 
da indenização a Portugal. 
 
Ainda nos anos iniciais do pós-independência foi convocada eleições 
para a formação de uma Assembleia Constituinte que teria como 
responsabilidade a elaboração da primeira constituição do país. Instalada em 
maio de 1823, reuniu vários setores da sociedade: proprietários rurais, 
militares, funcionários públicos, padres e advogados. Os integrantes se 
dividiram essencialmente em dois grandes grupos, os que defendiam maior 
autonomia da Assembleia e limites para o exercício do poder imperial e os que 
advogavam a necessidade de um governo forte, centralizador e com poder 
absoluto do rei. 
 
Boris Fausto (2004) esclarece que as desavenças entre os 
constituintes e D. Pedro tiveram como foco as atribuições do executivo e do 
Legislativo. Assim: 
 
Os constituintes queriam que o imperador não tivesse o poder 
de dissolver a futura Câmara dos Deputados, forçando assim, 
quando julgasse necessário, novas eleições. Queriam também 
que ele não tivesse o poder de veto absoluto, ou seja, o direito 
de negar validade a qualquer lei aprovada pelo Legislativo. 
Para o imperador e os círculos políticos que o apoiavam, era 
necessário criar um Executivo forte, capaz de enfrentar as 
tendências ‘democráticas e desagregadoras’, justificando-se 
assim a concentração de maiores atribuições nas mãos do 
imperador (FAUSTO, 2004, p. 148). 
 
 
29 
 
Essas disputas levaram a dissolução da Assembleia Constituinte por D. 
Pedro, com a prisão de vários deputados, inclusive os irmãos Andradas. A 
Constituição elaborada e outorgada em 25 de março de 1824 buscou conciliar 
os interesses da elite brasileira com o autoritarismo expresso na figura do 
imperador, detentor do Poder Moderador. Dentre outros aspectos, a 
Constituição trouxe como resoluções: 
 
 Separação dos poderes em Executivo, 
Legislativo, Judiciário e Moderador. 
 Catolicismo como religião oficial. 
 Voto indireto e censitário. 
 Garantia de propriedade sobre os bens, tais 
como: escravos e terras. 
 
 A Constituição de 1824 vigorou até o final do Império, estabelecendo a 
Monarquia Constitucional como forma de governo e dividindo o país em 
províncias chefiadas por presidentes nomeados pelo imperador. Ficou 
estabelecida também a igualdade perante a lei, a liberdade de religião, a 
manifestação e pensamento. 
 
Obviamente, esta igualdade perante a lei não contemplava todos os 
sujeitos históricos imersos naquele contexto social. Pela Constituição, ficava 
assegurada a manutenção das estruturas escravistas e estabelecia-se o voto 
censitário, ou seja, o cidadão para votar deveria ter uma renda mínima, ser 
homem e maior de 24 anos. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Mas, afinal, quem era considerado cidadão pela Constituição de 1824? 
Quem tinha estes direitos garantidos pela CartaMagna? 
Pesquise e compartilhe com seus colegas no fórum da disciplina. 
 
 
 
 
30 
 
O fechamento da Assembleia Constituinte e o outorgamento desta 
Constituição por D. Pedro geraram fortes descontentamentos entre as elites 
regionais do país, pois limitava a autonomia das províncias e a representação 
política das elites regionais. 
 
A Confederação do Equador 
 
Os atos de centralização do poder e diminuição da força política das 
elites gerou em Pernambuco o ressurgimento do movimento antilusitano que 
havia sido instaurado na Revolução de 1817. A Confederação do Equador de 
1824 teve nos ideais republicanos e na impressa os meios de propagação das 
ideias contrárias ao governo imperial de D. Pedro I, tendo o Frei Joaquim do 
Amor Divino e Caneca, o Frei Caneca, como uma das principais lideranças do 
movimento. Segundo Frei Caneca (apud MELO, 2001, p. 563), em discurso 
contra a Constituição de 1824: 
 
Os conselhos das províncias são uns meros fantasmas para 
iludir os povos; porque devendo levar suas decisões à 
Assembleia Geral e ao Executivo conjuntamente, isto bem 
nenhum pode produzir à província; pois que o arranjo, 
atribuições e manejo da assembleia geral faz tudo em último 
resultado depender da vontade e arbítrio do Imperador, que 
arteiramente avoca tudo a si e de tudo dispõe a seu contento. 
 
 
A insatisfação expressa nesta carta por Frei Caneca demonstrava 
como os confederados sentiam-se sem liberdade zpolítica frente aos 
desmandos que o Poder Moderador e a Constituição concediam a D Pedro I. A 
nomeação de um presidente para a província de Pernambuco por parte do 
imperador foi o estopim para o início da revolta e a proclamação da 
Confederação do Equador. 
 
A Confederação do Equador, iniciada em 03 de julho de 1824 em 
Pernambuco, conquistou adesão de elites nas províncias do Rio Grande do 
 
31 
 
Norte, Ceará, Piauí e Paraíba. Para Flávio José Gomes Cabral (2006), a 
Confederação do Equador e os movimentos de contestação são testemunhas 
da insatisfação que as elites sentiam, “[...] foi, sobretudo um ensaio de tomada 
de poder por grupos das elites que não queriam se curvar ao projeto político 
centralizador e autoritário do Estado nacional nascido em 1822” (CABRAL, 
2006, p. 47). 
 
Apesar do alcance territorial da Confederação do Equador, as tropas 
imperiais não encontraram dificuldades para derrotar os revoltosos, 
especialmente com o envio do comandante Cochrane. Os líderes do 
movimento, exemplo de Frei Caneca, foram presos e condenados à morte. 
Uma forma de exemplificar o que aconteceria aos demais sujeitos que 
ousassem ir contra o governo imperial. Entretanto, apesar da derrota dos 
confederados, segundo Boris Fausto (2004), as marcas da revolução de 1824 
não seriam apagadas facilmente. De fato, ela pode ser vista como parte de 
uma série de rebeliões e revoltas que ocorreram em Pernambuco entre 1817 e 
1848. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fique sabendo: 
“Frei Joaquim do Amor Divino Caneca nasceu no Recife, no 
dia 20 de agosto de 1779, recebendo o nome de Joaquim da Silva 
Rabelo. Filho do português Domingos da Silva Rabelo e Francisca 
Maria Alexandrina de Siqueira, que moravam em Fora de Portas, 
próximo do demolido Arco do Bom Jesus. Seu pai era tanoeiro – 
fabricava vasilhames de flandres, daí o apelido de Caneca. Foi um 
dos grandes pensadores literários no momento da Independência 
brasileira. Vivia em Pernambuco quando da inquietação em torno da 
separação com Portugal e lugar onde a agitação era maior do que no 
resto do país. Muito combativo, lutava contra o despotismo (o poder 
absoluto e autoritário) e as relações de dependência que 
caracterizavam a situação colonial.” 
 
Fonte: DOBBIN, Elizabeth. Frei Caneca. Pesquisa Escolar Online, Fundação 
Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: 
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 06 jul. 2016. 
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php
 
32 
 
A abdicação de D. Pedro I 
 
 No transcorrer dos anos de 1820, o governo monárquico de D. Pedro I 
encontrou resistências políticas em diversas províncias. Estas revoltas 
ocorreram, principalmente, após a centralização do poder absoluto nas mãos 
do imperador por meio do Poder Moderador e das prerrogativas que a 
Constituição de 1824 lhe conferia: nomeação de presidentes das províncias e 
dissolução da Assembleia Constituinte. Esta, aliás, só voltou a ser convocada 
em 1826. 
 
Naquela mesma década, aliada às questões políticas internas brotou 
na região da Cisplatina uma guerra pela independência da região frente ao 
Brasil. Tratava-se da separação do Brasil e entrada nas Províncias Unidas do 
Rio da Prata, futura Argentina. A guerra mostrou-se, ao longo dos anos de 
embate, um total desastre em termos de campanha – várias derrotas – e 
prejuízos financeiros com as tropas brasileiras – constituídas por brasileiros e 
estrangeiros contratados no exterior. Somado a esses percalços, a perda de 
militares em combates e o recrutamento forçado tornavam o imperador cada 
vez mais impopular. 
 
Segundo Boris Fausto (2004), os gastos advindos com a guerra 
promovida na região da Cisplatina só vieram a agravar a deficiente economia 
imperial. Apesar da crescente exportação de produtos como o café, os preços 
vinham diminuindo ao longo dos anos. Além disso, as rendas do governo 
central, dependentes em grande medida do imposto sobre as importações, 
eram insuficientes. 
 
Outro agravante na economia deu-se por conta da grave crise 
financeira do Banco do Brasil. D. João VI retirou, antes de sua partida para 
Portugal, o ouro que estava depositado no banco. A solução adotada por D. 
Pedro foi a emissão de moedas de cobre, gerando o aumento de custo de vida 
 
33 
 
e favorecendo a desvalorização do papel-moeda. Em 1829, o Banco do Brasil 
foi fechado pelo governo imperial. 
 
Uma das medidas adotadas por D. Pedro I para diminuir a crise política 
foi o controle do Senado com a escolha dos senadores mediante a lista tríplice 
de candidatos de cada província, escolha que era prerrogativa do imperador. 
Essa decisão procurava equilibrar as forças políticas na capital do império, haja 
vista a forte eleição de Deputados de oposição ao regime monárquico 
centralizador exercido por D. Pedro I. 
 
Para Mário Maestri (1997), um conjunto de fatores levaram D. Pedro I a 
perder apoio político de setores antes favoráveis ao seu governo. Dentre esses 
fatores, o autor enumerou: 
 
A péssima situação financeira do Estado, o comportamento 
autocrático de dom Pedro I e de seus ministros, seu 
envolvimento na política portuguesa, sua desregrada vida 
pessoal, o fracasso da aventura expansionista na Cisplatina, o 
privilégio concedido aos lusitanos com a nomeação e 
promoção dos oficiais militares e administrativos, tudo corroia 
inexoravelmente o prestígio do jovem soberano. Uma outra 
importante causa de sua queda foi a adesão às reivindicações 
inglesas e abolição do tráfico transatlântico de escravos 
(MAESTRI, 1997, p. 57). 
 
 
 A combinação de variados fatores internos e externos aumentava, 
cada dia mais, a pressão sobre D. Pedro I. Neste período, a divisão das forças 
políticas brasileiras estava alicerçada na cisão entre liberais e absolutistas. 
Estes últimos, defensores de um imperador forte e centralizador que garantisse 
a ordem e a propriedade, sem espaços para contestação dos privilégios 
adquiridos ao longo dos anos. Os liberais, por sua vez, buscavam também a 
garantia da ordem e da propriedade, mas almejavam a conquista da liberdade 
constitucional. 
 
 
34 
 
Finalmente, destacamos a pressão sofrida por D. Pedro I após a morte 
de D. João VI em Portugal. De um lado, existia a desconfiança de que o 
imperador fosse optar pela unificação dos reinos, rebaixando novamente o 
Brasil a condição de Reino Unido de Portugal e Algarves. Do outro lado doAtlântico, a pressão fazia-se sentir na insistência dos liberais portugueses para 
o retorno de D. Pedro I para assumir o trono português. 
 
Isolado politicamente e em meio à crise econômica e política, D. Pedro 
I constituiu um novo ministério após os episódios que ficaram conhecidos como 
Noite das Garrafadas. Segundo Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e 
Humberto Fernandes Machado (1999), em O Império do Brasil, o clima de 
incerteza tomou conta quando a repentina mudança do Ministério, que passava 
a ser composto pelos auxiliares mais próximos e fiéis ao imperador, todos com 
títulos de nobreza, fazendo surgirem boatos de que um golpe seria dado por D. 
Pedro I. 
 
Sem apoio da população e dos militares, a saída encontrada por D. 
Pedro I foi a abdicação do trono do Brasil, favorecendo seu filho, o futuro D. 
Pedro II. Em Portugal, conseguiu reaver o trono lusitano após derrotar seu 
irmão e colocar sua filha no trono. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fique sabendo: Noite das Garrafadas 
 
“O principal conflito que precede a Abdicação, conhecido como Noite das Garrafadas, 
estendeu-se do dia 11 ao dia 15 de março de 1831 pelas ruas do Rio de Janeiro. O levante 
das Garrafadas é iniciado na noite do dia 11 em uma comemoração organizada pelos 
comerciantes do Rio de Janeiro para saudar o Imperador do retorno de sua viagem à 
província de Minas Gerais. No dia 11 de março, foram organizados festejos com fogueiras e 
fogos de artifício nos quadriláteros delimitados pelas ruas da Quitanda, dos Ourives, da 
Direita e das Violas pelos que apoiavam o governo de D. Pedro I. Acender fogueiras nas 
comemorações públicas ou nos dias santos e beber, cantar e dançar era um costume antigo 
dos portugueses. O que se falava era que os portugueses estavam organizando a algazarra 
e na noite do dia 11 começaram as agressões.” 
 
Fonte: PANDOLFI, Fernanda C. A imprensa e a abdicação de D. Pedro I em 1831: História e 
Historiografia. In: Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu 
tempo. ANPUH/SP – UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006, p. 7. 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REGÊNCIAS E REVOLTAS NO 
BRASIL IMPERIAL 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Regência e Reformas Liberais 
 
 O período regencial no Brasil transcorreu entre a abdicação de D. 
Pedro I e a ascensão de D. Pedro II ao trono do Brasil. Aqueles anos entre os 
dois reinados são caracterizados por Lilia Moritz Schwarcz, em As Barbas do 
Imperador, como um período de grande efervescência política. Segundo a 
autora, “[...] os nove anos das Regências se desenvolveriam em clima 
conturbado, com uma série de rebeliões estourando em diversos pontos do 
país” (SCHWARCZ, 1998, p. 53). 
 
Nesse mesmo sentido, Boris Fausto (2004), em História do Brasil, 
apontou o período regencial como um dos mais agitados da história do Brasil, 
onde esteve “[...] em jogo a unidade territorial do Brasil, e o centro do debate 
político foi dominado pelos temas da centralização ou descentralização do 
poder, do grau de autonomia das províncias e da organização das Forças 
Armadas” (FAUSTO, 2004, p. 161). 
 
Outro autor que destacou esse cenário de agitação política foi José 
Murilo de Carvalho (1996). Em O Teatro de Sombras, o autor nos afirma que o 
período das Regências expressou as dificuldades encontradas para se 
estabelecer o processo de dominação monárquico. No período regencial, 
segundo o autor, as elites brasileiras assumiram o poder político do país com 
suas diferenças de posições e perspectivas políticas. Cabe ressaltar que, 
segundo Carvalho (1996), ainda não existiam partidos políticos formados. 
 
 Ainda com relação ao que configuraria esse contexto, Caio Prado 
Junior (1999), em Evolução Política do Brasil, afirmou que este momento foi 
singular na história do Brasil pela participação popular nos embates regenciais. 
Para o autor, as classes médias reagiram à política de dominação exercida 
pelas oligarquias agrárias nas diversas revoltas do período. 
 
Durante o período regencial foram travadas iniciativas de adotar 
políticas liberais que garantissem as liberdades individuais e maleabilidade ao 
 
38 
 
sistema político do país. Entretanto, como veremos nesta unidade, essas 
tentativas de mudanças acabaram gerando confrontos entre as elites regionais 
e o governo imperial. Ademais, conforme advertiu Boris Fausto, não existiu 
uma unicidade das elites sobre qual arranjo institucional deveria ser seguido 
para preservar os interesses deste grupo. Não havia, segundo o autor, “[...] 
clareza sobre o papel do Estado como organizador dos interesses gerais 
dominantes, tendo para isso de sacrificar em certas circunstâncias interesses 
específicos de um determinado setor social” (FAUSTO, 2004, p. 162). 
 
A formação do governo da Regência Trina Provisória buscou, por meio 
dos políticos nomeados abaixo, um equilíbrio no arranjo político. Dentre as 
medidas tomadas neste triunvirato, temos a anistia para todos os presos e/ou 
sentenciados por crimes políticos e a proibição de ajuntamentos públicos na 
capital. Na Regência Trina Permanente, a transformação do Império em uma 
monarquia federativa foi um dos temas que geraram mais controvérsias. 
Segundo Marco Morel (2003), em O Período das Regências, a adoção do 
federalismo aparecia como contraponto a uma estrutura governamental 
centralizadora. 
 
O governo das Regências Trina e Una ficaram a cargo dos seguintes 
políticos: 
 
 Tabela 1 - Relação dos regentes 
REGÊNCIA TRINA 
PROVISÓRIA 
REGÊNCIA TRINA 
PERMANENTE 
REGÊNCIAS UNA 
Francisco de Lima e 
Silva 
Francisco de Lima e 
Silva 
Diogo Antônio Feijó 
(1835-1837) 
José Joaquim Carneiro 
de Campos 
João Bráulio Muniz Araújo Lima (1837-
1840) 
Nicolau Pereira de 
Campos Vergueiro 
José da Costa 
Carvalho 
 
 Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
 
 
 
39 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a que grupos políticos e seguimentos sociais esses 
sujeitos pertenciam? O que defenderam em seus governos? Quais medidas 
adotaram? Pesquise e compartilhe suas análises com os demais colegas e 
tutor no fórum de conteúdo da disciplina de História do Brasil II. 
 
 
De modo geral, a elite brasileira esteve dividida em três grupos 
políticos nesse período regencial: os restauradores, que defendiam o retorno 
de D. Pedro I ao Brasil para reassumir o trono e mostravam-se contrários as 
reformas sociais e econômicas; os liberais exaltados, que pertenciam e/ou 
eram ligados à classe média urbana, sem, contudo, deixarem de ter 
aproximações com a elite rural e que defendiam um governo monárquico 
federalista com autonomia das províncias; e os liberais moderados, grupo que 
tinha como integrantes membros da aristocracia rural e defendiam uma 
monarquia constitucional. Este último grupo foi a tendência que dominou o 
cenário político no período das Regências. 
 
Segundo Mário Maestri (1997), em Uma História do Brasil Império, 
esses grupos políticos travaram, durante o período regencial, disputas que 
envolveram propostas de reformas políticas. Para o autor, as Regências Trina 
(1831 a 1835) e Una (1835 a 1837): 
 
[...] expressaram o ensaio de uma tímida transigência do 
autoritarismo dos grandes proprietários do Sudeste com as 
tendências federalistas que não cessavam de se fortalecer. Os 
liberais moderados foram os agentes da tentativa de 
construção de um novo pacto político. Eles propunham 
reformas no interior do regime centralizador e monárquico e 
tiveram que combater os restantes das facções sociais 
subalternas. (MAESTRI, 1997, p. 73). 
 
Dentre as reformas implementadas no período regencial, temos a lei 
que regulamentou a Regência Trina e que restringiu o poder do Executivo 
frente ao Legislativo, não permitindo mais a sua dissolução pelos regentes. 
 
40 
 
Outramodificação com as reformas foi a criação da Guarda Nacional e a 
dispensa dos militares estrangeiros. Essas reformas desagradaram os 
conservadores que não concordavam com a autonomia das províncias. Sobre 
essas medidas e as revoltas regenciais, abordaremos nos tópicos seguintes. 
 
 Marco Morel (2003), em O Período das Regências, adverte para a 
importância desse período e das mudanças em curso nesse momento chave 
da construção da nação brasileira. Para o autor, o período foi “[...] tempo de 
esperanças, inseguranças e exaltações, tempo de rebeldia e de repressão, 
gerando definições, cujos traços essenciais permanecem na sociedade” 
(MOREL, 2003, p. 10). 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia o artigo Sociedade Armada: o modo senhorial de atuação no 
Brasil Império, de autoria do professor Adilson José de Almeida, publicado na 
Revista Anais do Museu Paulista, dossiê História e Cultura Material. Acesse: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47142015000200093 
 
 
O controle: a Guarda Nacional e o Código de Processo 
Criminal 
 
A criação da Guarda Nacional, em 1831, por decisão do padre Feijó, 
estabeleceu a organização de uma nova força que buscava conter 
manifestações em âmbitos local e nacional. Com a criação da Guarda 
Nacional, todo cidadão entre 21 e 60 anos de idade e que fosse votante nas 
eleições primárias estaria obrigado a compor seus quadros. Reservava-se, 
geralmente, o cargo de oficial para os grandes fazendeiros. 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142015000200093
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142015000200093
 
41 
 
A Regência Trina tinha outras surpresas guardadas no bolso, 
entre elas a criação da Guarda Nacional: uma força pública a 
ser usada pelo poder central para conter manifestações e 
motins (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 247). 
 
 
 Segundo Ilmar Mattos (1987), a Guarda Nacional criada nos moldes da 
guarda francesa tinha como concepção o “cidadão armado”, atendendo as 
medidas descentralizadoras que estavam sendo colocadas em prática nas 
Regências. 
 
Para Magali Engel (2002, p. 319), “[...] mais do que uma força 
repressiva, o papel primordial exercido pela Guarda Nacional foi o de 
expressar, no plano simbólico, a ordenação elitista da nação que se pretendia 
forjar”. Uma organização descentralizada, organizada no plano provincial. 
 
Na maior parte do período regencial, a Guarda Nacional atuou para 
coibir e acabar com as revoltas provinciais que buscavam contestar o governo 
central. A chefia da Guarda Nacional ficou a cabo, em muitos casos, de Luís 
Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Esse contingente formou um 
segundo braço de repressão do governo regencial, passando, inclusive, a ser 
utilizado no lugar do Exército em alguns casos. 
 
Ademais, o Exército, naquele período, era uma instituição mal 
organizada, vista pelo governo com muita suspeita. A base do Exército 
preocupava, pois era formada por gente mal paga, insatisfeita e propensa a 
aliar-se ao povo nas rebeliões urbanas (FAUSTO, 2004). O alistamento 
obrigatório para a Guarda Nacional acabou agravando os quadros do Exército 
ao desfalcar o seu contingente. 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Acesse o link: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-
37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html 
 
Confira na íntegra a lei de criação da Guarda Nacional, Lei de 18 de 
agosto de 1831: Cria as Guardas Nacionais e extingue os corpos de 
milícias, guardas municipais e ordenanças. 
 
Outra medida de controle no período regencial foi o Código de 
Processo Criminal que passou a vigorar em 1832, estabelecendo as 
normatizações para a aplicação do Código Criminal de 1830. Dentre as 
mudanças advindas com sua aplicação, temos o maior poder de juízes de paz, 
eleitos nas localidades, que poderiam a partir de agora prender e julgar sujeitos 
acusados de cometer crimes de pequena gravidade. 
 
O Código de Processo Criminal também criou o júri, utilizado para 
julgar a maior parte dos delitos. A criação do habeas corpus também foi a partir 
do Código de Processo Criminal e permitiu a liberdade de pessoas que fossem 
presas ilegalmente. Para Hamilton M. Monteiro, em Brasil Império, o Código 
de Processo Criminal permitiu a elite agrária do país, por meio dos coronéis, 
“consagrar o arbítrio” do poder sobre o espaço de influência. Com os poderes 
atribuídos a Guarda Nacional e a organização da justiça proposta pelo Código, 
“[...] assiste-se à abertura de processos forjados e prisões sem culpa, com os 
quais os senhores da localidade intimidavam e neutralizavam seus adversários” 
(MONTEIRO, 1994, p. 33-34). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a partir da leitura da citação acima, reflita sobre como a 
prática de dominação dos coronéis (antigos chefes da Guarda Nacional nas 
províncias) permaneceu e transformou-se ao longo do tempo. Quais práticas 
foram utilizadas e reorganizadas pelos coronéis? 
 
 
O Ato Adicional de 1834 e o Golpe da Maioridade 
 
O Ato Adicional de 1834, como o próprio nome define, adicionou 
alterações na Constituição de 1824, já que o período regencial possuía 
características organizacionais e políticas diferentes do Primeiro Reinado. 
Dentre as modificações, podemos citar: o não exercício do Poder Moderador 
pelos Regentes; a extinção do Conselho de Estado; a criação das Assembleias 
Refletindo: 
A Guarda Nacional e os Coronéis 
 
“Os coronéis sobreviveram à Guarda Nacional e à República Velha. O 
fenômeno não deixou de existir e se adaptou aos novos tempos. Eles empregam 
novos métodos de dominação. Um deles é o controle dos meios de 
comunicação, como rádio e televisão. O coronel de hoje não é o fazendeiro de 
terno branco, botas e chicote de couro na mão. 
 
Atualmente, seu poder se faz sentir de uma forma talvez mais sutil [...]. 
Em muitos casos, esses novos coronéis são descendentes diretos dos antigos, 
em um notável fenômeno de reprodução do poder”. 
 
RÊGO, André Heráclio. Uma vez coronel, sempre coronel. Revista de História, Rio de Janeiro: 
Sabin, ano 5, n. 60, set. 2010, p. 61. 
 
 
44 
 
Provinciais, responsáveis por prever as despesas dos municípios e províncias, 
cobrar impostos para suprir essas despesas e demitir e nomear funcionários 
públicos; a repartição das rendas entre os governos central, provincial e 
municipal. 
 
Para Hamilton Monteiro (1994), o Ato Adicional de 1834 constituiu-se 
como o coroamento das medidas que buscavam a descentralização do poder 
do Estado, garantindo a possibilidade de aumento do poder das elites 
regionais. 
 
Outra transformação que ficou determinada pelo Ato Adicional foi a 
mudança no formato das Regências, deixando de serem trina. O governo 
passaria a ser regido por apenas uma pessoa. O primeiro eleito, Diogo Antônio 
Feijó, integrante do Partido Liberal, não conseguiu concluir seu mandato devido 
pressões do legislativo, amplamente constituído por políticos ligados ao Partido 
Conservador. 
 
Para Marco Morel (2003), no governo de Feijó umas das principais 
transformações foi a criação da Guarda Nacional, voltada para o fortalecimento 
dos proprietários e senhores locais e do poder central. Após sua renúncia, a 
Regência passou para o comando de um conservador, Pedro de Araújo Lima. 
 
Ao assumirem o poder, os conservadores aprovaram na Câmara uma 
lei que permitia a interpretação de dispositivos do Ato Adicional de 1834. Essa 
nova lei, centralizava o judiciário. A contraofensiva dos liberais foi a aprovação 
da maioridade de D. Pedro II aos 15 anos deidade na Câmara, possibilitando 
sua ascensão ao trono. 
 
Segundo Lilia Moritz Schwarz (1998), desde os primeiros anos das 
Regências, já se cogitava a antecipação da ascensão de D. Pedro II ao trono. 
Esse cenário era incentivado pelo clima de instabilidade e pelas medidas 
descentralizadoras adotadas. 
 
 
45 
 
Assim, de acordo com autora: 
 
 [...] se o projeto de antecipar a maioridade não passou, a 
princípio, de uma manobra política, o certo é que aos poucos a 
medida foi tomando “ares de salvação nacional”. É o partido 
liberal em 1840, com a criação do Clube da Maioridade, que dá 
forma ao projeto (SCHWARZ, 1998, p. 67). 
 
Dessa forma, o Ato Adicional reconfigurou os grupos políticos do país. 
Os restauradores passaram a apoiar o Partido Conservador ou Regressista. Do 
outro lado, parte dos exaltados e os moderados passaram a apoiar o Partido 
Liberal ou Progressista. Para José Murilo de Carvalho (1996), esses dois 
partidos, conservador e Liberal, foram as formações iniciais dos partidos 
políticos no Brasil, antes disso, existiam apenas “organizações políticas”. 
 
Segundo Mário Maestri (1997), esses arranjos e rearranjos políticos 
consistiram em uma tentativa de acordo do bloco dominante no poder com as 
facções liberais moderadas. Esse acordo, mesmo tímido, permitiu a debilitação 
das forças liberais e federalistas regionais. 
 
As disputas políticas entre Conservadores e Liberais contou ainda com 
a aprovação da reforma do Código de Processo Criminal. Por essa reforma, 
magistrados e delegados poderiam exercer as atribuições dos juízes de paz. O 
delegado também ficou sendo o responsável por escolher os jurados, que 
deveriam ser alfabetizados. Essas mudanças buscavam restringir a influência 
dos fazendeiros, fortalecendo o governo central em detrimento da autonomia 
provincial. Para Mário Maestri (1997), essas mudanças centralizadoras e 
autoritárias refletiam claramente a defesa da ordem escravista no país pelos 
grandes proprietários. 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Caro estudante, acesse o link e confira na integra a Lei do Ato 
Adicional de 1834. 
LEI Nº 16 DE 12 DE AGOSTO DE 1834: Faz algumas alterações e 
adições à Constituição Política do Império, nos termos da Lei de 12 de outubro 
de 1832. Link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM16.htm>. 
 
 
As revoltas regenciais 
 
No período regencial, eclodiram vários movimentos de contestação ao 
governo imperial. Contestações que envolviam aspectos sociais, econômicos e 
políticos entre segmentos da sociedade e entre elites provinciais e império. 
Dentre as revoltas ocorridas nas Regências, podemos citar: Guerra dos 
Farrapos, Sabinada, Cabanagem, Revolta dos Malês e Balaiada. Marco Morel 
(2003) assinala que esse período registrou muita violência num tempo tão curto 
e em extensões de terra bastante largas que nenhum outro momento da 
história do Brasil compara-se a essa fase da monarquia. 
 
Para José Murilo de Carvalho (1996, p. 230), “[...] a melhor indicação 
das dificuldades em estabelecer um sistema nacional de dominação com base 
na solução monárquica encontra-se nas rebeliões regenciais”. Ainda segundo o 
referido autor, podemos separar as revoltas desse período em dois grupos. Um 
primeiro que apresentou revolta das populações urbanas e contou como 
protagonistas a tropa e o povo. Um segundo período em que a 
descentralização das revoltas com a eclosão de movimentos no interior revelou 
perigos mais graves a ordem pública e para a própria sobrevivência do país. 
 
A Guerra dos Farrapos ou Farroupilha, iniciada no Rio Grande do Sul 
e desenvolvida entre os anos de 1835 e 1845, teve como líderes os grandes 
estancieiros criadores de gado. Segundo Boris Fausto (2004), o 
descontentamento dos gaúchos para com o governo central já vinha de longa 
data, pois se sentiam explorados com a carga de impostos que pagavam. Além 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lim%2016-1834?OpenDocument
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM16.htm
 
47 
 
dessa questão, eles queriam acabar com a taxação de gado na fronteira com o 
Uruguai ou reduzi-la e receavam que a criação da Guarda Nacional interferisse 
negativamente nas suas organizações militares. 
 
A Guerra dos Farrapos causou grande impacto político e econômico no 
período imperial nos seus dez anos de duração. A instauração de governos 
republicanos na região sul do país foi significativa da grande expressão e força 
que os farrapos tiveram no regime monárquico. Ao iniciarem o movimento 
farroupilha, os rebeldes fundaram a República de Paratini, oficializando a 
separação do Rio Grande do Sul do restante do país monárquico. Ressaltamos 
que, apesar de ser um regime republicano, os farrapos mantiveram a 
escravidão e o voto censitário. 
 
Entre as principais lideranças estavam Bento Gonçalves, Giuseppe 
Garibaldi e Davi Canabarro. Estes dois últimos expandiram a ação dos farrapos 
para a província de Santa Catarina, conquistando a cidade de Laguna e 
proclamando a República Juliana em 1839. 
 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, convidamos você para pesquisar sobre a 
biografia/trajetória desses sujeitos históricos que lideraram a Guerra dos 
Farrapos. A que grupos sociais pertenciam? Quais foram suas ações na 
revolta? 
Compartilhe os resultados da pesquisa com seus colegas e tutor no 
Ambiente Virtual. 
 
 
Em 1845, após dez anos de combate entre farroupilhas e tropas oficiais 
do governo central, a guerra foi encerrada com a assinatura de um acordo que 
previa anistia geral para os revoltosos e a incorporação destes ao Exército 
nacional. Ademais, conforme nos adverte Boris Fausto (2004, p. 170), “[...] a 
posição do governo central foi entremeada de combate e concessões aos 
 
48 
 
rebeldes”. O término dos combates aconteceu após a assinatura de um acordo 
de paz negociado entre os farroupilhas e Duque de Caxias, comandante das 
tropas imperiais. 
 
Outra revolta ocorrida no período regencial que tinha como um dos 
objetivos a proclamação de uma República foi a Sabinada. Movimento 
eminentemente urbano, contou com a participação de trabalhadores livres, 
profissionais liberais e soldados, que se iniciou em 7 de novembro de 1837 e 
propunha a separação da Bahia do restante do país. Segundo Marco Morel 
(2003), a Sabinada tinha tendências à República, mas essas nem sempre eram 
evidenciadas. Dentre as motivações para seu desfecho, esteve o protesto 
contra a centralização do poder imperial. 
 
Liderado pelo médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha, 
a Sabinada durou aproximadamente quatro meses e teve como uma de suas 
propostas a libertação dos escravos que haviam nascido no Brasil e participado 
ativamente nos combates. Os demais, estrangeiros, continuariam cativos. A 
revolta foi reprimida pelas tropas imperiais e seus principais líderes foram 
presos e condenados à morte. Após a ascensão de D. Pedro II ao trono, as 
penas foram reduzidas e os condenados foram degredados para regiões 
distantes da Bahia. 
 
A Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia entre os dias 24 e 25 de 
janeiro de 1835, envolveu escravos de diversas etnias com a predominância de 
origem ioruba. A revolta foi duramente reprimida pelo governo que temia sua 
expansão inspirada no movimento vitorioso ocorrido no Haiti entre os anos de 
1791 e 1804. 
 
A organização da Revolta dos Malês foi desenvolvida principalmente 
por escravos mulçumanos. Para João José Reis (2003), em a Rebelião 
Escrava, o levante dos escravos foi um movimento político e teve como um 
dos objetivos tomar o governo. O movimento foi derrotado e seus envolvidos 
 
49 
 
presos, condenados a pena de morte e/ou tirados do Brasil e enviados para a 
África. 
 
Outro movimento de contestação no período regencial, a Balaiada, 
teve início em 1838 e durou até 1841. Segundo Marco Morel (2003, p. 64), 
essa revolta foi“[...] o caso mais evidente de transbordamento da atividade 
política dos grupos urbanos e letrados para as camadas pobres da população, 
que se apropriaram dos embates políticos e sociais, levando-os adiante”. Esse 
transbordamento é entendido a partir das fases que o movimento adquiriu ao 
longo de sua duração. 
 
A Balaiada teve início a partir do descontentamento da elite local 
maranhense criadora de gado com a instituição da Lei dos Prefeitos. Essa lei 
determinava que os prefeitos das cidades deveriam ser nomeados pelo 
presidente da província, diminuindo o poder de influência e comando dos 
grandes criadores. A partir de 1839, o movimento passou a ter liderança de 
homens livres pobres, exemplo do vaqueiro Raimundo Gomes e do vendedor 
de balaios Manuel dos Santos Ferreira. Nessa segunda fase da Balaiada, 
várias cidades foram conquistadas, criando a necessidade, por parte do 
governo central, de enviar tropas da Guarda Nacional e o general Luís Alves de 
Lima e Silva para combaterem os balaios. A última fase do movimento foi a 
mais radical com a participação e liderança de escravos e ex-escravos. A 
radicalização fez com que os grandes criadores de gado e outros grupos da 
elite se reorganizassem, juntamente com as tropas imperiais, para debelar os 
revoltosos. 
 
Finalmente, mas não menos importante do que outras revoltas, a 
Cabanagem, ocorrida no Grão-Pará entre os anos de 1835 e 1836, teve como 
uma de suas motivações o descontentamento da elite paraense com a 
constante indicação de políticos não nascidos na província para governá-la. 
Além dessa questão de autonomia, podemos elencar como fator para 
desencadear a revolta a forte desigualdade social expressa nas péssimas 
condições de vida de grande parte da população livre e pobre. 
 
50 
 
 
Para Magda Ricci (2006), a Cabanagem teve uma dimensão grandiosa 
pelo espaço territorial que atingiu e pela quantidade de sujeitos envolvidos. 
Calcula-se que tenham morrido mais de 30 mil pessoas nesta revolta. Apesar 
da grande proporção que a revolta adquiriu, a historiografia buscou interpretar 
o movimento como sendo eminentemente regional. Entretanto, segundo a 
autora: 
 
[...] os cabanos e suas lideranças vislumbravam outras 
perspectivas políticas e sociais. Eles se autodenominavam 
‘patriotas’, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo 
de ser brasileiro. Este sentimento fazia surgir no interior da 
Amazônia uma identidade comum entre povos de etnias e 
culturas diferentes. Indígenas, negros de origem africana e 
mestiços perceberam lutas e problemas em comum (RICCI, 
2006, p. 5-6). 
 
Essa identidade em comum era reforçada pelo ódio ao poder de mando 
local e central sofrido pelos cabanos. As disputas envolvendo o presidente da 
província, Bernardo Lobo de Souza, o padre Batista Campos e o fazendeiro 
Félix Clemente Malcher deram início ao processo belicoso. Após a prisão de 
Malcher e a morte de Campos, os rebeldes invadiram Belém e tomaram o 
poder e nomearam Malcher presidente da província. 
 
Apesar de comungarem com o mesmo ideal, o combate ao governo 
central não havia unidade entre os rebeldes. Exemplo dessas disparidades 
entre os rebeldes foi a aceitação por parte de Malcher de encerrar a revolta 
caso fosse reconhecido como presidente da província pelo governo regencial. 
Essa atitude não contou com a aprovação das camadas mais baixas do 
movimento, resultando na negativa para deporem as armas. Após esse 
episódio, os cabanos permaneceram no poder por mais de um ano, desafiando 
e impondo derrotas ao governo das Regências (MOREL, 2003). Em 1836, o 
governo central enviou tropas para sitiar Belém e debelar a revolta, prendendo 
e matando centenas de integrantes das forças oposicionistas. Os líderes, 
 
51 
 
Eduardo Angelim e Francisco Vinagre foram presos e condenados à 
deportação em Fernando de Noronha. 
 
 As revoltas ocorridas no período regencial não possuíram uma 
uniformidade em suas motivações e grupos de sujeitos que as integraram. As 
elites regionais, buscando maior autonomia e diminuição da interferência do 
governo central, estiveram presentes em vários levantes, mas acabaram, 
também, recuando em outros a partir da radicalização dos movimentos de 
contestação dos seus privilégios. Segundo Boris Fausto (2004, p. 164): 
 
As revoltas do período regencial não se enquadram em uma 
moldura única. Elas tinham a ver com as dificuldades da vida 
cotidiana e as incertezas da organização política, mas cada 
uma delas resultou de realidades específicas, provinciais ou 
locais. Muitas rebeliões, sobretudo até meados da década 
iniciada em 1830, ocorreram nas capitais mais importantes, 
tendo como protagonistas a tropa e o povo. No Rio de Janeiro, 
houve cinco levantes, entre 1831 e 1832. Em 1832, a situação 
se tornou tão séria que o Conselho de Estado foi consultado 
sobre que medidas deveriam ser tomadas para salvar o 
imperador menino, caso a anarquia se instalasse na cidade e 
as províncias do Norte se separassem das do Sul. 
 
 A crescente onda de revoltas nas Regências, espalhadas por grande 
parte do país, denotavam a urgência de um novo governo que retomasse a 
força e o prestígio imperial. Assim, conforme vimos no início desta unidade, o 
Partido Liberal passou a trabalhar para que D. Pedro II assumisse o trono, 
antecipando a maioridade do rei. 
 
Sugerimos que leia o livro O período das Regências (1831-1840), de 
autoria do historiador Marco Morel. Excelente obra que busca discutir o campo 
político, as tensões sociais e econômicas do Brasil no período regencial, 
momento chave para a construção da nação. 
Referência: MOREL, Marco. O período das Regências (1831-1840). Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2003. 
 
 
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
 
 
 
 
 
 
O SEGUNDO REINADO E A 
CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
A disputa entre Liberais e Conservadores 
 
 Passados os anos do período regencial e a ascensão de D. Pedro II 
ao trono do império no Brasil, o contexto político da jovem nação ganha maior 
estabilidade com a diminuição dos movimentos de contestação nas diversas 
regiões do país. 
 
Nesse momento inicial do Segundo Reinado, dois grupos políticos 
detinham maior envergadura nas disputas. Ademais, as revoltas ocorridas no 
período regencial contribuíram para aumentar as disputas e divergências entre 
estes dois grupos políticos de maior expressão no encerramento das 
Regências: Conservadores e Liberais, consolidados a partir do final da década 
de 1830. Para muitos contemporâneos da época, as diferenças não eram 
assim tão grandes, haja vista a famosa frase atribuída a Holanda Cavalcanti, 
“nada se assemelha mais a um ‘saquerema’ do que um ‘luzia’ no poder”. A 
frase buscava expressar a semelhança dos dois partidos políticos no exercício 
do poder. 
 
Como garantir a unidade territorial de um país com uma dimensão 
continental e repleto de interesses regionais? Essa questão foi objeto de 
disputas entre os dois partidos identificados acima. De modo geral, o Partido 
Conservador era formado por grandes comerciantes, proprietários de terra, 
altos funcionários do governo e tinha o apoio das províncias do Nordeste. O 
Partido Liberal, por sua vez, era apoiado pelas províncias do Centro-Sul e 
continha em seus quadros senhores rurais e sujeitos das camadas médias 
urbanas. 
 
Embora em lados opostos, liberais e conservadores, segundo Boris 
Fausto (2004), não possuíam grandes objetivos ideológicos. Para esses 
grupos, a posse do poder representava a chance de obter benefícios para si e 
seu grupo político. Ademais: 
 
 
 
56 
 
Nas eleições, não se esperava que o candidato cumprisse 
bandeiras programáticas, mas as promessas feitas as seus 
partidários. Conservadorese liberais utilizavam-se dos mesmos 
recursos para lograr vitórias eleitorais, concedendo favores aos 
amigos e empregando a violência com relação aos indecisos e 
aos adversários (FAUSTO, 2004, p. 181). 
 
 
 
Podemos afirmar que o Golpe da Maioridade, em 1840, permitiu aos 
liberais o retorno ao centro do poder político do país e inaugurou o período 
denominado de Segundo Reinado (1840-1889) com a ascensão de D. Pedro II 
ao trono brasileiro. A expectativa com o início do reinado de D. Pedro II recaía 
na esperança do fortalecimento do governo central com a garantia da 
manutenção do sistema escravocrata e latifundiário das elites brasileiras, então 
ameaçado pelas revoltas espalhadas no Brasil. 
 
Após assumir o poder, D. Pedro II convidou membros do Partido 
Liberal para comporem o ministério. Entretanto, devido aos conservadores 
possuírem maioria na Câmara dos Deputados, os liberais solicitaram ao rei a 
dissolução do parlamento e que o mesmo convocasse eleições para uma nova 
composição da casa. Conhecida como eleições do cacete, as disputas 
ocorridas em 1840 foram marcadas por fraudes e violências de ambos os 
lados. Ao final do processo, os liberais saíram vitoriosos e estabeleceram o 
gabinete de governo. 
 
Para José Murilo de Carvalho (1996), a elite política do país foi 
constituindo-se de forma homogênea, resultado da educação e da profissão 
comuns, sendo grande parte da elite política do Brasil formada por sujeitos que 
possuíam nível superior, característica que dava unificação ideológica. 
 
Segundo Carvalho (1996, p. 33): 
 
[...] a elite brasileira, sobretudo na primeira metade do século 
XIX, teve treinamento em Coimbra, concentrado na formação 
jurídica, e foi, em sua grande maioria, parte do funcionalismo 
público, sobretudo da magistratura e do Exército. 
 
57 
 
Para o mesmo autor, após o processo de independência, a elite política 
do país conseguiu se reproduzir por meio da formação de seus sucessores nas 
duas escolas de direito e circulação desses por variados cargos e províncias. 
Essa relação de proximidade da natureza da burocracia, da elite e do Estado 
gerou interpretações distorcidas. 
 
Houve, assim, quem visse na elite imperial simples 
representante do poder dos proprietários rurais e no Estado 
simples executor dos interesses dessa classe. Outros, ao 
contrário, veriam na burocracia e na elite um estamento 
solidamente estabelecido que se tornava, por via do Estado, 
árbitro da nação e proprietário da soberania nacional 
(CARVALHO, 1996, p. 37). 
 
 
José Murilo de Carvalho (1996) adverte que nenhuma das 
interpretações era correta. Elementos como a possibilidade de continuidade 
com a independência, estrutura burocrática e o padrão de formação da elite 
deram ao Estado imperial maior capacidade de controle e aglutinação do que 
seria um simples porta-voz de interesses agrários. 
 
Para o autor, a homogeneidade deu-se a partir da educação comum e 
da participação na burocracia estatal. Assim, “[...] o objetivo da manutenção da 
unidade da ex-colônia rarissimamente seria posto em dúvida por elementos da 
elite nacional” (CARVALHO, 1996, p. 37). 
 
Diversos estudos destacaram a inexistência de qualquer diferenciação 
política entre conservadores e liberais. Outros apontaram diferenças de origem 
regional, urbana e rural como elementos de distinção. Existiam ainda estudos 
que destacavam a classe social como elemento diferenciador. 
 
Assim, apesar da homogeneidade evidenciada por José Murilo de 
Carvalho (1996), os partidos políticos imperiais apresentaram diferenças de 
posições sobre a condução da política nacional e aspectos relacionados à 
centralização e descentralização. Entretanto, estas diferenças não provocaram 
 
58 
 
grandes fissuras, apenas reajustes no sistema. Esperar mais do que isso seria 
irrealista. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a obra A Construção da ordem: a elite política imperial & Teatro 
de Sombras. Publicados em conjunto, os textos reunidos foram apresentados 
pelo autor como tese de doutorado na Universidade de Stanford, em dezembro 
de 1974. 
 
 
O “parlamentarismo à brasileira” 
 
Em 1847, o rei D. Pedro II criou o cargo de Presidente do Conselho 
de Ministros, buscando estabilizar politicamente o país. A criação desse cargo 
teve como inspiração o modelo inglês, mas no Brasil não se seguiu, na prática, 
o sistema britânico. Na Inglaterra, o modelo tinha como prática a escolha do 
primeiro-ministro pelo partido mais votado nas eleições. Indicado pelo partido, o 
primeiro-ministro escolhia os membros do seu ministério. Nesse modelo, o 
primeiro-ministro de fato governava o país. 
 
No Brasil, o sistema parlamentarista funcionou de forma diferente. D. 
Pedro II, utilizando-se da prerrogativa do Poder Moderador, nomeava o 
Presidente do Conselho de Ministros. Cabia a D. Pedro II escolher o gabinete 
ministerial do Presidente. Em seguida, realizavam-se novas eleições com o 
objetivo de dar maioria ao partido que estivesse ocupando o cargo de 
Presidente do Conselho de Ministros. Esta configuração singular foi 
comumente conhecida como “parlamentarismo à brasileira”. Cabe 
destacarmos, que a Constituição de 1824 não previa o parlamentarismo como 
forma de governo, sendo esse exercido pelo imperador. Segundo Boris Fausto 
(2004), este mecanismo de constante troca de gabinetes, com novas eleições, 
resultou em 36 ministérios diferentes nos cinquenta anos do Segundo Reinado. 
Para o autor: 
 
59 
 
 
Aparentemente, havia uma grande instabilidade, mas de fato, 
não era bem isso o que ocorria. Na verdade, tratava-se de um 
sistema flexível que permitia o rodízio dos dois principais 
partidos no governo, sem maiores traumas. Para quem 
estivesse na oposição, havia sempre a esperança de ser 
chamado a governar. Assim, o recurso às armas se tornou 
desnecessário (FAUSTO, 2004, p. 180). 
 
Nesse mesmo sentido, Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e 
Humberto Fernandes Machado apontaram que a partir do isolamento dos 
elementos radicais, conservadores e liberais buscaram garantir acordos que 
preservassem a prosperidade e favorecessem a grande propriedade (NEVES; 
MACHADO, 1999). A Conciliação veio, efetivamente, por meio do 12º Gabinete 
do Império, chefiado pelo conservador Honório Hermeto Carneiro Leão. 
Tratando-se, pois de angariar um amplo apoio ao ministério constituído, 
garantindo a ordem e o progresso das instituições monárquicas. 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia o livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 
Traz um misto de ensaio interpretativo e biografia do imperador D. Pedro II. 
Este livro apresenta a monarquia brasileira a partir de um ângulo 
absolutamente original. 
 
 
A Guerra do Paraguai 
 
A Guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 e 1870, teve 
como participantes o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Dentre as 
motivações para o início do conflito, podemos elencar as disputas travadas, 
pelo controle da Bacia do Prata, composta pelos rios Paraná, Paraguai e 
Uruguai. 
 
 
60 
 
As disputas entre os países iniciaram com a interferência do Brasil nas 
questões internas do Uruguai, disputado pelos partidos Blanco e Colorado. A 
ofensiva das tropas brasileiras contra os blancos devido ao bloqueio do porto 
de Montevidéu aos navios brasileiros foi o ponto de partida para os embates 
entre Brasil e Uruguai. Em outubro de 1864, o Brasil, apoiando os colorados, 
invadiu o Uruguai. Em resposta, o governo paraguaio, chefiado por Francisco 
Solano López, que apoiava os blancos, cortou relações com o Brasil e 
aprisionou um navio que ia em direção a Cuiabá. Na sequência dos 
acontecimentos, em novembro, as tropas paraguaias invadiram o estado do 
Mato Grosso, pretendendo alcançar o Rio Grande do Sul por meio da 
Argentina. Como não receberam autorização para isso, declararam guerra à 
Argentina. 
 
Após esses conflitos iniciais,

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