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2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
RAFAEL RICARTE DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DO BRASIL 
IMPÉRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ªEdição 
Sobral/2017 
 
4 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
 
Apresentação do Professor 
Sobre o autor 
 
 
UNIDADE DE ESTUDO I – A CRISE DO SISTEMA COLONIAL 
 
A crise portuguesa do século XVIII e a administração pombalina 
A família real no Brasil 
A Revolução Pernambucana de 1817 
A Independência do Brasil 
 
UNIDADE DE ESTUDO II – A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E O 
PRIMEIRO REINADO 
 
O primeiro Reinado e a Constituição de 1824 
A Confederação do Equador 
A abdicação de D. Pedro I 
 
UNIDADE DE ESTUDO III – REGÊNCIAS E REVOLTAS NO BRASIL 
IMPERIAL 
 
 Regência e Reformas Liberais 
 O controle: a Guarda Nacional e o Código de Processo Criminal 
 O Ato Adicional de 1834 e o Golpe da Maioridade 
 As revoltas regenciais 
 
UNIDADE DE ESTUDO IV – O SEGUNDO REINADO E A CONSOLIDAÇÃO 
DO IMPÉRIO 
A disputa entre Liberais e Conservadores 
O “parlamentarismo à brasileira” 
 
6 
 
A Guerra do Paraguai 
O Imperador, o IHGB e a construção da nação brasileira 
 
UNIDADE DE ESTUDO V – ESCRAVIDÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE NO 
BRASIL IMPERIAL 
 
Escravidão, movimento abolicionista e pós-abolição no Brasil 
A economia cafeeira e a modernização 
A Lei de Terras de 1850 
Os imigrantes no Brasil 
 
UNIDADE DE ESTUDO VI – TRANSIÇÃO PARA A REPÚBLICA 
 
A crise do regime monárquico 
Os partidos e o movimento republicano 
O povo bestializado 
 
 
Bibliografia 
Bibliografia Web 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Apresentação do Professor 
 
Olá estudante! 
 
Seja bem-vindo à disciplina de História do Brasil II! 
 
Este material foi elaborado para debatermos sobre a História do Brasil 
Imperial, tomando como eixo as questões políticas, econômicas e os 
movimentos sociais do período em questão. Convidamos você a pensar na 
construção de uma história e uma identidade para a jovem nação e seu povo. 
 
O material foi escrito de modo a facilitar o seu aprendizado, buscando 
levantar algumas questões ao longo do texto, analisando tabelas e mapas, 
como também articulando a escrita com os principais autores que analisam o 
Brasil no período imperial. 
 
Ao longo de sua leitura, procure observar os questionamentos 
sugeridos pelo autor e busque aprofundar seus conhecimentos nas obras 
sugeridas. Ao planejarmos este material, objetivamos que você possa 
compreender este período tão importante para a construção do Estado 
nacional brasileiro. 
 
Agora é com você! Leia o material com atenção, faça as atividades 
sugeridas e interaja no Ambiente Virtual de Aprendizagem com seus colegas e 
tutor. 
 
Bom estudo! 
 
O Autor. 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
Rafael Ricarte da Silva. Doutorando em História Social pela 
Universidade Federal do Ceará, com Estágio de Doutorado Sanduíche 
no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), Mestre em História Social 
(2010) e Licenciado em História pela UFC (2007). Especialista em 
Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela 
Universidade Federal Fluminense (2012). Participa do Grupo de Estudo e Pesquisa - 
História do Ceará Colonial: economia, memória e sociedade. Tem experiência na área 
de História, com ênfase em História Moderna e História do Brasil Colonial, atuando 
nos seguintes temas: História Agrária, História das Elites, História e Direito e História 
do Ceará Colonial. Atualmente, é professor do Curso de Graduação a distância em 
História das Faculdades INTA, setor de História do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
A CRISE DO SISTEMA 
COLONIAL 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
A crise portuguesa do século XVIII e a administração 
pombalina 
 
 
Antes de iniciarmos nossos estudos acerca do período imperial no 
Brasil, é interessante pontuarmos alguns aspectos da colonização portuguesa 
na América e entendermos o que foi a crise do sistema colonial no transcorrer 
do século XVIII. 
 
A colonização portuguesa na América estendeu-se por mais de 
trezentos anos e esteve assentada na grande propriedade territorial (latifúndio), 
na produção monocultora, voltada para a exportação e mão de obra escrava. 
Esta última, num primeiro momento, foi a partir da exploração do trabalho 
indígena. Posteriormente, com os africanos escravizados. 
 
Nos primeiros anos da conquista da América, os portugueses não 
sistematizaram um domínio sobre as terras recém-descobertas. Somente a 
partir da década de 1530 com a implementação das capitanias hereditárias e 
na segunda metade do século XVI com a criação do Governo Geral é que a 
exploração no litoral da América portuguesa ganha impulso. 
 
Esse cenário transformou-se ao longo dos mais de trezentos anos da 
“colonização” lusitana. A América e a África, ou seja, o Atlântico transforma-se 
no principal eixo econômico e colonial de Portugal, sendo o Brasil a principal 
colônia. Assim, a partir da segunda metade do século XVI, segundo Vitorino 
Magalhães Godinho (1978), em Ensaios II, a Coroa portuguesa buscou 
intensificar suas relações na conquista da América devido aos ataques de 
nações inimigas e ao cenário de diminuição de receitas nas Índias. Para o 
autor, este quadro de inversão da política de conquista da Ásia para o Atlântico 
possibilitou uma viagem estrutural do Império português para o Atlântico no 
transcorrer da segunda metade do século XVII. 
 
 
12 
 
Neste contexto, segundo Maria Fernanda Bicalho, em seu livro A 
cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII, a partir do limiar do 
século XVII, redefiniram-se hegemonias – coloniais e europeias – e alianças 
políticas que transferiram o eixo político-econômico do Oriente para o Oceano 
Atlântico. Assim, “[...] já em meados do século XVII o eixo dinâmico do Império 
colonial português havia se afirmado definitivamente no Atlântico, ficando as 
possessões orientais num plano secundário” (BICALHO, 2013, p. 51). 
 
 
Mas, o que resultou desta mudança? Como esta viragem estrutural 
modificou o processo de conquista na América lusa? 
 
 
Neste cenário, a conquista da costa leste-oeste da América portuguesa 
e a investida aos sertões mostraram-se essenciais. Os conflitos que 
envolveram a conquista do Maranhão frente aos franceses e as entradas aos 
sertões das Capitanias do Norte do Estado do Brasil, após a guerra de 
reconquista sobre os holandeses na Capitania Geral de Pernambuco, 
estabeleceram a supremacia lusitana neste espaço com a consolidação de 
pontos de proteção que possibilitavam o comércio e a comunicação entre as 
diversas partes constitutivas do Império ultramarino português. 
 
A afirmação dos domínios da metrópole na América possibilitou a 
formação de uma sociedade colonial, estruturada por meio das relações 
econômicas, políticas, culturais e sociais permeadas pela exploração 
econômica e a escravidão. Entretanto, a partir da segunda metade do século 
XVIII o sistema colonial montado pela Coroa portuguesa começou a enfrentar 
problemas devido às conjunturas imperiais. 
 
Em finais do século XVIII, Portugal apresentava um cenário de crise 
política e econômica. Para compreendermos este contexto de crise, é 
necessário que recuarmos até o século XVII, momento de revoluções e 
grandes transformações na Europa e na América do Norte. Nesse período, a 
 
13 
 
Europa era marcada pela crescente influência da burguesia e dos ideais 
iluministas. Ideais que foram essenciais para as Revoluções Industrial, 
Francesa e Americana, bem como para a sedimentação ideológica dos 
movimentos de contestação ao Antigo Regime na EuropaOcidental, marcado 
por privilégios corporativos e por uma monarquia absolutista. 
 
Para Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Fernandes 
Machado, em O Império do Brasil, a crise do Antigo Regime e, por extensão, 
do sistema colonial foi marcada pelos: 
 
[...] acontecimentos do final do século XVIII que deram corpo e 
alma a tais mudanças. A gestação da Revolução Industrial 
inglesa, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução 
Francesa constituíram-se nos marcos dessa modernidade. As 
ideias e práticas, que reverberaram a partir deles, abalaram os 
alicerces do Antigo Regime, tanto na maior parte do continente 
europeu, quanto de suas colônias na América, ainda que 
desigualmente. A tormenta napoleônica completou a obra 
(NEVES; MACHADO, 1999, p. 24). 
 
Portugal, neste contexto internacional, apresentava-se em situação 
complicada. Pioneira no processo de conquistas ultramarinas, os portugueses 
agora enfrentavam forte concorrência de outros impérios europeus, como por 
exemplo, do holandês, francês e inglês. Essas rivalidades geraram conflitos 
que repercutiram nas conquistas além-mar, exemplo dos conflitos entre 
Inglaterra e França. Enquanto os franceses alcançaram grande influência frente 
outras monarquias europeias, os ingleses conquistavam espaços e acordos no 
mundo ultramarino. 
 
A fragilidade da economia portuguesa neste período não permitiu que a 
Coroa permanecesse com a postura de neutralidade até então adotada frente 
aos conflitos entre franceses e ingleses. Desta maneira, os lusos assinaram 
acordos comerciais com os britânicos. Acordos estes que beneficiaram, 
sobretudo, os ingleses como no Tratado de Methuen efetivado em 1703. 
 
 
14 
 
O Tratado de Methuen previa o fim das restrições à entrada de vinhos 
portugueses na Inglaterra e de tecidos ingleses em Portugal. Como a venda de 
tecidos ingleses era superior ao comércio de vinhos portugueses entre as duas 
nações, Portugal passou a acumular um déficit em sua balança comercial. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Você sabe quais outros tratados a Coroa portuguesa assinou? Foi 
somente com os ingleses? 
Pesquise e comente com seus colegas de Curso no fórum da disciplina. 
 
Com o quadro de debilidade econômica por qual Portugal passava, a 
solução adotada pela Coroa lusitana foi o aumento do controle sobre o 
comércio colonial e a exploração de ouro nas Minas Gerais. Entretanto, a partir 
da segunda metade do século XVIII, a exploração de ouro passou a sofrer uma 
constante queda na produção, diminuindo as receitas da metrópole. 
 
Para reverter este cenário e garantir mais receitas, uma série de 
medidas foram tomadas pelo ministro de Estado da Guerra e dos Negócios 
Estrangeiros, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal. 
Dentre as medidas adotadas, podemos ressaltar: 
 
 Criação de Casas de Inspeção do Tabaco e do Açúcar em 1751; 
 Criação de companhias de comércio: Companhia Geral do Grão-Pará 
e Maranhão em 1755 e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba 
em 1759; 
 Emissão do decreto de 1758 que determinava a proibição da 
escravização de indígenas na América portuguesa; 
 Expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e das conquistas 
ultramarinas em 1759; 
 Criação do Erário Real em 1761 para a cobrança do quinto e impedir 
o contrabando e a sonegação; 
 Transferência da sede do governo de Salvador para o Rio de Janeiro. 
 
 
15 
 
 
Marquês de Pombal: Nasceu em Lisboa no dia 13 de 
maio de 1699 e faleceu em Pombal no dia 08 de maio de 
1782. Tornou-se um grande ministro do governo de D. 
José I, conhecedor dos assuntos relacionados à História 
e à Legislação. 
 
 
 
Apesar dessas medidas, a crise colonial permaneceu. Aliada à questão 
econômica, o crescente interesse dos ingleses no mercado consumidor das 
colônias na América, o processo de independência dos Estados Unidos e o 
descontentamento das elites coloniais com a forte exploração por parte da 
Coroa portuguesa por meio dos elevados impostos, impulsionaram os 
movimentos de contestação à ordem colonial. 
 
Paralelamente, temos uma conjuntura europeia de expansão das 
forças napoleônicas em processo de crescente conquista, afetando 
diretamente os interesses lusitanos. Naquele contexto, a vinda da Família Real 
em 1808 transformou as relações coloniais entre Portugal e Brasil. 
 
A Família Real no Brasil 
 
Houve muita confusão no embarque e a viagem não foi fácil. 
Uma tempestade dividiu a frota; navios estavam superlotados, 
daí resultando falta de comida e água; a troca de roupa foi 
improvisada com cobertas e lençóis fornecidos pela marinha 
inglesa; para completar, o ataque dos piolhos obrigou as 
mulheres a raspar o cabelo. Mas esses aspectos novelescos 
não podem ocultar o fato de que, a partir da vinda da família 
real para o Brasil, ocorreu uma reviravolta nas relações entre a 
Metrópole e a Colônia (FAUSTO, 2004, p. 121). 
 
 
16 
 
A vinda da Família Real para o Brasil, conforme expôs Boris Fausto 
(2004), trouxe mudanças para o sistema colonial. A transferência da Corte 
portuguesa para a Colônia foi uma das consequências do processo 
expansionista de Napoleão Bonaparte na Europa Ocidental. Ao impor o 
Bloqueio Continental ao comércio entre ingleses e demais países do 
continente, os franceses afetaram diretamente Portugal. Em novembro de 
1807, as tropas francesas foram em direção a capital portuguesa. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Convidamos você para pesquisar quais os objetivos e os 
desdobramentos do Bloqueio Continental imposto por Napoleão Bonaparte na 
Europa Ocidental. 
Compartilhe com os colegas de Curso o resultado de suas pesquisas no 
fórum da disciplina no Ambiente Virtual. 
 
A saída pensada pelo Príncipe Dom João foi o embarque para o Brasil, 
transferindo entre os dias 25 e 27 de novembro a “máquina” administrativa da 
Coroa para a Colônia, ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, 
funcionários do Tesouro, patentes do exército e da marinha e membros do alto 
clero. 
 
A chegada de Dom João ao Brasil em 22 de maio de 1808 inaugurou 
uma nova etapa na história da Colônia, agora detentora da sede administrativa 
da Coroa lusitana. A transferência deste aparato burocrático da Metrópole para 
a Colônia foi um caso singular nas relações coloniais, despertando o interesse 
de diversos historiadores que buscaram compreender este evento. 
 
Dentre esses estudos, podemos citar o de Maria Odila Leite da Silva 
Dias (2005) que, em A interiorização da metrópole e outros estudos, 
afirmou que a vinda da Corte portuguesa para a Colônia proporcionou o 
enraizamento do Estado português no Centro-Sul do Brasil, transformando a 
Colônia em uma metrópole interiorizada. 
 
 
17 
 
 
Figura 1 - Transferência da família real para o Brasil 
 
 
Fonte: <https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-
familia-real-portuguesa-ao-brasil/>. 
 
 
As mudanças ocorridas com a transferência da Corte para o Brasil 
começaram tão logo se instalaram os elementos do aparato burocrático. Dom 
João, em 28 de janeiro de 1808, decretou a abertura dos portos às nações 
amigas. 
 
Nesse caso, tratava-se do encerramento do sistema colonial que 
perdurara por mais de trezentos anos, conferindo legitimidade às relações 
comerciais entre o Brasil e a Inglaterra. Outras alterações foram realizadas pelo 
príncipe regente: revogação de decretos que proibiam a instalação de 
manufaturas na Colônia, a importação de matérias primas para a indústria ficou 
livre de tributos e concessão de subsídios às indústrias de lã, seda e ferro 
(FAUSTO, 2004). 
 
Essas medidas agradaram e beneficiaram a Inglaterra, que passou a 
comercializar seus produtos manufaturados no Brasil. Os proprietários rurais 
também foram contemplados com essas medidas, possibilitando o comércio de 
seus gêneros, destinados à exportação, com mercados externos além do 
português. Ademais, Boris Fausto(2004), em História do Brasil, nos adverte 
que “[...] a escalada inglesa pelo controle do mercado colonial brasileiro 
culminou no Tratado de Navegação e Comércio, assinado após longas 
negociações em fevereiro de 1810” (FAUSTO, 2004, p. 124). 
https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-familia-real-portuguesa-ao-brasil/
https://www.historiafacil.com.br/artigos/historia-do-brasil/a-chegada-da-familia-real-portuguesa-ao-brasil/
 
18 
 
 O que determinava o Tratado de Navegação e Comércio? 
 
 
 Podemos afirmar que esse tratado buscou garantir mais um benefício 
para a Inglaterra e seus produtos. As mercadorias inglesas comercializadas no 
Brasil seriam taxadas em 15%, taxa inferior aos 16% cobrados aos produtos 
portugueses e aos 24% das demais nações. 
 
Ainda em 1810, foi firmado outro tratado entre Portugal e Inglaterra, o 
Tratado de Aliança e Amizade que refletiu no tráfico de escravos para o Brasil. 
Pelo acordo, ficava estabelecido que “[...] a Coroa portuguesa se obrigava a 
limitar o tráfico de escravos aos territórios sob seu domínio e prometia 
vagamente tomar medidas para restringi-lo” (FAUSTO, 2004, p. 125). Após o 
término da guerra contra as tropas de Napoleão, Portugal assinou novo tratado 
que determinava mais restrições ao tráfico de escravos, inclusive com a 
permissão para “visitar” navios que fossem suspeitos de transportar escravos. 
 
Para além das questões políticas, administrativas e econômicas, a 
vinda da Família Real para a Colônia transformou culturalmente parte do Brasil, 
especialmente a cidade do Rio de Janeiro. Segundo Luiz Carlos Villalta e 
André Pedroso Becho (2008), as mudanças efetivadas com a transferência da 
Corte para o Rio de Janeiro foram sentidas na vida e nos costumes, sendo que: 
 
Os anos da permanência da Corte no Brasil (1808-1821) 
trouxeram mudanças radicais na vida e nos costumes da antiga 
colônia. Nesse processo, D. João, longe de ser um bobalhão, 
mostrou-se um político hábil. Governou na confluência de 
interesses da Corte portuguesa, da abastada sociedade 
fluminense e, de resto, da região Centro-Sul do Brasil, cujo 
apoio econômico e político era essencial para a sobrevivência 
da monarquia. Como contrapartida ao suporte financeiro de 
grandes comerciantes e proprietários, o rei fez farta distribuição 
de mercês e títulos (VILLALTA; BECHO, 2008, p. 1). 
 
 
 
19 
 
As mudanças foram implementadas na tentativa de copiar o modo de 
vida europeu, buscando adequar o espaço urbano e social. Assim, criou-se a 
imprensa régia, a biblioteca, o horto e transplantaram-se as cerimônias 
realizadas nas cortes europeias. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Essas transformações urbanísticas realizadas pela Corte portuguesa no 
Rio de Janeiro atendiam a toda população? A quem se destinavam esses 
novos espaços de sociabilidade? 
Participe do fórum de conteúdo da disciplina e discuta essas questões 
com os demais colegas e tutor. 
 
 
Destacamos também, a presença de cientistas e viajantes estrangeiros 
no Brasil neste contexto oitocentista que buscaram analisar e escrever suas 
impressões acerca do que encontraram pelo Brasil, exemplo do zoólogo Spix, 
do botânico Martius e dos pintores Taunay e Debret. 
 
A transferência da Corte para o Rio de Janeiro redefiniu não só a 
relação entre Metrópole e Colônia, mas também as dinâmicas organizacionais, 
políticas e econômicas antes estabelecidas no Brasil. A região Centro-Sul 
passou a ser o centro das decisões políticas e principal eixo econômico, 
formando uma forte elite regional que se envolveria diretamente nas 
articulações para o processo de independência do Brasil. A região do que hoje 
conhecemos como o Nordeste brasileiro, até então a principal área econômica 
da Colônia, perdeu espaço na hierarquia política-econômica do Brasil. 
 
 A Revolução Pernambucana de 1817 
 
A desigualdade regional causada com a instalação da Família Real no 
Rio de Janeiro pode ser colocada como um dos motivos de descontentamento 
no “Nordeste”. Paralelo a essa questão, podemos incluir o crescente aumento 
 
20 
 
de impostos cobrados para cobrir os gastos com a Corte e com as batalhas 
militares impetradas por D. João na região do Rio da Prata. 
 
A combinação desses problemas é frequentemente apresentada como 
sendo parte dos fatores para a invasão do movimento que ficou conhecido 
como Revolução Pernambucana de 1817. Esse movimento contou com uma 
ampla participação social, tendo entre os integrantes de suas forças: padres, 
juízes, proprietários rurais, comerciantes, artesãos e militares. Assim como 
eram heterogêneos seus membros, diferentes também foram os objetivos 
almejados por seus integrantes. Segundo Boris Fausto (2004, p. 128): 
 
Para as camadas pobres da cidade, a independência estava 
associada à ideia de igualdade, uma igualdade mais para cima 
do que para baixo [...]. Para os grandes proprietários rurais, 
tratava-se de acabar com a centralização imposta pela Coroa e 
tomar em suas mãos o destino, se não da Colônia, pelo menos 
do Nordeste. 
 
A revolução começou na cidade de Recife e alcançou o sertão em 
estados como Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte, conforme podemos 
visualizar no mapa abaixo. 
 
 Figura 2 - Pernambuco em 1817 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: <http://historiasylvio.blogspot.com.br/2013/11/revolucao-pernambucana-de-1817.html>. 
 
 
21 
 
A partir do movimento no Recife, implementou-se na região do levante 
um governo republicano que previa a igualdade de direitos e liberdade 
religiosa. Após 74 dias de conflitos entre os revolucionários e as forças da 
Corte, a Revolução Pernambucana de 1817 foi sufocada com a prisão e a 
execução dos líderes. Apesar da derrota, a Revolução Pernambucana 
representou um grande marco no processo de contestação do domínio lusitano 
no Brasil e propagou e sedimentou os ideais republicanos na região, conforme 
veremos nos movimentos ocorridos posteriormente em Pernambuco. 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia a obra Nação e cidadania no Império – Novos Horizontes. A obra é 
interessante para historiadores e cientistas sociais, assim como para quem 
viveu no Brasil monárquico. Acesse no google books. 
 
 
A Independência do Brasil 
 
A Independência se explica por um conjunto de fatores, tanto 
internos como externos, mas foram os ventos trazidos de fora 
que imprimiram aos acontecimentos um rumo imprevisto pela 
maioria dos atores envolvidos, em uma escalada que passou 
da defesa da autonomia brasileira à ideia de independência 
(FAUSTO, 2004, p. 129). 
 
 
O processo de independência do Brasil foi gestado, conforme expõe 
Boris Fausto (2004), a partir de variados fatores. O Brasil, em 1815, com o fim 
dos combates contra as tropas francesas, passou a integrar o Reino Unido a 
Portugal e Algarves. Com esta decisão, Dom João (Dom João VI com a morte 
da rainha) reorganizava a monarquia portuguesa e extinguia a relação 
metrópole-colônia existente até então. 
 
https://books.google.com.br/books?id=9-WQ8ceCEfUC&printsec=frontcover&dq=isbn:8520007686&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi9p-maluXPAhXTPpAKHdPTDjYQ6AEIHjAA#v=onepage&q&f=false
 
22 
 
Em 1820, surgiu na cidade do Porto um movimento de contestação ao 
processo que vinha se desenvolvendo ao longo dos anos de transferência da 
Corte para o Brasil. A Revolução Liberal de 1820 exigia, dentre outros pontos, 
o retorno do rei D. João VI a Lisboa, mudanças políticas e econômicas e uma 
nova constituição. Segundo Mário Maestri (1997, p. 28): 
 
A nova constituição garantia a soberania da nação, delimitava 
os poderes do soberano, dissolvia a Inquisição, abria os 
empregos públicos à cidadania, impunha a liberdade de 
imprensa, terminava com os privilégios eclesiásticos, 
assegurava os direitos individuais e de propriedade. Entretanto, 
Portugal era apenas uma nação agrícola atrasada. O passado 
de esplendor devia-seà exploração parasitária das colônias, 
em geral, e do Brasil, em especial. O liberalismo português, no 
que se refere ao Brasil, assumia um caráter recolonizador. A 
independência seria para Portugal, não para o Brasil. 
 
Assim, a Revolução Liberal de 1820 apresentava ambiguidades no 
plano político para o reino lusitano. A postura liberal não era colocada em 
prática quando se pensava no Brasil. Essa contradição foi sentida pelos 
“brasileiros” quando os revolucionários convocaram as Cortes (Parlamento 
português) e aprovaram medidas restritivas à liberdade administrativa e ao 
comércio do Brasil. 
 
A saída buscada por Dom João VI para tentar contornar a crise foi o 
retorno a Portugal, deixando seu filho Pedro no Brasil como príncipe regente. 
Esta situação agradou parte da elite política e econômica do Brasil, pois 
garantia a manutenção dos privilégios conquistados desde a chegada da 
Família Real. Entretanto, as Cortes pressionaram pelo retorno também de D. 
Pedro a Portugal. 
 
Em resposta as pressões das Cortes, o príncipe regente decidiu ficar 
no Brasil. No dia 09 de janeiro de 1822, o Dia do Fico, marcou-se a opção pela 
ruptura. Dentre as medidas adotadas por Dom Pedro estavam a criação de um 
exército, a formação de um novo ministério e a posterior convocação de uma 
 
23 
 
assembleia constituinte. Ainda em 1822, essas decisões tomadas por Dom 
Pedro foram revogadas pelas Cortes. 
 
A independência do Brasil, proclamada em 07 de setembro de 1822, 
resultou, como vimos, de fatores internos e externos. A aliança estabelecida 
entre a elite rural brasileira e Dom Pedro proporcionou uma ruptura sem 
grandes transformações e participação popular, mantendo os privilégios e 
garantindo o nascimento de uma monarquia nos trópicos. 
 
Figura 3 - Pintura de Pedro Américo, intitulada Independência ou 
Morte ou O Grito do Ipiranga 
 
 
Fonte: <http://historiaporimagem.blogspot.com.br/2011/09/o-grito-do-ipiranga-
independencia.html>. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a partir desse famoso quadro, elaborado sob 
encomenda, podemos ver a construção/representação de algumas imagens 
acerca do grito do Ipiranga. Que ideia a pintura buscou expressar? De que 
forma D. Pedro está retratado? Qual a finalidade da obra? 
Compartilhe suas impressões no fórum da disciplina no Ambiente 
Virtual de Aprendizagem. 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
 
 
 
A FORMAÇÃO DO ESTADO 
BRASILEIRO E O PRIMEIRO 
REINADO 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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27 
 
O primeiro Reinado e a Constituição de 1824 
 
 A Independência do Brasil e a instituição de um governo monárquico 
revela a singularidade que este processo de “ruptura” com Portugal obteve. Ao 
seu redor, o Brasil tinha uma América permeada de Repúblicas pós-
independência. A opção pela Monarquia, além de representar uma 
singularidade, certamente nos demonstra a pouca participação popular, o 
desinteresse por grandes transformações sociais e a influência da elite agrária 
na manutenção dos seus privilégios. Vejamos o que José Murilo de Carvalho 
(1996) afirma sobre este processo de independência e constituição de sua elite 
política: 
 
O Brasil dispunha, ao tornar-se independente, de uma elite 
ideologicamente homogênea devido a sua formação jurídica 
em Portugal, a seu treinamento no funcionalismo público e ao 
isolamento ideológico em relação a doutrinas revolucionárias. 
Essa elite se reproduziu em condições muito semelhantes após 
a Independência, ao concentrar a formação de seus futuros 
membros em duas escolas de direito, ao fazê-los passar pela 
magistratura, ao circulá-los por vários cargos políticos e por 
várias províncias (CARVALHO, 1996, p. 34). 
 
 
Esta uniformidade da elite e a tentativa de evitar movimentos de 
contestação ao regime monárquico não conseguiram deter o surgimento de 
revoltas que buscavam questionar a ordem estabelecida. Assim, ocorreram 
diversas resistências pelo Brasil, exemplo da Batalha do Jenipapo em 1823 
no Piauí e da guerra pela Província da Cisplatina em 1825. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, convidamos você a pesquisar as motivações, o 
desenvolvimento desses movimentos de resistência ao governo imperial, a 
ordem estabelecida e como D. Pedro I conseguiu sufocar as contestações. 
Compartilhe no fórum da disciplina suas pesquisas. 
 
 
28 
 
Apesar dos movimentos de contestação, em poucos anos a 
consolidação do processo de Independência estava realizada. O 
reconhecimento externo veio com os Estados Unidos em 1824 e, 
posteriormente, de forma oficial, com a Inglaterra. Entretanto, a legitimidade 
internacional da monarquia brasileira dependia do reconhecimento de Portugal, 
efetivado em agosto de 1825 após acordo para o pagamento de uma 
compensação de 2 milhões de libras e a aceitação, por parte do Brasil, de não 
se unir a qualquer outra colônia portuguesa. Este acordo foi capitaneado pela 
Inglaterra, a quem também coube o empréstimo do dinheiro para o pagamento 
da indenização a Portugal. 
 
Ainda nos anos iniciais do pós-independência foi convocada eleições 
para a formação de uma Assembleia Constituinte que teria como 
responsabilidade a elaboração da primeira constituição do país. Instalada em 
maio de 1823, reuniu vários setores da sociedade: proprietários rurais, 
militares, funcionários públicos, padres e advogados. Os integrantes se 
dividiram essencialmente em dois grandes grupos, os que defendiam maior 
autonomia da Assembleia e limites para o exercício do poder imperial e os que 
advogavam a necessidade de um governo forte, centralizador e com poder 
absoluto do rei. 
 
Boris Fausto (2004) esclarece que as desavenças entre os 
constituintes e D. Pedro tiveram como foco as atribuições do executivo e do 
Legislativo. Assim: 
 
Os constituintes queriam que o imperador não tivesse o poder 
de dissolver a futura Câmara dos Deputados, forçando assim, 
quando julgasse necessário, novas eleições. Queriam também 
que ele não tivesse o poder de veto absoluto, ou seja, o direito 
de negar validade a qualquer lei aprovada pelo Legislativo. 
Para o imperador e os círculos políticos que o apoiavam, era 
necessário criar um Executivo forte, capaz de enfrentar as 
tendências ‘democráticas e desagregadoras’, justificando-se 
assim a concentração de maiores atribuições nas mãos do 
imperador (FAUSTO, 2004, p. 148). 
 
 
29 
 
Essas disputas levaram a dissolução da Assembleia Constituinte por D. 
Pedro, com a prisão de vários deputados, inclusive os irmãos Andradas. A 
Constituição elaborada e outorgada em 25 de março de 1824 buscou conciliar 
os interesses da elite brasileira com o autoritarismo expresso na figura do 
imperador, detentor do Poder Moderador. Dentre outros aspectos, a 
Constituição trouxe como resoluções: 
 
 Separação dos poderes em Executivo, 
Legislativo, Judiciário e Moderador. 
 Catolicismo como religião oficial. 
 Voto indireto e censitário. 
 Garantia de propriedade sobre os bens, tais 
como: escravos e terras. 
 
 A Constituição de 1824 vigorou até o final do Império, estabelecendo a 
Monarquia Constitucional como forma de governo e dividindo o país em 
províncias chefiadas por presidentes nomeados pelo imperador. Ficou 
estabelecida também a igualdade perante a lei, a liberdade de religião, a 
manifestação e pensamento. 
 
Obviamente, esta igualdade perante a lei não contemplava todos os 
sujeitos históricos imersos naquele contexto social. Pela Constituição, ficava 
assegurada a manutenção das estruturas escravistas e estabelecia-se o voto 
censitário, ou seja, o cidadão para votar deveria ter uma renda mínima, ser 
homem e maior de 24 anos. 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Mas, afinal, quem era considerado cidadão pela Constituição de 1824? 
Quem tinha estes direitos garantidos pela CartaMagna? 
Pesquise e compartilhe com seus colegas no fórum da disciplina. 
 
 
 
 
30 
 
O fechamento da Assembleia Constituinte e o outorgamento desta 
Constituição por D. Pedro geraram fortes descontentamentos entre as elites 
regionais do país, pois limitava a autonomia das províncias e a representação 
política das elites regionais. 
 
A Confederação do Equador 
 
Os atos de centralização do poder e diminuição da força política das 
elites gerou em Pernambuco o ressurgimento do movimento antilusitano que 
havia sido instaurado na Revolução de 1817. A Confederação do Equador de 
1824 teve nos ideais republicanos e na impressa os meios de propagação das 
ideias contrárias ao governo imperial de D. Pedro I, tendo o Frei Joaquim do 
Amor Divino e Caneca, o Frei Caneca, como uma das principais lideranças do 
movimento. Segundo Frei Caneca (apud MELO, 2001, p. 563), em discurso 
contra a Constituição de 1824: 
 
Os conselhos das províncias são uns meros fantasmas para 
iludir os povos; porque devendo levar suas decisões à 
Assembleia Geral e ao Executivo conjuntamente, isto bem 
nenhum pode produzir à província; pois que o arranjo, 
atribuições e manejo da assembleia geral faz tudo em último 
resultado depender da vontade e arbítrio do Imperador, que 
arteiramente avoca tudo a si e de tudo dispõe a seu contento. 
 
 
A insatisfação expressa nesta carta por Frei Caneca demonstrava 
como os confederados sentiam-se sem liberdade zpolítica frente aos 
desmandos que o Poder Moderador e a Constituição concediam a D Pedro I. A 
nomeação de um presidente para a província de Pernambuco por parte do 
imperador foi o estopim para o início da revolta e a proclamação da 
Confederação do Equador. 
 
A Confederação do Equador, iniciada em 03 de julho de 1824 em 
Pernambuco, conquistou adesão de elites nas províncias do Rio Grande do 
 
31 
 
Norte, Ceará, Piauí e Paraíba. Para Flávio José Gomes Cabral (2006), a 
Confederação do Equador e os movimentos de contestação são testemunhas 
da insatisfação que as elites sentiam, “[...] foi, sobretudo um ensaio de tomada 
de poder por grupos das elites que não queriam se curvar ao projeto político 
centralizador e autoritário do Estado nacional nascido em 1822” (CABRAL, 
2006, p. 47). 
 
Apesar do alcance territorial da Confederação do Equador, as tropas 
imperiais não encontraram dificuldades para derrotar os revoltosos, 
especialmente com o envio do comandante Cochrane. Os líderes do 
movimento, exemplo de Frei Caneca, foram presos e condenados à morte. 
Uma forma de exemplificar o que aconteceria aos demais sujeitos que 
ousassem ir contra o governo imperial. Entretanto, apesar da derrota dos 
confederados, segundo Boris Fausto (2004), as marcas da revolução de 1824 
não seriam apagadas facilmente. De fato, ela pode ser vista como parte de 
uma série de rebeliões e revoltas que ocorreram em Pernambuco entre 1817 e 
1848. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fique sabendo: 
“Frei Joaquim do Amor Divino Caneca nasceu no Recife, no 
dia 20 de agosto de 1779, recebendo o nome de Joaquim da Silva 
Rabelo. Filho do português Domingos da Silva Rabelo e Francisca 
Maria Alexandrina de Siqueira, que moravam em Fora de Portas, 
próximo do demolido Arco do Bom Jesus. Seu pai era tanoeiro – 
fabricava vasilhames de flandres, daí o apelido de Caneca. Foi um 
dos grandes pensadores literários no momento da Independência 
brasileira. Vivia em Pernambuco quando da inquietação em torno da 
separação com Portugal e lugar onde a agitação era maior do que no 
resto do país. Muito combativo, lutava contra o despotismo (o poder 
absoluto e autoritário) e as relações de dependência que 
caracterizavam a situação colonial.” 
 
Fonte: DOBBIN, Elizabeth. Frei Caneca. Pesquisa Escolar Online, Fundação 
Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: 
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 06 jul. 2016. 
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php
 
32 
 
A abdicação de D. Pedro I 
 
 No transcorrer dos anos de 1820, o governo monárquico de D. Pedro I 
encontrou resistências políticas em diversas províncias. Estas revoltas 
ocorreram, principalmente, após a centralização do poder absoluto nas mãos 
do imperador por meio do Poder Moderador e das prerrogativas que a 
Constituição de 1824 lhe conferia: nomeação de presidentes das províncias e 
dissolução da Assembleia Constituinte. Esta, aliás, só voltou a ser convocada 
em 1826. 
 
Naquela mesma década, aliada às questões políticas internas brotou 
na região da Cisplatina uma guerra pela independência da região frente ao 
Brasil. Tratava-se da separação do Brasil e entrada nas Províncias Unidas do 
Rio da Prata, futura Argentina. A guerra mostrou-se, ao longo dos anos de 
embate, um total desastre em termos de campanha – várias derrotas – e 
prejuízos financeiros com as tropas brasileiras – constituídas por brasileiros e 
estrangeiros contratados no exterior. Somado a esses percalços, a perda de 
militares em combates e o recrutamento forçado tornavam o imperador cada 
vez mais impopular. 
 
Segundo Boris Fausto (2004), os gastos advindos com a guerra 
promovida na região da Cisplatina só vieram a agravar a deficiente economia 
imperial. Apesar da crescente exportação de produtos como o café, os preços 
vinham diminuindo ao longo dos anos. Além disso, as rendas do governo 
central, dependentes em grande medida do imposto sobre as importações, 
eram insuficientes. 
 
Outro agravante na economia deu-se por conta da grave crise 
financeira do Banco do Brasil. D. João VI retirou, antes de sua partida para 
Portugal, o ouro que estava depositado no banco. A solução adotada por D. 
Pedro foi a emissão de moedas de cobre, gerando o aumento de custo de vida 
 
33 
 
e favorecendo a desvalorização do papel-moeda. Em 1829, o Banco do Brasil 
foi fechado pelo governo imperial. 
 
Uma das medidas adotadas por D. Pedro I para diminuir a crise política 
foi o controle do Senado com a escolha dos senadores mediante a lista tríplice 
de candidatos de cada província, escolha que era prerrogativa do imperador. 
Essa decisão procurava equilibrar as forças políticas na capital do império, haja 
vista a forte eleição de Deputados de oposição ao regime monárquico 
centralizador exercido por D. Pedro I. 
 
Para Mário Maestri (1997), um conjunto de fatores levaram D. Pedro I a 
perder apoio político de setores antes favoráveis ao seu governo. Dentre esses 
fatores, o autor enumerou: 
 
A péssima situação financeira do Estado, o comportamento 
autocrático de dom Pedro I e de seus ministros, seu 
envolvimento na política portuguesa, sua desregrada vida 
pessoal, o fracasso da aventura expansionista na Cisplatina, o 
privilégio concedido aos lusitanos com a nomeação e 
promoção dos oficiais militares e administrativos, tudo corroia 
inexoravelmente o prestígio do jovem soberano. Uma outra 
importante causa de sua queda foi a adesão às reivindicações 
inglesas e abolição do tráfico transatlântico de escravos 
(MAESTRI, 1997, p. 57). 
 
 
 A combinação de variados fatores internos e externos aumentava, 
cada dia mais, a pressão sobre D. Pedro I. Neste período, a divisão das forças 
políticas brasileiras estava alicerçada na cisão entre liberais e absolutistas. 
Estes últimos, defensores de um imperador forte e centralizador que garantisse 
a ordem e a propriedade, sem espaços para contestação dos privilégios 
adquiridos ao longo dos anos. Os liberais, por sua vez, buscavam também a 
garantia da ordem e da propriedade, mas almejavam a conquista da liberdade 
constitucional. 
 
 
34 
 
Finalmente, destacamos a pressão sofrida por D. Pedro I após a morte 
de D. João VI em Portugal. De um lado, existia a desconfiança de que o 
imperador fosse optar pela unificação dos reinos, rebaixando novamente o 
Brasil a condição de Reino Unido de Portugal e Algarves. Do outro lado doAtlântico, a pressão fazia-se sentir na insistência dos liberais portugueses para 
o retorno de D. Pedro I para assumir o trono português. 
 
Isolado politicamente e em meio à crise econômica e política, D. Pedro 
I constituiu um novo ministério após os episódios que ficaram conhecidos como 
Noite das Garrafadas. Segundo Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e 
Humberto Fernandes Machado (1999), em O Império do Brasil, o clima de 
incerteza tomou conta quando a repentina mudança do Ministério, que passava 
a ser composto pelos auxiliares mais próximos e fiéis ao imperador, todos com 
títulos de nobreza, fazendo surgirem boatos de que um golpe seria dado por D. 
Pedro I. 
 
Sem apoio da população e dos militares, a saída encontrada por D. 
Pedro I foi a abdicação do trono do Brasil, favorecendo seu filho, o futuro D. 
Pedro II. Em Portugal, conseguiu reaver o trono lusitano após derrotar seu 
irmão e colocar sua filha no trono. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fique sabendo: Noite das Garrafadas 
 
“O principal conflito que precede a Abdicação, conhecido como Noite das Garrafadas, 
estendeu-se do dia 11 ao dia 15 de março de 1831 pelas ruas do Rio de Janeiro. O levante 
das Garrafadas é iniciado na noite do dia 11 em uma comemoração organizada pelos 
comerciantes do Rio de Janeiro para saudar o Imperador do retorno de sua viagem à 
província de Minas Gerais. No dia 11 de março, foram organizados festejos com fogueiras e 
fogos de artifício nos quadriláteros delimitados pelas ruas da Quitanda, dos Ourives, da 
Direita e das Violas pelos que apoiavam o governo de D. Pedro I. Acender fogueiras nas 
comemorações públicas ou nos dias santos e beber, cantar e dançar era um costume antigo 
dos portugueses. O que se falava era que os portugueses estavam organizando a algazarra 
e na noite do dia 11 começaram as agressões.” 
 
Fonte: PANDOLFI, Fernanda C. A imprensa e a abdicação de D. Pedro I em 1831: História e 
Historiografia. In: Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu 
tempo. ANPUH/SP – UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006, p. 7. 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REGÊNCIAS E REVOLTAS NO 
BRASIL IMPERIAL 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Regência e Reformas Liberais 
 
 O período regencial no Brasil transcorreu entre a abdicação de D. 
Pedro I e a ascensão de D. Pedro II ao trono do Brasil. Aqueles anos entre os 
dois reinados são caracterizados por Lilia Moritz Schwarcz, em As Barbas do 
Imperador, como um período de grande efervescência política. Segundo a 
autora, “[...] os nove anos das Regências se desenvolveriam em clima 
conturbado, com uma série de rebeliões estourando em diversos pontos do 
país” (SCHWARCZ, 1998, p. 53). 
 
Nesse mesmo sentido, Boris Fausto (2004), em História do Brasil, 
apontou o período regencial como um dos mais agitados da história do Brasil, 
onde esteve “[...] em jogo a unidade territorial do Brasil, e o centro do debate 
político foi dominado pelos temas da centralização ou descentralização do 
poder, do grau de autonomia das províncias e da organização das Forças 
Armadas” (FAUSTO, 2004, p. 161). 
 
Outro autor que destacou esse cenário de agitação política foi José 
Murilo de Carvalho (1996). Em O Teatro de Sombras, o autor nos afirma que o 
período das Regências expressou as dificuldades encontradas para se 
estabelecer o processo de dominação monárquico. No período regencial, 
segundo o autor, as elites brasileiras assumiram o poder político do país com 
suas diferenças de posições e perspectivas políticas. Cabe ressaltar que, 
segundo Carvalho (1996), ainda não existiam partidos políticos formados. 
 
 Ainda com relação ao que configuraria esse contexto, Caio Prado 
Junior (1999), em Evolução Política do Brasil, afirmou que este momento foi 
singular na história do Brasil pela participação popular nos embates regenciais. 
Para o autor, as classes médias reagiram à política de dominação exercida 
pelas oligarquias agrárias nas diversas revoltas do período. 
 
Durante o período regencial foram travadas iniciativas de adotar 
políticas liberais que garantissem as liberdades individuais e maleabilidade ao 
 
38 
 
sistema político do país. Entretanto, como veremos nesta unidade, essas 
tentativas de mudanças acabaram gerando confrontos entre as elites regionais 
e o governo imperial. Ademais, conforme advertiu Boris Fausto, não existiu 
uma unicidade das elites sobre qual arranjo institucional deveria ser seguido 
para preservar os interesses deste grupo. Não havia, segundo o autor, “[...] 
clareza sobre o papel do Estado como organizador dos interesses gerais 
dominantes, tendo para isso de sacrificar em certas circunstâncias interesses 
específicos de um determinado setor social” (FAUSTO, 2004, p. 162). 
 
A formação do governo da Regência Trina Provisória buscou, por meio 
dos políticos nomeados abaixo, um equilíbrio no arranjo político. Dentre as 
medidas tomadas neste triunvirato, temos a anistia para todos os presos e/ou 
sentenciados por crimes políticos e a proibição de ajuntamentos públicos na 
capital. Na Regência Trina Permanente, a transformação do Império em uma 
monarquia federativa foi um dos temas que geraram mais controvérsias. 
Segundo Marco Morel (2003), em O Período das Regências, a adoção do 
federalismo aparecia como contraponto a uma estrutura governamental 
centralizadora. 
 
O governo das Regências Trina e Una ficaram a cargo dos seguintes 
políticos: 
 
 Tabela 1 - Relação dos regentes 
REGÊNCIA TRINA 
PROVISÓRIA 
REGÊNCIA TRINA 
PERMANENTE 
REGÊNCIAS UNA 
Francisco de Lima e 
Silva 
Francisco de Lima e 
Silva 
Diogo Antônio Feijó 
(1835-1837) 
José Joaquim Carneiro 
de Campos 
João Bráulio Muniz Araújo Lima (1837-
1840) 
Nicolau Pereira de 
Campos Vergueiro 
José da Costa 
Carvalho 
 
 Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
 
 
 
39 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a que grupos políticos e seguimentos sociais esses 
sujeitos pertenciam? O que defenderam em seus governos? Quais medidas 
adotaram? Pesquise e compartilhe suas análises com os demais colegas e 
tutor no fórum de conteúdo da disciplina de História do Brasil II. 
 
 
De modo geral, a elite brasileira esteve dividida em três grupos 
políticos nesse período regencial: os restauradores, que defendiam o retorno 
de D. Pedro I ao Brasil para reassumir o trono e mostravam-se contrários as 
reformas sociais e econômicas; os liberais exaltados, que pertenciam e/ou 
eram ligados à classe média urbana, sem, contudo, deixarem de ter 
aproximações com a elite rural e que defendiam um governo monárquico 
federalista com autonomia das províncias; e os liberais moderados, grupo que 
tinha como integrantes membros da aristocracia rural e defendiam uma 
monarquia constitucional. Este último grupo foi a tendência que dominou o 
cenário político no período das Regências. 
 
Segundo Mário Maestri (1997), em Uma História do Brasil Império, 
esses grupos políticos travaram, durante o período regencial, disputas que 
envolveram propostas de reformas políticas. Para o autor, as Regências Trina 
(1831 a 1835) e Una (1835 a 1837): 
 
[...] expressaram o ensaio de uma tímida transigência do 
autoritarismo dos grandes proprietários do Sudeste com as 
tendências federalistas que não cessavam de se fortalecer. Os 
liberais moderados foram os agentes da tentativa de 
construção de um novo pacto político. Eles propunham 
reformas no interior do regime centralizador e monárquico e 
tiveram que combater os restantes das facções sociais 
subalternas. (MAESTRI, 1997, p. 73). 
 
Dentre as reformas implementadas no período regencial, temos a lei 
que regulamentou a Regência Trina e que restringiu o poder do Executivo 
frente ao Legislativo, não permitindo mais a sua dissolução pelos regentes. 
 
40 
 
Outramodificação com as reformas foi a criação da Guarda Nacional e a 
dispensa dos militares estrangeiros. Essas reformas desagradaram os 
conservadores que não concordavam com a autonomia das províncias. Sobre 
essas medidas e as revoltas regenciais, abordaremos nos tópicos seguintes. 
 
 Marco Morel (2003), em O Período das Regências, adverte para a 
importância desse período e das mudanças em curso nesse momento chave 
da construção da nação brasileira. Para o autor, o período foi “[...] tempo de 
esperanças, inseguranças e exaltações, tempo de rebeldia e de repressão, 
gerando definições, cujos traços essenciais permanecem na sociedade” 
(MOREL, 2003, p. 10). 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia o artigo Sociedade Armada: o modo senhorial de atuação no 
Brasil Império, de autoria do professor Adilson José de Almeida, publicado na 
Revista Anais do Museu Paulista, dossiê História e Cultura Material. Acesse: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47142015000200093 
 
 
O controle: a Guarda Nacional e o Código de Processo 
Criminal 
 
A criação da Guarda Nacional, em 1831, por decisão do padre Feijó, 
estabeleceu a organização de uma nova força que buscava conter 
manifestações em âmbitos local e nacional. Com a criação da Guarda 
Nacional, todo cidadão entre 21 e 60 anos de idade e que fosse votante nas 
eleições primárias estaria obrigado a compor seus quadros. Reservava-se, 
geralmente, o cargo de oficial para os grandes fazendeiros. 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142015000200093
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142015000200093
 
41 
 
A Regência Trina tinha outras surpresas guardadas no bolso, 
entre elas a criação da Guarda Nacional: uma força pública a 
ser usada pelo poder central para conter manifestações e 
motins (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 247). 
 
 
 Segundo Ilmar Mattos (1987), a Guarda Nacional criada nos moldes da 
guarda francesa tinha como concepção o “cidadão armado”, atendendo as 
medidas descentralizadoras que estavam sendo colocadas em prática nas 
Regências. 
 
Para Magali Engel (2002, p. 319), “[...] mais do que uma força 
repressiva, o papel primordial exercido pela Guarda Nacional foi o de 
expressar, no plano simbólico, a ordenação elitista da nação que se pretendia 
forjar”. Uma organização descentralizada, organizada no plano provincial. 
 
Na maior parte do período regencial, a Guarda Nacional atuou para 
coibir e acabar com as revoltas provinciais que buscavam contestar o governo 
central. A chefia da Guarda Nacional ficou a cabo, em muitos casos, de Luís 
Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Esse contingente formou um 
segundo braço de repressão do governo regencial, passando, inclusive, a ser 
utilizado no lugar do Exército em alguns casos. 
 
Ademais, o Exército, naquele período, era uma instituição mal 
organizada, vista pelo governo com muita suspeita. A base do Exército 
preocupava, pois era formada por gente mal paga, insatisfeita e propensa a 
aliar-se ao povo nas rebeliões urbanas (FAUSTO, 2004). O alistamento 
obrigatório para a Guarda Nacional acabou agravando os quadros do Exército 
ao desfalcar o seu contingente. 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Acesse o link: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-
37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html 
 
Confira na íntegra a lei de criação da Guarda Nacional, Lei de 18 de 
agosto de 1831: Cria as Guardas Nacionais e extingue os corpos de 
milícias, guardas municipais e ordenanças. 
 
Outra medida de controle no período regencial foi o Código de 
Processo Criminal que passou a vigorar em 1832, estabelecendo as 
normatizações para a aplicação do Código Criminal de 1830. Dentre as 
mudanças advindas com sua aplicação, temos o maior poder de juízes de paz, 
eleitos nas localidades, que poderiam a partir de agora prender e julgar sujeitos 
acusados de cometer crimes de pequena gravidade. 
 
O Código de Processo Criminal também criou o júri, utilizado para 
julgar a maior parte dos delitos. A criação do habeas corpus também foi a partir 
do Código de Processo Criminal e permitiu a liberdade de pessoas que fossem 
presas ilegalmente. Para Hamilton M. Monteiro, em Brasil Império, o Código 
de Processo Criminal permitiu a elite agrária do país, por meio dos coronéis, 
“consagrar o arbítrio” do poder sobre o espaço de influência. Com os poderes 
atribuídos a Guarda Nacional e a organização da justiça proposta pelo Código, 
“[...] assiste-se à abertura de processos forjados e prisões sem culpa, com os 
quais os senhores da localidade intimidavam e neutralizavam seus adversários” 
(MONTEIRO, 1994, p. 33-34). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html
 
43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, a partir da leitura da citação acima, reflita sobre como a 
prática de dominação dos coronéis (antigos chefes da Guarda Nacional nas 
províncias) permaneceu e transformou-se ao longo do tempo. Quais práticas 
foram utilizadas e reorganizadas pelos coronéis? 
 
 
O Ato Adicional de 1834 e o Golpe da Maioridade 
 
O Ato Adicional de 1834, como o próprio nome define, adicionou 
alterações na Constituição de 1824, já que o período regencial possuía 
características organizacionais e políticas diferentes do Primeiro Reinado. 
Dentre as modificações, podemos citar: o não exercício do Poder Moderador 
pelos Regentes; a extinção do Conselho de Estado; a criação das Assembleias 
Refletindo: 
A Guarda Nacional e os Coronéis 
 
“Os coronéis sobreviveram à Guarda Nacional e à República Velha. O 
fenômeno não deixou de existir e se adaptou aos novos tempos. Eles empregam 
novos métodos de dominação. Um deles é o controle dos meios de 
comunicação, como rádio e televisão. O coronel de hoje não é o fazendeiro de 
terno branco, botas e chicote de couro na mão. 
 
Atualmente, seu poder se faz sentir de uma forma talvez mais sutil [...]. 
Em muitos casos, esses novos coronéis são descendentes diretos dos antigos, 
em um notável fenômeno de reprodução do poder”. 
 
RÊGO, André Heráclio. Uma vez coronel, sempre coronel. Revista de História, Rio de Janeiro: 
Sabin, ano 5, n. 60, set. 2010, p. 61. 
 
 
44 
 
Provinciais, responsáveis por prever as despesas dos municípios e províncias, 
cobrar impostos para suprir essas despesas e demitir e nomear funcionários 
públicos; a repartição das rendas entre os governos central, provincial e 
municipal. 
 
Para Hamilton Monteiro (1994), o Ato Adicional de 1834 constituiu-se 
como o coroamento das medidas que buscavam a descentralização do poder 
do Estado, garantindo a possibilidade de aumento do poder das elites 
regionais. 
 
Outra transformação que ficou determinada pelo Ato Adicional foi a 
mudança no formato das Regências, deixando de serem trina. O governo 
passaria a ser regido por apenas uma pessoa. O primeiro eleito, Diogo Antônio 
Feijó, integrante do Partido Liberal, não conseguiu concluir seu mandato devido 
pressões do legislativo, amplamente constituído por políticos ligados ao Partido 
Conservador. 
 
Para Marco Morel (2003), no governo de Feijó umas das principais 
transformações foi a criação da Guarda Nacional, voltada para o fortalecimento 
dos proprietários e senhores locais e do poder central. Após sua renúncia, a 
Regência passou para o comando de um conservador, Pedro de Araújo Lima. 
 
Ao assumirem o poder, os conservadores aprovaram na Câmara uma 
lei que permitia a interpretação de dispositivos do Ato Adicional de 1834. Essa 
nova lei, centralizava o judiciário. A contraofensiva dos liberais foi a aprovação 
da maioridade de D. Pedro II aos 15 anos deidade na Câmara, possibilitando 
sua ascensão ao trono. 
 
Segundo Lilia Moritz Schwarz (1998), desde os primeiros anos das 
Regências, já se cogitava a antecipação da ascensão de D. Pedro II ao trono. 
Esse cenário era incentivado pelo clima de instabilidade e pelas medidas 
descentralizadoras adotadas. 
 
 
45 
 
Assim, de acordo com autora: 
 
 [...] se o projeto de antecipar a maioridade não passou, a 
princípio, de uma manobra política, o certo é que aos poucos a 
medida foi tomando “ares de salvação nacional”. É o partido 
liberal em 1840, com a criação do Clube da Maioridade, que dá 
forma ao projeto (SCHWARZ, 1998, p. 67). 
 
Dessa forma, o Ato Adicional reconfigurou os grupos políticos do país. 
Os restauradores passaram a apoiar o Partido Conservador ou Regressista. Do 
outro lado, parte dos exaltados e os moderados passaram a apoiar o Partido 
Liberal ou Progressista. Para José Murilo de Carvalho (1996), esses dois 
partidos, conservador e Liberal, foram as formações iniciais dos partidos 
políticos no Brasil, antes disso, existiam apenas “organizações políticas”. 
 
Segundo Mário Maestri (1997), esses arranjos e rearranjos políticos 
consistiram em uma tentativa de acordo do bloco dominante no poder com as 
facções liberais moderadas. Esse acordo, mesmo tímido, permitiu a debilitação 
das forças liberais e federalistas regionais. 
 
As disputas políticas entre Conservadores e Liberais contou ainda com 
a aprovação da reforma do Código de Processo Criminal. Por essa reforma, 
magistrados e delegados poderiam exercer as atribuições dos juízes de paz. O 
delegado também ficou sendo o responsável por escolher os jurados, que 
deveriam ser alfabetizados. Essas mudanças buscavam restringir a influência 
dos fazendeiros, fortalecendo o governo central em detrimento da autonomia 
provincial. Para Mário Maestri (1997), essas mudanças centralizadoras e 
autoritárias refletiam claramente a defesa da ordem escravista no país pelos 
grandes proprietários. 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Caro estudante, acesse o link e confira na integra a Lei do Ato 
Adicional de 1834. 
LEI Nº 16 DE 12 DE AGOSTO DE 1834: Faz algumas alterações e 
adições à Constituição Política do Império, nos termos da Lei de 12 de outubro 
de 1832. Link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM16.htm>. 
 
 
As revoltas regenciais 
 
No período regencial, eclodiram vários movimentos de contestação ao 
governo imperial. Contestações que envolviam aspectos sociais, econômicos e 
políticos entre segmentos da sociedade e entre elites provinciais e império. 
Dentre as revoltas ocorridas nas Regências, podemos citar: Guerra dos 
Farrapos, Sabinada, Cabanagem, Revolta dos Malês e Balaiada. Marco Morel 
(2003) assinala que esse período registrou muita violência num tempo tão curto 
e em extensões de terra bastante largas que nenhum outro momento da 
história do Brasil compara-se a essa fase da monarquia. 
 
Para José Murilo de Carvalho (1996, p. 230), “[...] a melhor indicação 
das dificuldades em estabelecer um sistema nacional de dominação com base 
na solução monárquica encontra-se nas rebeliões regenciais”. Ainda segundo o 
referido autor, podemos separar as revoltas desse período em dois grupos. Um 
primeiro que apresentou revolta das populações urbanas e contou como 
protagonistas a tropa e o povo. Um segundo período em que a 
descentralização das revoltas com a eclosão de movimentos no interior revelou 
perigos mais graves a ordem pública e para a própria sobrevivência do país. 
 
A Guerra dos Farrapos ou Farroupilha, iniciada no Rio Grande do Sul 
e desenvolvida entre os anos de 1835 e 1845, teve como líderes os grandes 
estancieiros criadores de gado. Segundo Boris Fausto (2004), o 
descontentamento dos gaúchos para com o governo central já vinha de longa 
data, pois se sentiam explorados com a carga de impostos que pagavam. Além 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lim%2016-1834?OpenDocument
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LIM/LIM16.htm
 
47 
 
dessa questão, eles queriam acabar com a taxação de gado na fronteira com o 
Uruguai ou reduzi-la e receavam que a criação da Guarda Nacional interferisse 
negativamente nas suas organizações militares. 
 
A Guerra dos Farrapos causou grande impacto político e econômico no 
período imperial nos seus dez anos de duração. A instauração de governos 
republicanos na região sul do país foi significativa da grande expressão e força 
que os farrapos tiveram no regime monárquico. Ao iniciarem o movimento 
farroupilha, os rebeldes fundaram a República de Paratini, oficializando a 
separação do Rio Grande do Sul do restante do país monárquico. Ressaltamos 
que, apesar de ser um regime republicano, os farrapos mantiveram a 
escravidão e o voto censitário. 
 
Entre as principais lideranças estavam Bento Gonçalves, Giuseppe 
Garibaldi e Davi Canabarro. Estes dois últimos expandiram a ação dos farrapos 
para a província de Santa Catarina, conquistando a cidade de Laguna e 
proclamando a República Juliana em 1839. 
 
 
GUIA DE ESTUDO: 
Caro estudante, convidamos você para pesquisar sobre a 
biografia/trajetória desses sujeitos históricos que lideraram a Guerra dos 
Farrapos. A que grupos sociais pertenciam? Quais foram suas ações na 
revolta? 
Compartilhe os resultados da pesquisa com seus colegas e tutor no 
Ambiente Virtual. 
 
 
Em 1845, após dez anos de combate entre farroupilhas e tropas oficiais 
do governo central, a guerra foi encerrada com a assinatura de um acordo que 
previa anistia geral para os revoltosos e a incorporação destes ao Exército 
nacional. Ademais, conforme nos adverte Boris Fausto (2004, p. 170), “[...] a 
posição do governo central foi entremeada de combate e concessões aos 
 
48 
 
rebeldes”. O término dos combates aconteceu após a assinatura de um acordo 
de paz negociado entre os farroupilhas e Duque de Caxias, comandante das 
tropas imperiais. 
 
Outra revolta ocorrida no período regencial que tinha como um dos 
objetivos a proclamação de uma República foi a Sabinada. Movimento 
eminentemente urbano, contou com a participação de trabalhadores livres, 
profissionais liberais e soldados, que se iniciou em 7 de novembro de 1837 e 
propunha a separação da Bahia do restante do país. Segundo Marco Morel 
(2003), a Sabinada tinha tendências à República, mas essas nem sempre eram 
evidenciadas. Dentre as motivações para seu desfecho, esteve o protesto 
contra a centralização do poder imperial. 
 
Liderado pelo médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha, 
a Sabinada durou aproximadamente quatro meses e teve como uma de suas 
propostas a libertação dos escravos que haviam nascido no Brasil e participado 
ativamente nos combates. Os demais, estrangeiros, continuariam cativos. A 
revolta foi reprimida pelas tropas imperiais e seus principais líderes foram 
presos e condenados à morte. Após a ascensão de D. Pedro II ao trono, as 
penas foram reduzidas e os condenados foram degredados para regiões 
distantes da Bahia. 
 
A Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia entre os dias 24 e 25 de 
janeiro de 1835, envolveu escravos de diversas etnias com a predominância de 
origem ioruba. A revolta foi duramente reprimida pelo governo que temia sua 
expansão inspirada no movimento vitorioso ocorrido no Haiti entre os anos de 
1791 e 1804. 
 
A organização da Revolta dos Malês foi desenvolvida principalmente 
por escravos mulçumanos. Para João José Reis (2003), em a Rebelião 
Escrava, o levante dos escravos foi um movimento político e teve como um 
dos objetivos tomar o governo. O movimento foi derrotado e seus envolvidos 
 
49 
 
presos, condenados a pena de morte e/ou tirados do Brasil e enviados para a 
África. 
 
Outro movimento de contestação no período regencial, a Balaiada, 
teve início em 1838 e durou até 1841. Segundo Marco Morel (2003, p. 64), 
essa revolta foi“[...] o caso mais evidente de transbordamento da atividade 
política dos grupos urbanos e letrados para as camadas pobres da população, 
que se apropriaram dos embates políticos e sociais, levando-os adiante”. Esse 
transbordamento é entendido a partir das fases que o movimento adquiriu ao 
longo de sua duração. 
 
A Balaiada teve início a partir do descontentamento da elite local 
maranhense criadora de gado com a instituição da Lei dos Prefeitos. Essa lei 
determinava que os prefeitos das cidades deveriam ser nomeados pelo 
presidente da província, diminuindo o poder de influência e comando dos 
grandes criadores. A partir de 1839, o movimento passou a ter liderança de 
homens livres pobres, exemplo do vaqueiro Raimundo Gomes e do vendedor 
de balaios Manuel dos Santos Ferreira. Nessa segunda fase da Balaiada, 
várias cidades foram conquistadas, criando a necessidade, por parte do 
governo central, de enviar tropas da Guarda Nacional e o general Luís Alves de 
Lima e Silva para combaterem os balaios. A última fase do movimento foi a 
mais radical com a participação e liderança de escravos e ex-escravos. A 
radicalização fez com que os grandes criadores de gado e outros grupos da 
elite se reorganizassem, juntamente com as tropas imperiais, para debelar os 
revoltosos. 
 
Finalmente, mas não menos importante do que outras revoltas, a 
Cabanagem, ocorrida no Grão-Pará entre os anos de 1835 e 1836, teve como 
uma de suas motivações o descontentamento da elite paraense com a 
constante indicação de políticos não nascidos na província para governá-la. 
Além dessa questão de autonomia, podemos elencar como fator para 
desencadear a revolta a forte desigualdade social expressa nas péssimas 
condições de vida de grande parte da população livre e pobre. 
 
50 
 
 
Para Magda Ricci (2006), a Cabanagem teve uma dimensão grandiosa 
pelo espaço territorial que atingiu e pela quantidade de sujeitos envolvidos. 
Calcula-se que tenham morrido mais de 30 mil pessoas nesta revolta. Apesar 
da grande proporção que a revolta adquiriu, a historiografia buscou interpretar 
o movimento como sendo eminentemente regional. Entretanto, segundo a 
autora: 
 
[...] os cabanos e suas lideranças vislumbravam outras 
perspectivas políticas e sociais. Eles se autodenominavam 
‘patriotas’, mas ser patriota não era necessariamente sinônimo 
de ser brasileiro. Este sentimento fazia surgir no interior da 
Amazônia uma identidade comum entre povos de etnias e 
culturas diferentes. Indígenas, negros de origem africana e 
mestiços perceberam lutas e problemas em comum (RICCI, 
2006, p. 5-6). 
 
Essa identidade em comum era reforçada pelo ódio ao poder de mando 
local e central sofrido pelos cabanos. As disputas envolvendo o presidente da 
província, Bernardo Lobo de Souza, o padre Batista Campos e o fazendeiro 
Félix Clemente Malcher deram início ao processo belicoso. Após a prisão de 
Malcher e a morte de Campos, os rebeldes invadiram Belém e tomaram o 
poder e nomearam Malcher presidente da província. 
 
Apesar de comungarem com o mesmo ideal, o combate ao governo 
central não havia unidade entre os rebeldes. Exemplo dessas disparidades 
entre os rebeldes foi a aceitação por parte de Malcher de encerrar a revolta 
caso fosse reconhecido como presidente da província pelo governo regencial. 
Essa atitude não contou com a aprovação das camadas mais baixas do 
movimento, resultando na negativa para deporem as armas. Após esse 
episódio, os cabanos permaneceram no poder por mais de um ano, desafiando 
e impondo derrotas ao governo das Regências (MOREL, 2003). Em 1836, o 
governo central enviou tropas para sitiar Belém e debelar a revolta, prendendo 
e matando centenas de integrantes das forças oposicionistas. Os líderes, 
 
51 
 
Eduardo Angelim e Francisco Vinagre foram presos e condenados à 
deportação em Fernando de Noronha. 
 
 As revoltas ocorridas no período regencial não possuíram uma 
uniformidade em suas motivações e grupos de sujeitos que as integraram. As 
elites regionais, buscando maior autonomia e diminuição da interferência do 
governo central, estiveram presentes em vários levantes, mas acabaram, 
também, recuando em outros a partir da radicalização dos movimentos de 
contestação dos seus privilégios. Segundo Boris Fausto (2004, p. 164): 
 
As revoltas do período regencial não se enquadram em uma 
moldura única. Elas tinham a ver com as dificuldades da vida 
cotidiana e as incertezas da organização política, mas cada 
uma delas resultou de realidades específicas, provinciais ou 
locais. Muitas rebeliões, sobretudo até meados da década 
iniciada em 1830, ocorreram nas capitais mais importantes, 
tendo como protagonistas a tropa e o povo. No Rio de Janeiro, 
houve cinco levantes, entre 1831 e 1832. Em 1832, a situação 
se tornou tão séria que o Conselho de Estado foi consultado 
sobre que medidas deveriam ser tomadas para salvar o 
imperador menino, caso a anarquia se instalasse na cidade e 
as províncias do Norte se separassem das do Sul. 
 
 A crescente onda de revoltas nas Regências, espalhadas por grande 
parte do país, denotavam a urgência de um novo governo que retomasse a 
força e o prestígio imperial. Assim, conforme vimos no início desta unidade, o 
Partido Liberal passou a trabalhar para que D. Pedro II assumisse o trono, 
antecipando a maioridade do rei. 
 
Sugerimos que leia o livro O período das Regências (1831-1840), de 
autoria do historiador Marco Morel. Excelente obra que busca discutir o campo 
político, as tensões sociais e econômicas do Brasil no período regencial, 
momento chave para a construção da nação. 
Referência: MOREL, Marco. O período das Regências (1831-1840). Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2003. 
 
 
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
 
 
 
 
 
 
O SEGUNDO REINADO E A 
CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
A disputa entre Liberais e Conservadores 
 
 Passados os anos do período regencial e a ascensão de D. Pedro II 
ao trono do império no Brasil, o contexto político da jovem nação ganha maior 
estabilidade com a diminuição dos movimentos de contestação nas diversas 
regiões do país. 
 
Nesse momento inicial do Segundo Reinado, dois grupos políticos 
detinham maior envergadura nas disputas. Ademais, as revoltas ocorridas no 
período regencial contribuíram para aumentar as disputas e divergências entre 
estes dois grupos políticos de maior expressão no encerramento das 
Regências: Conservadores e Liberais, consolidados a partir do final da década 
de 1830. Para muitos contemporâneos da época, as diferenças não eram 
assim tão grandes, haja vista a famosa frase atribuída a Holanda Cavalcanti, 
“nada se assemelha mais a um ‘saquerema’ do que um ‘luzia’ no poder”. A 
frase buscava expressar a semelhança dos dois partidos políticos no exercício 
do poder. 
 
Como garantir a unidade territorial de um país com uma dimensão 
continental e repleto de interesses regionais? Essa questão foi objeto de 
disputas entre os dois partidos identificados acima. De modo geral, o Partido 
Conservador era formado por grandes comerciantes, proprietários de terra, 
altos funcionários do governo e tinha o apoio das províncias do Nordeste. O 
Partido Liberal, por sua vez, era apoiado pelas províncias do Centro-Sul e 
continha em seus quadros senhores rurais e sujeitos das camadas médias 
urbanas. 
 
Embora em lados opostos, liberais e conservadores, segundo Boris 
Fausto (2004), não possuíam grandes objetivos ideológicos. Para esses 
grupos, a posse do poder representava a chance de obter benefícios para si e 
seu grupo político. Ademais: 
 
 
 
56 
 
Nas eleições, não se esperava que o candidato cumprisse 
bandeiras programáticas, mas as promessas feitas as seus 
partidários. Conservadorese liberais utilizavam-se dos mesmos 
recursos para lograr vitórias eleitorais, concedendo favores aos 
amigos e empregando a violência com relação aos indecisos e 
aos adversários (FAUSTO, 2004, p. 181). 
 
 
 
Podemos afirmar que o Golpe da Maioridade, em 1840, permitiu aos 
liberais o retorno ao centro do poder político do país e inaugurou o período 
denominado de Segundo Reinado (1840-1889) com a ascensão de D. Pedro II 
ao trono brasileiro. A expectativa com o início do reinado de D. Pedro II recaía 
na esperança do fortalecimento do governo central com a garantia da 
manutenção do sistema escravocrata e latifundiário das elites brasileiras, então 
ameaçado pelas revoltas espalhadas no Brasil. 
 
Após assumir o poder, D. Pedro II convidou membros do Partido 
Liberal para comporem o ministério. Entretanto, devido aos conservadores 
possuírem maioria na Câmara dos Deputados, os liberais solicitaram ao rei a 
dissolução do parlamento e que o mesmo convocasse eleições para uma nova 
composição da casa. Conhecida como eleições do cacete, as disputas 
ocorridas em 1840 foram marcadas por fraudes e violências de ambos os 
lados. Ao final do processo, os liberais saíram vitoriosos e estabeleceram o 
gabinete de governo. 
 
Para José Murilo de Carvalho (1996), a elite política do país foi 
constituindo-se de forma homogênea, resultado da educação e da profissão 
comuns, sendo grande parte da elite política do Brasil formada por sujeitos que 
possuíam nível superior, característica que dava unificação ideológica. 
 
Segundo Carvalho (1996, p. 33): 
 
[...] a elite brasileira, sobretudo na primeira metade do século 
XIX, teve treinamento em Coimbra, concentrado na formação 
jurídica, e foi, em sua grande maioria, parte do funcionalismo 
público, sobretudo da magistratura e do Exército. 
 
57 
 
Para o mesmo autor, após o processo de independência, a elite política 
do país conseguiu se reproduzir por meio da formação de seus sucessores nas 
duas escolas de direito e circulação desses por variados cargos e províncias. 
Essa relação de proximidade da natureza da burocracia, da elite e do Estado 
gerou interpretações distorcidas. 
 
Houve, assim, quem visse na elite imperial simples 
representante do poder dos proprietários rurais e no Estado 
simples executor dos interesses dessa classe. Outros, ao 
contrário, veriam na burocracia e na elite um estamento 
solidamente estabelecido que se tornava, por via do Estado, 
árbitro da nação e proprietário da soberania nacional 
(CARVALHO, 1996, p. 37). 
 
 
José Murilo de Carvalho (1996) adverte que nenhuma das 
interpretações era correta. Elementos como a possibilidade de continuidade 
com a independência, estrutura burocrática e o padrão de formação da elite 
deram ao Estado imperial maior capacidade de controle e aglutinação do que 
seria um simples porta-voz de interesses agrários. 
 
Para o autor, a homogeneidade deu-se a partir da educação comum e 
da participação na burocracia estatal. Assim, “[...] o objetivo da manutenção da 
unidade da ex-colônia rarissimamente seria posto em dúvida por elementos da 
elite nacional” (CARVALHO, 1996, p. 37). 
 
Diversos estudos destacaram a inexistência de qualquer diferenciação 
política entre conservadores e liberais. Outros apontaram diferenças de origem 
regional, urbana e rural como elementos de distinção. Existiam ainda estudos 
que destacavam a classe social como elemento diferenciador. 
 
Assim, apesar da homogeneidade evidenciada por José Murilo de 
Carvalho (1996), os partidos políticos imperiais apresentaram diferenças de 
posições sobre a condução da política nacional e aspectos relacionados à 
centralização e descentralização. Entretanto, estas diferenças não provocaram 
 
58 
 
grandes fissuras, apenas reajustes no sistema. Esperar mais do que isso seria 
irrealista. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a obra A Construção da ordem: a elite política imperial & Teatro 
de Sombras. Publicados em conjunto, os textos reunidos foram apresentados 
pelo autor como tese de doutorado na Universidade de Stanford, em dezembro 
de 1974. 
 
 
O “parlamentarismo à brasileira” 
 
Em 1847, o rei D. Pedro II criou o cargo de Presidente do Conselho 
de Ministros, buscando estabilizar politicamente o país. A criação desse cargo 
teve como inspiração o modelo inglês, mas no Brasil não se seguiu, na prática, 
o sistema britânico. Na Inglaterra, o modelo tinha como prática a escolha do 
primeiro-ministro pelo partido mais votado nas eleições. Indicado pelo partido, o 
primeiro-ministro escolhia os membros do seu ministério. Nesse modelo, o 
primeiro-ministro de fato governava o país. 
 
No Brasil, o sistema parlamentarista funcionou de forma diferente. D. 
Pedro II, utilizando-se da prerrogativa do Poder Moderador, nomeava o 
Presidente do Conselho de Ministros. Cabia a D. Pedro II escolher o gabinete 
ministerial do Presidente. Em seguida, realizavam-se novas eleições com o 
objetivo de dar maioria ao partido que estivesse ocupando o cargo de 
Presidente do Conselho de Ministros. Esta configuração singular foi 
comumente conhecida como “parlamentarismo à brasileira”. Cabe 
destacarmos, que a Constituição de 1824 não previa o parlamentarismo como 
forma de governo, sendo esse exercido pelo imperador. Segundo Boris Fausto 
(2004), este mecanismo de constante troca de gabinetes, com novas eleições, 
resultou em 36 ministérios diferentes nos cinquenta anos do Segundo Reinado. 
Para o autor: 
 
59 
 
 
Aparentemente, havia uma grande instabilidade, mas de fato, 
não era bem isso o que ocorria. Na verdade, tratava-se de um 
sistema flexível que permitia o rodízio dos dois principais 
partidos no governo, sem maiores traumas. Para quem 
estivesse na oposição, havia sempre a esperança de ser 
chamado a governar. Assim, o recurso às armas se tornou 
desnecessário (FAUSTO, 2004, p. 180). 
 
Nesse mesmo sentido, Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e 
Humberto Fernandes Machado apontaram que a partir do isolamento dos 
elementos radicais, conservadores e liberais buscaram garantir acordos que 
preservassem a prosperidade e favorecessem a grande propriedade (NEVES; 
MACHADO, 1999). A Conciliação veio, efetivamente, por meio do 12º Gabinete 
do Império, chefiado pelo conservador Honório Hermeto Carneiro Leão. 
Tratando-se, pois de angariar um amplo apoio ao ministério constituído, 
garantindo a ordem e o progresso das instituições monárquicas. 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia o livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 
Traz um misto de ensaio interpretativo e biografia do imperador D. Pedro II. 
Este livro apresenta a monarquia brasileira a partir de um ângulo 
absolutamente original. 
 
 
A Guerra do Paraguai 
 
A Guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 e 1870, teve 
como participantes o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Dentre as 
motivações para o início do conflito, podemos elencar as disputas travadas, 
pelo controle da Bacia do Prata, composta pelos rios Paraná, Paraguai e 
Uruguai. 
 
 
60 
 
As disputas entre os países iniciaram com a interferência do Brasil nas 
questões internas do Uruguai, disputado pelos partidos Blanco e Colorado. A 
ofensiva das tropas brasileiras contra os blancos devido ao bloqueio do porto 
de Montevidéu aos navios brasileiros foi o ponto de partida para os embates 
entre Brasil e Uruguai. Em outubro de 1864, o Brasil, apoiando os colorados, 
invadiu o Uruguai. Em resposta, o governo paraguaio, chefiado por Francisco 
Solano López, que apoiava os blancos, cortou relações com o Brasil e 
aprisionou um navio que ia em direção a Cuiabá. Na sequência dos 
acontecimentos, em novembro, as tropas paraguaias invadiram o estado do 
Mato Grosso, pretendendo alcançar o Rio Grande do Sul por meio da 
Argentina. Como não receberam autorização para isso, declararam guerra à 
Argentina. 
 
Após esses conflitos iniciais,formou-se uma Tríplice Aliança entre 
Brasil, Argentina e os colorados do Uruguai com o objetivo de derrotarem as 
tropas paraguaias, o que ocorreu em 1870 com a morte de Solano López. Com 
a vitória da Tríplice Aliança, o Brasil, apesar do “sucesso” bélico, não teve 
muito o que comemorar com o término da guerra. As tropas de D. Pedro II 
saiam do conflito com aproximadamente 40 mil mortos, além do 
descontentamento devido aos soldos (salários) e promoções. Para o governo, 
ficava uma enorme dívida contraída junto aos ingleses para custear as 
batalhas. A pressão exercida pelo Exército brasileiro sobre D. Pedro II após a 
Guerra do Paraguai é representativa da crise da monarquia a partir desse 
momento. O mapa abaixo apresenta os deslocamentos realizados pelas tropas 
envolvidas na guerra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
Figura 4 - Deslocamentos realizados pelas tropas envolvidas na guerra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: <http://telecastdehistoria.blogspot.com.br/2011/09/mapa-da-guerra-do-paraguai.html>. 
 
 
Se para o Brasil o encerramento da guerra não trouxe grandes 
vantagens, para o Paraguai, o conflito mostrou-se um desastre com a perda de 
parte de suas terras para os países vencedores, o pagamento de dívidas da 
guerra, a drástica redução de sua população e a quebra de sua indústria. 
Outro ponto que devemos destacar na participação do Brasil nesse 
conflito foi crescimento quantitativo e político que o Exército brasileiro adquiriu 
com o passar dos anos do conflito na região do Prata. O Exército, segundo 
Boris Fausto (2004), consolidou-se nesse período. Até então, não tinha 
grandes proporções: 
 
[...] o Império contara com um reduzido corpo profissional de 
oficiais e encontrara muitas dificuldades para ampliar os 
efetivos. Não havia serviço militar obrigatório, e sim um sorteio 
muito restrito, para servir no Exército. Os componentes da 
Guarda Nacional, que eram a grande maioria da população 
branca, estavam isentos desse serviço. Até a Guerra do 
Paraguai, a milícia gaúcha dera conta das campanhas militares 
 
http://telecastdehistoria.blogspot.com.br/2011/09/mapa-da-guerra-do-paraguai.html
 
62 
 
do Brasil no Prata, mas ela se revelou incapaz de enfrentar um 
exército moderno como o paraguaio (FAUSTO, 2004, p. 214). 
 
 
Quando do início da guerra, o Exército brasileiro tinha 
aproximadamente 18 mil soldados. Uma parcela significativa desse número 
não possuía o devido treinamento para participar de conflitos da magnitude 
exigida na Guerra do Paraguai. Para aumentar o contingente, o governo de D. 
Pedro II recorreu ao recrutamento obrigatório de homens livres e concedeu a 
liberdade aos escravos da nação (os escravos que eram de propriedade do 
governo). O contato diário entre soldados e ex-escravos possibilitou o 
crescimento, dentro do Exército, de posições abolicionistas. Dessa maneira, 
ganhou peso duas questões que colocariam em contestação o governo de D. 
Pedro II, o descontentamento militar e o movimento abolicionista. 
 
A interpretação historiográfica proposta por Francisco Doratioto, com 
base em larga consulta documental, mostra-se menos carregada de 
simbolismo ideológico. Ao longo da obra, o autor buscou compreender as 
singularidades dos países envolvidos no conflito, identificando a presença da 
ingerência inglesa na região. A interpretação de Francisco Doratioto difere das 
historiografias propostas como exaltação dos feitos pelos bravos militares, 
tanto por parte da brasileira quanto pela paraguaia que buscavam solidificar a 
imagem de heróis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dica de leitura: 
 
 
Caro estudante, 
Convidamos você a ler o livro A Guerra 
do Paraguai de autoria de Francisco Doratioto. 
Ao final, elabore uma resenha crítica e 
compartilhe suas ideias com os colegas no fórum 
da disciplina. 
Referência: DORATIOTO, Francisco. A Guerra 
do Paraguai. 2ª ed. São Paulo: Editora 
Brasiliense, 1991. 
 
63 
 
O Imperador, o IHGB e a construção da nação brasileira 
 
Foi no processo de consolidação do Estado Nacional brasileiro 
que se viabilizou um projeto de pensar a história do Brasil de 
forma sistematizada. Uma vez instalado o Estado Nacional, 
impunha-se a tarefa de delineamento do perfil para a nação 
brasileira, capaz de garantir uma identidade própria no conjunto 
mais amplo das nações, de acordo com os novos princípios 
organizadores da vida social do século XIX (DIEHL, 1998, p. 
24). 
 
 
O Brasil, recém-saído do período de dominação colonial, buscava 
constituir-se como nação e, para isso, era necessário a construção de uma 
história nacional e uma identidade para o Brasil e seu povo. O Primeiro 
Reinado e as Regências mostraram-se conturbados para a efetivação da ideia 
de uma nação brasileira e a emergência de uma identidade nacional. O 
descontentamento das oligarquias regionais e as revoltas ocorridas no período 
questionavam e colocavam a prova a unidade política e territorial do país. 
 
A elite política do país, eminentemente formada por homens letrados, 
preocupada com a fragmentação que poderia resultar dos constantes conflitos 
e busca por autonomia por partes das províncias, buscou construir uma 
identidade nacional capaz de unir toda a diversidade populacional existente no 
país. Para isso, fundaram o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), 
chancelado pelo imperador D. Pedro II, em 1838, no Rio de Janeiro. 
 
O instituto nascia a partir da Sociedade Auxiliadora da Indústria 
Nacional (SAIN) e tinha como objetivo maior a construção da história e da 
identidade nacional em um século marcado pelo debate acerca da História 
como ciência. De acordo com Manoel Salgado Guimarães (1988), em Nação e 
civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o 
projeto de uma história nacional, o IHGB constituiu-se como um espaço 
privilegiado para a construção da escrita da história brasileira. Salgado 
Guimarães destacou ainda que o século XIX foi marcado pela discussão da 
 
64 
 
cientificidade, possibilitando o afastamento da história da filosofia e da 
literatura. Assim, o homme de lettres ganhava ares de pesquisador. 
 
O modelo a ser seguido na construção da história e da identidade 
nacional era, certamente, o europeu, a partir dos princípios iluministas. Nesse 
cenário, a França mostrou-se como exemplo a ser seguido. Manoel Salgado 
Guimarães apontou que, antes mesmo de se constituir como Estado nacional, 
o Brasil já aspirava aos critérios de gosto do homem francês. Essa influência, 
segundo Sandra Jatahy Pesavento (2002), em O Imaginário da Cidade, já se 
mostrava presente em 1816 quando da vinda da missão francesa chefiada por 
Joachim Lebreton, convocada por D. João VI. 
 
Os quadros do IHGB mostravam estreita ligação com o círculo ilustrado 
do Império, especialmente quando observamos a célebre presença de D. 
Pedro II entre os sócios. Sobre essa relação, Lilia Moritz Schwarcz, em As 
Barbas do Imperador, identificou que, dentre os 27 membros fundadores do 
instituto, 22 estavam presentes também no governo imperial, ocupando 
posições de destaque na hierarquia funcional. Entre estes, faziam parte 
desembargadores, procuradores, chefes da Secretaria de Negócios do Império, 
entre outros. Essa configuração legava ao IHGB uma semelhança com a 
sociedade de corte. 
 
A construção da imagem do jovem imperador foi cuidadosamente 
construída pelos membros do IHGB. D. Pedro II era representado a partir de 
sua naturalidade brasileira e descendente de linhagens tradicionais da Europa. 
Segundo Lúcia Guimarães (1995), em Debaixo da imediata proteção de Sua 
Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-
1889), representação que garantia a D. Pedro II a efígie de “príncipe perfeito” e 
um futuro promissor para a jovem nação. 
 
No século XIX, o IHGB era o principal representante de instituições 
científicasno país, a partir do modelo das academias ilustradas da Europa. 
Para Manoel Luís Salgado Guimarães, esta configuração demonstrava o 
 
65 
 
caráter iluminista da instituição. No Brasil, o Rio de Janeiro desempenhava o 
papel de Paris na França como irradiador das luzes. A relação estrita entre a 
ilustração francesa e o Brasil fica evidenciada quando identificamos que o 
modelo de agremiação adotado pelo IHGB foi o do Institut Historique de Paris. 
A influência francesa no IHGB conferiu a identidade da escrita de seus 
membros: o modelo branco e europeu de civilização a ser seguido. 
 
 Podemos destacar a singularidade do caso brasileiro na construção do 
Estado nação e sua identidade. A postura adotada pelo IHGB buscava 
reconhecer a contribuição da metrópole portuguesa para o avanço do Brasil por 
meio de sua missão civilizadora. O concurso realizado pelo IHGB sobre a 
melhor maneira para se escrever a história do Brasil, vencido por Von Martius, 
respaldava esta relação de contribuição metropolitana, cabendo ao Brasil a 
tarefa de promover a mistura das três raças humanas em sua formação 
enquanto nação, encabeçada pelo homem branco que deveria civilizar o país e 
guiar o seu progresso. 
 
Segundo Lilian Moritz Schwarcz (1993), em O Espetáculo das Raças, 
criado após o processo de independência, o IHGB teve como papel a 
construção de “[...] uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos 
de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e 
eventos até então dispersos” (SCHWARCZ, 1993, p. 99). 
 
O IHGB nasceu no momento de afirmação da história como ciência e 
realizava um exame minucioso dos documentos, garantindo a cientificidade da 
história. Assim, segundo seus membros, tornava-se necessário a exatidão dos 
fatos e informações, vistas com um olhar de imparcialidade. 
Para Lilian Moritz Schwarcz (1998), em As Barbas do Imperador, 
essas características da produção historiográfica do IHGB podem ser 
identificadas a partir do exame de sua revista, composta de três partes 
distintas. A primeira parte, formada por artigos e documentos, tratava de temas 
importantes a agremiação, interpretação de textos históricos e análises acerca 
dos limites territoriais do Brasil ou dos indígenas. Em seguida, eram publicadas 
 
66 
 
biografias de ilustres brasileiros, “distintos por letras, armas e virtudes”. Por fim, 
eram publicadas as atas das reuniões do IHGB, possibilitando uma análise 
sobre o cotidiano da instituição e seus sócios. 
 
Lúcia Guimarães (1995) evidenciou que nas páginas da revista do 
IHGB não existia nenhum texto que contivesse críticas ao sistema colonial, 
contemplando, dessa forma, a defesa do ideal proposto de que a colonização 
portuguesa no Brasil teria sido uma missão civilizadora e expressava os laços 
de que o período imperial seria a continuidade desse projeto. 
 
Para a autora, as biografias também buscavam expressar a 
proximidade entre portugueses e brasileiros, reforçando os laços de linhagem 
entre o Estado português do período colonial e o atual. Dessa forma, a história, 
através da seleção de “acontecimentos importantes”, era um caminho 
privilegiado para a construção da identidade nacional e da própria nação. 
 
Advertirmos que a produção do IHGB e de seus membros não pode ser 
tomada de forma homogênea, pois existia uma pluralidade dos integrantes, de 
suas formações, de suas concepções teórico-metodológicas e da qualidade de 
seus escritos. Outra observação que devemos fazer com relação ao IHGB e 
sua produção refere-se aos documentos e escritos que eram enviados para 
publicação na revista do instituto. Cabia à mesa diretora selecionar o que 
deveria ser publicado e arquivado, utilizando como critérios a fidedignidade dos 
fatos e o comprometimento com uma história nacional unificadora. 
 
Assim, podemos compreender que o compromisso do IHGB para com 
a nação e o império esteve alicerçado na compilação, seleção e publicação de 
documentos e artigos que contribuíssem para a construção de uma história e 
geografia nacional. 
 
Essa seleção do material a ser publicado deveria prezar pela busca da 
unidade nacional e auxiliar no projeto de um Estado forte e centralizado. Para 
isso, mostrava-se necessário descobrir elementos que permitissem a 
 
67 
 
unificação das várias regiões do país no projeto nacional. A seleção desses 
documentos em âmbito regional ficou a cargo dos Institutos Históricos criados 
nas províncias, orientados pelo IHGB. 
 
Na província do Ceará, em 4 de março de 1887, foi criado o Instituto 
Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará com o objetivo de estudar e 
disseminar a História, a Geografia e a Antropologia, especialmente, em estudos 
referentes ao Ceará, suas origens e o povo. 
 Visite a página do Instituto na internet e confira o que seus membros 
publicaram. Link: <http://www.institutodoceara.org.br/revista.php>. 
 
 
Podemos dizer que a historiografia proposta pela agremiação era 
centralizadora, monarquista e conciliadora, não permitindo a vinculação de 
documentos e/ou artigos que remetessem a elementos contestatórios do 
governo imperial, exemplo dos movimentos separatistas ocorridos no período 
regencial. Essa preocupação expressava o momento de incertezas quanto à 
unificação da nação e à construção de sua identidade. 
Na construção da nação brasileira, segundo Manoel Luís Salgado 
Guimarães (1988), o IHGB precisava realizar um movimento de duplo sentido: 
olhar para dentro e fora compreendendo quais elementos aproximariam e 
distanciariam o Brasil das demais nações. O Estado, dessa forma, apoiava-se 
nas instituições, principalmente no IHGB, para construir e solidificar uma 
história nacional. 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia o artigo do professor Júlio Bentivoglio, A História no Brasil Império: a 
produção historiográfica na Revista do Instituto Histórico e Geográfico 
Brasileiro (1839-1850), publicado na Revista História – Questões e Debates. Nesse 
artigo, o autor procurou analisar o perfil dos textos publicados nos onze primeiros anos 
do IHGB, buscando identificar a natureza desses estudos históricos acerca do Brasil. 
Acesse: http://revistas.ufpr.br/historia/article/view/36459/28029 
http://www.institutodoceara.org.br/revista.php
http://revistas.ufpr.br/historia/article/view/36459/28029
 
68 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESCRAVIDÃO, ECONOMIA E 
SOCIEDADE NO BRASIL 
IMPERIAL 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
70 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 
 
Escravidão, movimento abolicionista e pós-abolição no 
Brasil 
 
Neste item, evidenciaremos alguns autores e perspectivas analíticas 
acerca da escravidão, abolição e pós-abolição, destacando também os 
aspectos factuais. 
 
O primeiro estudo que ressaltamos é a obra de Gilberto Freyre (2005), 
Casa-grande e Senzala, publicado na década de 1930. Essa obra tornou-se 
referência no campo das ciências sociais e buscou superar a visão da 
inferioridade dos negros perante a raça branca, valorizando a mestiçagem e a 
contribuição africana para a formação sociocultural do Brasil. Assim, essa 
interpretação trouxe consigo a ideia de que o sistema escravocrata no Brasil 
não teria sido violento, mas ameno e amistoso. Nesta obra, o autor pondera 
que existiu uma doçura nas relações entre senhores e escravos domésticos e 
que esta relação somente ocorreu no Brasil. 
 
A miscigenação racial inferida por Gilberto Freyre (2005) destacava a 
crença que o sistema escravista desenvolvido no Brasil teria sido harmonioso, 
possibilitando a convivência de diferentes crenças. Essa visão, marcada pelo 
paternalismo, afirmava que as relações entre escravos e senhores 
proporcionaram cativos passivos e submissos a vontade de seus senhores. Ainterpretação de Freyre (2005) foi bastante difundida e aceita até a década de 
1950 e 60, quando foram lançadas obras que passaram a contestá-la. Dentre 
as críticas feitas ao trabalho de Gilberto Freyre (2005), podemos apontar a 
generalização de sua análise, tomando o Nordeste da cana de açúcar e o 
escravo doméstico como exemplo para todos os espaços e tempos do Brasil 
Colonial. 
 
 
72 
 
No Brasil, as teorias raciais e os modelos deterministas ganharam 
bastante visibilidade e inusitada interpretação. Segundo Lilian Moritz Schwarcz 
(1993, p. 65): 
 
Aqui se fez um uso inusitado da teoria original, na medida em 
que a interpretação darwinista social se combinou com a 
perspectiva evolucionista e monogenista. O modelo racial 
servia para explicar as diferenças e hierarquias, mas, feitos 
certos rearranjos teóricos, não impedia pensar a viabilidade de 
uma nação mestiça. 
 
 
Autores como Florestan Fernandes, Emília Viotti, Fernando Henrique 
Cardoso e Octavio Ianni (apud PROENÇA, 2007) salientaram em suas obras o 
que chamaram de “coisificação do escravo”. Segundo essa teoria, as péssimas 
condições de vida dos escravos eliminavam a possibilidade de eles pensarem 
em um mundo a partir de significados e categorias próprias. Para os autores 
tentarem negar a condição de coisa que lhes era imposta, restavam aos 
escravos atitudes de desespero e revolta. 
 
De certa forma, essas ideias são propagadas na obra de Jacob 
Gorender (2001), O escravismo colonial, quando o autor apontou que o 
escravo poderia passar a reproduzir a ótica do opressor, enxergando as 
relações a partir de sua visão. Esta interpretação do escravo como “coisa” e 
sua negação somente a partir da revolta, criou a ideia do escravo-rebelde em 
contraposição ao escravo-coisa. 
 
A partir da década de 1980, emergiram novas interpretações acerca da 
escravidão no Brasil, compreendendo os escravos como sujeitos ativos das 
transformações sociais, políticas e econômicas ao longo da história do Brasil. 
Dentre os autores, podemos citar João José Reis, Leila Mezan Algranti, Flávio 
dos Santos Gomes, Sílvia Hunold Lara, Robert Slenes e Sidney Chalhoub. 
 
Um dos objetivos dessas obras era examinar as transformações sociais 
e as experiências dos escravos, desmistificando, assim, a ideia clássica do 
 
73 
 
“escravo-coisa”. Essas perspectivas renovadoras sofreram críticas que 
apontavam que essa visão compreendia uma nova forma de patriarcalismo, 
possibilitando os escravos graus de autonomia e liberdade em suas ações a 
partir da benevolência do regime escravista. 
 
Destacamos a obra Visões da liberdade: uma história das últimas 
décadas da escravidão na corte, de autoria de Sidney Chalhoub (1990), que 
buscou examinar as últimas décadas de trabalho escravo no Rio de Janeiro, 
tendo como protagonista os cativos e suas ações. Analisando os processos 
criminais e de obtenção de alforrias, o autor esmiuçou como os escravos 
participaram diretamente desses processos com suas diferentes visões acerca 
da liberdade e do cativeiro. Assim, Sidney Chalhoub (1990) negou a ideia de 
coisificação do escravo e apontou que esses participaram ativamente dos 
processos sociais que envolviam o cativeiro e a luta pela liberdade. 
 
A partir das renovações historiográficas, as leis promulgadas na 
segunda metade do século XIX, exemplo da lei do vente livre, dos 
sexagenários e áurea, passaram a ser vistas e analisadas não como 
concessões ou doações por parte da elite política e econômica do país, mas 
sim, pelas ações de resistência de cativos e suas estratégias em busca da 
liberdade. 
 
A abolição da escravidão no Brasil não deve ser vista como resultado 
de uma guerra ou revolta isoladamente, mas como resultado de um longo 
processo que se iniciou concomitantemente ao da independência, onde 
estiveram presentes escravos, senhores e governo imperial. A campanha pela 
abolição da escravidão no Brasil ganhou força a partir da década de 1860. O 
processo de abolição foi lento e gradual, conforme os interesses e influências 
da elite rural do país no comando da vida política brasileira. A partir de 1880, o 
movimento passou a contar com a participação de associações e jornais que 
facilitaram as propagandas das ideias antiescravistas. 
 
 
74 
 
A Inglaterra, imersa no processo de reconhecimento e consolidação do 
Império brasileiro, durante o transcorrer do século XIX, pressionou o Brasil para 
que proibisse o tráfico de escravos. Essa era uma das condições impostas ao 
governo monárquico recém-instalado para que os ingleses reconhecessem o 
governo imperial brasileiro. Em 1826, o acordo foi assinado com a perspectiva 
de acabar com o tráfico até o ano de 1830. Entretanto, tal medida desagradava 
à elite agrária do país, grande detentora e dependente da mão de obra 
escrava. 
 
Na prática, o governo imperial do Brasil não encampou medidas que 
viessem a cumprir o acordo assinado com os ingleses. Em 1831, foi 
promulgada uma lei pelo parlamento brasileiro que previa a proibição do 
comércio de africanos no litoral brasileiro. Contudo, o governo não realizou 
uma efetiva fiscalização e o comércio continuou sendo realizado livremente. 
Essa lei ficou popularmente conhecida como “lei para inglês ver”. 
 
No período regencial, mesmo com a lei que determinou a abolição do 
tráfico de escravos, existiu uma grande entrada de africanos no Brasil. Assim, 
“[...] apesar dos esforços da diplomacia inglesa e de parcela das lideranças 
políticas brasileiras, o tráfico ainda continuaria por duas décadas, mostrando o 
poder dos grandes proprietários, traficantes e seus representantes” (MOREL, 
2003, p. 45). 
 
Em 1845, contrariados com o descumprimento do acordo por parte do 
Brasil, os ingleses aprovaram o Bill Aberdeen, autorizando a apreensão de 
navios negreiros pela marinha inglesa. A aprovação dessa medida gerou 
enorme descontentamento por parte de políticos brasileiros que alegavam 
desrespeito à soberania do país, mas sem resultado prático. Como resultado 
dessa medida, foram apreendidos cerca de 90 navios. 
 
Em 1850, foi aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, que determinou o 
fim do tráfico internacional de escravos para o Brasil. A pressão inglesa foi 
decisiva para sua aprovação. Segundo Hebe Mattos (2002, p. 474): 
 
75 
 
 
[...] num movimento de tensão internacional crescente, 
desenvolveu-se, especialmente na corte, um forte sentimento 
antibritânico associado à defesa do tráfico e à legitimidade da 
escravidão entre a população livre do país. Foi nesse contexto 
que um novo gabinete conservador, liderado por Euzébio de 
Queiroz, conseguiu aprovar no Parlamento, em 1850, a Lei n.º 
581. 
 
O movimento pelo fim da escravidão e abolição dos escravos foi 
influenciado por questões de natureza interna e externa, referentes aos 
interesses ingleses no controle das relações comerciais na América. Segundo 
Boris Fausto (2004), a pressão inglesa deu-se não apenas na questão da 
possibilidade de apreensão de navios com escravos, mas também na ameaça 
de bloqueio dos principais portos do país. Para o autor, a lei de 1850 fez parte 
das medidas efetivas para que se encerrasse o tráfico, possibilitando ao longo 
do tempo a perspectiva do fim da escravidão, pois: 
 
Os proprietários de escravos no Brasil nunca se preocuparam 
com sua reprodução, ficando na dependência do fluxo das 
importações. Estancadas as importações, o número de cativos 
tendia a tornar-se insuficiente. Além disso, o fim do tráfico 
constituía um divisor de águas, do ponto de vista político e 
ideológico. Se o Brasil tornava ilegal a importação de escravos, 
a manutenção do escravismo no país perdia legitimidade 
(FAUSTO, 2004, p. 196). 
 
 
Outra lei promulgada na segunda metade do século XIX foi a Lei Rio 
Branco (Lei do Ventre Livre) de 1871. Determinou-se que os filhos de 
mulheres escravas nascidos no Brasil estavam livres a partir daqueladata. As 
crianças poderiam ficar com suas mães até completarem oito anos de idade. 
Após esse período, os senhores poderiam escolher se queriam uma 
indenização do Estado ou o trabalho destes libertos até completarem vinte e 
um anos de idade. Esta lei causou grandes controvérsias entre escravistas e 
abolicionistas. Segundo Boris Fausto (2004), para os grandes proprietários de 
escravos e fazendeiros: 
 
 
76 
 
Libertar escravos por um ato de generosidade do senhor 
levava os beneficiados ao reconhecimento e à obediência. 
Abrir caminhos à liberdade por força da lei gerava nos escravos 
a ideia de um direito, o que conduziria o país à guerra entre as 
raças (FAUSTO, 2004, p. 118). 
 
Essa lei mostrou-se demasiadamente tímida para os anseios do 
movimento abolicionista, pois obrigava o pagamento de uma indenização que, 
geralmente, não era paga. Preferiam os senhores que os menores 
permanecessem trabalhando até os 21 anos para pagar pelos anos que havia 
passado nas fazendas. A lei determinava ainda: o registro de todos os 
escravos, a criação de um fundo de emancipação, o reconhecimento do direito 
do escravo de comprar sua alforria, a eliminação do direito dos senhores de 
revogar as alforrias e a proibição do abandono de escravos idosos. Keila 
Grinberg (2002), em O fiador dos brasileiros, avaliou que a promulgação da 
Lei do Ventre Livre: 
 
[...] alterou radicalmente o status do escravo no Brasil, a partir 
do momento em que oficializou aquilo que quase todos 
esperavam, mas receavam tornar público: o fim do sistema 
escravista neste país, ao estabelecer que todos os filhos de 
escravos nascidos a partir de então seriam considerados livres 
(GRINBERG, 2002, p. 317). 
 
 
Na década de oitenta, após a constituição de gabinetes ministeriais e 
acalorados debates no parlamento, foi aprovada a Lei Saraiva-Cotegipe (Lei 
dos Sexagenários) de 1885. Declaravam-se livres todos os escravos que 
tivessem sessenta anos ou mais de idade, com a obrigatoriedade de 
trabalharem para seus antigos senhores por mais três anos como forma de 
indenização. Outra medida determinada pela lei foi a obrigatoriedade de o 
alforriado viver por, pelo menos, cinco anos no município onde ganhara a 
liberdade. Por fim, enquadrava todos os sujeitos que ajudassem os escravos a 
fugirem de seus senhores no artigo 260 do Código Criminal que estabelecia até 
dois anos de prisão para os condenados. Esse último item gerou grande 
insatisfação por parte de integrantes de movimentos abolicionistas. 
 
 
77 
 
O movimento abolicionista não foi uniforme em todas as províncias. No 
Ceará, por exemplo, ocorreu à fundação de uma sociedade abolicionista em 
1880, a Sociedade Cearense Libertadora, enquanto este movimento ocorreria 
somente anos depois em algumas províncias. Segundo Mário Maestri (1997), 
essas diferenças passaram a sensação de uma crescente divisão do império 
em províncias escravistas e não escravistas. Assim, temendo que essa 
oposição levasse a um rompimento total do pacto escravista nacional e da 
abolição do cativeiro, os deputados das províncias cafeicultoras votaram leis 
regionais que reprimiam o tráfico interprovincial de escravos (MAESTRI, 1997). 
Essa resolução buscou sanar o problema da vinda de mais escravos para a 
região produtora de café, enquanto as regiões norte e sul eliminavam, 
gradativamente, a presença dos escravos negros em suas províncias. 
 
Uma das contraofensivas dos escravistas, especialmente os 
fazendeiros cafeicultores, foi a reforma do sistema eleitoral no início da década 
de 1880 com a elevação da renda para o censo eleitoral, além da proibição dos 
analfabetos votarem. Assim, reduziram-se os eleitores para cerca de 150.000 
pessoas de uma população estimada em 8.400.00 habitantes. Nas eleições de 
1881, após a reforma, nenhum candidato antiescravista conseguiu ser eleito, 
sendo a Câmara dos Deputados dominada exclusivamente por candidatos 
favoráveis ao processo escravista. 
 
 Durante o Segundo Reinado, a sociedade agrária brasileira era 
dependente do trabalho escravo e foi nesse período também que foram 
travados grandes debates acerca da legislação que abria caminhos para o 
processo de abolição realizado em 1888. Esses debates opunham elites 
regionais, como no caso do Nordeste, com uma representação escravista baixa 
em finais do século XIX e o Centro-Sul, especialmente o Rio de Janeiro do Vale 
do Paraíba, dependente da mão de obra dos cativos. 
 
Em 1888, eram poucas as forças resistentes ao processo de abolição, 
concentravam-se especialmente na zona cafeeira do Vale do Paraíba devido 
aos escravos serem os únicos capitais que haviam sobrado da ruína da 
 
78 
 
produção da região. Para Martha Abreu e Hebe Mattos (2002), a Lei Áurea foi 
o resultado de um longo processo de criação e debates de leis sobre o trabalho 
escravo no Brasil. Segundo as autoras, essa lei diferia das outras: 
 
[...] pelas suas simples e curtas afirmações: extinguia-se a 
escravidão, sem nenhuma condição, revogadas as disposições 
em contrário. A rapidez com que o projeto foi aprovado na 
Câmara e no Senado, pelos mesmos deputados e senadores 
que alguns meses antes apoiavam a perseguição ao 
movimento abolicionista, esteve diretamente relacionada à 
rápida alteração da conjuntura social e política, sobretudo as 
fugas em massa de escravos, especialmente na província de 
São Paulo, nos meses anteriores. Na segunda metade da 
década de 1880, era já significativo o número de cidades e 
regiões que, na prática, não possuíam mais escravos (ABREU; 
MATTOS, 2002, p. 464). 
 
 
Em 7 de maio de 1888, foi apresentado pelo conservador João Alfredo, 
Presidente do Conselho, o projeto de lei que previa a liberdade dos escravos 
de forma imediata e sem restrições. O projeto, após ampla discussão, foi 
aprovado em 13 de maio do mesmo ano. 
 
Qual foi o destino desses escravos que agora estavam livres? De que 
forma foram inseridos na sociedade no pós-abolição? 
 
Certamente, o pós-abolição não significou para os libertos uma 
inserção social com sua aceitação. A desigualdade social da população negra 
perante as demais era profunda, resultado dos anos de exploração e das 
teorias raciais que reforçavam o preconceito contra o negro. Na região 
Nordeste, onde a dependência do trabalho escravo diminuíra significativamente 
durante o período imperial, os libertos passaram, em grande parte, a 
dependência dos grandes proprietários. No Vale do Paraíba, passaram ao 
sistema de parceria nas antigas fazendas de café em ruína. Nos centros 
urbanos de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro foram relegados aos 
trabalhos irregulares e de baixíssimos salários. 
 
 
79 
 
Para os negros, o pós-abolição resultou em uma alarmante 
desigualdade social, resultado em parte do preconceito que acabou por 
reforçar o próprio preconceito contra o negro, principalmente em regiões com 
forte presença de imigrantes europeus brancos, onde o negro era considerado 
um ser inferior, perigoso, vadio e propício ao crime, útil apenas quando 
subserviente (FAUSTO, 2004). 
 
PARA SABER MAIS: 
 
Leia a entrevista concedida por José Murilo de Carvalho aos professores 
Weder Ferreira e Suelle Maiara Péres Oliveira. Publicada na Revista ArsHistorica, a 
entrevista tem como foco a longa trajetória intelectual de José Murilo de Carvalho, 
buscando evidenciar os caminhos percorridos na construção de suas pesquisas, seus 
contextos e suas recentes obras. Acesse: 
http://www.ars.historia.ufrj.br/index.php/anteriores/2-uncategorised/23-entrevista-
cocendida-por-jose-murilo-de-carvalho-aos-membros-do-comite-editorial-weder-
ferreira-e-suellen-mayara-de-oliveira 
 
 
A economia cafeeira e a modernização 
 
No século XIX, a economia brasileira era essencialmente agrária, com 
a predominância do latifúndio, da produção monocultora e escravista. Sua 
produção era, sobretudo, voltada para omercado externo. 
 
No transcorrer desse mesmo século, a expansão cafeeira ocorreu 
concomitantemente ao processo de independência e consolidação do regime 
monárquico no Brasil. Em pouco tempo, o café tornou-se o principal produto na 
pauta de exportações do país e prioridade da monarquia, representando 
aproximadamente 40% das exportações do país na década de 1840. Vejamos, 
na Tabela 2 abaixo, o crescimento das exportações brasileiras de café nas 
décadas do século XIX. 
 
 
 
http://www.ars.historia.ufrj.br/index.php/anteriores/2-uncategorised/23-entrevista-cocendida-por-jose-murilo-de-carvalho-aos-membros-do-comite-editorial-weder-ferreira-e-suellen-mayara-de-oliveira
http://www.ars.historia.ufrj.br/index.php/anteriores/2-uncategorised/23-entrevista-cocendida-por-jose-murilo-de-carvalho-aos-membros-do-comite-editorial-weder-ferreira-e-suellen-mayara-de-oliveira
http://www.ars.historia.ufrj.br/index.php/anteriores/2-uncategorised/23-entrevista-cocendida-por-jose-murilo-de-carvalho-aos-membros-do-comite-editorial-weder-ferreira-e-suellen-mayara-de-oliveira
 
80 
 
TABELA 2 – EXPORTAÇÕES DE CAFÉ NO BRASIL POR DÉCADAS 
DÉCADAS TONELADAS 
1821-1830 190.680 
1831-1840 584.640 
1841-1850 1.027.260 
1851-1860 1.575.180 
1861-1870 1.730.820 
1871-1880 2.180.160 
1881-1890 3.199.560 
Fonte: Gorender (2001, p. 583). 
 
 
A produção do café no Brasil, destinada ao comércio, começou na 
província do Rio de Janeiro, finais do século XVIII, trazida do Oriente. Com a 
possibilidade de grandes lucros, a partir do início das vendas do produto ao 
mercado europeu, grandes produtores rurais passaram a plantar o café na 
região do Vale do Paraíba. Essa produção manteve a estrutura montada 
desde o período colonial que esteve assentada na grande propriedade rural, na 
mão de obra escrava e na monocultura. 
 
Outra região que se tornou grande produtora de café foi a Oeste da 
província de São Paulo com o objetivo de substituir a cana das antigas 
fazendas e propiciar a gradativa ocupação das terras no interior paulista. No 
início, o transporte da produção cafeeira era realizado por meio de mulas, 
guiadas por escravos e atravessava as serras em direção aos portos do litoral. 
Com o crescimento da produção cafeeira e a necessidade de escoamento 
dessa produção de forma mais rápida e sem grandes perdas, foram 
construídas ferrovias no interior paulista. 
 
Em 1867, inaugurou-se a São Paulo Railway, ligando a cidade de 
Jundiaí ao porto de Santos. A malha ferroviária no interior foi impulsionada 
pelos próprios produtores que se associaram em companhias para construí-la. 
Segundo Boris Fausto (2004), as maiores iniciativas de construção de ferrovias 
no país resultaram da necessidade de melhorar as condições de transporte das 
principais mercadorias de exportação e o café necessitava de tais melhorias 
devido às longas jornadas nos lombos de mulas e grande perda no trajeto. 
 
81 
 
 
Para além da construção das ferrovias, os produtores paulistas 
procuraram modernizar sua produção com a implantação de máquinas ao 
processo de beneficiamento do café. Essa mecanização possibilitou a 
diminuição da utilização de mão de obra. 
 
O sucesso da produção cafeeira aconteceu por vários fatores. Dentre 
esses, podemos citar: expansão do mercado consumidor nos Estados Unidos e 
na Europa; popularização do café como bebida das massas operárias; boas 
condições climáticas e uma ampla mão de obra escrava (MAESTRI, 1997). 
 
As economias cafeeiras de São Paulo e do Rio de Janeiro praticaram e 
seguiram o mesmo modelo de exploração: monocultura, agricultura extensiva e 
larga utilização de mão de obra escrava. Entretanto, nas últimas décadas do 
século XIX, tiveram trajetórias diferentes. Enquanto o Oeste paulista prosperou 
com a possibilidade de incorporação de novas áreas e crescimento da 
produção, o Vale do Paraíba sucumbiu mediante a escassez de terras e sua 
exaustão, restando apenas à propriedade dos cativos como elemento de 
ganho. 
 
A cafeicultura, principalmente a fluminense, criou uma elite política e 
econômica que dominou o poder provincial por longos anos e sedimentou a 
base de sustentação do Segundo Reinado. Entretanto, esses mesmos 
fluminenses foram afastando-se da Monarquia com a aprovação de medidas 
que os descontentavam, exemplo das leis antiescravistas. 
 
A Lei de Terras de 1850 
 
A Lei de Terras, aprovada em 1850, duas semanas após a extinção do 
tráfico de escravos, buscou regular o acesso às terras públicas e legalizar a 
posse das terras por seus proprietários. Para José Murilo de Carvalho, a 
política de terras do governo de D. Pedro II, especialmente a Lei de Terras de 
1850, “[...] atingia de maneira profunda os interesses dos proprietários, ou pelo 
 
82 
 
menos de parcela deles” (CARVALHO, 1996, p. 303) e suscitou enormes 
debates no Legislativo. 
 
A criação da Lei de Terras determinou a obrigatoriedade do registro 
cartorial da terra possuída e sua demarcação. Caso a terra não fosse 
demarcada e registrada, passaria a ser propriedade do governo. A partir de 
1850, diferentemente do período anterior quando a posse era realizada pelo 
aproveitamento da terra, agora a obtenção da terra estava condicionada ao 
processo de compra e venda. 
 
Segundo Boris Fausto (2004), a Lei de Terras teve como objetivo criar 
formas de controle sobre o acesso a terra por parte dos futuros imigrantes. 
Estabeleceu-se, assim, “[...] que as terras públicas deveriam ser vendidas por 
um preço suficientemente elevado para afastar posseiros e imigrantes pobres” 
(FAUSTO, 2004, p. 196). Ademais, os imigrantes que tivessem suas vindas 
financiadas pelo governo deveriam cumprir o prazo de três anos para serem 
liberados para adquirirem terras. 
 
Para Marcio Antônio Both da Silva (2015), apesar do descumprimento 
de grande parte das determinações impostas pela Lei de Terras, chegando 
autores a classificarem como “letra morta” por não ter sido respeitada, cabe 
ressaltar que essa lei serviu de fundamento para a legislação ou legislações 
que vieram posteriormente e que suas realizações e efeitos foram bases 
importantes sobre os quais, em termos da estruturação da realidade fundiária 
brasileira, o que veio depois foi organizado e elaborado. Dessa maneira, não 
faz sentido afirmar que foi “letra morta”, ou seja, que “não pegou”. 
 
Sugerimos a leitura da Lei de Terras de 1850. Analise esse importante 
documento sobre a posse da terra no Brasil e discuta com os colegas e tutor no 
fórum sobre o impacto e o reflexo dessa lei na configuração da posse territorial 
existente hoje no Brasil. 
Fonte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L0601-1850.htm>. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L0601-1850.htm
 
83 
 
Os imigrantes no Brasil 
 
Em 1850, o fim do tráfico de escravos criou, para os cafeicultores e 
outros senhores rurais, o problema da substituição dos escravos por outros 
trabalhadores. Em atividades como a pecuária e a açucareira em decadência, a 
substituição ocorreu com a contratação de homens livres e pobres. Além disso, 
a crise no “Nordeste” brasileiro possibilitou a venda dos escravos para os 
produtores de café da região Centro-Sul, o chamado Tráfico Interprovincial. 
 
Na década de 1840, a partir da experiência de parceria proposta por 
Campos Vergueiro, cafeicultor e senador, começaram a vinda de imigrantes 
para o trabalho nas fazendas de café do interior paulista. Nesse sistema de 
parceria, o produtor ficava encarregado de custear a vinda dos imigrantes, com 
a promessa de desconto em futuros ganhos e lucros a partir da venda do café. 
Após chegarem ao Brasil e iniciarem os trabalhos, muitos acabaram se 
descontentando com as péssimas condições de ganho encontradas. 
 
Para parte da elite imperial brasileira, o foco da vinda do imigrante 
europeu seria a construção de uma nação civilizada na América com o 
branqueamento da população. A políticade branqueamento estava assentada 
nas teorias raciais da época que condenavam a miscigenação. Sílvio Romero 
(1954), por exemplo, defendia o branqueamento com solução para o progresso 
da nação. Assim, com o passar dos anos e a crescente vinda de imigrantes, 
ocorreria o desaparecimento gradual de negros e mestiços. 
 
A partir da década de 1880, o governo de São Paulo passou a financiar 
a vinda dos imigrantes para o Brasil, permitindo que esses chegassem ao país 
sem dívidas com os cafeicultores. Essa política ficou conhecida como 
Imigração Subvencionada. Até a segunda década do século XX, constituíram a 
mão de obra que substituiu os escravos nos cafezais e iniciaram com a crise 
cafeeira, o trabalho nas nascentes indústrias da região Centro-Sul. Segundo 
Boris Fausto (2004, p. 206): 
 
 
84 
 
A atração dos imigrantes se fez através de companhias 
particulares, sem fins lucrativos, cujos recursos provinham do 
Estado. Em 1884, foi aprovada uma lei que indica bem o 
sentido da política de mão de obra do governo provincial. 
Criou-se um imposto anual por escravo empregado na 
agricultura, a ser pago em dobro quando se tratasse de 
escravo destinado a outras ocupações. A renda seria usada 
para custear os serviços de imigração. 
 
 
Outra medida adotada, além das companhias citadas acima, foi a 
criação da Sociedade Promotora da Imigração. Sociedade organizada e 
fundada por grandes personalidades da economia e da política de São Paulo, 
os irmãos Martinho Prado Junior e Antônio da Silva Prado. 
 
Dentre os motivos geradores da imigração para o Brasil, podemos citar: 
a grave crise econômica e política que assolava a Itália devido à unificação do 
país e das transformações capitalistas e o pagamento por parte do governo da 
província das despesas com as passagens, facilitando e incentivando a vinda 
dos europeus (FAUSTO, 2004). Devemos destacar que a política do governo 
provincial mostrou-se um sucesso e representou a força dos interesses dos 
grandes cafeicultores de São Paulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
85 
 
 
 
 
 
TRANSIÇÃO PARA A 
REPÚBLICA 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
87 
 
A crise do regime monárquico 
 
 
Para o Brasil, o início do século XIX marcou o processo de 
independência do país frente a Portugal em 1822. Independente, o Brasil 
passou ao regime monárquico, uma singularidade na América que se formou, 
ao longo do século, predominantemente por regimes republicanos. Essa 
característica singular foi interpretada posteriormente pelos republicanos 
brasileiros como uma anomalia. Segundo Emília Viotti da Costa (1999, p. 387), 
os republicanos observavam que: 
 
[...] lembrando as revoluções e pronunciamentos que, desde a 
Inconfidência, tiveram por alvo instalar um regime republicano 
no Brasil, afirmam que a república sempre foi uma aspiração 
nacional. Esposando uma ideia já enunciada no Manifesto 
Republicano de 1870, consideram a Monarquia uma anomalia 
na América, onde só existem Repúblicas. 
 
 
A monarquia brasileira entrou em crescente decadência a partir da 
década de 1870 com a junção de variados fatores, especialmente, da crise 
econômica, da insatisfação de militares, igreja e grandes produtores rurais. Os 
militares, por exemplo, exigiam, no pós-guerra com o Paraguai, maior 
participação nas decisões do país. Segundo Boris Fausto (2004, p. 217): 
 
A partir da década de 1870, começaram a surgir uma série de 
sintomas de crise do Segundo Reinado. Dentre eles, o início do 
movimento republicano e os atritos do governo imperial com o 
Exército e a Igreja. Além disso, o encaminhamento do 
problema da escravidão provocou desgastes nas relações 
entre o Estado e suas bases sociais de apoio. 
 
 
A junção desses problemas políticos e econômicos com as 
transformações socioculturais da virada do século XIX para o XX foram fatores 
para a diminuição do poder imperial e a crescente propaganda republicana pelo 
país, principalmente, nos centros urbanos. Assim, a ideia de uma República 
 
88 
 
aliada ao progresso e à modernidade fazia contraponto ao regime monárquico, 
ressaltado como atrasado. 
 
Como destacamos acima, um dos focos de questionamento ao governo 
imperial foi os militares. Dentre as causas do descontentamento dos militares 
estavam duas questões: o sentimento de que, a partir da criação da Guarda 
Nacional em 1831, o Exército passou a ser relegado a um segundo plano e o 
ressentimento pela subordinação das causas militares ao governo civil. Assim, 
parte dos militares passou a apoiar os ideais republicanos. Segundo Boris 
Fausto (2004), parte dos oficiais do Exército já apresentavam 
descontentamentos para com o governo imperial. Dentre as críticas estavam: 
 
[...] questões específicas da corporação, como o critério de 
promoções e o direito de casar-se sem pedir consentimento ao 
ministro da Guerra, quanto a outras mais gerais, referentes a 
situação do país. Os jovens militares defendiam o fim da 
escravatura e uma maior atenção à educação, à indústria e à 
construção de estradas de ferro (FAUSTO, 2004, p. 231). 
 
 
Outra questão na década de 1880 geraria atrito entre o governo 
imperial e os militares. Após a punição feita ao tenente-coronel Sena Madureira 
por ter descumprido normas, foi publicado um artigo no jornal A Federação, em 
que ele próprio criticou sua punição. O governo reagiu determinando que os 
militares estavam, a partir daquele momento, proibidos de discutirem política na 
impressa. No final daquela década, os militares fundaram o Clube Militar com o 
objetivo de defenderem seus interesses e posições, sendo seu primeiro 
presidente o Marechal Deodoro da Fonseca, futuro presidente do Brasil. 
 
A ideia republicana no seio militar ganhou cada vez mais força com a 
influência do pensamento positivista na Escola Militar da Praia Vermelha. 
Dentre as ideias encampadas pelos oficiais do Exército estavam a construção 
de um executivo forte e intervencionista, a separação do Estado e da Igreja e a 
formação técnica e científica. Esses aspectos contribuiriam para a 
 
89 
 
modernização do país e a neutralização dos políticos tradicionais (FAUSTO, 
2004). 
Entretanto, como nos adverte José Murilo de Carvalho (1990), não 
podemos explicar o movimento de derrubada da monarquia apenas a partir da 
questão militar. Assim: 
 
O advento da República não pode ser reduzido à questão 
militar e à insurreição das unidades militares aquarteladas em 
São Cristóvão. De outro lado, seria incorreto desprezar os 
acontecimentos de 15 de novembro como se fossem simples 
acidente. Embora as raízes da República devam ser buscadas 
mais longe e mais fundo, o ato de sua instauração possui valor 
simbólico inegável (CARVALHO, 1990, p. 35-36). 
 
 
Uma combinação de fatores influiu para que o regime de D. Pedro II 
perdesse força e os militares pudessem instaurar um golpe no gabinete do 
governo em 15 de novembro de 1889, instalando um governo provisório. 
 
A relação entre Estado e Igreja no período imperial entrou em crise, 
principalmente, devido à questão maçônica e à interferência do Estado em 
questões da Igreja. Em um regime onde se previa a união entre o “trono e o 
altar”, expresso na Constituição de 1824, a religião e a interferência do Estado 
era um potencial de conflito. 
 
Segundo Emília Viotti da Costa (1999), em Da Monarquia à 
República, a questão religiosa foi deveras importante neste contexto de 
contestação ao regime monárquico. Entretanto, não podemos pensá-la como 
fator determinante, pois: 
 
É exagero supor que a questão religiosa que indispôs 
momentaneamente o Trono com a Igreja foi dos fatores 
primordiais na proclamação da República. Para que isso 
acontecesse era preciso que a nação fosse profundamente 
clerical, a Monarquia se configurasse como inimiga da Igreja ea República significasse maior força e prestígio para o clero. 
De duas uma, ou a nação estava a favor dos bispos e contra 
 
90 
 
Dom Pedro [...] ou a nação era pouco simpática aos bispos 
(COSTA, 1999, p. 456-457). 
 
 
Essas tensões entre o trono e o altar ganharam força a partir da política 
do Vaticano de reforçar o poder religioso e papal, posta em prática no Brasil a 
partir de um controle mais rígido na disciplina religiosa e na busca por maior 
autonomia da Igreja perante o Estado. Com esses critérios, o bispo de Olinda, 
Dom Vital, proibiu a entrada de maçons nas irmandades religiosas. A 
maçonaria, apesar de pouco representativa numericamente, tinha grande 
respaldo no campo político, principalmente no Estado. A resposta do governo 
imperial foi a prisão e condenação do bispo, posteriormente anistiado. 
 
O que foi a maçonaria? Quem dela podia participar? O que defendiam? 
Como esta relação entre Estado e maçonaria desagradou a Igreja Católica? 
Pesquise e compartilhe seus resultados com os demais colegas de 
curso no fórum da disciplina de História do Brasil II no Ambiente Virtual. 
 
 
A questão religiosa só seria resolvida com o advento da República em 
1889 com a separação do Estado e da Igreja. Segundo Lúcia Maria Bastos 
Pereira das Neves e Humberto Fernandes Machado (1999), a questão religiosa 
iniciou o processo de secularização do Brasil. 
 
O descontentamento da elite provincial de São Paulo também fez parte 
dos fatores que impulsionaram a derrocada do governo de D. Pedro II. Com a 
economia mais forte do país, São Paulo buscava maior representatividade 
política e participação no governo imperial. Para os cafeicultores e a elite 
paulista, a implantação do regime republicano deveria ser sem grandes 
transformações sociais, garantindo a estabilidade dos privilégios e excluindo a 
grande massa populacional do movimento. 
 
A questão da abolição da escravidão criou também desentendimentos 
entre a elite cafeeira e o governo imperial. Nesse caso, especialmente, os 
 
91 
 
grandes produtores do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, que se 
encontravam em decadência e tinham a posse dos escravos como último 
recurso patrimonial. Para Emília Viotti da Costa (1999), foram os produtores 
que ainda resistiram ao processo de abolição e entraram em atrito com a 
monarquia. 
 
É preciso notar ainda que a abolição afetou apenas os setores 
que se mantinham apegados ao trabalho escravo e estes, na 
década de 1880, constituíam a parcela menos dinâmica do 
país, pois os setores mais progressistas já se preparavam para 
a utilização do trabalho livre. Continuavam apegados ao 
trabalho servil apenas os fazendeiros das áreas decadentes, 
rotineiras e impossibilitadas de evoluir para as novas formas de 
produção (COSTA, 1999, p. 455). 
 
 
Como vimos, a queda do regime monárquico foi resultado de uma 
combinação de fatores e forças. Dois grupos, não homogêneos, tiveram papel 
de destaque nesse processo: os militares e os grandes proprietários rurais da 
zona cafeeira de São Paulo, fundadores do Partido Republicano Paulista. Boris 
Fausto (2004) destaca que essas duas forças permitiram a derrubada da 
monarquia na medida em que: 
 
O episódio de 15 de novembro resultou da iniciativa quase 
exclusiva do Exército, que deu um pequeno, mas decisivo 
empurrão para apressar a queda da Monarquia. Por outro lado, 
a burguesia cafeeira permitiria à República contar com uma 
base social estável, que nem o Exército, nem a população 
urbana do Rio de Janeiro podiam, por si mesmos, proporcionar 
(FAUSTO, 2004, p. 235). 
 
 
Veja agora, como foram as movimentações partidárias e as correntes 
republicanas para a instauração do regime republicano efetivado em 15 de 
novembro pelos militares e apoiado pelas forças da burguesia cafeeira. 
 
 
 
 
92 
 
Os partidos e o movimento republicano 
 
 
Conforme apresentado na terceira unidade deste módulo, já existiam 
inspirações republicanas em tempos passados como nas revoltas separatistas 
que proclamaram repúblicas separadas do império brasileiro. Entretanto, o 
crescimento do ideal republicano no Brasil ganhou expressividade a partir da 
década de 1870. Naquele período, foram fundados dois dos principais partidos 
republicanos, o do Rio de Janeiro em 1870 e o Paulista em 1873. Entretanto, 
os adeptos do republicanismo divergiam quanto ao processo de implantação da 
República no Brasil, coadunando apenas com a crítica ao centralismo exercido 
pelo poder imperial. 
 
Para José Murilo de Carvalho, em A formação das Almas, os 
republicanos tinham uma tarefa difícil, substituir um governo e construir uma 
nação. Essa tarefa foi pensada a partir de três grupos diferentes: dos 
proprietários rurais, especialmente de São Paulo; dos setores da população 
urbana, exemplo dos profissionais liberais, jornalistas, professores e 
estudantes; e da versão positivista da república, construída a partir dos 
militares (CARVALHO, 1990). 
 
A elite cafeicultora de São Paulo partia do pressuposto de que o melhor 
modelo para a República do Brasil seria o americano, evitando a participação 
popular na implantação e no desenvolvimento do governo. Essa perspectiva 
também consistia na aceitação do ideal americano de organização do poder, 
principalmente pela preocupação com a ordem social e política. Os setores 
urbanos da sociedade, por sua vez, viam a monarquia como representativa do 
atraso e da corrupção. Eram atraídas pelos apelos abstratos em favor da 
liberdade, da igualdade, da participação, sem, contudo, ficar claro de como 
essas ideias seriam colocadas em prática. Por fim, a versão do ideal 
republicano pensado a partir da influência positivista e suas adaptações. Os 
militares sentiam-se atraídos pela ideia de ditadura republicana, com um 
Executivo forte e intervencionista (CARVALHO, 1990). 
 
93 
 
Cabe destacar que o regime federalista representava para as elites 
provinciais total liberdade política, administrativa e econômica frente à 
centralização imposta pelo governo imperial. Assim, os cafeicultores, por 
exemplo, teriam liberdade para negociarem seus produtos diretamente no 
mercado externo, sem a ingerência do governo central. A tomada de partido 
pelo federalismo em São Paulo e a criação de um partido político, o 
Republicano Paulista em 1873, contou com a participação dos cafeicultores, 
além de elementos dos setores urbanos como nas demais províncias. 
 
 
O povo bestializado 
 
Para Hamilton Monteiro (1994), em Brasil Império, a instauração do 
regime republicano no Brasil não ensejou grandes transformações, mas sim, 
uma acomodação política. De acordo com o autor: 
 
A República que se instala, passada a fase de depuração, é a 
do controle hegemônico dos fazendeiros do oeste paulista 
acrescida da descentralização, para contentar os interesses 
regionais. A nova ordenação política não significou reformas 
estruturais: continuaram a superexploração do trabalhador, a 
extroversão da economia e a dependência do país diante dos 
centros dinâmicos do capitalismo internacional. O autoritarismo 
e o elitismo mantiveram-se. As massas teriam que reiniciar sua 
luta (MONTEIRO, 1994, p. 75). 
 
As forças que destituíram o governo imperial e instalaram um regime 
republicano não contaram com a participação política da grande massa da 
população brasileira, permitindo, assim, a manutenção dos privilégios da elite 
política e econômica do Brasil. Para Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e 
Humberto Fernandes Machado (1999), o ideal republicano, pelo menos na 
Corte, “[...] não conseguia empolgar os segmentos mais humildes da 
população. O país real não estava sensibilizado com a República” (NEVES; 
MACHADO, 1999, p. 441). Segundo os autores, era um movimento 
intelectualizado que soube aproveitar as graves questões que abatiam a força 
 
94 
 
do governo central. Para os autores, a maioria da população nãoparticipou da 
mudança do regime. Ademais, essa mudança não representou grandes 
alterações no cotidiano da maior parte da população. 
 
Essa perspectiva da não participação popular e estranhamento do que 
ora ocorria ganhou a célebre frase de Aristides Lobo: “o povo assistiu 
bestializado” a mudança da monarquia para a república. Entretanto, essa visão 
da apatia popular e não participação política do povo na instalação do regime 
republicano é contestada por José Murilo de Carvalho (1987), em seu livro Os 
Bestializados. Para o autor, a partir da mudança de regime, o governo tratou 
de controlar a população, buscando a estabilidade pela supressão política da 
maior parte da população no processo eleitoral. Além de uma diminuta parcela 
ter direito a participação no processo, cerca de 20% do Rio de Janeiro, existiam 
fraudes que desestimulavam também a participação de parte desses votantes. 
 
Para José Murilo de Carvalho (1987), percebia-se uma participação 
ativa da população em questões de ordem religiosa, grandes festas e 
assistência mútua. Essa participação não era sentida nas questões políticas. 
Dentre as razões para isso, esteve o peso das tradições escravistas e colonial. 
Ademais, segundo o autor, a imagem de uma presente apatia política também 
era uma forma de resistência “[...] perante tal Estado, a cidade reagia seja pela 
oposição, seja pela apatia, seja pela composição” (CARVALHO, 1987, p. 155). 
 
Por fim, cabe destacar que para o autor, “[...] bestializado era quem 
levasse a política a sério, era o que se prestasse a manipulação [...] quem 
apenas assistia, como fazia o povo o Rio por ocasião das grandes 
transformações realizadas a sua revelia, estava longe de ser bestializado. Era 
bilontra” (CARVALHO, 1987, p. 160). 
 
 
 
 
 
 
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PARA SABER MAIS: 
 
Assista ao filme Mauá, o Imperador e o Rei, com direção de Sérgio Resende, Brasil, 
1999. O filme retrata a trajétoria de vida de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de 
Mauá, permite-nos analisar o contexto social brasileiro do século XIX, movimentado 
por pensamentos e ideais ambíguos, imersos em práticas liberais e aspectos 
conservadores como a manutenção da mão de obra escrava e a questão racial. 
Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=UDtL-dOAHYQ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=UDtL-dOAHYQ
 
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