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1 Beatriz Machado de Almeida Endocrinologia pediátrica – Aula 1 Hipófise e produção de GH O GnRH estimula a produção do GH na hipófise, que vai agir no fígado produzindo IGF-1 que, por sua vez, vai até a periferia para fazer a ação de crescimento. A somatostatina, por outro lado, faz o efeito inibitório. Enquanto o GH estimula, a somatostatina inibe. Se tivermos algum problema do GH a nível de hipófise, teremos a baixa estatura. Baixa estatura AVALIAÇÃO DE 3 PARÂMETROS 1. Estatura abaixo do percentil 3: não significa que há um problema, mas tem que investigar. 2. Redução na velocidade de crescimento. Menino cresce mais durante o estirão puberal (pico maior), comparado a menina. Meninas: passam - tempo crescendo antes do estirão puberal. Meninos: passam + tempo crescendo antes do estirão. 3. Fora do potencial genético: Ex – pai com 1,90m, mãe com 1,80m e o filho na curva de 1,50m. CASO 1 Anamnese: MCV, sexo masculino, 07 anos, procura o ambulatório de endocrinologia acompanhado pela genitora devido a quadro de ser mais baixo que os colegas da mesma idade. Refere que sempre foi menor que os colegas, mas a genitora nunca se preocupou muito, pois a família toda é baixa. Porém, resolveu fazer uma avaliação. O menor se alimenta de forma adequada e realiza natação desde os 04 anos. AP: Nascido de parto normal e a termo, sem intercorrência, peso 3.100Kg e 50cm. Nega patologias e uso de medicações. AF: Genitor com 1,65m e genitora com 1,55m. Nega patologias na família. OBSERVAÇÕES EM RELAÇÃO AO CASO Não é possível dizer se a criança tem baixa estatura ou não. Então, deve-se investigar mais um pouco para o diagnóstico preciso. O 2º passo foi colocar a criança na curva. Quando colocada, foi visto que a mesma estava dentro do percentil 15, indicando padrão normal de crescimento. Só isso não é suficiente para fechar o diagnóstico. É necessário saber a estatura alvo do paciente e como está a velocidade de crescimento do mesmo. CÁLCULO DA ESTATURA ALVO • Meninos: Altura do pai + Altura da mãe + 13 / 2 • Meninas: Altura do pai + Altura da mãe – 13 / 2 • Resultado: + ou – 1 desvio padrão (0,5cm) Lembrar: Sempre fazer o cálculo em cm. Estatura alvo da criança do caso: 165cm + 155cm +13 / 2 = 333 / 2 = 166,5 O valor de 166,5 cm é colocado no canal familiar para encontrar o percentil da família. Uma família de 1,60m estaria mais ou menos no percentil 15. Quando eu jogo a altura da criança na estatura final dos pais, ela fica na linha amarela, o que quer dizer que ela está seguindo corretamente o canal familiar. Além disso, deve-se olhar a carteira de vacinação da criança, pois, ali terá todos os dados do seu crescimento anterior. Conclusão: Criança do caso 1 não tem baixa estatura. Distúrbios do crescimento 2 Beatriz Machado de Almeida Endocrinologia pediátrica – Aula 1 CASO 2 BNM, sexo masculino, 07 anos, foi ao ambulatório de endocrinologia com relado de ter nascido com baixo peso e desde o nascimento sempre foi menor que as crianças da mesma idade. O paciente desse caso apresentou-se fora da curva, abaixo do percentil 3. Somente com esse dado pode- se afirmar que o paciente tem baixa estatura (podendo ser por deficiência de GH ou por alguma causa orgânica). A criança nasceu pequena e permaneceu pequena. Ela está crescendo, embora abaixo do percentil 3. Quando colocado na curva, verificou-se que ela não estava dentro do canal familiar. Obs: Se o paciente tiver um dos 3 critérios citados anteriormente, ele já pode ser classificado como baixa estatura. CASO 3 MNC, sexo masculino, 7 anos, comparece à consulta com a genitora com relato de que nos últimos 2 anos tem crescido pouco. Quando vista a caderneta, percebeu-se que a criança estava no percentil 90 (que é o canal familiar), cruzou para o percentil 85 e estacionou no percentil 50. Ela deve ser investigada pela baixa velocidade de crescimento e por estar fora do canal familiar. Conclusão: Classificada como baixa estatura. Velocidade de crescimento Para medir a velocidade de crescimento da criança é necessário pegar a curva da OMS e colocar o pontinho para analisar se está dentro do canal de crescimento. O crescimento da criança deve ser de acordo com a idade. O MAIS IMPORTANTE É 5-6 CM, QUE É A MÉDIA DE CRESCIMENTO DOS 3 ANOS ATÉ A PUBERDADE. Ex: Se eu avaliar uma criança e ela estiver com 1,30cm e no ano seguinte com 1,32cm, ela cresceu apenas 2 cm em 1 ano. O esperado era o crescimento de 5-6cm. AVALIAR! Normalmente, a mulher fica menor que o homem, porque ela começa o estirão puberal mais precoce. Com isso, o crescimento fica menos prologando. Se você começar o estirão puberal com 10 anos é diferente de começar com 12. São 5cm/ano. Quem começou com 10 anos terá 10 cm a menos de quem começou com 12 anos. Dúvida: Se alguém tiver a velocidade de crescimento maior do que o esperado para a idade? Geralmente quem acelera o crescimento tem excesso de GH, que é uma doença chamada de gigantismo. Quando existe em uma pessoa já adulta, é denominada acromegalia. Se você é adulto e não tem mais pra onde crescer, começa aumentar as extremidades (orelha, queixo, dedo, pés). O que leva a condição de gigantismo que acomete a criança geralmente é um tumor produtor de GH. Se o tumor aparece na idade adulta é acromegalia. 3 Beatriz Machado de Almeida Endocrinologia pediátrica – Aula 1 Obs: Caso o paciente apresente um grande aumento da estatura, fugindo do canal familiar, deve ser acompanhado para afastar diagnóstico de gigantismo. Anamnese HMA • Informações sobre gravidez: tabagismo, etilismo, intercorrências, medicações, uso de drogas, desnutrição. • Consanguinidade. • Eventos perinatais, peso e comprimento ao nascer. • Sinais ou história de doença crônica: (Ex: síndrome nefrótica, anemia falciforme). • Status psicossocial: Ex: separação dos pais ou morte. • Trauma ou infecção neurológica: Ex: TCE, AVC. Comprometimento da produção de GH ou GnRH. (ex. tumor), radioterapia cerebral. • História de crescimento da criança: Gráficos. • Histórico alimentar: amamentação, introdução alimentar e padrão. Antecedentes familiares • História do crescimento e puberdade dos pais. • Dados sobre a altura dos pais. Exame físico Aferição de altura Aferir altura: • < 2 anos: deitada. • >2 anos: supinada (de preferência estadiômetro de parede. Intervalo de aferições: • Não deve ser inferior a 03 meses. • Ideal: 06 meses a 01 anos. • Geralmente os guidelines recomendam um intervalo de 6 meses. Por que para avaliar a estatura não é legal aferir a altura num intervalo menor que 3 meses? O crescimento de cm/ano da criança deve ser de 5-6cm. Se for aferir a cada mês, pode fazer uma projeção errada. Ex: alguém fez uma aferição de uma criança e viu que ela cresceu 1 cm no mês de janeiro e mais 1 cm no mês de fevereiro. Se em 2 meses a criança cresceu 2 cm, a projeção é de que ela cresça 12cm no ano. Técnicas para medição • Retirar chapéus, bonés, enfeites de cabelo. Cabeça alinhada com a placa superior do estadiômetro. • Para a medida, é necessária discreta tração abaixo da mandíbula para manter a posição da cabeça com olhar no horizonte. • Paciente sem sapatos e calcanhares unidos. • Aparelho fixo na parede usado para medir a estatura (estadiômetro). • Cabeça, ombros, nádegas e calcanhares encostados em superfície fixa e vertical. • Observando-se tudo isso, faz-se a medição. Proporções corporais • Envergadura, altura e segmento superior e inferior. • Envergadura: Distância dos polegares. • Seguimento superior: Altura menos o seguimento inferior. • Seguimento inferior: Altura da sínfise púbica até o chão. Importante para avaliar estigmas que possamindicar o diagnóstico de síndromes genéticas, alterações esqueléticas, sinais clínicos de doenças sistêmicas crônicas. Avalia má formação na coluna, criança com geno (perna abertinha e redução do seguimento inferior). A relação do seguimento superior e inferior normal de uma criança de 8 anos indica que a criança é proporcional e não tem baixa estatura desproporcional. 4 Beatriz Machado de Almeida Endocrinologia pediátrica – Aula 1 Exames laboratoriais • Hemograma: anemia. • Velocidade de hemossedimentação: doença inflamatória crônica (Ex. febre reumática). • TSH e T4 livre: doenças tireoidianas. • Parasitológico de fezes: afastar parasitose. • Perfil bioquímico: cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, sódio, potássio, ureia e creatinina. Doenças osteometabólicas e doenças renais. • Transaminases: doenças hepáticas. • Albumina: desnutrição. Exames especializados • Cariótipo: meninas com baixa estatura sem causa aparente (Turner). Identifica também Síndrome de Down. • Anticorpos antitransglutaminase a antiendomísio: suspeita de doença celíaca. A criança vai apresentar diarreia, abdômen distendido e flatulência. • IGF1 e IGFBP3: suspeita de deficiência de GH. • Teste de estímulos para o GH: Somente em casos especiais, quando o IGF-1 e IGFBP3 derem baixos. O estímulo mais forte para a produção de GH endógeno é a hipoglicemia (níveis menores que 45), pois aumenta a quantidade de hormônios contra regulatórios – hiperglicemiantes (GH, glucagon, adrenalina). Essa indução de hipoglicemia se dá por aplicações de insulina. A dosagem do GH acontece nos primeiros 60,90 e 120 minutos. Se a criança fizer um pico de GH depois da hipoglicemia ela tem deficiência de GH. • RNM cranioencefálica. Por que não pede GH e sim IGF1 e IGFBP3? O GH é liberado de forma pulsátil. A gente pode ver o pico ou não ver nada. Idade óssea É a idade do crescimento esquelético. O crescimento está mais relacionado com a idade óssea do que com a cronológica. Ex: Se eu tenho dois meninos de 10 anos e um tem a idade óssea de 10 anos e o outro com idade óssea de 8 anos (com atraso de 2 anos), o que tem a idade óssea de 8 anos tem mais tempo pra crescer. Deve-se investigar quando a idade óssea é muito discrepante da idade cronológica. Ex. criança de 8 anos com idade óssea de 3 anos. Geralmente quando a criança demorou de entrar na puberdade, a idade óssea dela é mais atrasada, porém ela tem um crescimento maior que as outras. Deve se investigar se na família os pais tiveram um atraso no início da puberdade. Em casos normais, a idade óssea pode ser atrasada ou adiantada, sem necessidade de investigação. Tabela de Greulich Pyle: analisar a idade óssea, padrão para aquela idade e comparação dos núcleos de ossificação na radiografia do paciente. Causas de baixa estatura Variantes do crescimento normal: • Retardo constitucional do crescimento e puberdade. • Baixa estatura familiar. Doenças crônicas • Desnutrição: ingesta proteico calórica inadequada e deficiências de vitaminas e sais minerais. • Doenças renais: proteinúria, desnutrição, acidose, raquitismo e uso de glicocorticoides. • Doenças cardíacas: hipóxia, acidose, subnutrição. • Doenças hematológicas: anemia falciforme e talassemia – anormalidade no eixo GH-IGF1 e IGFBP3. • Doenças gastrintestinais: doença celíaca e doença que cursam com a má absorção intestinal. • Doenças respiratórias: asma, associada a desnutrição e altas necessidades energéticas durante o estresse. Uso de corticoide. • Distúrbios imunológicos Doenças congênitas • Retardo do crescimento intrauterino; • Síndrome de Down; 5 Beatriz Machado de Almeida Endocrinologia pediátrica – Aula 1 • Síndrome de Turner; • Displasias esqueléticas; • Síndromes genéticas. Causas endócrinas • Hipotireoidismo primário: efeito importante no crescimento, associado com retardo puberal e da IO. • Síndrome de Cushing • Deficiência congênita de GH • Deficiência adquirida de GH • Tumores hipotálamo-hipotalâmico • Histiocitose X • Infecções do sistema nervoso central • Traumatismo craniano Displasias esqueléticas Osteocondroplasia ACONDROPLASIA • Autossômica dominante. • Redução da velocidade de crescimento principalmente após 02 anos. • Anomalias esqueléticas: Macrocrania, ponte nasal baixa, lordose lombar, mãos curtas, rizomelia (extremidades curtas). É diferente de um anão normal. Tyrion Lannister (Meio-Homem ou Duende) Deficiência de GH Congênita • Peso e altura normais ao nascimento. • Redução de velocidade do crescimento nos primeiros anos de vida. • Baixa estatura proporcional. • Retardo da idade óssea. • Aumento de peso. OBS: casos mais graves com fronte proeminente, base nasal achatada e mandíbula pequena (fáscies de boneca). Causas exógenas da baixa estatura: Doenças congênitas, síndrome de Turner, síndrome de Down. Causas endógenas: Hipotireoidismo (retarda o crescimento somático), deficiência de GH (criança baixa proporcionalmente. Deve ser feita a suplementação, de preferência antes dos 12 anos de idade óssea – maior eficácia).
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