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doenças genéticas GIOVANA NUNES Mutações – são sempre vilãs? As mutações são processos espontâneos que ocorrem ao longo do genoma de todos os organismos, por motivos dos mais diversos; Normalmente mutações ocorrem no genoma, envolvendo troca de bases em uma sequência; Nem todas as mutações são importantes do ponto de vista clínico; Ainda há um grande numero de doenças cujas bases bioquímicas não estão estabelecidas Lesão e mutação Principal diferença: Lesão tem correção; mutação não! Mutacões Natureza das mutacões Existem basicamente dois tipos de mutação quando falamos em classe de bases nitrogenadas: Mutações de substituição podem ser de dois tipos: 1. Transições: mudança de bases de mesma classe (ex: A por G ou C por T, na mesma fita); 2. Transversão: mudança de bases de classes diferentes (ex: A por C ou G por T, na mesma fita); Ex: Anemia falciforme. Mutações Indel, são as mais simples e também são de dois tipos: 1. Mutações de adição: Ocorre quando um nucleotídeo é adicionado da sequência de bases, formando assim uma nova sequência de bases e consequentemente uma nova sequência de códons; Ex: Síndrome de Down e síndrome de Turner. 2. Deleção de base: São mutações nas quais um nucleotídeo é perdido ou deletado. Ex: Síndrome do miado do gato. Além dessas temos também outros tipos de mutação. Mutações espontâneas: Ocorre como resultado de funções celulares normais ou interações aleatórias com o ambiente; Alterações espontâneas nas sequências de nucleotídeos; Erros durante a replicação do DNA Lesões hidrolitícas: Desaminação e depurinação. Lesões oxidativas. Aplicações clínicas – Xantinúria Deficiência congênita na xantina oxidase, enzima que coordena o catabolismo da xantina a ácido úrico; Deficiência de ácido úrico- Acúmulo de xantina na urina, causando calculose sintomática com hematúria, cólicas renais e infecção urinária; Diagnóstico: sequenciamento de DNA para confirmação; Tratamento: Alopurinol + hidratação. Mutações induzidas.: Ocorre devido à tratamento com determinados compostos (agentes mutagênicos). Ex: Xeroderma Pigmentoso 1. Mutações induzidas quimicamente (ex.: Ácido nitroso, corantes de acridina e agentes alquilantes); 2. Mutações induzidas por radiações. Classificação das mutações Por localização: Somática: Não são transmitidas à descendência; Germinativa: É transmitida à descendência. Por tipo de alteração molecular: Mutação com sentido trocado (de missense mutation), Mutação sem sentido (de nonsense mutation), Mutação silenciosa e Mutações que modificam a janela de leitura (de frameshift mutations); Por efeitos fenotípicos: Mutação perda de função, Mutação nula, Mutação de ganho de função, Mutação neutra, Mutação visível, Mutação nutricional, Mutação bioquímica, Mutação comportamental, Mutação reguladora, Mutação letal, letal condicional Mutações e doenças genéticas As mutações podem ocorrer em sítios não codificantes no genoma, mas quando ocorrem em locais codificantes, normalmente gera problemas; Existem basicamente dois tipos de proteínas/genes: As constitutivas e As histoespecíficas; Dentre as mutações, existem basicamente dois tipos de variação genética: Heterogeneidade alélica e Heterogeneidade de locus; As doenças genéticas geralmente estão contidas em 3 classes: Defeitos em enzimas, Proteínas de transporte, Proteínas estruturais. Heterogeneidade alélica Trata-se de um fenômeno no qual mutações diferentes afetam o mesmo locus, levando a fenótipos similares; Esse tipo de mutação pode ocorrer tanto na linhagem somática como na linhagem germinativa; A variação do fenótipo reflete uma subfunção específica da proteína mais afetada pela mutação; Exemplos: Alcaptonúria, acondroplasia, albinismo, hemoglobinopatias diversas, fenilcetonúria, etc. Heterogeneidade de locus Ocorre quando várias mutações em locus diferentes podem gerar o mesmo fenótipo, e cada mutação é suficiente para causar o fenótipo específico individualmente; Exemplos: retinite pigmentosa, cardiomiopatia hipertrófica, hipercolesterolemia familial, etc. Mutações em enzimas São uma das causas mais clássicas de doenças genéticas; A deficiência em alguma enzima pode interromper uma rota metabólica, levando a um acúmulo de metabólitos; Ex: Fenilcetonúria. Fenilcetonúria (PKU) Quadro clínico Distúrbio autossômico recessivo do catabolismo da fenilananina, ocasionado pela deficiência na enzima fenilalanina hidroxilase (PHA), causando seu acúmulo no organismo; Como a fenilalanina não é metabolizada em pacientes com PKU, ela acumula Caracterizado por deficiência mental, epilepsia, caracteres albínicos (pele, olhos, cabelos claros, fotossensibilidade) Diagnóstico Triagem neonatal – teste do pezinho; Prevalência: 1 em cada 15.000 a 25.000 nascidos vivos; Como se faz o teste? Uma gota de sangue em papel filtro; Quanto mais precoce, melhor a vida do paciente. Não há cura e o melhor tratamento é o ajuste da dieta cortando alimentos que contém fenilalanina + tratamento repositor (tirosina); Genética molecular da PKU Existem diferentes genótipos da PKU, que refletem em diferentes tipos de PKU; A mutação mais comum ocorre em cerca de 38% da população, ocorrendo uma mutação no sítio de splicing do éxon 12 do gene da PHA, acarretando em perda de função da enzima; Mutação missense Arginina 408 Triptofano: Troca de aminoácidos, perda de função da PHA; Mutação missense Arginina 261 Glicina: Cadeia lateral curta da glicina minimiza os danos, forma benigna da PKU; Mutação missense Arginina 158 Glicina: Cadeia lateral curta da glicina minimiza os danos, forma benigna da PKU; No Brasil temos a heterogeneidade genética e uma mistura desses genótipos na população Fibrose cística Uma doença autossômica recessiva, comum em caucasianos; Sua maior característica é um quadro pulmonar crônico obstrutivo devido a uma mutação numa proteína de canal de cloro, fazendo com que o muco fique mais espesso; Associado, existem infecções recorrentes, bem como insuficiência pancreática e diarréia crônica, devido à alteração da secreção da lipase, tripsina e quimiotripsina. Origem da mutação: Gene CFTR, localizado no cromossomo 7; Diagnóstico: Achados pulmonares e pancreáticos, concentrações de cloreto no suor acima de 60mEq/L; Tratamento: Tratamento para “dissolver” o muco dos pulmões e reposição enzimática para melhorar a digestão; Add. Info: Mais de 95% dos homens afetados são inférteis devido à obstrução dos ductos deferentes Distrofia muscular de Duchenne Uma doença de origem ligada ao X recessivo, sendo assim, somente homens são afetados, mulheres são apenas portadoras; Indivíduos afetados iniciam um quadro de fraqueza muscular nos primeiros anos de vida, que se intensifica até a segunda década; Tem uma incidência de cerca de 1:3.500 nascidos vivos. Calcula-se que cerca 2/3 sejam oriundos de mães portadoras; Indivíduos acometidos têm uma baixa expectativa de vida (20 e poucos anos) devido a insuficiência respiratória e/ou cardía. Mutação no gene da distrofina, no cromossomo X. Esse gene expressa uma proteína transmembrana e está diretamente associada à manutenção da integridade membranar em miócitos (e também no SNC); O gene da distrofina é muito grande, representando 1.5% do cromossomo X; Mais de60% são deleções de tamanho variável; Pacientes com DMD não possuem distrofina nas células; Diagnóstico: Sequenciamento; Tratamento: Fisioterapia, mas não existe tratamento conhecido a fim de prolongar a vida do afetado. Hipercolesterolemia familiar Trata-se de uma hiperlipidemia genética, caracterizada pelo aumento das concentrações plasmáticas de lipídeos e de LDL; É uma doença autossômica dominante, fazendo com que tanto homozigotos quanto heterozigotos tenham maior predisposição à formação de ateromas nas paredes das aa. Coronárias; Homozigotos têm uma expectativa de vida baixa devido ao alto risco de infarto agudo do miocárdio, já os heterozigotos possuem uma vida mais fácil de controlar; A origem da doença se dá na mutação do gene LDLR, que codifica o receptor para a LDL; Pode se apresentar secundária a mutações no gene da APOB, que codifica a Apo B- 100; Indivíduos portadores não são tão raros (1:500), mas os homozigotos são muito raros – 1:1.000.000 Há uma diminuição dos receptores de LDL na superfície celular, diminuindo sua recaptação e, consequentemente, aumentando as concentrações plasmáticas. A obtenção de colesterol pelas células se dá ou pela síntese de novo ou pela captação da LDL exógena no plasma. Como uma única célula pode dar origem a tipos celulares tão distintos? Hipótese 1: Durante a diferenciação, apenas os genes que codificam as proteínas que serão expressas naquele tipo celular são mantidos; Hipótese 2: Todos os genes são mantidos, mas somente as proteínas específicas ao tipo celular são expressa Totipotência – As células “toda-poderosas” Totipotência: Capacidade celular de desenvolver estruturas novas e diferenciadas, ou até mesmo um organismo complexo. Capacidade de diferenciação nos seres humanos Nos embriões todas as células são pluripotentes (pois não conseguem mais retornar à célula inicial – o zigoto) e indiferenciadas. Diferenças entre células de um mesmo organismo Analisando as hipóteses observadas, chegamos à conclusão de que todas as células de um mesmo organismo possuem o mesmo genoma, a diferença entre eles se dá pela diferença entre os genes expressos, ou seja, o seu repertório proteico; A regulação da expressão gênica se dá de duas formas, basicamente: Temporal: Quando um determinado gene só é expresso em um determinado período de desenvolvimento ou algum outro período específico; Espacial: Quando a expressão de um gene é determinado pelo tipo celular Genes constitutivos e genes regulados Genes housekeeping: São tipos específicos de genes que são expressos em todas as células de um organismo. Isso se dá pela sua essencialidade. Funções: Geração de energia, replicação e manutenção do material genético. Genes regulados: Relacionados com a grande diversidade gênica. Podem ser basicamente de três subtipos: Genes expressos em alguns tecidos, cuja função está diretamente relacionada à função do órgão/ tecido; Genes expressos em somente um tecido, de função altamente especializada. Ex: β-globina é expressa somente em eritrócitos; Genes expressos em somente uma célula, e todas as células clonais descendentes dessa progenitora. Ex: maturação de anticorpos em linfócitos B durante a resposta imune tardia. Controle da expressão gênica Ocorre basicamente de duas formas: Transcricional e Traducional. Regulação da expressão gênica em eucariotos A iniciação da transcrição é o ponto mais crítico do controle da expressão gênica; por isso os genes eucarióticos possuem muito mais regiões regulatórias upstream da região codificadora; Genes eucariotos não se organizam em operons; Acesso as regiões promotoras é restrito pela estrutura da cromatina, e remodelamento da cromatina é necessário → hetero e eucromatina; Heterocromatina: Cromatina mais condensada, transcricionalmente inativa. Eucromatina: Cromatina mais “relaxada”, transcricionalmente ativa. Regulação da expressão gênica por controle da tradução Proteínas que “respondem” ao sinal de controle da tradução podem “ligar” ou “desligar” do mRNA, inibindo ou permitindo a tradução; Exemplo: Ferritina é uma proteina intracelular que liga ferro; sua expressão é controlada pelas concentrações intracelulares de ferro através da IRE- binding protein, que se liga ao ferro e controla a expressão de ferritina
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