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SOCIEDADE E CONTEM
PORANEIDADE
Paulo G. M
. de M
oura
Paulo G. M. de Moura
Código Logístico
57357
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6435-9
9 788538 764359
Sociedade e 
Contemporaneidade
IESDE BRASIL S/A
2018
Paulo G. M. de Moura
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M889s Moura, Paulo G. M. de
Sociedade e contemporaneidade / Paulo G. M. de Moura. - 
[2. ed.]. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018.
110 p. : il. 
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6435-9
1. Sociologia. 2. Movimentos sociais. I. Título.
18-48491
CDD: 306
CDU: 316.7
© 2007-2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos 
direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel/iStockphoto.
Paulo G. M. de Moura
Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (PUCRS), mestre em Ciência Política e graduado em Ciências Sociais pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em Educação a Distância pelo Senac-RS. 
Atua na área de ciência política, com ênfase em estudos eleitorais e partidos políticos, e de 
comunicação política e marketing político.
Sumário
Apresentação 9
1. As sociedades como sistemas 11
1.1 As partes e o todo 11
1.2 Interfaces e mútua dependência entre as partes 12
1.3 As partes e suas funções 13
1.4 Estabilidade e ruptura do sistema 13
1.5 Aplicação do modelo ao objeto de estudo 14
2. Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 17
2.1 Para entender como a sociedade muda 17
2.2 A pré-história 19
2.3 A sociedade agrícola 20
2.4 A sociedade industrial 20
2.5 A sociedade pós-industrial 21
3. A sociedade agrícola 25
3.1 A civilização grega 26
3.2 A civilização romana 27
3.3 O cristianismo 28
3.4 A ordem feudal 29
3.5 O fim da era agrícola 29
4. A sociedade industrial 31
4.1 A lógica do sistema de produção 31
4.2 A lógica do sistema social 32
4.3 A lógica do sistema político 33
4.4 Capitalismo e socialismo: dois modelos e um sistema 35
4.5 Crise e ruptura do sistema 36
5. A história da globalização 39
5.1 O que é globalização? 39
5.2 Antecedentes da globalização 41
5.3 Formação do mercado mundial 41
5.4 O impacto da Revolução Industrial sobre a economia mundial 43
5.5 O surgimento do capital financeiro 45
6. A ordem internacional pós-Segunda Guerra 47
6.1 Antecedentes da ordem internacional pós-guerra 47
6.1 Consolidação de um sistema político-econômico mundial 48
6.2 A falência do socialismo e a ruptura do sistema 51
6.3 Revolução tecnológica e novo ciclo de expansão do capitalismo 53
7. A sociedade pós-industrial 55
7.1 A natureza da mudança 55
7.2 Sentido e rumo das mudanças 56
7.3 Conhecimento e velocidade 58
7.4 Riqueza intangível e economia simbólica 59
7.5 Trabalhar e empreender na nova economia 60
8. Identidades em transformação 65
8.1 O mundo virtual mudando nossa vida real 65
8.2 Espelho, espelho meu: onde estou, quem sou eu? 66
8.3 De onde viemos? Onde estamos? 66
8.4 Para onde vamos? 69
9. Significados e representações no mercado de símbolos 71
9.1 Representações e identidades 71
9.2 Participação imaginária 74
9.3 O poder de infinitas caras: realidade ou imaginação? 74
10. O poder na sociedade pós-industrial 77
10.1 Os sistemas de poder ao longo da história 78
10.2 O poder na sociedade industrial 80
10.3 Crise e transformação do sistema de poder da sociedade industrial 81
10.4 As causas de crise 82
10.5 A democracia do futuro 84
11. A sociedade brasileira como sistema 87
11.1 O Estado-nação como um sistema 87
11.2 A formação da nação 89
11.3 O subsistema dominante 89
11.4 A crise do sistema e o imperativo da mudança 93
11.5 O voo da galinha: o jeito brasileiro de mudar sem mudar 94
12. As chances da democracia no Brasil 97
12.1 Um conceito de democracia 97
12.2 A democracia no contexto atual 98
12.3 A teoria da democracia aplicada ao caso brasileiro 101
12.4 A realidade põe a teoria em xeque 102
Gabarito 105
Referências 109
Apresentação
As ciências sociais surgiram muito recentemente, tendo por base e escopo um longo proces-
so de especialização do trabalho, que marcou a evolução do sistema de produção de riquezas e a 
forma de organização segmentada do conhecimento humano. 
Neste livro, recorreremos à analogia do corpo de organismos vivos, entendidos como sis-
temas, para compreender a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais que a civilização 
humana, em geral, e cada Estado-nação, de modo particular, desenvolveram ao longo da história.
Nessa abordagem, a organização dos sistemas que caracterizam as sociedades ou civilizações 
é formada por diversas partes, que se equivaleriam aos órgãos de um ser vivo. Essas partes não 
apenas se relacionam, mas também se expõem ao contato e à troca de influências mútuas com o 
ambiente externo a elas, transformando-se e evoluindo (ou involuindo).
Desse modo, todos os Estados-nações, assim como as civilizações agrícola, industrial e 
pós-industrial, abrangeriam subsistemas socioeconômico, político e cultural, combinando-se de 
maneira específica e distinta, como se tivessem uma personalidade, um código genético, à ima-
gem e semelhança dos seres humanos. Essa personalidade é chamada de identidade nacional nas 
ciências sociais. 
Nasce assim o “código genético” da nova civilização pós-industrial, cujos cromossomos pe-
netram como água em terreno irregular e nas veias de um sistema supercomplexo. Circula, de um 
lado para outro do planeta, em alta velocidade, um volume imenso de informações e riquezas tan-
gíveis e intangíveis. Para entendermos corretamente a complexidade desse fenômeno, em suas múl-
tiplas facetas e implicações, é preciso analisá-lo sob um novo enfoque, que ultrapasse a dimensão 
econômica e abandone a perspectiva de vê-lo apenas como uma nova etapa de um sistema antigo.
Com essa visão de sociedade como um grande sistema, percorreremos nesta obra temas 
como os grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade, a sociedade agrícola e a indus-
trial, o surgimento e desenvolvimento da globalização e a ordem internacional estabelecida no 
pós-Segunda Guerra Mundial. Trataremos também das características da sociedade pós-industrial 
e da crise nas identidades individual e coletiva da humanidade, além de discutirmos os sistemas de 
poder e suas representações. Nesse mesmo contexto, fechando a obra, discorreremos especifica-
mente sobre a sociedade brasileira como sistema, sua realidade e suas perspectivas democráticas. 
Tal como fazem os psicólogos e psicanalistas quando investigam os mistérios da mente para 
desvendar os meandros da matriz sistêmica de uma sociedade, é preciso compreendermos de ma-
neira aprofundada fatores como história, política, economia, sociologia, psicossociologia e cultura 
de uma nação. Afinal, a construção das sociedades é uma obra aberta e inacabada, que pode nos 
levar a um futuro melhor ou ao retrocesso. 
Boa leitura. 
1
As sociedades como sistemas
O surgimento das ciências sociais é relativamente recente. Ele se deu por meio de um longo 
processo de especialização do trabalho, que marcou a evolução do sistema de produção de rique-
zas e a forma de organização segmentada do conhecimento humano. As revoluções Francesa e 
Industrial – ocorridas nos séculos XVIII e XIX – cooperaram para o surgimento dessa ciência, e o 
pensamento positivista1 possibilitou sua solidificação ainda no século XIX.
Em virtude de ser uma nova área do conhecimento científico, suas teorias se fundamen-
taram em modelos e representações figurativas oriundas de outras ciências. Para construir seus 
próprios conceitos, empregaram-se sistemas teórico-metodológicos, categorias, metodologias e 
teorias provenientes de outrasáreas. A construção de analogias, com sistemas mecânicos ou com 
os corpos de organismos vivos, emprestadas das ciências exatas ou biológicas, era recorrente nas 
ciências sociais.
Neste capítulo, também recorreremos à analogia do corpo de organismos vivos, entendi-
dos como sistemas, para compreender a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais que a 
civilização humana, em geral, e cada Estado-nação, de modo particular, desenvolveram ao longo 
da história.
1.1 As partes e o todo
Para melhor entender os significados implícitos à ideia de sistema, é possível recorrer ao 
Dicionário Houaiss (2009) e destacar algumas de suas definições. Essas noções poderão ser úteis 
para a compreensão da aplicação que será feita em seguida.
Sistema
1 conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente organizados
1.1 conjunto de ideias logicamente solidárias, consideradas nas suas relações
1.2 conjunto de regras ou leis que fundamentam determinada ciência, fornecen-
do explicação para uma grande quantidade de fatos
[...]
1.3 distribuição e classificação de um conjunto de elementos segundo uma or-
dem estabelecida
[...]
1.4 [...] qualquer conjunto natural constituído de partes e elementos 
interdependentes
[...]
1 Doutrina filosófica de Auguste Comte (1798-1857) caracterizada pelo rigor científico e pelo emprego de metodolo-
gias quantitativas.
Sociedade e Contemporaneidade12
1.5. [...] arrolamento de unidades e combinação de meios e processos que visem 
à produção de certo resultado
1.5.1. [...] inter-relação das partes, elementos ou unidades que fazem funcionar 
uma estrutura organizada
[...]
conjunto das instituições econômicas, morais, políticas de uma sociedade, a que 
os indivíduos se subordinam (HOUAISS, 2009)
Ao observar atentamente essas definições, é possível encontrar categorias aplicáveis à análise 
e ao estudo de qualquer sistema, tais como: 
• relação entre as partes de um todo e do todo com as partes; 
• espécies diferentes de sistemas; 
• relação entre objetivos, meios e fins; 
• técnicas, métodos; 
• conjunto de normas ordenadoras das relações internas entre as partes de um todo;
• hábitos e costumes de organizações, grupos e/ou sociedades determinados.
Diante das diferentes definições e das categorias a elas relacionadas, serão tratados a seguir 
alguns aspectos relevantes para a aplicação às ciências sociais.
1.2 Interfaces e mútua dependência entre as partes
A organização dos sistemas que caracterizam as sociedades ou civilizações é formada por 
diversas partes, que se equivaleriam aos órgãos de um ser vivo. Para que o conjunto possa existir 
e funcionar, todos os organismos vivos, assim como os sistemas de qualquer tipo, necessitam que 
suas diferentes partes funcionem de maneira integrada e interdependente. As noções de funciona-
mento, de função das partes, de integração, de harmonia e de interdependência, além da ideia das 
partes vistas como órgãos de um sistema, também são recursos importantes para as analogias entre 
organismos vivos e sistemas sociais. Dessa forma, as noções de harmonia, de equilíbrio e estabili-
dade dos órgãos de um corpo seriam equivalentes, na teoria social, às noções de ordem pública, paz 
social, segurança, eficiência, entre outros conceitos. No sentido contrário, a desordem, os conflitos, 
a violência, a insegurança pública e a ineficiência das instituições seriam doenças do sistema.
Assim como acontece com os organismos vivos, as partes desses sistemas não apenas se 
relacionam, mas também se expõem ao contato e à troca de influências mútuas com o ambiente 
externo a elas. Além disso, ambos os sistemas (biológico e social) têm história, passado e memória. 
Aplicando um raciocínio inverso, isto é, se adotar os conceitos das ciências humanas para as ciên-
cias biológicas, não é errado admitir que os organismos vivos, de maneira análoga ao que acontece 
com os indivíduos e as sociedades e civilizações humanas, também têm história, experimentam 
processos de desenvolvimento específicos, são passíveis de influências e adaptáveis às circunstân-
cias impostas pela realidade, transformam-se e evoluem, ou involuem, conforme reagem às pres-
sões e trocas com o ambiente externo ao sistema.
As sociedades como sistemas 13
Subjacentes às ideias anteriormente desenvolvidas, podem estar conceitos como os de har-
monia, coesão, integridade e totalidade do sistema, mútua relação e dependência das partes entre 
si e com o todo, adaptabilidade, progresso, estagnação ou retrocesso. Todos esses conceitos são 
aplicáveis à análise de sistemas sociais e aos organismos vivos, entendidos também como sistemas.
1.3 As partes e suas funções
Seguindo a mesma linha de raciocínio, pode-se recorrer à analogia da função que o cérebro 
exerce nos seres humanos à noção da função que um governo exerce em relação a uma sociedade. 
Segundo Ferraz (2007, p. 1-2):
A concepção orgânica da sociedade e da política, portanto, sempre revelou-se 
atraente para os governantes que pretendiam enfatizar aquelas características 
nos seus governos. A forma de governo mais harmônica e compatível com esta 
concepção foi, e é, a monarquia. Grande parte dos teóricos da monarquia usa-
ram esta analogia, praticando muitas vezes uma interpretação literal das seme-
lhanças entre os dois organismos. De acordo com esta concepção de monarquia, 
o Rei equivalia à cabeça no corpo humano (dotada de razão e vontade), sede da 
sabedoria, e, por consequência, o órgão de comando do corpo físico ou político. 
Esta a razão para a escolha da decapitação como a punição extrema aplicada 
aos reis. Decapitar é separar a cabeça do corpo, eliminando o seu poder de co-
mandar o corpo. Decapitar um Rei foi sempre a maneira simbólica de remover 
a ”cabeça do reino”, o seu governante, rompendo todos os vínculos de hierarquia 
e comando que dele partiam para a sociedade.
Mediante outros raciocínios análogos, pode-se dizer que o governo equivale ao cérebro de 
um sistema político, o parlamento ao órgão do sistema Estado, que pulsa conforme a influência dos 
fluxos de pressão popular. Os fluxos de pressão popular, nesse caso, podem ser entendidos como 
equivalentes funcionais ao papel que a corrente sanguínea exerce no organismo humano, especial-
mente em relação ao papel do subsistema cardiovascular para o corpo humano. Da mesma forma, 
os partidos, os sindicatos e os grupos de pressão podem ser vistos como as veias por meio das quais 
o fluxo sanguíneo da pressão popular chega ao parlamento (coração) e, com base nele, chegam ao 
cérebro, que responde ao estímulo da irrigação sanguínea com o atendimento da demanda social. 
Isso, é claro, em um sistema saudável.
1.4 Estabilidade e ruptura do sistema
O recurso a esse artifício nem sempre permite um alto grau de precisão analógica entre os 
órgãos ou organismos vivos e as partes de um sistema e/ou a um sistema social como um todo. 
Ferraz (2007, p. 2) identifica o problema ao afirmar que:
o organismo, seja ele qual for, está sujeito à dinâmica da homeostasis, isto é, 
a retornar a um ponto de equilíbrio natural. O princípio da homeostasis, 
portanto, implica a existência de um estado de equilíbrio natural no or-
ganismo, que corresponde ao satisfatório funcionamento dos seus órgãos. 
Qualquer distúrbio que altere este equilíbrio provoca mudanças adaptati-
vas para recuperá-lo. No organismo humano, este ponto de equilíbrio cor-
responderia ao estado de saúde do corpo. Já na sociedade, este ponto de 
Sociedade e Contemporaneidade14
equilíbrio tenderia a valorizar, de maneira excessiva, a estabilidade sobre 
a mudança. Em outras palavras, a concepção organicista da sociedade e 
da política tende a privilegiar uma visão conservadora, onde a homeostasis 
funciona para a preservação do status quo. Mudanças de maior porte, assim 
como criação de novos órgãos, ou remanejo de funções entre órgãos, aco-
modam-se com dificuldade dentro desta concepção. Será outra analogia, 
a mecânica, preponderante durante os séculos XVI e XVII, que será usada 
pelos homensque vão construir novas nações (Revolução Americana) ou 
reformar profundamente as estruturas políticas de nações antigas, como a 
Inglaterra e a França.
As noções de equilíbrio, estabilidade, harmonia, entre outras, podem servir às teorias sociais 
que têm como foco a preservação da ordem social e do bom funcionamento de uma sociedade 
determinada e existente. Esse pressuposto implica a identificação da posição ideológica e do enfo-
que do cientista social que aplica esse modelo, com a preservação do status quo (estado que existia 
antes) vigente nesse sistema social determinado.
As teorias que adotam esse tipo de enfoque entendem que os eventuais processos de mu-
dança social devem ter caráter reformista, isto é, servem como processos de adaptação a novas 
exigências do ambiente interno e/ou externo ao sistema. Essa adaptação deve ocorrer obedecendo 
às regras previstas e vigentes, definindo formas pacíficas pelas quais – de maneira gradual e em 
um ritmo condizente com o equilíbrio do todo – as mudanças podem e devem acontecer, sem a 
desestabilização ou a ruptura do todo. 
No entanto, existem algumas correntes de pensamento da teoria social que entendem a evolução 
da história por meio de conflitos e rupturas, descartando, portanto, as analogias orgânicas como recurso 
adequado à compreensão dos fenômenos relacionados à ação dos seres humanos em sociedade. 
1.5 Aplicação do modelo ao objeto de estudo
O conceito de sistema pode ser aplicado em duas situações distintas: a primeira se relaciona 
à ideia de Toffler (1985) sobre as três ondas civilizatórias que marcaram o desenvolvimento da 
humanidade ao longo da história; a segunda aplica o conceito de sistema à análise da sociedade 
brasileira como Estado-nação. Nos dois casos, o conceito de sistema aplica-se à ideia de que uma 
civilização, ou uma sociedade nacional qualquer, pode ser vista como um sistema composto por 
partes ou subsistemas. As partes que compõem o todo – o grande sistema – seriam o subsistema 
econômico, social, político, cultural, e assim por diante. Todos funcionam de maneira inter-rela-
cionada e interdependente. 
As ondas civilizatórias de Toffler (1985) correspondem ao sistema de produção de ri-
queza predominante em cada um dos períodos descritos como: civilização agrícola; civilização 
industrial e civilização pós-industrial, definidos pelo autor como primeira onda, segunda onda e 
terceira onda, respectivamente. O conceito de subsistema econômico aplicado à análise da socie-
dade de base agrícola pressupõe o modo de produção baseado no método artesanal de produção, 
tanto na agricultura quanto na confecção de utensílios para uso pessoal, familiar ou troca, que 
As sociedades como sistemas 15
vigorou nas civilizações desde o tempo em que o homem saiu das cavernas (pré-história) até o 
fim da era feudal. 
As sociedades com esse sistema de produção contavam com subsistemas sociais especí-
ficos (organização comunitária baseada em aldeias, organização familiar baseada em grandes 
núcleos de convivência necessários ao trabalho braçal nas unidades de produção rural familiar 
etc.). Da mesma forma, as relações de poder (subsistema político baseado na mistura entre re-
ligião e liderança, baixa complexidade e poucos níveis hierárquicos entre líderes e liderados) 
dessas sociedades têm formas próprias de organização e funcionamento, o mesmo ocorre com o 
subsistema cultural (religião, costumes, valores e rituais correlatos).
A matriz conceitual implícita à ideia de sistema apresentará sua aplicação correspondente 
quando usada para o estudo da civilização, cujo subsistema econômico estava baseado no indus-
trialismo tradicional. A indústria de tipo tradicional usava, predominantemente, tecnologias mecâ-
nicas, trabalho especializado, produção em massa e seriada por meio de métodos de padronização 
e sincronização da produção fabril, na qual o trabalho braçal repetitivo predominava como impul-
sionador da produtividade do sistema. Sob a vigência desse sistema, desenvolveram-se formas de 
organização social (cidades, núcleo familiar reduzido devido à mobilidade urbana do trabalhador 
fabril), política (democracia representativa, Estado-nação, burocracia etc.) e cultural correspon-
dentes, típicas e distintas daquelas que existiam sob a sociedade de base agrícola. 
O mesmo esquema teórico-metodológico permite aplicar a analogia orgânica ao estudo 
da sociedade pós-industrial emergente, cujo sistema produtivo baseia-se em tecnologias e co-
nhecimento (subsistema econômico), que por sua vez concebe seus correlatos, subsistema social, 
político, cultural e assim por diante. A sociedade pós-industrial está em processo inconcluso de 
formação, mas, como sistema, já insinua a formação de seus subsistemas social, político, cultu-
ral, que são objeto de análise, debate e estudo central das ciências sociais contemporâneas.
Finalmente, o modelo também se aplica aos casos de sociedades nacionais. Todas os Estados-
-nações, tal como as diferentes civilizações, agrícola, industrial e pós-industrial da teoria de Toffler, 
podem ser vistas como sistemas cujos subsistemas social, econômico, político e cultural combi-
nam-se de maneira específica e distinta, como se tivessem uma personalidade e um código genéti-
co à imagem e semelhança dos seres humanos.
Atividades
1. Além das analogias entre organismos vivos apresentados neste capítulo, quais outras ana-
logias equivalentes você conseguiria fazer entre sistemas biológicos e/ou mecânicos e sis-
temas sociais?
2. Sob o enfoque de um sistema social comparado a um organismo vivo, quais fatos sociais 
atuais poderiam ser utilizados como exemplos de doenças da sociedade contemporânea?
2 
Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
2.1 Para entender como a sociedade muda
A sociedade contemporânea experimenta um ciclo de transformações intensas, com impli-
cações e consequências sobre o presente, o futuro da humanidade e condições de vida no planeta. 
A humanidade, mais numerosa do que antes, controla tecnologias de produção e destruição so-
fisticadas e poderosas. A organização e o funcionamento da sociedade humana nunca foram tão 
complexos. Ao acompanhar o noticiário, os fatos parecem anunciar a iminência do fim do mundo: 
guerras, terrorismo, fanatismo religioso, crime organizado, corrupção, falência dos serviços públi-
cos e do sistema de previdência social, manifestações violentas de insatisfação com governantes, 
catástrofes ambientais de grandes proporções, alterações climáticas, entre outros.
Para entender essas mudanças, é possível recorrer mais uma vez à abordagem de Toffler. Sua 
teoria é a principal referência para a explicação aqui desenvolvida. Segundo o autor, as turbulências 
presentes no cenário mundial não prenunciam o “fim do mundo” como muitos podem pensar, 
mas indicam disputas por novos espaços de poder em função da falência das instituições sociais e 
políticas atuais e da emergência de um novo sistema social.
Toffler defende a ideia de que essas mudanças obedecem a um padrão passível de ser identi-
ficado, são cumulativas e contribuem para uma gigantesca transformação na maneira que as socie-
dades vivem. Seu ponto de vista é de que a nova civilização que está emergindo traz consigo novos 
estilos de família, modos de trabalhar e viver, uma nova economia, novos conflitos políticos e uma 
nova forma de pensar e perceber a realidade que se descortina (TOFFLER, 2001).
O esforço do autor orienta-se para a tentativa de educar o olhar para a percepção dos sinais 
que revelam o sentido e o padrão das transformações em curso que ele considera a chave para a 
compreensão do que nos espera no futuro. O sistema teórico desenvolvido pressupõe a existência 
de relações de influência mútua entre os subsistemas (econômico, social, político e cultural) de 
cada onda civilizatória. Para Toffler, a base dos sistemas sociais de cada civilização assenta-se sobre 
o sistema de produção de riqueza – ou subsistema econômico – de cada um desses períodos da his-tória da humanidade. A produção de riqueza, por sua vez, apoia-se em tecnologias determinadas. 
Por tecnologias entende-se não apenas os instrumentos (ferramentas, máquinas etc.) utilizados na 
produção daquilo que a sociedade necessita para se sustentar e se desenvolver, mas os métodos de 
organização, funcionamento e gestão da produção em cada uma dessas etapas históricas.
O desencadeamento dos processos de transformação da matriz sistêmica de uma onda em 
outra, isto é, da transformação da civilização agrícola em industrial e da civilização industrial em 
pós-industrial, parte da descoberta de novas tecnologias. Essas descobertas desencadeiam mudan-
ças na organização dos sistemas de produção que vão, gradativamente, tendo seu uso expandido 
até ganhar escala predominante sobre a matriz produtiva anterior. À medida que a escala de uso 
Sociedade e Contemporaneidade18
das novas tecnologias se amplia e impulsiona mudanças na organização da produção, começam, 
simultaneamente, a se processar transformações comportamentais, individuais e coletivas na vida 
dos indivíduos envolvidos com as atividades do sistema produtivo emergente. Com o tempo, essas 
transformações extrapolam o âmbito da produção e passam a provocar transformações sociais e 
culturais em proporções cada vez mais abrangentes, pois o trabalho ocupa maior parte do tempo e 
influencia o modo de vida dos indivíduos em todas as sociedades.
Como consequência, as mudanças nos subsistemas econômico, social e cultural impulsio-
nam alterações nas relações de poder nos âmbitos micro e macropolítico do tecido social. Aos 
poucos se estabelece um conflito de interesses entre a elite emergente, ligada ao novo sistema em 
expansão, e a elite decadente, que conquistou posições de poder e influência no seio do sistema de 
produção e está se deteriorando e cedendo lugar às novas relações sociais e de produção. Toffler 
propõe que a análise seja voltada para o que ele chama de frente da onda (a ponta mais avançada 
dos processos de mudança) de modo a direcionar o foco do observador não tanto para as conti-
nuidades históricas, mas para as descontinuidades, ou seja, para as inovações e interrupções que 
possibilitam identificar os padrões-chave da mudança para se tornarem nítidos e agirem sobre e 
por meio deles (TOFFLER, 2001). Para ele, toda vez que uma onda de mudança passa a predomi-
nar em uma determinada sociedade, torna-se relativamente fácil identificar o padrão de desenvol-
vimento futuro (projetar tendências), o que permite aos indivíduos, empresas e governos escolher 
ou construir os caminhos que querem percorrer e as posições que querem ocupar no novo sistema.
Toffler propõe entender simultaneamente o velho e o novo sob um ponto de vista teórico 
inédito. Para ele, as teorias desenvolvidas no passado para a compreensão do velho sistema tam-
bém se tornam obsoletas com a decadência do sistema social superado. Esse é um pré-requisito 
para quem quiser se tornar beneficiário e não vítima das transformações em curso. Para uma cor-
reta compreensão dessa teoria, é importante entender que esses processos de transformação não se 
dão de forma mecânica e linear. As diferentes ondas civilizatórias podem compartilhar o mesmo 
espaço-tempo de tal modo que em determinadas nações, sociedades ou regiões do mundo, é pos-
sível que convivam indivíduos, organizações e setores econômicos ligados ao sistema de produção 
agrícola tradicional, ao sistema industrial da “era das chaminés” e/ou aos setores de alta tecnologia, 
típicos da sociedade pós-industrial emergente.
Para Toffler (2001), boa parte dos conflitos e das crises sociais e políticas da sociedade atual 
se explicam pela incompatibilidade entre os paradigmas sistêmicos (interesses, mentalidades, cul-
tura, regras e organizações) das diferentes ondas civilizatórias. Nesse contexto, o ambiente social 
torna-se conflituoso, pois a elite decadente não quer perder o poder e as vantagens que adquiriu no 
passado, e luta para impedir a mudança, ao passo que aqueles que estão ligados ao novo sistema de 
produção de riqueza e sua lógica lutam para impor seus interesses e para fazer valer suas posições 
nas novas relações de poder. Nesse processo, os graus de inserção de indivíduos, organizações, 
empresas, regiões e nações dependem da intensidade com que estão envolvidos pelas novas tecno-
logias de produção e pelas relações sociais que elas delineiam.
A civilização assentada sobre o sistema de produção agrícola-artesanal teve início há cerca 
de 10 mil anos, com a descoberta da agricultura. A civilização industrial durou aproximadamente 
Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 19
300 anos. Segundo Toffler, a terceira onda civilizatória teve poucas décadas para completar seu 
ciclo de mudanças, ou seja, trata-se de um conjunto de mudanças que já são e serão ainda mais 
sentidas no decorrer dos anos (TOFFLER, 2001).
A velocidade das transformações é outra dimensão desse processo; a rapidez com que novas 
tecnologias são descobertas e postas a serviço da sociedade torna a mudança veloz e constante, 
uma característica estrutural intrínseca e permanente do novo sistema. Eventualmente, não é pos-
sível perceber a abrangência e a profundidade dessas mudanças. Pode-se citar como exemplos: 
as estruturas familiares do casamento estável e monogâmico – que estão sendo substituídas por 
inúmeras outras formas e configurações de organização familiar, as quais impactam diretamente o 
sistema de crenças e valores que predominou no período precedente da história –; as crises econô-
micas e políticas localizadas – que se expandem rapidamente por meio de redes de comunicação 
interligando pessoas e instituições –; os novos combustíveis, as novas fontes renováveis de energia, 
as novas matérias-primas; os métodos inovadores de gestão da produção, que varrem as máquinas 
e as linhas de montagem obsoletas das fábricas tradicionais. 
Empresas vão à falência e surgem tantas outras; surgem também novas atividades econômi-
cas e novos postos de trabalho. A economia de serviços se sobrepõe à produção fabril. O trabalho 
braçal e algumas atividades produtivas que requerem conhecimento específico são automatizadas 
e robotizadas. Os empregos do antigo sistema desaparecem. Impérios desmoronam da noite para 
o dia, fronteiras se desmancham, nações se fundem, diluem fronteiras e constroem novas institui-
ções inspiradas no paradigma estrutural das redes (CASTELLS, 1990).
O futuro promissor não está garantido. A humanidade já experimentou o retrocesso em seu 
padrão civilizatório. É possível compará-lo ao tipo de vida e desenvolvimento cultural atingido no 
apogeu das civilizações grega e romana com as condições sociais que se viviam na era feudal. Todavia, 
Toffler (2001) acredita que, mesmo com os avanços e benefícios sociais que a transformação da 
sociedade agrícola em sociedade industrial proporcionou à humanidade (aumento da expectativa 
de vida e das condições gerais de sobrevivência do homem sobre a Terra), nem todos os problemas 
da sociedade foram resolvidos. Novos problemas, resultantes do impacto do sistema de produção de 
riquezas baseado no modelo fabril, surgiram. O futuro, estruturado pelo paradigma sistêmico das redes 
tecnológicas, poderá oferecer uma vida melhor do que aquela sob a vigência da sociedade industrial.
2.2 A pré-história
Na pré-história a subsistência (subsistema econômico) estava baseada na caça, na pesca, na 
coleta de frutos da natureza e no saque de outros grupos humanos. Os povos ancestrais viviam 
em bandos nômades (subsistema social). Dentro desses bandos, as relações de poder (subsistema 
político) eram simples e pouco hierarquizadas. Vigorava o poder da força do líder, que se impunha 
sobre os demais pelo uso da violência. O sistema social apresentava baixo grau de complexidade. 
A natureza dominava o homem, impunha suas regras e provocava medo.
A vida em grupos nômades era consequência direta do modo de subsistência. O grupo faci-
litava a defesa contra animais,contra as adversidades impostas pela natureza e contra outros gru-
pos humanos. A condição de nômades, isto é, de indivíduos obrigados a se deslocar pelo território 
Sociedade e Contemporaneidade20
de tempos em tempos, era imposta pela escassez de alimentos, pelas mudanças do clima, ou pela 
ameaça de animais e outros bandos. A agricultura surgiu para modificar a maneira de viver da-
quele período e deu ao homem a capacidade de coletar grande quantidade de sementes, preparar a 
terra, plantar, colher e armazenar alimentos para consumir no inverno e tornar sua vida melhor. A 
consolidação dessa prática (por meio de um longo processo) criou uma nova forma de produção 
de riqueza, cuja base passou a ser a agricultura tradicional.
2.3 A sociedade agrícola
Durante os 10 mil anos subsequentes, a agricultura tradicional e o artesanato foram as prin-
cipais formas de produção de riqueza. A sociedade, durante esse longo período, assumiu formas de 
organização (subsistema social), de crenças e valores (subsistema cultural) e de algumas relações 
de poder (subsistema político), que tinham ligação direta com o fato de a agricultura e o artesanato 
serem a base do subsistema econômico.
Para viver da agricultura foi preciso se fixar no território e criar outro tipo de organização 
social, baseada em aldeias e grandes famílias, dando fim aos bandos nômades. A sociedade ensaia-
va os primeiros passos na longa jornada para domar a natureza e colocá-la a seu serviço. Os deuses 
e demônios da época eram as forças da natureza que o homem temia ou admirava: tempestades; 
raios e trovões; vulcões; terremotos; enchentes e secas; o sol e a lua; as estações do ano. Os sacerdo-
tes que se “comunicavam” com os deuses, isto é, conheciam as forças da natureza, detinham poder 
e exerciam influência sobre comunidades ignorantes. 
Os templos religiosos eram edificações robustas, melhor localizadas, e em virtude disso ser-
viam para armazenar alimentos protegidos pelos poderes mágicos dos feiticeiros que pediam aos 
deuses proteção e boas safras. O exercício do poder na civilização agrícola nascia ligado à religião. 
O conhecimento religioso explicava e justificava a ordem social e política e fornecia as regras mo-
rais necessárias à preservação da unidade e harmonia do sistema. 
A organização da sociedade agrícola era mais hierarquizada e complexa do que na fase an-
terior. Na aldeia existiam indivíduos que iam à roça todo dia, outros que permaneciam no local de 
moradia preparando alimentos para os que foram trabalhar e, ainda, um destacamento armado para 
proteger a aldeia e o lugar onde eram guardados os alimentos que garantiam a sobrevivência nas 
adversidades. Dessa forma, a mudança no subsistema econômico, impulsionada pela descoberta e di-
fusão da tecnologia agrícola, gerou mudanças no subsistema social e cultural e no subsistema político.
2.4 A sociedade industrial
A invenção das máquinas combinada com o trabalho especializado em linha de produção 
gerou um novo ciclo de grandes transformações, o qual historiadores e cientistas sociais cha-
mam de Revolução Industrial. A mecanização da produção agrícola combinada com o surgimento 
das fábricas produziu o fenômeno da industrialização (subsistema econômico). A partir de en-
tão, massas humanas abandonaram o campo e passaram a se concentrar no entorno das fábricas. 
A industrialização impulsionou a urbanização. As famílias se tornaram menores; os operários 
Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 21
deslocavam-se de uma cidade para outra em busca de emprego, junto de suas esposas e filhos. Sob 
essas circunstâncias, as grandes famílias necessárias à agricultura tradicional – devido à importân-
cia do trabalho braçal para a produtividade do trabalho na terra – não tinham como sobreviver e 
começaram a desaparecer (subsistema social). Com o povo concentrado nas cidades, em torno das 
catedrais e das sedes do poder, não tardou para que a política sofresse o impacto das transforma-
ções provocadas pela emergência da sociedade industrial e seu sistema de poder.
Aos poucos, os povos europeus que tinham algum tipo de identidade cultural, proximidade 
territorial ou interesses econômicos comuns se agruparam. A sociedade feudal, com formações 
políticas, sociais e as unidades de produção do último estágio da sociedade agrícola, deu lugar 
aos Estados nacionais. Em seguida, os Estados-nações experimentaram revoluções políticas que 
deram origem às democracias modernas, baseadas na separação entre Estado e Igreja, na ordem 
constitucional, na separação dos poderes e nos regimes de governo parlamentarista ou presiden-
cialista (subsistema político) que vigoram até hoje, em substituição à ordem política vigente na 
Idade Média, na qual a aristocracia e o clero controlavam o poder e na qual o povo não participava 
da política. O industrialismo organizou a sociedade à sua imagem e semelhança, pelo menos até o 
fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
2.5 A sociedade pós-industrial
As pesquisas científicas desenvolvidas para atender às necessidades da guerra em tempos de 
paz deram origem a três novas descobertas revolucionárias: o avião a jato, a televisão e o computa-
dor. Da década de 1950 até a década de 1970 essas invenções se desenvolveram, ganharam escala, e 
foram, desde então, usadas de maneira generalizada como verdadeiros motores do novo subsiste-
ma econômico da sociedade pós-industrial.
O impacto de seu uso em escala na economia deu origem a um novo ciclo de transformações 
estruturais no sistema de produção de riqueza da sociedade. Surgiram as telecomunicações e as 
redes, que interligaram sistemas de troca de imagens, sons, dados e texto em tempo real. O avião a 
jato, antes usado para fins militares, por exemplo, transformou-se em um meio de transporte usado 
em larga escala para fins comerciais. 
A sociedade pós-industrial nasceu baseada nas altas tecnologias e no paradigma das redes. 
Nela, a economia de serviços passou a predominar sobre a produção fabril e a informação e o co-
nhecimento se tornaram fatores-chave para a aquisição de poder político e econômico na socieda-
de das redes. As redes de comunicação revolucionaram a produção. Além disso, a sincronização e 
a padronização, típicas da produção na linha de montagem do chão da fábrica, foram substituídas 
pela assincronia e pela segmentação da produção e do consumo (subsistema econômico). 
O trabalho deixou de ser exclusivo da fábrica e do escritório. É possível trabalhar em casa 
conectado em rede com a empresa e com horários flexíveis. Morar afastado dos grandes centros ur-
banos não é mais um empecilho, a tecnologia permite a proximidade virtual e a conexão em tempo 
real, mesmo com a distância física. As fábricas não estão mais concentradas nos grandes centros 
urbanos; as cidades se tornaram centros de serviços. A concepção de família também se modificou 
e continua se modificando (subsistema social). 
As velhas estruturas de poder da sociedade industrial estão ruindo. Burocracia, ineficiên-
cia, corrupção e falência financeira e administrativa contaminam o aparato do Estado. Governos 
nacionais veem seus poderes deslocados para novas instituições globais. Comunidades regionais 
insurgem contra governos nacionais e exigem autonomia para o poder local. Agir localmente e 
pensar globalmente é o lema da nova era.
Embora o cenário mundial seja de grandes transformações, a reverberação das relações so-
ciais e de poder da velha ordem industrial ainda continuam a se espalhar em certas regiões do 
mundo. Os vestígios da sociedade agrícola já se estabilizaram. No entanto, muitos países, de acor-
do com Toffler (2001, p. 26), ainda “se apressam a construir siderúrgicas, fábricas de automóveis, 
fábricas de têxteis, estradas de ferro e fábricas de processamento de comidas, revelando que a se-
gunda onda [isto é, a civilização industrial] ainda não esgotou sua força”, mesmo que os ventos da 
terceira onda (a pós-industrialização) já impulsionem mudanças estruturais. Países comoo Brasil, 
por exemplo, experimentam o impacto simultâneo de três ondas civilizatórias, “movendo-se de 
forma diferente, por razões diferentes, com velocidades diferentes e com diferentes graus de força” 
(TOFFLER, 2001, p. 28). 
Segundo Toffler, a primeira onda ocorreu aproximadamente em 8000 a.C. e predominou 
sobre nossa civilização entre 1650 e 1750 d.C., quando a segunda onda atingiu seu apogeu entre os 
anos de 1955 a 1965. Para ele, o marco central da transição aconteceu, nos Estados Unidos, quando 
“os trabalhadores de colarinho branco e os prestadores de serviço excederam em número os tra-
balhadores de macacão” (TOFFLER, 2001, p. 28), ou seja, quando as estatísticas socioeconômicas 
oficiais do governo norte-americano revelaram que a economia de serviços começava a predomi-
nar sobre a economia industrial tradicional, coincidindo com a expansão do uso dos computadores 
e dos aviões a jato.
O quadro a seguir sintetiza os principais fatores relacionados à teoria das ondas civilizatórias.
Quadro 1 – Síntese esquemática da teoria das ondas civilizatórias
Pré-história
Primeira onda:
revolução agrícola
(10.000 anos)
Segunda onda:
revolução 
industrial
(300 anos)
Terceira onda:
revolução 
tecnológica
(50 anos)
Símbolo de poder
Uso da força 
(violência)
Propriedade da terra
Propriedade das má-
quinas e do dinheiro
Conhecimento
Sistema de 
produção
Caça, pesca, 
coleta, saque
Agricultura, 
artesanato
Fábricas 
Redes, economia de 
serviços, economia 
simbólica, transna-
cionais
(Continua)
Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade 23
Pré-história
Primeira onda:
revolução agrícola
(10.000 anos)
Segunda onda:
revolução 
industrial
(300 anos)
Terceira onda:
revolução 
tecnológica
(50 anos)
Sistema social Bando nômade
Aldeia, família 
tradicional
Cidade, núcleo 
familiar
Megacidades como 
centros de serviços, 
descentralização 
urbana, ausência de 
padrão familiar
Sistema de poder
Dois níveis hie-
rárquicos (líder e 
bando), sucessão 
pela violência
Fusão religião/poder 
(Estado/Igreja), 
justificação pelo 
direito divino, 
sucessão por heran-
ça consanguínea
Estado-nação, 
República, separação 
Estado/Igreja, demo-
cracia representativa, 
burocracia
Megablocos, Estado 
em rede, democracia 
cibernética
Para Toffler (2001, p. 31), compreender que “está se travando uma luta violenta entre os que 
procuram preservar o industrialismo e os que procuram suplantá-lo” é importante para entender 
o contexto mundial. Além disso, o entendimento dessas questões auxilia o estabelecimento de nor-
mas para uma nação, estratégias para uma empresa ou até mesmo os objetivos pessoais.
Atividades
1. Com base nos conteúdos estudados, descreva de qual maneira se processam as transforma-
ções estruturais das sociedades.
2. Segundo Toffler, qual fator desencadeou a emergência da segunda onda e de qual maneira 
esse fator, ao se generalizar e se transformar em um fenômeno abrangente, influenciou o 
comportamento social, as formas de vida em sociedade e a organização jurídica e política da 
civilização humana?
3. No seu entender, por que o avião a jato e o uso da informática combinada com as teleco-
municações são as tecnologias que estão revolucionando a economia e causando impacto 
sobre as demais dimensões da vida na sociedade contemporânea (comportamento, cultura, 
estruturas sociais e políticas)?
3
A sociedade agrícola
A sociedade agrícola durou, aproximadamente, dez mil anos: das primeiras aldeias primiti-
vas, que foram se formando muito lentamente após a pré-história, até a Idade Média, considerada 
para o mundo ocidental o apogeu da era agrícola. Ao longo desse período, a evolução do processo 
civilizatório aconteceu lentamente e assumiu formas diferenciadas conforme os povos do mundo 
viviam suas experiências. Em momentos distintos, em lugares diferentes do planeta, sociedades 
diversas desenvolveram-se e construíram civilizações culturalmente sofisticadas. Incas, maias, 
astecas, egípcios, árabes e os povos orientais acumularam muito conhecimento e criaram sistemas 
sociais complexos e hierarquizados, com graus variados de institucionalização das suas estruturas 
sociais e de poder.
Para fins de aplicação do conceito de sistema social e seus subsistemas (econômico, político 
e cultural), a estrutura básica de todas essas sociedades mostrou-se invariável. Todas tinham na 
agricultura e no método artesanal de produção seu subsistema econômico. Suas bases sociais e cul-
turais apresentavam similaridades em sua organização e sistemas de crenças e valores (subsistema 
cultural). A vida isolada no campo e o misticismo religioso como base dos valores morais formado-
res da vida social eram presentes em todas elas. O poder exercido por líderes que eram ao mesmo 
tempo chefes militares e religiosos caracterizava também seus subsistemas políticos.
No entanto, foi no berço das civilizações grega e romana que se constituíram as experiências 
civilizatórias por meio das quais nasceu e floresceu a sociedade ocidental. Foi nessa sociedade – 
mais precisamente na Europa, onde se difundiu o modelo hegemônico de sociedade no mundo 
moderno – que se desenvolveram processos específicos que possibilitaram o surgimento do sis-
tema de produção de riquezas baseado no modelo fabril que constituiria a civilização industrial.
Para fins de aplicação do conceito de sistema social e seus subsistemas (econômico, político 
e cultural), a estrutura básica de todas essas sociedades mostrou-se invariável. Todas tinham na 
agricultura e no método artesanal de produção seu subsistema econômico. Suas bases sociais e cul-
turais apresentavam similaridades em sua organização e sistemas de crenças e valores (subsistema 
cultural). A vida isolada no campo e o misticismo religioso como base dos valores morais formado-
res da vida social eram presentes em todas elas. O poder exercido por líderes que eram ao mesmo 
tempo chefes militares e religiosos caracterizava também seus subsistemas políticos.
A civilização grega, o Império Romano e o cristianismo – que se difundiu no mundo ociden-
tal com as conquistas romanas dos territórios – plantaram as sementes do sistema social vigente até 
hoje em todo o mundo ocidental. A noção de democracia – sociedade hierarquizada, organizada 
e governada por instituições verticais de poder, mediada por regras escritas, valores morais e base 
da separação entre a religião e o poder de Estado – nasceu e se desenvolveu a partir do período 
clássico da história da Grécia Antiga, atravessou mil anos de dominação romana sobre o mundo 
e atingiu seu apogeu no final da Idade Média, às vésperas da formação dos Estados absolutistas.
Sociedade e Contemporaneidade26
Entender as formas de desenvolvimento dessas experiências civilizatórias é o primeiro passo 
para compreender como se estruturou o sistema complexo da sociedade industrial moderna, em 
que foi inventada a tecnologia de produção de riqueza que permitiu a superação da civilização 
agrícola e sua conversão em civilização industrial.
3.1 A civilização grega
Na Grécia, no período anterior ao século V a.C., a sociedade se estratificava em dois grandes 
segmentos: grandes famílias proprietárias de terra – que exerciam autoridade sobre o povo com-
posto por artesãos, agricultores e pescadores – e, nos demais territórios da Europa e adjacências, 
povos bárbaros sobre os quais déspotas impunham dominação apoiados em castas religiosas, ad-
ministrativas e militares. Desde cedo, os gregos revelaram características culturais que os diferen-
ciavam dos povos bárbaros: a valorização do conhecimento e a propensão para dirimir conflitos 
entre seus membros de forma não violenta. Na Grécia anterior ao século V a.C. surgiram os nomo-
tetas, espécie de embrião daquilo que, muitos séculos depois, transformou-se nas instituições dos 
poderes Legislativo e Judiciário. Os nomotetas eram indivíduos escolhidos pela comunidade em 
função de seu conhecimento para enunciar os critérios de julgamento dos conflitos entre membrosda comunidade em uma época em que inexistiam a lei escrita e os tribunais.
No período clássico grego – século V a.C. até a dominação macedônica no século IV a.C. 
(CASTRO, 2014) –, os gregos deram os primeiros e decisivos passos na direção daquilo que com-
preendemos como sociedade ocidental. Nesse período, as cidades-Estados gregas (pólis), como 
Atenas e Esparta, testemunharam uma onda de expansão do comércio, assim como na política, 
na filosofia, nas ciências etc., sobretudo em Atenas. Foi também nessa época que filósofos como 
Platão e Aristóteles construíram seus legados no pensamento político da sociedade ocidental.
Aristóteles, por exemplo, entendia que a família tradicional e a aldeia, características dos 
tempos de outrora, eram formas rudimentares de organização social. Ao viver isolados no campo, 
no âmbito familiar e em aldeias, os homens existem para a sobrevivência e não são senhores do 
seu destino, mas sim escravos dos acontecimentos. Desse modo, não é o homem que conduz sua 
vida, é a vida, como sucessão de acontecimentos casuais, que conduz o indivíduo isolado até o fim 
de sua existência.
Para esse pensador, a pólis é um modo superior de organização social; a cidade é o lugar da 
realização da virtude humana (logos: conhecimento, inteligência) que nos diferencia dos animais 
(CHÂTELET, 1994, p. 14-15). A vida na cidade impõe aos cidadãos a necessidade de pensar e deli-
berar sobre seu destino coletivo e, consequentemente, obriga-os a raciocinar e agir estrategicamen-
te para projetar o futuro desejado, estabelecer metas e caminhar na direção de objetivos coletivos, 
enfim, fazer política.
Nesse sentido, a política é entendida como a ação coletiva dos cidadãos para definir o des-
tino coletivo de sua comunidade. Para os gregos, a escolha do destino a ser seguido se dava pelo 
voto direto da maioria dos cidadãos, reunidos em assembleias populares e em praças públicas. Por 
esse motivo, os gregos são considerados os pais da democracia. A ideia de democracia, como prin-
cípio de processamento das decisões coletivas da sociedade, ressurge com o fim da Idade Média, 
A sociedade agrícola 27
na esteira do renascimento das cidades, impulsionadas pela revolução comercial nos séculos que 
marcaram o nascimento do capitalismo. Essa maneira de processar decisões coletivas por meio da 
persuasão pela retórica e pelo voto da maioria, inventada pelos gregos, é chamada de democracia 
direta, a qual estabelece relações de igualdade entre os cidadãos.
Essa ideia de igualdade, com ideia de democracia, também norteou os princípios funda-
dores do Estado moderno. Os princípios filosóficos implícitos às ideias de deliberação coletiva 
apoiada no voto da maioria e de igualdade entre os membros da sociedade com direito de decidir, 
no caso dos gregos, devem ser entendidos em sua dimensão histórica e evolutiva comparada ao 
padrão de desenvolvimento social humano da época. De fato, se comparada à compreensão dos 
conceitos de democracia e de igualdade entre os membros da sociedade hoje em dia, não se pode 
considerar a sociedade grega igualitária e democrática. Apenas os homens tinham direito de voto 
nas assembleias populares, ou seja, jovens, mulheres e escravos não votavam. Para os gregos, o 
homem tem natureza divina, porém nos escravos, que, em geral, eram adversários derrotados em 
guerras, o divino estava ausente.
A ideia de liberdade que vigorava entre os gregos – tão cara à sociedade ocidental moderna e 
aos princípios das revoluções libertárias que varreram a Europa na esteira da Revolução Industrial 
– também precisa ser compreendida no contexto específico da época. A vida na pólis grega, como 
organização capaz de defender seus cidadãos na guerra – logo, de impedir sua escravização pelos 
vencedores – era a garantia de sua liberdade. Portanto, para o cidadão grego, participar do processo 
de deliberação coletiva de sua pólis, isto é, fazer política, era uma imposição, uma necessidade, uma 
obrigação, não uma livre opção, como é atualmente. A ideia de liberdade (usada pelos gregos, mas 
em outro contexto e com outro significado) também ressurgiu como combustível das transformações 
políticas que as revoluções comercial e industrial provocaram na Europa após o fim da Idade Média.
Para uma análise do processo de evolução civilizatória da humanidade, o que interessa é a 
realidade de direito e não a realidade de fato. Os gregos, diferentemente dos povos bárbaros, de-
cidiram que os conflitos internos à comunidade seriam equacionados pelo voto da maioria, e não 
pelo uso da força. Essa ideia, como princípio, é que inspirou as formas democráticas de poder que 
a humanidade desenvolveu, notadamente, após as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII.
Dando um passo adiante na história, é possível verificar que os romanos trouxeram novas 
contribuições ao processo civilizatório que também serviram de base para a constituição do siste-
ma político da sociedade industrial moderna, nas dimensões social e política.
3.2 A civilização romana
A construção do Império Romano teve início por volta de 250 a.C., com a invasão da Grécia. 
Dos gregos, os romanos absorveram as ideias e as utilizaram para a formação de um novo tipo de 
sociedade, dotado de outro subsistema político.
A lei escrita e a constituição de uma ordem militar e administrativa verticais surgiram na 
socieda de romana. Pela primeira vez, cria-se um mecanismo de democracia representativa no 
qual um senado – composto de indivíduos eleitos pelos cidadãos romanos – representava o povo 
Sociedade e Contemporaneidade28
perante a república romana. Nasce então a ideia de res publica, entendida como esfera de atuação 
política dos indivíduos, separada da esfera de seus interesses privados, que também inspirou a 
constituição do subsistema político da sociedade industrial (CHÂTELET, 1994, p. 25).
Dessa forma, surgiu na sociedade romana o mecanismo de representação política a terceiros, 
isto é, de delegação de poder pelos cidadãos (os senadores), para que legislassem e representassem 
suas demandas no governo. As eleições romanas, guardadas certas imposições das circunstâncias 
históricas, não eram muito diferentes das eleições de hoje em dia.
A expansão do Império Romano propiciou a difusão dos valores culturais e do modelo de 
organização institucional da República Romana pelo Ocidente. O legado do modelo republicano 
nascido em Roma inspirou em boa parte o padrão de organização institucional e do Estado no 
mundo moderno que emergiu na Europa a partir do século XVII.
3.3 O cristianismo
Na sociedade romana, as funções e a autoridade do imperador eram, simultaneamente, tem-
porais (administração, política e guerra) e espirituais. Isto é, não havia separação entre política e 
religião, característica essa que marcou as sociedades humanas durante todo o período de duração 
do sistema social assentado na agricultura. Foi o cristianismo que legou à sociedade ocidental a 
ideia de separação entre a autoridade temporal (potestas) e a autoridade sobre assuntos morais e 
religiosos (auctoritas), na medida em que a ascensão política da Igreja correspondeu à decadência 
do Império Romano e ao surgimento da instituição religiosa com atribuições separadas das fun-
ções de governo (CHÂTELET, 1994).
Curiosamente, o islamismo, cuja raiz é a mesma do cristianismo (o Velho Testamento), não 
provocou esse fenômeno da separação entre Estado e Igreja no Oriente, pois no mundo muçul-
mano não existe uma religião institucionalizada e hierarquizada como a Igreja católica. A Jihad 
Islâmica, guerra santa pela conversão dos pagãos à fé em Alá no mundo muçulmano, é função atri-
buída aos governantes. Por essa razão, a cultura política dos países de tradição islâmica resiste até 
os dias de hoje à adoção do modelo político/institucional de democracia predominante no mundo 
ocidental judaico/cristão (CHÂTELET, 1994, p. 30-31). Os ideais da liberdade, da igualdade e da 
deliberação coletiva do destino da comunidade com base na vontade da maioria sãolegados da 
civilização ocidental antiga às civilizações industrial e pós-industrial posteriores.
Durante o feudalismo a Igreja afirmou a separação entre o princípio de autoridade corres-
pondente às funções do papa e o princípio de autoridade correspondente às funções do impe-
rador e dos reis e deteve o poder político de fato, compartilhando-o com a aristocracia feudal e, 
por vezes, sobrepondo seu poder ao poder do Estado. 
Com o tempo, o legado teórico desse princípio de separação da autoridade do papa e do 
imperador alimentou o processo de separação definitiva entre a Igreja e o Estado nos séculos XVII 
e XVIII e consolidou o modelo de organização política e institucional da sociedade industrial oci-
dental (subsistema político) até os dias de hoje.
A sociedade agrícola 29
3.4 A ordem feudal
A sociedade feudal tinha a propriedade da terra como elemento-chave do seu sistema 
social. Com a decadência do Império Romano, desapareceram gradativamente as instituições de 
poder inspiradas no modelo republicano instituído em Roma. Com a fragmentação do Império, 
também se fragmentou o poder. Os feudos passaram a ser a base do sistema social e com base 
neles foram estabelecidos os subsistemas político, econômico e cultural que predominaram ao 
longo da Idade Média. O exercício do poder em todos os seus sentidos (definição de leis, impos-
tos, punição de crimes, guerra etc.) era atribuição de cada senhor de terras no interior de suas 
propriedades. Para a nobreza e o clero não existia liberdade, igualdade e poder de participação 
do povo no governo. O povo (agricultores, artesões e serviçais), ignorante e desgarrado pelo 
território, tinha o direito de viver nas propriedades dos nobres em troca de parte da produção, 
da prestação de serviços e de proteção.
Com o fim do Império Romano, a Igreja católica compartilhou o poder com a aristocracia. 
A Igreja era a única instituição presente em toda a Europa e adjacências, com exceção das regiões 
em que os povos pagãos se afastaram da influência cristã. Suas funções sociais, do ponto de vista 
formal, iam da condição de guardiã da moral e dos costumes à de legitimadora do poder dos reis, 
em uma época em que a condição de governante era vista como desígnio divino e transmitia-se por 
herança consanguínea. De fato, os bispos exerciam grande influência política sobre as decisões da 
aristocracia. A cobiça moveu a expansão do Ocidente sobre o Oriente. Em nome de Deus, nobres e 
padres partiram para o Oriente e, a pretexto de reconquistar a sepultura de Cristo para o controle 
da Igreja de Roma, cometeram atrocidades.
Por meio das Cruzadas e após as grandes descobertas marítimas, desenvolveu-se um pro-
cesso de expansão do comércio e de ressurgimento das cidades na Europa. As riquezas acumu-
ladas proporcionaram séculos depois o financiamento da Revolução Industrial. O uso intensivo 
de máquinas e do trabalho especializado na linha de produção impulsionou a expansão do novo 
subsistema econômico e de um novo sistema social que desencadeou a modificação gradativa da 
civilização agrícola.
3.5 O fim da era agrícola
Os feudos – unidades econômicas básicas dessa etapa final da era agrícola na Europa – con-
verteram-se em empecilhos à expansão do comércio. A fragmentação do território em proprieda-
des rurais no interior das quais eram falados dialetos, vigoravam regras, governos, forças armadas 
e valores de troca (unidades de medida de comprimento e peso etc.) distintos, dificultaram o co-
mércio em uma época em que não havia mercado interno capaz de absorver uma produção em 
grande escala, muito menos de prover o novo sistema de produção de riqueza em ascensão, de 
matérias-primas e mão de obra abundantes e baratas.
Essa contradição impulsionou a formação dos Estados nacionais modernos na versão ab-
solutista. As nações europeias foram, uma a uma, formadas por meio da unificação dos feudos. 
Espaços territoriais mais amplos, no interior dos quais as trocas comerciais puderam acontecer 
Sociedade e Contemporaneidade30
sem barreiras, começaram a reconfigurar o sistema social da época e criaram as bases da matriz 
produtiva da sociedade industrial emergente. Um território, um rei, uma lei, um exército, uma 
moeda, um único e padronizado sistema de medida para cumprimento e peso e um único e gran-
de mercado nacional. Os Estados-nações, dessa forma, converteram-se em espécie de incubado-
ras das empresas que impulsionaram o florescimento do capitalismo industrial, inicialmente na 
Inglaterra e na França e, em seguida, no resto do mundo.
Atividades
1. Por que a configuração estrutural subjacente a todas as civilizações existentes na era 
agrícola não se alterou ao longo do tempo, apesar de terem se formado civilizações so-
fisticadas culturalmente?
2. Quais foram os quatros princípios filosóficos que a civilização ocidental moderna herdou 
das civilizações grega, romana e do cristianismo que servem até hoje como base do sistema 
de valores que norteiam a organização sociopolítica dos países ocidentais?
3. Por que o sistema feudal passou a ser um empecilho à expansão do capitalismo após as re-
voluções comercial e industrial?
4 
A sociedade industrial
A teoria das ondas civilizatórias, de Alvin Toffler, parte de um pressuposto-chave. Trata-se 
da ideia de que existe uma relação de influência mútua entre os subsistemas econômico, político, 
cultural e social que compõem todas as sociedades. Toffler aplica esse modelo à análise da configu-
ração estrutural das ondas civilizatórias agrícola, industrial e pós-industrial, entendidas como sis-
temas integrados por partes interligadas: os subsistemas. No entanto, a relação de mútua influência 
entre os subsistemas, isto é, o desencadeamento de mudanças no equilíbrio geral do sistema, pro-
vocado por eventuais alterações em uma de suas partes, não é mecânica nem determinista.
A observação empírica dos processos de transformação das matrizes sistêmicas da socieda-
de, na passagem da pré-história para a era agrícola, da era agrícola para a era industrial e, agora, da 
era industrial para a era pós-industrial, revela que o impacto da descoberta de novas ferramentas 
e técnicas na produção, organizadas com base em um paradigma tecnológico revolucionário – no 
momento em que passam a ser usadas em larga escala, superando o paradigma tecnológico ante-
cedente –, desencadeia transformações no mundo do trabalho.
A vida de todos os membros de quaisquer sociedades depende, direta ou indiretamente, do 
trabalho produtivo, sem o qual não há sobrevivência, não há progresso social. Mudanças introdu-
zidas nessa esfera da atividade humana tendem a provocar alterações no modo de vida, nas crenças 
e valores, na organização social e nas relações de poder assentadas sobre o modelo de sociedade. 
Desse modo, a mudança nos sistemas de produção de riqueza das sociedades exerce papel extre-
mamente importante para o desencadeamento da transformação de uma onda civilizatória em 
outra, tal como nos revela a teoria de Toffler.
4.1 A lógica do sistema de produção
Na sociedade agrícola, o método de produção era artesanal. Não havia divisão do trabalho, 
visto que os indivíduos ou núcleos de produção rural familiar controlavam todas as etapas do pro-
cesso produtivo. Tanto na agricultura quanto na produção de artefatos, ao término do processo de 
plantio ou fabricação de utensílios, o resultado do trabalho pertencia integralmente ao indivíduo ou 
à família que o havia gerado. A produtividade do trabalho sob as técnicas e ferramentas da agricultu-
ra tradicional demandava muito trabalho braçal, uma vez várias gerações de famílias conviviam na 
mesma propriedade. Os resultados da produção também dependiam do conhecimento acumulado 
sobre o impacto da natureza nos ciclos de desenvolvimento do que era plantado. As chuvas, o Sol, 
as fases da Lua e as estações do ano influenciam a vitalidade das plantas. Em uma época na qual o 
conhecimento era transmitido oralmente, os anciãos, detentores de mais experiência e sabedoria 
acumuladoscom o tempo e transmitidos de geração para geração, eram valorizados e respeitados 
devido à importância estratégica que seus conhecimentos representavam para a vida das famílias.
Sociedade e Contemporaneidade32
A civilização agrícola, como se pode ver, enquadra-se no modelo teórico de Toffler ao cons-
tituir, por meio da unidade produtiva básica desse tipo de sociedade – a propriedade rural familiar 
tradicional –, os seus correspondentes subsistemas, social, cultural e político.
Se a base da matriz sistêmica da civilização agrícola era o método artesanal de trabalho e 
a propriedade rural familiar como unidade produtiva, seu equivalente na sociedade industrial é 
a fábrica, no interior da qual se opera um sistema de produção que combina o uso intensivo de 
equipamentos mecânicos com o método de gestão da produção baseado no trabalho especializado 
na linha de montagem.
Com essa nova tecnologia – máquinas e o novo método de gestão –, toda a lógica do sistema 
de produção de riquezas muda. Se o artesão era generalista, o operário é especialista. Se a produção 
artesanal gerava produtos personalizados em pequena escala, a produção industrial gera grandes 
quantidades de produtos padronizados. Se a vida e o trabalho na sociedade agrícola eram dispersos 
no território, a sociedade industrial concentra trabalhadores em fábricas e cidades. Se o trabalho ar-
tesanal permitia ao trabalhador administrar com relativa flexibilidade seu tempo, o trabalho indus-
trial submete o trabalhador à ditadura do relógio – despertador, de pulso, de controle de ponto –, 
pois a padronização e a sincronização das tarefas na linha de montagem são essenciais à eficiência 
do método. Se o trabalhador artesanal era seu próprio chefe, o trabalhador industrial é apenas uma 
peça em uma estrutura piramidal, que tem em seu topo uma elite cuja especialidade é pensar pelos 
outros integrantes da estrutura e mandar fazer (TOFFLER, 2001).
4.2 A lógica do sistema social
Se a fábrica é a célula-mãe da sociedade industrial, nada mais lógico do que enxergar suas 
criaturas também como fábricas. As escolas como fábricas de operários, as universidades como fá-
bricas de reposição de peças da elite do sistema. Todos são matérias-primas brutas que, submetidas 
a processos rotineiros de montagem, viram produtos da sociedade industrial.
A fábrica demanda trabalhadores livres e disponíveis que buscam oportunidades de trabalho, 
independentemente das circunstâncias. Logo, a família precisa encolher. A família multigeracional 
da era agrícola migra do campo para a cidade e dá lugar a um modelo de família no qual o pai traba-
lha na fábrica e a mãe cuida da casa e dos filhos (TOFFLER, 2001).
Se o sistema produz grandes quantidades de produtos iguais, com publicidade veiculada em 
canais de divulgação de mensagens padronizadas, seus receptores-compradores, ao consumi-los, 
transformam-se num exército uniformizado de iguais. Se a fábrica impõe a sincronização das tarefas 
especializadas, a linha de montagem precisa se estender para além dos seus muros, pondo a cadeia 
de suprimentos, o sistema de transportes e comunicações e a vida das pessoas na esteira sincrônica 
do tempo controlado por milhões de relógios dispostos aos olhos de todo mundo. Controlando a 
luz artificial e cronometrando a passagem do tempo, a sociedade das fábricas também alterou essa 
dimensão psíquica da nossa percepção (TOFFLER, 2001).
A sociedade industrial 33
4.3 A lógica do sistema político
No clã agrícola, o chefe da família era o avô, respeitado por ser útil. No núcleo familiar 
operário, o chefe é o pai, provedor do lar. Muda a família, mudam os valores e as crenças. Sem uti-
lidade econômica, os idosos são mandados para os asilos, autênticos depósitos de peças “obsoletas” 
(TOFFLER, 2001).
O poder também mudou de mãos fora da unidade familiar. A vida do camponês medieval 
era simples, rotineira e previsível. O poder tinha endereço, cabeças cobertas por coroas e solidéus 
e mãos que portavam cetros e báculos. O poder era fisicamente próximo do local de trabalho ou 
moradia dos homens do povo, que sabiam que deviam submissão àqueles que habitavam os cas-
telos e catedrais próximos dali: os senhores das terras nas quais vivia e os senhores da moral e das 
regras de obediência que permitiam aos donos do poder manter vivas a harmonia, a estabilidade e 
a coesão do sistema. Com a emergência da sociedade industrial, o poder deslocou-se para “mãos 
invisíveis”, ainda que na aparência ele parecesse continuar nos palácios governamentais ou nas 
mãos dos proprietários dos meios de produção, como pensava Karl Marx (1818-1883). Os “donos” 
do dinheiro da sociedade industrial tinham nos administradores das suas empresas “sócios” que 
detinham, de fato, o poder (TOFFLER, 2001).
A divisão do trabalho nas fábricas fragmentou o sistema de produção em milhares de partes 
especializadas e gerou a necessidade de um novo trabalhador, especialista em integrar, coordenar, 
sincronizar e padronizar o funcionamento das peças e das engrenagens. Quando o trabalho era 
apenas artesanal, simples, pouco hierarquizado e gerador de pequenas quantidades de produtos 
consumidos ou trocados no círculo comunitário próximo, cada trabalhador era administrador do 
seu negócio.
Com as hierarquias complexas da sociedade industrial, os organogramas, as planilhas, os 
fluxos, os ciclos, os ritmos, os deslocamentos e os processos precisam ser controlados, organiza-
dos e administrados. Recursos, tempo, insumos e meios precisam ser avaliados e direcionados 
para os locais onde são necessários ao sistema. Milhões de tarefas complexas e especializadas dão 
origem a novas profissões, que ocupam o espaço intermediário entre a base e a cúpula do orga-
nograma padrão. Na base das pirâmides das organizações ficam os trabalhadores braçais, encar-
regados de obedecer e fazer sem pensar. No topo estão os encarregados de pensar e mandar. E 
nas posições intermediárias estratégicas estão aqueles que têm o poder de fazer (ou não) os co-
mandos da cúpula chegarem à base. Aí estão os burocratas, “detentores dos meios de integração” 
que, segundo Toffler (2001), são os verdadeiros donos do poder nas organizações hierarquizadas 
da sociedade industrial.
À medida que avançava a implantação da nova matriz tecnológica no sistema produtivo, 
expandia-se sua transposição para as outras dimensões da vida social, cultural e política da civi-
lização industrial. Assim como as fábricas criaram suas pirâmides do poder com seus departa-
mentos administrativos, a sociedade criou o Estado, com suas enormes corporações de burocratas 
Sociedade e Contemporaneidade34
encarregados de administrar a alocação dos recursos públicos e processar as decisões que o co-
mando do sistema gera para sua base. Nessa máquina, o governo central encabeça uma autêntica 
“máquina integracional” (TOFFLER, 2001). Aos poucos, a corporação dos integradores ganha vida 
própria. Com corpo escorregadio e mãos invisíveis, a hidra burocrática estende seus tentáculos e 
começa a crescer e se multiplicar, fazendo-se parte estratégica na hierarquia intermediária de quais-
quer organizações modernas, sejam elas privadas ou públicas, sejam elas capitalistas ou socialistas.
Com as organizações se tornando cada vez mais complexas, novas ferramentas de controle e 
gestão se tornavam necessárias e novos e sofisticados sistemas contábeis, de controles orçamentá-
rios e técnicas de gerenciamento de pessoas e da produção, aperfeiçoaram o poder de expansão do 
sistema. As “elites integradoras”, na economia e na política, lutavam por sua expansão, buscando 
dominar mais territórios para controlar mais riquezas e obter mais poder (TOFFLER, 2001).
A integração política das nações europeias foi uma imposição determinada pela lógica da 
integração econômica. As revoluções comercial e industrial aumentaram a produtividade do tra-
balho e o volume de mercadorias em circulação. Era preciso mais mercados para tantos produtos. 
Surgiu a interdependência econômica pormeio da integração dos mercados nacionais em um 
sistema mundial de importação de matérias-primas e exportação de manufaturados.
A serviço da expansão do sistema, desenvolveram-se os meios de comunicação e de trans-
portes. Na era agrícola, a maioria dos indivíduos, inclusive os da elite, nascia, crescia e morria sem 
ir muito longe do território onde nascera. O industrialismo ampliou os horizontes físicos, a men-
talidade e a visão de mundo de uma parcela significativa da humanidade.
A expansão dos meios de comunicação e de transporte transcontinentais representou a 
consolidação dos mercados nacionais como atores econômicos e políticos do mercado mundial, 
consolidando o Estado-nação como uma estrutura-chave da civilização industrial. No entanto, as 
tentativas de expansão dos mercados e da autoridade política dos governos encontrava obstáculos 
nas fronteiras dos Estados nacionais. O surgimento de um sistema monetário foi o passo seguinte 
na integração da matriz da sociedade industrial em escala mundial (TOFFLER, 2001).
O princípio da especialização galgou às relações entre as nações. Com a consolidação do 
mercado em âmbito mundial, as nações assumiram suas funções na cadeia produtiva, tal como 
a especialização do trabalho na linha de montagem – produtores, intermediadores, fornecedores, 
compradores e assim por diante. Da mesma forma que a linha de montagem gerou a necessidade 
de seus administradores, a divisão internacional do trabalho criou a irreversível necessidade de for-
mação das estruturas de gestão do mercado mundial, com sua correspondente “elite integradora”, 
concentrada nas poucas nações que assumiram a frente da Revolução Industrial e hegemonizaram 
as relações comerciais do sistema de trocas desiguais que se formou entre colonizadores e coloniza-
dos (TOFFLER, 2001).
O fluxo das riquezas do sistema corria do hemisfério Sul para o Norte ou das nações da 
primeira onda em direção às nações da segunda onda (TOFFLER, 2001, p. 98). Em busca de maté-
rias-primas, mão de obra e mercados, os estados do Norte lançaram-se em um corrida desenfreada 
pela ocupação territorial do planeta, estendendo os tentáculos do industrialismo por todo o mundo. 
A sociedade industrial 35
Às portas do século XX, sem mais territórios a conquistar, os estados europeus da ponta da onda 
industrial patrocinaram duas guerras mundiais pela liderança econômica e política do sistema.
Exaurida pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), uma parte da sociedade industrial 
ensaiou uma mudança de modelo sem mudar o paradigma. Surgiu o socialismo, que buscava levar 
a matriz fabril ao extremo do tecido social. A ideia-força subjacente à ideologia socialista era trans-
formar a sociedade em uma enorme pirâmide fabril, centralizada e planejada com base na cúpula 
do Estado e pela elite burocrática do partido único, a quem caberia intermediar a distribuição das 
riquezas produzidas pelo sistema, transformando os indivíduos em um enorme exército de iguais. 
Em 1917, pela primeira vez, os seguidores das ideias de Marx chegavam ao poder na Rússia.
A economia russa levou ao extremo a ideologia fabril. Planificada e sob comando centraliza-
do pelo Estado, a Rússia industrializou-se a passos acelerados e expandiu como em nenhuma outra 
sociedade sua corporação de burocratas. A nova potência industrial, com seu Exército Vermelho, 
avançou sobre o leste da Europa e expulsou Adolf Hitler (1889-1945) das nações conquistadas pela 
Alemanha na primeira fase da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Na primeira metade do século XX, a Europa havia destruído duas vezes seu parque indus-
trial e suas cidades com as disputas das potências do século XIX pela liderança do “sistema-mundo”. 
Emergiram do pós-guerra duas novas potências hegemônicas: EUA e URSS, as novas locomotivas 
do sistema, os novos reorganizadores da economia mundial. Não obstante as diferenças ideológicas 
entre os subsistemas econômico e político das duas novas potências, ambas se jogaram em uma cor-
rida desenfreada pela integração das regiões do planeta sob seu controle. Na fatia controlada pelos 
EUA, surgiram o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o General Agreement on 
Tariffs and Trade (GATT) como instrumentos de integração econômica e, ao mesmo tempo, de do-
minação política. Do outro lado do mundo, por meio do Conselho de Mútua Assistência Econômica 
(Comecom), a URSS criou sua rede integradora (TOFFLER, 2001).
Sob o olhar dos paradigmas teóricos das ciências sociais da era industrial, os EUA e a URSS 
eram inimigos mortais. Vistos pelo ângulo do paradigma teórico pós-industrial de Toffler, a com-
petição entre eles era uma “briga de irmãos”, unidos pelos laços familiares de um sistema monetá-
rio e de comércio internacional e pela identidade genética da matriz industrial de um sistema que 
funcionava como dois pratos de uma balança.
4.4 Capitalismo e socialismo: dois modelos e um sistema
Para Toffler (2001), sob o ponto de vista da matriz sistêmica de uma sociedade cuja produ-
ção está assentada no trabalho especializado na linha de montagem, articulado por corporações 
burocráticas, não há diferença entre capitalismo e socialismo. Sua teoria nos desafia a analisar a 
história da sociedade contemporânea com outro olhar. Segundo a visão tradicional sobre os siste-
mas econômicos – capitalismo, socialismo regimes políticos, democracias ou ditaduras –, haveria 
diferenças relevantes entre sociedades estruturadas sobre as diversas combinações possíveis entre 
esses modelos econômicos e políticos.
Sociedade e Contemporaneidade36
O autor não ignora as diferenças entre esses modelos, mas chama a atenção para o fato de 
que para entender como acontecem as mudanças estruturais que abalam civilizações, deve-se mu-
dar o foco e direcioná-lo para a matriz paradigmática ou “planta oculta” única sobre a qual ambos 
se levantaram. Para ele, existe um padrão “transideológico” e transnacional por trás desse processo, 
cuja matriz é o modelo mecânico/industrial da segunda onda.
Os diversos subsistemas políticos das sociedades da civilização industrial têm origens na 
lógica da representação por base geográfica herdada da era agrícola, que vinculava o indivíduo ao 
território, ao local de moradia. No entanto, aos poucos o modelo de representação por base geo-
gráfica passou a incorporar a “ideologia da máquina” (TOFFLER, 2001). Parlamentos, governos e 
tribunais passaram a funcionar como fábricas de leis e decisões.
Aos poucos, a expansão do sistema dá origem a uma cadeia produtiva de normas e decisões 
em escala mundial. As instituições políticas do Estado-nação, como canalizadoras e processadoras 
das decisões coletivas da sociedade fabril, tanto sob o capitalismo como sob o socialismo, contro-
ladas por corporações burocráticas permanentes e estáveis, os funcionários do Estado, presidentes, 
governadores, prefeitos, deputados, juízes, diplomatas, militares e funcionários de carreira admi-
nistram quaisquer relações que envolvam conflitos de poder e interesse na esfera pública. Seja para 
efeito do jogo do político travado dentro das fronteiras nacionais, seja no tabuleiro das relações 
internacionais, o Estado se converte na estrutura-chave do poder da civilização industrial.
4.5 Crise e ruptura do sistema
O poder dos administradores está no controle da intermediação, por meio da posição estra-
tégica que ocupam como integradores das partes do sistema. A burocracia valoriza seu poder e ali-
menta o jogo de criar dificuldades para vender facilidades. Nos canais de comunicação pelos quais 
circulam as decisões que interligam os diferentes setores das organizações piramidais da sociedade 
industrial, tudo depende da vontade dos integradores. Assim funcionam os sistemas burocráticos 
que, na origem do industrialismo, eram sinônimo de organização e eficiência. Com o passar do 
tempo, distorções foram surgindo, crescendo e se impondo. Em vez de realizarem as atividades 
específicas das instituições e de produzirem o resultado esperado peloemissor dos comandos, as 
decisões das cúpulas foram filtradas, politizadas e moldadas aos interesses e disputas de poder, 
travadas entre os ocupantes de cada um dos escaninhos do organograma, provocando desperdício 
de tempo e recursos escoados pelo ralo dos interesses corporativos, depois de postas em circulação 
no emaranhado burocrático das organizações.
A obsolescência do sistema, posto em xeque pelo novo paradigma tecnológico pós-indus-
trial, abre um fosso de ineficiência entre o Estado e a sociedade e vai minando a legitimidade das 
lideranças políticas, cujo poder de fazer em benefício dos operários é refém das corporações de 
administradores. Assim é cavada a sepultura das instituições políticas da sociedade industrial.
As novas tecnologias de produção, baseadas no uso intensivo da informática, das telecomu-
nicações e do transporte a jato dão origem a um novo sistema de produção de riqueza, dependente 
do conhecimento e da velocidade, de mais software e menos hardware, de mais agilidade e flexibili-
dade, da supressão da distância que separava criadores e tomadores de decisão, de executores com 
A sociedade industrial 37
novo perfil. Um sistema que, dependente de tecnologias sofisticadas, demanda de seus operadores 
conhecimento, criatividade e inteligência. Quem pensa precisa fazer e saber como se faz. Quem faz 
precisa saber e criar para descobrir o novo, antes que o competidor o faça. Na sociedade das redes, 
a comunicação em tempo real suprime o tempo e o transporte veloz comprime o espaço. Nas veias 
de um sistema supercomplexo, circula de um lado para outro do planeta, em alta velocidade, um 
volume de informações e riquezas tangíveis e intangíveis. O paradigma das redes rompe com os 
padrões “fisiológicos” da matriz industrial e requer organizações flexíveis, processos e fluxos assín-
cronos, aleatórios, descentralizados e conexões multidimensionais entre nodos autônomos. Nasce 
o “código genético” da nova civilização pós-industrial, cujos cromossomos penetram como água 
em terreno irregular, nas rachaduras do solo árido do sistema industrial em erosão.
Atividades
1. Descreva, com suas palavras, a influência das descobertas tecnológicas na transformação da 
matriz sistêmica das sociedades.
2. De que forma as mudanças no mundo do trabalho, provocadas pela introdução de novas 
tecnologias, influenciam a mudança no sistema de crenças e valores das sociedades em pro-
cesso de transformação de suas matrizes sistêmicas?
3. Como se explica a falência das instituições políticas da civilização industrial por meio do 
enfoque teórico de Toffler?
5 
A história da globalização
5.1 O que é globalização?
Uma das marcas do debate acadêmico sobre o fenômeno da globalização é a controvérsia 
teórica em torno da definição desse processo. O termo é comumente associado à dimensão econô-
mica e utilizado para caracterizar as transformações que ocorrem no mundo, especialmente após a 
década de 1980, com o impacto das novas tecnologias da informação, das comunicações e do trans-
porte na sociedade contemporânea. O uso dessas tecnologias mudou essencialmente a forma da 
produção de riqueza e, com isso, transformou também todas as estruturas do sistema social atual.
A confusão que muitos fazem ao caracterizar as transformações em curso provavelmente 
tem origem no fato de que a formação de um mercado integrado em nível internacional, sob a 
forma de um sistema-mundo, ocorre desde o período de colonização do Novo Mundo pelos euro-
peus. Sob esse ponto de vista, o termo globalização é usado para definir a crescente relação entre 
os subsistemas nacionais do sistema-mundo, no qual o momento atual fosse apenas um novo ciclo 
da expansão mundial do capitalismo já experimentado sob outras formas no passado e apenas 
intensificado pelo uso das novas tecnologias de produção, comunicação e transporte.
Para entender corretamente a complexidade do fenômeno atual, em suas múltiplas facetas 
e implicações, é preciso analisá-lo sob um novo enfoque, que ultrapasse a dimensão econômica e 
abandone a perspectiva de vê-lo apenas como uma nova etapa de um sistema antigo.
Desse modo, o que está em curso não é a simples continuidade do processo de moderniza-
ção do capitalismo, mas sim uma ruptura paradigmática da matriz do sistema social como um todo 
e sua reconfiguração em outras bases. Dessa forma, as mudanças em curso extrapolam a dimensão 
econômica e manifestam-se em escala mundial e em todas as esferas do sistema social, transfor-
mando completamente o modo de vida da sociedade, assentado no antigo paradigma industrial. 
Para Moura (2006, p. 23):
A comunicação online em real time produz a compressão tempo-espaço, 
alterando a percepção que as pessoas têm dessas dimensões e modificando a 
maneira como elas percebem a realidade. De repente, sociedades situadas em 
extremos distantes do planeta, com histórias e culturas distintas, tempos, está-
gios e ritmos diferentes de desenvolvimento sofrem o impacto das informações 
que circulam em alta velocidade pelas vias neurais que transportam, de um lado 
para outro do mundo, o novo capital simbólico. Veem-se, assim, mudar seus 
modos de vida, suas maneiras de perceber a vida e as expectativas que nutrem 
em relação ao futuro. Enfim, seu tecido cultural e social tradicional é perma-
nentemente trespassado por essas informações, fazendo com que o local não 
tenha mais identidade “objetiva” fora de sua relação com o global.
A análise desse processo sob a lógica do paradigma teórico do industrialismo, além de se 
limitar ao que ocorre na economia, vê nele uma tendência à estandardização cultural, movida pela 
Sociedade e Contemporaneidade40
massificação da produção no contexto da integração dos mercados. Essas características, típicas do 
superado sistema de produção industrial, resultariam da existência de um sistema internacionali-
zado de produção e circulação de informações, mercadorias e pessoas que, utilizando tecnologias 
e mensagens padronizadas, apagaria as particularidades locais e as submeteriam a uma suposta 
cultura mundial hegemônica, padronizada e homogênea. Isto é, como se o que ocorre em escala 
local fosse apenas a ampliação, para o âmbito mundial, do sistema industrial tradicional e de sua 
produção massificada.
Com a análise do impacto da globalização sobre as culturas locais em todas as dimensões al-
cançáveis pelo novo paradigma, pode-se ver que “a tendência à homogeneização e estandardização 
da cultura mundial é apenas uma das dimensões e tendências a conviver com processos diversos de 
reação e resposta local às pressões homogeneizadoras” (MOURA, 2006, p. 24).
O paradigma das redes rompe com a lógica da massificação e da padronização típicas da 
matriz industrial, gerando organizações flexíveis e relações assíncronas, aleatórias e descentra-
lizadas, conectando grupos sociais fragmentados, entre os quais se estabelecem relações multi-
facetadas, em uma dimensão virtual da realidade que existe no espaço entre os nós das redes de 
comunicação eletrônica.
Sob a óptica desse paradigma, a diversidade econômica, social, política e cultural é resultado 
natural e necessário dos processos sistêmicos da nova civilização, e a permanente fragmentação e 
produção dessa diversidade decorre da nova lógica de circulação do capital simbólico, que converte 
os produtos culturais em mercadorias destinadas a um mercado globalizado e midiatizado.
Os veículos e técnicas de comunicação da sociedade pós-industrial, devido à tecnologia digi-
tal e ao paradigma das redes, permitem a transmissão de mensagens massificadas e segmentadas, de 
maneira simultânea e cruzada. O impacto dessas mensagens sobre o comportamento social, sobre 
as atitudes individuais e sobre as trocas econômicas e de poder entre pessoas e organizações deixou 
de ser apenas massificado, como era sob a influência das tecnologias de produção e comunicação 
em massa – a mesma mensagem e o mesmo produto para milhões de consumidores-receptores – da 
era industrial.
As análisesque se baseavam em diferentes visões teóricas sobre a economia mundial 
até pouco tempo operavam em um campo conceitual que não levava em conta a supressão da 
relação tempo-espaço nos processos sociais e a desmassificação da sociedade, assim como a 
desmaterialização da riqueza que, na economia simbólica, circula pelo mundo em forma de bits 
e bytes. Esses fatores revolucionaram toda a lógica do sistema social.
A inserção de indivíduos, empresas, setores e regiões do mundo nesse novo paradigma sistê-
mico não mais se enquadra nas velhas abordagens que dividiam suas análises em categorias como: 
países versus países, burguesia versus proletariado, homens versus mulheres, negros versus bran-
cos, orientais versus ocidentais, países desenvolvidos versus países subdesenvolvidos, ou entre os 
setores primário, secundário e terciário. Agora, a lógica é a dos “plugados” e dos “não plugados” na 
rede, dos rápidos e dos lentos, dos detentores e dos não detentores de conhecimento, dos criativos 
e dos não criativos. Sem dúvida, há continuidade na ruptura, mas esse processo requer complexi-
dade em sua análise. 
A história da globalização 41
5.2 Antecedentes da globalização
A vocação expansionista e conquistadora é uma característica inerente ao ser humano. 
Mesmo antes das civilizações grega e romana, a conquista militar de novos territórios e o desen-
volvimento de relações de comércio entre diferentes sociedades levou povos a estenderem seus 
domínios para muito além de suas regiões de origem. Na Antiguidade, esse processo era limitado 
pela precariedade dos sistemas de transporte e de comunicação. As Cruzadas, expedições militares 
e religiosas financiadas com recursos de ambiciosos senhores feudais, foram o último espasmo 
dessa forma de aventura expansionista do ser humano sobre a Terra.
No fim da Idade Média, a Europa estava rica em função da acumulação de riquezas resultan-
te das Cruzadas (1095-1291). Essa grande quantidade de mercadorias e recursos trazidos de fora 
impulsionou o comércio e permitiu o ressurgimento das cidades. Assim, a ampliação do mercado 
tornou-se decorrência natural desse processo. Não tardou a unificação dos feudos em mercados 
regionais e a formação dos Estados nacionais em sua primeira versão, a absolutista. A formação de 
Estados centralizados e poderosos permitiu a concentração dos recursos que financiaram as expe-
dições navegadoras e gerou mais um ciclo de acumulação de riquezas na Europa.
O passo inicial para a formação de um mercado mundial como sistema foi, sem dúvida, a 
expansão colonial empreendida pelos países europeus em direção à Índia, à África e às Américas.
5.3 Formação do mercado mundial
A era dos descobrimentos ocasionou a conquista e a colonização do Novo Mundo teve como 
resultado a presença europeia nos espaços terrestre e marítimo, com a difusão dos valores culturais 
ocidentais. De 1500 a 1800, os três séculos que se sucederam aos grandes descobrimentos, formou-
-se o que os historiadores caracterizam como a Primeira Ordem Econômica Mundial. A presença dos 
europeus nos continentes asiático, africano e americano, movidos pela busca de matérias-primas 
para o industrialismo nascente e, em seguida, de mercados compradores para seus produtos manu-
faturados, deu origem à primeira etapa da integração econômica e possibilitou a implementação de 
um sistema de trocas comerciais em escala mundial, em sua primeira configuração.
A primeira etapa de desenvolvimento do capitalismo surgiu, portanto, com a revolução 
comercial. Entre as características do capitalismo comercial, destacam-se:
• a acumulação de capital privado;
• a transição do trabalho servil para o trabalho assalariado;
• o surgimento das manufaturas e o gradual desaparecimento das corporações de ofício;
• a mudança do perfil das relações de propriedade e de produção nos meios rural e urbano 
em direção ao modo de produção capitalista;
• o desenvolvimento de um sistema provedor de crédito (bancos, mecanismos de finan-
ciamento, seguros, cheques e companhias por ações), que logo deu origem aos sistemas 
monetários e financeiros nacionais;
• a expansão marítima e comercial europeia;
Sociedade e Contemporaneidade42
• a formação de impérios coloniais, baseados na força de trabalho escravo;
• a expansão em larga escala do comércio mundial;
• um inédito fluxo de riquezas das colônias para os países europeus, as metrópoles.
Pode-se dizer que as origens da revolução comercial estão nas transformações ocorridas na 
Europa a partir da Baixa Idade Média, com o progresso econômico, o renascimento comercial e 
urbano e o surgimento da burguesia como classe social, livre das relações de dominação típicas do 
modo de produção feudal. Os comerciantes não eram servos, nem senhores ou padres, eram novos 
atores sociais que enriqueciam em razão de uma atividade econômica distinta da agricultura e do 
artesanato que predominavam até então: o livre-comércio.
No século XV, a Europa passou por uma crise que foi determinante para impulsionar a 
expansão marítima e comercial, que impôs a necessidade da criação de novos mercados fornece-
dores e consumidores que dinamizassem sua economia. São aspectos dessa época:
• a centralização do poder nas mãos dos soberanos absolutistas com o aparecimento da pri-
meira versão do Estado moderno e a formação das monarquias nacionais, fator essencial 
para a viabilização da expansão marítima e do comércio;
• a falta de metais preciosos para cunhar moedas, o que dificultava a expansão do comércio 
e do capitalismo emergente;
• novos conhecimentos e progressos técnicos, que levaram à criação de instrumentos como 
a bússola e o astrolábio e ao aperfeiçoamento das caravelas;
• a pólvora, utilizada pelos chineses para fazer fogos de artifício, passou a ser usada em 
canhões e outras armas de fogo, para ampliar o poderio militar europeu.
A forma de capitalismo que se desenvolveu com base nessas variáveis é chamada pelos histo-
riadores, economistas e cientistas sociais de mercantilismo. A doutrina mercantilista baseava-se no 
conceito de inelasticidade do mercado, com uma visão estática da economia e uma concepção mo-
biliária da riqueza. Sob essa ótica, o progresso da economia dava-se em função do comércio, visto à 
época como principal fonte criadora de riqueza. Desenvolvido em uma época em que a retaguarda 
dos novos Estados nacionais foi fundamental para a expansão comercial mundial, o mercantilismo 
consistia em um sistema de intervenção governamental na economia como forma de promover a 
prosperidade nacional e, simultaneamente, aumentar o poder do próprio Estado. As medidas eco-
nômicas mercantilistas, ao mesmo tempo em que impulsionavam o comércio, fortaleciam o poder 
dos reis, política e economicamente sustentados pela burguesia, que acumulava capitais em volume 
considerável e em ritmo acelerado.
Assim, o grande impulso para a criação de uma primeira versão de mercado mundial como 
sistema foi dado por decisão e direção política dos Estados nacionais europeus em uma época em 
que os governos controlavam todos os ramos da atividade econômica e neles interferiam, muitas 
vezes diretamente, participando dos empreendimentos comerciais.
Nesse período, a riqueza e a prosperidade dos países dependiam da quantidade de metais pre-
ciosos acumulados dentro de suas fronteiras. A manutenção do valor das exportações em nível su-
perior ao das importações – de modo a produzir saldo positivo na balança comercial, contabilizado 
A história da globalização 43
pelo ingresso de metais preciosos no país – era o eixo estratégico das políticas econômicas estatais. 
Para isso, os governos estimulavam as exportações e criavam barreiras alfandegárias para dificultar 
as importações.
As relações desiguais do comércio com as colônias, por meio das quais as metrópoles bus-
cavam controlar regiões ricas em metais preciosos ou produtos tropicais que pudessem ser comer-
cializados no mercado europeu, eram fundamentais para as estratégias econômicas mercantilistas.
Nascido nosistema corporativo das cidades medievais, o mercantilismo entrou em crise 
com a decadência dos Estados absolutistas a partir do século XVII. O surgimento e a expansão do 
capitalismo industrial e da visão liberal sobre a economia, a sociedade, a moral e a política impul-
sionaram a crise da doutrina mercantilista a partir do século XVIII.
O mercantilismo marcou a transição do modo de produção feudal para o industrial e deixou 
para trás a civilização agrícola no mundo ocidental. A partir de então, a produção artesanal e vol-
tada para o consumo em pequena escala no âmbito local começou a desaparecer. O mercantilismo, 
portanto, deu o primeiro impulso para a economia capitalista, inicialmente comercial, monetária, 
dinâmica, urbana e voltada para o lucro.
Assim, a revolução comercial foi a primeira etapa de constituição do sistema capitalista. 
Sob o capitalismo comercial, as atividades produtivas se orientaram para o mercado e o comércio 
se tornou o propulsor do progresso econômico. As transformações dessa fase estimularam, prin-
cipalmente, a formação de um sistema de circulação de riquezas que alavancou o escoamento da 
produção industrial em larga escala, no período subsequente.
Com o declínio do poderio naval holandês no fim do século XVIII, a Inglaterra consolidou 
sua hegemonia sobre os oceanos, tornando-se a “rainha dos mares”. Os ingleses conquistaram o 
domínio sobre o comércio mundial e formaram um imenso império colonial fornecedor de maté-
rias-primas e minérios e, ao mesmo tempo, consumidor de produtos manufaturados.
Marx chamava a acumulação de riquezas ocorrida na Europa mercantilista de primitiva. 
Assim o fazia, pois em seu ponto de vista essa acumulação não havia sido gerada por um sistema 
de produção, e sim pelo saque e pela expropriação do Novo Mundo.
Contudo, a expansão dos mercados ocorrida ao longo desse período ocasionou o processo 
de consolidação do capitalismo e criou as condições para o financiamento da Revolução Industrial, 
a partir do século XVIII. Somente com o surgimento do modo industrial como sistema de produ-
ção de riquezas é que ocorreu a ruptura definitiva desse, à época, novo paradigma tecnológico, com 
a matriz sistêmica de produção de riquezas da civilização agrícola.
5.4 O impacto da Revolução Industrial sobre a economia mundial
O primeiro ciclo de desenvolvimento da tecnologia industrial ocorreu entre 1760 e 1860, 
caracterizado pelo uso do carvão como combustível, do vapor sob pressão como fonte de energia, 
do ferro como matéria-prima e pela produção de bens de consumo. A economia da Inglaterra foi 
vanguarda do novo sistema, que atingiu também a França e a Bélgica. Nessa época predominava a 
Sociedade e Contemporaneidade44
acumulação de capital proveniente da produção de mercadorias industrializadas, sobre o comércio 
e as operações financeiras do sistema bancário nascente.
Em um processo que começou em 1860 e foi até 1945, o petróleo substituiu o carvão como 
combustível, a eletricidade, o vapor como fonte energética, e o aço, o ferro como matéria-prima. 
Gradativamente, o novo sistema de produção de riquezas – baseado na tecnologia mecânica ope-
rada por trabalhadores especializados, organizados em estruturas piramidais com grandes setores 
burocrático-administrativos entre o comando e a produção – contagiou todo o sistema social com 
seu código genético revolucionário.
Essas transformações aconteceram inicialmente e de maneira mais intensa na Inglaterra e 
na França. Portugal e Espanha, que disputavam com esses dois países a liderança da economia 
mundial durante o mercantilismo, ficaram para trás. Ao permanecerem ligados ao fornecimento 
de matérias-primas baratas para os países industrializados, os ibéricos foram ultrapassados pelo 
capitalismo inglês e francês, que deles levou o ouro em troca de produtos manufaturados.
O capitalismo inglês foi o que mais acumulou riquezas durante a revolução comercial e 
tornou-se, então, o carro-chefe da Revolução Industrial, transformando a Inglaterra do século 
XVIII no único país europeu com capital disponível para ampliar o processo de industrialização. 
Com isso, Londres tomou de Amsterdã a condição de principal centro financeiro da Europa.
Com a entrada do modo de produção capitalista no campo, pelo uso intensivo de máquinas 
e menor demanda por trabalhadores, a força de trabalho rural migrou do campo para a cidade, 
onde a oferta de mão de obra superava a oferta de empregos e reduzia o valor dos salários.
A nova classe burguesa acumulou poder econômico e passou a ambicionar o poder político, 
incomodada com a obrigação de pagar impostos para sustentar cortes numerosos, formada por 
aristocratas decadentes liderados por soberanos que haviam cumprido a tarefa de unificar os mer-
cados, demarcando-os com as fronteiras dos Estados nacionais. Assim, as revoluções políticas não 
tardaram a acontecer.
Em 1688, na Inglaterra, a Revolução Gloriosa depôs o soberano Jaime II, da dinastia Stuart. 
O Bill of Rights parlamentarista (1689) possibilitou à classe burguesa aumentar sua participação na 
vida política do país e derrubar os últimos obstáculos à expansão capitalista ao colocar as políticas 
de Estado a serviço do desenvolvimento econômico. Em 1789, 101 anos depois, os franceses deca-
pitaram seu rei e implantaram um regime republicano.
A competição aberta no sistema de livre mercado impôs a busca constante de novas fontes 
de energia, de máquinas mais eficientes e de aumento da produtividade do trabalho. Dessa forma, 
a mecanização e o trabalho especializado evoluíram de maneira constante e cada vez mais rápida. 
A sofisticação dos processos produtivos deu origem a organizações complexas, hierarquizadas e 
comandadas por corporações administrativas.
O então novo paradigma tecnológico se expandiu para fora das fábricas, mudou o modo de 
vida e as estruturas do sistema social da época e, consequentemente, deu origem às suas estruturas 
políticas. O Estado moderno assumiu o papel de regulador social e dos conflitos de interesse e de 
poder, chamando para si cada vez mais atribuições.
A história da globalização 45
O escoamento de enormes quantidades de produtos padronizados levou ao desenvolvimen-
to da propaganda e de novas redes de comércio. O consumo elevou-se a patamares nunca antes vis-
tos. A agricultura se industrializou, ampliou sua produtividade e impulsionou as indústrias têxtil, 
metalúrgica, mineradora e química.
5.5 O surgimento do capital financeiro
A produtividade do sistema industrial ampliou-se de modo acelerado desde seu surgimento 
no século XVIII, com a intensificação das trocas comerciais e com o aumento do volume das ri-
quezas de seus promotores, assim como dos capitais acumulados e em circulação na economia do 
capitalismo em expansão.
Aos poucos, o crédito começou a ser introduzido no sistema, na função de mecanismo de 
financiamento da produção e do comércio. Surgiram os primeiros bancos que passaram, gradativa-
mente, de financiadores a compradores da maioria das ações das empresas industriais e comerciais.
Dessa forma, nasceu o sistema financeiro que, controlando o crédito, o comércio e a produção, 
passou a gerar mais lucros do que a produção e a circulação de mercadorias. Logo, o financiamento 
da produção e do comércio baseado no crédito ampliou o processo de expansão do capitalismo, por 
meio de canais que passaram a abastecer com capital o sistema econômico mundial.
Protagonizada pela Inglaterra a partir do século XVIII, a Revolução Industrial estendeu-se 
para a Alemanha, França, Bélgica, Rússia e Estados Unidos no decorrer do século XIX, ao mesmo 
tempo em que sua rede de relações econômicas desiguais envolveu a economia do planeta em um 
sistema-mundo.
Às portas do século XX, esgotadas as fronteiras territoriais do planeta, a Alemanha – um dos 
últimos participantes do industrialismo europeu, que perdera a corrida pela colonização do Novo 
Mundo nos séculos precedentes – protagonizou os dois maiores conflitos militares da história da 
humanidade,na tentativa de retirar a Inglaterra e a França da hegemonia política e econômica so-
bre o mundo e obter fontes de carvão e minério de ferro para se industrializar.
As pesquisas militares desenvolvidas nas duas guerras mundiais – que arrasaram o parque 
industrial e consumiram boa parte das riquezas da Europa por duas vezes – deram origem às no-
vas tecnologias que provocaram a superação do paradigma industrial no período subsequente. 
Considerada a mais revolucionária das mudanças socioeconômicas experimentadas pela humani-
dade até então, três séculos depois de seu surgimento, o industrialismo começou a ser superado pelo 
impacto de três novidades tecnológicas da década de 1950: a televisão, o computador e o avião a jato.
Atividades
1. Conforme o conteúdo visto neste capítulo, existem autores que veem nas transformações 
da sociedade atual uma continuidade (e não uma ruptura) do que acontecia na economia 
mundial no momento histórico anterior. Pesquise na bibliografia sobre história econômi-
Sociedade e Contemporaneidade46
ca (ver as Referências e outras fontes) pontos de vista diferentes daqueles aqui expostos e 
forme a sua opinião.
2. A interligação do planeta por redes de comunicação em tempo real e sistemas de transpor-
te em alta velocidade provoca alterações na percepção que os indivíduos desenvolvem da 
realidade da sociedade contemporânea. Enumere e descreva como essa questão é abordada 
neste capítulo.
3. Explique a relação entre a expansão do comércio e a formação dos Estados nacionais, por 
meio da revolução comercial.
6 
A ordem internacional pós-Segunda Guerra
6.1 Antecedentes da ordem internacional pós-guerra
O industrialismo se consolidou como sistema social – com seus respectivos subsistemas 
econômico, político e cultural – na passagem do século XIX para o XX. Nessa época completou-se 
também o processo de ocupação de todos os continentes pelos colonizadores europeus. A presença 
europeia em todo o continente americano, na África, na Ásia e na Oceania é perceptível, por exem-
plo, pelos idiomas português, espanhol, francês e inglês, falados em países de todos esses territórios 
até os dias de hoje, em alguns casos, juntamente ao idioma nativo anterior à colonização.
Ainda no século XIX teve início no continente americano o movimento de independência 
das colônias europeias constituídas nos séculos precedentes. No entanto, a independência das co-
lônias africanas e asiáticas somente se completou na segunda metade do século XX.
Desse modo, o século XX ficou marcado como o século do apogeu e da queda da civilização 
industrial. Nas duas guerras mundiais, com a redefinição da liderança política e econômica do 
sistema-mundo que se estabeleceu do século XIX, as potências mundiais testaram o potencial das 
tecnologias de destruição em massa que haviam desenvolvido e utilizaram o paradigma do indus-
trialismo para fins bélicos. As bombas atômicas jogadas sobre as cidade japonesas de Hiroshima e 
Nagasaki em 1945, pelo grau de atrocidade que produziram, são símbolos dessa filosofia: produção 
e destruição em massa. O Estado nacional, organização política-chave da sociedade industrial, 
atingiu seu ápice por meio das ideologias totalitárias do nazismo, do fascismo e do comunismo.
A Rússia, que havia se industrializado em ritmo acelerado por meio da Revolução Socialista 
de outubro de 1917, expulsou as tropas alemãs do Leste Europeu e formou a União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas (URSS) e reuniu em torno de si os países que havia libertado do jugo nazista. 
No fim da Segunda Guerra Mundial, ao chegarem em Berlim pouco antes das tropas norte-ameri-
canas, os russos ficaram com o controle de metade da Alemanha e de todo o leste da Europa. Nos 
países libertados pelos russos, assumiram o poder os partidos comunistas que haviam enfrentado 
a ocupação nazista. Terminada a guerra, a Alemanha foi dividida em Ocidental (controlada pelos 
norte-americanos, ingleses e franceses) e Oriental (controlada pelos russos). Em 1961, os russos 
ergueram o Muro de Berlim, marco geográfico e símbolo da configuração das relações internacio-
nais no pós-guerra. No ano de 1989, sob um clima de comemoração e euforia, a queda do Muro foi 
considerada um ato simbólico que representou o fim da Guerra Fria e a crise do regime socialista.
Os anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra foram de conformação da nova estrutu-
ra de poder no mundo, ainda sob o paradigma industrial. As potências europeias exauriram suas 
forças nas duas guerras e pagaram o preço de suas escolhas com a perda da liderança mundial. 
A partir de então, o mundo ficou sob a liderança de duas novas potências, os Estados Unidos e a 
União Soviética.
Sociedade e Contemporaneidade48
Constituiu-se o que os especialistas em relações internacionais chamaram de Ordem 
Internacional Bipolar. Essa era a denominação da nova configuração do poder mundial, na qual 
as duas superpotências dividiram o mundo em blocos, com cada uma controlando o seu lado e 
lutando contra a outra. A Ordem Internacional Bipolar funcionava como um sistema integrado, 
em que as duas principais engrenagens se atritavam, embora precisassem uma da outra para fazer 
a máquina funcionar. Os serviços diplomáticos eram determinantes para reduzir tensões entre os 
dois lados da Cortina de Ferro1.
A partir da década de 1950 – quando ocorreu a conversão para o uso pacífico e produtivo 
dos conhecimentos acumulados pelas pesquisas tecnológicas, voltadas para o esforço bélico dos 
anos anteriores –, teve início a crise e a ruptura do paradigma industrial, que se concretizou na 
década de 1980.
6.1 Consolidação de um sistema político-econômico mundial
A descolonização em curso na África e na Ásia, em meados do século XX, marcou o fim 
dos impérios coloniais e provocou o aumento significativo no número de países. Os acordos do 
pós-guerra e o surgimento de novas nações levaram à criação da Organização das Nações Unidas 
(ONU) em 1945. Ao mesmo tempo, o modelo de gestão administrativa das fábricas e das organi-
zações da sociedade industrial foi adaptado, e criou-se uma pirâmide burocrática para gerenciar 
o sistema-mundo. Dessa forma, os serviços diplomáticos estenderam sua área de atuação e ocupa-
ram o lugar de instituição integradora das relações internacionais na antessala da crise do sistema 
da civilização industrial.
Conflitos armados localizados espalharam-se pelo planeta. Movimentos nacionalistas e 
guerrilhas comunistas uniram-se e levaram ex-colônias europeias a se aliarem a URSS, fato que 
aumentou a tensão nas relações bipolares e deu origem ao que ficou conhecido como Guerra Fria. 
Essa expressão designa a constante beligerância nas relações internacionais do período, provoca-
da por guerras civis e conflitos entre países alinhados aos líderes dos blocos capitalista e socialista. 
A cada novo conflito, EUA e URSS eram forçados a usar a diplomacia para aliviar as tensões e 
negociar uma saída, em benefício do equilíbrio do sistema.
Como se vê, as animosidades entre as duas potências nunca chegaram às vias de fato, se mate-
rializaram apenas por meio de pressões econômicas e políticas e pela ampla difusão da propaganda 
ideológica dos dois lados da Cortina de ferro.
Os Estados Unidos passaram a promover pactos com os países da sua área de influência, 
dentre os quais se destaca a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), formada em 1949. 
Do outro lado, a URSS comandou a formação do Conselho de Mútua Assistência Econômica 
(Comecom) e do Pacto de Varsóvia, no qual uniu seus países-satélites em um sistema integrado de 
cooperação econômica e defesa militar. Assim, a constante ameaça de uma guerra nuclear entre 
1 Expressão criada em 1946 pelo primeiro-ministro inglês Winston Churchill (1874-1965) para caracterizar a fronteira 
entre os países vinculados à União Soviética e os do Ocidente Europeu.
A ordem internacional pós-Segunda Guerra 49
EUA e URSS atemorizou o mundo e impôs uma dinâmica de intensas negociações diplomáticasem busca do desarmamento, marcadas em geral por impasses e lentos avanços.
Em 1981, com o apoio da Igreja católica, surgiu na Polônia o Sindicato Solidariedade, o pri-
meiro movimento de massas em oposição à ditadura comunista comandada em Moscou. A partir 
desse momento, a crise do socialismo real se expandiu rapidamente. Em 1987, a obsolescência do 
modelo comunista de gestão estatal centralizada da economia tornou-se visível e o mundo consta-
tou que os acontecimentos da Polônia eram apenas a ponta de um iceberg. A URSS já vivia a crise de 
esgotamento do seu sistema hiperburocrático. Mikhail Gorbachev (1931-), então secretário-geral do 
Partido Comunista Soviético (PCURSS), para tentar conter a desagregação, promoveu políticas de 
abertura democrática e de liberalização da economia. No entanto, era tarde demais: em 1989, caiu o 
Muro de Berlim e, em dezembro de 1991, o império comunista se desestruturou.
A queda do Muro de Berlim, a desintegração da União Soviética e o consequente desmem-
bramento em vários Estados nacionais, a formação de megablocos econômicos regionais (União 
Europeia, Nafta e Mercosul) e o crescimento econômico dos tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, 
Hong Kong e Cingapura) indicavam que essa crise não era comum, pois acontecimentos políticos e 
 econômicos dessa grandeza não ocorrem sempre. Nesse momento, estava se rompendo o paradigma 
sistêmico da sociedade industrial, antecipando-se em mais de uma década o fim do século XX.
A configuração geopolítica do sistema bipolar – em torno do qual se estruturavam as re-
lações internacionais no período imediatamente posterior à queda do Muro de Berlim – mudou 
totalmente. Com a falência do socialismo real e do paradigma marxista da revolução comunista, 
a economia de livre mercado e a democracia liberal se consolidaram como referências solitárias 
no espectro ideológico do sistema político na transição da matriz industrial para a pós-industrial. 
Assim, os Estados Unidos emergiram como a única megapotência do novo momento histórico.
Entretanto, ao contrário do que muitos pensavam, a crise não era só do modelo socia-
lista. A ruptura sistêmica do paradigma industrial repercutiu também nos países capitalistas. 
As grandes corporações empresariais (Ford, General Motors, IBM, Exxon Mobil, Texaco etc.), 
que dominavam o mercado após a Segunda Guerra, começaram a sentir o impacto da emergên-
cia de novos competidores na disputa pelo comércio mundial. Em um primeiro momento, em-
presas da Europa, do Japão e da Coreia entraram na disputa por esse mercado. Em um segundo 
momento, produtos fabricados na China, na Índia e no Brasil invadiram o mercado norte-ame-
ricano, conquistaram a preferência dos consumidores e impuseram às empresas dos EUA um 
esforço de reestruturação e de adaptação a esse novo tipo de competição.
Sem o contrapeso socialista, os EUA ensaiaram tentativas de dominação sobre a economia 
e a política mundiais. Contudo, enfrentaram a competição da Europa unificada em busca da lide-
rança perdida com as duas guerras mundiais e a articulação das potências médias emergentes, que 
buscam por meio de negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) alterar as regras 
do comércio mundial em seu benefício. Dessa forma, Brasil, Rússia, China e Índia articulam-se 
para enfrentar os países-líderes nas disputas pelo poder, nas arenas política e econômica das rela-
ções globalizadas do século XXI.
Sociedade e Contemporaneidade50
Com as bolsas de valores interligadas em redes de comunicação em tempo real, cerca de 
3 trilhões de dólares circulam por dia pelo planeta sem parar, migrando de um mercado para ou-
tro conforme o fuso horário e a dinâmica de abertura e fechamento dos pregões. Como resultado 
disso, ações especulativas contra as moedas de países emergentes espalham tensão no mercado 
financeiro mundial e crises nos países endividados.
Os mercados tensos, velozes, sem regras e fora do alcance dos instrumentos de controle dos 
bancos centrais nacionais desestabilizam as economias dos países que permaneceram no para-
digma industrial. As aplicações dos investidores dos países ricos nas bolsas dos países emergentes 
voltam rapidamente à sua origem quando há ameaça de não pagamento.
Em 1994, a economia do México quebrou. Em 1997, quebraram os tigres asiáticos, e em 
1998 foi a vez da Rússia. O Brasil equilibrou-se no fio da navalha e escapou por pouco. O governo 
brasileiro implantou o sistema de câmbio flutuante e metas inflacionárias, mas pagou um alto pre-
ço para evitar o mesmo destino daqueles países, pois a quebra custaria ainda mais caro.
Em seguida, a Argentina, cuja paridade cambial com o dólar havia sido estabelecida na 
Constituição, não resistiu e também quebrou. A tensão tomou conta dos mercados em todo o 
mundo. O FMI e o Banco Mundial criaram, então, um mecanismo protetor para evitar que a que-
bra dos elos mais fracos inviabilizasse todo o sistema.
Enquanto a economia mundial estremece, novas espécies de crise surgem por toda parte: 
fanatismo religioso, terrorismo, racismo. O crime organizado assume a forma de corporação em 
redes transcontinentais. Catástrofes ambientais de proporções nunca vistas ocorrem em todos os 
lugares: é o meio ambiente cobrando seu preço pelo impacto da ação humana sobre o planeta.
No mundo da produção, os avanços tecnológicos exigem novos paradigmas de gestão: qua-
lidade total, produtividade, terceirização, reengenharia, administração por células e outras técnicas 
inovadoras acompanham a introdução de novos procedimentos na produção e na administração 
empresarial. Postos de trabalho da economia tradicional desaparecem, dispensando trabalhadores 
que não acompanharam as mudanças. Os cargos das empresas de ponta do novo paradigma tecno-
lógico exigem outro tipo de trabalhador: não mais de mão de obra, não mais de recursos humanos, 
mas colaboradores inteligentes, criativos, detentores de conhecimento, com poder de iniciativa e 
adaptabilidade às mudanças rápidas e constantes (TOFFLER, 1990).
O planejamento estratégico das organizações globalizadas muda e assume o novo paradig-
ma: com a cadeia internacionalizada de suprimentos das corporações, com a desregulamentação 
e a abertura dos mercados nacionais e com a formação dos megablocos e o sistema financeiro in-
terligado mundialmente. O território dessas empresas é o planeta. A interdependência econômica 
e a concorrência aberta em escala mundial intensificam a mobilidade do capital e do trabalho, tal 
como acontece com o capital, aumentam também os fluxos migratórios de pessoas em busca de 
trabalho e de uma vida melhor nos lugares onde a riqueza circula com maior intensidade.
Toda a economia mundial se organiza como uma rede que opera em alta velocidade. 
Indivíduos, empresas, regiões e setores econômicos conectam-se na teia virtual que interliga seus nós, 
sem se deter pelas fronteiras físicas dos velhos Estados nacionais. “Nós ricos”, “nós intermediários” e 
A ordem internacional pós-Segunda Guerra 51
“nós pobres” reconfiguram a economia mundial, conectam indivíduos, empresas, setores econômi-
cos e países conforme seu grau de integração ao novo paradigma sistêmico.
Nos países ricos surgem bolsões de pobreza, enquanto nos países pobres surgem bolsões de 
riqueza. Os capitais fluem rapidamente de um lado para outro e circulam com maior intensidade 
no entorno dos nós onde mais tecnologia e conhecimento são acumulados. Os “desplugados” vão 
ficando para trás, talvez irreversivelmente fora do sistema.
Nos EUA, os bolsões de pobreza e marginalidade são compostos principalmente por ne-
gros e imigrantes latino-americanos, na União Europeia, por imigrantes das ex-colônias africanas 
e asiáticas das antigas potências (Reino Unido, França e Alemanha). Mas em todos os continentes, 
integrantes da velha elite branca, judaica ou cristã – cujos valores dominam a sociedade mundial – 
também podem ser encontrados em situação de penúria. Nos países ricos, a população começa a se 
acostumar com a presença demendigos nas ruas e de desabrigados protegendo-se sob marquises 
e caixas de papelão. As estatísticas do governo norte-americano revelam que em 1993, em Nova 
York, aproximadamente de 23 mil homens e mulheres dormiam nas ruas ou em abrigos públicos; 
na Inglaterra, em 1989, aproximadamente 400 mil pessoas foram oficialmente classificadas como 
“sem-teto” (HOBSBAWM, 1995).
Todos esses fatos compõem a questão da justiça social que, não resolvida no século XX, 
prossegue exigindo respostas dos donos do poder.
6.2 A falência do socialismo e a ruptura do sistema
As transformações provocadas pelas novas tecnologias chegaram primeiramente ao lado 
capitalista do sistema industrial. Submetidas à competição aberta em um regime de liberdade de 
circulação de mercadorias, ideias e informações, as empresas privadas são obrigadas a investir em 
pesquisa e em tecnologia para sobreviver.
Desse modo, o novo paradigma sistêmico pós-industrial nasceu e cresceu do lado capitalista 
da sociedade industrial. Por meio dele se difundiu, desestabilizou-se e levou à falência, por obso-
lescência, a economia socialista, cuja utopia era a transformação da sociedade mundial em uma 
enorme fábrica ao estilo das indústrias da primeira metade do século XX, administrada por uma 
corporação de burocratas do partido único.
Sob o sistema econômico socialista não havia liberdade de mercado: toda a economia era con-
trolada pelo Estado e todos os trabalhadores eram funcionários públicos. O trabalho braçal dos empre-
gados de macacão, do chão da fábrica, era mais valorizado do que o trabalho intelectual, considerado 
não produtivo.
Os burocratas socialistas imaginavam ser possível planificar centralmente toda a economia 
de um país e calcular a cada cinco anos a demanda por serviços e por produtos agrícolas e indus-
triais, de modo a suprir integralmente as necessidades de todos os cidadãos soviéticos.
A URSS tinha centenas de milhões de habitantes residentes em regiões totalmente diferen-
tes do ponto de vista social, ambiental, cultural e étnico, entre outras características que tornam 
o século XXI e suas diversas comunidades nacionais de origem e formação históricas específicas.
Sociedade e Contemporaneidade52
Quantas pessoas vão nascer? Quantas pessoas vão morrer? A produção de alimentos será 
suficiente? Há suficiência de matérias-primas? E se o clima produzir uma catástrofe na produção 
agrícola? E os serviços públicos?
Como isolar a economia socialista das “más” influências dos mercados capitalistas vizinhos, 
dos quais os países socialistas precisavam importar produtos que não conseguiam produzir? Como 
evitar que as informações do outro lado da Cortina de Ferro chegassem aos ouvidos e olhos do 
povo? Como impedir que pessoas trabalhadoras, inteligentes e talentosas se sentissem injustiçadas 
ao serem igualadas com vagabundos e desprovidos de talento e inteligência? Como impedir que 
insatisfeitos vejam, pensem e critiquem o que não gostam nesse sistema totalitário?
Ao contrário do que previa a teoria de Marx, que dizia que o Partido Comunista distribui-
ria a riqueza de maneira equânime ao povo, as riquezas apropriadas pelo Estado sob o sistema 
socialista eram distribuídas de modo desigual. Os burocratas do partido (distribuidores privile-
giados) valiam-se de suas posições estratégicas na pirâmide burocrática do Estado e usufruíam 
vantagens inacessíveis ao povo. As indústrias bélica e aeroespacial – únicos setores da economia 
soviética submetidos à competição devido à corrida armamentista com os EUA – consumiam a 
riqueza da economia socialista na pesquisa e desenvolvimento de artefatos militares de destruição 
em massa. No setor produtivo das indústrias destinadas a fabricar bens de consumo para suprir 
as necessidades do povo, as tecnologias e os métodos de gestão ficaram estacionados na primeira 
metade do século XX.
O regime político socialista proibia a competição pelo poder, impedia a livre circulação de 
ideias e informações, punia a crítica e a contestação, concentrava o poder no topo da pirâmide buro-
crática do Estado soviético – fundido às estruturas do Partido Comunista – e emaranhava o proces-
samento das suas decisões num labirinto de escaninhos que tornavam o sistema lento e ineficiente.
Ancorado no paradigma industrial, o socialismo, como sistema econômico e regime políti-
co, funcionava com uma máquina burra da era da mecânica, sem um “software” capaz de absorver 
informações do ambiente e convertê-las em reestímulo, adaptação e melhoria dos seus próprios 
índices de produtividade e eficiência.
Os socialistas atribuíam a pobreza do mundo capitalista à existência da propriedade privada 
dos meios de produção. Para construir o paraíso comunista da igualdade total e impossível, Marx 
dizia que os trabalhadores deveriam ser donos das fábricas por meio do Estado e de organizações 
coletivas. Na prática, a lógica da propriedade estatal entrou em contradição com a evolução tecno-
lógica e a dinâmica do mercado atropelou o socialismo que não conseguiu romper com o passado 
e nem mesmo melhorar a vida dos trabalhadores sob o paradigma industrial (TOFFLER, 1990).
A falência do sistema se tornou inevitável quando a reverberação da onda de mudanças que 
rompeu com o paradigma industrial no Ocidente ultrapassou as fronteiras físicas da Cortina de 
Ferro e entrou em choque com as estruturas obsoletas do industrialismo socialista.
A ordem internacional pós-Segunda Guerra 53
6.3 Revolução tecnológica e novo ciclo de expansão do capitalismo
Sob o paradigma pós-industrial, a acumulação de riqueza e a conquista de poder passaram a 
depender da tecnologia como nunca antes. Em um sistema dependente de tecnologia, o conhecimen-
to é o fator estratégico. Como a pesquisa permite a qualquer um obter os mesmos conhecimentos de 
seus competidores numa economia aberta, o lucro procura quem corre na frente e oferece o melhor 
produto ou serviço pelo melhor preço.
Estruturas tecnológicas de produção, acesso a meios de comunicação e transporte rápidos, 
fontes alternativas e renováveis de energia e posicionamento adequado no território do planeta 
para chegar mais rápido aos compradores e fornecedores se tornaram os fatores estratégicos para 
os competidores da ponta do novo sistema. As empresas que não acompanham as mudanças co-
meçam a quebrar em todo o mundo2.
Em tal situação, acentuaram-se os processos de fusões, incorporações, aquisições e parcerias 
entre empresas. Um grupo pequeno de grandes corporações globais concentrou a competição pela 
liderança dos mercados de produtos de alto valor agregado, como a computação, as telecomunica-
ções, a robótica, a biotecnologia e a química fina, áreas da alta tecnologia que necessitam grandes 
investimentos em pesquisa e produção de conhecimentos novos.
Se as empresas da ponta mais avançada do novo sistema de produção de riqueza operam em 
alta velocidade, quem quiser vender para elas sofre pressões para acompanhar esse ritmo frenético, 
em um processo de coerção centrípeta pela adesão à rede. Ou cumpre os prazos ou perde o cliente; 
ou revela confiabilidade ou perde o vínculo e não renova contratos; ou atende o cliente e responde 
pedidos de informações na hora em que o cliente necessita ou o cliente vai procurar fora quem res-
ponda sua demanda. Agilidade, flexibilidade, inteligência, criatividade, credibilidade e autonomia 
são imprescindíveis em um sistema com essas características (TOFFLER, 1990).
O controle sobre as fontes de matéria-prima, que ocasionou guerras e a corrida pela coloni-
zação do planeta a partir do século XVI, foi superado. As matérias-primas do passado industrial 
estão sendo cada vez mais substituídas por novos materiais sintéticos resultantes da pesquisa cien-
tífica. Sem motores mecânicos à combustão, não dependeremos mais do petróleo, que era inútil até 
a invenção dos motores à combustão. Com supercondutores de porcelana que transmitem energia 
a frio e sem perdas, os metais usados para transmissão de energia perderão valor de mercado.A lógica da economia supersimbólica é fazer mais com menos. A agricultura industrial migrará 
para a engenharia genética, a biotecnologia permitirá a produção de materiais e combustíveis no-
vos e renováveis, capazes de movimentar sistemas de transporte e fontes alternativas de energia 
(TOFFLER, 1990).
2 Formalmente, Toffler (2001) considera o ano de 1955 o início da era pós-industrial, ou terceira onda, conforme sua 
terminologia, utilizando como indicador a estatística socioeconômica oficial que indicou, pela primeira vez, a superação 
do número de trabalhadores vinculados ao setor de serviços em detrimento dos trabalhadores operários de ”chão de 
fábrica”. No entanto, para efeito prático, foi na transição das décadas de 1970 para 1980 que as telecomunicações, os 
computadores e o transporte comercial a jato adquiram escala capaz de provocar essa transformação qualitativa no 
sistema econômico mundial.
Sociedade e Contemporaneidade54
O conhecimento substitui mão de obra, matérias-primas e abrevia ou suprime processos 
e tempo. Essa dinâmica provoca deslocamentos de poder nos âmbitos microeconômico e micro-
político, macroeconômico e macropolítico. O fenômeno social da transformação da família, a re-
volução na gestão das empresas, o desmoronamento do império soviético e as transformações do 
Estado são dimensões diversas de um mesmo processo.
Na economia, o poder e o lucro se deslocam dos produtores de grandes quantidades de 
matérias-primas para as mãos de quem conseguir fornecer, na hora e na dose certas, serviços, in-
sumos, peças ou materiais apenas temporariamente essenciais. Das mãos desses a riqueza flui para 
quem souber produzir o conhecimento necessário para criar novos produtos, serviços ou instru-
mentos que tornem mais competitivo, produtivo e veloz o processo de superação dos concorrentes. 
Quem não se adaptar, estará fora do mercado.
Atividades
1. Com base no que você estudou neste capítulo, pesquise sobre capitalismo, socialismo, co-
munismo e Guerra Fria, com o objetivo de enriquecer seu conhecimento sobre os temas 
aqui abordados.
2. Faça fichas com textos sintéticos que contenham explicações teóricas e informações históri-
cas sobre esses tópicos.
3. Estabeleça contato com colegas de seu curso e compare as informações encontradas, buscando 
novidades que você eventualmente não tenha encontrado em suas pesquisas.
7 
A sociedade pós-industrial
7.1 A natureza da mudança
Nas ciências sociais contemporâneas convivem dois pontos de vista sobre a caracterização 
do processo de transformação social em curso. De um lado, há os que veem nele a simples evolução 
do capitalismo industrial, que estaria desde o século XVI intensificando a integração do mercado 
mundial. Do outro, estão os defensores de que há em curso uma ruptura do sistema social da civi-
lização industrial como um todo e sua reconfiguração como sociedade pós-industrial.
Sob o ponto de vista de evolução do capitalismo, as novas tecnologias da informação repre-
sentariam um terceiro ciclo da Revolução Industrial1, e não uma ruptura desse paradigma sistê-
mico. Já sob a óptica da ruptura como sistema social, mudanças estruturais intensas extrapolam a 
dimensão econômica e se manifestam simultaneamente em todas as dimensões da vida social e em 
escala mundial.
Conforme esse ponto de vista, a mudança do paradigma sistêmico encontra-se em curso e 
por isso ainda não permite uma caracterização definitiva de sua nova configuração estrutural. 
No entanto, já seria possível perceber que as transformações apontam para um sistema social diverso 
e muito mais complexo do que aquele erigido sob o paradigma industrial. A supercomplexidade, a 
diversidade e a fragmentação econômica, social, política e cultural emergem como decorrência natu-
ral da nova lógica do sistema pós-industrial de produção de riquezas, no qual as novas tecnologias da 
informação e das comunicações provocam uma revolução no conceito de capital utilizado até agora.
Em um sistema social dependente de tecnologias sofisticadas, interligado por redes de co-
municação digital de dados, texto, imagens e sons em tempo real, a linguagem audiovisual adqui-
re importância central, pois permite produzir e agregar valor aos produtos em circulação e, ao 
mesmo tempo, construir um sistema de mediação simbólica que desloca o poder das instituições 
tradicionais. Ao colocar produtos na rede e converter esses produtos em circulação em símbolos 
midiáticos globais, o novo sistema de produção de riquezas revoluciona o conceito de capital típico 
do paradigma industrial e cria o conceito de capital simbólico, riqueza intangível.
As novas tecnologias de produção e as redes digitais de comunicação rompem a lógica li-
near, unidirecional, massificadora e sincrônica dos sistemas mecânicos e analógicos do paradigma 
industrial. O impacto das mercadorias-mensagens trocadas em um sistema aleatório, assincrônico, 
multidimensional e que combina comunicação imediata de massas e comunicação segmentada em 
escala planetária provoca mudanças radicais no psiquismo, no comportamento social, nas atitudes 
1 Para os autores que defendem esse ponto de vista, a Primeira Revolução Industrial teria ocorrido entre 1760 e 1860, 
caracterizada pela utilização do carvão como combustível, do ferro como matéria-prima, do vapor sob pressão como 
fonte energética e pela produção de bens de consumo. A Segunda Revolução Industrial teria ocorrido entre 1860 e 1945, 
caracterizada pela utilização do petróleo como combustível, do aço como matéria-prima, da eletricidade como fonte de 
energia e a massificação da produção de bens de consumo.
Sociedade e Contemporaneidade56
e nas trocas econômicas e de poder entre pessoas e organizações que interagem no sistema social 
mediado pelas mensagens audiovisuais em circulação.
Os teóricos que permanecem presos ao paradigma do industrialismo constroem seus mode-
los atrelados a um campo conceitual que despreza o impacto dessas mudanças e da supressão da re-
lação tempo-espaço nas conexões entre os nodos da rede – que, em última análise, são indivíduos. 
Sem compreender o que acontece com a substituição da matriz mecânico-fabril pela matriz das 
redes digitais, não se percebem processos como a desmassificação da produção e do tecido social, 
a desmaterialização da riqueza e a nova lógica do jogo do poder, entre outros.
A inserção de indivíduos, empresas, setores econômicos ou regiões do mundo nesse sistema 
social revolucionário não se torna inteligível para quem tenta analisá-lo com os conceitos supera-
dos das ciências sociais, que manufaturaram suas teorias na esteira mecânica da civilização indus-
trial. Para entender a lógica da civilização das redes digitais, é preciso estar conectado a essas redes 
e saber como se navega no oceano virtual, no espaço intangível existente entre os nodos da teia.
As informações são a matéria-prima básica das mercadorias simbólicas do novo capitalismo. 
O novo capital é gerado com base nas unidades de informação que circulam no sistema, e são cap-
turadas e transformadas pelos criadores da nova riqueza, os quais selecionam, agrupam, classificam, 
codificam, interpretam e organizam sob a forma de mercadorias simbólicas reintroduzidas na rede. 
Fora da rede, um produto “não existe”, seu valor é tendente a zero para os consumidores conec-
tados à rede, os quais concentram o maior poder aquisitivo em qualquer lugar do mundo. Além 
disso, dado o acesso desses consumidores aos instrumentos de produção (computadores, softwares, 
smartphones, sistemas de captura e edição de sons e imagens etc.) dessa nova forma de capital, os 
indivíduos conectados podem ser simultaneamente produtores e consumidores de bens simbólicos.
O velho sistema ainda existe e funciona paralelamente ao novo. Há quem ainda obtenha 
algum lucro ao converter produtos em mercadorias tradicionais para vender às pessoas que não 
estão conectadas à rede. Mas o mesmo produto, transformado em mercadoria simbólica – subme-
tido a um tratamento de publicidadee marketing que lhe confere marca e imagem –, ao ser posto 
em circulação na rede, terá seu valor multiplicado, agregando mais valor.
Imaginar que um sistema social com essas características é mera continuidade sem ruptura 
com seu predecessor pode ser um equívoco. Interpretar o mundo instável de hoje com o olhar de 
ontem também. Uma das características do novo sistema é a mutação acelerada e constante, no 
entanto, isso não impede que se percebam os sinais, o sentido e o rumo das mudanças.
7.2 Sentido e rumo das mudanças
Experimentados por todas as sociedades periodicamente, os processos de transição entre 
períodos históricos são marcados pela instabilidade dos seus sistemas sociais. Guerras, revolu-
ções, conflitos, crimes e desvios de conduta de toda ordem marcam o comportamento social de 
indivíduos de diversos segmentos das sociedades. De modo geral, o que costuma ocorrer é que as 
regras e instituições criadas para responder às necessidades de estabilização da sociedade sob uma 
determinada realidade não conseguem mais cumprir suas funções quando a realidade sobre a qual 
elas se assentam começa a mudar.
A sociedade pós-industrial 57
A dinâmica da realidade sempre precede às normas e instituições criadas para a mediação 
dos conflitos sociais. Quando a realidade muda e escapa ao controle das instituições e as normas 
perdem o poder de definir os parâmetros de conduta dos indivíduos, muitos passam a se mover 
exclusivamente pela cobiça e agem sem levar em consideração o interesse de todos na ordem pú-
blica e na paz social. Em situações como essa, indivíduos sem escrúpulos morais se aproveitam da 
fragilidade do sistema e de outros seres humanos para obter vantagens por meio da transgressão 
de certos preceitos básicos de convivência civilizada. Eles fazem isso com a certeza da impunidade 
que decorre da falência das instituições.
Por outro lado, a ausência de parâmetros rígidos para a mediação social em tempos de mu-
dança também oferece aos mais atentos a oportunidade de conquistar posições privilegiadas no 
processo de reconfiguração da sociedade, sem que para isso seja necessário adotar condutas inci-
vilizadas na consecução de objetivos ambiciosos, mas legítimos. Até que o sistema assimile a nova 
realidade, reencontre seu ponto de equilíbrio e crie novas regras e instituições mediadoras, até que 
os integrantes dessa sociedade encontrem suas posições na nova matriz social, a sensação da maio-
ria dos indivíduos que não entende o que se passa é de caos, de fim de mundo.
Dessa vez, o impacto da ação humana sobre a natureza atingiu um patamar nunca antes 
alcançado, seja pelo número de seres humanos que habitam o planeta e a demanda de consumo 
que têm, seja pelo poderio das tecnologias de produção e destruição desenvolvidas. Sob essas cir-
cunstâncias, a hipótese de destruição total ou parcial da vida sobre a Terra é uma variável que não 
pode ser descartada. No entanto, o instinto de autopreservação estimula pesquisas para o desen-
volvimento de tecnologias capazes de garantir a sustentabilidade perene da vida no planeta, mesmo 
em uma sociedade numerosa e supercomplexa como a atual.
A sensação de “fim de mundo” não é estranha à sociedade humana. Provavelmente o cam-
ponês que viveu na Idade Média tenha experimentado essa sensação ao se deparar com a crise do 
sistema feudal. O mesmo deve ter ocorrido com o trabalhador do final do século XIX e início do 
século XX, que vivenciou demissões em massa nas fábricas em virtude da substituição de seu tra-
balho, antes essencial, por máquinas de alta tecnologia. Os referenciais psicossociais e os elementos 
que permitiam a esses indivíduos ancorarem sua identidade individual e coletiva nas regras e ins-
tituições da sociedade em que viviam ruíram em um curto período.
O processo de transição da civilização agrícola para a civilização industrial, tal como acon-
teceu com a ordem política feudal na transição da civilização agrícola para a civilização industrial, 
ocorreu por meio de pequenas transformações microssociais, microeconômicas, micropolíticas, 
comportamentais e culturais. Acontecimentos como a Revolução Gloriosa (Inglaterra, 1688-1689) 
e a Revolução Francesa (1789-1799), que apartaram a aristocracia e o clero do poder e pavimenta-
ram o caminho da burguesia rumo ao comando dos Estados nacionais europeus, foram acompa-
nhadas de situações de grande instabilidade social e efervescência política.
Aqueles que nasceram no período de intensas transformações que aconteceram na passa-
gem do século XX para o século XXI também são espectadores e protagonistas de um momento 
de intensas transformações. Nunca houve tantas informações disponíveis; no entanto, a sociedade 
saberá selecioná-las, organizá-las e interpretá-las?
Sociedade e Contemporaneidade58
7.3 Conhecimento e velocidade
O primeiro pré-requisito para entender a natureza, o sentido e o rumo das mudanças em 
curso é se despir dos conceitos e preconceitos acerca da história, sociedade, economia e política.
Nas duas ondas civilizatórias que antecederam a civilização pós-industrial, a riqueza e o po-
der se assentavam sobre bases materiais. Quando a sociedade vivia da agricultura, os detentores do 
poder e da riqueza eram os grandes proprietários de terras. Na era industrial, a terra foi substituída 
por máquinas e matérias-primas. Terra, máquinas e matérias-primas são símbolos tangíveis para a 
riqueza. Não é possível que vários indivíduos usufruam simultaneamente dos mesmos bens mate-
riais sem que isso imponha a sua divisão em partes e, como consequência, o compartilhamento da 
riqueza neles embutida se dará entre os destinatários de cada parcela do território, das máquinas 
ou de qualquer bem material.
A passagem da sociedade agrícola para a industrial sofisticou o modo de representação da 
riqueza. A riqueza do período industrial era representada por símbolos impressos em papel-moe-
da, títulos, debêntures, certificados de ações e outros papéis que atestavam a participação dos in-
vestidores nos empreendimentos.
Na era pós-industrial, a riqueza se desmaterializa. Do dinheiro como símbolo, passou-se aos 
bytes e pixels como supersímbolos. De alguma forma, todo o sistema social (incluindo até mesmo 
quem não está conectado na rede) passa a sofrer o impacto da dominante presença da tecnologia 
como meio de produção e circulação de mensagens em forma de dados, textos, imagens e sons. 
Os símbolos da riqueza nesse sistema são pulsos eletrônicos trocados na rede, muitas vezes con-
vertidos em imagens.
O sistema como um todo é dependente de tecnologia, que por sua vez é resultado do co-
nhecimento produzido e, ao mesmo tempo, é instrumento central do novo sistema produção de 
conhecimento. O conhecimento é a riqueza e, ao contrário da riqueza material das civilizações 
agrícola e industrial, é intangível, ubíquo, infinito, flexível e democrático, isto é, pode ser tomado 
para si por mais de uma fonte de poder. Segundo Toffler (1990, p. 44):
Hoje, nas nações ricas em rápida mutação, apesar de todas as iniquidades de 
renda e riqueza, a fatura luta pelo poder irá se transformar, cada vez mais, numa 
luta pela distribuição e pelo acesso ao conhecimento. É por isso que, a menos 
que compreendamos como e para quem flui o conhecimento, não poderemos, 
não poderemos nos proteger contra o abuso de poder nem criar sociedade me-
lhor, mais democrática, que as tecnologias do amanhã prometem. O controle do 
conhecimento é ponto crucial da futura luta de âmbito mundial pelo poder em 
todas as instituições humanas. 
A natureza democrática do conhecimento (o fato de que qualquer pessoa que se dedique a 
estudar e pesquisar, pelo menos em tese, pode ter acesso aos mesmos conhecimentos) é o que nos 
remete ao segundo conceito-chave para a compreensão da lógica que move a sociedade pós-indus-
trial: a velocidade.
Como tudo em uma sociedade tecnológica depende do conhecimento e qualquer um 
pode descobrir, a qualquer momento, um produto ou serviço melhor e mais barato que seusA sociedade pós-industrial 59
competidores, pode mais quem corre mais. As mercadorias lançadas à rede tornam-se obsoletas 
rapidamente. Os agentes de mercado, imediatamente, lançam-se em uma corrida desenfreada para 
desenvolver um produto melhor a preço melhor.
Assim, a corrida pelo conhecimento gera mais e mais conhecimento, e mais riqueza. E quem 
produz conhecimento são seres humanos estimulados por desafios. Com o apoio de tecnologias 
que permitem ampliar os limites do poder criador do cérebro humano, com incentivos adequados, 
mentes criativas trabalham em equipes inteligentes potencializam em escala exponencial o proces-
so de criação de novos conhecimentos e de mais riqueza. O novo sistema, portanto, depende de 
tecnologia e de seres humanos inteligentes. Quanto mais seres humanos inteligentes integram essa 
sociedade, mais rica e próspera ela é.
O que isso significa? Significa que estamos criando novas redes de conhecimen-
to [...] ligando os conceitos uns com os outros de maneira impressionante [...] 
armando notáveis hierarquias de inferência [...] desovando novas teorias, hipó-
teses e imagens baseadas em inusitados pressupostos, novas linguagens, códigos 
e lógica. (TOFFLER, 1990, p. 108)
Na atualidade, a maioria dos seres humanos sabe decodificar combinações de letras e/ou 
algarismos e formar palavras e/ou números. Fazer contas, saber ler e escrever, em um passado não 
muito distante, era privilégio de poucos. Na sociedade medieval, por exemplo, mesmo integrantes 
da elite aristocrática por vezes precisavam de quem os auxiliasse nessas atividades, hoje acessíveis 
a grandes parcelas da população mundial uma ferramenta indispensável.
Na década de 1960, o número de pessoas que tinham acesso a computadores e sabiam usá-
-los talvez equivalesse proporcionalmente aos poucos alfabetizados da Idade Média. Hoje o com-
putador conectado à uma rede está presente em quase todos os locais de trabalho e se tornou uma 
ferramenta indispensável.
O progresso social e a acumulação de riquezas, assim como o acesso à riqueza, também é 
resultado de um longo processo de democratização do acesso ao conhecimento. Grande parte da 
capacidade criativa dos seres humanos de hoje não surgiu por geração espontânea e nem da estaca 
zero: vem do conhecimento acumulado oriundo de diversas civilizações e culturas, os quais servem 
de alicerce e combustível para o progresso da civilização contemporânea.
Desse modo, podemos dizer que todos os sistemas econômicos se apoiam em uma base de 
conhecimento acumulado e que sociedades e empresas dependem deste para produzir riqueza. 
Hoje, com a dependência da economia supersimbólica em relação à tecnologia e ao conhecimento, 
esse insumo tornou-se o mais importante de todos.
7.4 Riqueza intangível e economia simbólica
No passado, uma empresa ou nação era considerada competitiva se dispusesse de acesso a 
matérias-primas e mão de obra baratas. Hoje, em uma economia na qual símbolos geram e agre-
gam valor, o que torna uma empresa competitiva não é seu hardware (prédios, máquinas, patri-
mônio), e sim o software, isto é, a inteligência, a criatividade, o espírito empreendedor, a postura 
Sociedade e Contemporaneidade60
obstinada e a capacidade organizacional dos colaboradores, e seu poder de inovar nas estratégias 
de publicidade e marketing.
Aliás, o investimento em marketing e publicidade tornou-se central no novo sistema de pro-
dução de riqueza, pois o valor da mercadoria depende mais da imagem do produto e da marca pos-
tos em circulação na rede de trocas simbólicas que do custo material nele embutido. Isto é, o novo 
consumidor compra antes os atributos de imagem que a publicidade agrega aos produtos (status, 
prestígio, poder, sex appeal) que os produtos em si.
O próprio dinheiro de papel está sendo gradativamente substituído por um complexo sis-
tema de pagamentos eletrônicos que interconecta compradores, intermediadores e vendedores 
sem que sequer um centavo precise ser sacado do bolso do consumidor para adquirir qualquer 
mercadoria. Ao fazer operações bancárias pela internet ou com cartões magnéticos em terminais 
conectados aos computadores dos bancos, são transferidos pulsos eletrônicos instantâneos. Isto 
é, transferem-se dados, convertidos em informações e símbolos (TOFFLER, 1990). Informações 
transformadas são a base do conhecimento. Assim, os símbolos (ícones e imagens lançados à cir-
culação na rede) agregam e se convertem em valor. Essa é a novidade da economia revolucionária 
da sociedade das redes. Uma economia supersimbólica2.
7.5 Trabalhar e empreender na nova economia
Do ponto de vista estritamente econômico, uma das características centrais da sociedade 
pós-industrial é o deslocamento do trabalho manual, baseado no uso de tecnologias mecânicas, 
para a prestação de serviços. Nos Estados Unidos, no início da década de 1990, por exemplo, o 
setor de serviços já respondia por aproximadamente três quartos da força de trabalho, “a tal ponto 
que as exportações mundiais de serviços e de ‘propriedade intelectual’ já [eram] iguais às de pro-
dutos eletrônicos e carros juntas, ou às de alimentos e combustíveis também somadas”(TOFFLER, 
1990, p. 95).
Indivíduos, empresas e governos que pretendam garantir seu lugar na sociedade do futuro 
precisam estar atentos a essa dinâmica, conectando a si mesmos e aos seus na lógica das redes de 
alta tecnologia. O que muda não é apenas o conceito de trabalho, mas também o conceito de em-
prego tal como ele existia até há poucas décadas. 
Na economia supersimbólica, os novos trabalhadores e as novas empresas devem ser classi-
ficados de acordo com a qualidade e a intensidade do conhecimento processado em suas estruturas 
de trabalho ou produção, isto é, conforme o volume e a complexidade do trabalho mental que 
realizam. O mesmo vale para regiões, setores econômicos ou nações. Os mais cultos e velozes serão 
os líderes do futuro. Ou já o são.
2 Sobre esse aspecto, indicamos a leitura da obra Powershift: as mudanças de poder, de Toffler (1990).
A sociedade pós-industrial 61
Atividades
No questionário a seguir, há 13 perguntas que permitem avaliar seu espírito empreendedor. 
Dadas as características da nova economia, o espírito empreendedor é um requisito importante 
para a inserção no sistema de produção de riqueza.
Analise e descubra quais qualidades você precisa desenvolver para buscar o sucesso como 
profissional ou empresário. Cada pergunta apresenta três repostas possíveis, desde o espírito mais 
empreendedor (respostas [a]), passando para um nível intermediário (resposta [b]) e chegando a 
um perfil mais distante das características adequadas às exigências do mercado (resposta [c]).
1. Você convive bem com situações de risco ao tomar decisões que envolvem sua vida pessoal 
ou profissional?
( ) Sim.
( ) Avalio muito bem a situação antes de decidir.
( ) Não.
2. Você arriscaria investir sua poupança e seus bens pessoais na criação de uma empresa para 
deixar de viver de salário e passar a viver de lucro (ou prejuízo)?
( ) Sim, mas desenvolveria um estudo e um planejamento para meu investimento.
( ) Sim, mas não investiria os bens, apenas a poupança.
( ) Só me envolveria em um projeto como esse com risco zero.
3. Você avalia como imprescindível ter a garantia de uma renda mensal fixa?
( ) Não, pois sei que a vida de empresário ou autônomo às vezes exige situações em que o 
que se fatura não cobre todas as despesas.
( ) Não, mas sinto necessidade das garantias que a legislação social dá aos trabalhadores 
(férias, décimo terceiro salário, aposentadoria pelo INSS etc.).
( ) Sim, pois fico emocionalmente desestabilizado sem a garantia de um salário fixo mensal.
4. Você se sente motivado a se esforçar mais recebendo remuneração mensal regular?
( ) Não, a renda mensal estável não melhora meu rendimento profissional.
( ) Ao fim do mês, quando recebo meu salário, sinto que mereço ganhar mais.
( ) Sim, a renda mensal fixa me dá segurança.
5. Considerando seu enquadramento nas opçõesa seguir, você considera mais importante ob-
ter lucros bons e imediatos ou aplicar seus recursos na garantia de um futuro melhor?
( ) Gosto de ganhar dinheiro rápido, mas para investir sinto necessidade de prever os re-
sultados de curto, médio e longo prazo por meio do planejamento.
Sociedade e Contemporaneidade62
( ) Sei que é necessário esperar para obter retorno de um investimento. No entanto, se 
avaliar que o negócio em vista é bom, aposto no lucro rápido sem pensar nas consequências 
de longo prazo.
( ) Só penso no presente e no ganho imediato. Pensarei no futuro quando ele se tornar 
presente.
6. Quando você está diante de problemas, consegue vê-los pelo lado positivo e pelas oportuni-
dades que se apresentam, mesmo na adversidade?
( ) Sim, pois ao buscar e encontrar a solução para um problema transformo isso em expe-
riência acumulada, o que me qualifica como competidor.
( ) Raramente, pois consigo assimilar uma solução somente depois de vê-la testada e aprovada.
( ) Não, prefiro que alguém resolva antes e me dê a solução pronta.
7. Como se sente ou se sentiria trabalhando como autônomo?
( ) Bem.
( ) Um pouco inseguro, mas se não tivesse alternativa me adaptaria.
( ) Não suporto a instabilidade da condição de autônomo.
8. Você agendou um encontro de negócios com investidores. No dia da reunião em seu escritório, 
faltaram os funcionários de serviços básicos (faxineira, office-boy, secretária). Você assume as 
tarefas desses funcionários – elas poderiam prejudicar a reunião se não executadas – para não 
perder o negócio?
( ) Sim, a imagem da sua empresa e o sucesso dos negócios são prioridade número um.
( ) Faz todo o possível para que outros funcionários os substituam nas funções para não se 
envolver com tarefas menores, a menos que irreversível.
( ) Adia a reunião pois não admite se humilhar executando tarefas menores.
9. Na condição de dono de uma galeria de artes que vende objetos valiosos, você se submeteria 
a atender os clientes, fechar vendas, embalar as peças vendidas, receber pagamentos e preen-
cher notas fiscais?
( ) Sim, sem problemas.
( ) Receber o pagamento tudo bem, mas embalar as peças é demais.
( ) Serviria um cafezinho ao cliente e, enquanto ele espera, procuraria um funcionário que 
estivesse atendendo outro cliente para executar essas tarefas.
10. Como você reage quando fracassa ao buscar um objetivo?
( ) Acha que na vida nem tudo dá sempre certo e sempre podemos aprender com os even-
tuais insucessos.
( ) Leva um tempo para assimilar e se recuperar ao ponto de retomar as atividades nor-
mais, mas termina conseguindo.
A sociedade pós-industrial 63
( ) Sente-se deprimido e derrotado, tendo grande dificuldade e precisando de muito tempo 
para reagir.
11. Você se arriscaria investindo em um negócio novo, em área que desconhece totalmente?
( ) Sim, pois há muita informação e consultorias disponíveis no mercado para viabilizar o 
acesso ao que é necessário para abrir e operar o novo negócio.
( ) Em parte, pois as probabilidades de insucesso em um investimento desconhecido são 
consideráveis.
( ) Não. Desaconselho totalmente alguém a correr esse tipo de risco, pois a probabilidade 
de insucesso é muito grande.
12. Como você reage diante de obstáculos e adversidades?
( ) Mantém sempre o ânimo em alta para motivar seus colaboradores a agirem da mesma 
forma.
( ) Sente necessidade de incentivo para superar a sensação de que nem tudo saiu como o 
esperado e que precisará de esforço e apoio para prosseguir.
( ) Sem apoio e incentivo de um superior hierárquico, tem enorme dificuldade para reagir.
13. Como você lida com a situação quando trabalha com equipes de colaboradores e está pas-
sando por problemas pessoais que afetam seu estado de espírito e sua disposição?
( ) Finge que está tudo bem e procura não deixar que sua situação pessoal cause má in-
fluência sobre a equipe.
( ) Tenta fingir que está tudo bem, mas nem sempre consegue evitar que os problemas 
pessoais afetem o desempenho da equipe por sua influência.
( ) Não se importa com os outros, pois todos são adultos e devem manter o desempenho 
apesar de você demonstrar humor oscilante.
8 
Identidades em transformação
8.1 O mundo virtual mudando nossa vida real
Uma das mudanças mais significativas em curso na sociedade contemporânea é o fenômeno 
da desmaterialização da riqueza, que tem origem na função estratégica do conhecimento dentro de 
um sistema social dependente de modernas tecnologias1. 
As novas tecnologias de produção se fundiram em escala global com as tecnologias de co-
municação em tempo real. Ao inserir dados, indivíduos alimentam máquinas, que geram riquezas, 
alimentam e movimentam uma rede mundial de trocas de bens simbólicos.
Essa riqueza intangível e fluida é absorvida e convertida em informação, codificada em lin-
guagem digital e decodificada em mensagens reconvertidas para diversos formatos multimídia, 
sendo simultaneamente expelidas, reprocessadas e reabsorvidas por telas eletrônicas. Trilhões de 
operações de input e output2 são disparadas por meio de terminais-nodos da rede espalhados pelo 
mundo, em um processo alucinante e veloz de reprodução do capital simbólico que movimenta a 
economia da sociedade pós-industrial em âmbito planetário.
Inumeráveis “cápsulas” de informação, com os mais diversos volumes, embaladas em múlti-
plos formatos e combinações de imagens, sons, textos e dados trafegam pela rede na velocidade do 
som e da luz e entram pelos ouvidos e os olhos – muitas vezes sem serem percebidas conscientemen-
te –, chegando ao cérebro de bilhões de seres humanos, seus receptores. Recebidas, elas são proces-
sadas e decodificadas, gerando estímulos que se convertem em atitudes, gestos, comportamento.
Das pesquisas científicas sobre o impacto dessas novidades, a maior parte das que são conhe-
cidas e divulgadas têm seu foco nas transformações econômicas e políticas que tais novidades estão 
causando no mundo todo. No entanto, nessas transformações há uma dimensão psíquica individual 
e psicossocial antes pouco percebida e que agora começa a se tornar objeto de estudos científicos.
Esses fenômenos revelam novas e interessantes dimensões do efeito do bombardeio das 
mensagens audiovisuais sobre indivíduos e comunidades em todo o mundo. Transmitidas de um 
lado para outro do planeta em tempo real, interligando comunidades distantes que de outro modo 
talvez nunca soubessem da existência “do outro”, essas mensagens estão provocando mudanças 
profundas nas identidades sociais e individuais dos seus receptores.
1 O conceito aqui empregado considera equipamentos e formas de uso como implícitos à compreensão do que vem 
a ser tecnologia. No caso, por modernas tecnologias, entendem-se aquelas que surgiram por meio do desenvolvimento 
da informática, das telecomunicações e da automação industrial, entre outras, especialmente quando utilizadas a partir 
de suporte digital.
2 Operações de input e output, em linguagem de informática, significam operações de introdução (ou entrada) e ex-
tração (ou saída) de dados em sistemas de informação.
Sociedade e Contemporaneidade66
8.2 Espelho, espelho meu: onde estou, quem sou eu?
Em seu estudo sobre as transformações em curso na sociedade globalizada, Hall (1999) 
argumenta que as velhas identidades – sentimento nacional, papéis sexuais, relações de convi-
vência e pertencimento a um grupo etc., que serviam como elemento estabilizador do psiquismo 
individual e coletivo nos séculos de consolidação da sociedade industrial – estão dando lugar a 
novas identidades culturais. O indivíduo-sujeito, até então tratado pelas ciências humanas como 
unidimensional, está se fragmentando e se convertendo em indivíduo-sujeito multidimensional. 
Como camaleão, o sujeito pós-moderno se mimetiza, assume múltiplas identidades conforme as 
circunstâncias momentâneas que vivencia e os ambientes que frequenta.
A origem dessa crise de identidade individual e coletiva é o turbilhão de imagens que os 
indivíduos contemporâneossão expostos em uma sociedade interconectada por redes digitais de 
trocas simbólicas. As linguagens multimídia da teia digital de comunicação on-line comprimem 
a distância física, eliminam o fator tempo e diluem as fronteiras invisíveis entre o mundo real e o 
mundo virtual das informações que circulam entre os nodos da teia digital.
A interconexão por redes de comunicação digital em tempo real fragmenta as estruturas 
e processos que configuravam os subsistemas social, político, econômico e cultural da sociedade 
industrial. O impacto dessa nova realidade é avassalador. Os elementos que serviam à mediação 
social, isto é, as normas e instituições da sociedade industrial e os valores culturais que serviam 
de referencial para a estabilidade psicológica e psicossocial dos indivíduos nos ambientes micro 
e macrossocial no passado recente já não cumprem a mesma função, pois foram deslocados pela 
nova realidade (HALL, 1999).
O fenômeno da globalização está desconfigurando e reconfigurando a percepção dos indiví-
duos e da sociedade sobre as classes sociais, os gêneros sexuais, a sexualidade, a etnia, a nacionali-
dade etc., que forneciam referências para a inserção social dos indivíduos por meio de seus círculos 
de pertencimento – família, trabalho, localização espaçotemporal, orientação sexual, grupos de 
convivência, hierarquias do poder.
Essas transformações atingem as identidades individuais e abalando o modo como os 
indivíduos-sujeitos percebem a si mesmos. A sensação psicológica é de deslocamento virtual, de um 
mundo estável e cercado por sólidos referenciais de inserção social, para um “lugar” e um “tempo” 
incertos e não sabidos. A consciência que se imaginava ter sobre o lugar que se ocupava no mundo 
social e cultural se perdeu. Simultaneamente à perda dos referenciais externos, os indivíduos sentem 
desmoronar os referenciais de identidade pessoal que construíram ao longo de suas vidas. Ao acio-
narem os mecanismos psicológicos de contraste com as identidades dos outros que o cercam para 
se situar e responder às demandas de uma realidade exterior que deixou de ser como era antes, os 
indivíduos se sentem flutuando em um ambiente sem chão e sem tempo cronológico linear.
8.3 De onde viemos? Onde estamos?
A concepção de pessoa humana que emergiu com o fim da Idade Média e o início da era 
industrial (na esteira da razão iluminista, que substitui a religião pela ciência como porta-voz das 
Identidades em transformação 67
repostas às perguntas que a humanidade se faz desde o tempo dos filósofos gregos clássicos – 
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?) baseava-se na ideia de que o indivíduo-sujeito 
era alguém autocentrado, uno, absolutamente racional, consciente e capaz de agir sobre a realida-
de. Esse sujeito se autoconstruía por meio de um núcleo interior que brotava quando o indivíduo 
nascia e com ele se desenvolvia ao longo de sua existência, embora, em essência, esse indivíduo 
permaneça o mesmo.
Com a crescente complexidade da sociedade urbano-industrial, a noção de sujeito evoluiu 
para uma concepção interativa da identidade individual, originada na consciência de alguém que 
fabrica sua percepção da realidade na relação de contraste que estabelece com outras pessoas com 
quem interage. Desse modo, o sujeito passa a ser visto como resultado da fusão de sua “essência 
interior” com as influências do mundo exterior e constrói sua identidade por meio das represen-
tações que esse mundo lhe oferece ao longo da vida. Assim, estabelece-se uma conexão entre os 
processos psíquicos individuais e os processos sociopolíticos culturais em que o indivíduo se inse-
re. Indivíduo e mundo se completam e se amparam como referenciais estáveis que conferem segu-
rança psicológica e social ao processo de inserção do sujeito no mundo das fábricas e das cidades, 
da produção e do consumo de massa, da comunicação de massa.
Um sistema de comunicação de massa que transmite as mesmas mensagens para multidões 
contribui para a sensação psicológica de segurança do indivíduo que, sem perceber, é cercado por 
referenciais simbólicos homogêneos e padronizados, típicos do padrão industrial de produção e 
comunicação. Esse processo funciona da seguinte maneira: se o que um determinado indivíduo 
assiste na TV aberta é o mesmo que todos veem, pois só existem esses canais de mensagens pa-
dronizadas, e todos veem a mesma coisa na mesma hora e nos mesmos canais, então só existe um 
mundo. E esse mundo “é assim”, da maneira que esse individuo o vê (MOURA, 2007).
No entanto, o surgimento da TV a cabo e da internet trouxe novas possibilidades. Com a 
tecnologia digital, ampliou-se o espectro de canais e de possibilidades de interação multidimen-
sional e multidirecional entre emissores e receptores. Muda a sociedade, mudam os indivíduos, 
e vice-versa.
A mudança atual decorre do fato de as identidades que compunham aquele cenário e asse-
guravam a estabilidade subjetiva dos indivíduos já não corresponderem às necessidades objetivas 
de uma sociedade que não funciona mais como antes. Junto das estruturas e instituições de um 
mundo em processo de transformação, entra em colapso a matriz identidária do sujeito moderno, 
que é um produto da sociedade industrial.
O indivíduo-sujeito da sociedade pós-industrial não tem identidade fixa, não nasce dotado 
de uma essência interior permanente, una e estável. É fragmentado, multifacetado em dimensões 
que podem, inclusive, ser conflitantes e mal resolvidas. Essa nova identidade resulta do bombar-
deio de informações, imagens e referências externas múltiplas e simultâneas a que o indivíduo é 
submetido e que provoca a multiplicação dos sistemas de significação e representação por meio 
dos quais ele constrói suas representações da realidade e suas identidades dentro de cada uma de-
las. Esse sujeito molda identidades diversas em diferentes momentos e lugares e não se apresenta 
perante todos os mundos que frequenta sempre com uma mesma individualidade coerente, estável, 
Sociedade e Contemporaneidade68
autodefinida e imutável desde o nascimento até a morte: suas múltiplas identidades são sempre 
contextuais, flexíveis e adaptáveis às circunstâncias e conveniências do momento e do ambiente.
Na sociedade pós-industrial, ao contrário do que ocorria nas sociedades do passado, as 
mudanças são constantes, rápidas e permanentes. Giddens (1990) afirma que, nas sociedades 
tradicionais, a memória e os símbolos do passado são valorizados porque contêm e perpetuam 
a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço ao conferir 
segurança psicológica a indivíduos e comunidades na medida em que lhes permite a inserção 
em qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do tempo cronológico e li-
near que liga o passado ao presente e o futuro, os quais são estruturados por práticas sociais 
estáveis e rotineiras.
Segundo esse autor, à medida que diferentes áreas do globo são interconectadas em tempo 
real, ondas de transformação social atingem toda a superfície da Terra, pondo em questão a na-
tureza das instituições atualmente existentes. Em uma sociedade em que as regras e instituições 
estão fragilizadas pelo descompasso com a dinâmica das mudanças, disputar a influência sobre a 
reconfiguração das identidades individuais e coletivas é disputar poder. Uma das principais armas 
dessa guerra é a produção e a veiculação de mensagens multimídia.
A identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado em 
seu ambiente social. Na sociedade das redes digitais, a construção das representações é fortemente 
influenciada pelas trocas simbólicas da comunicação audiovisual. Portanto, a identificação com 
essas representações construídas não é automática. Pode ser ganhada ou perdida pelos fabricantes 
de imagens a serviço do estímulo ao consumo ou dos jogos do poder.
Assim, a identidade cultural (nacional, regional, religiosa, sexual etc.) não é uma essência 
fixa que se mantém imune às múltiplase simultâneas influências externas. Muitas vezes, é essa no-
ção conservadora (eventualmente até reacionária) da identidade cultural dos povos ou comunida-
des que aciona os movimentos de resistência à globalização em suas dimensões mais retrógradas, 
como o nacionalismo exacerbado e a xenofobia, o fundamentalismo e o fanatismo religioso.
As culturas nacionais e os sentimentos de lealdade e identificação que elas mobilizam corres-
pondem a formas de identidade pela e na modernidade industrial. Na Antiguidade, a identidade 
social e cultural era exercida por fatores étnicos ou religiosos. Em seguida, esses fatores foram re-
manufaturados e reenquadrados pela moldura dos Estados e pelas instituições jurídicas, políticas e 
sociais fabricadas na esteira das revoluções comercial e industrial, como os governos nacionais, os 
parlamentos, os tribunais, os partidos políticos e os sindicatos.
A nova realidade criada pelo fenômeno da globalização está abalando essas estruturas do 
Estado-nação e de suas instituições. A economia simbólica que emerge nesse cenário provoca des-
locamentos do poder das velhas estruturas. Emergem pressões simultâneas no sentido da criação 
dos grandes blocos econômicos regionais e de novas instituições supranacionais, que absorvem 
parte das atribuições – antes soberanas – do Estado-nação. E, por outro lado, com a diluição das 
fronteiras dos Estados nacionais nos megablocos, despertam do sono profundo aquelas identi-
dades étnicas e religiosas adormecidas desde a era feudal, estimulando as comunidades locais e 
Identidades em transformação 69
regionais a reivindicarem a possibilidade de buscar, em instâncias de poder mais próximas dos 
cidadãos, soluções que as velhas estruturas estatais já não conseguem suprir.
Segundo Giddens (1990, p. 64),
a “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atra-
vessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organiza-
ções em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade 
e em experiência, mais interconectado. A globalização implica um movimento 
de distanciamento da ideia sociológica clássica de “sociedade” como um sistema 
bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se concentra na forma 
como a vida social está ordenada ao longo do tempo e do espaço.
Para Giddens, portanto, os referenciais socioculturais e comunicacionais cumprem funções 
de mediação social simbólica que na sociedade contemporânea exercem papel central para fins de 
ordenamento da vida na sociedade global, diferentemente das velhas instituições, quando o Estado 
nacional era o mediador social relevante.
8.4 Para onde vamos?
De acordo com Hall (1999, p. 69), há pelo menos três possíveis consequências do impacto 
da globalização:
1. A desintegração como resultado da tendência à homogeneização cultural 
influenciada pela difusão de mensagens padronizadas em escala global por 
veículos de comunicação de massa remanescentes da “filosofia” industrial.
2. O reforço de identidades nacionais e outras identidades locais que optam 
pela resistência e rejeição à influência “alienígena”, ”impura” e “ameaçadora” 
do bombardeio de imagens externas.
3. O surgimento de novas identidades – híbridas – resultantes de mistura das 
influências externas com as matrizes identidárias das comunidades locais em 
transformação.
O fortalecimento de identidades locais como reação defensiva às pressões exercidas pela 
globalização pode assumir diversas formas. Entre as mais evidentes estão o racismo praticado por 
grupos étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de outros povos em um mun-
do em que a facilidade de deslocamento geográfico deu mobilidade e possibilidade à “invasão” da 
Europa e dos Estados Unidos por contingentes migrantes vindos da África, das Américas do Sul e 
Central ou da Ásia.
As comunidades de imigrantes ameaçadas pela xenofobia e pelo racismo tendem, por sua 
vez, a se defender por meio do agrupamento territorial e de construções simbólicas híbridas, crian-
do ilhas comunitárias no território físico e simbólico das nações invadidas. A resposta vem por 
meio de novas identidades e representações simbólicas construídas por meio de elementos estéti-
cos e comportamentais importados de suas nacionalidades de origem e mixados com elementos 
simbólicos do novo ambiente externo a que se expõem.
Assim, as identidades adquirem sentido somente por meio da linguagem e dos sistemas 
simbólicos pelos quais elas são representadas. A identidade é relacional, isto é, uma determinada 
identidade depende de referenciais externos que lhe sirvam de termo de comparação (“eu não sou 
Sociedade e Contemporaneidade70
o que você é”), com base no qual definimos o que somos. A identidade, portanto, constrói-se pela 
demarcação da diferença em relação aos outros (WOODWARD, 2000).
Ora, a identidade social assumida pelos indivíduos perante seus grupos de pertencimento 
ou comunidades regionais e nacionais são fatores fundamentais para a constituição da sensação de 
segurança psicológica e psicossocial e, consequentemente, para a estabilidade emocional de cada 
um e de todos. Essa estabilidade social e individual é construída tendo por base a demarcação das 
diferenças existentes entre indivíduos e comunidades, por reflexos contrastados a símbolos (tra-
ços de personalidade no caso individual, sentimentos de pertencimento e identificação grupal, de 
identificação com a nacionalidade e/ou com valores culturais, no caso de coletividades), cuja cons-
trução é influenciada por disputas de poder travadas entre indivíduos e grupos cujas interações 
também são mediadas simbolicamente, por meio da cultura e das comunicações.
Se assim é, então se torna facilmente compreensível o que está acontecendo com o psiquis-
mo social e individual dos membros dessa sociedade que se autobombardeia de forma perma-
nente, multidimensional e multissensorial, com mensagens multimídia multidirecionais. Isto é, 
a multiplicidade de representações simbólicas a que os indivíduos e coletividades são expostos 
produz confusão e instabilidade, exercendo forte impacto sobre o psiquismo individual e sobre os 
referenciais psicossociais das sociedades. Fabricar e veicular imagens que sirvam de referência de 
identificação para indivíduos, grupos e povos, nesse contexto, é capital, é poder. Na medida em que 
indivíduos e comunidades identificam-se com essas representações em circulação nos veículos de 
comunicação, alinham-se com os interesses de seus emissores, assumindo atitudes de consumo, no 
caso da dimensão econômica desse processo, ou de adesão e apoio político, no caso das disputas de 
poder existentes em todas as formações sociais.
Atividade
1. Com base nos conteúdos desenvolvidos neste capítulo, construa suas respostas para as 
seguintes interrogações:
a) O que é realidade virtual?
b) O que é linguagem multimídia?
c) O que é hipertexto?
d) Quais possíveis definições são dadas por diferentes autores ao conceito de pós-moder-
nidade?
Obs.: Há farta literatura acadêmica sobre esses temas, que você poderá consultar se for de 
seu interesse desenvolver pesquisa científica sobre a temática.
9
 Significados e representações no mercado de símbolos
9.1 Representações e identidades
Acerca da representação e das práticas de significação, Woodward (2000, p. 18) afirma que:
Pode-se levantar questões sobre o poder da representação e sobre como e por 
que alguns significados são preferidos relativamente a outros. Todas as práticas 
de significação que produzem significados envolvem relações de poder, incluin-
do o poder para definir quem é incluído e quem é excluído. A cultura molda a 
identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre várias 
identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade. [...] Somos 
constrangidos, entretanto, não apenas pela gama de possibilidades que a cultura 
oferece, isto é, pela variedade de representações simbólicas, mas também pelas 
relações sociais.
Autoresque estudam a problemática da identidade cultural e individual na sociedade con-
temporânea (como Richard Johnson, Paul du Gay, Stuart Hall) desenvolveram um modelo sistêmico 
para explicar, de maneira esquemática e sintética, o que chamam de circuitos culturais, no qual cir-
culam as trocas simbólicas da sociedade industrial. 
A Figura 1 resume de maneira esquemática o circuito da cultura e seus cinco pontos refe-
rentes ao processo de circulação dos valores simbólicos no circuito: a produção (ou reprodução), o 
consumo, a regulação, a representação e a identidade.
Figura 1 – Representação do circuito da cultura1
Representação
Regulação Identidade
Consumo Produção
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Hall, 2016.
1 A representação gráfica do circuito da cultura tal como exposta na Figura 1 foi originalmente publicada no livro 
O gauchismo no marketing de Olívio Dutra (MOURA, 2006), com base em briefing deste autor.
Sociedade e Contemporaneidade72
Os elementos pertencentes ao circuito podem ser definidos como:
• Produção: resulta de ações de transformação organizada de algo em um produto simbó-
lico com forma distinta daquilo que lhe deu origem.
• Consumo: consiste no ato de gastar/usar produtos, de converter o produto simbólico em 
comportamentos, atitudes, desejos, sentimentos, isto é, uma resposta ao estímulo provo-
cado pela exposição do bem simbólico aos seus receptores-alvo.
• Regulação: ocorre quando esse artefato simbólico, ao ser veiculado e assimilado pelos 
receptores, exerce função de regulação da vida social, com vistas para estimular a criação 
de valores materiais e simbólicos.
• Representação: resulta da associação de sentidos a determinado artefato. Os bens sim-
bólicos em circulação são resultado de representações construídas pelos seus produto-
res-emissores com a finalidade de recrutar a identificação dos receptores. Os receptores 
interpretam livremente as mensagens em circulação e constroem suas múltiplas leituras 
próprias das mensagens recebidas e respostas em circulação, agora como novas represen-
tações da realidade convertida em símbolo.
• Identidade: corresponde à forma como os indivíduos-sujeitos se posicionam com relação 
às representações construídas e lançadas ao mercado de trocas simbólicas. Dessa maneira, 
os emissores podem (ou não) cooptar a identificação dos receptores conforme sua maior 
ou menor capacidade de construírem representações capazes de seduzir os sujeitos-alvos 
de suas mensagens.
Os pontos-momento do circuito da cultura se inter-relacionam em quaisquer sentidos ou di-
reções, sem sequência lógica e sem rotina preestabelecida. Uns dependem dos outros. No entanto, 
cada um difere dos outros em função da maneira como se relaciona com os demais e também do siste-
ma-processo como um todo. Qualquer lugar do circuito pode servir de porta de entrada do processo 
de circulação.
Em certo sentido, talvez se possa dizer que a lógica do processo é a de um moto-contínuo 
que reabsorve a energia simbólica que gera e a converte no combustível que utiliza para produzir 
mais energia. Conforme Woodward (2000), os discursos e os sistemas de representação constroem 
os lugares por meio dos quais os indivíduos podem se posicionar e podem falar.
Para compreender a posição da identidade no circuito de reprodução da cultura da socie-
dade, é preciso entender a relação que se estrutura entre cultura e significado nos sistemas de 
representação. Compreender os significados que circulam nesses sistemas é possível somente ao 
assimilar como os sujeitos podem ser posicionados em seu interior.
Assim, o foco de análise dos sistemas de representação se desloca para a forma como as 
identidades assumem a lógica das representações construídas, pois é por meio da assimilação 
dos significados produzidos pelas representações que os indivíduos atribuem sentido às suas ex-
periências existenciais. O indivíduo descobre seu lugar no mundo e adquire a sensação de segu-
rança e estabilidade emocional quando se identifica com certas representações da realidade que 
correspondem às suas demandas e desejos. Essas demandas e desejos, por sua vez, também foram 
 Significados e representações no mercado de símbolos 73
criadas por estímulos decorrentes de bens simbólicos a que esse indivíduo foi exposto em algum 
ponto do circuito.
O conceito que descreve o processo pelo qual os indivíduos se identificam uns com os outros 
– seja pela não percepção da diferença, seja pela percepção de supostas similaridades – tem origem 
psicanalítica e exerce função central na compreensão que, na fase edipiana, a criança desenvolve so-
bre sua própria situação como sujeito sexuado. O mecanismo é o mesmo aplicado à compreensão do 
processo de ativação de desejos inconscientes que imagens despertam em indivíduos, como a iden-
tificação que certas pessoas assumem em relação a personagens de filmes (WOODWARD, 2000).
Na psicanálise usa-se o termo mimetismo para designar o mecanismo por meio do qual um 
indivíduo se apropria de aspectos de outro, buscando parecer-se com ele, como ocorre, no complexo 
de Édipo, no caso da identificação do filho com o papel paterno. Burgelin (1974, p. 105-118) suge-
re que talvez o termo mais adequado para esse mecanismo de identificação seja o de imaginário, 
oposto ao sentido de real ou de simbólico. Sem isso, não poderia haver participação imaginária e um 
determinado grau de identificação do sujeito com as representações a que é exposto. Participação 
imaginária é algo mais abrangente do que apenas o mecanismo de identificação do sujeito com 
representações, pois pressupõe a imersão dos indivíduos no mundo virtual de um sistema que se 
movimenta e se retroalimenta pela circulação de bens simbólicos que ele mesmo produz e reproduz.
Segundo esse autor, não é somente a identificação mínima que se encontra em toda a parti-
cipação o que importa, mas sim o fato de a identificação poder desencadear atitudes e comporta-
mentos, como a idolatria do fã ou a imitação do herói, entre outras formas de participação. A partir 
do momento que alguém adapta seu comportamento ao modelo que lhe é apresentado como bem 
simbólico circulante, esse modelo é apresentado exatamente para estimular o comportamento as-
similado, como costuma ocorrer em função das imagens de mulheres veiculadas pela publicidade.
Para que o mecanismo de identificação funcione, é preciso que as mensagens possam se 
desenvolver e que o universo representado simule como se fosse real algo que está no imaginário 
do destinatário da comunicação. É o que ocorre nos spots publicitários que mesclam o cotidiano 
das top models como se elas fossem donas de casa comuns, que consomem em seu cotidiano os 
objetos-símbolo lançados ao mercado para consumo, sugerindo a ideia de que a vida imita a arte 
(BURGELIN, 1974).
De acordo com Burgelin (1974), os meios de comunicação que operam na esfera da identifi-
cação mantêm um incessante discurso a fim de persuadir o destinatário de suas mensagens de que 
as representações simbólicas encarnadas pelas top models e os popstars como personagens de spots 
publicitários não são inacessíveis como pode parecer. Dessa maneira, vistos como gente como a 
gente, eles ficam mais próximos do receptor e mais eficientes para recrutarem consumidores pela 
magia da identificação. Assim, por meio desse mecanismo, produz-se uma rápida fusão entre sím-
bolo e receptor, pois o modelo não é apenas proposto à imaginação: o modelo é o que o receptor 
precisa ser se pretende satisfazer seu desejo de identificação com a representação simbólica a que 
foi exposto – imitar e consumir, no caso da publicidade comercial; votar em um candidato, no caso 
do marketing eleitoral.
Sociedade e Contemporaneidade74
9.2 Participação imaginária
A delimitação por contraste entre o que eu sou e o que o outro é – seja por meios simbólicos, 
seja pela exclusão do outro do meu círculo social – é o núcleo central de recrutamento de identida-
des a partir da construção de representações. A construção designificados se faz com base na or-
ganização e da ordenação das coisas em sistemas classificatórios2, por meio dos quais se demarcam 
as formas de diferenciação simbólica e social. As formas pelas quais os indivíduos criam fronteiras 
simbólicas e delimitam diferenças culturais e sociais são fundamentais para compreender as iden-
tidades. Segundo Woodward (2000, p. 40):
Cada cultura tem suas próprias e distintivas formas de classificar o mundo. É pela 
construção de sistemas de classificação que a cultura propicia os meios pelos quais 
podemos dar sentido ao mundo social e construir significados. Há, entre os mem-
bros de uma sociedade, um certo grau de consenso sobre como classificar as coisas 
a fim de manter uma ordem social. Esses sistemas partilhados de classificação são, 
na verdade, o que se entende por cultura.
A mais recorrente maneira de demarcação da diferença ocorre por meio de opostos biná-
rios, pois a relação entre os dois termos que uma oposição binária constrói desequilibra a balança 
do poder entre os antípodas. No entanto, como está a serviço de disputas de poder, o significado 
é viscoso, escorregadio, fluido, instável e sempre sujeito às metamorfoses decorrentes do interesse 
circunstancial de seus construtores-emissores.
9.3 O poder de infinitas caras: realidade ou imaginação?
Identidade e subjetividade são conceitos normalmente confundidos, mas não são coinci-
dentes. A subjetividade envolve sentimentos, pensamentos e emoções conscientes e inconscientes 
relacionadas com as concepções sobre quem somos. Além disso, a subjetividade é mobilizada no 
contexto social por meio da influência do sistema simbólico, no qual as representações construídas 
por meio da linguagem e da cultura conferem significado às expectativas e desejos, convertidos 
em identidade. Assim, a eficácia das mensagens pode ser medida por sua capacidade de recrutar 
indivíduos pela identificação com as representações. A sujeição ocorre por livre escolha de quem 
opta por assumir uma posição no sistema simbólico, e as posições assim assumidas formam a 
identidade de cada um.
Ao se assumirem e se reconhecerem (de maneira inconsciente) em determinadas identida-
des, os indivíduos-sujeitos são interpelados pelas representações a que se expõem, são recrutados 
para ocupar posições de sujeito a partir do momento em que assumem determinada identidade.
Essa interpretação da realidade contemporânea confere centralidade aos mecanismos de 
identificação como protagonistas da história em uma sociedade na qual a economia é supersim-
bólica. Portanto, em uma sociedade com essas características, cultura e comunicação desalojam a 
visão dos cientistas sociais de formação marxista, que atribuíam centralidade à influência determi-
nista da infraestrutura econômica sobre as relações sociais, as instituições políticas e as formações 
ideológicas como motor dos processos de evolução e mudança social.
2 Acerca dessa temática, recomendamos as obra de Durkheim (2001).
 Significados e representações no mercado de símbolos 75
Max Weber (1864-1920), contemporâneo de Marx, já antevira isso muito antes de ser inventa-
da a televisão. Em A ética protestante e o espírito do capitalismo, por exemplo, Weber (1987a) mostra 
que os sistemas de representação (no caso, o protestantismo na formação do espírito empreendedor 
dos capitalistas alemães) têm o poder de recrutar identidades por meio de mecanismos que envol-
vem práticas sociais e simbólicas. Por essa via, mobilizam-se elementos conscientes e inconscientes, 
sociais e individuais, que não são necessariamente determinados por fatores materiais.
Na sociedade das fábricas, a riqueza era o material, embora simbolizada pelo dinheiro de 
papel. O poder político, em decorrência, derivava da riqueza material e tinha endereço: os palácios 
governamentais. A política era monopólio do Estado, a luta pelo poder era drenada e canalizada 
pelos dutos estatais ou paraestatais (sindicatos, partidos, parlamentos).
Em uma sociedade pós-industrial e supersimbólica, o poder também é simbólico. Logo, 
a disputa pelo poder é uma guerra simbólica, que recorre às armas do marketing eleitoral e da 
comunicação política. Na civilização das redes digitais, os poderes têm vários endereços IP3. 
O governo é apenas mais um ícone – poderoso, obviamente – em meio ao turbilhão de imagens da 
guerra simbólica entre os inúmeros centros de poder que disputam para permanecerem à frente 
da onda de mudanças.
Atividades
1. O livro A identidade cultural na pós-modernidade, de Stuart Hall (1999), caracteriza o que 
se entende pela crise de identidade que estaria desestabilizando os sujeitos individuais e 
coletivos da sociedade contemporânea. Pesquise nos conteúdos estudados e sintetize sua 
compreensão sobre a análise dessa questão por Hall.
2. Com base nos conteúdos estudados, descreva de que forma a crise de identidade se relaciona 
com o processo de globalização.
3. Embasado nos conteúdos deste capítulo, caracterize de que modo as mensagens multimídia 
e os valores culturais exercem o papel de mediação simbólica das relações sociais na socie-
dade contemporânea.
3 Combinação de números que identifica um computador conectado em uma rede, relacionando-o aos domínios. 
10
O poder na sociedade pós-industrial
Corrupção, crise do sistema de previdência social, falência financeira e administrativa do 
Estado, baixa qualidade dos serviços públicos, abstinência eleitoral e descrédito dos políticos, con-
frontos violentos entre polícia e manifestantes, fanatismo religioso, terrorismo, revoluções, desaba-
mento de impérios, potências emergentes se organizando para competir com as potências líderes 
no mercado mundial, unificação de nações em grandes blocos regionais, movimentos bruscos da 
opinião pública invertendo resultados eleitorais em curto espaço de tempo. Essas são apenas algu-
mas marcas do momento político mundial.
Basta um olhar mais atento em direção a um passado não muito distante para perceber que 
acontecimentos dessa natureza, em escala generalizada, não aconteceram em qualquer momento 
da história da humanidade. Não é exagero afirmar que as estruturas políticas, jurídicas e adminis-
trativas que a sociedade industrial desenvolveu desde a era das grandes revoluções na Europa e nos 
Estados Unidos, a partir do século XVII, estão ruindo rapidamente.
As instituições públicas desse sistema social (governos, parlamentos, tribunais, partidos, sin-
dicatos, organizações civis) mantinham o mundo coeso cumprindo função de canais de input das 
demandas sociais, processadas e devolvidas à sociedade na forma de decisões políticas e de políticas 
públicas. Os investimentos em serviços públicos básicos de saúde, educação, segurança e infraestru-
tura absorviam grande parte do orçamento público sem a necessidade de participação da iniciativa 
privada, pois o Estado era rico graças aos impostos que extraía das empresas e dos trabalhadores.
O Estado detinha o monopólio quase exclusivo sobre os instrumentos de participação do 
povo nas decisões sobre o destino coletivo das sociedades e de mediação dos conflitos sociais. 
Hoje, ao analisar a maioria os principais países do mundo, especialmente os do Ocidente, que ado-
taram o modelo político-institucional herdado das revoluções europeia e americana, percebe-se 
que o subsistema político de todas essas nações apresentam, em maior ou menor grau, sintomas 
de desintegração.
No entanto, nem tudo é caos na crise das instituições políticas da sociedade industrial. As no-
vas formas do poder da sociedade pós-industrial já começam a se insinuar e a se tornar perceptíveis. 
A invasão da cena política, antes monopolizada pelos partidos e sindicatos, por movimentos sociais 
e organizações não governamentais (ONGs); a mudança nas relações de poder entre homens e mu-
lheres conquistada por meio da inserção destas no mercado de trabalho, antes predominantemente 
masculino; o uso da internet como veículo de movimentos políticos e de opinião (contra políticos, 
governoe empresas) são alguns exemplos desse fenômeno. Toffler chama esse fenômeno de power-
shift. Segundo ele, o impacto das novas tecnologias pós-industriais sobre as relações sociais atuais não 
se limita a transferir poder, mas também transforma a própria natureza do poder. A mudança não 
ocorre apenas dentro das fronteiras cada vez menos definidas dos Estados nacionais. O tabuleiro das 
relações internacionais também está sendo chacoalhado pelo choque da mudança.
Sociedade e Contemporaneidade78
O desaparecimento da URSS deixou um vácuo na balança global do poder. A disputa hoje 
não é mais entre dois blocos, mas sim para saber se a liderança do planeta será monopólio dos EUA 
ou compartilhada de forma multilateral.
Os EUA não são alvo apenas de ataques dos guerreiros medievais e pós-modernos de or-
ganizações terroristas. As grandes corporações norte-americanas que monopolizaram o mercado 
mundial após a Segunda Guerra Mundial estão sob forte ataque concorrencial de empresas asiáti-
cas, europeias e de potências emergentes. A própria formação da Europa unificada e com moeda 
própria representa uma tentativa de deslocar o poder dos EUA e do dólar no mercado mundial. 
Dentro da Europa, a liderança da Inglaterra e da França já enfrenta o poderio econômico e político 
da Alemanha após a reunificação e a obsolescência dos acordos diplomáticos do pós-guerra.
Isso não é tudo. O avanço das mulheres no mercado de trabalho e na política, o uso do 
conhecimento tecnológico de adolescentes perante pais e professores despreparados para a nova 
realidade, o desaparecimento das funções tradicionais de gerência dentro das empresas e sua subs-
tituição por novas formas de gestão compartilhada entre coordenadores e colaboradores, a demo-
cratização do saber técnico e o questionamento dos especialistas (médicos, advogados, professores) 
por cidadãos leigos (mas inteligentes e bem informados), em função da difusão de informações na 
rede estão por todo o lado, desestabilizam os micropoderes e macropoderes no âmbito do tecido 
social e das organizações da sociedade industrial.
10.1 Os sistemas de poder ao longo da história
Nas origens da sociedade humana, o uso da violência bruta era a fonte primordial do poder, 
tal como acontece entre animais: mandava no bando quem tivesse mais força para se impor, até que 
outro membro mais forte do grupo se impusesse, matando-o ou expulsando-o à força do convívio 
com seus iguais.
A evolução do processo civilizatório representou a gradativa substituição do uso da violên-
cia por formas mais racionais e sofisticadas de mediação das relações sociais. Na medida em que 
a civilização evoluiu, abandonou-se lentamente a violência bruta e imediata por outras formas de 
mediação. No princípio, a ética religiosa cumpriu esse papel ao ensinar aos homens as noções de 
certo e errado daquilo que se deve ou não se deve, se pode ou não se pode fazer. Em seguida, leis es-
critas e instituições políticas foram criadas e aperfeiçoadas para exercerem esse papel. Transferiu-
se ao Estado, em nome da lei, o poder de usar a violência para nos proteger dos transgressores. 
Ao firmar esse contrato social, abriu-se mão de agir como animais e de recorrer à violência para 
impor desejos e interesses. A competição econômica no mercado se tornou uma forma civilizada 
de direcionar o espírito competitivo inato nos seres humanos para uma maneira não violenta de 
disputa de poder e interesses.
Com o surgimento do sistema capitalista, na esteira das revoluções comercial e industrial, 
ampliou-se a produtividade do trabalho e a quantidade de produtos gerados pela tecnologia fa-
bril. Sob essas circunstâncias, o sistema demandou uma forma padronizada e convencionada entre 
agentes de mercado, de representação simbólica do valor das mercadorias lançadas ao sistema de 
O poder na sociedade pós-industrial 79
trocas; nasceu o dinheiro de papel. Simultaneamente, o poder da violência perdeu espaço para a 
moeda-padrão, o novo suporte do poder político.
A ascensão do Estado-nação industrial foi acompanhada da concentração monopolista da 
violência nas mãos do Estado e pela sua regulamentação legal da vida dos cidadãos na mesma 
proporção em que se difundia a dependência de todos em relação ao dinheiro. Essas três transfor-
mações permitiram às elites da sociedade industrial fazer cada vez mais uso da riqueza em vez da 
força como fonte de poder e imposição de vontades.
Os detentores de conhecimento e da inteligência sempre levaram vantagem sobre seus in-
terlocutores em quaisquer culturas ou sociedades humanas. Os indivíduos que combinavam o uso 
do conhecimento – primeiro com a força e depois com o dinheiro – ocuparam os espaços privile-
giados reservados à elite do poder em todas as sociedades. Já na sociedade pós-industrial, a impor-
tância do conhecimento nas equações estratégicas voltadas para a aquisição de poder econômico e 
político sofreu uma mudança qualitativa.
A novidade revolucionária resulta do uso intensivo da tecnologia em todas as relações so-
ciais. Mesmo que nem todos os indivíduos, organizações, setores econômicos ou regiões do mundo 
estejam diretamente inseridos em redes digitais e em sistemas de transporte de alta velocidade, de 
uma forma ou de outra, há impactos diretos e indiretos decorrentes das mudanças provocadas pelo 
uso abrangente dessas tecnologias. 
Atualmente, tanto o uso da força quanto do dinheiro se tornou dependente da tecnolo-
gia. Só é possível operar sistemas tecnológicos ao deter conhecimentos imprescindíveis para isso. 
O conhecimento, não mais a força bruta e nem mais o dinheiro de papel, tornou-se o fator estraté-
gico para a aquisição de poder político e econômico na sociedade pós-industrial. O conhecimento, 
ao contrário dos bens tangíveis, não é escasso nem mensurável. Para entender sua importância e 
sua função na sociedade tecnológica, é necessário avaliá-lo de maneira subjetiva, qualitativa.
A violência, por exemplo, é um recurso limite que corresponde a um poder de baixa quali-
dade. Quem recorrer a ela, somente poderá punir àquele a quem quiser submeter. Se, ao usá-la, a 
vítima mesmo assim não fizer a vontade do agressor, praticamente nada mais poderá ser feito para 
submetê-la, a não ser tentar usar mais força, com resultados duvidosos. A riqueza, por sua vez, não 
é um recurso limite, pois pode ser empregada tanto de maneira positiva quanto negativa, para pre-
miar ou para corromper a quem se quer submeter. Nesse sentido, sua qualidade como instrumento 
de poder é média. Isso, sem esquecer que, se a premiação ou corrupção não funcionarem, o agente 
ativo na relação de poder sempre poderá recorrer à força, em último caso, para tentar conseguir o 
que não conseguiu com o dinheiro (TOFFLER, 1990).
Já o conhecimento supera os outros dois instrumentos de poder como ferramenta da mais 
alta qualidade a serviço das legítimas ambições humanas. Ao usá-lo com sabedoria, pode-se per-
suadir interlocutores a fazer, sem precisar usar a força e preservar vínculos que permitem ampliar 
possibilidades futuras de novas transações e parcerias. Além disso, sob determinadas circunstân-
cias, com o conhecimento posto a serviço da inteligência, pode-se potencializar o uso da força e do 
dinheiro, usando-os de modo mais racional e econômico possível, quando seu uso é imprescindí-
vel à consecução de objetivos almejados (TOFFLER, 1990).
Sociedade e Contemporaneidade80
Na sociedade das redes digitais, nada funciona sem a mediação de sistemas integrados de 
comunicação eletrônica. Imagine um blackout no sistema enérgico do planeta, que desligasse e 
danificasse irreversivelmente as redes de computadores, a memória das informações e transações 
neles armazenadas e em trânsito permanente por todos os quadrantes do planeta. Imaginou? Seria 
o caos. A pré-história voltaria em segundos.
O conhecimento e a capacidade de persuasão dos meios de comunicação para tentar influen-
ciar aquilo que os outros sabem, ou pensam que sabem, são parte irreversível – e já dominante– 
do arsenal das novas técnicas de competição econômica e de luta política na sociedade do futuro, 
em uma dimensão não percebebida em toda sua extensão. Não é despropositado imaginar que o 
virtual e abrupto desaparecimento do sistema de comunicações por meio das redes de comunica-
ção gerasse um conflito violento e generalizado pela sobrevivência em uma terra sem lei. Simples 
apagões provocados pelo colapso do abastecimento de energia em metrópoles norte-americanas na 
década de 1990, em poucas horas, projetaram uma prévia desse cenário virtual.
10.2 O poder na sociedade industrial
As instituições de poder da sociedade industrial nasceram no contexto histórico da socie-
dade agrícola, embora baseadas no modelo de representação por base territorial oriundo de uma 
época em que a propriedade da terra era a chave para o poder, rapidamente os revolucionários da 
sociedade industrial passaram a associar seus modelos de organização política e institucional à 
matriz fabril (TOFFLER, 1990).
A lógica das estruturas de poder da sociedade industrial assemelha-se ao efeito da operação 
combinada das fábricas de produtos que operavam por demanda e necessitavam de usinas de ener-
gia que operam por fluxo contínuo. Recorrendo, como faz Toffler, à analogia com os sistemas mecâ-
nicos descobre-se um enfoque inusitado do subsistema político da sociedade industrial, que torna 
os sistemas políticos dos mundos capitalista e socialista mais parecidos do que se costuma imaginar.
A alimentação da máquina de processar decisões políticas com matérias-primas novas ou 
recicladas (políticos e suas ideias) é acionada pelos eleitores de maneira intermitente a cada quatro 
anos. Nesse sistema, a burocracia do Estado se equivaleria a uma usina de energia que precisa fun-
cionar 24 horas por dia, 365 dias por ano, para que a matéria-prima seja processada e convertida 
em produtos lançados ao mercado social pela fábrica global de leis (TOFFLER, 2001).
Alguns historiadores e cientistas sociais viam diferenças abissais entre o regime político co-
munista e a democracia liberal vigente nos países capitalistas. De fato, todos recorriam a alguma 
forma de legitimação das decisões políticas pelo voto da maioria, seja em eleições livres, seja em 
assembleias populares controladas pelo partido único nos países socialistas. Os sistemas políticos 
eram diferentes nas aparências, mas a lógica que movimentava a máquina de processar decisões e 
fabricar leis funcionava sob os mesmos princípios, todos, sem exceção, de maneira mais ou menos 
manipulada, legitimavam-se no poder pelo voto da maioria.
O poder na sociedade pós-industrial 81
10.3 Crise e transformação do sistema de poder da sociedade industrial
Em todas as formações sociais, desde o tempo das cavernas até os dias de hoje, sempre hou-
ve líderes e liderados, governantes e governados. Mesmo os defensores das utopias que, na teoria, 
defendiam a igualdade impossível entre os desiguais, ao colocarem em prática suas ideias, criaram 
sociedades desiguais e inclusive totalitárias.
Os grandes ciclos de transformação registrados na história da humanidade – quando che-
garam ao ponto de contaminar as estruturas políticas das sociedades sobre as quais se abateram – 
culminaram com a substituição das elites no poder na sequência de profundas transformações eco-
nômicas, sociais e culturais. Hoje, todas as nações cujas estruturas de poder estão assentadas sob a 
lógica do paradigma industrial experimentam crises profundas dos seus sistemas de serviços urba-
nos, de saúde, de previdência social, de transportes, de segurança e de meio ambiente. Instituições, 
leis e mentalidades de líderes encarregados de buscar as soluções para esses e outros problemas 
encontram-se ancorados na lógica ultrapassada das decisões verticais e padronizadas, destinadas a 
resolver problemas de um tipo de sociedade que não existe mais.
A segmentação da produção e das comunicações, decorrente do impacto das novas tecnolo-
gias sobre o comportamento social de cidadãos, consumidores e eleitores, gerou fragmentação das 
atitudes, opções e escolhas. Líderes de massas, de ideologias de massas, de partidos de massas, de 
legislações e de instituições concebidas para em uma sociedade de massas não têm como funcionar 
numa sociedade que não é mais de massas.
O exercício da participação política na sociedade industrial era concentrado nas mãos de 
grandes líderes e canalizado para dentro de estruturas como partidos e sindicatos. Na sociedade 
pós-industrial, o poder dessas organizações não desaparece, mas se reduz, se fragmenta e se des-
loca para uma infinidade de grupos minoritários organizados em torno de causas pontuais: femi-
nistas, gays, pacifistas, antirracistas etc. Esses grupos se dispõem a defender causas para fazer sua 
pequena parte para salvar o mundo do desastre. Ou seja, os indivíduos que buscam a participação 
política na sociedade contemporânea não se interessam mais na participação em organizações de 
massas nem se orientam mais por ideologias e líderes de massas, preferem causas pontuais e orga-
nizações por meio de grupos minoritários.
No passado industrial, presenciamos uma era de regimes totalizantes e totalitários. Nazismo, 
fascismo, comunismo. Hitler, Mussolini, Stalin são exemplos dessa questão. Cada um a seu modo, 
construiu sistemas que violentaram as liberdades e direitos individuais e outros valores essenciais 
à preservação da igualdade dos cidadãos perante a lei. 
As novas soluções para os novos problemas da sociedade pós-industrial não são de esquerda 
nem de direita, nem da burguesia nem do proletariado, nem da classe dominante nem dos domi-
nados, nem dos desenvolvidos ou dos subdesenvolvidos; são globais ou locais, são étnicos e/ou reli-
giosos. São de mulheres ou de homens; são de velhos, de jovens ou de cidadãos de meia-idade; são 
individuais ou coletivos; são financeiros ou gerenciais; são econômicos, políticos ou sociais. As ideo-
logias do industrialismo morreram: as disputas pelo poder, agora, acontecem de maneira diferente.
Sociedade e Contemporaneidade82
A sofisticação das formas de manipulação de dados, informações e imagens que circulam 
nas redes digitais dificultam nossa compreensão sobre o que realmente há por trás do turbilhão de 
informações envolvidas nos processos políticos. Vazamentos de informação dirigidos, fontes ca-
mufladas, maquiagem de dados (os números não mentem, mas os homens os manipulam), omis-
são de informações para públicos seletivos, difusão de mensagens contraditórias visando semear 
confusão e discórdia entre receptores, criptografia de informações que permitem apenas ao re-
ceptor-alvo do emissor decodificá-las, compartilhamento malicioso de informações, proteção do 
emissor são alguns exemplos.
Invasão de sistemas, espionagem, invasão da privacidade por microcâmeras e micrograva-
dores, fabricação de escândalos. As tecnologias de inteligência artificial desenvolveram sistemas 
capazes de desenvolver outros sistemas, disparando uma espiral de complexidade, abstração e so-
fisticação que dificulta sua decodificação por parte das pessoas que não detêm conhecimento sobre 
como esses processos são concebidos e postos em operação. Essas são apenas algumas táticas a 
serviço das novas formas de disputa de poder.
Saber selecionar as informações confiáveis, estratégicas e relevantes, agrupá-las, classificá-
-las e interpretá-las para subsidiar a eficiente tomada de decisões empresariais e de governo é um 
serviço que vale milhões (TOFFLER, 1990). Um sistema social que se comunica assim necessita de 
outras instituições políticas e regras capazes de garantir a sobrevivência da liberdade, da igualdade 
e da democracia liberal. Sem novas lideranças com a percepção dessa realidade nova, sem novas 
leis e novas instituições, esse desafio se torna inalcançável.
A mesma lógica que leva empresas a revolucionarem seus métodos de gestão da produção 
por imposição das novas tecnologias que adotam exige que as organizações burocráticas do Estadoindustrial sejam reconfiguradas pelo paradigma das redes digitais em suas formas de organização 
e processamento de decisões. Reduzir a burocracia, delegar poderes autônomos a operadores inte-
ligentes com liberdade de decidir qual a melhor forma de cumprir metas e prazos, permitir novas 
formas de gestão do setor público, enfim, o Estado precisa acompanhar a onda da mudança ou 
sucumbirá na obsolescência, em prejuízo daqueles que o sustentam com uma considerável parcela 
da riqueza produzida por trabalhadores e empresas, suprimida de seus bolsos pelos impostos.
10.4 As causas de crise
Cada sociedade cria o seu subsistema político. Quando o industrialismo substituiu a eco-
nomia agrícola, a humanidade experimentou o fim do feudalismo e o início do capitalismo e do 
socialismo. Capitalismo e socialismo foram dois sistemas baseados na matriz de produção fabril, 
nas tecnologias mecânicas e nas linhas de montagem.
A sociedade industrial criou um sistema de seleção de elites baseado na lógica do voto da 
maioria. A votação em urnas ou em assembleias, eleições periódicas, partidos políticos, parlamen-
tos, tribunais e governos, cujo funcionamento depende de gigantescas pirâmides burocráticas de 
processamento das decisões, regulam, julgam e administram as decisões sobre o destino dos re-
cursos públicos disputados pelas forças sociais organizadas em partidos. Esse sistema, assim como 
todas as organizações criadas pela sociedade industrial, está em crise. A ineficiência, o gigantismo 
O poder na sociedade pós-industrial 83
burocrático, a falência financeira, a corrupção e o descrédito nos políticos são alguns dos fatores 
relacionados a essa sociedade.
O colapso nos processos de tomada de decisões é causa e efeito da mudança nas relações de 
poder na sociedade atual. Sob circunstâncias normais, o sistema político (poderes constituídos, 
partidos, instituições de representação de interesses da sociedade) cumpre a função de processar 
as decisões coletivas, produzindo deliberações executadas, fazendo com que os governos cumpram 
suas finalidades.
Na sociedade de base agrícola, a liderança derivava do nascimento (direito divino, herança 
consanguínea de títulos de nobreza). Na sociedade industrial, a liderança baseava-se no poder 
impessoal e mais abstrato, que processava mais decisões sobre mais assuntos. A concretização das 
decisões dependia de órgãos executores. O líder necessitava de instrução, capacidade de raciocínio 
abstrato e vocação para comandar elites burocráticas. A autoridade era constrangida por leis e por 
poderes fiscalizadores e reguladores. A legitimidade da liderança e das decisões coletivas provinha 
do voto da maioria.
Na sociedade pós-industrial, o perfil da liderança é outro. A economia pós-industrial está 
levando a sociedade para patamares mais altos de complexidade, tornando as decisões políticas 
dependentes da assessoria de superespecialistas que abastecem o líder de informações que termi-
nam influenciando decisivamente as decisões tomadas. A alta especialização do conhecimento, a 
complexidade, o volume e a velocidade das informações que envolvem as decisões, limitam o po-
der da liderança nas organizações da sociedade pós-industrial, tornando-a muito mais temporária, 
compartilhada e subordinada ao poder dos técnicos.
As estruturas anacrônicas, piramidais e centralizadas no topo – típicas das organizações da 
era industrial – produzem intermináveis disputas interburocráticas pelo controle de mais e mais 
decisões que nada decidem, causam desperdício de tempo e dinheiro públicos e geram efeitos se-
cundários adversos, às vezes piores do que a tentativa inicial de solucionar o problema na origem. 
A realidade muda muito rapidamente e as informações circulam de modo muito mais veloz do que 
as decisões governamentais podem gerar efeitos. Ou as decisões vêm tarde demais, ou caem no 
impasse paralisante. Flexibilidade, agilidade, criatividade e velocidade cada vez mais se impõem 
sobre a ineficiência burocrática.
As tecnologias pós-industriais estão segmentando a produção, o consumo e os canais de co-
municação. Os produtos e mensagens agora se dirigem a grupos específicos de consumidores com 
gostos e demandas específicas. A sociedade está se desmassificando como reflexo dessa tendência 
da produção, da comunicação e do consumo. A política não ficou imune ao impacto dessas trans-
formações. Novos tipos de organizações e movimentos estão surgindo, efêmeros, fragmentados, 
locais, transnacionais. Ambientalistas, pacifistas, minorias sexuais, minorias raciais, grupos reli-
giosos e tantos outros tipos de organizações, com suas manifestações midiáticas, invadiram o palco 
antes monopolizado por partidos e sindicatos e criaram novos cenários. A formação das maiorias 
estáveis e duradouras que sustentavam os líderes, os partidos e os governos da sociedade industrial 
está cada vez mais difícil, senão impossível.
Sociedade e Contemporaneidade84
As circunstâncias mudam de país para país, mas a crise política atinge todos os que não 
conseguem se reciclar. Embora os sistemas políticos permaneçam baseados no voto das maiorias, 
os governos têm crescente dificuldade para formar maiorias. Costurar uma verdadeira colcha de 
retalhos de minorias, que se faz e desfaz em curtos espaços de tempo, em torno de causas pontuais, 
é a lógica da nova engenharia política. Minorias bem organizadas de hoje com acesso à mídia po-
dem ter mais poder do que as amplas maiorias de ontem. A diversidade social é tão grande que os 
representantes não conseguem articular consensos que lhes permitam falar em nome da “vontade 
geral da nação”, ideia que foi um dos conceitos alicerces da “democracia representativa”.
O volume, a velocidade e a complexidade das informações que circulam no sistema geraram 
uma correspondente sofisticação e diversificação dos problemas sobre os quais os governos precisam 
tomar decisões. A essa fragmentação, sofisticação e diversificação corresponde uma compartimen-
talização e especialização das instituições políticas, levando os representantes, despreparados para 
essa realidade nova, a usarem a intuição para decidirem, mais do que critérios racionais. As ordens 
terminam não sendo cumpridas, ou o são de maneira diferente daquela desejada pelo emissor.
Legisladores e governantes dependem cada vez mais de assessoramento especializado para a 
tomada de decisões. A influência dessas assessorias se sobrepõe aos critérios políticos ou racionais, 
muitas vezes induzindo o representante, por ignorância dos aspectos técnicos que envolvem a de-
cisão em questão, a adotar posições que não adotaria sob outras circunstâncias.
10.5 A democracia do futuro
Problemas globais ou nacionais não encontram solução no âmbito local e vice-versa. Outros 
não podem ser resolvidos no nível nacional, alguns requerem ações em diversos níveis. Isso sugere 
a necessidade de novas instituições transnacionais para arcar com decisões globais e que não mais 
podem ser tomadas por governos nacionais isoladamente (por exemplo, catástrofes ambientais, 
distúrbios climáticos, terrorismo, crime organizado, crises do mercado financeiro internacional). 
Faz-se necessário redistribuir racionalmente os processos de tomada de decisões. Por todo o mun-
do surgem experiências de descentralização de poder que podem superar o Estado nacional como 
unidade política e econômica central da sociedade pós-industrial. A Europa experimenta a apli-
cação do paradigma das redes à configuração das novas instituições políticas de um continente 
unificado. A diluição das fronteiras dos Estados nacionais, causada pela formação dos megablocos, 
causa transformações ainda não bem compreendidas pelas teorias econômicas, sociais e políticas 
de um pensamento acadêmico ainda demasiado arraigado aos paradigmas da sociedade industrial.
Atividade
Neste capítulo realizou-se a análise acerca das grandes transformações políticas em curso na 
sociedade atual. A construção da sociedade e das instituições políticas e jurídicas dasociedade do 
futuro é uma obra aberta e inacabada. A civilização ocidental, no entanto, viveu experiências que 
deram origem ao sistema de crenças e valores e às formas de organizar social e politicamente a vida 
em sociedade. Períodos de instabilidade e mudanças profundas vivenciados nos dias atuais podem 
O poder na sociedade pós-industrial 85
nos levar a um futuro melhor ou ao retrocesso. Valores como liberdade, igualdade dos cidadãos 
perante a lei, preservação dos direitos humanos e individuais, entre outros, são perenes. 
Aprofunde seus conhecimentos sobre as origens históricas, sobre os autores que teorizaram 
sobre eles, sobre o significado desses conceitos filosóficos e suas implicações sobre a vida social, 
econômica e política na sociedade moderna, lendo as seguintes obras:
MISES, L. Ação humana: um tratado de economia. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1949.
BRIZIDA, J. O.; POLANY, M. A lógica da liberdade. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
TOCQUEVILLE, A. A democracia na América. São Paulo: M. Fontes, 2005.
11
 A sociedade brasileira como sistema
11.1 O Estado-nação como um sistema
Como já mencionado, o conceito de sistema social de Alvin Toffler se aplica a uma civiliza-
ção ou a uma sociedade nacional. Ambas podem ser vistas como sistemas compostos de partes ou 
subsistemas. No caso da aplicação do conceito ao estudo de um Estado-nação, pode-se afirmar que 
as partes do todo – o grande sistema – são compostas por um subsistema econômico, um subsiste-
ma social, um subsistema político e um subsistema cultural. Cada subsistema, por seu turno, pode 
ter partes que o integram, como o sistema de crenças e valores religiosos da população é parte do 
subsistema cultural ou como o Estado e o sistema de partidos são parte do sistema político, e assim 
por diante.
A organização dos sistemas que caracterizam as sociedades é composta por diversas partes, 
por isso, quaisquer sistemas, sociais ou não, necessitam que suas diferentes partes funcionem de 
maneira integrada e interdependente. Sem isso, o conjunto tende a entrar em crise. As crises po-
dem provocar reações conservadoras de autopreservação ou podem provocar mudanças de dois 
tipos no sistema. Essas mudanças podem ser apenas ajustes ocasionais, que, superados, revigoram 
o todo e possibilitam às partes voltarem à situação de equilíbrio e a apresentar desempenho melhor 
do que o existente antes da crise. Há casos, no entanto, de crises estruturais profundas que derivam 
em processos de ruptura do sistema e provocam sua reconfiguração em bases totalmente diferentes 
daquelas que se apresentavam antes do colapso da ordem anterior.
As crises dos sistemas sociais podem ter origem em problemas internos, externos, ou em 
ambos, dado que suas partes relacionam-se entre si, e também se expõem à troca de influências, de 
dentro para fora e de fora para dentro, com o ambiente externo. Já foi visto também que sistemas 
sociais, tal como acontece com organismos vivos, têm passado e memória e evoluem ou involuem, 
conforme reagem às pressões e trocas entre os ambientes interno e externo ou crises internas.
Com base na teoria de Toffler – acerca do conceito de sistema e sobre as três ondas civili-
zatórias –, pode-se analisar o caso do Brasil e de sua inserção no processo de formação do siste-
ma-mundo. Esse sistema emergiu com as descobertas marítimas a partir do século XVI. Por meio 
dele, pode-se conhecer a memória cultural herdada da formação histórica e política, com os desa-
fios do presente. Por essa via, consegue-se desvendar as características culturais da nação e quais 
vantagens ou obstáculos essa herança impõe para a superação do desafio da revolução tecnológica 
e da inserção na era pós-industrial e no novo sistema global dela derivado.
Todos os Estados-nações, tais como as civilizações agrícola, industrial e pós-industrial da 
teoria de Toffler, podem ser vistos como sistemas cujos subsistemas socioeconômico, político e 
cultural combinam-se de maneira específica e distinta, como se tivessem uma personalidade, um 
código genético, à imagem e semelhança dos seres humanos. Essa personalidade é formada pelas 
Sociedade e Contemporaneidade88
características herdadas de ancestrais (os colonizadores portugueses, no caso do Brasil), nas quais 
as experiências vivenciadas (história e valores culturais introjetados na mentalidade do povo) se 
agregaram também nas instituições sociais, políticas e jurídicas nacionais.
Essa personalidade é chamada de identidade nacional pelas ciências sociais. Por meio dela 
se constrói referenciais psicológicos, individuais e sociais distintos entre os povos em função dos 
valores, atitudes coletivas e instituições que marcam o modo de viver em família, de lidar com a 
política, com a economia e com valores morais. Isto é, a composição e configuração do sistema-
-nação, com seus respectivos subsistemas, econômico, político, cultural e social. Esses subsistemas 
combinados compõem um arranjo único. Historicamente configurado em suas dimensões social 
e cultural, está psicologicamente arraigado na mentalidade individual e coletiva e nos sistemas de 
crenças e valores.
Esses componentes integram as várias dimensões da nossa sociedade e formam um sistema 
social coerente. Os ingredientes desse grande sistema são transmitidos inconscientemente de gera-
ção para geração e exercem uma sutil coerção, gradativamente absorvida por todos os membros da 
sociedade, com o convívio e influência social e os processos educacionais formais e informais pelos 
quais todos passam ao longo da vida.
Tal como fazem os psicanalistas quando investigam os mistérios da mente para desvendar os 
meandros da matriz sistêmica de uma sociedade, é preciso compreender de maneira aprofundada 
fatores como história, política, econômica, sociologia, psicossociologia e cultura de uma nação.
Assim como acontece com os indivíduos, que tendem a preservar características de perso-
nalidade por toda a vida, mudanças estruturais profundas nos sistemas sociais inteiros de uma na-
ção são raras. No caso das nações, esse processo corresponde às experiências sociais, econômicas, 
políticas e culturais coletivas registradas pelo desenrolar da história, como o suceder de eleições e 
trocas de governo, crises econômicas, crescimento populacional, mudanças no perfil socioeconô-
mico da população decorrentes da modernização da economia, e assim por diante.
Em geral, rupturas estruturais só acontecem com os indivíduos e com as nações em função 
de experiências traumáticas muito profundas, haja vista aquelas que levam uma pessoa a rever toda 
a sua vida e a mudar totalmente sua forma de ser. A vida das nações é mais longa e os traumas de 
natureza psicossocial apresentam características próprias e nem sempre iguais às crises de natureza 
psicológica dos indivíduos. Rupturas sistêmicas na história das nações, portanto, são raras.
A matriz sistêmica de cada sociedade resulta da combinação original de sua herança his-
tórica com as experiências acumuladas em seu processo de formação política e cultural. A essa 
bagagem somam-se as opções e escolhas que a elite e o povo de cada país adotam diante dos 
desafios que a realidade lhes impõe no presente.
Do conceito teórico à prática, a nação-sistema Brasil vive o impacto revolucionário das no-
vas tecnologias de comunicação e produção de riqueza, as transformações que elas desencadeiam 
no sistema social globalizado, com desdobramentos em todas as dimensões da vida individual e 
coletiva de quem vive a contemporaneidade.
 A sociedade brasileira como sistema 89
Em todos os Estados-nações, um dos seus subsistemas, ou um dos componentes que o inte-
gram e compõem sua matriz sistêmica, tende a se sobrepor aos demais, imprimindo características 
originais a cada país. A estrutura dominante, dessa forma, tende a contagiar o conjunto do sistema, 
impondo sua influência sobre todas as dimensões da vida social da nação.
Nos países islâmicos é a religião – e seu decorrente sistema de crenças e valores–, como 
parte do subsistema cultural desses países, o componente dominante sobre as demais dimensões 
da vida social, econômica e política. Já nos Estados Unidos, por exemplo, devido às especificidades 
de sua formação histórica como nação, a sociedade e o mercado são as estruturas que se articulam 
e se sobrepõem ao conjunto do sistema. Liberdades, direitos individuais, liberdade de mercado e 
democracia liberal são valores fortemente enraizados no sistema social da nação.
11.2 A formação da nação
No caso do Brasil, a estrutura dominante pertence ao subsistema político. É o Estado patri-
monialista. Segundo Campante (2003, p. 155), o termo patrimonialismo significa:
a substantivação de um termo de origem adjetiva: patrimonial, que qualifica e 
define um tipo específico de dominação. Sendo a dominação um tipo específico 
de poder, representado por uma vontade do dominador que faz com que os 
dominados ajam, em grau socialmente relevante, como se eles próprios fossem 
portadores de tal vontade, o que importa, para Weber, mais que a obediência 
real, é o sentido e o grau de sua aceitação como norma válida – tanto pelos do-
minadores, que afirmam e acreditam ter autoridade para o mando, quanto pelos 
dominados, que creem nessa autoridade e interiorizam seu dever de obediência.
Historicamente, o patrimonialismo é um sistema de dominação que tem origem na fase 
mercantilista do capitalismo e apresenta características híbridas entre as heranças compartilhadas 
do feudalismo decadente e do capitalismo ainda incipiente. Faoro (1993a) recorreu a esse conceito 
para explicar a configuração sistêmica da sociedade brasileira, fortemente marcada pela coloniza-
ção portuguesa e reforçada pela presença da Família Real no Brasil no início do século XIX.
De acordo com o conceito de patrimonialismo, o Estado brasileiro é burocrático, autoritário, 
fiscalista e interventor na vida econômica e social da nação. Em um país com essas características, 
a iniciativa privada é débil e dependente do protecionismo estatal para poder competir no merca-
do internacional. A sociedade é culturalmente orientada para a dependência do paternalismo das 
elites e do Estado, e essas elites usam as posições conquistadas no aparato público para obtenção 
de benefícios privados.
11.3 O subsistema dominante
A força da presença do Estado na sociedade brasileira remonta à chegada dos portugueses 
em 1500, que encontraram um imenso território, farto em riquezas naturais e habitado por uma 
população nativa pouco numerosa e, quando comparada aos incas, maias, astecas, e até mesmo aos 
povos nativos da América do Norte, culturalmente inferiorizada em relação a suas condições de 
Sociedade e Contemporaneidade90
enfrentar e resistir aos colonizadores europeus. O contraste entre essa população nativa e o coloni-
zador português era enorme. 
Sob essas circunstâncias, a Coroa portuguesa instituiu as capitanias hereditárias e fundou o 
Estado brasileiro antes que aqui existisse sociedade e atividade econômica privada. Os portugueses 
vindos ao Brasil, em geral, tinham intenção de enriquecer pela extração de ouro, pedras preciosas, 
madeira e outras atividades extrativistas e voltar para Portugal. A ocupação de posições no aparato 
do Estado colonial possibilitou o acesso a condições privilegiadas para o enriquecimento rápido. 
Instituiu-se assim uma característica marcante da cultura política brasileira, até hoje perceptível na 
conduta política dos homens públicos, de parcelas expressivas das elites econômicas, e também do 
próprio povo, que consiste na valorização do acesso ao Estado, seja na forma de ocupação de cargos 
públicos, seja na forma de pressão pela obtenção de privilégios ou, ainda, nos casos da relação da 
população de baixa renda com os políticos, por meio da cultura paternalista e clientelista.
Os valores culturais permissivos a esse tipo de conduta estão fortemente arraigados na so-
ciedade, conferindo condições de sustentação e reprodução desse tipo de relação entre Estado e 
sociedade, elite e povo. Os interesses articulados em torno da preservação dessa matriz sistêmica 
são poderosos: unem setores corporativos da esquerda e da direita, setores empresariais urbanos 
e rurais, que agem com a mão invisível dos seus interesses corporativos para impedir a ruptura do 
sistema e o acesso ao poder de novas elites desvinculadas de seus interesses dessa matriz sistêmica 
estatista e patrimonialista.
O desenvolvimento da economia e da sociedade brasileiras revela que esse sistema assimila 
mudanças, desde que não sejam rompidas as bases estruturais de sustentação do Estado patrimo-
nialista e nem contrariados frontalmente os interesses das elites que se beneficiam dessas relações 
entre os interesses privados incrustados na máquina pública e o interesse público na eficiência dos 
serviços públicos e no desenvolvimento social da nação. Esses processos são conhecidos como 
modernização conservadora, isto é, mudar para não mudar.
A transição do Brasil rural para o Brasil urbano e industrial teve início na década de 1930, 
impulsionada pelo Estado sob o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), criador das primeiras 
grandes empresas estatais no país. Na década de 1950, Juscelino Kubitschek (1902-1976) impulsio-
nou novo ciclo de modernização econômica com a atração da indústria automobilística. O regime 
militar – constituído em 1964 para impedir a implantação de uma ditadura comunista do Estado 
total, em um contexto internacional de avanço da esquerda – criou mais de cem novas empresas 
estatais e construiu, com investimentos e políticas públicas estatais, a infraestrutura energética, de 
telecomunicações e transportes até hoje existente.
O regime militar brasileiro perdurou até 1985, com a volta gradual do poder para mãos civis. 
Em meados da década de 1980, o governo dos EUA e os principais países da Europa começam a 
implementar reformas estruturais, com vistas a se prepararem para a competição aberta no merca-
do globalizado. A URSS vivia sua derradeira crise, quando ruiu definitivamente em 1991. Naquele 
momento a revolução da informática, das telecomunicações, das redes digitais e das novas tecno-
logias de produção se expandia pelo mundo, impondo às empresas e aos governos a adaptação ao 
novo paradigma sistêmico da sociedade pós-industrial.
 A sociedade brasileira como sistema 91
O paradigma das redes digitais rompeu a lógica da produção massiva de mercadorias e men-
sagens padronizadas e sincronizadas, típicas da matriz tecnológica industrial. Em pouco tempo o 
impacto dessas mudanças extrapolou o mundo do trabalho e/das empresas e se expandiu para todo 
o tecido social, o código genético da nova matriz sistêmica. Processos de comunicação e produ-
ção aleatórios, assincrônicos, multidimensionais, combinados com sistemas de distribuição veloz 
e simultânea de mensagens padronizadas para públicos massivos e segmentadas para outros, em 
escala mundial, revolucionaram a visão de mundo, o comportamento social, as atitudes e as trocas 
econômicas e políticas entre pessoas e organizações.
O paradigma fabril, baseado no trabalho especializado em linha de montagem, demandou 
a necessidade de os especialistas intermediarem a relação entre quem decide e quem faz na ca-
deia de tarefas das organizações. A estrutura das organizações da sociedade industrial é piramidal. 
O fluxo de comandos dentro dessas organizações é vertical, unidirecional e descendente; o fluxo de 
execução dos comandos na base da pirâmide é horizontal.
O conhecimento e as informações – relevantes para o funcionamento das organizações com 
essa estrutura piramidal – são concentrados no topo, diluídos e desidratados em seu conteúdo 
estratégico à medida que saem da cúpula para a base que deve executar as ordens. O indivíduo 
da base da pirâmide não precisa e não deve conhecer as razões que originaram a ordem e nem os 
objetivos gerais que a orientam. Ele deve ter conhecimentos elementares, parciais, parcos e sufi-
cientes para a execução repetitiva detarefas sincronizadas com outros integrantes de seu nível na 
estrutura hierárquica da organização. As tarefas que o peão do chão da fábrica executa obedecem 
a critérios de padronização dos movimentos e do tempo de execução, que tornam esse indivíduo 
uma extensão da máquina.
No caminho entre o topo e a base da pirâmide organizacional, as ordens percorrem labirin-
tos burocráticos de um intrincado sistema, cuja finalidade original era a de planejar, administrar, 
coordenar, controlar e auditar o bom funcionamento. Com o tempo, esse setor administrativo – 
situado no espaço intermediário entre a base e o topo das pirâmides organizacionais – foi adqui-
rindo características distintas daquelas para as quais foi desenvolvido.
Os diferentes setores do miolo da pirâmide passam a disputar o poder de controlar as fun-
ções, os recursos e as informações que circulam pelos canais de comunicação entre os escaninhos 
da pirâmide. As disputas interburocráticas levam os indivíduos que ocupam posições na hierarquia 
dos diferentes departamentos a filtrar, politizar e distorcer informações e comandos, de modo a 
valorizar sua posição de jogo nas lutas internas da organização e a prejudicar seus concorrentes 
internos que buscam os mesmos objetivos e usam os mesmos métodos. Controlar recursos e infor-
mações é o que confere poder aos burocratas; a posição intermediária é estratégica.
Com o passar do tempo, os problemas se agravam, pois o efeito acumulado das distorções 
no sistema introduz irracionalidade ao funcionamento geral e ao fluxo de informações que deveria 
fazer com que a organização produzisse os resultados previstos por sua atividade-fim.
Obstáculos e mais obstáculos vão se interpondo no caminho da cadeia de comandos, que se 
perdem nos labirintos burocráticos da pirâmide. Para resolver os problemas que surgem, os inter-
mediadores de informações apresentam sua solução: é necessário contratar mais intermediadores 
Sociedade e Contemporaneidade92
subordinados, criar mais departamentos com a atribuição suposta de resolver problemas que se 
multiplicam justamente pelo gigantismo burocrático que se agrega como novo problema às demais 
distorções. A ineficiência e desperdício de energia criam um círculo vicioso que se retroalimenta 
e reproduz em uma lógica entrópica e autofágica. O resultado disso é a resistência a mudanças e 
inovações – percebidas como ameaças às posições dos indivíduos na organização –, foco dos fun-
cionários na vida interna da organização e nas atividades-meio, inflexibilidade perante situações 
que requeiram soluções originais não previstas em regras formais – mesmo que não proibidas –, 
desperdício, lentidão, ineficiência e corrupção.
Por mais paradoxal que possa parecer, esses fatores obedecem a uma racionalidade própria 
e imprevista por seus criadores. Sua lógica é corporativa, isto é, apesar de seus integrantes dispu-
tarem poder entre si no âmbito interno das organizações piramidais, desenvolvem-se posições de 
jogo compartilhadas que se articulam sub-repticiamente para a preservação de um sistema que 
proporciona poder, dinheiro e vantagens e une seus membros em uma teia invisível que age, de ma-
neira eficaz, em defesa de interesses corporativos que não coincidem com os objetivos que deram 
origem à organização que os abriga.
Essa lógica é implacável e está presente nas organizações nascidas com a sociedade industrial 
e geridas por matrizes piramidais que requerem lideranças especializadas em sua administração. 
Weber, pai do conceito de patrimonialismo, estudou essas organizações e caracterizou o que deu 
origem à teoria da burocracia. Weber descreveu o fenômeno da burocratização como uma mudan-
ça da organização baseada na autoridade tradicional para uma organização orientada aos objetivos 
e ações pautadas pela lógica racional e legal1. Originalmente, o termo burocracia não tinha a carga 
pejorativa que adquiriu com o tempo, sendo sinônimo de eficiência.
Esse problema é presente tanto em organizações públicas quanto privadas, com ou sem 
fins lucrativos. No entanto, nas empresas privadas, a competição pelo lucro, pela sobrevivência 
no mercado e a presença de um “dono do negócio” cria condições melhores para a introdução de 
correções visando minimizar as distorções. No setor público, a inexistência de competição e au-
sência de um “dono do negócio”, materializada pela rotatividade do comando político, dificultam 
as correções. Dada a natureza dos serviços prestados pelo Estado, o caráter público, político e 
democrático de suas atribuições e funções, a sujeição permanente dos funcionários aos políticos 
e a permeabilidade da cúpula da pirâmide das organizações públicas à pressão dos interesses cor-
porativos agregam-se como fatores agravantes a provocar distorções ainda mais sérias do que as 
que afetam as organizações privadas.
A lógica que rege o funcionamento das redes digitais é frontalmente oposta à das pirâmides 
burocráticas. O caráter democrático do conhecimento – que é a matéria-prima básica da riqueza 
simbólica do novo sistema – e a compressão da relação tempo-espaço, provocada pela comunica-
ção em tempo real, faz com que as informações circulem nas redes na velocidade do pensamento, 
impondo a criatividade, a agilidade e a flexibilidade como requisitos imprescindíveis à sobrevivên-
cia no novo ambiente hipercompetitivo. Para isso, a descentralização e a eliminação de estruturas 
1 Sobre essa questão, recomenda-se a leitura da obra Ensaios de Sociologia (WEBER, 1982).
 A sociedade brasileira como sistema 93
intermediárias entre quem faz e quem decide, a assincronia, a aleatoriedade e a multidimensiona-
lidade das relações entre os componentes do sistema são vitais.
Esses princípios foram compreendidos e assimilados muito rapidamente pelo mundo em-
presarial e logo transformados em métodos revolucionários de gestão da produção e das formas de 
organização do trabalho. De certo modo, pode-se dizer que o aparato do Estado-pirâmide criado 
pela civilização industrial representa para a sociedade o que o setor administrativo representava 
para as fábricas do passado.
Estado, sociedade e mercado não são partes estanques e isoladas dentro de um sistema social. 
Pelo contrário, são partes interdependentes e mutuamente influentes do todo. Quem cria riqueza são 
seres humanos individuais ou organizados em empresas. O Estado se apropria dessa riqueza a pre-
texto de redistribuí-la em benefício da sociedade, na teoria, orientado pela defesa do interesse geral 
do povo. Como descrito anteriormente, o setor público da sociedade industrial acabou padecendo do 
mal que acomete todas as organizações burocráticas piramidais.
Na ponta mais avançada e integrada dos segmentos sociais, no paradigma sistêmico das 
redes digitais, todo o esforço tem se dirigido para a tentativa de aplicar os conceitos revolucioná-
rios da nova matriz tecnológica também ao desenvolvimento de soluções criativas para o impasse 
burocrático do Estado industrial obsoleto e ineficiente. O conceito em gestação é do Estado-rede 
(CASTELLS, 1999); as experiências mais avançadas nessa direção acontecem na Europa unificada 
(MOURA, 2007).
Em 1988, os constituintes aprovaram diversas leis que concederam benefícios sem apontar 
as fontes de recursos para financiá-los. Esse fato acentuou a falência do setor público e atrasou em 
uma década o início das reformas estruturais necessárias para corrigir os problemas acumulados 
por séculos de patrimonialismo e apropriação corporativa do Estado.
A previdência social brasileira está falida como sistema autossustentável e os serviços pú-
blicos de segurança, educação e saúde fracassaram. As resistências corporativas à superação do 
paradigma sistêmico ultrapassado, amparadas em um sistema político e jurídico-legal que não ga-
rante segurança aos investidores, afugentam o capital para outros países emergentes que oferecem 
essas garantias. É justamente nesse ponto que se situa a contradição central da nação brasileira: no 
impasse entre a rupturacom o passado e o ingresso no caminho da recuperação do tempo perdido.
11.4 A crise do sistema e o imperativo da mudança
Romper com uma tradição de mais de 500 anos profundamente arraigada na cultura e soli-
damente enraizada no poder de uma nação com os problemas que o Brasil tem não é tarefa simples. 
Mudanças estruturais na matriz sistêmica das sociedades acontecem, em geral, como consequência e 
desdobramento de crises profundas e traumáticas (guerras, revoluções, falência econômica, regimes 
ditatoriais etc.), nas quais amplos setores do sistema social sofrem perdas significativas e, em função 
disso, assimilam a inevitabilidade da ruptura com o passado e a busca de soluções inovadoras.
A Guerra da Secessão (1861-1865) – que levou os EUA à modernização após a derrota das 
elites rurais do Sul pelas elites industriais do Norte –, a Revolução Russa (1917) – que industrializou 
Sociedade e Contemporaneidade94
a Rússia e a transformou em uma das principais potências industriais do século XX em poucas dé-
cadas –, as derrotas da Alemanha e do Japão na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – que leva-
ram essas duas nações ao centro do tabuleiro do poder do século XXI –, o governo ditatorial (1973-
1990) de Augusto Pinochet (1915-2006) – que inseriu a economia do Chile entre as mais atrativas a 
investidores internacionais na América do Sul –, entre outros, são exemplos de acontecimentos em 
nações que viveram crises profundas e revolucionaram suas matrizes sistêmicas.
O Brasil, diferentemente desses e de outros casos análogos, é desafiado a romper com seu 
paradigma sistêmico patrimonialista, obedecendo às regras e aos rituais de sua incipiente demo-
cracia e submetendo o processo de mudança aos avanços e recuos típicos do jogo tortuoso dos 
conflitos políticos disputados dentro das instituições do Estado. O Estado patrimonialista, pai de 
todas as organizações burocráticas da nação, é, ao mesmo tempo, alvo e palco da disputa entre os 
defensores das mudanças e os beneficiados pela não mudança.
11.5 O voo da galinha: o jeito brasileiro de mudar sem mudar
A expressão voo da galinha ganhou visibilidade no jargão dos economistas e caracteriza a 
trajetória errante de países como o Brasil rumo à estabilização de suas economias e à modernização 
de suas matrizes sistêmicas.
No setor privado do sistema social brasileiro, as empresas privadas entraram na luta pela 
modernização tecnológica e gerencial e na busca da produtividade e competitividade ainda na 
década de 1980. Entretanto, foi apenas na década de 1990 que ocorreu a arrancada tardia do Brasil 
em direção ao futuro pós-industrial, por decisão política do ex-presidente Fernando Collor de 
Mello (1949-).
O governo Collor (1990-1992), não obstante os escândalos de corrupção que levaram o pre-
sidente ao impeachment, abriu o enfrentamento ao desafio da modernização, por meio de uma 
tentativa deliberada de abalar as raízes estruturais do Estado patrimonialista. Paradoxalmente, essa 
iniciativa de modernização da economia e do Estado partiu do mundo da política e por decisão de 
um líder empossado à testa do governo, não da sociedade.
Muitas das medidas adotadas por Collor trouxeram consequências para os diferentes go-
vernos que o sucederam. Uma comparação entre o Estado brasileiro antes e depois de Collor – em 
relação à sociedade e ao mercado – comprovará mudanças inquestionáveis, embora ainda distan-
tes do necessário para permitir a caracterização de uma ruptura com o padrão patrimonialista da 
matriz sistêmica da nação.
Ao impacto das iniciativas políticas do governo Collor contra as bases do Estado patrimo-
nialista somaram-se os efeitos conjuntos de falência do Estado e dos serviços públicos, das pres-
sões coercitivas e corrosivas da competição aberta no mercado globalizado, aos quais empresas, 
trabalhadores e a nação como um todo foram e estão submetidas desde então. Itamar Franco 
(1930-2011) – em função dos erros políticos e dos pretextos que o próprio Collor ofereceu a seus 
inimigos – não teve como alterar o curso dos acontecimentos.
 A sociedade brasileira como sistema 95
Fernando Henrique Cardoso (1931-) foi sucessor do governo de Itamar Franco. Tendo as-
sistido aos erros políticos de Collor e comandado a implantação do Plano Real como ministro da 
Fazenda de Itamar Franco, FHC assumiu o poder munido da agenda programática de Collor e de 
uma estratégia política oposta à do ex-presidente: gradualismo e avanços pelo caminho da menor 
resistência, em vez do embate frontal.
Sob o governo de FHC aconteceram as reformas do capítulo (Título VIII) da Ordem 
Econômica, da Constituição de 1998. Os monopólios estatais das telecomunicações, energia, na-
vegação de cabotagem, mineração e parcialmente do petróleo foram quebrados. Completou-se a 
privatização do setor siderúrgico, de telefonia e de parte do setor energético; a economia abriu-se à 
competição no mercado global. Contudo, a estratégia do caminho pela menor resistência produziu 
tímidos avanços na reforma estrutural e modernização do Estado – e essa continua sendo a grande 
vulnerabilidade do Brasil perante seus concorrentes.
O conflito político central do jogo do poder, travado no país desde o governo Collor, conti-
nua sendo a disputa dos defensores da mudança em direção à sociedade pós-industrial, contra os 
defensores do Estado patrimonialista remanescente e, apesar de abalado, ainda muito poderoso.
Atividade
1. Na área de Ciências Humanas das universidades brasileiras, além de Raymundo Faoro, outros 
intelectuais como José Murilo de Carvalho (1980, 1988, 1990), Sérgio Buarque de Holanda 
(1969) e Simon Schwartzman (1975, 1982) desenvolveram pesquisas sobre a formação históri-
ca da nação brasileira, agregando contribuições importantes para a compreensão do fenômeno 
do patrimonialismo em nossa cultura política. Conhecer a obra desses intelectuais é impres-
cindível para a compreensão da sociedade brasileira. Desse modo, pesquise sobre as obras 
desses autores e elenque as principais temáticas abordadas.
12
As chances da democracia no Brasil
12.1 Um conceito de democracia
Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e o fim da URSS em 1991, ruiu também um mo-
delo que estava em vigência desde o pós-guerra. A ideologia marxista, crescente nos meios inte-
lectuais a partir da segunda metade do século XIX, alimentava a crença de que o melhor caminho 
para uma sociedade justa era instaurar um regime político que distribuísse a riqueza de maneira 
equânime e garantir o que os marxistas entendiam ser a verdadeira democracia, que poderia existir 
somente em regime de igualdade econômica total.
Sem a ameaça comunista, os EUA, que patrocinaram a instauração de regimes autoritários 
na América Latina nas décadas de 1960 e 1970, passaram a defender e a apoiar a implantação da de-
mocracia liberal nesses mesmos países e também naqueles que se libertaram do comunismo com o 
fim da URSS. As potências capitalistas europeias adotaram a mesma posição, jogando sua influên-
cia sobre os territórios do mundo que haviam colonizado nos séculos precedentes, para incentivar 
a democratização. Em toda América Latina, com exceção de Cuba, a partir da década de 1980, teve 
início uma grande onda de transição dos regimes autoritários para o modelo democrático-liberal.
Nas ciências sociais, o termo regime designa a forma como o poder é distribuído nas dife-
rentes sociedades. Falar em regime democrático é portanto remeter à forma como são processadas 
as decisões coletivas dos membros de uma sociedade sobre o seu futuro, garantindo aos cidadãos, 
mais do que ao Estado, o poder de participar das decisões da comunidade e vice-versa, pois o re-
gime é democrático.
O critério adotado pelas ciências sociais para caracterizar um regime político como demo-
crático prevê os seguintes requisitos:
• ocorrência regular e periódica de eleições livres, nas quais há efetiva possibilidade de as 
forças políticas da sociedade se alternarem no poder;
• escolha dos líderes por processos eleitorais,de modo que, uma vez eleitos, esses líderes 
governem por meio de instituições por prazo determinado sem sofrerem a ameaça de que 
as forças derrotadas eleitoralmente se sintam tentadas a tomar o poder pela força;
• a sociedade tem o livre direito à organização e manifestação de ideias políticas, sem o 
risco de eventual punição pela contestação ao governo.
O autoritarismo marcou a história política do Brasil, que experimentou regimes democrá-
ticos após a Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1964 e desde o fim da ditadura militar, em 
1985. Com base no critério referido para caracterização de regimes democráticos à luz das ciências 
sociais, e ainda que houvesse eleições para os poderes Legislativo e Executivo em âmbito regional 
Sociedade e Contemporaneidade98
e nacional, convém destacar a existência de restrições políticas e legais à plena liberdade de parti-
cipação e competição pelo poder. 
A história do Brasil conta com episódios de fraudes e golpes de Estado, praticados especial-
mente pelas oligarquias políticas que controlavam o poder regional e conferiam sustentação aos 
sucessivos governos nacionais. Somente em 1946, com o fim da Segunda Guerra Mundial, talvez 
influenciada pela participação da Rússia na derrota do nazismo e do fascismo, a Constituição então 
proclamada permitiu a realização de eleições livres. Esse curto período democrático foi interrom-
pido pelo golpe militar de 1964, que privou o país de liberdades democráticas até 1985; o processo 
de eleições presidenciais livres foi retomado somente em 1989.
Ao longo da história do país, as decisões políticas concentraram-se mais na esfera do Estado 
do que da sociedade e as forças políticas à testa do governo tomavam as decisões sobre o destino 
da nação de forma impositiva. As Forças Armadas tiveram participação decisiva na implantação 
desse tipo de regime político, ainda que, em alguns casos, por meio de militares eleitos em pleitos 
nos quais não havia plenas liberdades democráticas.
Durante a vigência dos períodos de autoritarismo ocorriam eleições, mas a disputa pelo voto 
acontecia de maneira limitada e controlada pelas oligarquias regionais. Com o regime militar de 
1964, os partidos políticos criados no período anterior foram extintos e substituídos por apenas 
duas grandes agremiações: a Aliança Renovadora Nacional (Arena) – de situação – e o Movimento 
Democrático Brasileiro (MDB) – de oposição.
Nessa época, não havia plena liberdade de imprensa e o direito de organização era bastante 
limitado. O direito de expressão de ideias contrárias ao regime era restrito e a transgressão era 
punida com privação da liberdade e outras restrições a direitos individuais considerados essenciais 
à vigência de regimes de tipo democrático liberal. A partir de década de 1980, tanto por razões de 
natureza internacional, quanto pelo desgaste político dos governos militares, o Brasil e outros paí-
ses da América Latina passaram a experimentar a transição para a democracia.
Para Huntington (1994), de tempos em tempos, a partir do século XIX, o mundo moder-
no experimenta ondas intermitentes de transição de regimes não democráticos para democráti-
cos, intercaladas por ondas em sentido inverso. A transição para regimes de liberdade política na 
América Latina nesse período integraria uma dessas ondas de democratização.
12.2 A democracia no contexto atual
O debate teórico sobre a questão da democracia se intensificou na primeira metade do sé-
culo XX com Joseph Schumpeter, que, na obra intitulada Capitalismo, socialismo e democracia, 
em 1942, pela primeira vez coloca em questão o conceito de democracia embutido na teoria mar-
xista. Um dos pressupostos básicos da visão marxista da democracia é o de que ela somente é 
possível e verdadeira em um sistema econômico de igualdade total. A democracia burguesa, para 
Marx, era a ditadura da burguesia sobre o proletariado, que deveria ser substituída pela ditadura 
do proletariado.
As chances da democracia no Brasil 99
Schumpeter (1961) centra sua crítica à visão dos socialistas sobre a democracia no conceito 
marxista da ditadura do proletariado. Segundo esse autor, desde 1916 a questão da relação entre so-
cialismo e democracia era vista de maneira óbvia pelos principais expoentes da ortodoxia socialista. 
De acordo com a visão teórica marxista sobre a democracia, a propriedade privada sobre os meios 
de produção é o ponto central que habilita a classe capitalista para explorar o trabalho e para impor 
as diretrizes de seus interesses de classe sobre a gerência dos conflitos políticos da comunidade.
Com base nesse ponto de vista, o poder político da classe capitalista aparece como uma for-
ma particular de poder econômico. A inferência lógica daí decorrente é a de que não pode existir 
democracia enquanto existir esse poder econômico (SCHUMPETER, 1961). A democracia, assim, 
é meramente uma farsa e, por outro lado, a eliminação desse poder irá ao mesmo tempo eliminar a 
“exploração do homem pelo homem”, impondo o que os socialistas definiam como a “lei do povo” 
(SCHUMPETER, 1961, p. 361).
Schumpeter contesta esse ponto de vista que se incorporou à cultura política e à tradição 
socialista ao longo dos anos, com base no argumento de que é impossível reduzir o poder indi-
vidual ou de grupos em termos unicamente econômicos. O socialismo, em tese, poderia ser o 
ideal da democracia, mas o caminho pelo qual sua tese se aplicaria na prática não é muito claro 
(SCHUMPETER, 1961).
As palavras revolução e ditadura aparecem com frequência nos escritos da teoria socialista, 
mas os socialistas modernos nunca apresentaram objeções em aceitar o uso da violência como via 
para o paraíso socialista. Schumpeter alerta para o fato de que, se Marx acreditasse na democracia 
como sugerem alguns socialistas, seu conceito e o espaço destinado ao tema na sua teoria deveriam 
ter crescido assim como a importância de observar os procedimentos democráticos no processo de 
construção do socialismo (SCHUMPETER, 1961).
Sob esse ponto de vista, a democracia, como conceito e como regime político, não comporta 
adjetivações tal como a expressão democracia burguesa, adotada pelos marxistas em detrimento da 
democracia liberal. A democracia é um “método político, aplicado para definir a forma que uma 
nação utiliza para chegar a uma decisão. Através desse método podemos nos habilitar a caracterizar, 
através da indicação de quem e como essas decisões são tomadas” (SCHUMPETER, 1961, p. 295).
O autor, portanto, desvincula seu conceito de democracia de funções extrapolíticas, como a 
obrigação de realizar a igualdade econômica. Para Schumpeter (1961, p. 328), “o método democrá-
tico é um sistema institucional, para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo adquire o 
poder de decidir mediante um luta competitiva pelos votos do eleitor”. Desse modo, esse conceito 
permitiria distinguir o que vem a ser um governo democrático, em contraste com outros tipos dife-
rentes de governo. Assim, é a existência ou não de um determinado modus operandi o que permite 
ao analista verificar se um determinado sistema é ou não democrático.
Essa definição atribui papel vital à liderança política nos processos de construção das decisões 
coletivas, uma vez que os corpos coletivos atuam quase exclusivamente pela aceitação da liderança1, 
1 Sobre isso, pesquisar autores ligados à Teoria das Elites na Ciência Política, tais como Grynszpan (1999), Michels 
(1983), Bottomore (1964) e Charles Wright Mills (1980).
Sociedade e Contemporaneidade100
mecanismo dominante em todas as ações coletivas e que confere um grau de realismo bastante supe-
rior à definição da teoria clássica. Dessa forma, a “manufatura das vontades”, aberração execrada por 
Schumpeter, é absorvida por sua construção conceitual. Essa definição de democracia não ignora a 
existência de vontades coletivas autênticas, mas as enquadra no papel que realmente desempenham. 
Essas vontades, muitas vezes latentes durante anos, apesar de fortes, podem serdespertadas por 
líderes que lhes conferem forma e rumo ao organizá-las e estimulá-las à ação.
Schumpeter reconhece que sua teoria apresenta dificuldades semelhantes ao conceito de 
concorrência em economia (que nunca acontece de maneira perfeita, embora sempre esteja pre-
sente)2, com o qual sugere uma comparação útil. O autor restringe sua comparação à livre concor-
rência pelo voto livre. O remédio para isso é o método eleitoral como legítimo e único exequível 
(ainda que passível de variações conforme o regime democrático em questão), por meio do qual se 
desenvolve a luta competitiva, qualquer que venha a ser o tamanho da comunidade.
O conceito de Schumpeter contempla a relação subsistente entre democracia e liberdade 
individual com base no pressuposto de que, reconhecido o fato de que o método democrático não 
garante necessariamente maior liberdade individual do que qualquer outro método em circunstân-
cias semelhantes – pois nenhuma sociedade pode subsistir um regime de liberdade absoluta –, pelo 
menos por questão de princípio, todos os indivíduos deveriam dispor de liberdade para concorrer 
à liderança política, o que pressupõe a liberdade de expressão (liberdade de imprensa) para todos 
em igual medida.
Por outro lado, é atribuída à função primária da democracia o papel do eleitorado de formar 
o governo ou o corpo intermediário que irá formá-lo; sugere-se que se deva atribuir igual valor à 
capacidade desse mesmo eleitorado para dissolvê-lo pela via institucional/legal. O eleitorado, dessa 
forma, deve ter poder para instalar um governo, assim como para controlá-lo.
Finalmente, Schumpeter contesta a associação automática entre a “vontade da maioria” e a 
“vontade do povo”. Segundo ele, a vontade da maioria é simplesmente a vontade da maioria. Essa 
constatação simplista, além de óbvia, é insuficiente para o equacionamento de uma solução para 
o problema da representação do povo, tentada por autores que teorizam sobre a representação 
proporcional, mas não reconhecem essa ligação automática como válida. O princípio básico da 
democracia significa que as rédeas do governo devem ser entregues àqueles que contam com maior 
apoio do que outros indivíduos ou grupos concorrentes, o que não significa caracterizá-la como 
vontade do povo, dada a existência de minorias (SCHUMPETER, 1961).
Absorvendo e ampliando o conceito de Schumpeter, o cientista político Robert Dahl (1977) 
propõe um novo conceito de democracia, que ele define como poliarquia, equacionando o proble-
ma da democratização como um processo progressivo de ampliação da competição e da participa-
ção política. As condições de competição pelo voto e o equilíbrio das forças que disputam o poder 
no sistema – governo e oposição, maioria e minoria – são fundamentais também.
2 A teoria da concorrência imperfeita caracteriza situações de competição em economias de mercado nas quais 
não se apresentam condições de concorrência perfeita, isto é, em que existe pelo menos uma empresa ou consumidor 
com poder suficiente para determinar o preço de mercado. Situações de concorrência imperfeita caracterizam-se, por 
exemplo, em casos de formação de monopólios, oligopólios e cartéis. A aplicação desse conceito ao mercado político 
corresponde a situações em que uma força política dispõe de condições de predomínio exclusivo sobre o acesso ao 
poder de Estado, ainda que sob ocorrência de eleições livres.
As chances da democracia no Brasil 101
A identificação da democratização com base nesses indicadores oferece critérios objetivos 
que permitem classificar os diferentes regimes políticos segundo sua maior ou menor aproximação 
com um ideal democrático, conforme os graus de competição e participação possíveis entre os ato-
res políticos dentro de um sistema determinado. Desse modo, é aferido o grau de democratização 
inerente a esse mesmo sistema.
O debate contemporâneo sobre a democracia, no entanto, apresenta outras concepções im-
portantes, dentre as quais destacam-se os adeptos da teoria da modernização, que associam a via-
bilidade da democracia ao desenvolvimento socioeconômico das nações.
Essa corrente incorpora, em parte, a visão que associa a viabilidade da democracia como 
regime de liberdade de escolhas políticas a prerrequisitos ligados à ideia de igualdade econômica, 
herdada da tradição marxista. Por outro lado, há uma corrente teórica que associa a viabilidade 
da democracia exclusivamente à questão da predisposição das elites de uma nação para adoção 
do regime. Finalmente, há a corrente que condiciona a viabilidade da democracia a prerrequisitos 
ligados à experiência histórica e à formação política das nações, que precisariam vivenciar fatos 
como os ocorridos na Inglaterra, na França e nos EUA a partir do século XVII, para que pudessem 
evoluir da condição de regimes autoritários para a de regimes democráticos.
As teorias da modernização surgiram após a Segunda Guerra Mundial e entendiam que a 
modernização das nações às levariam, inexoravelmente, à democracia. O crescimento da econo-
mia, a urbanização, a melhoria no nível educacional e de saúde, entre outros fatores, tenderiam a 
impulsionar a democratização das sociedades em função da elevação no padrão cultural da popu-
lação. Essa análise se amparava na ideia de que as estruturas condicionam os processos de mudança 
política. Era uma visão evolucionista da sociedade que contrapunha o tradicional ao moderno.
A explicação objetada aos teóricos da modernização é a que defende a hipótese de que a de-
mocracia depende da vontade dos atores políticos. Essa nova teoria enfatiza as ações racionais das 
elites políticas em prol da democracia, em detrimento da dimensão estrutural (modernização), como 
fator relevante para a viabilidade da democracia. Ou seja, mesmo levando em conta as condições so-
cioeconômicas vigentes em uma situação determinada de transição para a democracia, essa posição 
considerava que o resultado final dos processos de passagem do autoritarismo para a democracia 
dependeria, basicamente, da capacidade das lideranças políticas mais expressivas da nação desejarem 
e agirem sobre as oportunidades para assumirem o compromisso com o regime de liberdade de com-
petição pelo voto, tanto por parte das forças no poder quanto da oposição (MOISÉS, 1995).
12.3 A teoria da democracia aplicada ao caso brasileiro
A transição democrática brasileira não confirmou a hipótese dos defensores da teoria 
da modernização. O processo de modernização ocorrido nos Estados latino-americanos nas 
décadas de 1950 e 1960 prometia prosperidade econômica e social, mas na verdade produziu 
um período de implantação de regimes autoritários de longa duração, como foi o caso do Brasil 
entre 1964 e 1985.
Sociedade e Contemporaneidade102
Em sentido oposto, o desempenho da economia brasileira desde 1980 alternou ciclos de 
crescimento e queda do PIB que revelam estagnação econômica ou baixo crescimento ao se anali-
sar o período de duas décadas, não levando ao retrocesso no processo de transição para a democra-
cia, ainda em evolução no Brasil. A variável econômica, portanto, fica invalidada como argumento 
dos defensores dessa teoria, pois, se o crescimento da economia fosse determinante para a demo-
cracia, o Brasil deveria ter retrocedido ao autoritarismo (MAINWARING, 1992).
No caso brasileiro, por exemplo, o caminho para a transição democrática foi institucional 
e obedeceu a um cronograma eleitoral pactuado entre as forças governistas e oposicionistas que 
definiu o ritmo dos avanços gradativos na implantação do regime de liberdades políticas. Dessa 
forma, a transição democrática não resultou de um conflito aberto entre o regime militar e a opo-
sição, e sim envolveu uma complexa trama de negociações na qual ambas as partes tiveram papel 
importante para a construção do resultado.
Os adeptos dessa visão, no entanto, não negavam a influência dos fatores estruturais e con-
junturais, de natureza macroeconômica, e influenciados pela conjuntura política mundial e nacio-nal, sobre o processo de transição em curso no Brasil à época. Mas o alto grau de incerteza presente 
no cenário político daquele período fez com que as escolhas das lideranças fossem decisivas. Essa 
segunda corrente teórica, no entanto, revelou-se incapaz de prognosticar o futuro, visto que alguns 
dos seus pressupostos sobre as etapas de transição do autoritarismo para democracia não se con-
firmaram no Brasil. 
12.4 A realidade põe a teoria em xeque
Huntington (1994), observando a consolidação dos processos de democratização que come-
çaram na década de 1970 e conduziram cerca de 30 países com regimes autoritários a evoluírem 
para regimes democráticos, retomou as análises que enfatizavam a dimensão econômica, mas com 
um novo enfoque. Sua análise busca estabelecer uma correlação entre riqueza e democratização, 
mas sem estabelecer nexo causal determinista entre riqueza e democracia, já que a história registra 
casos de nações ricas com regimes autoritários.
No entanto, o autor reconhece que o fator econômico produz impacto relevante, embora não 
determinante, sobre as condições e circunstâncias que envolvem as transições para a democracia. 
O autor comprova, com base em dados estatísticos, a existência de uma correlação positiva entre 
riqueza e democratização, mas enfatiza que a permanência por longo período de uma situação de 
riqueza em certas sociedades contribui para promover um ambiente favorável à democratização.
No caso do Brasil, por exemplo, o milagre brasileiro da década de 1970 – que gerou índices 
de crescimento do PIB de até dois dígitos em função da política econômica patrocinada pelos go-
vernos militares – paradoxalmente teria criado as condições para o fim do regime autoritário nas 
décadas seguintes.
Convém observar, no entanto, que a adesão da população ao regime democrático é influen-
ciada pela capacidade de os governos atenderem demandas econômicas e sociais. A instabilidade 
em situações de crise tende a prejudicar a satisfação de demandas sociais em países endividados 
As chances da democracia no Brasil 103
e com grandes carências infraestruturais. Sob essas circunstâncias, o papel dos atores políticos 
(partidos, líderes, instituições da sociedade, mídia etc.) revelou-se importante lastro para garantir 
a continuidade do processo de transição para a democracia, especialmente no caso do Brasil.
Dessa forma, pode-se admitir que, enquanto os processos de modernização econômica e 
social ampliam as condições por meio das quais a decisão de migrar do autoritarismo para demo-
cracia pode ser uma escolha, caberia à vontade política das elites da sociedade agir para a concreti-
zação da transição. Contribui para o sucesso dessa empreitada também a existência de uma cultura 
política difundida na base da sociedade, por meio da qual os cidadãos conferem legitimidade ao 
processo, seja pela participação, seja pela defesa de valores morais condizentes com um regime de 
liberdades e respeito aos direitos individuais.
Aqui, ergue-se um enorme ponto de interrogação sobre o destino político do regime demo-
crático no Brasil. A permissividade que parcelas expressivas da sociedade brasileira apresentam em 
relação às práticas controvertidas do ponto de vista ético e moral na vida pública e privada constitui 
um traço marcante da cultura política nacional, tanto no que diz respeito ao povo quanto às elites.
Conclui-se, desse modo, que a preservação dos valores libertários e democráticos na sociedade 
brasileira carece de alicerces consistentes no comportamento individual e coletivo de uma parcela ex-
pressiva de cidadãos. Além das dimensões política, normativa e institucional, seria preciso introduzir 
mudanças na cultura política nacional para conferir sustentabilidade ao funcionamento da democracia, 
por meio de um incremento no capital social acumulado pela sociedade (FUKUYAMA, 1996).
Por capital social entende-se o conjunto de práticas sociais, normas, sistemas de participação 
e associativismo que estimulam condutas cooperativas e o desenvolvimento de relações de con-
fiança entre os membros da sociedade. Assim, quanto mais difundida for a cultura da confiança de 
todos os cidadãos uns com os outros, para além das práticas de favorecimento e privilégios troca-
dos entre os círculos de relação familiar ou de compadrio, maior será o capital social acumulado e 
melhores serão as condições para a viabilização dos regimes democráticos.
Curiosamente, os pesquisadores que desenvolveram a formulação desse conceito consta-
taram que as sociedades nas quais o acúmulo de capital social é mais expressivo são também as 
mais prósperas e desenvolvidas do ponto de vista econômico e social. Talvez tenhamos aqui uma 
explicação inusitada para as mazelas sociais históricas da nação. Isto é, a pobreza da maioria da 
população estaria associada ao parco capital social acumulado por um povo habituado à cultura 
do “jeitinho brasileiro”.
Atividades
1. Faça a leitura do prefácio da obra Poliarquia (1977), de Robert Dahl, no qual você en-
contrará uma síntese da teoria da democracia elabora pelo cientista político Fernando 
Limongi (1958-).
Sociedade e Contemporaneidade104
2. Leia a obra O Estado e a revolução (1983), de Lenin – líder da Revolução Russa de 1917. Nela 
você encontra a visão do autor sobre o conceito marxista de ditadura do proletariado.
3. Acesse sites de partidos políticos brasileiros e pesquise sobre seus programas. Procure textos 
sobre as concepções de democracia por eles defendidas e busque conexões com os pensa-
mentos teóricos dos autores aqui estudados.
Nos sites de alguns dos partidos, você encontrará indicações bibliográficas, resenhas e extra-
tos de livros sobre esses assuntos.
Gabarito
1 As sociedades como sistemas
1. Considerando-se que neste capítulo vimos as analogias com organismos vivos, uma resposta pos-
sível para essa questão seria buscar algum tipo de analogia com sistemas mecânicos, tais como 
um motor de um carro, por exemplo. Assim, o computador do carro seria análogo ao governo; o 
software desse computador ao sistema legal; o sistema de injeção de combustível ao parlamento; 
e assim por diante.
2. A criminalidade e a corrupção são dois exemplos de doenças sociais, segundo esse ponto de vista.
2 Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade
1. Segundo a teoria de Toffler, é a descoberta de novas tecnologias de produção de riqueza que dá 
início aos processos de mudança das sociedades. A partir do momento em quem essas descober-
tas ganham escala ao serem utilizadas na economia, elas passam a requerer uma reorganização 
da vida social humana em todas as suas outras dimensões.
2. O fator desencadeador da segunda onda foi o uso combinado do trabalho especializado na linha 
de montagem com sistemas mecânicos de produção. Esse novo sistema de produção de riqueza 
substituiu o trabalho artesanal, ocasionando as mudanças estruturais que transformaram a so-
ciedade da época.
3. Essas descobertas permitiram a interconexão em rede da sociedade e da economia mundiais, a 
automação industrial, a robótica e a inteligência artificial, assim como o aumento da velocidade 
e da quantidade de mercadorias e pessoas transportadas pelo planeta. Essas tecnologias revo-
lucionaram o sistema produtivo, substituindo os sistemas mecânicos e a linha de montagem da 
sociedade da segunda onda.
3 A sociedade agrícola
1. Muito embora diferentes civilizações tenham existido no longo período de cerca de 10.000 anos 
da primeira onda, em todas elas a base do sistema produtivo era o método de produção artesanal 
e a agricultura tradicional. Permanecendo em todas essas sociedades o mesmo sistema de produ-
ção, subsistiram as estruturas sociais.
2. Os quatros princípios são: a ideia de democracia; a noção de igualdade dos cidadãos perante à lei; 
a noção de direito estabelecido em leis escritas e o princípio da separação entre religião e Estado 
derivada do monoteísmo e da existência da Igreja como instituição distinta do Estado.
3. O sistema feudal baseava-senuma estrutura de poder dos proprietários de terras sobre seus feu-
dos e no fato de que, dessa forma, o território fragmentava-se com cada senhor feudal definindo 
a lei, a moeda, o dialeto e as unidades de medida. Essa falta de padronização dessas referências 
dificultava o comércio e a expansão do capitalismo.
106 Sociedade e contemporaneidade106106106
4 A sociedade industrial
1. Conforme Toffler, é a descoberta de novas tecnologias de produção de riqueza que impulsiona as 
transformações estruturais das sociedades. Assim foi com a descoberta da agricultura, que permitiu 
ao homem sair da pré-história, a descoberta das máquinas e da linha de montagem, que gerou o sur-
gimento da Revolução Industrial, e a invenção do avião a jato, da informática e das telecomunicações, 
que deu origem à terceira onda.
2. Num sistema baseado no trabalho agrícola pelo método artesanal, requer-se muito trabalho braçal, 
fator que deu origem à família tradicional, com várias gerações vivendo sob o mesmo teto e com a 
valorização dos mais velhos, que detinham o conhecimento transmitido verbalmente entre gerações. 
A Revolução Industrial e o trabalho nas fábricas exigiram o encolhimento e a mobilidade das famílias, 
sendo o pai operário o provedor econômico do lar, tendo poder sobre o núcleo familiar. As novas 
tecnologias da terceira onda segmentaram a produção e o consumo, fragmentaram a sociedade e per-
mitiram que o trabalho se libertasse das fábricas. Essas mudanças estão mudando o modelo da família 
e o sistema de crenças e valores da sociedade contemporânea.
3. Segundo o enfoque de Toffler, os sistema produtivo, a sociedade e a economia de livre mercado mu-
dam e evoluem mais rapidamente do que os sistemas de regras e instituições sociais e políticas. Esse 
descompasso explicaria as crises políticas e institucionais típicas dos períodos de transição estrutural 
das sociedades.
5 A história da globalização
1. A resposta para essa questão depende de cada referencial bibliográfico que será pesquisado, pois os 
teóricos, especialmente os historiadores, tendem a desenvolver enfoques próprios que subdividem 
e explicam os períodos históricos e as transições de modo específico e distinto dos demais autores. 
A questão central aqui está em identificar e diferenciar o enfoque de Toffler dos demais, já que esse 
autor foi quem desenvolveu o enfoque das ondas civilizatórias, que divide os períodos históricos em 
três, tomando como critério a matriz produtiva de cada período.
2. Antes da existência desse sistema complexo e que produz grande quantidade de informação simbólica 
que circula em tempo de real por toda a superfície do planeta, os fatores de referência que influencia-
vam o psiquismo social e individual eram poucos e simples (família, comunidade, limites geográfi-
cos). Com essas novas tecnologias, indivíduos e sociedades passam a ser influenciados por uma carga 
infinitamente maior e mais complexa de informações referenciais, dado que se trata de um sistema 
de comunicação interligado globalmente por aparatos tecnológicos cujo funcionamento se baseia na 
circulação de informações e símbolos.
3. A formação dos Estados nacionais decorreu da necessidade de superar os limites impostos pelas es-
truturas territoriais dos feudos (leis, moeda, dialetos, unidades de medida e fronteiras territoriais) que 
fragmentavam o território e o sistema econômico impondo obstáculos à expansão comercial.
Gabarito 107
6 A ordem internacional pós-Segunda Guerra
1. Não há uma resposta padrão para essa questão. Sugere-se que você busque pesquisar diferentes fon-
tes, com enfoques diversos da mesma realidade, de modo a formar seu próprio ponto de vista sobre 
esses assuntos.
2. Sugere-se ao aluno sublinhar os trechos considerados mais importantes dos textos e, depois, transpor 
de forma sintética os trechos sublinhados, para fichas de leitura que facilitem uma compreensão sin-
tética dos conteúdos.
3. O objetivo dessa tarefa é enriquecer o seu ponto de vista, permitindo a comparação entre suas sínte-
ses e a dos colegas. Não há uma reposta padrão para essa questão, dado que a configuração final das 
comparações será específica de cada um, ao sintetizar os conteúdos e proceder as comparações.
7 A sociedade pós-industrial
Não há reposta certa ou errada para esse exercício. O objetivo aqui é oferecer ao aluno uma ferramen-
ta de autoanálise sobre seu perfil mais ou menos empreendedor de modo a que avalie suas caracterís-
ticas pessoais diante das exigências do mercado profissional na era tecnológica.
8 Identidades em transformação
1. Seguem links de referência para você pesquisar, sempre lembrando que é recomendável não se limi-
tar a eles. Ao fazer sua pesquisa, você deve recorrer apenas a fontes reconhecidas academicamente. 
Fontes como Wikipédia, por exemplo, não são academicamente reconhecidas.
• <http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2015/09/o-que-e-realidade-virtual- 
entenda-melhor-como-funciona-a-tecnologia.html>. Acesso em: 25 jul. 2018.
• <https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/viewFile/36259/38979>. Acesso em: 25 
jul. 2018.
• <http://www.pucsp.br/~cimid/4lit/longhi/hipertexto.htm>. Acesso em: 25 jul. 2018.
• <http://www.scielo.br/pdf/soc/n21/09.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2018.
9 Significados e representações no mercado de símbolos
Não há uma resposta correta padrão para essas questões, dado que compete a cada um pesquisar no 
livro o que está sendo solicitado e elaborar sua própria síntese. Apenas a título de exemplo, citamos 
dois parágrafos que podem servir de referência para resposta dessa questão. Ao estudar os conteúdos, 
você certamente poderá agregar outros elementos para enriquecer suas respostas.
A origem dessa crise de identidade individual e coletiva é o turbilhão de ima-
gens a que os indivíduos contemporâneos são expostos em uma sociedade in-
terconectada por redes digitais de trocas simbólicas. As linguagens multimídia 
da teia digital de comunicação online comprimem a distância física, eliminam 
o fator tempo e diluem as fronteiras invisíveis entre o mundo real e o mundo 
virtual das informações que circulam entre os nodos da teia digital.
108 Sociedade e contemporaneidade108108108
A interconexão de todas as partes do planeta por redes de comunicação digital 
em tempo real fragmenta as estruturas e processos que configuravam os subsis-
temas social, político, econômico e cultural da sociedade industrial. O impacto 
dessa nova realidade é avassalador. Os elementos que serviam à mediação social, 
isto é, as normas e instituições da sociedade industrial e os valores culturais que 
ser- viam de referencial para a estabilidade psicológica e psicossocial dos indi-
víduos nos ambientes micro e macrossocial no passado recente já não cumprem 
a mesma função, pois foram deslocados pela nova realidade. (HALL, 1999, p. 7)
10 O poder na sociedade pós-industrial
Não há uma resposta padrão correta para essa questão. O objetivo desse exercício é estimular você a 
pesquisar nas referências sugeridas, ou em outras fontes acadêmicas de sua preferência, referenciais 
teóricos que lhe permitam formar um ponto de vista teórico próprio sobre as questões sugeridas.
11 A sociedade brasileira como sistema
1. Não há uma resposta padrão correta para essa questão. O objetivo desse exercício é estimular você a 
pesquisar nas referências sugeridas, ou em outras fontes acadêmicas de sua preferência, referenciais 
teóricos que lhe permitam formar um ponto de vista teórico próprio sobre as questões sugeridas.
12 As chances da democracia no Brasil
Não há uma resposta padrão correta para essa questão. O objetivo desse exercício é estimular você a 
pesquisar nas referências sugeridas, ou em outras fontes acadêmicas de sua preferência, referenciais 
teóricos que lhe permitam formar um ponto de vista teórico próprio sobre as questões sugeridas.
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Código Logístico
57357
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6435-9
9 788538 764359
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