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CORRELAÇÃO CLÍNICA: NERVOS CRANIANOS I A VI CASO 1 Paciente do sexo masculino, 81 anos de idade, hipertenso, diabético, dislipidêmico, foi trazido a uma UPA de Salvador pelo SAMU. Familiar refere que o atendido apresentou tontura e queda da própria altura há 3 horas, quando foi notada “fraqueza na perna e braço esquerdos” e “olhar estranho”. Ao exame neurológico apresentava os seguintes achados: ptose palpebral e midríase em olho direito, bem como estrabismo divergente, hemiplegia à esquerda com desvio de comissura labial. O médico plantonista suspeitou de um acidente vascular encefálico isquêmico (AVEI) e solicitou a transferência imediata do paciente para um hospital de referência. Baseado em seu conhecimento de neuroanatomia funcional, reflita sobre as seguintes questões: a) Qual a topografia da lesão? b) Qual a justificativa para a hemiplegia contralateral? Uma lesão do trato corticoespinal antes da decusassão das pirâmides. c) Comente o desvio de comissura labial. Devido à lesão do nervo facial. A doença evoluiu de forma aguda, o paciente caiu devido ao AVEI, que pode iniciar com tonturas. Considerações Anatomofuncionais O teto do mesencéfalo possui colículos superiores e inferiores; colículos são massas de substância cinzenta. Eles servem para auxiliar a visão e a audição, respectivamente, e formam a lâmina quadrigeminal. Essas duas estruturas fazem uma conexão dos dois sentidos. Ex: quando uma caneta cai e automaticamente sabemos que o que caiu foi uma caneta devido ao som escutado. A glândula pineal tem uma relação anatômica com lâmina quadrigeminal. Logo, se houver um tumor na glândula pineal, ele pode comprimir a lâmina quadrigeminal (colículos) e o nervo troclear. ➢ Note na imagem que o nervo troclear emerge posteriormente ao véu medular superior – ou seja, no encontro das fibras que formam o pedúnculo cerebelar superior. O pedúnculo cerebral do mesencéfalo são fibras corticoespinais e corticonucleares que vão do córtex para os núcleos do tronco encefálico que deixam “impressões” no mesencéfalo. Apenas abaixo dessa região é que essas fibras vão se cruzar. Por isso, uma lesão nesse nível acometerá diversas fibras motores, no entanto, ainda não houve o cruzamento dessas fibras para o lado oposto e, assim, a manifestação motora será contralateral, porque a fibra corticoespinal ainda vai cruzar. O pedúnculo cerebelar superior leva informações para o lobo superior do cerebelo e é importante para a coordenação e o caminhar; ou seja, para manter a musculatura axial tônica para manter a coordenação e a deambulação. ➢ O nervo oculomotor nasce anteriormente na fossa interpeduncular, e é responsável pela inervação da maior parte da musculatura extrínseca do olho; já o troclear nasce posteriormente abaixo do colículo inferior (do mesencéfalo), ou seja, no véu medular superior. Tanto o oculomotor (III), quanto o troclear (IV) possuem sua origem aparente no mesencéfalo. Corpo geniculado lateral (tálamo) e as fibras geniculo- calcarinas A retina possui duas regiões: uma temporal e uma nasal. A parte nasal da retina pega o campo visual temporal, e a parte temporal do outro olho pega o campo visual temporal. Ou seja, a retina nasal de um olho pega o mesmo campo visual que a retina temporal do outro olho. As fibras da retina temporal formam o nervo óptico e não cruzam a linha média, já as fibras da retina nasal irão cruzar formando o quiasma óptico. A hipófise tem íntima relação com o quiasma óptico, por isso tumores hipofisários podem comprimir o quiasma óptico. A maioria das fibras da retina (90%) irão terminar no corpo geniculado lateral – que faz parte da via visual do tálamo. No corpo geniculado lateral, teremos os neurônios de segunda ordem que irão fazer um prolongamento para o córtex visual primário – localizado no lobo occipital, nas bordas do sulco calcarino. Assim como a medula tem uma somatopia, o lobo occiptal – córtex visual primário – possui uma retinotopia, ou seja, uma representação fidedigna. Algumas fibras do trato óptico seguem para outros lugares, como: hipotálamo, núcleo supra quiasmático e o núcleo óptico. Isso ocorre para informar ao hipotálamo o que está acontecendo fora, ou seja, regular o ritmo circadiano. ➢ Se ficamos até tarde no celular, o hipotálamo não irá entender que a luminosidade que está vindo do trato óptico é do celular e, assim, interpreta como se fosse dia. Entre os colículos superiores do mesencéfalo e o diencéfalo, temos a área pré-septal, porque está prévia ao teto do mesencéfalo. Nessa área, teremos núcleos importantes que irão regular o movimento dos olhos, principalmente da pupila, e irão imitir conexão para a medula, cerebelo, córtex, núcleos da base para orientarmos a nossa cabeça/musculatura para o campo visual desejado. Inervação da musculatura ocular extrínseca Oculomotor: reto superior, medial e inferior; oblíquo inferior; levantador da pálpebra superior. Troclear: oblíquo superior; Abducente: reto lateral; Origem aparente dos nervos oculomotor (III) e troclear (IV) O oculomotor tem sua origem aparente na fossa interpeduncular, que fica abaixo do corpo mamilar; e o troclear é o único nervo que emerge posteriormente do tronco encefálico e está no nível do mesencéfalo, porém abaixo dos cóliculos. O pedúnculo e o teto do mesencéfalo são divididos anatomicamente pelo aqueduto cerebral/ de Sylvius. No pedúnculo, temos duas áreas bem definidas: uma com várias fibras que descem (fibras do trato corticoespinal e corticonuclear) para a medula; e uma área que possui os núcleos rubros, que são responsáveis pela motricidade fina das mãos. Por isso, lesões no rubroespinal podem ocasionar tremores nas mãos e movimentos involuntários. O que divide o pedúnculo cerebral em tegmento e base do pedúnculo é a substância negra. Inervação dos músculos extrínsecos do globo ocular (oculomotor, troclear e abducente) Nervo troclear: inerva o oblíquo superior; : nasce abaixo do colículo inferior, no véu medular superior; Nervo abducente: inerva o reto lateral; nasce no sulco bulbopontino – na porção anterior, entre a ponte e o bulbo. Nervo oculomotor: nasce anteriormente ao aqueduto cerebral, porém no nível do colículo superior; inerva o reto medial, superior e inferior, oblíquo inferior e levantador da pálpebra superior. OBS -> o abducente está na ponte, e o troclear e o oculomotor estão no mesencéfalo. ➢ Há uma porção parassimpática (núcleo de Edinger- Westphal) do nervo oculomotor que irá se conectar ao gânglio ciliar, para atuar no músculo ciliar que irá fazer o reflexo de acomodação do cristalino e a constrição do m. esfíncter da pupila, ou seja, miose. Algumas literaturas trazem os núcleos do nervo oculotomor como complexo oculomotor ou oculonuclear. Isso porque temos os núcleos de Edinger-Westphal, que são parassimpáticos, os núcleos pré-tectais e os núcleos propriamente ditos do nervo oculomotor. Tanto a área pré-tectal quando o corpo geniculado lateral irão emitir informações sobre questões visuais e outras, de um hemisfério para o outro. A base neural do reflexo consensual está relacionada à área pré-tectal. A área por onde passam as fibras que comunicam um sistema visual central com outro é chamada de comissura posterior – que se localiza entre a pineal e os colículos do mesencéfalo. Por isso, alterações da pineal podem acometer a comissura posterior e a área pré-tectal do mesencéfalo. Inervação ocular: parassimpática e simpática O sistema nervoso simpático e parassimpático irá regular o diâmetro da pupila; o parassimpático irá sair do núcleo de Edinger e, através do músculo ciliar, fazer a miose (constrição do m. esfíncter pupilar). Em contrapartida, o trato tetoespinal (quevem da área pré-tectal do mesencéfalo) desce, vai até a medula torácica e informa ao sistema nervoso simpático sobre a situação de intensidade luminosa nas vias ópticas. Se for necessária a dilatação dessa pupila, o neurônio simpático irá fazer sinapse no gânglio cervical superior e, em seguida, realizar a midríase. ➢ Se houver lesão do simpático, podemos ter uma pupila miótica. O fascículo longitudinal medial irá interligar os três núcleos dos nervos abducente, oculomotor e troclear. Logo, é fundamental passa a sincronicidade dos olhos. Controle do olhar conjugado: vias neurais centrais A fibra fronto pontinha sai do córtex e vai direto para o ponte, onde temos o núcleo do abducente e a formação reticular pontinha mediana (área azul) é o centro do olhar conjugado horizontal; assim, o lobo frontal coordena o núcleo do abducente: se quiser olhar para o lado direito, ele manda a ordem para o abducente abduzir o reto lateral do olho direito e para o reto medial realizar uma adução (ou seja, olhar para a parte nasal) através da contração do reto medial. No entanto, quem avisa ao núcleo da oculomotor do outro lado para contrair o reto medial não é o núcleo do abducente, é o fascículo longitudinal medial. ➢ Se houver uma lesão do fascículo longitudinal medial de um lado, haverá uma paralisia do olhar conjugado vertical, sendo que o olho paralisado indica o lado da lesão. Se o lado esquerdo tiver paralisado, a lesão foi do fascículo longitudinal medial esquerdo (lesão internuclear, ou seja, entre a comunicação de convergência de um núcleo para o outro). Além disso, podemos ter lesões acima do núcleo do nervo – supranuclear – e no próprio núcleo – nuclear. O controle do olhar conjugado vertical vem tanto do lobo frontal, quanto do lobo occipital. Enquanto o centro do olhar conjugado vertical está na ponte, o centro do olhar vertical estará no mesencéfalo, na lâmina quadrigeminal. ➢ Assim, se houver lesão da lâmina quadrigeminal, o paciente apresentará uma paralisia do olhar conjugado vertical. Na região do colículo superior do mesencéfalo, teremos o lemnisco medial (traz informações dos fascículos grácil e cuneiforme), lemnismo espinhal (traz informações dos dois tratos espinotalâmico) e lemnismo trigeminal (traz a sensibilidade da cabeça e do pescoço). SÍNDROMES MESENCEFÁLICAS Síndrome de Benedikit – Síndrome paramediana pontina Paralisia homolateral do III par de NC e movimentos involuntários do lado oposto (as fibras que descem do núcleo rubro cruzam abaixo); Acomete os três lemniscos, portanto, terá mais sintomas sensitivos. Assim, haverá uma hemianestesia do lado contralateral da lesão. Além disso, acomete o núcleo rubro e, assim pode haver perda de motricidade nas mãos e movimentos invonluntários (tremores) nas extremidades. Síndrome de Parinaud Lesão supranuclear de fibras do III par de NC na comissura branca posterior da lâmina quadrigeminal; Como acomete o teto mesencefálico: paralisia do olhar conjugado para cima -> “fenômeno dos olhos de boneca” Síndrome de Weber Hemiplegia contralateral com paralisia facial central (TCE e TCN); Oftalmoplegia homolateral; Nessa síndrome, a base do pedúnculo cerebral está lesada e assim, o trato corticoespinal será afetado. Logo, haverá hemiplegia contralateral. Além disso, se a lesão for extensa, acomete também o trato cortico pontino que vai para o núcleo do nervo facial na ponte, próximo ao abducente e, assim, teremos paralisia facial central. Nervo trigêmeo (V par): considerações anatomofuncionais A maior parte é sensitiva, mas tem uma parte motora que inerva os músculos da mastigação. Possui três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. Essas três divisões se encontram no gânglio trigeminal e vão em direção aos núcleos do trigêmeo no tronco encefálico, ➢ Temos o núcleo espinhal do trigêmeo (no bulbo e na ponte), o núcleo principal do trigêmeo (na ponte) e o núcleo mesencefálico do trigêmeo (no mesencéfalo).
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