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16/12/2020 - Pulmonare Fibrose cística A fibrose cística é uma doença hereditária das glândulas exócrinas que afeta, principalmente, os sistemas GI e respiratório. É também conhecida como “doença do suor salgado” → grande presença de sódio no suor, contribuindo para a percepção de um suor mais salgado Essa doença pode afetar diversos órgãos, como pulmões, intestinos, pâncreas, fígado, glândulas sudoríparas, seios e ducto deferente, sendo o acometimento pulmonar responsável por grande maioria das mortes decorrentes da patologia. Transmitida de modo autossômico recessivo por aproximadamente 3% da população branca. O gene responsável está localizado no membro superior longo do cromossomo 7. Ele codifica uma proteína associada à membrana denominada regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (RTFC). RTFC é um canal de cloreto regulado pelo cAMP, que regula o transporte de cloreto e sódio através das membranas epiteliais. Várias ouras funções são consideradas prováveis. A doença se manifesta somente em homozigotos. Heterozigotos podem apresentar alterações sutis no transporte de eletrólitos epiteliais, mas clinicamente não são afetados Fisiopatologia A fisiopatologia dessa doença, gira em torno da mutação no gene CFTR, que resulta na produção exagerada de muco, além de ser mais espesso do que o normal e não ser devidamente eliminado pelo corpo. A alta concentração de muco nos órgãos causa diversas consequências nos pulmões, pâncreas, fígado e intestino, interferindo nas suas funcionalidades. O conhecimento das mutações que ocorrem no gene CFTR permite melhor entendimento das manifestações da doença. As glândulas sudoríparas, com o gene mutado, não absorvem Cl– nem Na+, e por isso, o suor surge na superfície da pele com alto teor dessas substâncias; Nos ductos pancreáticos, os canais de Cl– são necessários para alcalinizar e hidratar as secreções pancreáticas, na FC, os pequenos ductos pancreáticos são, então, obstruídos, e as enzimas pancreáticas são impedidas de exercer o seu papel. Além disso, por último, ocorre atrofia do pâncreas; A lesão hepática ocorre no mesmo sentido da pancreática, os ductos biliares ficam obstruídos, assim como outros diversos ductos do organismo (ducto deferente, por exemplo, trazendo prejuízos para o sistema urogenital masculino). Fisiopatologia respiratória A complicação mais importante da doença é infecção bacteriana persistente das vias aéreas (principalmente por Pseudomonas aeruginosa) – esta infecção se dá pela defesa pulmonar prejudicada, o que predispõe à infecção, além disso os microrganismos possuem padrões de crescimento alterados e o hospedeiro desenvolve estado crônico de inflamação. Essa defesa prejudicada no paciente com FC se restringe aos pulmões e uma das hipóteses para explicar seria que a perda dos canais de Cl– do CFTR aumentaria as concentrações de NaCl– nas vias aéreas, prejudicando as atividades dos fatores antimicrobianos ali produzidos, sensíveis ao sal. Outras hipóteses sugerem a redução da produção de muco, ligação aumentada das bactérias com o epitélio das vias aéreas e até mesmo fagocitose bacteriana prejudicada – todos esses defeitos trariam benefícios para as bactérias, contribuindo para a infecção persistente das vias aéreas. As P. aeruginosas costumam sobreviver em forma de biofilmes, sendo extremamente resistentes à antibioticoterapia. A infecção crônica associa-se a uma resposta inflamatória neutrofílica intensa, remodelando as vias aéreas, hipertrofiando as glândulas submucosas e aumentando a saída de muco, todos esses mecanismos resultam em um escarro purulento e espesso que obstrui as vias aéreas e traz consequências prejudiciais como bronquite, insuficiência respiratória e bronquiectasia progressiva. Sinais e sintomas Tosse inicialmente intermitente, piorando à noite e ao despertar, podendo ser acompanhada de sibilos na infância; com o passar do tempo, a tosse aumenta, torna- se mais frequente e purulenta, com escarro espesso e esverdeado. Outros sintomas associados são dispneia, falta de apetite, perda ponderal e tolerância diminuída aos exercícios físicos. Secundariamente à obstrução e à infecção, ocorrem bronquiolites e rolhas purulentas nas vias respiratórias. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-respirat%C3%B3rios-em-crian%C3%A7as-pequenas/bronquiolite 16/12/2020 - Pulmonare O acúmulo de muco nos seios paranasais pode causar cefaleias, sinusite crônica e pólipos nasais, aumentando as dificuldades respiratórias. As alterações nas vias respiratórias são mais comuns do que as do parênquima e o enfisema não é proeminente. Cerca de 50% dos pacientes têm hiperreatividade brônquica que responde a broncodilatadores. Ao exame físico, pode ser percebido crepitações intermitentes, murmúrios vesiculares diminuídos e, ao progredir da doença, estertores e roncos. Sistema reprodutivo Os homens geralmente são inférteis devido à azoospermia obstrutiva, porém a espermatogênese encontra-se intacta e pode ser feita recuperação do esperma para fertilização in vitro. Nas mulheres, verifica-se dificuldade para engravidar, pois o acúmulo de muco bloqueia os canais do colo do útero e, além disso, a desnutrição também dificulta a gravidez. Doença hepatobiliar A obstrução das vias biliares pode resultar em hepatoesplenomegalia, icterícia, ascite e edema. Pode haver ainda varizes esofágicas com hematêmese e grave insuficiência hepática, necessitando de transplante. Normal Fibrose cística Diagnóstico A maioria dos casos de fibrose cística é inicialmente identificada por triagem neonatal, mas até 10% só são diagnosticados na adolescência ou início da idade adulta. Apesar dos avanços nos exames genéticos, o teste de cloreto no suor continua sendo o padrão para confirmar o diagnóstico de fibrose cística na maioria dos casos por causa de sua sensibilidade e especificidade, simplicidade e disponibilidade. ✓ Normal: ≤ 30 mEq/L (≤ 30 mmol/L) (FC é improvável.) ✓ Intermediário: 30 a 59 mEq/L (30 a 59 mmol/L) (FC é possível.) ✓ Anormal: ≥ 60 mEq/L (≥ 60 mmol/L) (esse resultado é consistente com FC) Quando o teste do suor indica concentração intermediária de cloro (entre 30 e 60 mEq/L) e o paciente apresenta sintomas sugestivos de fibrose cística, é realizado o teste genético. O teste do pezinho é a triagem neonatal, não é um exame definitivo, mas pode indicar a necessidade de mais exames para determinar a existência ou não da doença O diagnóstico da FC também pode ser pré-natal, com a retirada de uma amostra de líquido amniótico entre a 15ª e 18ª semana – esse exame só é realizado quando se sabe que o pai e a mãe possuem o gene CFTR afetado pela doença. 16/12/2020 - Pulmonare o Considerado como exame padrão ouro para o diagnóstico da Fibrose Cística, o Teste do Suor é simples, indolor, não invasivo e fundamental para o diagnóstico precoce e seguro da doença. Ele é feito por meio do estímulo do suor da pessoa examinada e uma análise de condutividade. Exame físico O exame dos pulmões possivelmente revele a presença de hiper-ressonância, acompanhada de respiração ofegante e roncos. Há certa prevalência de desconforto respiratório e do uso de músculos acessórios para aumentar a inspiração, principalmente nos casos de exacerbações agudas. Nos quadrantes inferiores, é possível palpar a hepatoesplenomegalia e a impactação fecal. Hipocratismo digital nos dedos das mãos e dos pés é uma ocorrência comum. O enrugamento aquagênico das palmas das mãos é um sinal físico raro associado exclusivamente à FC. Exames de imagem Realizam-se radiografias de tórax nos casos de deterioração ou exacerbações pulmonares e rotineiramente a cada 1 ou 2 anos. TC do tórax de alta resolução pode ser útil na definição mais precisa da extensão da lesão pulmonar e na verificação de anormalidades sutis das vias respiratórias. Radiografias e TC do tórax podem revelar hiperinsuflação e paredes espessadas dos brônquios como os achados mais precoces. As alterações subsequentes incluem áreas de infiltrado, atelectasias e adenopatia hilar. Com a evolução da doença, ocorrem atelectasia segmentar ou lobar, formação de cisto, bronquiectasia e hipertrofia da artéria pulmonar e do ventrículo direito. São características as opacificações ramificadas e digitiformes que representam substância mucoide concentrada de brônquios dilatados. Devido às características do comprometimento pulmonar na fibrose cística, a tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR) do tórax é o método ideal, uma vez que é preconizada para a avaliação do parênquima pulmonar. Acentuação das marcas pulmonares sugestivas de bronquiectasia 16/12/2020 - Pulmonare Essa TC mostra brônquios significativamente dilatados em todo o pulmão. Os achados são típicos de FC. Espirometria Os testes de função pulmonar são os melhores indicadores do estado clínico e devem ser realizados rotineiramente 4 vezes/ano e em ocasiões de piora do estado clínico. Os testes de função pulmonar podem ser avaliados em lactentes utilizando uma técnica rápida de compressão do volume toracoabdominal e em crianças com 3 a 5 anos de idade usando oscilometria por impulso ou o procedimento de eliminação respiratória múltipla. Testes de função pulmonar indicam: ✓ Redução da capacidade de força vital (CFV), volume expiratório forçado em um 1 segundo (FEV1), fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% de volume expirado (FEF25-75) e relação FEV1/CFV ✓ Aumento no volume residual e a proporção entre o volume residual e a capacidade total do pulmão ✓ Cinquenta por cento dos pacientes apresentam evidência de obstrução reversível de vias respiratórias, o que é demonstrado pela melhora na função pulmonar após administração de broncodilatador inalável 16/12/2020 - Pulmonare Testes laboratoriais Os exames completos para etiologia de bronquiectasia devem incluir hemograma completo com diferencial; medição dos níveis de IgG (incluindo subclasses), IgA e IgM; e cultura de saliva para micobactérias, fungos e bactérias. Fazer a triagem de culturas de orofaringe ou escarro devem ser realizadas pelo menos 4 vezes/ano, especialmente em pacientes ainda não colonizados com P. aeruginosa. Broncoscopia e lavado broncoalveolar são indicados quando é importante definir precisamente a flora microbiana das vias respiratórias inferiores do paciente (p. ex., para escolher o antibiótico) ou para remover plugues de muco espessado. Tratamento LIMPEZA DAS VIAS RESPIRATÓRIAS A meta é mobilizar as secreções crônicas e melhorar a função pulmonar e o bem-estar dos pacientes. Existem vários métodos disponíveis no mercado, incluindo o ciclo respiratório ativo, dispositivos de oscilação da parede torácica de alta frequência (incluindo o colete vibratório), fisioterapia manual convencional no tórax e dispositivos de pressão positiva, entre outros. MOBILIZAÇÃO DE SECREÇÕES As duas terapias aprovadas para melhorar a mobilização de secreções são a dornase-a (DNAse I) e a solução salina hipertônica. A dornase-a é um agente mucolítico que age por meio da clivagem do DNA liberado degenerando os neutrófilos. Diversos estudos mostraram os benefícios, sendo que o maior deles comprovou que houve melhoras de 5,8% na FEV1 em 900 pacientes com doença pulmonar moderada durante período de 6 meses A solução salina hipertônica também produziu alguns benefícios, sendo que um estudo envolvendo 164 pacientes usando uma solução a 7% demonstrou que houve uma melhora modesta na FEV1. Além disso, esses pacientes apresentaram taxas reduzidas de exacerbação e um maior comparecimento ao trabalho ANTIBIÓTICOS Não se recomenda o uso regular de antibióticos, embora os antibióticos inalatórios sejam os grandes pilares do tratamento de determinados tipos de pacientes. O uso de antibióticos costuma ser feito basicamente em três situações: na identificação inicial de um patógeno (para erradicação), na terapêutica de manutenção e em casos de exacerbação1,3. As vias de administração utilizadas são oral (VO), intravenosa (IV) e/ou inalatória (AI). BRONCODILATADORES Os broncodilatadores, normalmente ß-agonistas de ação prolongada, são utilizados com bastante frequência nos casos de FC. Recomenda-se o uso diário de ß-agonistas em pacientes com resposta aos broncodilatadores ou com hiper- reatividade brônquica. ANTI-INFLAMATÓRIOS As orientações mais recentes para tratamento de FC recomendam o uso de ibuprofeno apenas em pacientes na faixa etária de 6 a 17 anos. Diversos outros compostos também foram testados, tais como esteroides orais, esteroides inalatórios, cromolina e modificadores do leucotrieno. Considerando a qualidade variável de evidências, não se recomenda nenhum desses medicamentos para uso rotineiro. MODULADORES DOS REGULADORES DA CONDUTÂNCIA TRASNMEMBRANA DA FIBROSE CÍSTICA A classe de medicamentos moduladores de proteínas foi a primeira tentativa para corrigir o defeito básico da FC ao invés de tratar os danos posteriores. Até o presente momento, o ivacaftor foi o primeiro medicamento dessa classe a ser aprovado. Um teste randomizado controlado envolvendo 167 pacientes constatou que houve melhoras significativas na FEV1, peso, necessidade de antibióticos, nível de cloreto no suor e na pontuação de bem-estar. A função pulmonar melhorou depois de 2 semanas e as mudanças permaneceram depois de 48 semanas. NUTRIÇÃO A alimentação da pessoa com fibrose cística deve ser hipercalórica (rica em calorias), hiperlipídica (rica em lipídeos) e hiperproteica (rica em proteínas), com suplementação de vitaminas A, D, E e K.
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