Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6530-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 3 0 1 Código Logístico 58875 A gestão de pessoas, tradicionalmente conhecida como administração de recursos humanos, ganhou maior notoriedade no Brasil, como área estratégi- ca de negócios, a partir do final da década de 1990 e início do século XXI, em virtude da intensificação da competição entre organizações e do aumento da necessidade de atrair, manter e desenvolver talentos. Considerando tal contexto, este livro objetiva discutir a gestão de pessoas como área estratégica, mas, so- bretudo, instrumentalizar os futuros gestores acerca dos principais processos que envolvem a tomada de decisão sobre pessoas. G E ST Ã O D E PE SSO A S M A R C E LO T R E FF Gestão de pessoas IESDE 2019 Marcelo Treff © 2019 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Jirsak/Banana Oil/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ T721g Treff, Marcelo Gestão de pessoas / Marcelo Treff. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 122 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6530-1 1. Administração de pessoal. 2. Padrões de desempenho. 3. Pessoal - Avaliação. I. Título. 19-59180 CDD: 658.3125 CDU: 005.962.131 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Marcelo Treff Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Administração de Empresas e pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e Didática do Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como professor, autor e palestrante na área de gestão de pessoas. Sumário Apresentação 7 1. Planejamento da gestão de pessoas 9 1.1 Gestão de pessoas x recursos humanos 10 1.2 Tipos de planejamento 11 1.3 Dimensionamento de pessoas 15 1.4 Atração e captação de pessoas 18 2. Gestão da carreira 31 2.1 Novas abordagens sobre carreiras e o papel das pessoas 32 2.2 Sistemas de gestão de carreira e o papel da organização 42 2.3 Sistemas de remuneração como apoio à gestão da carreira 48 3. Avaliação de desempenho profissional 59 3.1 Tipos de avaliação de desempenho 59 3.2 Conciliação de expectativas 72 3.3 Feedback 76 4. Treinamento e desenvolvimento 81 4.1 Diagnóstico de necessidades de treinamento 81 4.2 O processo de desenvolvimento de pessoas 89 4.3 Avaliação de treinamento 91 5. O futuro da gestão de pessoas 99 5.1 O novo mundo do trabalho e os desafios da gestão de pessoas 99 5.2 Cultura organizacional 107 5.3 People analytics 112 Gabarito 119 Apresentação A gestão de pessoas, tradicionalmente conhecida como administração de recursos humanos, ganhou maior notoriedade no Brasil, como área estratégica de negócios, a partir do final da década de 1990 e início do século XXI, em virtude da intensificação da competição entre organizações e do aumento da necessidade de atrair, manter e desenvolver talentos. Considerando tal contexto, este livro objetiva discutir a gestão de pessoas como área estratégica, mas, sobretudo, instrumentalizar futuros gestores acerca dos principais processos que envolvem a tomada de decisão sobre pessoas. No primeiro capítulo, apresentamos tipos e orientações de planejamento que subsidiam as decisões organizacionais quanto ao dimensionamento de pessoas. Tratamos também do processo de atração e captação de pessoas nas suas diferentes modalidades e etapas, que permite aos gestores escolher os indivíduos mais competentes e alinhados ao perfil desejado. O segundo capítulo discute o papel das organizações e o das pessoas na gestão da carreira, considerando, sobretudo, as significativas mudanças no mundo do trabalho que têm desafiado as tradicionais formas de se pensar e estruturar carreira. Além disso, apresentamos os chamados modelos emergentes de carreira, cujas características têm pautado as decisões dos trabalhadores, nas mais variadas profissões, nos mais variados segmentos. Somado a isso, abordamos também 8 Gestão de pessoas os sistemas e métodos de remuneração como apoio à gestão da carreira. No terceiro capítulo, temos a avaliação de desempenho como um dos mais complexos processos da gestão de pessoas – seus diferentes tipos, instrumentos de mensuração e técnicas de feedback –, que tem como objetivo principal a melhoria do desempenho organizacional. Esse capítulo trata ainda dos papéis na conciliação de expectativas e das respectivas relações entre pessoas, gestores e organizações. O Capítulo 4 traz como foco principal a estruturação e implementação de programas de treinamento e desenvolvimento – etapas e formas de análise –, com a finalidade de desenvolver competências para gerar aumento da capacidade das pessoas em agregar valor à organização. Por fim, no Capítulo 5, apresentamos algumas reflexões acerca do futuro da gestão de pessoas. Discutimos as principais tendências que envolvem o mundo do trabalho, assumindo que a gestão da cultura organizacional desempenhará importante papel ao promover mudanças para a adaptação das organizações e das pessoas a um novo mundo dos negócios. Bons estudos! 1 Planejamento da gestão de pessoas Para dar início aos nossos estudos, abordaremos o caminho mais adequado para as organizações alcançarem o sucesso: o planejamento estratégico da gestão de pessoas. Na gestão de pessoas, é essencial que haja alinhamento entre o corpo organizacional e as políticas e diretrizes definidas pela alta administração, a fim de envolver todos os trabalhadores na tarefa de levar a empresa em direção ao futuro, o que não é uma missão fácil. As transformações no mundo do trabalho e o consequente aumento das exigências por parte das empresas em seus processos seletivos vêm influenciando a demanda por pessoas que se adequem às novas formas de trabalho1: trabalho remoto, contratações parciais e/ou temporárias, subcontratações, trabalho intermitente etc. Todos esses fatores trazem a necessidade de o gestor de pessoas, além de compreender os novos padrões tecnológicos, ser capaz de atuar frente aos novos arranjos nas relações de trabalho, promovidos por essas transformações que, em geral, estão alinhadas às mudanças do mundo dos negócios, que eleva o grau de competição em nível mundial, afetando, sobremaneira, o contexto brasileiro. 1 Em vigor desde novembro de 2017, a Lei 13.467/2017 mudou as regras relativas à remuneração, à contratação, ao plano de carreira, à jornada de trabalho etc. Dentre essas mudanças, está a prevalência do acordado sobre o legislado, em que os acordos coletivos passaram a prevalecer sobre a legislação, respeitados direitos trabalhistas essenciais, como férias e décimo terceiro salário. 10 Gestão de pessoas 1.1 Gestão de pessoas x recursos humanos A evolução da área de recursos humanos no Brasil nos remete a um retrospecto histórico-social, visto que, para alguns autores (FLEURY; FISCHER, 1992; ALBUQUERQUE, 1992), é muito difícil traçar um panorama sobre essa área/função sem entender a raiz de seu surgimento no cerne da ascensão empresarial brasileira. Assim, para que possamos discorrer sobre a administração de recursos humanos nas empresas no contexto atual, a fim de se ter uma compreensão mais ampla acerca das dificuldades no âmbito de gestão e organização do trabalho, faz-se necessário descrever, mesmo que brevemente, algumas fases marcantes da histórica relação entre capital e trabalho no Brasil. Segundo Marras (2011): • Fase contábil (até 1930): preocupação apenas com o pagamento das horas efetivamente trabalhadas. • Fase legal (1930 - 1950): maior atenção às leis de proteção aos trabalhadores. • Fase tecnicista (1950 - 1975): especialização dos profissionais e sofisticaçãodos processos. • Fase administrativa (1975 - 1990): ressurgimento dos sindicatos; maior preocupação com os empregados. • Fase estratégica (de 1990 até hoje): descentralização das atividades; alinhamento aos objetivos do negócio. A partir da década de 1990, as inúmeras mudanças que transformaram o contexto organizacional, impondo novas práticas organizacionais com foco em ambientes competitivos, somaram-se ao aumento do nível da educação formal, ao grau de informação do trabalhador e ao surgimento de novas tecnologias de informação e comunicação. Essa nova realidade passou a exigir novos modelos de gestão, além de gerar demandas por melhores condições de trabalho, melhor remuneração, perspectiva de carreira, entre outros. Planejamento da gestão de pessoas 11 Conforme afirmam Fleury e Fischer (1992), tornava-se imprescindível a necessidade de redefinir os sistemas de gestão de recursos humanos para que fosse oferecido apoio ao processo de mudança, evitando, dessa forma, a defasagem entre os padrões organizacionais modernos e os de relações do trabalho antiquados e ineficientes, os quais tendiam a ser preservados. Assim, nesse ambiente de negócios cada vez mais competitivo, tornava-se importante repensar os conceitos da área, de forma a atender às novas exigências impostas em termos de competências e, sobretudo, no âmbito das novas formas de organização do trabalho, considerando- se como essencial a abordagem de gestão de pessoas. Segundo Albuquerque (1992, p. 26), “não é demais lembrar que as políticas de Recursos Humanos na antiga concepção se apoiam nos parâmetros organizacionais do taylorismo e nos parâmetros tecnológicos do fordismo, no que tange à organização do trabalho e da produção”. Esse autor entende gestão de pessoas como um conjunto de mecanismos – estratégias, políticas, instrumentos de gestão, processos e procedimentos – articulados de forma sistêmica, como um conjunto de partes interagentes e interdependentes, a fim de atrair, captar, reter, compensar, desenvolver e avaliar pessoas que possuam competências para atuar com tecnologias, sistemas físicos e gerenciais inerentes a uma organização. Neste livro, a gestão de pessoas é compreendida como a articulação e o planejamento das atividades que envolvem tomadas de decisão alicerçadas em políticas e diretrizes integradas às decisões estratégicas da empresa, visando influenciar o comportamento das pessoas com a finalidade de alinhá-lo aos objetivos empresariais. 1.2 Tipos de planejamento Em linhas gerais, devemos pensar planejamento como uma atividade realizada no presente que visa a uma ação no futuro, pois 12 Gestão de pessoas trata-se de decidir o caminho que nos levará a atingir objetivos e/ ou metas. Cabe ressaltar que a atividade planejamento, como uma função da administração, caracteriza-se como um conjunto de ações pensadas para alcançar um objetivo/meta claramente definido(a), com expectativa de sucesso na obtenção dos resultados. Assim, no caso de gestão de pessoas, é importante definir quais tipos de objetivos deverão ser atingidos e especificá-los, conforme demonstra a Figura 1. Figura 1 – Exemplos de objetivos da gestão de pessoas • Treinar 100 homens/ horas por semana • Produzir 120 bolas por minuto • Entrevistar 120 candidatos • Manter o índice de rotatividade em menos de 1% ao mês • Manter o índice de absenteísmo em menos de 2% ao mês • Manter o nível de satisfação dos funcionários em 85% Objetivos rotineiros Objetivos de aperfeiçoamento Objetivos inovadores • Aumentar a qualidade dos produtos em 5% ao ano • Elevar o nível de produtividade do pessoal em 5% • Incrementar a relação faturamento por pessoa de R$ 210,00 para R$ 350,00 em um ano • Melhorar o atendimento ao cliente • Melhorar o clima organizacional • Criar e desenvolver um produto novo por mês • Desenvolver um novo programa de treinamento para vendedores dentro de um ano • Obter 100 sugestões mensais dos funcionários • Incentivar a participação dos funcionários nas decisões • Implantar programa de qualidade total Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2014. De acordo com a orientação (Figura 1), devemos atentar para algumas questões básicas, as quais pressupõem uma abordagem de diagnóstico e permitem desenhar claramente o caminho a ser percorrido entre a realidade presente e a situação desejada pela área de gestão de pessoas, conforme Figura 2. Planejamento da gestão de pessoas 13 Figura 2 – Processo de planejamento e abordagem de diagnóstico Onde estamos agora? Analisar as condições externas e as condições organizacionais, bem como as características dos funcionários. Aonde queremos chegar? Definir a visão e formular os objetivos de RH baseados na eficiência e na equidade, de acordo com as dimensões básicas dos parceiros envolvidos. Como sair daqui e chegar lá? Definir a estratégia de RH, escolhendo as atividades necessárias e definindo os recursos necessários para levá-la adiante. Como fizemos? Onde estamos agora? Analisar os resultados pela avaliação das novas condições de acordo com os objetivos definidos e reiniciar o processo novamente. Questões de planejamento Abordagem de diagnóstico Fonte: Chiavenato, 2014, p. 67. Assim, considerando a orientação e as questões sugeridas (Figuras 1 e 2), entendemos que o planejamento do quadro funcional – ou o chamado planejamento de gestão de pessoas – deve traduzir os objetivos organizacionais no que tange à estimativa do pessoal necessário ou aos requisitos de recursos humanos, de acordo com os objetivos da organização e as alternativas disponíveis – expansão, ajustamento, mudança ou diminuição no quadro de colaboradores. Diante da imprevisibilidade do ambiente de negócios, muitas vezes, a ideia de traçar um caminho para o futuro se mostra confusa e ambígua, o que tende a gerar sentimento de frustração ou impotência nos gestores. Esse cenário exige cada vez mais um profissional de gestão de pessoas moderno, que conheça as novas tecnologias e tenha familiaridade com a análise de indicadores e estatísticas. Ao mesmo tempo, esse profissional deve ser capaz de desenvolver raciocínio lógico e analítico para tomar decisões com objetividade e ter conhecimento do negócio: produtos, serviços, processos, clientes 14 Gestão de pessoas e fornecedores da empresa. Ele precisa, sobretudo, ter conhecimento sobre finanças, pois o orçamento é uma ferramenta imprescindível de gestão. Baseando-se no texto clássico de Russell Ackoff2 sobre filosofias do planejamento estratégico, Chiavenato (2014, p. 59) propõe três tipos de orientações de planejamento, conforme Figura 3. Figura 3 – Orientações de planejamento estratégico Planejamento conservador e defensivo Planejamento otimizante e analítico Planejamento prospectivo e ofensivo Planejamento para a estabilidade Manutenção Planejamento para a melhoria Inovação Planejamento para a contingência Futuro Ambiente previsível e estável Ambiente dinâmico e incerto Ambiente mais dinâmico e incerto Assegurar continuidade do sucesso Assegurar reação adequada às frequentes mudanças Antecipar eventos que possam ocorrer e identificar ações apropriadas Fonte: Chiavenato, 2014, p. 59. 2 ACKOFF, R. L. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: LTC, 1976. Planejamento da gestão de pessoas 15 Vejamos, a seguir, cada um deles: • Planejamento conservador e defensivo – Aqui o foco está na estabilidade e na manutenção do quadro atual, enfatizando a manutenção das práticas vigentes, com orientação para identificar e solucionar eventuais não conformidades em vez de explorar novas oportunidades. O olhar é voltado para o passado, pois visa aproveitar a experiência para projetar o futuro. • Planejamento otimizante e analítico – Tem como foco a adaptabilidade e a inovação organizacional, visando à obtenção dos melhores resultados para a organização e à otimização de recursos de modo que os objetivossejam atingidos. A atenção é voltada para a melhoria das práticas vigentes, e sua base tende a ser incrementada a fim de contribuir para a melhoria contínua das operações, aprimorando-as dia a dia. • Planejamento prospectivo e ofensivo – Voltado às contingências e ao futuro da organização, possui ênfase na compatibilização dos diferentes interesses, de forma que a composição realizada seja capaz de conduzir a resultados que permitam a adaptação às circunstâncias que venham a surgir. Orientado para o futuro, procura preparar a organização para eventuais necessidades. 1.3 Dimensionamento de pessoas As alternativas disponíveis para a gestão estratégica de pessoas demonstram que o planejamento do quadro funcional não pode existir isoladamente, pois deve estar relacionado aos objetivos organizacionais que, por sua vez, devem estar alinhados à missão da organização. 16 Gestão de pessoas Figura 4 – Alternativas do planejamento estratégico de gestão de pessoas Missão da organização Objetivos organizacionais Requisitos dos recursos humanos Planejamento de recursos humanos Expansão: Novas admissões Ajustamento: Adequação ao mercado Mudança: Inovação e criatividade Enxugamento: Redução de pessoal Fonte: Chiavenato, 2014, p. 64. O planejamento de gestão de pessoas envolve ações de identificação e análise das necessidades organizacionais, com base nas informações dos gestores de área, e o subsequente desenho de políticas, atividades e sistemas que atendam a essas demandas no curto, médio e longo prazos (LUCENA, 2017). Assim, podemos entender que análises precisas do dimensionamento de pessoas, tanto em termos qualitativos quanto em termos quantitativos, sugerem informações adicionais para determinar, por exemplo, que nos próximos exercícios (curto, médio ou longo prazo) a organização precisará contratar mais ou menos pessoas e, até mesmo, demitir. Nesse caso, faz-se necessário saber de quais tipos de profissionais a organização necessita, qual o perfil desejado, qual o prazo de contratação adequado e, assim, confrontar com o quadro funcional existente. Precisamos lembrar que essas exigências devem ser determinadas de acordo com a demanda prevista para viabilizar a orientação/ intenção estratégica da organização, ou seja, como a organização decidiu competir. Nesse sentido, os métodos de previsão de demanda Planejamento da gestão de pessoas 17 por pessoas devem permitir o reconhecimento de necessidades específicas da força de trabalho, além do número total de vagas, considerando um modelo integrado de planejamento de pessoas. Figura 5 – Modelo de planejamento integrado Análise da demanda Análise do suprimento Condições organizacionais: Planos financeiros Planos de marketing Planos de produção Mudanças na quantidade de funcionários: Promoções Desligamentos Demissões Transferências Aposentadorias Mudanças nas atividades dos funcionários: Remuneração Treinamento Desenho de cargos Comunicação Previsão de demanda: Quantidade Capacidade Diversidade Custos Análise da força de trabalho atual Atração de candidatos Seleção e admissão Previsão de suprimento externo: Quantidade Capacidade Diversidade Custos Previsão de disponibilidade interna: Quantidade Capacidade Diversidade Custos Interno Comparar com + Externo Reconciliação por meio de decisões Fonte: Chiavenato, 2014, p. 66. Para Chiavenato (2014, p. 65), “na prática, o modelo integrado é um modelo sistêmico e abrangente do planejamento de pessoal que permite um diagnóstico adequado para a tomada de decisões”. Assim, uma das mais importantes decisões relacionadas ao planejamento estratégico de pessoas é o suprimento de força de trabalho, realizado por meio de processo seletivo ou, tradicionalmente falando, recrutamento e seleção de pessoas. 18 Gestão de pessoas 1.4 Atração e captação de pessoas Ao iniciar um processo de atração e captação de pessoas, também chamado de processo seletivo, a intenção da organização é atrair profissionais que possuam as competências identificadas como importantes para suprir as necessidades da organização e, posteriormente, selecioná-las. Esse processo se inicia a partir da definição do perfil necessário, considerando-se competência(s) específica(s) para o desempenho de determinada(s) atividade(s) e/ou atribuição(ões). Nessa etapa, as organizações utilizam-se de um conjunto de técnicas e procedimentos para atrair potenciais candidatos. A busca por pessoas com as competências exigidas pode ocorrer tanto dentro da própria organização (recrutamento interno) quanto fora dela (recrutamento externo). Essa decisão dependerá das necessidades da empresa ou área, do perfil desejado/esperado, das condições de trabalho oferecidas e da disponibilidade de profissionais. Cabe ressaltar que todos esses pontos devem ser identificados no planejamento de pessoas. Embora atualmente, para algumas vagas, continue aumentando a quantidade de candidatos, em virtude dos altos índices de desemprego e, sobretudo, das mudanças no mundo do trabalho – algumas profissões/especializações foram/serão extintas e/ou transformadas radicalmente –, alguns segmentos mais especializados (como tecnologia da informação) passam por dificuldades para encontrar profissionais competentes disponíveis. Dessa forma, a tomada de decisão na escolha da modalidade de recrutamento (interno ou externo) a ser adotada depende significativamente das condições apresentadas pelo mundo do trabalho, o qual pode se apresentar exíguo ou abundante, conforme mostra o Quadro 1. Planejamento da gestão de pessoas 19 Quadro 1 – Mundo do trabalho e seu impacto na tomada de decisão Exiguidade Abundância Investimentos em recrutamento para atrair candidatos. Baixos investimentos em recrutamen- to devido à oferta de candidatos. Critérios de seleção mais flexíveis e menos rigorosos. Critérios de seleção mais rigorosos para aproveitar a abundância de can- didatos. Investimentos em treinamento para compensar a inadequação dos can- didatos. Ações para aproveitar candidatos já treinados. Ofertas salariais estimulantes para atrair candidatos. Ofertas salariais mais baixas para aproveitar a competição entre candi- datos. Investimentos em benefícios sociais para atrair candidatos e reter funcio- nários. Pouco investimento em benefícios sociais, pois não há necessidade de mecanismos de fixação do pessoal. Ênfase no recrutamento interno como meio de manter os funcionários atuais e dinamizar os planos de carreira. Ênfase no recrutamento externo como meio de melhorar o potencial humano, substituindo funcionários por candi- datos com melhor qualificação. Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2014. O recrutamento interno é a modalidade que promove a divulgação de vagas a serem preenchidas por candidatos potencialmente competentes dentro da própria organização. Essas vagas poderão (ou não) ser ocupadas por profissionais por meio de movimentação interna: promoções, transferências, permutas ou expatriação. Segundo Chiavenato (2014, p. 69), “o recrutamento interno exige imensa e contínua coordenação e integração do órgão de recrutamento com os demais órgãos da empresa, e envolve vários sistemas”. Isso porque, se por um lado o processo realizado internamente favorece os programas de desenvolvimento profissional e de carreira, estimulando os profissionais a crescerem e se desenvolverem profissionalmente, gerando perspectivas futuras, por outro, pode gerar frustração e descontentamento nas pessoas preteridas no processo. 20 Gestão de pessoas Embora muitas organizações de grande relevância3 procurem recrutar primeiro internamente para, posteriormente, realizar a recrutação externa, não há regras definidas, pois as duas modalidades apresentam vantagens e desvantagens. O Quadro 2 apresenta esses aspectos do recrutamento interno. Quadro 2 – Vantagens e desvantagens do recrutamento interno Vantagens Desvantagens Aumentodo moral interno Percepção de reconhecimento Redução de tempo Menor custo Aumento da perspectiva profissional Incentivo à permanência Maior fidelização Conhecimento prévio da organização Bloqueio de novas ideias Manutenção da cultura organizacional Manutenção da burocracia e das relações de poder Favorecimento da rotina Preenchimento de vagas por empregados da própria empresa Fonte: Elaborado pelo autor. O recrutamento externo, por sua vez, é o processo de divulgação externa das vagas a serem preenchidas por candidatos potencialmente competentes. Essa decisão pode ser tomada em virtude do esgotamento das tentativas de se encontrar internamente o profissional com o perfil desejado/esperado ou por questões culturais, ou seja, sempre que há vagas, a empresa prefere se utilizar de processos/programas externos. Há, também, organizações que se utilizam de programas híbridos, divulgando as vagas interna e externamente. 3 GRANATO, L. Conheça as 150 melhores empresas para trabalhar de 2018. Revista Exame [online]. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/conheca-as- 150-melhores-empresas-para-trabalhar-de-2018/. Acesso em: 19 ago. 2019. Planejamento da gestão de pessoas 21 Da mesma forma que acontece no recrutamento interno, o recrutamento externo apresenta vantagens e desvantagens, conforme mostra o Quadro 3. Quadro 3 – Vantagens e desvantagens do recrutamento externo Vantagens Desvantagens Novos talentos e novas ideias Enriquecimento do capital intelectual Novas competências Renovação da cultura organizacional Aumento da interação entre empresa e mundo do trabalho Queda do moral interno Redução da fidelidade interna Utilização de técnicas mais elaboradas Esquemas de socialização/ integração Maior custo e mais demorado Preenchimento de vagas por candidatos externos à organização Fonte: Elaborado pelo autor. Após a tomada de decisão sobre a modalidade de recrutamento a ser utilizada (interna ou externa), a área de gestão de pessoas decide quais fontes de recrutamento explorar para atrair os candidatos adequados. Internamente, por motivos óbvios, a intranet tem sido uma das mais utilizadas para a divulgação de vagas, superando fontes tradicionais de recrutamento interno, como cartazes e comunicações internas. Da mesma forma, as fontes de recrutamento externo vêm sendo influenciadas pela utilização intensa da tecnologia da informação, e, por isso, as consultorias, os sites e aplicativos de recrutamento4 são cada vez mais acessados, tanto por empresas como por candidatos. Cabe aqui destaque para o LinkedIn, que, embora muito utilizado como rede de relacionamento profissional e networking, é cada vez mais usado como ferramenta de procura de emprego/candidatos. 4 GASPARINI, C. 11 sites e aplicativos para encontrar vagas de emprego. Revista Exame [online]. 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/11-sites-e- aplicativos-para-procurar-emprego/. Acesso em: 19 ago. 2019. 22 Gestão de pessoas Muito utilizado por candidatos como uma forma de se vender por meio do seu perfil, que funciona como uma espécie de “anúncio publicitário” de si mesmo, o LinkedIn também serve aos chamados headhunters, os quais utilizam filtros específicos e muito sofisticados para fazer buscas no banco de dados da rede social. Concluído o processo de recrutamento, por meio do qual os candidatos são atraídos e triados, a área de gestão de pessoas deve privilegiar a utilização de técnicas, metodologias e instrumentos de análise e escolha de candidatos aprovados. Inicia-se, então, a captação ou seleção. Na visão de Chiavenato (2014, p. 133), “seleção é um processo decisório baseado em dados confiáveis para agregar talentos e competências capazes de contribuir no longo prazo para o sucesso da organização”. Há quem afirme que essa atividade visa selecionar/escolher “a pessoa certa para o lugar certo”. Embora essa seja a situação ideal, sabe-se que, dada a complexidade do mundo do trabalho e, em especial, o dinamismo do mundo dos negócios, é muito difícil, senão impossível, atingi-la. Independentemente de ser ou não viável, várias dessas técnicas e metodologias têm como função aproximar o máximo possível as características e competências dos candidatos às necessidades da organização. No entanto, conforme alertam Dutra, Dutra e Dutra (2017, p. 99), “não importa quais sejam as atividades escolhidas, é fundamental que sejam coerentes e consistentes entre si”. Para os autores, “a incoerência de critérios pode fazer com que sejam perdidas pessoas interessantes” (2017, p. 99). As técnicas de seleção, portanto, permitem conhecer aspectos extrínsecos e intrínsecos dos candidatos, por meio de uma estruturada coleta de informações e dados. Essas técnicas serão abordadas a seguir. Planejamento da gestão de pessoas 23 A entrevista de triagem é a primeira etapa do processo de seleção. Nessa etapa, a área de gestão de pessoas busca coletar informações básicas e genéricas sobre o candidato, características que não estejam claras no currículo. Além de dados demográficos, interesses e expectativas do candidato acerca de pretensão salarial e desenvolvimento de carreira, é possível obter informações sobre flexibilidade de tempo e disponibilidade para viagens. É importante ressaltar que essa entrevista, dadas as suas características, que denotam caráter informativo, pode ser realizada por um profissional da área. Próxima etapa após a entrevista de triagem, as provas de conhecimentos têm como objetivo avaliar conhecimentos específicos que tenham relação com as exigências determinadas para a vaga. Conforme a necessidade, podem ser de conteúdo geral e/ou específico. Para Limongi-França e Arellano (2002, p. 69), “as provas gerais visam avaliar o grau de cultura geral do candidato”, enquanto “as provas específicas visam avaliar conhecimentos profissionais que o candidato possui, imprescindíveis para o bom desempenho da função”. As provas de conhecimentos gerais podem abranger economia brasileira e internacional, história, geografia, política, sociedade, entre outros temas. Já a de conhecimentos específicos deve ter relação direta com a vaga, por exemplo: matemática financeira, contabilidade, direito, idiomas etc. Independentemente do tipo de prova, é importante que os instrumentos sejam elaborados por especialistas, tenham correlação com os objetivos pretendidos e, sobretudo, sejam adequados e justos. Os testes psicológicos são instrumentos sistematizados e padronizados que têm como objetivo identificar, por meio de ferramentas (adequadas e autorizadas pelo Conselho Federal de Psicologia), traços comportamentais dos candidatos: aptidões, atitudes, personalidade, características emocionais, entre outros. 24 Gestão de pessoas Na visão de Limongi-França e Arellano (2002, p. 69), “os testes psicológicos podem ser divididos em psicométricos e de personalidade”. Da mesma forma que ocorre com os testes de conhecimento, ao utilizar testes psicológicos, a chave da questão é responder à pergunta “para quê?”, uma vez que é preciso ter claro qual tipo de teste será aplicado, qual sua ligação com os objetivos do processo seletivo e quem aplicará e emitirá o laudo. Técnicas vivenciais são instrumentos dinamizadores que utilizam jogos e atividades lúdicas com o intuito de estimular a aprendizagem e a internalização de conhecimentos pela vivência. Entre outros objetivos, as técnicas vivenciais visam simular atividades com situações cotidianas ou que poderão ocorrer. Uma das técnicas mais utilizadas (e controversas) que visa simular essas situações é a dinâmica de grupo. A dinâmica de grupo é entendida como uma técnica de análise de candidatos em situação de grupo, por meio da observação de suas relações com os demais participantes, utilizando-se jogos e/ou testes situacionais, sob coordenação de observadores especializados acompanhados ou não por assistentes. A fim de obter respostas sobre ações ereações dos participantes, com relação ao perfil esperado, Limongi-França e Arellano (2002, p. 70) observam que se trata de “uma técnica muito utilizada, pois permite observar problemas de relacionamento, integração social, liderança etc.”. Nesse processo, os observadores analisam todas as respostas e comportamentos individuais e depois discutem entre si as que pareceram mais apropriadas à(s) vaga(s) em aberto. A etapa seguinte é a entrevista de seleção. Também chamada de entrevista final, continua sendo considerada uma das técnicas mais utilizadas do processo seletivo. Deve ser executada pelo gestor da área solicitante e tem como principal objetivo coletar informações detalhadas acerca da vida pessoal e profissional do candidato, tais como: formação, educação continuada, experiências anteriores Planejamento da gestão de pessoas 25 (sucessos e frustrações), carreira, planejamento pessoal, ambiente familiar, autogerenciamento, entre outras questões que sejam importantes para o bom desempenho na área. É importante que o gestor entrevistador seja treinado para tal atividade e não se exceda na busca de informações, mantendo a investigação focada no processo. Segundo Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2014, p. 133), “cabe ao entrevistador preparar a entrevista e criar um clima favorável, pois seu objetivo é preciso: conhecer o candidato o melhor possível e avaliá-lo no menor tempo possível”. Ademais, a expressão não verbal do candidato deve ser analisada, pois tende a acrescentar informações importantes a respeito das respostas e/ou posturas do candidato diante de determinadas situações: maneirismos (mãos embaixo da mesa, sacudir as pernas, desviar o olhar do interlocutor, roer as unhas, olhar o relógio permanentemente etc.) podem ser indicadores de insegurança e baixa autoestima. Cabe ressaltar que equilíbrio emocional e autocontrole são características altamente desejadas pelas organizações e podem revelar muito. São etapas da entrevista de seleção: • Abertura – momento em que o entrevistador se apresenta e expõe a proposta da entrevista, diz como a conduzirá e tenta deixar o candidato à vontade; • Pesquisa – coleta de informações importantes para a avaliação do perfil pessoal e profissional do candidato; • Troca – o candidato pode fazer perguntas de seu interesse sobre valores corporativos, condições e ambiente de trabalho, entre outras; 26 Gestão de pessoas • Fechamento – o entrevistador dá um breve feedback da entrevista e informa o candidato sobre as próximas etapas do processo seletivo. É importante ressaltar que, no momento da entrevista final, algumas armadilhas mentais podem influenciar o gestor/ entrevistador na escolha do(a) candidato(a) mais adequado(a) para a vaga. Quadro 4 – Armadilhas mentais Ancoragem • Pesos desproporcionais; • Primeira informação; • Impressões iniciais; • Esteriótipos. Status quo • Predisposição à perpetuação; • Escolha mais cautelosa. Evidência confirmada • Confirmação dos instintos; • Pontos de vista; • Busca pela confirmação do que se quer que seja confirmado. Fonte: Elaborado pelo autor. As modalidades de entrevistas devem ser escolhidas conforme a situação e as características dos candidatos. Quando os candidatos têm perfil semelhante, indica-se utilizar a entrevista estruturada, a qual segue um roteiro predeterminado, para que todos tenham as mesmas chances de competir no processo. Pode-se citar como exemplo a seleção de estagiários, auxiliares ou assistentes. Outra modalidade é a entrevista não estruturada, a qual não segue roteiro e tende a explorar a investigação conforme o andamento da conversa. Visa extrair o máximo de informações importantes, exatamente em virtude das diferenças individuais entre os candidatos: experiências, frustrações, sucessos, ambições etc. É Planejamento da gestão de pessoas 27 utilizada, geralmente, nos casos em que os candidatos apresentam perfis heterogêneos, embora as exigências para a contratação sejam as mesmas. Podemos citar como exemplo um processo de contratação de um gerente financeiro, com cinco anos ou mais de experiência e formação em Administração, Ciências Contábeis ou Economia. Essa modalidade é muito próxima da entrevista semiestruturada, que, em geral, tem os mesmos objetivos, porém utiliza um roteiro e permite que, conforme o andamento ou a oportunidade, o entrevistador aprofunde a investigação de determinados temas que se apresentem relevantes. Quadro 5 – Modalidades de entrevistas Entrevista estruturada Entrevista não estruturada Entrevista semiestruturada A entrevista estruturada é aquela que segue um roteiro predefinido e tem como finalidade a utilização de critérios equânimes entre os candidatos, que, em geral, têm o mesmo perfil. A entrevista não estruturada é aquela que não segue um roteiro e tem como finalidade a exploração de informações conforme a entrevista se desenvolve. É utilizada, geralmente, quando os candidatos não apresentam perfil semelhante. A entrevista semiestruturada é aquela que define um roteiro, porém vai além dele e tende a explorar as informações em seu desenrolar, conforme a oportunidade e/ou a necessidade. Fonte: Elaborado pelo autor. Encerradas todas as etapas do processo seletivo, o gestor da área solicitante, juntamente à área de recursos humanos, deve tomar a decisão final, garantindo que seja a mais objetiva possível. Para tanto, deve verificar novamente os critérios de contratação e certificar-se de que o(a) candidato(a) escolhido(a) possua os requisitos necessários para a função, definidos no planejamento estratégico de pessoas. 28 Gestão de pessoas Considerações finais O início deste capítulo apresenta a mudança do papel da gestão de pessoas nas organizações em um contexto de transformações, passando pelas principais fases da área no Brasil. Em seguida, discutimos o planejamento como atividade fundamental da área, discorrendo sobre os objetivos da gestão de pessoas, tipos e orientações de planejamento, relacionando-o com o dimensionamento do quadro de pessoas, a fim de fornecer um diagnóstico adequado para a tomada de decisão sobre atração e captação de pessoas. A partir daí, discutimos as etapas do processo seletivo – recrutamento e seleção –, bem como as principais ferramentas e técnicas que permitem às organizações atrair e escolher pessoas alinhadas ao perfil desejado. Ampliando seus conhecimentos • EL MÉTODO. Direção: Marcelo Pineyro. Argentina; Espanha; Itália: Tornasol Films S.A. Arena Films; Cattleya, 2015. 1 DVD (115 min). O filme se passa em uma sala na qual são promovidos vários testes com o objetivo de analisar a interação entre candidatos a uma vaga de executivo, o que nos remete às etapas de um processo seletivo, mas de formato não convencional. Os candidatos tentam demonstrar domínio sobre seu comportamento e suas emoções, mas, com o decorrer dos acontecimentos e com as eliminações, são envolvidos em situações-limite, que os colocam em um nível de tensão insuportável, fazendo-os revelar certo descontrole. Embora centrado na crítica às políticas opressoras, o filme nos Planejamento da gestão de pessoas 29 permite analisar a importância das soft skills5 e, sobretudo, do equilíbrio emocional em processos seletivos. Permite, ainda, uma análise a respeito da supervalorização dos currículos e das trajetórias profissionais. • GVCAST T01E06 - Sofia Esteves, a paixão por pessoas levou ela ao topo. [S.l.]. 8 out. 2015. Podcast. Disponível em: https:// gvcast.podbean.com/e/gvcast-006-sofia-esteves-a-paixao- por-pessoas-levou-ela-ao-topo/. Acesso em: 19 ago. 2019. Nesse episódio do GVCast, podcast do site Geração de Valor, Flávio Augusto conversa com Sofia Esteves, psicóloga e empreendedora, cuja paixão por pessoas a levou ao topo como fundadora de um dos maiores grupos de recursos humanos do Brasil. Nesse bate-papo repleto de informação, Sofia fala não só de sua carreira, mas também detemas como os aspectos que mais eliminam candidatos nos processos seletivos. Atividades 1. Qual é a importância da orientação nas decisões sobre o planejamento de pessoas? 2. O que torna a entrevista final diferente da entrevista de triagem? Explique. 3. Por que a entrevista estruturada é considerada adequada para processos seletivos de estagiários, auxiliares ou assistentes? 5 Habilidades ou capacidades relacionadas à inteligência emocional. 30 Gestão de pessoas Referências ACKOFF, R. L. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: LTC, 1976. ALBUQUERQUE, L. G. de. Competitividade e recursos humanos. Revista de Administração. São Paulo, v. 27, n. 4, p. 16-29, out/dez, 1992. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. DUTRA, J. S.; DUTRA, T. A.; DUTRA, G. A. Gestão de Pessoas: realidade atual e desafios futuros. São Paulo: Grupo GEN/Atlas, 2017. FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R. M. Relações de trabalho e políticas de gestão: uma história das questões atuais. Revista de Administração, v. 27, n. 4, p. 5-15, 1992. GASPARINI, C. 11 sites e aplicativos para encontrar vagas de emprego. Revista Exame [online]. 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/ carreira/11-sites-e-aplicativos-para-procurar-emprego/. Acesso em: 19 ago. 2019. GRANATO, L. Conheça as 150 melhores empresas para trabalhar de 2018. Revista Exame [online]. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/ carreira/conheca-as-150-melhores-empresas-para-trabalhar-de-2018/. Acesso em: 19 ago. 2019. HANASHIRO, D. M. M.; TEIXEIRA, M. L. M.; ZACCARELLI, L. M. (org.) Gestão do Fator Humano: uma visão baseada em stakeholders. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. LIMONGI-FRANÇA. A. C. L.; ARELLANO, E. B. Liderança, poder e comportamento organizacional. In: FLEURY, M. T. L. (coord.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. p. 259-270. LUCENA, M. D. da S. Planejamento estratégico de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 2 Gestão da carreira Neste capítulo, discutiremos o papel das organizações em relação à gestão de carreira em um contexto em que o autoconhecimento, a compreensão sobre o ambiente e, sobretudo, o compromisso com o contínuo desenvolvimento representam vantagens competitivas para as pessoas. Além disso, abordaremos os instrumentos e as estratégias de gestão de carreira, tendo como foco o planejamento individual e organizacional, pautados por uma coerente estruturação do desenvolvimento profissional alinhada às políticas e práticas da gestão de pessoas. Para tanto, estudaremos como as pessoas devem assumir a gestão da própria carreira – ou seja, tendo protagonismo –, reposicionando- -se para agir com uma postura mais ativa como forma de garantir a empregabilidade no mundo do trabalho do século XXI, tornando-se responsáveis pela sua inserção, manutenção e transição, ajustando- -se aos pressupostos dos chamados modelos emergentes de carreira, como carreira sem fronteiras e carreira proteana. Por fim, veremos como as organizações são responsáveis por organizar e disponibilizar estruturas de carreira, com os respectivos critérios, alinhando as decisões aos sistemas de remuneração que, por meio de análises e avaliações de atribuições, responsabilidades e requisitos de cada eixo da competência, devem estabelecer a importância relativa entre as funções/papéis. 32 Gestão de pessoas 2.1 Novas abordagens sobre carreiras e o papel das pessoas A gestão de carreiras tornou-se um recurso muito importante dentro das organizações, já que, até o século XIX, a palavra “carreira” – em latim via carraria – significava “estrada para carros”. Somente a partir desse século o termo passou a ser utilizado para definir trajetória de vida profissional. Até pouco tempo, essa analogia ainda era utilizada como base para estruturar as organizações em relação às ocupações: “o indivíduo adentraria em uma dessas carreiras (estradas preexistentes), sabendo, de antemão, o que esperar do percurso” (KILIMNIK; CASTILHO; SANT’ANNA, 2006, p. 258). Porém, a discussão estruturada sobre carreira, tanto no ambiente acadêmico quanto no profissional, passa a ter expressão somente a partir da década de 1970, nos Estados Unidos. No Brasil, foi a partir dos anos 1990 que se iniciou uma produção científica mais intensa sobre o tema, sobretudo sob influência da abertura comercial e diante da perspectiva de significativas transformações e incertezas (DUTRA, 2017). Na visão de Dutra (2017, p. 113), “as pessoas com maior consciência sobre as possibilidades para seu desenvolvimento profissional tendem a ter uma visão de oportunidades de desenvolvimento para a organização e para as pessoas ao seu redor”, de forma que as organizações vão se dando conta, gradativamente, da importância desse comportamento entre seus membros, criando estímulos, condições concretas e critérios de valorização para que as pessoas assumam o protagonismo1 de seu desenvolvimento e de suas carreiras, diferentemente da postura assumida pelo trabalhador no modelo tradicional. 1 Ser protagonista da própria carreira significa que o indivíduo é quem controla sua jornada profissional, e não mais a empresa. Isso desenvolve nele a noção de reflexão constante sobre sua trajetória. É o profissional que define suas próprias estratégias, avalia seus pontos de crescimento e discute com a organização. Gestão da carreira 33 Assim, para compreendermos a evolução dos modelos de carreira, é importante saber quais são os três aspectos que limitam o conceito do padrão convencional, com base em Martins (2001): • Noção de avanço: expectativa de progressão vertical na hierarquia de uma organização – a qual se associa à metáfora da escada, que é acompanhada de sinais de crescente status e de ganhos financeiros. • Associação da carreira à profissão: entendimento de que a escolha da profissão necessariamente implicará uma carreira – o que, em grande parte das vezes, não se confirma. • Pressuposição de uma estabilidade ocupacional: o indivíduo sempre exercerá atividades relacionadas à sua profissão, até a aposentadoria. Pensada no modelo tradicional, a carreira pode ser definida como uma adequação do indivíduo a uma ocupação escolhida ou à imagem que ele possui sobre ela, segundo critérios relacionados à noção de hierarquia ou de sequência estruturada de atividades de maior complexidade em uma determinada organização, isto é, uma sequência atrelada à uma determinada trajetória predefinida. No entanto, diante das alterações de contexto no que tange à gestão da carreira, vários autores, como Dutra (2015), Hall (2002) e Veloso (2012), têm enfatizado a necessidade, cada vez mais urgente, de o trabalhador assumir o gerenciamento da própria carreira como uma medida para reduzir riscos em relação à estabilidade no emprego e, ao mesmo tempo, ampliar possibilidades de atuação e mobilidade vertical (promoção) ou horizontal (transferências), ou, ainda, expatriação. Para tanto, é primordial a construção de um “projeto pessoal” para que esse trabalhador defina parâmetros e, sobretudo, desenvolva um referencial próprio de suas escolhas profissionais – dentro ou fora de uma organização –, de forma a elaborar um plano 34 Gestão de pessoas de carreira (Figura 1) alinhado aos seus anseios, às suas perspectivas e, sobretudo, ao seu repertório de competências (DUTRA, 2015). Figura 1 – Processo e planejamento de carreira Autoavaliação Estabelecimento de objetivos na carreira Identificação de oportunidades Implementação Plano de ação Fonte: London; Stumph, 1982 apud Dutra, 2017, p. 104. A seguir, são apresentados seis passos para a construção de um projeto profissional, conforme sugere Dutra (2015): • 1º Passo: Autoconhecimento – esta é, sem dúvida, a parte mais importante e difícil do processo, o saber-se, o conhecer- se, o olhar--se. As técnicas mais comuns são a análise de realizações, de valores pessoais e de personalidade.Pelo levantamento de realizações, é possível perceber a evolução e os pontos fortes de cada um. • 2º Passo: Conhecimento do mercado – deve-se sempre analisar o mercado dentro e fora da empresa, observando- se as opções, as tendências, as limitações e as alternativas de desenvolvimento profissional. Verifica-se, por meio de pesquisas, que as pessoas orientam suas carreiras considerando o organograma da empresa ou seu plano de cargos e salários, o que revela um grande equívoco, pois esses elementos representam o passado e o presente, sendo que quando se trata de carreira, o foco deve ser sempre o futuro. Gestão da carreira 35 • 3º Passo: Objetivos de carreira – recomenda-se que os objetivos sejam pensados em todas as dimensões relevantes: familiar, social, econômico-financeira e, principalmente, pessoal, utilizando perguntas do tipo: como posso estar mais feliz profissionalmente daqui a cinco anos? Como posso me autorrealizar nesta trajetória profissional? Para responder a essas questões e alcançar os objetivos com precisão, é essencial ter autoconhecimento. • 4º Passo: Estratégias de carreira – uma vez definido o objetivo, a pergunta seguinte será: qual é a estratégia para alcançá-lo? Para isso, o profissional deverá encontrar caminhos para atingir o propósito traçado, seja por meio de aperfeiçoamentos, networking ou mapeamento de oportunidades. • 5º passo: Plano de ação – após a definição da estratégia, é fundamental a elaboração de um plano de ação. Esse plano deve conter metas de curto prazo, indicadores de sucesso, fatores críticos para ter êxito no planejamento e uma avaliação dos recursos de tempo, dinheiro e aperfeiçoamentos necessários. • 6º Passo: Acompanhamento do plano – a avaliação dos resultados das estratégias de carreira deve ser um processo contínuo. Para isso, os objetivos ou as metas fixadas representam um padrão essencial de mensuração. Definido o plano, é preciso consultá-lo constantemente para analisar pontos de melhoria ou adequação, conforme os objetivos determinados e, sobretudo, as oportunidades identificadas. Feito isso, o próximo passo será o momento da implementação, ou seja, verificar se a empresa na qual o colaborador trabalha no momento está dentro dos parâmetros estabelecidos no plano de carreira. Em caso positivo, é possível concluir que a empresa oferece oportunidades e perspectivas de crescimento profissional. 36 Gestão de pessoas Caso contrário, recomenda-se identificar oportunidades em outras organizações, pensar em um negócio próprio ou tornar-se prestador de serviços. Agindo dessa forma, o indivíduo tem mais conhecimento dos contextos interno e externo da empresa, das tendências do mundo do trabalho, de suas competências e, sobretudo, dos caminhos oferecidos (ou não) pela organização (Figura 2). Segundo Waterman Junior, Waterman e Collard (2000), significa, ainda, que a pessoa tem um plano de ação para melhorar seu desempenho e sua empregabilidade a longo prazo. Figura 2 – Análise do ambiente para a carreira EMPRESA OCUPAÇÃO MERCADO Dentro da empresa e fora da ocupação Fora da empresa e fora da ocupação Fora da empresa e dentro da ocupação Dentro da empresa e dentro da ocupação Fonte: Rothwell; Kanzanas apud Dutra, 2017. Essa análise do ambiente em relação à carreira está alinhada ao chamado “mundo sem fronteiras”, contexto cuja tendência é a substituição da rigidez pela flexibilidade, tanto para a gestão da trajetória profissional nas organizações quanto para os profissionais responsáveis pela sua própria carreira, os quais são cada vez mais impulsionados a focar o planejamento da carreira no seu desenvolvimento profissional, independentemente das necessidades de uma única organização (VELOSO, 2012). Gestão da carreira 37 Nesse mundo sem fronteiras, o indivíduo torna-se, cada vez mais, protagonista do seu sucesso profissional, entendendo que há possibilidades de realização e crescimento dentro e fora das organizações. 2.1.1 Novas abordagens de carreira Em um momento em que o mercado de trabalho está mais volátil, em que as organizações, em virtude dos enxugamentos e achatamentos de estrutura, não podem mais garantir o emprego vitalício, tampouco a ascensão vertical, os trabalhadores se percebem diante de um cenário que exige a compreensão e aceitação da diminuição/extinção das carreiras tradicionais em áreas que ofereciam caminhos de crescimento definidos. Isso porque, diante das transformações no contexto empresarial, aumentaram as exigências – em especial, formação e experiência – para aqueles que pretendem ingressar ou se manter no mercado formal de trabalho. Segundo dados divulgados no Congresso Aço Brasil (CICB, 2019), as perspectivas não são animadoras para quem pretende retornar ao formalismo, pois a taxa de desemprego do país ficou em 12,7% no primeiro trimestre de 2019, como revelam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Ademais, o país tinha 28.324 milhões de trabalhadores subutilizados2 entre janeiro e março do mesmo ano. Já o desalento, que consiste em pessoas que desistiram de procurar emprego, chegou a 4.843 milhões de pessoas. Assim, podemos perceber que, em relação aos vínculos trabalhistas, um novo perfil profissional está surgindo, composto por trabalhadores autônomos, com novas maneiras de atuação: 2 Trabalhadores subutilizados são pessoas que se incluem em um dos três grupos de trabalhadores: os desempregados (pessoas que buscam emprego, porém sem sucesso); os subocupados (pessoas empregadas, mas que gostariam e poderiam trabalhar mais); e a força de trabalho potencial (pessoas que não buscam emprego, mas podem trabalhar). 38 Gestão de pessoas prestação de serviços, terceirizações, trabalho intermitente, por projetos e empreendimento em negócio próprio. Corroborando esse cenário, os dados do IBGE (2018) revelaram que o total da soma dos trabalhadores sem carteira assinada (11,1 milhões) com os que trabalham por conta própria (23,1 milhões) é maior que o número de trabalhadores registrados (33,1 milhões), ou seja, a informalidade do trabalho superou o formal. Portanto, torna-se necessário que as pessoas assumam o protagonismo da própria carreira, façam uso consciente de networks e redes sociais, disseminem e absorvam conhecimento, adotem postura de aprendizado contínuo como uma forma de aquisição de competências que sejam transferíveis a diferentes contextos e atuações. Essas atitudes do trabalhador vão ao encontro das novas abordagens de carreira: carreira sem fronteiras e carreira proteana3. Ambas surgiram como respostas às mudanças no mundo do trabalho ocasionadas por alterações no contexto econômico, social e organizacional e ampliaram a noção de flexibilidade em relação às demandas pessoais em decisões de carreira (VELOSO, 2012). A nomenclatura carreira sem fronteiras surgiu em oposição às chamadas carreiras organizacionais ou tradicionais, cujas características se alinham com ambientes mais previsíveis, com estruturas desenhadas e propostas por grandes empresas. Além disso, são concebidas para a vida toda. Nesse contexto, as “fronteiras” convencionais são o tempo e o espaço de trabalho e, sobretudo, a estrutura hierárquica e os critérios para progressão na carreira dentro da própria organização. 3 O termo proteana faz alusão a Proteu (Deus da Mitologia Grega), que tinha o dom da premonição e cuja principal característica era a transmutação da aparência, assumindo diferentes formas, conforme a situação e/ou a necessidade. Gestão da carreira 39 Entre as principais características dessa abordagem, podemos destacar: • Experiências profissionais como elemento-chave na continuidade da carreira (acumulação de know-how); • Aprendizagem contínua (competências transferíveis); • Autoconhecimento e autogestão da carreira; • Mobilidade física e psicológica (diferentes empresas e ocupações, diversidade de vínculos). Nas circunstâncias atuais, ascarreiras sem fronteiras passam a fazer cada vez mais sentido, pois, na visão de Veloso (2012, p. 40), na medida em que as fronteiras organizacionais se tornam mais permeáveis, mais fluidas, mais dinâmicas e menos distinguíveis, experiências de trabalho voltadas ao avanço na hierarquia são substituídas pela segurança gerada internamente às pessoas, em forma de aprendizado. Dessa forma, o trabalhador passa a ser o principal ator na construção de trajetórias de carreira, buscando novas oportunidades e adequando-se às diferentes situações, o que terá como consequência o aumento do seu capital humano. Outra abordagem que faz muito sentido quando analisamos o mundo do trabalho atual é a carreira proteana, termo proposto por Hall (1996; 2002 apud VELOSO 2012), para quem os tradicionais contratos de carreira, com promessas de segurança e emprego vitalício, foram colocados em xeque e, consequentemente, substituídos por contratos mais flexíveis, com base em competências adequadas às necessidades. Para Veloso (2012, p. 47), a carreira proteana apresenta as seguintes características: • Mudanças frequentes; • Autoinvenção; • Autonomia; 40 Gestão de pessoas • Autodireção; • Habilidade para aprender; • Habilidade para redirecionar a carreira e a vida; • Habilidade para construir relações. Assim, nessa abordagem, o indivíduo (e não a organização) passa a ser o gestor da carreira, cuja trajetória passa a ser construída ao longo da vida (pessoal e profissional), a partir de vivências, aprendizados, frustrações, desafios, descobertas e, sobretudo, na formação de um sólido senso de identidade pessoal e profissional. As abordagens carreira sem fronteiras e carreira proteana possuem características comuns e, muitas vezes, complementares, pois ambas apresentam perspectivas similares (Quadro 1) e enfatizam o importante papel do indivíduo como gestor da própria trajetória e responsável pela construção do seu capital intelectual, formado por educação, trabalho e experiência de vida (ARTUR; INKSON; PRINGLE, 1999 apud VELOSO, 2012). Quadro 1 – Perspectivas das carreiras sem fronteiras e proteana Pontos selecionados Perspectiva sa carreira sem fronteiras Perspectiva da carreira proteana As fronteiras Organizacionais As fronteiras passam a ser o mundo do trabalho e não mais a organização. As fronteiras passam a englobar tudo o que é necessário para o fun- cionamento do sistema (projetos, ações especí- ficas, trabalhos pontuais etc.). A relação com a organização O indivíduo perma- nece na organização pelas experiências de aprendizado e pelo crescimento profis- sional, não mais pela lealdade. Pessoas e organizações aceitam que a outra parte permaneça enquanto existirem necessidades. (Continua) Gestão da carreira 41 Pontos selecionados Perspectiva sa carreira sem fronteiras Perspectiva da carreira proteana As competências O indivíduo é o responsável pela construção do próprio capital intelectual (educação, trabalho e experiência de vida). Autoconhecimento, adap- tabilidade e orientação para aprendizagem tor- nam-se competências- -chave para lidar com as demandas impostas pelo mundo do trabalho. A identidade O movimento entre áreas, atividade e ocupações diferentes faz com que o investi- mento acumulado so- lidifique a identidade pessoal/profissional. O conjunto maior de oportunidades impõe aos indivíduos ter clareza da identidade pessoal para seguir o caminho escolhido. Pontos críticos Não pode ser consi- derada regra, pois, em alguns contextos, não é certo que as pes- soas desejam essas perspectivas, em vir- tude da insegurança e/ou das condições de trabalho. Nem todas as pessoas possuem os requisitos necessários para realizar mudanças em direção à carreira proteana. Fonte: Adaptado de Veloso, 2012, p. 57. As perspectivas destacadas relacionam-se com uma nova realidade no que diz respeito à carreira, visto que as pessoas vislumbram as mais diferentes perspectivas em termos de trajetória profissional, que, invariavelmente, chocam-se com as perspectivas da carreira tradicional. 42 Gestão de pessoas 2.2 Sistemas de gestão de carreira e o papel da organização Apoiar as pessoas em desenvolvimento pessoal e profissional diante da realidade do mundo dos negócios, em certa medida, sempre esteve entre os objetivos organizacionais, alinhados, evidentemente, com a definição de formas de estruturação de carreira. No entanto, diante de várias transformações – como novas tecnologias, competição exacerbada, “guerra” por talentos e, sobretudo, novos perfis profissionais –, para Waterman Junior, Waterman e Collard (2000, p. 295), a visão usual da trajetória de carreira deve mudar, pois no passado, fazia bastante sentido permanecer em uma empresa e crescer em uma área específica; hoje, tanto as empresas quanto os funcionários ganham se estes tiverem habilidades múltiplas e puderem passar facilmente para outras áreas funcionais e se sentirem à vontade alternando entre tarefas comuns e projetos especiais ou se deslocando, quando a combinação ideal não puder mais ser encontrada na empresa. Assim, segundo Dutra, Dutra e Dutra (2017), o papel da organização nesse novo contexto torna-se mais complexo, pois, ao desenhar estruturas de carreira para os seus profissionais, os gestores devem, além de considerar as expectativas das pessoas, alinhar a estrutura à estratégia de negócios, levando em consideração a natureza das decisões tomadas sobre carreiras a partir das seguintes definições: • Definição estratégica: agrupam-se aqui as decisões ligadas à compatibilização do sistema de administração de carreiras aos princípios que delimitam a gestão de pessoas e as estratégias organizacionais e de negócios da empresa. • Definição do sistema de gestão de carreiras: encontram-se nesta categoria as decisões ligadas à configuração técnica do Gestão da carreira 43 sistema que dão a base de funcionamento. Devem, portanto, estar alinhadas à definição estratégica. • Definição da metodologia de modelagem, implementação e atualização do sistema: a efetividade de um sistema de administração de carreiras será obtida apenas se forem levados em consideração os padrões culturais da empresa, seu momento histórico e suas necessidades concretas. O processo utilizado para a concepção do sistema é, portanto, decisivo para seu sucesso e adequação. As decisões que decorrem dessas definições estão expostas a seguir: Quadro 2 – O papel da empresa na gestão da carreira Definição estratégica Definição do sistema Definição da metodologia • Conciliação entre o desenvolvimento da empresa e das pessoas. • Definição de trajetórias de carreira e especia- lizações importantes para a manutenção ou incorporação de vanta- gens competitivas. • Grau de liberdade dado às pessoas para que fa- çam opções de carreira. • Grau de compartilha- mento das decisões sobre trajetórias profis- sionais. • Nível de suporte dado ao planejamento indivi- dual da carreira. • Formatação e caracterização das estruturas de carreira. • Níveis (degraus) dentro de cada estrutura de car- reira e requisitos de acesso a cada nível. • Escolha dos instrumentos de gestão a serem incorporados ao sistema. • Pessoas abrangidas pelo sistema e grau de envolvimento na sua modelagem, implemen- tação e atualização. • Nível de consenso quanto ao atendimento das necessidades e das expectativas da empre- sa e das pessoas pelo sistema. • Grau de compatibiliza- ção do sistema com os demais instrumentos de gestão de RH. • Timing para implemen- tação do sistema. Fonte: Adaptado de Dutra, 2015, p. 142. Essas definições, geralmente, orientam gestores e trabalhadores sobre a política de carreira vigente na empresa. Elas traduzem, ainda, 44 Gestão de pessoas o alinhamento entre estrutura de carreira e estratégia de negócio, além de informar a estruturação e as metodologias utilizadas pela organização. 2.2.1 Estruturade carreira Com base nas definições e decisões discutidas anteriormente, deve-se pensar sobre a estrutura de carreira, cujo papel é estabelecer os níveis e os critérios, em termos de requisitos de acesso, para a ascensão profissional. Faz-se importante destacar que, ao se projetar uma carreira, desenha-se também a sua estrutura, a qual tem os seguintes tipos básicos: • Em linha: desenho historicamente mais tradicional, sua característica principal é uma sequência de posições alinhada em uma única direção, não oferecendo, assim, alternativa às pessoas. Cada estágio da carreira relaciona-se a um conjunto específico de requisitos em termos de competências e de atributos pessoais. • Em rede: desenho que permite aos profissionais optarem pela trajetória que mais lhes agrade, ligando-se horizontalmente a todos os demais, conforme os critérios de acesso estabelecidos, em um ambiente interligado por diversos atores. Embora muito atual, depende de significativo esforço da organização para ser implementado. • Paralela: estrutura que pode assumir diferentes formas. As mais comuns são as totalmente paralelas, as em Y e as de múltiplos paralelismos, sendo a forma mais conhecida a carreira em Y, cujo desenho permite ampliar as possibilidades de crescimento (horizontal e/ou vertical) e alinhar isso aos anseios do profissional, podendo, concomitantemente, aumentar a satisfação com o próprio trabalho (Figura 3). A carreira em Y se configura como mais uma opção de trajetória, dada a possibilidade de progressão profissional na carreira técnica em áreas atualmente muito valorizadas nas organizações, como: Gestão da carreira 45 tecnologia da informação, logística, projetos, finanças4, engenharia, entre outras. Nesses casos, o profissional pode atingir postos mais altos via braço técnico5, sem necessariamente passar por cargos gerenciais, o que sugere um maior engajamento com as atividades que desempenha e, sobretudo, um maior aprofundamento em relação aos conhecimentos pertinentes à área de atuação. Figura 3 – Carreira em Y ESTAGIÁRIO Especialista I Especialista II Especialista III BRAÇO GERENCIAL BRAÇO TÉCNICO CONTROLLER7 Líder de grupo Gerente de financeiro DIRETOR FINANCEIRO ANALISTA FINANCEIRO JR ANALISTA FINANCEIRO PL ANALISTA FINANCEIRO SR Fonte: Elaborada pelo autor. 4 Na área financeira, por exemplo, baseado na carreira em Y, após o cargo de gerente sênior, o profissional pode se tornar diretor com perfil técnico ou diretor com perfil gerencial e, até mesmo, controller. 5 Maneira que permite aos profissionais com perfil técnico crescerem na carreira com grau de equivalência ao de um gestor. 6 Profissional que atua como agente de controles dentro da empresa, organiza e desenvolve planos econômico-financeiros e analisa informações contábeis e de desempenho. 46 Gestão de pessoas A carreira em Y ou paralela apresenta-se como uma alternativa de atração e retenção de profissionais, com perfil técnico ou gerencial, pela amplitude de oportunidades de crescimento, alinhadas às expectativas de trajetória. 2.2.2 Categorias de carreira No entendimento de Dutra (2015, p. 147), “as carreiras podem ter vários desenhos e diferentes naturezas”. Baseado na pesquisa das 150 Melhores Empresas para Trabalhar7, o autor discute carreiras em três categorias: • Carreiras operacionais: ligadas às atividades-fim das organizações, exigem o uso físico ou um alto grau de estruturação. Geralmente não possuem oportunidades de progressão via braço técnico, sendo importante que a gestão empresarial defina critérios de mobilidade para outras carreiras ou para o mercado. Um exemplo muito interessante é o de call centers, um grupo de grande mobilidade e baixo nível de aproveitamento interno (menos de 10%). Nesses casos, as empresas podem colaborar recrutando pessoas sem experiência, aperfeiçoá-las e devolvê-las ao mercado com mais valor e maior nível de articulação com o mundo do trabalho. • Carreiras profissionais: ligadas às atividades específicas, geralmente exigem pessoas com formação técnica ou superior. Essas carreiras não são definidas pela estrutura organizacional da empresa, mas por processos fundamentais, tais como: atividades administrativas, sistemas de informação, finanças, contabilidade, RH, jurídico, TI, logística etc. • Carreiras gerenciais: ligadas às atividades de gestão da empresa. Normalmente vemos aqui pessoas oriundas das carreiras operacionais ou profissionais que, ao longo 7 AS 150 MELHORES empresas para trabalhar. Guia VOCÊ S/A. 246. ed. abril/nov. 2018. Gestão da carreira 47 do seu processo de crescimento, demonstram vocação e competência para gerenciar. Algumas organizações recrutam recém-formados e pessoas sem experiência profissional para prepará-los por meio de programas de trainee (DUTRA, 2015). Considerando as diferentes categorias de carreira, podemos relacionar o tipo de atividade desempenhada pelos profissionais, suas características, exigências e especificidades às diferentes trajetórias e, sobretudo, às variadas oportunidades de crescimento profissional. Assim, essas categorias, de alguma forma, estabelecem relação com os chamados eixos de carreira. 2.2.3 Eixos de carreira Há, nas organizações, diferentes eixos de carreira, que estão atrelados aos processos fundamentais da empresa (administrativo, gerencial, tecnológico etc.). Para cada um desses eixos, devemos definir as principais competências. Desse modo, podemos afirmar que para cada eixo há um conjunto próprio de competências; algumas podem ser comuns a mais de um eixo, mas a ideia é analisarmos as principais em cada um (Figura 4). Figura 4 – Exemplos de eixos de carreira e possibilidades de movimentação Gerencial Administrativo Técnico Operacional G5 G4 G3 G2 G1 T6 T5 T4 T3 T2 T1 O4 O3 O2 O1 A6 A5 A4 A3 A2 A1 Fonte: Dutra, 2015, p. 149. 48 Gestão de pessoas Nessa figura, podemos visualizar as várias possibilidades de carreira no que diz respeito à movimentação e, diferentemente da previsibilidade e da linearidade dos modelos tradicionais, é possível relacionar diferentes áreas com diferentes etapas da carreira, adequando-as aos diferentes níveis de complexidade e aos diferentes níveis salariais. À medida que a pessoa se desenvolve, aumenta sua agregação de valor, passando a valer mais para a empresa e para o mercado (DUTRA, 2015). Compreendidas as estratégias e os tipos de carreiras, o próximo passo é conhecer os conceitos de sistemas de remuneração presentes nas organizações, atrelados à gestão da carreira. 2.3 Sistemas de remuneração como apoio à gestão da carreira Um sistema de remuneração tem como principal objetivo organizar e formalizar a estrutura de recompensas da empresa, adequada à estrutura de carreira, a fim de estabelecer equilíbrio interno e externo. Entendemos como equilíbrio interno o emprego da equidade, coerência e igualdade na composição dos salários, para que os envolvidos percebam e aceitem as reais diferenças entre o valor relativo dos cargos dentro da própria empresa, visando estabelecer a consistência interna, que é a percepção do trabalhador de que sua remuneração é justa comparada à de seus pares na organização. O equilíbrio externo compreende o reconhecimento e a aceitação, por parte dos colaboradores, da estrutura salarial como coerente diante dos mesmos conjuntos de cargos de outras empresas do mesmo segmento ou de segmentos afins e do mesmo porte, com a finalidade de estabelecer a competitividade externa. Outros objetivos do sistema de remuneração estão atrelados diretamente à gestão de carreiras, são eles: Gestão da carreira 49 • Manter a equidade dos salários; • Atrair e manter talentos; • Recompensar o desempenho; • Vincular o futuro desempenho das pessoas às metas organizacionais; • Estimular o comportamento para a realização de metas/ objetivos. Desse modo, para que esses objetivos sejam atendidos, é necessário considerar a importânciados componentes de um plano de compensação, tais como: análise e descrição de cargos, avaliação de cargos, classificação de cargos e pesquisa salarial, conforme demonstrado no Quadro 3. Quadro 3 – Equilíbrio interno e equilíbrio externo Consistência interna Competitividade externa Adequada avaliação de cargos de forma a manter uma hierarquia (va- lor relativo do cargo comparado a outro dentro da organização), visto que, na maioria das vezes, a insatis- fação advém da diferença da remu- neração entre cargos e pessoas. Adequação salarial frente ao mer- cado de trabalho (empresas do mesmo segmento, do mesmo porte, na mesma região). Análise, avaliação e classificação de cargos Pesquisa salarial Fonte: Elaborado pelo autor. De acordo com Marras (2011), um sistema de remuneração deve ser elaborado a partir do agrupamento de informações coletadas por meio de levantamentos sistematizados, como: • Análise de cargos: consiste em reunir e organizar as informações-base para a avaliação dos cargos. • Descrição de cargos: enumeração das tarefas ou atribuições e dos requisitos que compõem um cargo (o que faz, como faz e por que faz). 50 Gestão de pessoas • Avaliação de cargos: mensuração do valor relativo do cargo dentro da organização com base em critérios e metodologias adotados pela empresa. A coleta dessas informações deve subsidiar a construção de uma política salarial, importante instrumento cuja principal função é nortear a tomada de decisão dos gestores acerca das questões que envolvem salários, benefícios e carreira, conforme mostra a Figura 5. Figura 5 – Componentes e resultado de um plano de cargos e salários PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS CONSISTÊNCIA INTERNA ANÁLISE E DESCRIÇÃO DE CARGOS CLASSIFICAÇÃO DOS CARGOS PESQUISA SALARIAL AVALIAÇÃO DE CARGOS COMPETITIVIDADE EXTERNA POLÍTICA SALARIAL Fonte: Hanashiro; Teixeira; Zaccarelli, 2008.. Para estabelecer um sistema de remuneração, é imprescindível compreender do que é composta a descrição de cada cargo. Descrição de cargo é o processo que sistematiza e padroniza – por meio de estudo, observação e redação – os elementos, as especificações e as características que compõem o perfil de um cargo, a partir das informações coletadas. Podemos entender esse sistema, também, como a organização das tarefas e atividades, com respectivas qualificações/exigências necessárias para o bom desempenho do serviço (CHIAVENATO, 2014). Gestão da carreira 51 Para que tudo fique registrado formalmente, um formulário de descrição de cargo deve conter os métodos de trabalho, as relações que estabelece na estrutura organizacional, além dos requisitos mentais e físicos, as responsabilidades e as condições de trabalho, conforme modelo a seguir. Quadro 4 - Modelo de formulário de descrição de cargo TÍTULO DO CARGO: FUNÇÃO: SUBORDINADO A: DIVISÃO/DEPARTAMENTO/LOCAL: DESAFIO: SUMÁRIO: ATIVIDADES PRINCIPAIS: COMPETÊNCIAS TÉCNICAS: Formação desejável (Escolaridade): Experiência profissional: Capacitação profissional/técnica e idiomas: COMPORTAMENTAIS Habilidade funcional: Apresentação pessoal: Relacionamento interpessoal: Trabalho em equipe: Supervisão exercida: Erros, patrimônios e valores: Dados confidenciais: Complexidade e desafios: Capacidade de análise e soluções de problemas: (Continua) 52 Gestão de pessoas SEGURANÇA NO TRABALHO: Esforço físico: Esforço mental: Esforço visual: Ambiente do trabalho: Riscos e segurança: DIMENSÕES DO CARGO: Total de subordinados: Orçamento da area: AMPLITUDE ESTRUTURAL: Superior imediato: Próximo nível de supervisão: Título de cargos subordinados diretos/indiretos: Título de cargos subordinados ao seu superior (cargos pares): INFORMAÇÕES ADICIONAIS: APROVAÇÕES: _________________________ __________________________ Gerente de Recursos Humanos Superior imediato Descrito por: Data: Revisado por: N. Revisão: Data: Fonte: Elaborado pelo autor. Essas informações são relevantes porque subsidiam a realização da chamada avaliação de cargos, cujo objetivo central consiste em transformar os parâmetros qualitativos em dados quantitativos, a fim de se estabelecer uma base única de comparação. O produto da avaliação é a hierarquização dos cargos em faixas salariais, construídas com base nas diretrizes internas da empresa e nas informações das pesquisas salariais (Tabela 1). A amplitude das faixas estabelece os limites mínimo e máximo que Gestão da carreira 53 a empresa pretende pagar para cada cargo. A progressão salarial e, consequentemente, de carreira de um profissional dentro dessa estrutura pode ser horizontal ou vertical, pois a evolução salarial está relacionada à sua evolução profissional, de acordo com política de carreira definida pela área de gestão de pessoas. Tabela 1 – Faixas salariais Nível Pontos Cargos Tabela salarial A B C D 1 100 – 190 - Assistente administrativo - Assistente financeiro 2 191 – 280 3 281 – 370 4 371 – 460 - Analista de logística - Analista de custos - Analista de marketing 5 461 – 550 - Analista financeiro 2.760,00 3.123,91 3.530,02 4.002,00 6 551 – 640 7 641 – 730 - Coordenador financeiro 8 731 – 820 - Supervisor geral 9 821 – 910 10 911 -1000 Fonte: Elaborada pelo autor. Assim, construímos uma evolução em termos salarias atrelados aos níveis (de 1 a 10) e, consequentemente, às nomenclaturas (de A até D), de forma que os profissionais que ocupam os cargos contidos em cada nível possam ter conhecimento sobre as possibilidades de crescimento na carreira e na remuneração. AM PL IT U DE 1 0 AMPLITUDE 45% 2.760,00 x 1,45 = 4.002,00 54 Gestão de pessoas 2.3.1 Pesquisa salarial Como mencionado anteriormente, o equilíbrio externo deverá ser obtido por meio de pesquisa salarial, que tem como propósito essencial verificar o comportamento de outras empresas do mesmo segmento (ou segmentos afins), do mesmo porte, na mesma região e com cargos-chave semelhantes. A pesquisa deve se basear em amostras de cargos que representam as demais funções da organização e em empresas que retratam o mercado de trabalho. Além do salário fixo, devem ser considerados outros fatores, como benefícios concedidos, bônus, participação nos lucros e resultados (PLR), comissões de vendas, prêmio, entre outros. Segundo Pontes (2019, p. 253), para a realização da pesquisa, devem ser seguidas as seguintes fases: 1. Seleção dos cargos a serem pesquisados. 2. Seleção das empresas participantes. 3. Preparação do manual de coleta de dados. 4. Coleta de dados. 5. Tabulação dos dados. 6. Análise do resultado e recomendações. 7. Relatório aos participantes. Ainda segundo o autor, para a seleção das empresas, é necessário levar em consideração alguns pontos que podem influenciar sobremaneira nos resultados esperados: • Localização geográfica; • Ramo de atividade; • Estrutura organizacional; • Política salarial. Gestão da carreira 55 Para Pontes (2019, p. 89), os dados geralmente seguem um padrão e mensuram estatisticamente: • o menor salário de cada categoria ou função; • a primeira faixa de salário, compreendendo uma divisão em quatro classes salariais ou, se necessário, com a segmentação estabelecida pela empresa; • a média salarial, que representa os valores medianos de salários coletados; • a média aritmética, com base nos valores coletados, dividida pelo total das informações obtidas; • o terceiro quartil, que representa os dados dos salários que estão próximos aos maiores coletados; e • os salários mais elevados das categorias ou funções. De posse dessas informações, o setor de Gestão de Pessoas, juntamente com o departamento financeiro, define quais bases salariais, por faixa, serão adotadas com base no orçamento estipulado para folha de pagamento. Considerações finais Em grande parte das organizações consideradas modernas, o plano de carreira formalizado e dirigido pelo empregador tende
Compartilhar