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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL NA COMARCA DE SOBRAL Processo n.º xxxxxx Ana Maria Mendes Faustino da Silva, já qualificada nos autos em epígrafe, por seu advogado/OAB, endereço completo, para recebimento de intimações, na ação penal promovida pelo Ministério Público, vem, respeitosamente, tempestivamente, com fulcro no art. 396 caput e 396A do Código de Processo Penal, apresentar: RESPOSTA À ACUSAÇÃO, nos termos a seguir: I – DOS FATOS Trata-se de imputação dos crimes de lesão corporal tentada, dano qualificado, resistência, desobediência e desacato. Fatos ocorridos, segundo a denúncia, em 14 de dezembro de 2019, em que a acusada, em meio à briga familiar que teria evoluído para ameaça e tentativa de lesão corporal, tendo o mesmo feito a representação. Sem maiores considerações acerca do teor dos autos, limitando-se à narrativa da denúncia, com base em inquérito policial. Por ocasião da prisão, a ré teria resistido tendo sido necessário o uso da força para contê-la, desobedecido e desacatado as forças de segurança, seguiu-se ainda dano à viatura policial. Estava sob efeitos de drogas. A ré em sede policial permaneceu em silêncio, tendo na mesma data o flagrante homologado e prisão preventiva decretada. Teve a ocorrência da audiência de custódia, mantendo-se a custódia. II – DO DIREITO A – DA AMEAÇA No caso dos autos inexiste materialidade suficiente a sufragar eventual ação penal, na medida em que as provas colididas são oriundas de testemunho em inquérito policial, relatos da suposta vítima e posteriormente dos policiais, de que teria ocorrido lesão corporal seguida de ameaça de morte. O que muito se estranha Excelência o fato de uma mulher, “teoricamente”, com porte físico mais frágil que a vítima chegar ao ponto de ir as vias de fato. Na realidade conforme os autos em sede de inquérito policial as palavras desferidas contra a vítima deu-se em momento de acirrados ânimos, e que, conforme consta na denúncia a acusada estaria sob efeitos de drogas. Assim sendo, por existirem requisitos mínimos para a denúncia, requer a mesma seja rejeitada conforme art. 395, III, do CPP. B – DA LESÃO CORPORAL TENTADA A acusada foi denuncia nos termos do art. 129 CC 14, II, lesão corporal na modalidade tentada. Vejamos o que diz o art. 14, II: Art. 14 - Diz-se o crime: II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Ocorre Excelência, que não ficou evidenciada a tal prática, pois conforme relatado em denúncia, a tentativa de lesão teria sessado com a chegada dos policiais, diferentemente do que consta em inquérito policial bem como o que dispõe nas declarações do ofendido em sede policial, de que teriam coisas quebradas, que teriam sido utilizadas para lesiona-lo, no entanto não ficou comprovado tal fato, nem sequer foi juntado exame de corpo de delito da vítima, pois a inicial diz que houve tal crime. Desta forma, restou comprovado que o réu não deveria ser denunciado pela pratica de lesão corporal na forma dos art. 129 cc 14, II CP, pois aparentemente não cometeu. C – CRIME DE DANO Ocorre excelência, que a acusada fora denunciada pela prática de crime de dano nos termos do Art. 163, III, CP, por supostamente ter danificado o xadrez da viatura, conforme relatado pelos integrantes da força de segurança, em que a mesma teria dado chutes a ponto de danificar a viatura e ter que chamar um chaveiro para abrir. É imperioso frisar, que trata-se de um ambiente feito exatamente para conduzir presos e que teoricamente, não seria possível ser tão fácil de danificar, é estranho que uma mulher teria força suficiente a ponto causar danos em um xadrez. Muito embora os agentes tenham dito que a acusada encontrava-se visivelmente sob efeitos de drogas a ponto de ter que usar da força para contê-la. Assim sendo, restou comprovar que o dano provocado foi realmente pela acusada, no caso deveria ter sido feito uma perícia não somente quanto ao dano, mas se o mesmo ocorreu naquela ocorrência ou se já estava suscetível de ser acometido. D – DA DESOBEDIÊNCIA, RESISTÊNCIA E DESACATO A acusada foi denunciada pelos crimes tipificados nos Arts. 329, 330 e 330 do Código Penal. Ocorre Excelência que tal denúncia não se sustenta, uma vez que ficou comprovado pelo relato da vítima e das testemunhas, que a ocorrência se deu em meio uma briga de família e que inclusive fora relatado que a acusada aparentava estar sob efeitos de drogas, ou seja, o estado de ânimos quanto ao fato da briga familiar já era suficiente para tal ocorrência, quanto mais se realmente existiu o fato da acusada encontrar-se sob efeito de entorpecentes. No entanto, não ficou comprovado que a acusada simplesmente praticou tal atos, motivo pelo qual pede absolvição sumária. Assim sendo, Excelência, como bem foi vislumbrado tanto na denúncia, nos relatos em sede de inquérito policial, como no fatos aqui narrados, ficou nítido de que trata-se de uma pessoa usuária de drogas, que chegou a vir as vias de fato, e que na verdade está precisando de ajuda médica e amparo por parte do Estado e não de repressão policial. E que, em nenhum momento frisou que fora feito exame de corpo de delito para descartar ou não sob efeitos de drogas, que fora relatado pelas testemunhas, bem como na denúncia. Semelhante às hipóteses de inimputabilidade previstas nos artigos 26 e 28 do Código Penal, a lei de drogas traz alguns institutos que podem ser aplicados equiparando o vício da droga ao doente mental, e o uso da droga às mesmas hipóteses do uso do álcool ou substância de feitos análogos. Senão vejamos o disposto no artigo 45 da lei 11.343/06: Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado. É portanto possível identificar que a dependência da droga foi equiparada pelo legislador à doença mental com a mesma disposição prevista no caput do art. 26 do Código Penal, trazendo assim uma isenção de pena com o reconhecimento da inimputabilidade. E assim, caso se reconheça que a acusada praticou os crimes a ela imputada ficou nítido e imperioso que trata-se de usuária de drogas e deverá ser reconhecida a excludente, passível portanto de absolvição sumária. III – DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO Apenas para fins argumentativos, caso ao final a Acusada seja condenada à pena referente aos crimes imputados referente a ela, requer seja aplicada a suspensão condicional do processo, por estarem presentes todos os requisitos para tanto previstos no art. 696 e seguintes do CPP. Os artigos 76 da lei 9.099/95 prevê a possibilidade de oferecimento, por parte do MP, da imediata aplicação de pena restritiva de direitos ou multas. IV – DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto, requer: A. O arquivamento do processo, por falta de justa causa paraa ação; B. A absolvição sumaria, nos termos do art. 397 do CPP; C. A absolvição nos termos do art. 386, III, VI e VII do CPP e 45 da lei 11.343/06; D. Não sendo o caso, requer a produção de provas por todos os meios admitidos em direito e, posteriormente, seja proferida sentença absolutória consoante art. 386, III, VI e VII do CPP; E. Subsidiariamente, a aplicação de penas restritivas de direito ou multa, das medidas despenalizadoras da lei 9.099/95 e, não sendo o caso, seja aplicada a suspensão condicional do processo; F. Caso haja a condenação, seja imposto o regime aberto para o cumprimento da pena. Nestes termos, pede deferimento. Sobral, 19 de Junho de 2020 Expedito Oriel Ferreira de Sousa OAB/ XXXX