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Traumatologia Forense

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Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
TRAUMATOLOGIA FORENSE: 
A Traumatologia Forense é a base para as 
perícias, estudando os aspectos médico-
jurídicos causados por agentes lesivos. O 
trauma em si é o resultado da ação 
vulnerante que possui energia capaz de 
produzir danos. Os agentes podem ser 
classificados em: 
 Mecânicos (ex.: energia cinética); 
 Físicos (ex.: variação de pressão ou 
temperatura, energia elétrica); 
 Químicos (ex.: envenenamento); 
 Energias de ordem físico-química; 
 Energia de ordem bioquímica; 
 Energias de ordem biodinâmica; 
 Energias de ordem mista. 
São de interesse médico-legal somente os 
quatro primeiros itens da lista acima, sendo 
os últimos três geralmente associados a 
doenças. 
AGENTES MECÂNICOS: 
Esses são os agentes mais comuns na 
traumatologia forense, atuando por meio da 
energia cinética, que modifica o estado 
inercial de um corpo, produzindo lesões em 
todo ou uma parte de outro corpo, sejam elas 
fechadas ou abertas. 
Um mesmo objeto pode funcionar como 
instrumentos (agentes) diferentes, 
culminando em tipos variados de lesões. 
A ação dos instrumentos pode ser somente 
por pressão, pressão associada a 
deslizamento, ou choque, acompanhado ou 
não por deslizamento. Os tipos de lesão 
causados por esses materiais podem ser 
simples ou mistas. 
 
Formas de Ação Simples 
 
Formas de Ação Mista 
INSTRUMENTOS PERFURANTES OU PUNCTÓRIOS: 
São instrumentos finos, alongados, 
pontiagudos, de diâmetro bastante reduzido 
em relação ao comprimento do corpo. 
Atuam por perfuração num ponto, rompendo 
com a integridade da pele e afastando suas 
fibras, criando uma lesão pequena que se 
prolonga na forma das linhas de força 
cutânea (Lei de Filhós e Langer), com pouca 
eliminação externa de sangue, mas elevado 
risco de complicações internas. 
 
Distribuição das linhas de força da pele, que 
promove lesões em forma de botoeira (casa de 
botão), ponta de seta ou em forma bizarra 
Essa lesão induzida apresenta trajeto 
retilíneo e pode ser penetrante (fundo cego) 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
ou transfixante (orifícios de entrada e saída 
semelhantes), com profundidade mais 
relevante que o diâmetro. 
INSTRUMENTOS CORTANTES: 
São instrumentos atuantes por pressão e 
deslizamento do gume (parte afiada), criando 
feridas ou ferimentos incisos, tendo como 
exemplos navalhas, facas, estilhaços de 
vidro, papel, guilhotinas ou bisturis. 
As lesões provocadas têm margens lisas e 
regulares, com ausência de contusão e 
presença de caudas de escoriação (maiores 
no final da ferida, o que pode sugerir a mão 
dominante ou a posição do agressor). A 
hemorragia é quase sempre abundante, 
devido à densa vascularização da pele, que 
apresenta bordas afastadas, induzidas pela 
pressão nas linhas de força e o rompimento 
de múltiplas fibras musculares. Em lesões 
post-mortem esse sangramento e 
distanciamento é menos evidente. O 
comprimento da incisão predomina sobre 
sua profundidade. 
 
Algumas feridas especiais decorrentes de 
ação cortante ou cortocontundente são: 
 Esgorjamento: lesões incisas, de 
profundidade variável, situando-se na 
face anterior ou anterolateral do pescoço, 
entre a laringe e o osso hioide, ou sobre 
a laringe, raramente acima ou abaixo 
desses limites. Pode ser única ou 
múltipla, e a profundidade da lesão é 
variável, detendo-se, em geral, na 
laringe, mas dependendo da intensidade 
do uso do instrumento, pode alcançar a 
coluna cervical; 
o As características desse ferimento 
podem auxiliar a causa da lesão, 
como suicídio (lesão transversal 
descendente com menor força na 
porção final) ou homicídio (lesão 
horizontal voltada para cima) 
 Degolamento: são lesões provocadas 
por instrumento cortante na região 
posterior do pescoço (nuca). É indicio de 
homicídio, principalmente se o ferimento 
for profundo e a lesão for localizada na 
medula; 
 Decapitação: é a separação da cabeça 
do corpo, podendo ser oriunda de outras 
formas de ação além da cortante. Pode 
ser acidental, suicida ou homicida; 
 Esquartejamento: divisão do corpo em 
quatro segmentos, com partes maiores; 
 Espostejamento: divisão do corpo em 
porções menores que as encontradas no 
evento acima. Espostejar significa 
“reduzir a postas”. 
Lesões de defesa surgem nas mãos e dedos 
(quando atacada em pé), na face posterior 
do antebraço (se estiver ditada) ou nas 
pernas e pés, quando a vítima tenta se 
defender de uma agressão. As feridas por 
evisceração, denominadas haraquiri, 
caracterizam-se por uma incisão transversal 
no abdome, culminando na exposição dos 
órgãos internos. 
INSTRUMENTOS CONTUNDENTES: 
Esses instrumentos transferem a energia por 
meio de uma superfície, ocorrendo por 
compressão, tração ou deslizamento. As 
lesões podem ser abertas ou fechadas, com 
características inicialmente semelhantes às 
de uma ferida causada por instrumento 
cortante, porém com menor hemorragia, e 
formas e margens irregulares, uma vez que 
é decorrente de um impacto. Retalhos em 
formato de ponte podem unir as bordas da 
ferida, que normalmente mostram 
escoriações. 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
Os instrumentos mecânicos causadores de 
lesões contundentes podem ser 
classificados em: 
 Ativo: o corpo que sofre a lesão está 
parado, com o instrumento em 
movimento (ex.: atropelamento de um 
indivíduo parado); 
 Misto: tanto o instrumento quanto a 
vítima estão em movimento (ex.: 
atropelamento de um ciclista em 
movimento); 
 Passivo: o instrumento está parado, com 
a vítima em movimento (ex.: queda). 
As características exibidas após uma lesão 
contusa são a rubefação, decorrente do 
processo de vasodilatação, presente 
principalmente em ferida mais simples, que 
persiste por poucos minutos, podendo não 
ser evocada pela perícia. A tumefação está 
relacionada a esse processo, sendo 
marcada pelo intumescimento temporário do 
local de impacto (conhecido popularmente 
como galo). 
As equimoses, descritas pelo 
extravasamento de sangue para dentro dos 
tecidos, formando uma mancha de coloração 
inicialmente violácea, também são 
características marcantes dessas feridas, 
tendo forma, tonalidade e localização 
diretamente relacionadas ao instrumento 
causador da lesão. As sugilações 
(equimoses por sucção), por exemplo, são 
geralmente associadas a atos libidinosos, 
sendo decorrentes da movimentação dos 
lábios. 
O espectro equimótico de Legrand du Saulle 
permite ao perito a determinação temporal 
da equimose, estabelecendo nexo entre a 
lesão e a causa relatada. A análise desses 
aspectos é favorecida em indivíduos de pele 
mais clara. 
 
As equimoses dividem-se em diversos tipos, 
descritos por: 
 Petéquias: infiltrações sanguíneas 
puntiformes; 
 Sugilação: apresenta-se em forma de 
grãos agrupados; 
 Sufusão: as hemorragias são mais 
extensas; 
 Víbices: formato de estrias, geralmente 
assumindo a forma do instrumento. 
Os hematomas são cavidades cheias de 
sangue, oriundas de hemorragias mais 
volumosas e de propagação rápida, podendo 
causar compressão de estruturas ou passar 
despercebidos. 
Quando esses hematomas ocorrem na 
região intracraniana, estes podem ser 
divididos em: 
 Hematoma extra-dural: localiza-se entre 
o osso e a dura-máter 
 Hematoma subdural: tem formato 
crescente, localizado abaixo da dura-
máter; 
 Fratura de base de crânio: tem aspecto 
variável, sendo evidenciada pela 
presença de vazamento de líquido 
cefalorraquidiano pelo nariz ou ouvidos, e 
por equimoses atrás da orelha (sinal de 
Battle) ou nas pálpebras (sinal de 
guaxinim), sem elevação dessa área; 
 Hematoma epidural: localizado entre a 
dura-máter e o crânio, decorrente de 
fraturas agudas que rompem a artéria 
meníngea média; 
 Hemorragia subaracnóidea: 
geralmente faz o delineado dos sulcos 
cerebrais, havendo hipersensibilidadeno 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
espaço subaracnóideo (entre a aracnoide 
e a pia máter); 
 Hematoma intraparenquimatoso: 
localizado no tecido cerebral. 
 
Em lesões contusas é possível observar a 
presença de bossa, uma coleção de fluido 
seroso (linfa) que pode ou não estar 
associado a sangue, localizada sobre os 
planos ósseos com musculatura tênue. Em 
recém-nascidos, essa condição é conhecida 
como caput succedaneum, lesão perinatal 
provocada por pressão excessiva sobre o 
crânio, que cria um depósito de sangue 
circundado por tecido impermeável. 
Escoriações correspondem à remoção 
traumática da epiderme decorrente do atrito, 
seguida pela secreção de líquido seroso 
incolor e à formação de uma crosta seca, que 
aos poucos dá lugar ao processo de 
reeptelização. Caso a lesão atinja a derme, a 
área será marcada por pontilhados 
hemorrágicos, que participam da formação 
dessa película de proteção. Tais 
acometimentos possuem período de 
recuperação curto, o que faz com que sua 
identificação seja prejudicada. 
 Lesões contusas também podem provocar 
luxações, nas quais há o afastamento 
repentino e duradouro de uma das 
extremidades, e fraturas, condições nas 
quais há uma perda de continuidade total ou 
parcial dos ossos, quando submetidos à 
ação de instrumentos contundentes, 
podendo inclusive provocar a ruptura de 
órgãos. 
 
LESÕES MISTAS: 
Nem sempre uma lesão apresenta sinais 
únicos de um instrumento, o que caracteriza 
lesões mistas. Essa classificação contempla: 
LESÃO PERFURO-INCISA: 
Nesses acometimentos, o instrumento é 
perfurocortante (ex.: canivete), atuando por 
meio de incisão e deslizamento. 
As feridas são mais profundas do que largas, 
e apresentam a maioria dos elementos 
observados em acometimentos associados a 
acidentes com instrumentos perfurantes. 
Sua gravidade depende do ângulo de 
incidência, da superfície atingida e pela força 
de impacto aplicada. 
O formato dessas lesões assemelha-se a 
uma “casa de botão”, que pode contar com 
uma comissura aguda (reflexo do gume – 
ex.: espada) e outra arredondada (costas do 
instrumento), as duas regiões agudas (dois 
gumes – ex.: punhal) ou aspecto estrelado, 
quando há múltiplas pontas (ex.: lima). 
 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
 
Essas lesões podem ser divididas em: 
 Perfurantes/Penetrantes; 
 Transfixantes (entrada e saída); 
 Fundo-de-saco; 
 Ferimento em sanfona/acordeão de 
Lacassagne: provocado por 
instrumentos pequenos, apresenta 
profundidade maior que o próprio 
agente, o que promove a compressão 
de estruturas viscerais adjacentes à 
lesão. 
 
LESÕES CORTOCONTUSAS: 
Essas formas de lesão são decorrentes do 
uso de instrumentos cortocontundentes (ex.: 
machado, guilhotina). 
Mantem-se as características de ferimentos 
incisos, sendo muito devastadoras. As 
manifestações contusas desse quadro 
decorrem da aplicação de pressão, sem 
deslizamento 
 
LESÕES PERFUROCONTUSAS: 
Esses acometimentos são decorrentes de 
instrumentos perfurocontundentes (ex.: 
projétil, ponta de um guarda-chuva, grades). 
Tais lesões causam perfuração e ruptura dos 
tecidos, caracterizando ferimentos com 
bordas irregulares, com predomínio da 
profundidade em relação à extensão, e 
caráter penetrante ou transfixante. 
 
Suas manifestações decorrem 
principalmente de acidentes com armas de 
fogo, que disparam projéteis, estruturas 
metálicas de chumbo com formato que varia 
entre cilindros e ogivas, armazenados tanto 
em carga única (a exemplo de um revólver) 
ou múltipla (representada por uma 
cartucheira). 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
 
LESÕES PERFUROCONTUSAS POR ARMA DE FOGO: 
As características das lesões causadas por 
armas de fogo dependerão do tipo de 
disparo, baseado na distância entre a arma e 
a vítima (apoiado ou encostado [distância 
zero], a “queima-roupa” [curta distância] ou à 
longa distância), e da velocidade da arma, 
que pode ser de baixa energia (100 a 500 
m/s) ou alta energia, como fuzis. 
PROJÉTEIS DE BAIXA ENERGIA: 
TIROS À CURTA DISTÂNCIA: 
As características do ferimento de entrada de 
um tiro de baixa energia são variáveis 
segundo a distância do disparo e conforme a 
existência de um projétil único ou múltiplo. 
No entanto, existem elementos que são 
encontrados em todo tipo de tiro, a saber: 
 Efeitos primários do tiro: 
o São independentes da distância entre 
a arma e o projétil; 
o Orlas ou Anel de Fisch: 
 Orla de enxugo: forma uma 
auréola escura em volta do orifício 
de entrada, região na qual o projétil 
se livra de seus resíduos de 
pólvora; 
 Orla de escoriação: representa 
uma área na qual a epiderme é 
arrancada devido ao atrito 
promovido pelo projétil, 
comprovando o ferimento como 
sendo de entrada; 
 Em vísceras, representa o 
halo hemorrágico visceral de 
Bonnet 
 Orla equimótica ou de contusão: 
apresenta bordas orientadas para 
dentro devido à ruptura e à 
diferença de elasticidade entre 
derme e epiderme. 
 
 Efeitos secundários do tiro: 
o Nos tiros à curta distância, são 
evidentes: 
 Zona de tatuagem: resulta da 
impregnação de partículas de 
pólvora que não sofreram 
combustão, mas alcançaram o 
corpo. Não consegue ser removida 
pela higienização da pele; 
 Zona de esfumaçamento: decorre 
do acúmulo de fuligem resultante 
da combustão das reservas de 
propelente, depositando-se 
somente na camada superficial da 
pele (pode ser removida com 
limpeza da área com água, sabão 
e bucha); 
 Zona de chamuscamento: 
corresponde à região de 
queimadura da pele e dos pelos 
adjacentes, resultante da ação 
superaquecida dos gases que 
entram em contato com a vítima. 
 
1. Orla de enxugo 2. Orla equimótica 3. Zona de 
esfumaçamento 4. Zona de tatuagem 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
As características acima mencionadas estão 
intimamente relacionadas ao cone de 
dispersão provocado pelo disparo, que 
determina a capacidade de espalhamento 
dos detritos ejetados pela arma de fogo rumo 
à região próxima ao ferimento 
 
Ainda que o orifício de entrada de uma lesão 
por arma de fogo seja intimamente 
dependente de características intrínsecas à 
munição utilizada, essas perfurações 
assumem formato circular em perfurações 
infligidas num ângulo de 90º, oval em casos 
de outras inclinações, ou tangencial, de 
acordo com a angulação de incidência em 
relação ao disparo. 
TIRO ENCOSTADO: 
O tiro encostado, disparado com o cano da 
arma rente a pele da vítima, apresenta uma 
série de características que o distinguem das 
demais lesões perfurocontundentes por 
arma de fogo. Seu orifício de entrada tem 
forma estrelada ou de cratera, decorrente da 
dilaceração dos tecidos pelos gases 
explodidos, fenômeno denominado como 
mina de Hoffman. 
Nessa categoria de ferimentos, não são 
vistas zonas de tatuagem ou de 
esfumaçamento, mas há a presença de um 
halo fuliginoso nos ossos afetados, 
compondo o sinal de Benassi. 
 
Como a arma de fogo é pressionada contra 
a pele nessas modalidades de tiro, é possível 
observar a impressão dessa estrutura, 
chamada de sinal de Werkgaertner (marca 
da alça de mira. 
 
O sinal do funil de Bonnet é visto em ossos, 
principalmente planos, perfurados por um 
projétil de arma de fogo, com um orifício de 
entrada menor e um orifício de saída (“boca”) 
maior com um bisel (descamação da lâmina 
óssea), representando a formação de um 
funil invertido entre esses dois polos. 
 
TIRO À DISTÂNCIA: 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
As características de um disparo à distância 
diferem daquelas evidentes em conflitos 
próximos na forma do ferimento 
(arredondado) e no diâmetro reduzido em 
relação ao projétil, também apresentando 
orlas de escoriação e equimótica. 
ORIFÍCIO DE ENTRADA X ORIFÍCIO DE SAÍDA: 
As características dos orifícios de entrada de 
um ferimento resultantede disparos de 
armas de baixa energia já foram descritas 
anteriormente. Em relação ao ponto de 
saída, esse tipo de lesão é marcado por um 
formato irregular ou dilacerado, maior que o 
orifício de penetração e com sangramento 
mais evidente. Não são vistas orlas, zonas 
ou halos, e os bordos são evertidos (para 
fora). 
 
Algumas situações apresentam 
manifestações um pouco distintas, a saber: 
 Tiro encostado (já descrito 
anteriormente); 
 Tiro de ricochete (bala perdida): o 
projétil atinge outro objeto antes de 
perfurar a pele, perdendo parte de sua 
propulsão, o que altera a dinâmica da 
ferida; 
 Dois projéteis atingindo 
sucessivamente o mesmo ponto da 
pele. 
TRAJETO E TRAJETÓRIA: 
O trajeto corresponde ao caminho percorrido 
pelo projétil dentro do corpo da vítima, nem 
sempre refletindo a posição inicial da arma. 
A descrição desse evento toma como 
referência os eixos superior e inferior, direito 
e esquerdo, podendo ser transfixante (a bala 
penetra e deixa o organismo) ou não 
transfixante (projétil retido). De acordo com o 
número de balas disparadas, esse percurso 
interno pode ser único ou múltiplo. 
Ainda no âmbito do trajeto desse projétil, 
quanto este atinge alguma estrutura óssea 
curvada (ex.: costelas), é possível observar 
o fenômeno da bala giratória, no qual esse 
corpo faz um semicírculo, penetrando 
anteriormente e deixando o corpo de forma 
lateralizada, sem penetrar cavidades. 
O oposto desse evento é o trajeto em chuleio 
(ou em alinhavo), no qual um mesmo disparo 
resulta em transfixações sucessivas em 
diversos segmentos do corpo, apresentando 
uma ferida primária e múltiplas feridas 
secundárias ou de reentrada. 
A trajetória, por sua vez, representa toda a 
movimentação de uma bala fora do 
organismo, desde a arma de fogo até a 
superfície atingida. 
 
PROJÉTEIS DE ALTA ENERGIA: 
Os projéteis emitidos por armas de fogo com 
grande energia apresentam velocidades que 
variam entre 500 m/s a 1200 m/s na saída do 
cano, o que faz com que os ferimentos 
apresentem características específicas. 
O orifício de entrada é variável, da mesma 
forma que em armamentos menos potentes, 
porém, geralmente apresentam diâmetro 
superior ao do projétil, com formato 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
estrelado, alterações essas relacionadas à 
quantidade de energia transferida no 
impacto. 
O PAPEL DO MÉDICO ASSISTENCIALISTA NO 
TRATAMENTO DE VÍTIMAS DE LESÕES POR ARMA DE 
FOGO: 
O trabalho dos médicos atuantes em 
serviços de urgência é imprescindível para 
proteger a vida dos indivíduos feridos por 
armas de fogo, podendo, no entanto, 
dificultar o trabalho das equipes de perícia 
caso manejem de forma incorreta tais 
pacientes. Os pontos mais importantes a 
serem executados por esses primeiros 
profissionais são: 
 Descrever as lesões de forma técnica, 
fazendo o possível para caracterizar 
orifícios de entrada e saída; 
 Não remover o projétil com 
instrumentos metálicos, pois eles 
podem causar marcas na superfície da 
bala que atrapalham a detecção de 
características capazes de identificar o 
instrumento causador da lesão; 
 Encaminhar o projétil para o IML. 
AGENTES LESIVOS FÍSICOS: 
AGENTES BAROMÉTRICOS: 
Esses instrumentos provocam fenômenos 
decorrentes da variação da pressão 
atmosférica do ambiente em relação ao nível 
do mar, chamadas baropatias. Essas 
condições podem ser associadas à/ao: 
 Diminuição da pressão: ocorre em 
situações de elevação na altitude, com 
redução proporcional da quantidade de 
oxigênio disponível no ar, causando 
assim o “mal da montanha”, marcado por 
eventos relacionados à hipóxia; 
 Aumento da pressão: diz respeito à 
redução da altitude, podendo haver 
embolia gasosa ou barotrauma em caso 
de rápida ascensão. 
 
 
Explosões também são mecanismos lesivos 
relacionados a pressão, tendo como 
principais pontos causadores de ferimentos 
as ondas de pressão (perfuração timpânica), 
agentes mecânicos (detritos), altas 
temperaturas e gases tóxicos. 
 
AGENTES TÉRMICOS: 
FRIO: 
A ação local do frio na formação de lesões 
recebe o nome de geladuras (ou “pés-de-
trincheira”), sendo classificada em diferentes 
graus, a saber: 
 1º grau: eritema; 
 2º grau: flictenas/vesicação (formação de 
bolhas); 
 3º grau: necrose ou gangrena decorrente 
de isquemia. 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
 
Esse agente pode também interferir de forma 
sistêmica no organismo, alterando sua 
homeostase por meio da vasoconstricção 
generalizada, que intensifica os efeitos 
necróticos locais, e da hipotermia. 
CALOR: 
A exposição a temperaturas excessivas pode 
ocorrer de forma direta, por meio de 
queimaduras, ou indireta, seja por insolação 
ou intermação, condições provocadas pela 
irradiação solar. 
As queimaduras podem ser decorrentes de 
contatos com chamas, calor irradiante, gases 
superaquecidos, líquidos escaldantes, 
sólidos quentes ou até mesmo com raios 
solares. Para avaliar essa lesão, é 
necessário verificar dois conceitos, a saber: 
 Intensidade: corresponde à 
complexidade e à profundidade da lesão, 
dividindo-se em quatro graus: 
o 1º grau: há eritema (coloração 
vermelho-viva devido à congestão 
dos vasos, fixada no post mortem 
pela coagulação), somente é 
acometida a epiderme; 
o 2º grau: presença de flictenas com 
líquido amarelo-claro e translúcido, 
sugere acometimento até a derme. 
No cadáver, é visto como placas 
apergaminhadas; 
o 3º grau: formação de escaras ou 
cicatrizes, atingindo epiderme, derme 
e hipoderme. Sua coloração é 
castanha ou cinza-amarelada, 
indicando morte tecidual que gera 
cicatrizes permanentes. No cadáver, 
também se apergaminham; 
o 4º grau: carbonização, marcada pela 
redução do volume do cadáver, 
podendo ser parcial ou total. O plano 
ósseo também é afetado. 
 
 Extensão: é analisada de acordo com a 
regra dos noves, que apresenta 
percentuais distintos para cada segmento 
do corpo, variando entre pacientes 
adultos e pediátricos. 
 
A insolação decorre da ação da temperatura 
ambiente em locais abertos, ao passo que a 
intermação é mais visível em locais 
confinados e mal arejados, surgindo de 
forma acidental. Os principais sintomas de 
ambas as condições são desidratação e 
hipertermia, que podem ser exacerbados em 
indivíduos alcoólatras, não adaptados às 
temperaturas locais ou com vestimentas 
inapropriadas (ex.: casacos pesados no 
verão). 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
ELETRICIDADE: 
A eletricidade atua em diferentes formas na 
geração de lesões nos seres humanos, 
sendo possível distinguir duas categorias 
distintas: 
 Eletricidade natural ou cósmica: 
o Quando age de forma letal sobre o 
organismo, esse fenômeno chama-
se fulminação. Se a intensidade do 
acometimento é suficiente apenas 
para provocar lesões, dá-se o nome 
de fulguração. 
 As lesões induzidas por esse tipo 
de agente resultam em marcas 
arboriformes, conhecidas como 
Sinal de Lichtemberg. 
 
 Eletricidade artificial ou industrial: 
o Quando a exposição à eletricidade é 
acidental, chama-se de 
eletropressão, ao passo que quando 
esse agente é aplicado de forma 
proposital, como na execução de um 
condenado, denomina-se 
eletrocussão; 
o A lesão mais simples decorrente 
desse tipo de contato é a marca 
elétrica de Jellineck (ferimento de 
entrada indolor com bordas elevadas 
e coloração amarelo-esbranquiçada, 
assumindo a forma do condutor); 
 
o Os efeitos deletérios da exposição à 
eletricidade dependem da 
amperagem, ou seja, da intensidade 
da corrente elétrica. 
Eventos letais envolvendo a energia elétrica, 
seja ela de origem natural ou artificial, geram 
os seguintes processos: 
 Morte cardíaca por fibrilação 
produzida pela corrente (tensão inferior 
a 120 V); 
 Morte por asfixia decorrente da tetania 
muscular (tensão entre 120 e 1200 V); 
 Mortecerebral por hemorragia 
meníngea e de demais estruturas 
encefálicas (tensão superior a 1200 V). 
AGENTES QUÍMICOS: 
Os agentes lesivos químicos são 
substâncias capazes de causar danos e 
riscos à saúde, seja por meio fisiológico ou 
biológico. Classificam-se como sendo de 
ação externa (cáusticos e corrosivos) ou 
interna (venenos e tóxicos). 
AGENTES EXTERNOS: 
Os mecanismos de ação dos compostos 
químicos são variáveis, a saber: 
 Efeito coagulante: os cáusticos são 
responsáveis por lesões graves, que 
afetam violentamente a ele, formando 
escaras, representadas por áreas 
enegrecidas; 
 Efeito liquefaciente: o agente desfaz 
os tecidos, produzindo escaras moles; 
As queimaduras promovidas pelo contato 
com esses agentes são classificadas em 1º, 
2º e 3º grau, da mesma forma que em lesões 
causadas por calor. 
Chama-se de vitriolagem o arremesso de 
ácidos (geralmente ácido sulfúrico) em 
direção à vítima, com o intuito de causar-lhe 
deformações corporais (enquadra-se como 
lesão corporal gravíssima). 
Júlia Figueirêdo – MEDICINA LEGAL (2020) 
VENENOS: 
Veneno é toda substância que prejudica a 
saúde ou degrada a integridade corporal de 
um indivíduo, podendo causar-lhe a morte, 
mesmo que em quantidades relativamente 
pequenas. Um composto pode ser, ao 
mesmo tempo, medicamento e veneno, 
dependendo apenas da dose administrada. 
Tais agentes podem ser fármacos 
(depressores e estimulantes do SNC), 
produtos químicos diversos (ex.: raticidas), 
plantas tóxicas (ex.: mandioca brava, 
mamona e espada de São Jorge) ou até de 
origem animal (toxinas de serpentes, 
aranhas, abelhas ou vespas). 
Na esfera jurídica, a natureza dessa 
exposição pode ser acidental, homicida ou 
suicida, sendo necessária a avaliação de 
todos os aspectos do quadro para 
determinação desse critério. O homicídio por 
envenenamento é considerado como 
qualificado. 
O diagnóstico clínico do envenenamento 
leva em consideração os seguintes pontos: 
 Critério clínico: sintomas caraterísticos 
de cada substância; 
 Critério anatomopatológico: exames 
laboratoriais. 
o Exame macroscópico: análise 
externa do corpo, observando a 
presença de lesões orais, odores 
característicos e coloração da pele; 
o Exame necroscópico: consiste na 
coleta de vísceras para exames 
laboratoriais (isolar, identificar e 
dosar). 
Para que se caracterize corretamente uma 
morte por envenenamento, além da 
identificação de uma substância química 
tóxica no corpo da vítima, é necessário que 
se verifique a concentração sérica desse 
composto, analisando seus possíveis locais 
de fixação (regiões pelas quais o material 
apresenta tropismo), e as circunstâncias do 
fato (local da morte, testemunhas, 
substâncias encontradas próximas à vítima, 
e escritos). 
ENVENENAMENTO POR CHUMBINHO: 
O chumbinho é um composto raticida 
preparado à base de diversos agrotóxicos 
pertencentes às classes carbamatos e 
organofosforados, tendo sua venda proibida 
no Brasil. 
Mesmo com essa restrição, essa substância 
representa um dos principais agentes 
causadores de envenenamentos em todo o 
país, em sua maioria decorrentes de 
tentativas de suicídio. Os indícios que 
apontam para esse tipo de intoxicação são: 
 Presença de resíduos do material nas 
mãos e na boca da vítima; 
 Hálito diferente do habitual; 
 Vômito ou diarreia que podem conter 
sangue; 
 Sensação de ardência na boca, 
garganta ou estômago. 
 Sonolência; 
 Cefaleia; 
 Mal-estar; 
 Produção excessiva de saliva e suor; 
 Midríase; 
 Pele pálida e fria; 
 Confusão mental; 
 Delírios; 
 Dificuldade respiratória; 
 Polaciúria ou oligúria; 
 Convulsões; 
 Sangue na urina ou nas fezes; 
 Paralisia segmentar ou total; 
 Coma.

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