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Lívia Mendes – UNIFG 2019.1 Transtornos de Ansiedade A ansiedade diz respeito a uma sensação de angústia e apreensão que faz parte do mecanismo natural de “luta ou fuga”. Essa sensação difusa de apreensão costuma estar associada a sintomas autonômicos como palpitações, cefaleia, inquietação, aperto no peito, dentre outros. Logo, pode-se perceber que a ansiedade é algo natural, porém em algumas situações pode se tornar desproporcional causando prejuízos funcionais a vida do indivíduo. A ansiedade pode ser o pródomo de quadros psicóticos em surtos de mania ou esquizofrenia, como também podem acontecer no contexto de um transtorno de personalidade. Transtornos relacionados ao trauma e estressores podem causar ansiedade, como aqueles relacionados a ruptura conjugal, sequestro ou perde traumática. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) A) Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). B) O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C) A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses): ➢ Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. ➢ Fatigabilidade. ➢ Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. ➢ Irritabilidade. ➢ Tensão muscular. ➢ Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). OBS: Apenas um item é exigido para crianças D) A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E) A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F) A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental TRANSTORNO DO PÂNICO Diferente do TAG, o transtorno do pânico acontece sob a forma de ataques recorrentes de ansiedade, com crises súbitas e imprevisíveis que não ocorrem em apenas uma situação ou circunstâncias determinadas Quando a presença de um ataque de pânico é identificada, ela deve ser anotada como um especificador (p. ex., “transtorno de estresse pós- traumático com ataques de pânico”). Para transtorno de pânico, a presença de ataques de pânico está inclusa nos critérios diagnósticos, e o ataque de pânico não é usado como especificador É importante ressaltar que os ataques de pânico duram de minutos a horas e são autolimitados e podem estar presentes em outras condições clínicas, nem sempre estando relacionados a um comprometimento que permita classificar como um transtorno, sendo por vezes um ataque de pânico ocasional. Os ataques de pânico podem estar presentes em pessoas que possuem fobia social, fobia específica ou transtorno de estresse pós-traumático, enquanto que o transtorno de pânico em si está presente em aproximadamente 25% dos pacientes com TAG A) Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que Lívia Mendes – UNIFG 2019.1 alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: ➢ Palpitações, coração acelerado ou taquicardia. ➢ Sudorese. ➢ Tremores ou abalos. ➢ Sensações de falta de ar ou sufocamento. ➢ Sensações de asfixia. ➢ Dor ou desconforto torácico. ➢ Náusea ou desconforto abdominal. ➢ Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. ➢ Calafrios ou ondas de calor. ➢ Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). ➢ Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). ➢ Medo de perder o controle ou “enlouquecer” ➢ Medo de morrer B) Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: 1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). 2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). OBS: Uma abordagem conservadora é iniciar o tratamento com paroxetina, sertralina, citalopram ou fluvoxamina no transtorno de pânico isolado. Se o controle rápido de sintomas graves for desejado, um tratamento breve com alprazolam deve ser iniciado junto com o ISRS, seguido pela redução gradativa da utilização do benzodiazepínico. Uma vez eficaz, o tratamento farmacológico, em geral, deve continuar por 8 a 12 meses. FOBIA SOCIAL A) Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras). B) O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). C) As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou fracassando em falar em situações sociais. D) As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. E) O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural. F) O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. G) O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H) O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental, como transtorno de pânico, transtorno dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista. AGORAFOBIA Agorafobia refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil. A) Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: ➢ Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões). ➢ Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes). ➢ Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas). ➢ Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão. ➢ Sair de casa sozinho. B) O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes Lívia Mendes – UNIFG 2019.1 ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo de incontinência). C) As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade. D) As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade. E) O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas situações agorafóbicas e ao contexto sociocultural. F) O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. G) O medo,ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H) Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de Parkinson) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente excessivo. OBS: Embora os ISRSs sejam considerados os agentes de primeira linha para o tratamento de transtornos de pânico com ou sem agorafobia, os medicamentos tricíclicos clomipramina e imipramina são os mais eficazes no tratamento desses transtornos. TRANSTORNO OBSSESSIVO COMPULSIVO (TOC) É caracterizado pelas obsessões ou compulsões recorrentes, e normalmente os pacientes têm ambas as condições (obsessões e compulsões). As obsessões são pensamentos recorrentes, persistentes e normalmente perturbadores, que são sentidos como intrusivos ou indesejáveis. As compulsões, por sua vez, são comportamentos ou atos mentais repetitivos, nos quais o indivíduo se sente compelido a executar a ação, de acordo com as obsessões ou regras rígidas, por exemplo, o indivíduo pode lavar as mãos de forma compulsiva por ter pensamentos obsessivos relacionados a germes e contaminação. Pacientes com TOC tentam ignorar e suprimir suas obsessões, porém passam por grande sofrimento psíquico quando o fazem, e muitas vezes estes gastam muitas horas por dia relacionadas com suas obsessões e compulsões. O TOC provavelmente está associado ao distúrbio corporal dismórfico, distúrbio de acumulação, tricotilomania (arrancar cabelos) e distúrbio de escoriação (arrancar a pele), porém não deve ser confundido com traços ou distúrbios de personalidade obsessivo-compulsiva TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA A evitação fóbica tanto no transtorno de pânico quanto no transtorno de ansiedade social costuma ser vencida somente de modo gradual, na medida em que o paciente passa a enfrentar situações que evitava. Nesse processo, o médico pode trabalhar com o paciente, estabelecendo, por exemplo, uma lista de situações a serem enfrentadas, hierarquizadas de acordo com o nível de dificuldade. Em caso de opção pela terapia farmacológica o primeiro passo é explicar para o paciente o tempo esperado para início dos efeitos terapêuticos dos mesmos que pode variar de 2 a 6 semanas, bem como explicar os efeitos colaterais, a importância da adesão informando que as medicações não podem ser descontinuadas de modo abrupto e que o tratamento irá durar pelo menos um ano com aumento gradual das doses até se encontrar uma dose ótima para o mesmo. A primeira escolha para tratamento é com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e inibidores da receptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), como segunda escolha podem ser utilizados os antidepressivos tricíclicos (ADT) e inibidores da monoaminoxidase (IMAO), mas estes últimos causam efeitos adversos mais proeminentes. ANTIDEPRESSIVOS ➢ Os efeitos antidepressivos desses fármacos só se iniciam após cerca de duas semanas de uso (período de latência). ➢ Em caso de insônia, utilizar um “antidepressivo” com perfil mais sedativo, ou associar hipnóticos temporariamente. ➢ Sintomas obsessivos-compulsivos 16 vezes”) respondem a doses normalmente mais altas de Lívia Mendes – UNIFG 2019.1 “antidepressivos”, p. ex. 60-80mg/dia de fluoxetina, raramente com resposta plenamente satisfatória. TRICICLICOS Sempre iniciar o tratamento com 25 mg e aumentar 25 mg a cada 2 – 3 dias até atingir nível terapêutico! ➢ Em idosos, iniciar com doses menores, aumentar a dose mais lentamente e usar doses mais baixas. Os tricíclicos têm perfil de efeitos colaterais desfavoráveis nessa faixa etária. Se não houver melhor opção, porém, optar pela nortriptilina (menor risco de efeitos anticolinérgicos e hipotensão postural). ➢ Em pacientes com ideação suicida ou pacientes cardiopatas esta classe deve ser evitada. BENZODIAZEPINICOS Optar por prescrever medicação em monoterapia e na menor dose efetiva possível. O tratamento farmacológico deve ser prescrito por um período definido de no máximo 4 semanas para evitar tolerância e dependência. Esses fármacos não podem ser suspensos abruptamente. Deste modo, o desmame farmacológico deve ocorrer de forma gradual para evitar crises de abstinência e insônia rebote. Exemplo de retirada gradual: Nas primeiras duas semanas paciente deve ingerir ¾ do comprimido, durante a terceira e quarta semana reduzir para ½ comprimido, durante a quinta e sexta semana ¼ do comprimido, e na sétima semana não há necessidade de tomar a medicação. Optar por fármacos com meia-vida de eliminação curta/intermediária para reduzir a sensação de sedação diurna. Quando usar? Caso haja manutenção da ansiedade e da insônia após a terapia instituída devemos associar o uso de BZD para induzir o sono. Optamos preferencialmente pelos BZDs com meia vida intermediária a longa. HIPNÓTICOS NÃO BZD 1. ZOLPIDEM • Dose: 5-10 mg • Início de ação: 20-30 min • Efeitos colaterais: o Relaciona-se com a dose utilizada o Cefaleia e amnésia,sonolência no dia seguinte, fadiga, irritabilidade. Também pode haver alucinações. II. ZALEPLON • Dose: 10-20mg • Início de ação: 20-30 min III. ZOLPLICONE • Dose: 3,75-7,5 mg • Início de ação: 20-30 min • Efeitos colaterais o Sonolência, fadiga, irritabilidade, cefaleia e amnésia o Pode causar tolerância e dependência Lívia Mendes – UNIFG 2019.1