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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG SP2- Pânico em Lisboa Módulo Saúde Mental 1. IDENTIFICAR OS PRINCIPAIS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE. Os transtornos de ansiedade se configuram entre os principais transtornos presentes e mais comuns, acarretando uma enorme demanda ao serviço público de saúde. A ansiedade se configura como um estado de humor desconfortável, presença de um sentimento de defesa, alerta a uma possibilidade de perigo ou ameaça eminente a algo desconhecido. De forma semelhante, a ansiedade pode ser comparada ao medo o qual também se configura como um sinal de alerta, mas envolve uma ameaça conhecida. Os transtornos de ansiedade podem ser distinguidos em (1) transtornos do pânico; (2) agorafobia; (3) fobia específica; (4) transtorno de ansiedade social ou fobia; (5) transtorno de ansiedade generalizada. O desenvolvimento desses distúrbios apresenta relação com os fatores genéticos e a experiência, os fatos da vida, a qual cada indivíduo apresenta o seu. Devemos sempre lembrar que fatos traumáticos da vida e estresse são possíveis etiologias para o desenvolvimento do transtorno de ansiedade. O estado de ansiedade é vivenciado por vários seres vivos, podendo ser compreendido como um estado fisiológico de alerta. Nesse sentido, a sua manifestação pode ser entendida como uma simples adaptação do organismo frente a uma situação. A prevalência dos transtornos de ansiedade é maior nas mulheres e em classes sociais mais baixas. 1. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) Esse transtorno é caracterizado por preocupação e ansiedade excessivas, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível de ansiedade observada, ocorrendo na maioria dos dias, por pelo menos 6 meses. Geralmente está associado com 3 ou mais dos seguintes sintomas (com pelo menos 1 presente na maioria dos dias nos últimos 6 meses): Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele; Fatigabilidade Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente; Irritabilidade; Tensão muscular; Perturbação do sono (dificuldade em iniciar ou manter o sono ou sono insatisfatório); o Nas crianças apenas 1 item é exigido! Um critério presente em todos os transtornos mentais é o prejuízo no funcionamento pessoal. Muitos indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada também experimentam sintomas somáticos (p. ex., sudorese, náusea, diarreia) e uma resposta de sobressalto exagerada. Sintomas de excitabilidade autonômica aumentada (p. ex., batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, tonturas) são menos proeminentes no transtorno de 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG ansiedade generalizada do que em outros transtornos de ansiedade, tais como o transtorno de pânico. 2. TRANSTORNO DO PÂNICO Diferente da TAG, o transtorno do pânico acontece sob a forma de ataques recorrentes de ansiedade, com crises súbitas e imprevisíveis que não ocorrem em apenas uma situação ou circunstancia determinada. É importante ressaltar que os ataques de pânico duram de minutos a horas e são autolimitado e podem estar presentes em outras condições clínicas, nem sempre estando relacionados a um comprometimento que permita classificar como um transtorno, sendo por vezes um ataque de pânico ocasional. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: Nota: O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso. 1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese. 3. Tremores ou abalos. 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensações de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 13. Medo de morrer Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). 3. FOBIA SOCIAL Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras); O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou fracassando em falar em situações sociais. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG 4. AGOROFOBIA Agorafobia refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões). Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes). Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas). Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão. Sair de casa sozinha. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo de incontinência). As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses; COMPREENDER O TRANSTORNO DO PÂNICO, SUA ETIOLOGIA (FATORES DESENCADEANTES), EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO. O transtorno do pânico é compreendido como um ataque intenso e agudo de ansiedade acompanhado por um sentimento de desgraça eminente. Os ataques de pânico são agudos e graves e normalmente podem ser confundidos com outras condições clínicas, por exemplo, IAM, por isso, é motivo da procura de um pronto atendimento. O transtorno do pânico costuma está associado a um quadro de agorafobia (medo de estar sozinho em locais públicos). O transtorno do pânico apresenta uma prevalência constante ao longo da vida, apresentando um pico de incidência aos 25 anos e uma prevalência duas vezes maior em mulheres quando comparada aos homens. O único fato socialrelacionado como fator de risco do transtorno do pânico é uma história recente de divórcio. Além disso, outro fator de risco preponderante para seu surgimento é a história prévia de algum transtorno psiquiátrico, sobretudo transtorno depressivo maior. Cerca de 1/3 dos casos de transtorno do pânico os pacientes já tinham vivenciado um transtorno depressivo. Não podemos esquecer ainda, que tais pacientes com essas duas comorbidades apresenta um risco maior de suicídio, sendo que normalmente não falam sobre o assunto. Associado a isso, o abuso de drogas e outras substâncias deve ser investigado, pois pode estar associado ao caso. ETIOLOGIA As bases para o entendimento biológico do transtorno do pânico derivam de uma variedade de achados que trouxeram evidências consideráveis que mostraram que há uma regulação anormal do sistema noradrenérgico envolvido na fisiopatologia da doença. A desregulação do sistema implica tanto em desarranjos centrais, quanto periféricos. De forma resumida, temos um aumento do tônus simpático pelo sistema nervoso autonômico o qual apresenta uma adaptação lenta a estímulos repetitivos e também responde de forma exagerada a estímulos moderados. Como foi dito acima, os principais neurotransmissores envolvidos nesse 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG processo são a norepinefrina, a serotonina e o GABA. A norepinefrina está relacionado ao aumento da atividade tanto do locus ceruleus, quanto dos núcleos da rafe (ambos localizados no tronco cerebral). Essas duas estruturas emitem axônios para o sistema límbico e córtex cerebral causando um aumento da sua atividade metabólica, induzindo um estado de alerta. A serotonina está envolvida no transtorno do pânico devido vários estudos apontarem o papel de medicamentos mistos (agonistas e antagonistas) aumentarem a chance de desenvolver ataque de pânico. Tal fato é justificado pelo aumento da sensibilidade pós-sináptica dos receptores de serotonina no quadro de transtorno do pânico. Por fim, o GABA, importante neurotransmissor inibidor do SNC, apresenta a capacidade de inibir a amígdala basolateral e o hipotálamo (reduzindo o limiar de ansiedade). Ainda na etiologia temos substâncias consideradas indutoras do pânico ou também chamadas de substâncias respiratórias por causaram uma estimulação nesse sistema e promover mudança do equilíbrio ácido-básico. Tais substâncias são: bicarbonato, lactato de sódio e dióxido de carbono. A indução inicia pelo estímulo aos barorreceptores cardiovasculares os quais levam o estímulo ao nervo vago, chegando ao trato solitário e por fim na medula espinal. A hiperventilação induzida por tais substâncias ativas sinais de alarme os quais interferem diretamente no SNC os receptores noradrenérgico, serotoninérgicos e GABAérgicos. Exames de imagens neurológicas de RM demonstram o envolvimento patológico dos lobos temporais, sobretudo hipocampo e amígdala. Podemos evidencias uma atrofia cortical do lobo temporal direito e redução do fluxo sanguíneo que implicam em tonturas. Fatores genéticos se apresentam como fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno do pânico. Estudos apontam que indivíduos com parentes de primeiro grau com transtorno de pânico têm um risco de 4 a 8 vezes maior para o desenvolvimento desse tipo de transtorno. Não podemos esquecer dos fatores sociais e comportamentais que levam o surgimento desse transtorno. Indivíduos que são submetidos a situações de vida estressantes e a traumas (como abuso) apresentam um risco maior para tal doença. QUADRO CLÍNICO O primeiro ataque de pânico normalmente ocorre de forma espontânea, podendo apresentar como fator desencadeante a atividade física, atividade sexual, trauma emocional e abuso de substâncias como cafeína e álcool. Geralmente a duração do ataque é de cerca de 20-30 minutos, seguido de uma rápida progressão dos sintomas. Raramente os sintomas ultrapassam 1h. Os sintomas psíquicos são marcados pelo medo extremo e sensação de morte e catástrofe iminente. Há também o medo de enlouquecer ou perder o controle. Não podemos esquecer dos sintomas físicos como palpitações, sudorese, tremores, boca seca, calafrios ou sensações de calor, falta de ar, 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG náuseas, dor abdominal, tontura e parestesias. Uma característica importante acerca do ataque de pânico é que o paciente abandona qualquer atividade que ele está fazendo para ir em busca de ajuda. Cerca de 20% dos casos apresentam esse medo de morrer exagerado, sobretudo na faixa estaria jovem. Vale lembrar que a hiperventilação gera alcalose respiratória e outros sintomas (pela ativação do SNC), por isso era recomendado respirar dentro de um saco a fim de minimizar tais efeitos. Durante o ataque podemos observar uma dificuldade de fala (ex: uma gagueira) e comprometimento da memória. Entre os ataques podemos notar a presença de uma ansiedade antecipatória a um novo ataque a qual se manifesta de forma bastante semelhante a um quadro de ansiedade generalizada. Como sintomas associados a um quadro de ataque de pânico, os pacientes apresentam com frequência sintomas depressivos, podendo ser seguidos ou coexistirem. Neste caso, devemos sempre ligar o alerta quanto ao risco de suicídio. Isso porque esses pacientes apresentam um risco maior. Além disso, devemos sempre considerar as consequências psicossociais que envolvem o transtorno do pânico. São elas: discórdia conjugal, tempo perdido no trabalho, dificuldades financeiras, perda do trabalho, abuso de álcool e outras substâncias. O transtorno de pânico é uma doença recorrente ou crônica na maioria dos casos, reduzindo a qualidade de vida e a função dos pacientes afetados e de suas famílias. DIAGNÓSTICO Um exame psiquiátrico completo, incluindo um histórico médico, exame físico e neurológico completo e testes de laboratório padrão (testes de função da tireoide, hemograma completo e um painel químico) são necessários para descartar as causas orgânicas dos sintomas e estabelecer um diagnóstico preciso de transtorno do pânico. Uma avaliação completa também pode tranquilizar os pacientes preocupados com as implicações médicas de seus sintomas. Testes adicionais (por exemplo, um eletrocardiograma ou monitoramento Holter) podem ser indicados com base na idade, família e histórico médico. Devem ser obtidas informações sobre o estresse da vida atual, separações, mortes recentes, preocupações e medos do paciente, problemas interpessoais, abuso recente de substâncias e uso de medicamentos. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: Nota: O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso. 1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese. 3. Tremores ou abalos. 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensações de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG 13. Medo de morrer. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: 1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco,“enlouquecer”). 2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas) 5. COMPREENDER A TAG, SUA ETIOLOGIA (FATORES DESENCADEANTES), EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO. O transtorno de ansiedade generalizada é, dentre os transtornos de ansiedade, o mais comum de observarmos na atenção primária. Ele consiste em uma preocupação excessiva e abrangente, acompanhada por uma gama de sintomas somáticos (tensão muscular, irritabilidade, dificuldade para dormir e inquietação), cursando com comprometimento significativo funcional sócio-ocupacional ou acentuando seu sofrimento. Vale lembrar que a ansiedade apresenta um caráter flutuante, mas para se considerar um transtorno generalizado, o sintoma deve estar presente na maioria do tempo durante o período de pelo menos seis meses. EPIDEMIOLOGIA Como dito acima, o transtorno de ansiedade generalizada é bastante comum, apresentando uma proporção maior em mulheres quando comparada com os homens (2:1). Normalmente, o transtorno inicia na adolescência ou no início da vida adulta, tendo como idade média os 20 anos. O TAG apresenta uma probabilidade maior de coexistir com outro transtorno mental. Dados mostram que cerca de 50-90% dos pacientes com TAG apresentam outro transtorno, sendo o transtorno do pânico o principal associado com tal condição. Aqui devemos estar atentos para as diferenças entre TAG e transtorno do pânico, sendo que o TAG não apresenta ataques espontâneos. Além disso, podemos observar uma correlação com transtorno depressivo maior. ETIOLOGIA A causa base para o TAG é desconhecida. Tal transtorno como podemos ver se manifesta de forma bastante heterogênea nas pessoas. Isso pode ser justificado pela questão de a ansiedade ser um sentimento natural e adaptativo do ser humano o que se torna difícil distinguir o que é normal e o que é patológico em muitos casos. Os neurotransmissores envolvidos na fisiopatologia do TAG são o GABA e a serotonina. O envolvimento desses neurotransmissores se dá através dos testes clínicos com benzodiazepínicos e antidepressivos para o tratamento dessa condição. Ainda não temos um estudo claro que aponte de forma detalhada seu envolvimento na fisiopatologia. Um estudo de tomografia por emissão de pósitrons (PET) em pacientes com TAG demonstrou um aumento relativo no metabolismo da glicose em partes do occipital, lobo temporal posterior direito, giro inferior, cerebelo e giro frontal direito, e uma diminuição absoluta no gânglios da base. Reforçando os critérios diagnósticos: (1) crises com poucos minutos 20-30 min que regride espontaneamente; (2) as crises surgem de forma inesperada; (3) paciente tem que apresentar no mínimo 03 crises em um período de um mês. 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG Quanto aos fatores psicossociais envolvidos no TAG temos a questão cognitivo- comportamental e a psicanalítica. A cognitivo-comportamental diz que o TAG é uma resposta incorreta e imprecisa dos perigos percebidos pelo indivíduo. Desse modo, tal distorção é fruto de uma atenção seletiva aos detalhes negativo do ambiente. A psicanalítica diz que a ansiedade é um sintoma de conflitos inconscientes não resolvidos. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da ansiedade generalizada envolve três principais áreas: (1) tensão motora – tremor, abalos, tensão muscular, inquietação, fadiga e dor; (2) hiperatividade autonômica – palpitação, sensação de asfixia, sudorese, mãos frias e úmidas, dificuldade de deglutir, sensação de nó na garganta; (3) vigilância: impaciência, sobressaltos, sensação de incapacidade, dificuldade de concentração, insônia, irritabilidade, lapsos de memória. DIAGNÓSTICO Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). Nota: Apenas um item é exigido para crianças. 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 6. RECONHECER OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS. Diversas condições médicas e fatores orgânicos não-psiquiátricos podem gerar sintomas e sinais de ansiedade. A suspeita de uma enfermidade médica subjacente ao ataque faz parte do diagnóstico diferencial. DOENÇAS CARDIOVASCULARES As doenças cardiovasculares estão entre os diagnósticos diferenciais mais importantes das crises de pânico. Isso porque, um grande número de doenças cardíacas pode causar os sintomas de crise do pânico, dentre elas: diversos tipos de arritmia e síndrome coronariana aguda. Em geral, pacientes com ataques de pânico secundários a uma condição psiquiátrica não descrevem sua dor torácica com características sugestivas de infarto ou de angina pectoris e são mais jovens; no entanto, as exceções existem, e esses diagnósticos devem estar sempre em mente na hora da avaliação do paciente. HIPERTIREOIDISMO As disfunções da tireóide, em particular o hipertireodismo, podem provocar crises de ansiedade, taquicardia e sudorese. Mesmo depois de constatada alguma disfunção endócrina, os pacientes devem ser encaminhados para avaliação da persistência dos sintomas ansiosos e necessidade de tratamento específico. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG Costuma-se solicitar dosagens de TSH para todos os pacientes que apresentam crises de pânico, em uma primeira avaliação. FEOCROMOCITOMA Os feocromocitomas (tumores das células cromafins do eixo simpatoadrenomedular) podem provocar episódios paroxísticos de hipertensão arterial, cefaléia grave, palpitações, sudorese, alterações vasomotoras, parestesias, ansiedade e dispnéia; Embora sejam de ocorrência rara, os feocromocitomas devem ser lembrados no diagnóstico diferencial, principalmente quando as crises se associarem à cefaléia e à hipertensão. O diagnóstico do feocromocitoma é feito pela determinação das catecolaminas plasmáticas e urinárias e de seus metabólitos. Utilizam-se as dosagens urinárias do ácido vanilmandélico (VMA), das catecolaminas livres (norepinefrina e epinefrina), da metanefrina e da normetanefrina. DISFUNÇÕES VESTIBULARES As disfunções vestibulares devem ser consideradas no diagnóstico diferencial quando prevalecem as queixas de tonturas, vertigens e desorientação. DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS Os efeitos de drogas, desde uso agudo, efeitos colaterais e fenômenos como os da abstinência, também são causas comuns dos ataques de ansiedade. Além disso, muitos pacientes com ansiedade grave ingerem drogas ansiolíticas ou tornam-se dependentes delas, incluindo benzodiazepínicos, sedativos e álcool para alívio dos sintomas. Durante tentativas de descontinuação dessas substâncias e, ocasionalmente, durante seu uso contínuo, a presença de ataque pode ocorrer. Sintomas atípicos e início de ataques de ansiedade após os 45 anos devemchamar a atenção para a possibilidade de ansiedade induzida por substância. 7. ESTUDAR O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO E NÃO MEDICAMENTOSO DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS. Muitas vezes, pacientes com TA resistem em aceitar o diagnóstico de transtorno mental. Uma explicação clara sobre os TA, seus sintomas e tratamento é um passo fundamental. Mudanças de hábitos também podem ser úteis como eliminar o uso de estimulantes (p. ex., cafeína e nicotina) e a prática regular de exercícios. Frequentemente, intervenções psicoterápicas específicas são necessárias. A eficácia da terapia cognitivo comportamental (TCC) foi demonstrada em diversos estudos controlados. Em caso de opção pela terapia farmacológica o primeiro passo é explicar para o paciente o tempo esperado para início dos efeitos terapêuticos dos mesmos que pode variar de 2 a 6 semanas, bem como explicar os efeitos colaterais, a importância da adesão informando que as medicações não podem ser descontinuadas de modo abrupto e que o tratamento irá durar pelo menos um ano com aumento gradual das doses até se encontrar uma dose ótima para o mesmo. TRANSTORNO DO PÂNICO O tratamento medicamentoso do transtorno do pânico se baseia no uso de 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG antidepressivos (ISRS, tricíclicos e IMAOs), bem como o uso de benzodiazepínicos. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são eficientes para o transtorno do pânico. A paroxetina e a sertralina são as drogas utilizadas de primeira linha por serem mais bem toleradas. Tais fármacos induzem um estado de sedação juntamente com o controle do tônus serotoninérgico. A dose terapêutica da paroxetina é de 20mg por dia, aumentando de 5 a 10 mg por dia até chegar ao máximo de 60 mg por dia. Caso a dose máxima seja intolerável, devemos reduzir a dose 10mg por dia. A estratégia com o uso dos benzodiazepínicos consiste em drogas de ação rápida as quais não costumam a causar tolerância ao longo do seu uso. O alprazolan e o clonazepam podem ser utilizados. Seu uso é indicado como primeiro agente durante o transtorno do pânico até que o medicamento serotoninérgico estiver titulado de forma correta. Após 4 a 12 semanas de uso de benzodiazepínicos seu uso deve ser reduzido pouco a pouco ao longo de 4 a 10 semanas. Tal estratégia é a fim de evitar a dependência e comprometimento cognitivo e abuso. Os medicamentos tricíclicos e tetracílicos apresentam uma eficácia considerável na utilização para esse transtorno. Entretanto, eles necessitam de atingir dose máxima durante 8-12 semanas de usos para mostrar seus efeitos. Tais medicamentos não são tão utilizados quanto os ISRSs, porque têm efeitos adversos mais graves nas doses mais altas necessárias para o tratamento eficaz desse transtorno. Os inibidores da monoaminoxidase apresentam o mesmo problema que os tricíclicos implicam em seu uso. Além disso, devemos lembrar que há a necessidade de restrições dietéticas para seu uso. Para os pacientes que deixam de responder a uma classe de medicamentos devemos sempre tentar outra classe. A combinação de ISRS ou um tricíclico e um benzodiazepínico ou de ISRS e lídio pode ser tentada. TAG O tratamento do TAG consiste em uma tomada de decisão que deve levar em consideração qual o plano terapêutico o médico está visando. As classes de fármacos que podem ser utilizadas são: ISRSs, buspirona, venlafaxina, tricíclico, anti- histamínicos e antagonistas beta- adrenérgicos (propranolol). A intervenção medicamentosa pode duras de 06-12 meses, mas em muitos casos é para toda a vida. Isso porque cerca de 25% dos pacientes têm uma recaída no primeiro mês de interrupção do tratamento e cerca de 60-80% dos pacientes apresentam recaída ao longo do ano seguinte. Os benzodiazepínicos podem ser os medicamentos de primeira escolha para o TAG, devido a sua rápida ação ansiolítica. Devemos ficar atentos quanto o risco de tolerância e dependência durante seu uso. A duração de seu uso é de 2-6 semanas, sendo que nas próximas 1-2 semanas sua redução gradativa deve ser realizada antes da interrupção. A buspirona é um agonista parcial dos receptores de serotonina, vem se mostrando eficaz em cerca de 60-80% dos casos de TAG. Sua ação é maior nos sintomas cognitivos em relação aos sintomas somáticos os quais são 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG controlados pelos benzodiazepínicos. A maior desvantagem da buspirona é que seus efeitos terapêuticos só são observados a partir da 2- 3 semana de uso. Tal fato justifica a administração combinada de buspirona com benzodiazepínicos até o aparecimento de seus efeitos. Após isso, o BDZ pode ser retirado. A velafaxina por ser um medicamento dual apresenta a capacidade de interferir nas três aminas biogênicas (serotonina, norepinefrina e dopamina). Desse modo, seu uso pode ser benéfico quanto aos sintomas somáticos evidenciados no TAG. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são ótimos também para o tratamento do TAG. Nesta classe, destacam- se a sertralina, citalopram ou paroxetina. 8. IDENTIFICAR AS EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS E SEU ENCAMINHAMENTO NO ÂMBITO DO SUS EM SEUS DIVERSOS NÍVEIS (RESSALTANDO O MANEJO DO TRANSTORNO DO PÂNICO). As emergências psiquiátricas consistem em situações de risco iminente para o paciente ou outrem, causadas por transtornos psiquiátricos ou crise psicológica. Exigem a intervenção imediata da equipe de emergência. ABORDAGEM INICIAL Estabilização do quadro clínico; • Hipóteses diagnósticas; • Exclusão de causa orgânica ou condição médica que esteja exacerbando condições psiquiátricas ou mimetizando as mesmas; • Encaminhamento adequado do paciente. AGITAÇÃO PSICOMOTORA Define-se como estado de agitação física e psíquica, com inquietação, movimentação excessiva, reatividade aumentada e estímulos externos e por vezes agressividade verbal ou física. A agitação psicomotora é uma forma de apresentação clínica de diversos transtornos mentais, destacando-se a esquizofrenia, o transtorno bipolar e a demência. Porém, sintomas de agressividade e violência podem variar desde comportamento ameaçador até agitação psíquica e motora, podendo ser vistos não só em pacientes com esses diagnósticos, mas também em indivíduos com quadros orgânicos, (p. ex., traumatismo craniano, infecções cerebrais, doenças metabólicas, intoxicação por drogas, etc.; bem como em casos de transtornos de personalidade como transtorno da personalidade borderline e anti-social), retardo mental e abuso de substâncias (drogas e/ou álcool). Quadros de agitação podem ser causados por inúmeras razoes, desde hipóxia obstrutiva passando por crise emocional ou até mesmo a reagudização de um quadro psicótico. Nesses casos, deve-se primeiramente avaliar o risco de agressividade física na situação, a fim de proteger a equipe e o próprio paciente. A avaliação de um paciente violento pode ser difícil devido à falta de uma história médica e psiquiátrica e à falta de cooperação do paciente. O médico que atende na emergência psiquiátrica deve tomar decisões rápidas e efetivas e ter como prioridades: (1) estabelecer se os sintomas do paciente são causados ou exacerbados por uma doença médica, (2) avaliar e tratar alguma situação que precise de intervenção rápida e (3) determinar se o paciente está intoxicado. Entre as medidas tomadas no atendimento do paciente agitado temos: intervenção 11 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG verbal (76%), medicação voluntária (65%), medicação de emergência (sem consentimento) (45%), oferecimento de comida, bebida e outros cuidados assistenciais (39%), contenção física (27%) e reclusão (23%). Existem basicamente duas formas de abordagem: medidasnão-coercivas e medidas de contenção. A primeira abordagem terapêutica do paciente agitado geralmente envolve a intervenção verbal, com a equipe aparentando calma no controle da situação, demonstrando empatia, interesse no bem-estar do paciente e assegurando que o paciente está protegido de danos. Se a intervenção inicial não for suficiente e a agitação do paciente tornar-se mais grave, torna-se necessária uma outra abordagem imediata, de contenção, para assegurar a proteção dele e dos outros, assegurando-se a continuação de uma boa relação interpessoal. Manejo farmacológico O objetivo imediato do manejo farmacológico da agitação psicomotora aguda é o controle comportamental, e não diretamente a sedação, que pode ser considerada objetivo secundário. Tradicionalmente, esta também é chamada de tranqüilização rápida, sendo empregadas três classes de medicação: antipsicóticos típicos, benzodiazepínicos e, mais recentemente, antipsicóticos atípicos. ANTIPSICÓTICOS TÍPICOS São classicamente usados para o tratamento da agitação em pacientes psiquiátricos. Os mais bem avaliados são: Haloperidol – Um dos antipsicóticos mais frequentemente administrado para o tratamento da agitação aguda e com melhor evidência de eficácia. Pode ser administrado por via oral (VO) ou intramuscular (IM). Quando administrado IM, a droga tem um início de ação entre 30 a 60 minutos, uma meia-vida de eliminação de 12 até 36 horas, e duração de efeito de até 24 horas. É usualmente aplicado 5 mg IM, repetindo se necessário até a dose máxima de 50 mg/dia. Clorpromazina – Um estudo que comparou a ação da clorpromazina IM (50 mg) e do haloperidol IM (5 mg) mostrou que ambos possuem eficácia equivalente. No entanto, a clorpromazina apresenta importantes efeitos anticolinérgicos, o que deve ser considerado em especial nos casos de delirium e em pacientes idosos. ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS Surgiram mais recentemente como alternativas aos típicos. Existe a evidência de que esses agentes são eficazes em reduzir agitação, são melhor tolerados e apresentam um número menor de efeitos adversos, o que os torna agentes de primeira escolha. Risperidona – Possui alta afinidade por receptores dopaminérgicos e serotoninérgicos. A risperidona (2 mg VO), combinada com o lorazepam (2mg), mostrou-se comparável à combinação de haloperidol (5 mg) e lorazepam (2 mg) para o manejo agudo da agitação em pacientes psicóticos. BENZODIAZEPÍNICOS Existem evidências sugerindo que, no contexto de agitação, os benzodiazepínicos são tão efetivos quanto o haloperidol, ou até mesmo superiores a essa medicação no tratamento de agitação por quadro psicótico e maníaco. Entre os benzodiazepínicos, o lorazepam é geralmente a escolha mais comum para uso na agitação. É o único com absorção rápida e completa por via IM, possuindo uma meia- vida de eliminação de 12 a 15 horas e um tempo de ação de 8 a 10 horas. 12 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG ANSIEDADE AGUDA: ATAQUES DE PÂNICO Os ataques ou crises de pânico são a apresentação típica dos estados agudos de ansiedade e caracterizam-se por um período distinto de intenso medo e desconforto, acompanhado por mal-estar com sintomas oriundos de diversos sistemas do organismo e por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente e um anseio por escapar. Ataques de pânico: medo ou mal-estar intenso, acompanhado de sintomas físicos e cognitivos que iniciam de forma brusca e alcançam intensidade máxima em até 10 minutos. São sinônimos de ataques de pânico: crises de pânico e crises ou ataques de ansiedade. Transtorno de pânico: caracterizado pela presença de ataques de pânico recorrentes, espontâneos (imprevisíveis, ocorrendo em qualquer situação), seguidos, por pelo menos um mês, de preocupações persistentes acerca de ter um novo ataque, das implicações que um ataque pode causar ou de uma mudança de comportamento relacionada a eles. AVALIAÇÃO DO PACIENTE Os ataques de pânico podem ser secundários a uma condição clínica (p. ex., hipertireoidismo e feocromocitoma), ao uso ou abstinência de substâncias (p. ex., abuso de cocaína e abstinência de álcool), a transtornos de ansiedade e a outros transtornos psiquiátricos. Num primeiro momento, diante do desafio diagnóstico que um ataque de pânico pode se tornar, é indispensável a avaliação de doenças clínicas que possam causar ataques de ansiedade. O abuso de estimulantes e a abstinência de depressores do SNC devem ser avaliados na anamnese como possíveis responsáveis pelos ataques. Uma história detalhada sobre as medicações e as drogas em uso pelo paciente deve ser obtida, especialmente história de consumo de álcool, cafeína, cocaína, nicotina, broncodilatadores e hipnóticos-sedativos. Caso o ataque não possa ser melhor explicado por nenhuma condição clínica ou por uso ou abstinência de substâncias, deve- se proceder à investigação diagnóstica para transtornos psiquiátricos, com atenção especial para os transtornos de ansiedade e especialmente para o transtorno de pânico. MANEJO O manejo emergencial dos ataques de pânico inclui esforços rápidos para diminuir o grau de ansiedade. Diversas medidas podem ser eficazes, mas deve-se começar geralmente com medidas de apoio e comportamentais antes de iniciar alguma medicação contra a ansiedade. TRANQÜILIZAÇÃO Informar ao paciente que os sintomas são decorrentes de um ataque de ansiedade e não têm relação com uma condição orgânica grave (caso o ataque seja proveniente de um transtorno psiquiátrico). Reforçar que a crise é realmente intensa, muito desagradável e causa um mal-estar muito forte e que isso ocorre com um número significativo de pessoas. Informar que a crise é passageira e deve durar de 10 a 30 minutos. Em virtude da intensidade da crise, da duração prolongada ou do caráter dos sintomas apresentados (superior a 30 a 45 min), pode-se fazer uso de psicofármacos. Os benzodiazepínicos de ação curta são a primeira escolha nesses casos. 13 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG Deve-se lembrar que o atendimento nos serviços de emergência não é o melhor momento para tratar o transtorno de pânico ou outros transtornos psiquiátricos, caso se trate dessas condições. No entanto, depois que a crise cessa, deve-se explicar ao paciente que há tratamento e controle para esses transtornos. RISCO DE SUICIDIO Pacientes que tentaram suicídio ou que manifestem ideias ou planejamento nesse sentido provocam grande insegurança na equipe médica do pronto-socorro. Sentimentos como impotência, rejeição e até mesmo raiva dificultam a correta avaliação e condução do caso pelo responsável. Nesse contexto, um dos principais riscos é o de subestimar a gravidade do quadro. Ao contrário do que se imagina, perguntar a respeito de ideação ou tentativa de suicídio não induz o paciente a fazê-lo. Desde que feito de forma compreensiva e franca, esse questionamento pode até estreitar o vínculo com o paciente, que se sente acolhido por alguém interessado na extensão de seu sofrimento. A avaliação de risco de suicídio deve ocorrer após a compensação clínica do paciente, quando necessária para suporte básico à vida nos casos de tentativa de suicídio. A entrevista com o paciente e/ou familiares e responsáveis é o principal instrumento de que dispõe o clínico para avaliar um paciente suicida. Qualquer paciente que tenha tentado suicídio, verbalizado pensamentos ou planejamento suicida, ou até mesmo agido de forma que sugira desejo de morrer, apesar de negá-lo, merece uma avaliação cuidadosa nesse sentido. A escolha do contexto mais apropriado para o tratamento ocorre depois que o psiquiatra avalia as condições clínicas do paciente, incluindotranstornos e sintomas psiquiátricos específicos, gravidade dos sintomas, nível de funcionamento, sistema de apoio disponível e atividades que dão ao paciente uma razão para viver. A escolha da forma de tratamento, portanto, não dependerá somente da estimativa do risco de suicídio, mas também do equilíbrio dos fatores discutidos anteriormente. Conforme o modelo de atenção pública vigente no Brasil (Sistema Único de Saúde – SUS), o profissional tem, basicamente, três opções de encaminhamento para o paciente com comportamento suicida: a) internação hospitalar; b) atendimento em centros de referência, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou c) atendimento ambulatorial comum. A hospitalização sempre deve ser considerada uma intervenção possível quando a segurança do paciente estiver em questão, mas não deve ser tida como absoluta em qualquer situação de risco de suicídio. É importante lembrar que a hospitalização, por si só, não é um tratamento, mas um regime que pode facilitar a avaliação e o tratamento do indivíduo com comportamento suicida; INTOXICAÇÃO E ABSTINÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS A intoxicação é caracterizada por uma síndrome reversível devido à ingestão/utilização de determinada substância e ocorre durante ou após o uso da mesma. O termo abstinência denomina alterações que ocorrem após interrupção ou redução do uso de determinada substância. 14 Marcela Oliveira – Medicina 2021 UNIFG Sedativos: como exemplo temos os hipnóticos, sedativos e álcool, que cursam com sintomas de depressão sensorial em caso de intoxicação e sintomas extravagantes como ansiedade, tremores, taquicardia, taquipneia e insônia, no caso de abstinência. Estimulantes: como exemplo as drogas como cocaína e anfetaminas que cursam com psicose e ansiedade em casos de intoxicação e depressão se abstinência. TRANSTORNO POR USO DO ÁLCOOL A intoxicação é característica com os sintomas de sonolência, dificuldade de realização de movimentos simples como caminhar, bem como para se equilibrar, prejuízos da cognição como raciocínio e também dos reflexos. A abstinência por uso de álcool ocorre cerca de 4 a 12 horas após a utilização, dentre os sintomas destacam-se: hiperatividade autonômica, tremor, insônia, náuseas e vômitos, alucinações ou ilusões visuais, táteis e auditivas, ansiedade e convulsões tônico-clônicas generalizadas. O tratamento medicamentoso tem efeitos positivos com uso de benzodiazepínicos – diazepam 10mg (evita convulsões) + tiamina 100mg IM, ao contrário de outras situações como delirium. DROGAS SEDATIVAS, HIPNÓTICOS E ANSIOLÍTICOS A intoxicação ocorre, em geral, nos indivíduos com histórico de uso crônico, podendo ter tido indicação inicial médica formal, mas que acabou gerando um vício por diversos fatores como estresse emocional, fragilidade emocional, traumas e outros. A identificação da intoxicação é realizada pelos sintomas de fala arrastada, incoordenação motora e na realização de movimentos finos, instabilidade na marcha, nistagmo, prejuízo em funções cognitivas como atenção e memória, estupor ou coma. A abstinência é marcada pelos sintomas positivos ou ansiosos. Medicamentos comumente utilizados são benzodiazepínicos, carbamatos e barbitúricos.
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