Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 O SABER EMPREENDEDOR DOCENTE Dr. Antonio Carlos Teixeira Liberato Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) INTRODUÇÃO Num tempo em que a cultura escolar não vem correspondendo à linguagem e às mais variadas formas de expressão dos jovens dessa nova Era, o britânico Sir Ken Robinson (2016), convidado pelo governo da Inglaterra para liderar a comissão destinada a repensar o currículo e os rumos do ensino naquele país, afirmou que as transformações tecnológicas trouxeram significativos benefícios a humanidade, mas ainda não foram capazes de produzir grandes transformações na escola, considerando os métodos de ensino praticados ainda hoje. Robinson chamou atenção para as propostas pedagógicas da atualidade que negligenciam as habilidades das crianças e a falta de estimulo a criatividade que afloram na mais tenra idade. Teceu severas críticas a formação docente ao privilegiar conteúdos que jamais serão úteis para lidar com o cotidiano da vida e do futuro, de uma forma mais prática e inventiva. Cabe salientar que essas críticas ao tradicionalismo do sistema escolar, não vem de hoje. Para não ir muito longe, convém destacar o americano, filósofo e professor Jonh Dewey (1859 - 1952) considerado o expoente da aprendizagem pela experiência, que influenciou o pensamento educacional no século XX. Dewey, criticava severamente a imposição vertical e metódica do sistema escolar que inibia a participação ativa dos alunos ao preestabelecer padrões rígidos de comportamento, desproporcionais ao desenvolvimento e maturidade infantil, sem levar em conta as características e experiências pessoais. De forma inédita e com muita ousadia, implantou um modelo de escola, conectada com a vida prática, baseada na ação e na aprendizagem, por meio da experiência, adaptada a vida real e não alheia a ela, já que as transformações na sua época, também vinham ocorrendo em grande velocidade. No Brasil, a reforma do Ensino Médio, que começou a ser delineada desde a década de 1990 e aprovada pelo Senado Federal em fevereiro de 2017 também expressa em linhas gerais, essa ânsia pela ruptura, na busca de um novo modelo de ensino capaz 2 de atender aos desafios do novo milênio; de uma nova escola inclusiva, que não discrimine e que amplie as ofertas formativas, de forma a motivar o estudante a frequentá-la e aprender mais coisas além dos conteúdos prescritivos das disciplinas, mesmo estando claro que essa escola já não existe isoladamente, e certamente, não será por meio dela que se promoverá a transformação da sociedade, uma vez que já não é a primeira fonte de conhecimento, às vezes, nem mesmo a principal (POZO; POSTIGO, 2000). Nesse contexto desafiante, quando direcionamos a nossa atenção para a prática pedagógica, observamos que a formação docente vem sendo objeto de amplo debate em todo o mundo. Que professor formar para essa escola, frente desafios de hoje e do futuro? As perspectivas teóricas que orientam a formação docente na atualidade, presente nas obras de Ramalho, Nuñes e Gaulthier (2003) enfatizam que “não é possível continuar formando especialistas de perfil estreito, limitado em suas possibilidades profissionais atuais no qual se fragmenta e fragiliza a condição do professor como profissional”. Para eles, a ação pedagógica não deve se limitar apenas a sala de aula, deve extrapolar os muros da escola, na busca de trilhas e estímulos que contribuam para que os estudantes desenvolvam a imaginação criadora aprendendo pela experiência e de forma transversal, conceitos sociais, econômicos, políticos e emancipatórios com o envolvimento de outros professores, alunos, pais e a comunidade escolar. Essa proposição também é defendida por autores como Schulman (1998), Sarramona (2007), Perrenoud (2000), Alcoforado (2001). Em síntese, na percepção desses autores conclui-se que a formação do professor da escola do Século XXI deve ser repensada, e considerando a rapidez, volatilidade e incerteza do mundo do trabalho, emerge a necessidade de incluir nos programas de formação docente, conteúdos holísticos, transdisciplinares, contextualizados com o presente e as perspectivas do futuro, dentre eles, os princípios de uma educação empreendedora. A contextualização realizada até aqui, envolvendo os dilemas que incidem sobre a educação, o ensino e a formação docente buscou introduzir o leitor no artigo que apresentaremos a seguir, cujo propósito é divulgar os resultados do Projeto de tese de doutorado que buscou investigar as possíveis contribuições do empreendedorismo para o desenvolvimento profissional docente. 3 O ponto de partida surgiu das investigações relativas ao desenvolvimento do Projeto DESPERTAR – Empreendedorismo na Escola, concebido em 2003 pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (SEBRAE-RN)1, e que vem sendo implementado até os dias de hoje através de uma exitosa parceria com o Governo do Estado, através da Secretaria de Educação e Cultura (SEEC). Entre os anos de 2003 a 2014 tal iniciativa já introduziu e capacitou 523 professores e 26.316 estudantes de ensino médio, na temática do empreendedorismo. O sentido de conceber um Projeto de educação empreendedora voltado para estudantes do Ensino Médio da rede pública, partiu do interesse mútuo e estratégico das duas instituições: de um lado o Governo do Estado, através da Secretaria de Educação com o desafio de reverter as altas taxas de abandono e desinteresse dos estudantes pela escola, e o outro, o propósito do SEBRAE em privilegiar esse potencial segmento do universo escolar, ás portas do mercado de trabalho e na maioria das vezes, sem nenhuma perspectiva em relação ao seu futuro profissional. Portanto, o problema central da pesquisa situa-se em torno do papel que a educação empreendedora exerce na prática de professores do Ensino Médio de algumas escolas públicas do Rio Grande do Norte, participantes do Projeto Despertar. Partimos do pressuposto de que os professores, após a participação no respectivo projeto, desenvolvem um conjunto de novos saberes que passam a ser incorporados às suas práticas educativas. Esses novos saberes e a transposição para a prática docente e vida pessoal, foram evidenciados pelos professores formadores em reuniões, encontros informais, relatos de experiências em sala de aula ou descritos em relatórios, porém não validados por meio de pesquisa científica. Face a essas evidencias, a pesquisa buscou identificar e analisar de uma forma mais profunda os dados, relatos e experiências de professores com o intuito de validá- los e assim contribuir para possíveis encaminhamentos de propostas educacionais de formação e profissionalização docente. Na Primeira Parte desse artigo intitulado “Empreendedorismo e Educação: fins e implicações pedagógicas”, faremos uma breve explanação sobre a inter-relação do 1 O SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, trabalha desde 1972 pelo desenvolvimento sustentável das empresas de pequeno porte. Para isso, a entidade promove cursos de capacitação, facilita o acesso a serviços financeiros, estimula a cooperação entre as empresas, organiza feiras e rodadas de negócios e incentiva o desenvolvimento de atividades que contribuam para a geração de emprego, renda e a disseminação da cultura empreendedora. 4 empreendedorismo com a educação e o ensino, e a apresentação do Projeto Despertar. A Segunda e última parte, intitulada “O Saber Empreendedor na prática docente” apresenta-se o percurso metodológico adotado na pesquisa e os caminhos percorridos para a identificação e validação dos dados. Concluímos apresentando os resultados do estudo que se expressa através das três macros categorias que compõe o “Saber Empreendedor Docente”, (1) DimensãoPessoal, (2) Dimensão Pedagógica e (3) Dimensão Sociopolítica e as suas respectivas subcategorias. Constatou-se que o conhecimento adquirido pelos professores através dos fundamentos do empreendedorismo, quando somados as suas experiências de sala de aula e vivências, mobilizam uma série de elementos psicológicos de natureza afetiva e atitudinal que se unem, compondo um conjunto de novos saberes que passam a ser incorporados a prática pedagógica e a vida pessoal dos docentes participantes da pesquisa. PRIMEIRA PARTE: EMPREENDEDORISMO E EDUCAÇÃO: FINS E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS 1.1. O ENCONTRO DO EMPREENDEDORISMO COM A EDUCAÇÃO A inserção da educação empreendedora no ensino brasileiro é recente, assim como as publicações e pesquisas envolvendo esse campo do conhecimento, já que a temática só passou a ter uma maior abrangência no país a partir da década de 20002. Trata- se, portanto, de um campo de pesquisa novo que tem crescido muito rapidamente no mundo inteiro e desenvolvido uma forte base empírica, teórica e de aplicabilidade prática bastante expressiva. Porém até a conclusão dessa pesquisa, ainda não haviam evidencias cientificas que fundamentassem esse conhecimento. Existe uma polissemia envolvendo o conceito de Empreendedorismo. Apesar de algumas características identificadas se repetirem com frequência, a soma de todas as que 2 A maioria das pesquisas e publicações sobre empreendedorismo no Brasil e no Mundo estão relacionadas a gestão de pequenas empresas, estudos de caso ou ao perfil do empreendedor e sua contribuição para a economia e sociedade. 5 foram levantadas até hoje é ampla, diferenciada e inconclusa. É possível sintetizar que o conceito de empreendedorismo pressupõe mudança, inovação e realização do indivíduo por meio de atitudes de inquietação, liderança, ousadia e pro atividade na sua relação com o mundo (LIBERATO, 2003). É no final da Modernidade (século XVII) que identificamos os primeiros registros que tratam do tema “Empreendedorismo”. Coincidentemente, esse período representou (e ainda representa) para a história da educação um importante significado, visto que foi nesse século que o homem passou a questionar a vida e a buscar na sua própria existência explicações sobre ela, e, na educação, a possibilidade de construção do próprio homem. Suas experiências de vida individual, intelectual e social passaram a ser desvinculadas da religiosidade. Os primeiros registros sobre esse tema datam o ano de 1725, e foram descritos pelos economistas Richard Cantillon (1680-1734) e Jean-Baptiste Say (1767-1832). Quando aprofundamos a análise sobre as concepções de empreendedor descritas por Cantillon e Say, encontramos um traço comum entre esses dois grandes referenciais do empreendedorismo: ambos consideravam os empreendedores como pessoas que corriam riscos, ou seja, aproveitavam as oportunidades na perspectiva de ganhar mais do que investiu, porém, teriam que que ter iniciativa, criatividade e uma boa dose de coragem para enfrentar as incertezas inerentes ao contexto empresarial. Na segunda metade do Século XIX, na América do Norte e alguns países da Europa, as críticas a Instituição escolar e ao seu modelo predominantemente linear de ensino e aprendizagem intensificam-se. O mercado de trabalho e a classe empresarial americana passam a exigir a formação de um novo profissional, com um perfil polivalente e multiabilitado para fazer frente às demandas de um mercado cada vez mais heterogêneo, e, por extensão, de uma escola também heterogênea, global, sujeita a uma demanda tão diversificada quanto forem as necessidades cognitivas e comportamentais exigidas pelo sistema produtivo. É em meio a esse processo que se origina o “embrião” do ensino do empreendedorismo, concebido nas faculdades americanas de administração de empresas, mais precisamente, em 1947 na Havard Business Scholl, pelo advogado e professor dessa renomada instituição, Myles Mace (1911 – 1988) que criou e aplicou um curso 6 denominado “A Gerência de novas empresas”. Tal curso se mantém até hoje e é considerado o alicerce de um amplo programa de gestão empresarial da Universidade. Ao avançarmos para o ano 2000, face as novas lógicas do mercado e seus arranjos produtivos, novamente observa-se uma significativa pressão sobre a escola e sobretudo as Instituições de Ensino Superior, que passam a ser cada vez mais questionadas quanto ao seu papel formativo, consequência das altas taxas de desemprego em nível mundial. Para fazer frente a essa realidade, era preciso que os países Membros investissem em políticas e programas voltados a reduzir o desemprego juvenil; o jovem passa a ser visto, portanto, como personagem principal de iniciativas voltadas ao crescimento econômico. No Brasil, tardiamente, em janeiro de 2012 as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), estabeleceram que toda organização curricular fosse fundamentada na seleção dos conhecimentos, componentes, metodologias e formas de avaliação que privilegiassem a dimensão trabalho-ciência-tecnologia-cultura sendo esse, um eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas, contextualizados em sua dimensão histórica e realidade contemporânea. Assim, o componente trabalho e os princípios do empreendedorismo passam a ser compreendidos como novos aportes teórico-epistemológicos, ganhando destaque especialmente no currículo do Ensino Médio, permitindo que a escola adequasse ao seu projeto pedagógico, tempos e espaços próprios para reflexões e atividades nesse campo ainda pouco explorado. Assim os estudantes teriam condições de conhecer as perspectivas do mundo do trabalho e seguir itinerários formativos opcionais, diversificados, a fim de melhor corresponder aos seus múltiplos interesses e aspirações respeitando as suas especificidades etárias, sociais e culturais. A partir dessa breve retrospectiva, é possível inferir que a história da educação acompanha a história do empreendedorismo e que ambas se relacionam. Compreende-se que há uma conformação do sistema educacional aos preceitos mercadológicos que são históricos, contextualizados no processo de globalização econômica, de reestruturação produtiva, mudanças na natureza do trabalho e articulada pelos vínculos integradores e desintegradores desse processo. 7 1.2. PROJETO DESPERTAR: O PONTO DE PARTIDA A origem e concepção do Projeto Despertar insere-se dentro do contexto social, econômico, político, cultural e tecnológico do Brasil do começo dos anos 2000, marcadamente caracterizado por um processo de reorganização produtiva, quando o país passa a integrar-se ao movimento mais amplo da globalização econômica que se reflete de imediato na educação, sobretudo, no Ensino Médio e nas universidades. Coincide também com o processo de reposicionamento institucional do Sistema SEBRAE, que dentre as novas diretrizes estratégicas de atuação, incluiu a “Disseminação da cultura empreendedora em todos os níveis da educação formal”. O público jovem surge para o Sistema SEBRAE, como um grande foco e a escola como um grande meio de fazer chegar a mensagem do empreendedorismo. Importa ressaltar que que “O pensar do empreendedor” compreendido pelo SEBRAE alia-se ao pensar complexo (MORIN, 2001), capaz de religar os conhecimentos dispersos e de interagir com eles com uma nova postura, um novo olhar que realize o que ele denomina uma aprendizagem cidadã. Ao aproximar-se pela primeira vez da SEEC/RN ( Secretaria de Estado da Educação e da Cultura – SEEC/RN), integrante da Administração Pública Estadual, em 2001, o SEBRAE-RN buscou unir esforços para materializar a elaboração de uma proposta educacional adaptada à realidade do estudante do Ensino Médio da escola pública3, capaz de motivar sua participação egerar resultados efetivos, dentre eles, apresentar ao estudante a atividade empreendedora como uma opção de carreira e alternativa para superar o desemprego. Essa decisão em aproximar-se do estudante da escola pública, além de seguir as diretrizes estratégicas nacionais, partiu da consciência dos dirigentes do SEBRAE-RN e do Governo do Estado de que, privilegiando esse potencial segmento do universo escolar (porém historicamente excluído da produção de bens, serviços e conhecimento), estaria 3 No artigo “Empreendedorismo na escola púbica: despertando competências, promovendo a esperança”,o pesquisador apresenta a experiência da implantação do Projeto DESPERTAR no âmbito das escolas públicas de ensino médio do estado do Rio Grande do Norte. Acesso: http://bis.sebrae.com.br/bis/conteudoPublicacao.zhtml?id=1583. http://bis.sebrae.com.br/bis/conteudoPublicacao.zhtml?id=1583 8 contribuindo para o processo de desenvolvimento social e econômico do estado, especialmente em relação à geração de emprego, renda e inclusão. Lançariam então, uma semente multiplicadora que num curto espaço de tempo, poderia criar raízes e gerar bons frutos. E foi o que aconteceu. Destaca-se no Projeto Despertar, a formação dos professores, que para atuar como multiplicadores da metodologia com os alunos, passavam por um rigoroso programa de capacitação com uma carga horária de 64h.( sessenta e quatro horas), incluindo momentos em sala de aula e fora dela. Nesses momentos formativos, os docentes aprofundavam conhecimentos sobre os fundamentos do empreendedorismo e através de atividades lúdicas, vivenciavam aspectos do comportamento empreendedor, conheciam suas histórias de vida e mantinham contato com empreendedores locais. Em relação a capacitação dos estudantes4, considerando a realidade da escola pública, o programa inovou na sua forma de abordagem, estimulando a autonomia do aluno, indo na direção contrária ao modelo clássico do professor dar aula. O método incentivava a autonomia afastando-se da ideia da imposição5, abrindo espaço para o diálogo e participação. As aulas desenvolviam-se através de “encontros” semanais que ocorriam uma vez por semana, fora do horário regular em um formato completamente diferente do que aluno estava acostumado a participar6. Algumas pesquisas realizadas com alunos e professores ao longo do seu processo de implantação, apontou que as estratégias didáticas contribuíram de forma significativa para compreensão do mundo do trabalho, e para a melhoria da autoestima do aluno. De acordo com os professores, os discentes ao participarem do Despertar tornavam-se mais 4 Outro registro da eficácia do Projeto Despertar, encontra-se no livro organizado pelo pesquisador, que trata das experiências de ex-alunos que tornaram-se empreendedores: “ Projeto Despertar: histórias de alunos empreendedores” http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/E1E738ADCFF0029A8 32577D70047F602/$File/NT00045202.pdf 5 Ao reconhecer que os estudantes poderiam, ou não, se identificar com a abordagem empreendedora, partiu- se do princípio de que a participação do aluno no Projeto Despertar jamais deveria ser “imposta” e sim espontânea. Ou seja, a decisão de participar do Projeto deveria partir do próprio aluno. Esse é, portanto, um dos diferenciais da metodologia, sendo uma condição para o alcance de alguns dos objetivos pedagógicos: autonomia e capacidade de tomar decisões. 6 O método incluía jogos, dinâmicas grupais, exercícios práticos, contatos com empreendedores e pesquisas no comercio local, além de momentos de reflexão, socialização com outros alunos de outras classes/ turnos, promovendo a troca de experiências, o autoconhecimento motivando-o a valorizar os estudos e consequentemente, desenvolver um projeto pessoal para a sua vida. http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/E1E738ADCFF0029A832577D70047F602/$File/NT00045202.pdf http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/E1E738ADCFF0029A832577D70047F602/$File/NT00045202.pdf 9 proativos e motivados em sala, desenvolviam novas atitudes, dentre elas: a persistência, a capacidade de identificar oportunidades, projetar metas planejando-se para realizá-las. Os resultados quantitativos e qualitativos decorrentes dos 10 (dez) anos de gestão da Metodologia pelo SEBRAE-RN repercutiram em outros estados, levando o SEBRAE Nacional, com sede em Brasília, a nacionalizar7 a metodologia no ano de 2013, com o intuito de disponibilizar a experiência para todas as escolas do Brasil, em parceria com Instituições Educativas públicas e privadas. O Projeto Despertar passou por revisão e adaptação de conteúdo para atender a todas as escolas brasileiras sendo intitulado de “Curso Despertar”. Atualmente faz parte do Programa Nacional de Educação Empreendedora do Sistema Sebrae (PNEE)8. SEGUNDA PARTE: O SABER EMPREENDEDOR NA PRÁTICA DOCENTE 2.1. O PERCURSO TEÓRICO E METODOLÓGICO DA PESQUISA O período da pesquisa situou-se entre os anos de 2003 a 2013. Para realizarmos o estudo, optamos pela pesquisa qualitativa de natureza descritivo-compreensiva, considerando a diversidade de aspectos empiricamente analisados pelo pesquisador e o diálogo com os sujeitos, à luz dos elementos do contexto social, político, cultural que envolve a educação, a escola, o aluno e a vida do professor. Além do mais, tal investigação, oportunizou identificar dimensões categóricas relacionadas ao fazer docente e confrontá-las com resultados de alguns estudos prévios, relacionados a personalidade dos empreendedores, o que nos permitiu desenvolver uma análise em profundidade do discurso escrito e oral dos professores, considerando o 7 O termo “nacionalizar” é utilizado pelo Sistema Sebrae quando a metodologia é bem avaliada em um estado ou região, e após sucessivas análises identifica a viabilidade da metodologia ser adaptada e disponibilizada para todas as Unidades estaduais do Sistema. O SEBRAE/NA disponibilizou a metodologia despertar para todos os estados capacitando gestores (funcionários) e multiplicadores (consultores credenciados). 8 Presente em https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/educacao-empreendedora-no- ensino-medio,358aa15d81d36410VgnVCM2000003c74010aRCRD https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/educacao-empreendedora-no-ensino-medio,358aa15d81d36410VgnVCM2000003c74010aRCRD https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/educacao-empreendedora-no-ensino-medio,358aa15d81d36410VgnVCM2000003c74010aRCRD 10 contexto em que esses estão inseridos, as subjetividades e os processos sociais mais amplos que os envolvem. Considerando os objetivos de nossa investigação, buscamos responder a seguinte questão: “Qual a contribuição do Projeto Despertar para a sua vida profissional e pessoal? ” Essa pergunta, dentre outras, feita aos professores faz parte do Relatório de Avaliação da implantação do Projeto na Escola9. Tal Relatório consiste em um instrumento criado pela coordenação estadual para avaliar processo de implantação da metodologia, em um formato padronizado, sendo entregue pelos docentes ao final de cada ano de execução. Os sujeitos da nossa pesquisa foram os professores de Ensino Médio de escolas públicas participantes do Despertar, que elaboraram os respectivos relatórios, oriundos de todas as regiões do estado do Rio Grande do Norte, onde haviam representações da Secretaria Estadual de Educação, parceira do Projeto. Para a análise preliminar dos relatórios foram estabelecidos alguns critérios: (a) contemplar relatórios de professores de todas as regiões do estado administradas pelas 16 (dezesseis) DiretoriasRegionais de Educação (DIRED)10; (b) priorizar relatórios dos professores oriundos de regiões com o maior número de escolas participantes; (c) priorizar relatórios de professores de escolas das regiões mais representativas, ou seja, que se mantiveram no projeto entre os anos de 2003 e 2013, sem interrupções. Considerando os critérios adotados, selecionamos para a análise preliminar um total de 150 (cento e cinquenta) relatórios. Para tratar as informações levantadas, utilizamos predominantemente as técnicas de Análise de Conteúdo (AMADO, 2014; BARDIN, 1977), e num segundo momento, presencialmente entrevistamos alguns professores, utilizando a metodologia da Entrevista Compreensiva (KAUFFMAN,1996; SILVA, 2002). Para sistematizar e consolidar os dados levantados durante o estágio doutoral na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCE-UC) em Portugal, contamos com o suporte do Software MAXQDA 11, uma importante ferramenta de processamento de dados de 9 Ao longo dos 13 anos de existência do Projeto, houve pequenos ajustes no formato do relatório, alguns deles, de caráter estético, para facilitar o relato dos professores de forma mais objetiva e subsidiar a equipe técnica nas avaliações qualitativas desenvolvidas pelo professor. 10 DIRED são as DIRETORIAS REGIONAIS DE EDUCAÇÃO. São gerências (Unidades regionais) que representam a Secretaria de Educação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Cabe a cada DIRED coordenar e administrar as escolas bem como os programas e projetos que estão sob as suas jurisdições. 11 origem alemã, que permitiu uma análise de estabilidade e consistência sobre os critérios de classificação das informações colhidas. Sob o ângulo da investigação científica, a utilização de técnicas diversificadas de recolha de dados nos permitiu fazer “inter-relações”, dialogar com as percepções dos sujeitos da pesquisa e aprofundar a análise dos trechos escritos confrontando-os com os discursos orais dos educadores, captados através de entrevistas satisfazendo assim, os critérios de validade da pesquisa qualitativa. Nessa perspectiva, recorremos aos fundamentos de Mills (1986), quando elucida que é tarefa do pesquisador “juntar o que está fazendo intelectualmente e o que está experimentando como pessoa”. Assim, aliando suas experiências e reflexões cotidianas (trabalho intelectual e vida pessoal), o pesquisador adota a postura de um “artesão intelectual”. Figura 1: Fases da pesquisa – desenho da investigação. Fonte: Acervo pessoal do autor 2.1.1. Coleta e sistematização dos dados A primeira fase consistiu em interrogar os dados colhidos a partir da primeira leitura dos 150 relatórios, denominada de “leitura flutuante”, tendo como objetivo, identificar as possíveis categorias e subcategorias de análise. Optamos assim, por organizar dois conjuntos de respostas à questão principal da pesquisa “Qual a contribuição do Projeto Despertar para a sua vida profissional e pessoal?). Pela sua amplitude, e considerando os nossos objetivos a questão foi fragmentada em dois grandes grupos: 12 a) Conjunto de Respostas 1: Contribuição do Projeto Despertar para a vida Pessoal do Professor (DIMENSÃO PESSOAL); b) Conjunto de Respostas 2: Contribuição do Projeto Despertar para a vida Profissional do Professor (DIMENSÃO PEDAGÓGICA). Ao final dessa fase chegamos ao esboço preliminar do primeiro “Mapa Conceitual”, conforme apresentado Tabela 1: MAPA CONCEITUAL 1 UNIDADE DE CONTEXTO (UC) UNIDADES DE REGISTO (UR) TEMÁTICAS DIMENSÃO PESSOAL Gostar do que faz /Valorização / Auto Estima/ Autoconfiança/Autonomia/Consciência/ Acreditar/Sonhar/Satisfação/Entusiasmo/ Ter metas/ Tomar decisão/Iniciativa Autoconfiança Motivação/Realização /Gostar do que faz/ Despertar de sonhos Ganhos pessoais Visão de mundo /Eficiência/Atitude/Novas perspectivas/ Novas prioridades /Novos desafios/ Identificar oportunidades /Reciclar / Ter entusiasmo/Ser Capaz Autogerenciamento DIMENSÃO PROFISSIONAL Descoberta/ Buscar me aprimorar/ Atualização de conhecimento/ Crescimento profissional/Futuro /Estudar/ Aprimorar conhecimento Ampliação de conhecimentos Inovar na prática/Estimular o aluno/Mudar a aula/Introduzir/Criar coisas novas/ (Re)planejar/ Otimizar/Dar mais atenção/ orientar estimular o aluno Aprimoramento de Estratégias de Ensino Cooperação /Convivência/Ouvir o outro/ Relacionamento/Objetivo comum/Diálogo/ Contatos/Contribuição para a comunidade /Pais /Trabalho em equipe/Família Inter-relacionamento e comunicação/ Responsabilidade social Tabela 1: Mapa Conceitual 1 Fonte: Acervo pessoal do autor 2.1.2. Segunda Fase: Análise dos dados A segunda fase da pesquisa buscou aprofundar a análise sobre os dados coletados na primeira fase, classificando-os para chegar a um quadro teórico referencial de forma a aproximar e fundamentar os trechos escritos com as teorizações de alguns autores que já 13 tínhamos como referência. Teríamos portanto, a sedimentação do arcabouço teórico e metodológico da pesquisa, como recomenda Amado (2014, p. 34): (...) as referências bibliográficas do pesquisador orientam a primeira exploração do material em análise, mas este, por sua vez, pode contribuir com a reformulação ou alargamento das hipóteses da problemática a estudar. Elegemos inicialmente, as duas referências teóricas iniciais do nosso estudo: David McClelland (1961) e os quatro Pilares que fundamentam a educação do futuro, apresentadas em 1996 no Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI (UNESCO, 2006). A opção por McClelland (1961), justifica-se por ter sido Ele, o primeiro a elucidar o empreendedorismo sob a dimensão humana, contribuindo significativamente para as ciências do comportamento, além de ter sido o primeiro a discorrer sobre as Características de Comportamentos Empreendedores (CCE). Por estarmos imersos no campo educacional e transitando por elementos do saber, optamos como segunda referência, pelo Relatório Dellors (UNESCO, 2006), uma vez que tal documento configura-se como um conjunto de diretrizes que norteiam as políticas pedagógicas na atualidade, além congregar em si , elementos de uma proposta educativa inovadora projetada para o futuro, associando-se reciprocamente, aos princípios da educação empreendedora. A decisão por esses dois aportes teóricos, buscou suprir uma lacuna epistemológica, uma vez não identificamos estudos anteriores de autores que tratassem da temática envolvendo formação docente em empreendedorismo. Por essa razão, optamos inicialmente, por desenvolver um estudo associativo, com a perspectiva de integrar as 10 CCE de McClelland (1961) aos quatro Pilares da Educação do Século XXI da UNESCO (2006), contribuindo a construção do segundo Mapa Conceitual apresentado na Tabela 2 14 MAPA CONCEITUAL 2 Unidade de Contexto (UC) Subcategorias Associações Teóricas 10 CCE (McClelland) 4 Pilares da Educação (Dellors) Dimensão Pessoal Autoconfiança INDEPENDÊNCIA E AUTOCONFIANÇA Aprender a Ser Ganhos pessoais PERSISTÊNCIA Autogerenciamento ESTABELECIMENTO DE METAS CORRER RISCOS CALCULADOS Dimensão Pedagógica Ampliação de conhecimentos BUSCA DE INFORMAÇÃO Aprender a conhecer BUSCA DE OPORTUNIDADE E INICIATIVA Aprimoramento de Estratégias de Ensino PLANEJAMENTO E MONITORAMENTO SISTEMATICOS Aprender a fazer EXIGÊNCIA DE QUALIDADE E EFICIÊNCIA Inter-relacionamento e comunicação COMPROMETIMENTO Aprender a conviver PERSUASÃO E REDE DE CONTATOS Tabela 2: Mapa Conceitual 2 Fonte:Acervo pessoal do autor Concluído o segundo Mapa Conceitual, seguindo as orientações da técnica da análise de conteúdo, partimos para o refinamento da análise dos dados, que de acordo com Amado (2014) é compreendido como um “desvendar de sentidos que dá lugar a outros sentidos (interpretativos)”. Já Bardin (1977), define esse momento como um aprimoramento do processo de seleção e análise, recomendando que: (...) quando temos uma grande quantidade de dados, aconselha-se que se prossiga o trabalho apenas sobre uma amostra representativa dos documentos, até se chegar a um sistema de categorias que pareça satisfatório (BARDIN, 1977, p. 318). Seguindo essas recomendações, objetivando refinar a análise do conjunto de 150 relatórios que já tínhamos garimpado, selecionamos uma amostra menor, porém representativa que nos permitiu desenvolver um estudo mais profundo dos trechos. 15 Chegamos então, a um conjunto de 20 (vinte) relatórios. À medida que líamos as respostas dos professores sobre as duas questões norteadoras, grifávamos os trechos mais significativos e refletindo sobre cada um, recortávamos e transferíamos para uma Planilha de sistematização. Essa fase foi concluída com a concepção do terceiro Mapa Conceitual (Tabela 3) o qual, foi aperfeiçoado com a inclusão de novas de subcategorias e temáticas: MAPA CONCEITUAL 3 CATEGORIAS SUBCATEGORIAS TEMÁTICAS DIMENSÃO PESSOAL CONFIANÇA PESSOAL Motivação, valorização pessoal e melhoria da autoestima. Autoconfiança /Acreditar em si. DEFINIÇÃO DE METAS/SUPERAÇÃO DE DESAFIOS Projeção de metas (objetivos) para si e futuro. Superação de medos /desafios. DESCOBERTA DE OPORTUNIDADES Identificação de novas perspectivas além do trabalho docente. REALIZAÇÃO PESSOAL Sentimentos de satisfação, entusiasmo e realização. Conscientização da sua capacidade. DIMENSÃO PEDAGÓGICA INOVAÇÃO E APRIMORAMENTO DA PRÁTICA DE ENSINO Inclusão de novas estratégias didáticas. QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL Valorização do aperfeiçoamento contínuo/ reflexão sobre a sua profissão. Busca de novos conhecimentos TRABALHO EM EQUIPE Valorização da cooperação com outros professores da escola. VALORIZAÇÃO DO ALUNO Valorizar do contato mais próximo com o aluno. Valorização das capacidades individuais dos alunos. VALORIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO Aplicação do planejamento ao seu dia a dia como professor Valorização do “tempo”, na realização de atividades. CONTRIBUIÇÃO PARA A SOCIEDADE Consciência crítica do seu papel para a transformação da sociedade Posicionamento sobre os problemas da sociedade. RELACIONAMENTO FAMILIAR E COMUNITÁRIO Aplicação de princípios empreendedores na relação familiar/comunitária. Tabela 3: Mapa Conceitual 3 Fonte: Acervo pessoal do autor 16 A partir de reflexões sobre o mapa acima, e outros aspectos conceituais, percebemos a necessidade de complementar o estudo. Optamos por “dar voz” aos sujeitos da pesquisa. Ou seja, foi preciso voltar a campo, ir ao encontro dos docentes que escreveram os registros, para ouvi-los e a partir desse contato pessoal, novamente refletir sobre os dados coletados, esclarecer dúvidas e finalmente caminhar na direção da interpretação e escrita da tese. Para subsidiar essa etapa, utilizamos alguns elementos da metodologia da Entrevista Compreensiva. 2.1.2.1. A Entrevista Compreensiva A metodologia da Entrevista Compreensiva (KAUFMANN, 1996; SILVA, 2002, p. 4), se organiza por meio da palavra, ou seja, “toma-se a palavra na sua oralidade através de entrevistas, com o objetivo de interpretar os sentidos, os valores explicitados pelos sujeitos”. Considerando os seus fundamentos, a ida a campo não seguiu o modelo clássico de interrogatório, tampouco permitiu a rigidez do relatório ou questionário. Engajamo-nos na investigação para provocar a participação ativa dos sujeitos através de entrevistas semidiretivas. Essa etapa de “escuta” nos fez refletir novamente sobre cada uma das categorias e subcategorias identificadas nos mapas conceituais, voltar a alguns trechos dos relatórios, para confirmar o que havia sido escrito, complementando assim as informações. Essa fase foi a mais demorada, porém muito rica para o nosso estudo, uma vez que contribuiu para analisar aspectos relacionados à vida profissional do professor que se misturava naturalmente, com os aspectos da vida pessoal (ou vice versa), nos permitindo adentrar um pouco mais no sistema de valores dos docentes e conhecer os dilemas do dia a dia. Essas singularidades nos fizeram compreender que as questões pessoais e profissionais se complementavam, confirmando o que identificamos nos relatórios escritos. Concluímos as entrevistas com algumas constatações, dentre elas a de que os fundamentos do empreendedorismo de fato, mobilizam aspectos emocionais, como a autoestima, a consciência crítica e a iniciativa decorrente dos momentos reflexivos e práticos vivenciados pelos professores. Esta fase também ampliou a nossa compreensão sobre o objeto de estudo contribuindo para a interpretação e escrita final da Tese. 17 2.1.3. Terceira Fase: Revisão e validação dos dados A terceira fase da pesquisa ocorreu entre março e julho de 2015, durante o estágio doutoral do pesquisador na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCE-UC) em Portugal, sob a coorientação do Professor Doutor Joaquim Luis de Medeiros Alcoforado, que contribuiu de forma significativa para a revisão e o desvelar novas perspectivas sobre o objeto de estudo. Este tempo de imersão do pesquisador na FPCE-UC, além de enriquecer o estudo, oportunizou encontros com outros professores, pesquisadores e especialistas, promovendo trocas de conhecimento, o que fez com que a tese ganhasse novos rumos. As categorias e subcategorias identificadas na primeira e segunda fase da pesquisa, passaram por uma nova revisão e a partir de algumas reflexões, procedeu-se a outra averiguação dos dados, tendo em vista o recorte teórico do empreendedorismo com a psicologia da aprendizagem e do comportamento, oportunizando o estudo de novas teorizações de autores desses dois campos do conhecimento, desconhecido pelo pesquisador. A revisão teórica, oportunizou um novo reenquadramento e algumas inferências sobre os dados coletados dentre elas, a inclusão de uma nova categoria, a “Dimensão Sociopolítica” e atrelada a ela, duas subcategorias. Concluímos esta terceira e última fase da pesquisa com a definição do quadro referencial que expressa a composição do “Saber Empreendedor Docente”, organizado em três macro categorias, sendo elas: (1) Dimensão Pessoal; (2) Dimensão Pedagógica e (3) Dimensão Sociopolítica. Associadas as respectivas categorias, agregaram-se um total 11 (onze) subcategorias, conforme representação da figura abaixo. 18 SISTEMA DE CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS CATEGORIAS DIMENSÃO PESSOAL DIMENSÃO PEDAGÓGICA DIMENSÃO SOCIOPOLÍTICA SUBCATEGORIAS Confiança Pessoal Inovação e aprimoramento da prática de ensino Contribuição para a sociedade Definição de Metas e Superação de Desafios Qualificação Profissional Relacionamento familiar e Comunitário Descoberta de Oportunidades Trabalho em Equipe Realização Pessoal Valorização do Aluno Valorização do Planejamento Figura 2: Sistema de Categorias e Subcategorias. Fonte: Acervo pessoal do autor No próximo item apresentaremos os resultados da pesquisa através das categorias e subcategorias expressas no quadro acima. Assim como na escrita da tese, para caracterizar cada categoria/subcategoria, incluímos neste artigo, alguns trechos dos relatórios escritos pelos professores, os quais dialogam com as percepções do pesquisador e as teorizações deautores da área da educação, do empreendedorismo e da psicologia da aprendizagem e do comportamento. 3. ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1. DIMENSÃO PESSOAL DO SABER EMPREENDEDOR DOCENTE 19 A Dimensão Pessoal do saber empreendedor docente, apesar de estar diretamente relacionada às experiências de vida dos professores, difere das “características sincréticas” enunciadas por Tardif (2014), uma vez que estão ligadas a instrumentalidade (ou ao “saber fazer”). A partir do aprofundamento teórico no campo da psicologia da aprendizagem e do comportamento, identificamos que os aspectos da Dimensão Pessoal, estavam associados a fatores da personalidade (ou afetivo emocionais), nos aproximando dos estudos empíricos sobre o desenvolvimento epistemológico na vida adulta. A análise dos dados coletados por meio da leitura dos relatórios e das entrevistas, evidenciou a existência de quatro subcategorias que definem a Dimensão Pessoal do Saber Empreendedor Docente: (1) confiança pessoal; (2) definição de metas e superação de desafios; (3) descoberta de oportunidades e (4) realização pessoal. Gráfico 1: Dimensão pessoal/subcategorias. Fonte: Acervo pessoal do autor 3.1.1. Confiança Pessoal A subcategoria “Confiança Pessoal” (33%) sobressaiu-se como a mais expressiva das subcategorias do grupo Dimensão Pessoal. Veremos a diante, que ela também associa-se a algumas subcategorias das Dimensões Pedagógica e Sociopolítica. Tal subcategoria recebeu essa denominação por expressar a capacidade do docente “de saber- 20 se capaz”, ou “acreditar em si”. Essa consciência de sentirem-se capazes e seguros em tarefas ou atividades que lhes conferem um significado, envolve elementos psicológicos de natureza afetivo-emocional, como a autoestima (ROSEMBERG, 1965; LOVELL, 1979) e autoconfiança (BANDURA,1997; ROGERS, 2001), sendo consideradas elemento chave do agir empreendedor. Através dos conteúdos analisados foi possível observar uma relação associativa que os professores fazem entre autoestima e autoconfiança (ou auto eficácia) aproximando-se de alguns elementos da aprendizagem sócio cognitiva, preconizada por Bandura (1986, 1997). Para esse autor, quando mais forte for a crença do sujeito nas suas competências pessoais, maior será a sua iniciativa para controlar o que fazem e o que lhes acontecem. Por conseguinte, essa conscientização, oportuniza o desenvolvimento da persistência e da resiliência perante as adversidades, como veremos em alguns trechos que serão apresentados a seguir: CC11: “Passei a me conhecer melhor e a valorizar o potencial que tenho, que muitas vezes fica encoberto por pensamentos negativos, como: ‘não posso, não sou capaz’ e nos conhecendo, passamos a nos valorizar mais”; MJ10: “Passamos a não nos permitir ser pessoas passivas; aprendemos a acreditar em nosso potencial. Passamos a nos comportar de forma mais aberta ao novo sempre dispostos a aprendermos e empreendermos”; CPA13: “Foi provocado em mim a consciência de que é preciso ousar e acreditar em mim e nas outras pessoas”; GUEC1 “Melhorei minha autoestima. Me sinto uma pessoa melhor, mais criativa, mais organizada”. Associando os registros escritos e depoimentos presenciais dos professores com as teorizações dos autores supracitados, percebeu-se que os fundamentos da educação empreendedora contribuem para que o docente desenvolva uma visão crítica dos aspectos pessoais e profissionais que envolvem a sua vida, tornando-os mais autoconfiantes. Ou seja, passam a ter consciência das suas limitações, e acreditar nas suas competências pessoais e profissionais. 3.1.2. Definição de metas e superação de desafios Candy (1991) e outros estudiosos da psicologia da aprendizagem, dentre eles Carré (2000), Oddi (1986) consideram que os aspectos motivacionais como, a autonomia 21 e a persistência, têm estreita relação com a formulação de metas ou objetivos pessoais. Estes aspectos estão presentes na maioria dos sujeitos que alcançam um estágio de maturidade vivencial na fase adulta, ou quando detém uma base sólida de conhecimentos e experiências, que lhes proporcionam segurança para prospectar uma meta, julgá-la e persistir no seu alcance. Nos afiliamos aos estudos empíricos de Candy (1991, p. 108) por estarem mais relacionadas a análise da subcategoria “Definição de metas e superação de desafios”. Para esse autor a autonomia é, portanto, a capacidade do sujeito para formular metas, independente de pressões exercidas, manifestar a liberdade de escolha, quer em pensamento, quer em atitudes e exercer sua capacidade de reflexão, sem a necessidade de depender de aprovações externas, evidenciando então a autoconfiança perante desafios. Tal pressuposto pelo angulo da pedagogia crítica, associa-se as teorizações de Rosseau (1973), Dewey (1859-1952) e Paulo Freire (1983) ao enunciaram que a autonomia está relacionada a experiência e a liberdade. A análise dos relatos escritos e as entrevistas individuais com os docentes nos levaram a inferir que assim como nos alunos, a apropriação e a vivência dos princípios do empreendedorismo desencadeiam no professor um processo reflexivo, conferindo-lhes autonomia e iniciativa para estabelecer metas, incorporá-las no seu dia a dia, pensar no futuro e prever possíveis resultados, motivando-os a perseverar no enfrentamento de desafios decorrentes da sua implementação. A seguir concluímos apresentando os registros escritos pelos professores que vieram a caracterizar essa subcategoria: CPA- 15-“Estabeleci novas metas e prioridades para minha vida”; JBB -6: “Mudei certas atitudes, passei a estabelecer metas e buscar novos desafios, mostrando para mim mesma que tudo era possível, dependendo da minha persistência, inovação e criatividade”; JC-7: “Incorporei alguns hábitos (...), traçar estratégias para alcançar objetivos pessoais e familiares. Aprendi a estabelecer prioridades”. 22 3.1.3. Descoberta de oportunidades Ao profundar o nosso entendimento sobre “identificação de oportunidades”, componente que envolve o comportamento empreendedor, tendo como referência os estudos de Shumpeter (1997), Fillion (1999) e Dornellas (2008), buscamos fazer um recorte com as pesquisas de outros autores do campo da psicologia da aprendizagem que também discorreram sobre essa temática, dentre eles Baron (2006), Gaglio e Katz (2001) e Shane (2000). Através da análise dos depoimentos apresentados a seguir, percebemos que alguns professores identificaram oportunidades na região onde vivem e até na capital do RN. Foi possível compreender que os docentes se sentiram estimulados a ingressar em atividades no âmbito técnico educacional e de gestão, consideradas por eles, bem diferentes do dia a dia de uma sala de aula. Num outro grupo, professores identificaram oportunidades em áreas diferentes da sua atuação profissional JC-8: “Passei a ser mais aberto às mudanças e encarar os desafios, como prova disso, atualmente estou ministrando cursos de orientação profissional numa instituição de educação da minha região (...)”; AFS-14: “Busquei novos desafios. Um deles foi me informar sobre o mundo do empreendedorismo para ser palestrante (passei a ser convidado a dar várias palestras sobre empreendedorismo na região); BCS-8: “(...), agora sonho em construir o meu estúdio fotográfico para realizar mais um sonho que pretendo tirar logo do papel e tornar realidade”. Os depoimentos apresentados nos levaram a compreender que a apropriação de conhecimentos e o exercício de vivências e práticas sobre a identificação de oportunidades, contribuíram para que os docentes refletissem e identificassem algo significativo para si, capaz de satisfazê-los enquanto pessoas. Um aspecto importante é que a temática “identificação de oportunidades”, enquanto aporte teórico e vivencial instigou os professoresa refletirem sobre suas vocações e tomarem iniciativa para ingressar em atividades que os realizem, ou que podem suprir algumas necessidades pessoais ou financeiras, além de configurar-se como elemento inovador, dinâmico de aprendizado que poderia ser mais explorado em sala de aula, junto aos alunos. 23 3.1.4. Satisfação e realização Pessoal Na tentativa de conceituar a subcategoria “Realização Pessoal” identificamos nos relatos dos professores uma associação com as teorizações de três grandes autores que abordam a motivação humana, os quais elegemos como referências para esse estudo, sendo eles: David McClelland (1961), Abraham Maslow (1945), Deci & Ryan (2000). Em síntese, os autores corroboram que a formulação e a consequente realização de determinados objetivos de vida, proporciona uma satisfação relativamente direta das necessidades básicas, potencializando níveis de bem-estar (satisfação, realização pessoal, felicidade, prazer). A aproximação com esses pressupostos, foram identificados nos depoimentos a seguir: SF-11 “Com o Projeto DESPERTAR aprendi a ser uma profissional realizada e feliz”; BCS-7 “Despertou em mim sonhos que até agora só me dão satisfação e prazer em minha vida (...) se você tiver Planejamento, Persistência e Paciência tudo se torna maravilhoso na sua vida”. Outros depoimentos expressaram sentimentos de motivação e conscientização da importância do seu papel enquanto educador, JGM-4: “Hoje sou professor, gosto do que faço, e sou um empreendedor”; JC-5: “(...) sinto que estou sendo mais educador, e isso me faz um profissional melhor”; SF-3: “(...) Aprendi a ser uma empreendedora na profissão que escolhi”. Através da análise dos trechos acima, é possível afirmar que a concretização de objetivos ou tarefas significativas desencadeia nos professores sentimentos de satisfação consigo mesmo e o consequente bem-estar. Esse conjunto de variáveis emocionais tem uma relação direta com os postulados dos autores pesquisados, especialmente na abordagem da teoria das necessidades e objetivos (Deci & Ryan, 2000), o que nos levou novamente a inferir que o conhecimento em empreendedorismo adquirido pelos professores somados aos resultados positivos que eles vivenciaram com os alunos, desencadeiam sentimentos de satisfação com a contribuição para com eles. 3.2. A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DO SABER EMPREENDEDOR DOCENTE A categoria Dimensão Pedagógica do saber empreendedor docente, a qual apresentamos em seguida, está fortemente associada as atividades cotidianas do professor 24 caracterizadas por fatores de natureza técnica, envolvendo a sua profissionalidade (saber fazer), como também aos aspectos atitudinais (saber conviver), ambas desenvolvidas ao longo das suas experiências e na carreira. Também identificamos o transversalizar de alguns aspectos da personalidade, já evidenciadas na Dimensão Pessoal, dentre elas, a conscientização e a reflexão crítica, conceitos operativos subjacentes à transformação de perspectivas distintivamente evidenciadas na fase adulta (MEZIROW, 1991). O gráfico a seguir apresenta o conjunto das subcategorias dessa dimensão, onde destaca-se a subcategoria “Inovação e aprimoramento da Prática de Ensino” (27,9%). Em segundo lugar, “Qualificação Profissional” (24,6%) em terceiro, “Valorização do Aluno” (21,3%), em quarto lugar, “Trabalho em Equipe” (16,4%) e em quinto, “Valorização do Planejamento”(9,8%). A seguir apresentaremos uma síntese de cada uma das subcategorias da Dimensão Pedagógica. Gráfico 2: Dimensão pedagógica/subcategorias. Fonte: Acervo pessoal do autor. 3.2.1. Inovação e aprimoramento da prática pedagógica No Brasil, a temática da inovação no campo educacional ainda é recente. Começou a ser debatida com mais relevância a partir da década de 2000, sendo poucas as iniciativas de inovação exitosas, que se tem registro. Porém, o Governo brasileiro, através 25 do Ministério da Educação vem se mostrando sensível em incentivar o desenvolvimento desses processos nas escolas11. A partir dos depoimentos analisados e entrevistas, observamos que os professores evidenciaram de forma muito enfática a inovação. Nas entrelinhas dos trechos escritos e entrevistas, compreendemos que a inovação passa a ser encarada como um componente motivacional, revelando-se como o “algo novo”, que vem inserir-se no seu dia a dia, motivando-os a novas ideias e inclusão de novas estratégias didáticas, na aplicação das suas disciplinas, como evidencia-se nos depoimentos a seguir. CPA-1: “As novas metodologias e estratégias utilizadas durante a formação dos professores e a sua aplicação na sala de aula, mexeram comigo (...) ajudaram a mudar a minha prática e me fizeram aprimorar ainda mais a forma de trabalhar”; JC-2: “Agregou muito a minha prática de sala de aula, hoje eu me comporto muito mais como membro da equipe, e não como o professor. ” MJ-4: “Mudei inclusive a metodologia usada nas aulas regulares, de modo a torná-las mais atraentes, o que rendeu bons resultados”. De acordo com Gimeno e Fernández (1988) nenhuma inovação se faz sem a intervenção do professor. O docente é o agente da inovação e é quem decide em última instancia, o que vai acontecer na sala de aula, tomando decisões cruciais em relação “ao quê” e “como” será ensinado. Pelo que verificamos nos depoimentos, e nos associando às teorizações desse autor, fica claro que é a partir do que o professor aprende e vivencia, que deliberadamente, desperta para a iniciativa em implementar uma inovação. Ou seja, a decisão em promover e inovar não partiu de diretrizes impostas por uma norma, mas através de um processo de conscientização individual; foi uma decisão naturalmente assumida pelos professores, o que vem a reforçar a nossa tese de que o conhecimento adquirido pelos docentes na formação em empreendedorismo e o que eles vivenciaram em sala de aula (e fora dela) estimula a criatividade, a imaginação, assim 11 Destacamos o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) lançado em outubro de 2011, através da portaria nº 971. O PROEMI foi criado com o intuito de provocar o debate e o fomento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de Ensino Médio, disponibilizando apoio técnico e financeiro consoante à disseminação de um currículo dinâmico, flexível e compatível com as exigências da sociedade contemporânea. Através dos eixos constituintes do Ensino Médio (trabalho, ciência, tecnologia e a cultura) procura-se, articular disciplinas com outras atividades integradoras visando estimular a cultura da inovação no ambiente escolar. 26 como, o repensar as suas práticas atuais, e consequente, a decisão de agregar coisas novas. Essa percepção vai de encontro ao que Marcelo (1999, p. 51), enunciou “é na medida que o professor procede a adaptação e (re)construção curricular e o que isso supõe de capacidade investigativa, analítica, reflexiva e deliberativa, que reside o caráter da inovação”. 3.2.2. Qualificação Profissional Ao nos aprofundamos nas teorizações de autores que pesquisam sobre desenvolvimento profissional docente em “cursos de formação”, foi possível compreender através dos estudos de Bell (1991) e Marcelo (1999), que essa modalidade de formação, contribui para que os professores adquiriram novos conhecimentos em menos tempo e com mais recursos, oportunizando reflexões sobre a prática profissional. Tal abordagem associa-se ao que identificamos nos relatos analisados, onde observou-se que os docentes passam a refletir sobre a importância da qualificação contínua. Apresentamos a seguir, alguns trechos para caracterizar essa subcategoria. MGC-EC: “Reforçou em mim a percepção da educação como um desafio constante. Que eu preciso estar me atualizando, me capacitando para lidar com osdesafios constantes e mutantes que é a realidade da sala de aula”; RR-EC: “Deu vontade de aprender mais, de buscar mais conhecimentos. Percebi que o conhecimento é a base”; JC-1: “Me oportunizou adquirir novos conhecimentos, para poder atuar com outras disciplinas diferentes da minha formação acadêmica”. Fica claro pelos exemplos apresentados que os professores passam a valorizar a qualificação e a (re)significá-la, despertando para o fato de que a qualificação é necessária ao domínio de novas competências frente aos desafios do seu trabalho, especialmente no contexto de transformações onde o conhecimento passa a ser considerado fator vital para o crescimento pessoal e profissional. 27 3.2.3. Valorização do Aluno Para Tardif (2014), as inter-relações entre professores e alunos envolve múltiplos fatores de natureza afetiva e não afetiva. Para esse autor, não existe uma relação típica, uniforme e universal, muito pelo contrário, os processos interacionais variam de um professor para outro e depende de múltiplos fatores: idade, nacionalidade e sexo do professor e do aluno, remuneração, condições de trabalho, número de alunos em sala, etc. Tudo isso influencia a convivência e a comunicação entre eles. A partir de alguns trechos analisados, identificamos que os professores se dão conta da importância do seu real papel enquanto educadores, compreendendo a necessidade de se aproximar mais dos alunos, com o intuito de estimular o diálogo e valorizar as suas capacidades individuais com vistas ao desenvolvimento da aprendizagem. CC-3: “Passei a me preocupar em ajudar os alunos a crescerem e terem resultados positivos. Minha responsabilidade aumentou”; JC-3: “Aprendi a dar condições para que os discentes expressem seus pontos de vista, estimulando-os a refletirem sobre os seus atos, colocações e argumentações, como também, promovo o debate para que eles possam rever o que julgarem está errado, ou terem segurança para defenderem o que acreditam”; MJ-2: “Passei a compreender a importância de orientar os alunos a traçar metas e se envolverem com o que estavam estudando, com o projeto e assim me realizar com os resultados”; RC-6: “Quanto aos alunos, instiguei-os a reconhecer seus talentos e potencializá-los, compreender que os desafios existem para serem superados e que a autonomia permite materializar nossos sonhos”. Associando os depoimentos acima com as teorizações de autores que tratam da interação professor/aluno, como Perrenoud (2000), Lessard e Lahaye (1991) e Marcelo (1999) foi possível inferir que os professores têm consciência de que o diálogo e a interação presencial, são fundamentais para estimular a contextualização e a comunicação tão necessárias a aprendizagem. Entretanto, a sobrecarga da agenda e as condições de trabalho na escola desfavorecem essa relação. Como explica Tardif (2014), compreendemos que não se pode responsabilizar totalmente os professores por essa lacuna, uma vez que a natureza da ação docente, também reflexo do atual modelo de organização escolar vigente e das condições de trabalho sob a qual estão submetidos. 28 3.2.4. Trabalho em equipe De acordo com Hargreaves (1999), a docência é uma profissão que se exerce segundo um padrão de trabalho baseado numa cultura profissional individualista e isolada, o que contribui para manter intacto o patrimônio da pedagogia transmissiva, favorecendo o trabalho solitário do professor, sem a partilha do diálogo com os pares, sem o apoio sustentado de um trabalho cooperativo e muitas vezes, sem abertura para apoio externo, impedindo-o de vislumbrar modos alternativos de ensinar. De acordo com os depoimentos analisados e quando ouvimos pessoalmente os professores selecionados, foi possível compreender que as relações sociais (ou de colaboração) entre os docentes não são muito comuns, e em alguns casos, conflituosas. De forma bastante evidente, por meio de expressões como “ouvir o outro”, os docentes destacaram a importância e a necessidade de uma maior interação com outros professores e as consequências dessa lacuna. EV-5: “Amadureci no exercício de ouvir e estimular o outro (...) Só cresci, com resiliência e sempre ouvindo o outro”; JBB-3: “Contribuiu intensamente para a minha convivência com os colegas no trabalho pedagógico”; FMA-1: “Comecei a mudar a minha postura como docente, passei a ter mais calma, ser mais paciente, num sentindo de procurar entender mais o lado do outro; MMJ-4: “Graças aos conhecimentos da educação empreendedora que adquiri, tenho feito um bom trabalho aqui. Me ajudou a realizar o trabalho de coordenação pedagógica, aprendi a gerenciar equipes, lidar com conflitos próprios da educação e da rotina escolar”. A partir dos relatos expressos pelos professores, ficou evidente que eles atribuem significado ao trabalho colaborativo e que a aplicação das atividades da metodologia de educação empreendedora, envolvendo o trabalho em equipe, contribuíram para que refletissem sobre a importância dessa prática na escola. Sendo, para Eles , o trabalho em equipe, capaz de favorecer um clima de apoio mútuo, necessário a mudança organizacional e até mesmo na busca de soluções para problemas comuns. 29 3.2.5. Valorização do Planejamento De acordo com Moretto (2007), Paro (1999) e Luckesi (2007), Menegolla & Sant’Anna (2001) o planejamento ainda é compreendido como uma atividade reguladora, meramente burocrática e teórica, gerando uma série de incompreensões e resistências por parte dos docentes. Observamos nos depoimentos dos professores que o ato de planejar passou a ser valorizado e (re)significado: CGU-EF: “Passei a administrar melhor a aula, meu tempo, meu cronograma, o meu projeto”. RRF-EC: “Passei a planejar as ideias que eu tinha e estavam desorganizas (...)Então passei a me estruturar melhor para aplicação das minhas ideias para os alunos, como também para a minha vida. Aprendi a dar prioridades”. Os professores também evidenciaram os benefícios que as vivencias relacionadas ao planejamento durante a aplicação da metodologia, trouxeram para si, como também para os alunos, CPA-5: “Reforçou em mim a necessidade da administração do tempo, e de ter a visão de futuro”. MJ-2: “Não me detenho em apenas estudar os conteúdos relacionados a cadeira que exerço, eu oriento os alunos a planejarem o seu futuro, a estabelecerem objetivos, traçarem metas, a racionalizarem o seu tempo e eleger prioridades”. JC-3: “Elaborar Planos de Aula ganhou outro sentido porque cada conteúdo precisava ser atraente ao ponto de contagiar cada aluno. Claro que cronometrar atividades foi complicado, mas eu estudava cada aluno e sabia que aquele tempo era o suficiente”. A partir da análise dos depoimentos, correlacionando-os com as teorizações dos autores que tratam da temática do planejamento, foi possível inferir que, apesar do planejamento fazer parte da formação inicial, sendo uma premissa para qualquer ação docente, os sujeitos desse estudo não reconheciam, de forma mais profunda, o sentido e os benefícios do ato de planejar para o seu dia a dia. Constatamos que o planejamento era compreendido por eles de forma superficial, sem a noção da sua dimensão enquanto parte do processo de ensino aprendizagem. Ao participarem do Projeto Despertar, os docentes adquirem uma visão mais holística do planejamento, passando a atribuir um significado instrumental, didático como também sistêmico que os levam a refletir sobre o modo de dar aula, e sobre a própria vida. 30 3.3. A DIMENSÃO SÓCIO POLÍTICA DO SABER EMPREENDEDOR DOCENTE A nossa formação social e educacional molda a personalidade e influencia o modo como tomamos decisões, nos relacionamos com os outros e interpretamos o mundo a nossa volta. Quando analisamos as diversas obras e pesquisas que tratam do comportamento empreendedor, observamos que a ação empreendedoratem uma profunda relação com o ambiente em que o indivíduo vive, articulado com o seu sistema de crenças e valores. É através da congruência desses elementos-chave (contexto social/grupal e personalidade) que o empreendedor reflete, processa as suas ideias e toma a decisões para concretizar a ação, que deixa de ser em princípio individual, e passa a ser coletiva, uma vez que, para torná-la realidade, faz conexões com o contexto em que vive e convive. Essa dinâmica proativa e questionadora com o outro e com mundo, estimula o empreendedor a edificar o seu novo projeto e encontrar a ambiência que necessita para consolidar-se ou recriar-se. Tecemos essa síntese do processo empreendedor, associando-o aos princípios do pensamento de Freireano para apresentar o viés emancipatório e transformador que caracteriza a terceira categoria do Saber Empreendedor Docente - a “Dimensão Sócio Política” -, e suas duas subcategorias (1) “Contribuição para a Sociedade” e (2) “Relacionamento Familiar e Comunitário”, como está expresso no gráfico a seguir. Gráfico 3: Dimensão sócio política /subcategorias. Fonte: Acervo pessoal do autor 31 3.3.1. Contribuição para a sociedade De acordo com Gadotti (1985), embora a escola não seja a única responsável pela transformação da sociedade, é a partir dela que pode-se desenvolver uma nova consciência permitindo a construção de uma nova ordem social; Apesar da escola não ser a única alavanca da transformação, essa transição não se concretizará sem ela (GADOTTI, 1985, p. 73). Tal abordagem é aprofundada e sintetizada por Freire (2000), quando afirma que “a educação é sempre política, não é neutra”. Logo, as escolas, assim como o professor, não devem ficar alheios às transformações, tensões e conflitos em que se inserem. Sobre esse prisma, observou-se nos trechos dos relatos escritos e orais que os professores assumem, mesmo sem ter total consciência, o papel de líderes e que enquanto educadores, sua ação perpassa os muros da escola, ou seja, vai muito mais além da formação individual do estudante. IOB-9: “passamos a nos conscientizar da aquisição mais ampla da responsabilidade individual e coletiva, para com o planeta e a sociedade. (...) passamos a ser agentes de mudanças na sociedade, pois notamos claramente que enquanto indivíduos pertencentes a um meio, somos responsáveis por ele e temos o dever de buscar soluções inovadoras para os problemas sociais sem relegá-los apenas para os setores públicos e/ou privados”; AFS-1: “A partir do momento que vestimos a camisa da educação empreendedora passamos a acreditar no nosso poder de transformação”; MGC-2: Hoje tenho mais discernimento, determinação do que faço e da contribuição que deixo para a sociedade; FMA-7: “À medida que meu aluno cresce, cresço juntamente com ele; AFS- 10: “Conscientizei-me enquanto professor, do meu importante papel na comunidade escolar”; Os aspectos da conscientização do seu papel social, expresso pelos docentes, nos trechos acima, permite inferir que a educação empreendedora contribui para desenvolver (não só nos alunos), mas sobretudo nos docentes, a compreensão e a adaptação á sua prática, dos princípios da liderança, da negociação, da colaboração e da democracia. Implica em dizer que, o corpus de conhecimentos experiências adquiridas, oportuniza o docente a sair de uma zona de conforto (professor mero transmissor de conteúdos), para o professor organizador do conhecimento, na direção de uma educação problematizadora, que respeita a natureza peculiar e a visão de mundo de cada sujeito. 32 3.3.2. Relacionamento familiar e comunitário Na busca de aportes teóricos que respaldassem dos impactos do empreendedorismo junto aos grupos sociais, encontramos nas teorizações de Dolabela (2003) e na pesquisa de Brito e Silva (2010), alguns elementos que, quando confrontados com os depoimentos dos professores, contribuíram para validar os nossos pressupostos sobre subcategoria Relacionamento familiar e comunitário. Para Dolabela (2003), o empreendedorismo é um fenômeno cultural, que se associa aos valores da comunidade, à sua visão de mundo, envolvendo ações dominadas por emoções, valores, necessidades, hábitos e sonhos coletivos do grupo social em que o empreendedor convive, dentre eles, a família e o seu círculo social. Na pesquisa de Brito e Silva (2013) que buscou analisar as relações de empreendedores com o trabalho e a família, os resultados apontaram que a sinergia proporcionada por um conjunto de fatores - identidade social, tempo, compatibilidade, interesses, confiança e diálogo - , mediados pela informação e o conhecimento apreendidos pelo empreendedor no dia a dia do trabalho, passam a ser disseminados para outros domínios do seu campo de ação, dentre eles, o grupo familiar e social, oportunizando sentimentos de confiança, eficiência e a geração de novas ideias. Pelos trechos dos depoimentos analisados e entrevistas com os professores, foi possível identificar que ao se apropriarem de informações e conhecimentos adquiridos em empreendedorismo, estes são transferidos para o grupo familiar e social, contribuindo para a busca de soluções e resolução de dilemas individuais e/ou comuns. IOB-1: “Tomamos consciência de nosso potencial, (...) posso destacar melhorias significativas, a exemplo da busca do desenvolvimento e fortalecimento das relações com pessoas da comunidade (...) Passamos também a ampliar nossa rede de contato”; MJ-7: “(...) Passei a dialogar mais com meu esposo, que é um empreendedor, sobre negócios, inclusive contribuindo com minhas opiniões”. CC-6: “Passei a valorizar mais as pessoas ao meu redor, principalmente a família”. RC-5: “O empreendedorismo foi, a partir desse momento, um exercício em minha casa, envolvi meus filhos nessa descoberta, experimentei as possibilidades observadas e começamos a acreditar que o sonhar era possível”. É possível afirmar que a socialização dos saberes empreendedores adquiridos pelos docentes e transferidos indiretamente para o grupo familiar e/ou social, contribuem 33 para fortalecer o inter-relacionamento, despertando sentimentos de cooperação e confiança capazes de estabelecer pontes e gerar conexões necessárias a concretização de objetivos individuais e comuns. Esta contribuição do empreendedorismo no âmbito social é de extrema relevância e deve ser incentivada, uma vez que no momento presente observa-se como tendência, a sociedade do Século XXI migrando cada vez mais, para o modelo da Economia Colaborativa12 (ou do Compartilhamento), com perspectivas de ampliação, onde se prioriza a busca de soluções coletivas no sentido de oportunizar o acesso a bens e serviços, através da integração de pessoas ao processo, gerando valor tanto econômico quanto social. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados do nosso estudo, fundamento pelo arcabouço teórico e metodológico desenvolvido, foi possível compreender que as três dimensões que compõem o Saber Empreendedor Docente (Dimensão Pessoal, Dimensão Pedagógica e Dimensão Sócio Política), apesar de estarem agrupadas para fins de análise, em três grandes blocos, interagem entre si formando uma grande espiral dinâmica, compondo um conjunto de saberes que podem ser acessados de forma didática e pedagógica pelos profissionais da educação. No que se refere a Dimensão Pessoal, foi possível concluir que a sobrecarga de racionalidade, absorvida pelo professor no seu dia a dia, acaba por bloquear dois elementos, que segundo Tardif, Lesard (2014) e Dolabela (2013), são essenciais à sua pratica: a emoção e o afeto. Ao apropriarem-se dos fundamentos da educação empreendedora esses dois elementos, acabam sendo resgatados ou potencializados por meio de processos reflexivos levando o docente a avaliar e refletir criticamente sobre as12 De acordo com Romero e Garcia (2014), a expansão do universo digital através das redes sociais e como consequência da crise global favorece o surgimento da economia colaborativa. O principal valor agregado desta nova tendência, além de ganhos econômicos, é a produção e o desenvolvimento de conhecimento, uma vez que ao ser compartilhado, pode ser tomado como um ponto de partida para iniciar novos modelos de negócios, trazendo benefícios tanto em nível econômico como de crescimento pessoal e intelectual(presente em http://www.revista-uno.com.br/economia-colaborativa-a- revolucao-do-consumo-mundial). 34 perspectivas da sua vida presente e futura, oportunizando assim, a busca de novas experiências que lhes sejam significativas. A Dimensão Pedagógica, revela o forte viés técnico que caracteriza a ação docente. Todavia, apontou que os professores não estão alheios ao seu ofício. Eles se mostraram preocupados com as lacunas decorrentes do processo ensino-aprendizagem e reconhecem a necessidade de melhorar suas práticas, estarem mais próximos dos alunos, aprofundar conhecimentos através da qualificação. Esses aspectos nos permite inferir que a Educação Empreendedora é capaz de contribuir para instigar a criatividade e o processo de inovação educacional tornando a ação pedagógica mais motivadora e eficaz. Através da Dimensão Sócio Política, constatamos que os saberes empreendedores influenciam os docentes a “redescobrir” o seu importante papel de Agente de transformação da sociedade, ou articuladores de saberes para a construção do conhecimento coletivo. Ficou claro que o saber empreendedor além estimular o pensar crítico reflexivo do professor, amplia a sua percepção para os problemas da coletividade. Ou seja, os conhecimentos adquiridos em empreendedorismo são compartilhados pelo professor junto à comunidade e no próprio ambiente familiar, abrindo espaço para o surgimento de novas ideias e soluções capazes de beneficiar a ele, a sua família e aos que fazem parte do seu grupo social. A pesquisa nos levou a constatar que os fundamentos do empreendedorismo são capazes de desencadear no professor um grau de reflexividade que os fazem adquirir a consciência “de saberem-se capazes” (MEZIROW,1991; BANDURA,1997; SCHÖN, 1992; ROGERS, 2001; FREIRE, 1999). Essa conjunção de elementos psicológicos, somada às suas experiências de vida e a sólida base de conhecimentos adquiridos, lhes confere autonomia para tomar decisões, identificar novas perspectivas, projetar objetivos profissionais e pessoais, desenvolvendo a perseverança para concretizá-los. Através dos relatos dos professores e do aprofundamento teórico dos postulados dos autores estudados, constatamos que os fundamentos do empreendedorismo no âmbito da atuação docente, estão estreitamente relacionados com a “aprendizagem transformativa” (MEZIROW, 1991) configurando-se como a base teórica e central que fundamenta o Saber Empreendedor Docente. Para esse autor, ao apreender conteúdos e experiências novas que lhe são significativas, o sujeito percebe que seus pontos de vista específicos ou convicções 35 anteriores tornam-se sem função (valor), e ao substitui-los (ou reorganiza-los), passam a incorporar novos insights que consequentemente, corroboram para mudanças no âmbito profissional e pessoal. A partir dos resultados empíricos evidenciados na pesquisa, identificamos que o processo transformativo que desencadeia o Saber Empreendedor Docente, é capaz de instigar o professor a reconhecer as suas infinitas possibilidades, como também as possibilidades dos alunos. Outrossim, infere-se que o campo de conhecimento do empreendedorismo contribui significativamente para animar o processo educativo, constituindo-se como um importante vetor para inspirar a elaboração de políticas educacionais voltadas para a formação inicial e continuada de docentes, na direção de aprendizagens transformativas, holísticas, sintonizadas com os desafios e as oportunidades do presente e futuro, e que o Brasil tanto precisa. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCOFORADO, L.. Competências Cidadania e Profissionalidade. Limites e desafios para a construção de um modelo português de educação e formação de adultos [Tese de Doutoramento]. Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, 2008. AMADO, João (Coord.). Manual de Investigação qualitativa em educação. Coimbra: Universty Press, PT, 2014. ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997. BANDURA, Albert. Self-efficacy: toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, v. 84, n. 2, 1999. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2014. BRITO, Q. S.; SILVA, A. B. da. Fatores mediadores da relação trabalho e família de casais empreendedores. Anais do VI ENEO. Florianópolis: ANPAD, 2010. CANDY, Philip. Self-direction for lifelong learning. San Francisco, (CA): Jossey-Bass, 1991. DAY, C.. Desenvolvimento profissional na escola. Milton Keynes: Open University, 2001. 36 DECI, E. L.; RYAN, R. M.. Intrinsic motivation and self-determination in human behavior. New York: Plenum, 2000. DEWEY, J. Vida e educação. 8. ed. São Paulo: Melhoramentos,1973. DOLABELA, Pedagogia empreendedora: o ensino do empreendedorismo na educação básica voltado para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora de Cultura, 2003. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2014. 299p. FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. GADOTTI, Moacir . Pedagogia: diálogo e conflito. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1985. GAUTHIER, C. Por uma teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Unijuí, 1998. HARGREAVES, A. Profesorado, cultura y postmodernidad: cambian los tiempos, cambia el profesorado. Madrid: Morata, 1999. KAUFMANN, Jean-Claude. L´ entretein Compreensif. Paris: Nathan, 1996. LOPES, Rose Mary. A Educação empreendedora: conceitos, modelos e práticas. São Paulo: Elsevier, 2010. LUCKESI, C.C. planejamento e Avaliação escolar: articulação e necessária determinação ideológica. São Paulo: FDE, 2007. MARCELO, C. Garcia. Desarrollo Profesional e iniciación a la enseñanza, Barcelona: PPU, 1985. MASLOW, A. Humann Motivation and personality. 2. ed. New York: Harper & Row, 1945. MCCLELLAND, D. C.. The Achieving Society. Princeton: Van Nostrand, 1961. MEZIROW, J.. A critical theory of self-directed learning. In: Self-directed learning: from theory to practice. San Francisco: Jossey-Bass, 1985. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. MORETTO, V. P. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. NUÑEZ, Isauro Beltrán; RAMALHO, Betania Leite. A pesquisa como recurso da formação e da construção de uma nova identidade docente: notas para uma discussão inicial. ECCOS, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 87-111, jun. 2005. 37 ODDI, L. F.. Development and validation of an instrument to identify self-directed continuing learners. Adult Education Quartely, n. 36, p. 97-107, 1986. OLIVEIRA, A. L. 2005. Aprendizagem autodirigida: Um contributo para a qualidade do ensino superior. Dissertação de doutoramento. Universidade de Coimbra: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Coimbra, 2005. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Pratrícia Chittoni Ramos. - Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. POZO, Juan Ignácio; PÉREZ ECHEVERRÍA, M. P. As concepções dos professores sobre a aprendizagem: rumo a uma nova cultura educacional. Pátio, Revista Pedagógica, n. 16, p. 19-23, 2001. RAMALHO, Betania Leite; NUÑEZ, Isauro Beltrán e GAUTHIER, Clermont. Formar o professor, profissionalizar o ensino: perspectivas
Compartilhar