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FARMÁCIA HOSPITALAR Nayara Maria Siqueira Leite Farmácia clínica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Listar os aspectos necessários para implantação da farmácia clínica. � Apontar as principais atribuições clínicas do farmacêutico hospitalar. � Reconhecer o papel do farmacêutico na segurança do paciente. Introdução O farmacêutico clínico é, no ambiente hospitalar, o profissional de saúde responsável por levar as informações sobre os medicamentos tanto para a equipe de saúde quanto para o paciente. Sua principal função é prever, detectar, evitar, identificar, atuar, checar constantemente os problemas relacionados aos medicamentos (PRMs) e corrigi-los junto com a equipe de saúde. A sua atuação vem se desenvolvendo ao longo dos anos e tem cada vez mais impacto positivo em vários aspectos no âmbito hospitalar. Uma boa comunicação entre a farmácia e o restante da equipe é essencial para o cuidado do paciente, assim como também o são os conhecimentos básicos de farmacologia, farmacoterapia, semiologia farmacêutica e co- municação profissional-paciente. A farmácia clínica é transversal à farmácia hospitalar; por isso, o farma- cêutico precisa ter domínio sobre as áreas da farmácia hospitalar e muita proatividade, a fim de elevar a qualidade no atendimento do paciente de forma integral. Neste capítulo, você vai ler sobre a atuação do farmacêutico na prática clínica e sobre como é possível implantar essa atividade no ambiente hospitalar, visando à aplicação de conceitos e ao reconhecimento das principais atribuições do farmacêutico; pretende-se, assim, promover a segurança do paciente na utilização dos medicamentos. 1 Aspectos básicos para implantação da farmácia clínica A farmácia clínica é a área da farmácia voltada à ciência e à prática do uso racional de medicamentos; nela, os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente aspirando à otimização da farmacoterapia, à promoção da saúde e do bem- -estar e à prevenção de doenças (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2013). Os seus objetivos vão desde evitar eventos adversos relacionados aos medicamentos, até promover uma melhor adesão ao tratamento pelo paciente. Além disso, elementos da filosofia da atenção farmacêutica perpassam o de- senvolvimento das atividades na clínica, já que esse é um modelo de prática farmacêutica desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica. A farmácia clínica compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades tanto na prevenção de doenças quanto na promoção e na recuperação da saúde de forma integrada à equipe de saúde. Como teve início a farmácia clínica? O que desencadeou a demanda por esse atendimento especializado em relação aos medicamentos? Muito da história do início da farmácia clínica se confunde com o fim da Primeira Guerra Mundial e o processo de industrialização por que passou a nossa civilização. São frutos desse processo uma maior oferta de medicamentos à população e um acesso mais facilitado a eles, o que trouxe como consequência a sua utilização em grande escala. Nesse contexto, ficou restrito à área da farmácia o conhecimento dos medicamentos, como formas de administração, efeitos colaterais ou interações medicamentosas — ou seja, os PRMs estavam acontecendo, embora a população não dispusesse de conhecimento suficiente sobre a sua utilização. Assim, começaram a surgir nos Estados Unidos da América (EUA) os primeiros farmacêuticos que trabalhavam exclusivamente com informação sobre medicamentos nos hospitais. Cada vez mais eles foram se especializando nas intervenções realizadas e na otimização da terapêutica, cultivando a confiança das equipes e dos pacientes. No Brasil, o crescimento do movimento clínico ocorreu nas últimas déca- das, tendo como marcos a publicação da mudança das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Farmácia, a Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica e a Política Nacional de Assistência Farmacêu- tica. Isso resultou nas mais recentes resoluções do CFF — Resoluções CFF nº. 585/13 e nº. 586/13 —, que regulamentam a prescrição farmacêutica e as atribuições clínicas do farmacêutico. Esses fatos confirmam que a profissão Farmácia clínica2 está passando pela transição anteriormente citada: ela vem abandonando a incumbência pela gestão do produto para se dedicar à assunção de mais responsabilidades no cuidado. Além de todo esse arcabouço legal para a atuação do farmacêutico na clínica, um conjunto de conhecimentos e habilidades deve ser desenvolvido pelo profissional a fim de se garantir que sua atuação seja exercida de forma plena e com qualidade — conforme pode ser visto na Figura 1, a seguir. Figura 1. Conjunto de conhecimentos e habilidades para o exercício da farmácia clínica. Conhecimento Habilidade Doenças Farmacoterapia Terapias não medicamentosas Análises clínicas Informática Informação sobre medicamentos Monitoramente de pacientes Planejamento farmacoterapêutico Comunicação em saúde Para a realização das atividades do farmacêutico, é de fundamental impor- tância o conhecimento sobre as doenças e suas formas de tratamento. Na hora do atendimento, conhecer e compreender acerca do tipo de paciente que que frequenta as enfermarias, as emergências e os ambulatórios é pré-requisito primário para a implantação do serviço. Uma vez que muitas unidades têm uma linha de atendimento específica — como oncologia, hemodiálise, cirurgia geral, pediatria, doenças infectocontagiosas, entre outras —, faz-se necessário que o farmacêutico tenha uma visão gerencial da unidade onde estiver atuando. Faz parte da rotina do farmacêutico presente no ambiente hospitalar a prestação de informações sobre o uso racional de medicamentos, bem como detectar e agir de acordo com a resolução dos PRMs. Situações como transição de cuidado, alta hospitalar e mudanças de tratamento a nível ambulatorial exigem do farmacêutico um amplo conhecimento sobre a condição do paciente. 3Farmácia clínica Ao farmacêutico também são necessárias habilidades para eleger os pacien- tes que precisam ou não de acompanhamento, pois, a depender da demanda do hospital, não será possível oferecer atendimento a todos os pacientes, devendo-se, por isso, eleger alguns pacientes para avaliação. Um dos parâme- tros utilizados para selecionar pacientes é a sua classificação mediante uma estratificação por score de risco (MARTINBIANCHO; ZUCKERMANN; ALMEIDA, 2013). No Quadro 1, é apresentado um modelo de score com essa classificação, que leva em conta o perfil de utilização de medicamentos pelo paciente, faixa etária e suas condições clínicas. Condições do paciente Pontuação Paciente faz uso de: 0–5 medicamentos 1 6–10 medicamentos 2 11–15 medicamentos 3 > 16 medicamentos 4 Medicamentos de uso intravenoso Nenhum 0 1–3 1 4 ou mais 2 Paciente faz uso de medicamentos potencialmente perigosos Não faz uso 0 Faz uso de 1 1 Faz uso de 2 ou mais 2 Paciente Não está com sonda 0 Está com SNE, SNG, VJ, SOE ou VG 1 Está com nutrição parental total (NPT) 2 Quadro 1. Classificação de fatores de risco para definição de acompanhamento em pa- cientes hospitalizados (Continua) Farmácia clínica4 Fonte: Adaptado de Martinbiancho, Zuckermann e Almeida (2013). Condições do paciente Pontuação Idade do paciente 0–14 anos 2 15–65 anos 1 > 65 anos 2 Paciente apresenta problemas renais e/ou hepáticos Sim 1 Não 0 Paciente apresenta problemas cardíacos e/ou pulmonares Sim 1 Não 0 Paciente é imunossuprimido e/ou imunocomprometido Sim 2 Não 0 TOTAL Aplicação aos critérios de definição para acompanhamento > 9 Alto risco: pacientes com fatores de risco elevados, necessitando de prioridade no acompanhamento. 5–8 Risco moderado: pacientes intermediários; necessitam de acompanhamento, mas não emergencial. < 4 Baixo risco: pacientes que devem ser apenas observados e monitorados. Quadro 1. Classificaçãode fatores de risco para definição de acompanhamento em pa- cientes hospitalizados (Continuação) 5Farmácia clínica Importa frisar que esse score de risco apresentado no quadro não é o único que pode ser utilizado. As instituições podem acrescentar ou retirar itens selecionadores dos pacientes, conforme a realidade da unidade e com a colaboração do farmacêutico. Dependendo do somatório de pontos do Score de Risco do paciente, a equipe de farmácia clínica pode submetê-lo a uma avaliação diária ou apenas semanal. Nesse primeiro contato e após a primeira prescrição liberada, o Score do paciente pode ser calculado, e as próximas avaliações serão periódicas de acordo com o grau de risco do paciente. Em muitos hospitais, a implan- tação da farmácia clínica pode começar com apenas um farmacêutico, o que demanda um volume de trabalho muito grande; devido a isso, muitos começam a implantação por setores mais críticos, como UTI, pediatria, salas de quimioterapia, entre outros. Além das competências que estão diretamente ligadas à profissão, tam- bém são fundamentais para a continuidade do serviço conhecimentos em informática e comunicação em saúde. A comunicação que pode ser realizada pelo farmacêutico é a comunicação com o paciente, a qual, mesmo sendo norteada por um checklist de perguntas, pode variar um pouco, pois cada paciente é único. O importante é que o farmacêutico sempre seja empático e saiba conduzir a conversa de forma respeitosa e objetiva, independentemente de com quem ele esteja tratando. Já para a continuidade do serviço, a evolução e as consultas farmacêuticas devem ser registradas no prontuário do paciente — o que, na maioria das instituições, já é feito de forma eletrônica. Conhecido como PEP (prontu- ário eletrônico do paciente), nele é permitido que o farmacêutico evolua os pacientes, consulte e solicite exames, avalie as prescrições e até prescreva de acordo com a legislação. Entre os métodos de registro de evolução em prontuário, o mais conhecido e amplamente difundindo entre os profissionais de saúde é o SOAP. O acrô- nimo SOAP (S = subjetivo, O = objetivo, A = avaliação e P = plano) é uma metodologia de raciocínio clínico para evolução em prontuário que padroniza o registro, tornando-o claro, completo e conciso. No Quadro 2, a seguir, é possível ver o passo a passo do raciocínio clínico utilizando-se o método SOAP como referência para evolução dos pacientes no PEP. Farmácia clínica6 Fonte: Adaptado de Martinbiancho, Zuckermann e Almeida (2013). Letra Significado Como utilizar Exemplo S Subjetivo São dados subjetivos acerca da situação do paciente. São as impressões subjetivas que coletamos durante a entrevista com o paciente. Dificuldades e percepções do paciente sobre sua condição de saúde (“tenho dificuldade de aceitar a doença”, “tenho dificuldade de aceitar os medicamentos”, “estou me sentido triste”). O Objetivo Dados objetivos, dados clínicos e informações sobre os medicamentos que o paciente usa. Elaboração de lista de medicamentos que estão sendo utilizados pelo paciente e de resumo dos principais exames clínicos. A Avaliação (ou ação) Analisamos todos os dados subjetivos e objetivos e traçamos um plano de ação para o paciente. Nesse momento, o farmacêutico avalia se é necessária uma intervenção farmacêutica, que deve ser descrita na evolução do paciente. P Plano Planejamento de como a conduta do farmacêutico proposta na avaliação foi aceita ou não pela equipe; assim ela deverá ser monitorada. Esse é um dos principais indicadores em farmácia clínica, em que são avaliadas quantas intervenções farmacêuticas foram propostas e quantas dessas foram aceitas. Quadro 2. Aplicação do método SOAP para registro de evolução farmacêutica Realiza-se a avaliação da prescrição quando da admissão do paciente e periodicamente, de acordo com a classificação de risco; saliente-se que ela deve ser realizada em local específico, e não à beira do leito em que estiver o paciente. No momento inicial do internamento do paciente, o farmacêutico pode fazer a primeira visita, realizando uma anamnese farmacêutica — isto é, o procedimento de coleta de dados sobre o paciente, por meio de entrevista, com a finalidade de conhecer seu histórico de saúde e elaborar seu perfil 7Farmácia clínica farmacoterapêutico. A anamnese é estruturada, no ambiente hospitalar, em forma de uma checklist que deve ser preenchida com informações sobre o pa- ciente — seus hábitos, a lista de medicamentos utilizados por ele, a conciliação medicamentosa — para que, no fim, o farmacêutico elabore um planejamento para o paciente, chamado de seguimento farmacoterapêutico. O seguimento farmacoterapêutico tem como principal objetivo evitar um PRM. Os PRMs podem ser reais (quando são manifestados) ou potenciais (quando há possibilidade de ocorrência); além disso, eles podem ter causas múltiplas, as quais podem estar relacionadas aos medicamentos, ao paciente ou ao sistema de saúde (profissionais, protocolos, rotinas de atendimento, entre outros). Também, cabe observar que os PRMs implicam um acompa- nhamento contínuo, sistematizado e documentado do paciente (HEPLER; STRAND, 1990). No Quadro 3, a seguir, é apresentada a classificação de Cipolle, Strand e Morley (2000) para os PRMs. Fonte: Adaptado de Cipolle, Strand e Morley (2000). Necessidades farmacoterapêuticas Indicação Medicamento desnecessário Necessita de medicamento adicional Efetividade Medicamento não efetivo Dose baixa Segurança Reação adversa ao medicamento Dose alta Adesão Sem adesão ao tratamento Quadro 3. Classificação dos PRMs A análise da prescrição consiste em uma análise feita pelo farmacêutico de forma estruturada sobre cada medicamento em uso pelo paciente. Essa revisão tanto avalia aspectos legais e éticos da prescrição quanto faz a revisão clínica, que é o ponto crucial na área hospitalar, pois visa a acompanhar a evolução clínica do paciente e garantir a segurança do uso dos medicamen- tos na internação. A solicitação e a análise de exames laboratoriais, com a Farmácia clínica8 finalidade de monitorar e individualizar os resultados da farmacoterapia, auxiliam o farmacêutico nesse processo, o que não pode ser confundido com fins diagnósticos, pois apenas os médicos solicitam exames com esse fim. A partir dos dados de exames como hemograma, o farmacêutico pode avaliar se um antibiótico está sendo efetivo; por outro lado, exames de creatinina podem ser base para a avaliação da função renal do paciente. Outro ponto no desenvolvimento da prática clínica pelo farmacêutico é a sua habilitação para a prescrição farmacêutica, conforme legislação específica no âmbito de sua competência profissional. No mundo, há dois tipos de pres- crição voltadas a profissionais não médicos: a dependente e a independente. A dependente ocorre quando o médico delega essa função a outro profissional, que pode ser o farmacêutico; já para a prescrição independente, o profissional precisa ser habilitado a prescrever. No Brasil, a prescrição é somente depen- dente, e o profissional farmacêutico deve ser legalmente habilitado para esse fim, com cursos de especialização específicos para prescrição farmacêutica (BRASIL, 2013). As regras são basicamente as mesmas passadas aos médicos: é vedada a prescrição sem a identificação do farmacêutico responsável, que deve conferir tanto a receita e a medicação prescrita quanto a identificação do paciente. Essas informações não podem estar de forma secreta, codificada, abreviada, ilegível ou com assinaturas de folhas de receituários em branco. Todos esses detalhes são verificados e conferidos posteriormente pela vigilância sanitária, cabendo ao farmacêutico a responsabilidade (BRASIL, 2013). A farmácia clínica deve ser implantada de forma institucionalizada, ou seja, de modo que todo o corpo clínico esteja ciente da conduta do farmacêutico na análise das prescrições, pois muitas vezes ela pode nãoser aceita pelo médico se não apresentar embasamento científico. Logo, muitos hospitais estabelecem protocolos que listam as atividades, os exames que o farmacêutico pode ou não solicitar e as prescrições que ele pode fazer para manejo de reação adversa. 2 Principais atribuições nos serviços clínicos A Regulamentação das atribuições do farmacêutico clínico foi publicada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) mediante a Resolução 585, de 29 de agosto de 2013. A seguir, você vai ler sobre algumas aplicações na prática das principais atribuições clínicas prestadas pelo farmacêutico nos hospitais. 9Farmácia clínica Da implementação das intervenções farmacêuticas A intervenção farmacêutica (IF) é um ato documentado e realizado junto ao usuário e aos profissionais de saúde que visa a resolver ou prevenir problemas que interferem ou podem interferir na farmacoterapia, sendo parte integrante do processo de trabalho do farmacêutico (IVAMA, 2002). Assim, uma IF sempre parte da premissa de que seja feita uma análise da prescrição de medicamentos dentro dos parâmetros éticos e farmacoterapêuti- cos. Alguns pontos a serem observados durante a análise são listados a seguir. � Identificação do paciente: nome, data de nascimento, registro de internação, sexo, peso e altura. � Aspectos inerentes ao paciente: alergias e uso de outros medicamentos. � Aspectos da administração do medicamento: diluição, forma farma- cêutica, tempo de fusão, estabilidade e possíveis incompatibilidades. � Dose: avaliação de determinada dose no que diz respeito ao seu caráter apropriado à condição clínica de saúde que estiver sendo analisada; ajuste de dose para pacientes com alterações renais e hepáticas; ajuste para crianças, idosos e lactantes; dose máxima diária de cada fármaco. � Frequência: intervalo correto entre as administrações de uma dose e de outra, sendo esse termo também conhecido na prática hospitalar como aprazamento. � Medicamentos: avaliação da existência de padronização de um de- terminado medicamento em uma determinada instituição — dose, interações, medicamentos e incompatibilidade em diluições. � Vias de administração: avaliação da via, se é correta, se há necessidade de mudança da forma farmacêutica. No Quadro 4, a seguir, pode-se observar a análise farmacoterapêutica que o farmacêutico deve fazer na prática da clínica. Farmácia clínica10 Indicação do medicamento Avaliar se o medicamento é o mais adequado para a condição do paciente. Avaliar se não há duplicidade de algum medicamento prescrito. Avaliar se há necessidade de algum medicamento adicional. Dose Avaliar se a dose prescrita está de acordo com a preconizada pela literatura, considerando idade, peso ou superfície corpórea e a existência de necessidade de ajustes para função renal, Intervalo de administração Avaliar se os intervalos prescritos estão de acordo com a literatura e se o aprazamento é o mais adequado. Vias de administração Avaliar características farmacocinéticas do medicamento. Avaliar características clínicas do paciente. Avaliar medicamentos prescritos por sonda nasoenteral. Apresentação e/ou forma farmacêutica Avaliar idade do paciente. Avaliar capacidade de deglutição/sonda. Adequar, sempre que possível, à padronização do hospital. Reconstituição/ diluição/tempo de infusão Avaliar se a reconstituição, a diluição e o tempo de infusão estão prescritas conforme recomendação da literatura para os medicamentos injetáveis. Estabilidade Verificar, para os medicamentos utilizados em multidoses, se há estabilidade e se estão sendo conservados da forma adequada. Interações medicamentosas Avaliar o potencial para interações fármaco– –fármaco e fármaco–nutriente, analisando o risco, a significância clínica e a forma de manejo. Incompatibilidades medicamentosas Avaliar a compatibilidade físico-química entre os medicamentos injetáveis prescritos. Quadro 4. Metodologia para realização da análise farmacoterapêutica da prescrição 11Farmácia clínica O monitoramento terapêutico de fármaco (MTF) por meio da farmacoci- nética clínica é outro tipo de serviço que também dá suporte às IFs. O MTF pode ser definido como o serviço que compreende a mensuração e a interpre- tação dos níveis séricos de fármacos, com o objetivo de determinar as doses individualizadas necessárias para a obtenção de concentrações plasmáticas efetivas e seguras. Pelo MTF, também é possível identificar concentrações tóxicas e subterapêuticas. Essas variações individuais podem ocorrer tanto por aspectos farma- cocinéticos ou farmacodinâmicos quanto por fatores biológicos do próprio paciente, como idade (idosos têm maior variabilidade biológica), gestação ou, ainda, mudanças no organismo decorrentes da própria doença. O horário de coleta das amostras varia conforme o objetivo da monitoração. Quando se visa à verificação da eficácia do fármaco e de sua concentração terapêutica satisfatória, a amostra deve ser coletada imediatamente antes da administração da dose seguinte (nível de vale). Quando se objetiva verificar toxicidade, a amostra deve ser coletada quando a concentração chega ao ponto máximo, de 1 a 2 horas após a administração de uma dose oral (nível de pico). As principais indicações para o monitoramento laboratorial de fármacos são: � fármacos com estreito intervalo terapêutico; � medicamentos que podem diminuir a função renal ou hepática; � suspeita de toxicidade; � ajustes para mudanças fisiológicas; e � avaliação de interação medicamentosa. Técnicas laboratoriais de imuno-histoquímica podem ser empregadas e são as de mais fácil aplicação, pois o laboratório do hospital pode adequar-se a esse tipo de análise; já as técnicas cromatográficas são mais raras nos laboratórios, e, sendo assim, a amostra deve ser enviada para algum laboratório de referência. No Quadro 5, são apresentadas algumas classes de fármacos mais comu- mente monitorados. Farmácia clínica12 Fonte: Adaptado de Martinbiancho, Zuckermann e Almeida (2013). Agentes cardíacos Antibióticos Anticonvul- sivantes Psicofár- macos Imunossu- pressores Digoxina Lidocaína Vancomicina Gentamicina Cloranfenicol Ácido valproico Carbamazepina Fenobarbital Haloperidol Lítio Ciclosporina Tacrolimus Sirolimus Quadro 5. Principais fármacos com indicação para monitoramento dos níveis terapêu- ticos O momento de realização da IF pode ocorrer ao longo do processo do internamento do paciente, seja na sua admissão, no internamento/seguimento do cuidado ou na alta hospitalar. Na admissão, outra atividade importante do farmacêutico no ambiente hospitalar é a conciliação medicamentosa, que é definida como: Serviço pelo qual o farmacêutico elabora uma lista precisa de todos os medica- mentos (nome ou formulação, concentração/dinamização, forma farmacêutica, dose, via de administração e frequência de uso, duração do tratamento) utili- zados pelo paciente, conciliando as informações do prontuário, da prescrição, do paciente, de cuidadores, entre outras. Este serviço é geralmente prestado quando o paciente transita pelos diferentes níveis de atenção ou por distintos serviços de saúde, com o objetivo de diminuir as discrepâncias não intencionais (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2016. documento on-line). Os problemas mais comuns encontrados nesse caso são a duplicidade terapêutica e a exclusão de medicamentos essenciais à condição do paciente; nesse momento, também é importante averiguar a dose, forma farmacêutica. Durante a conciliação, é possível identificar não apenas a automedicação, mas também o uso inadequado de medicamentos que podem acarretar algum efeito adverso. Com essas informações, o farmacêutico pode fornecer importantes in- formações à equipe multiprofissional que assiste o paciente. Essa atividade é muito importante também nas transições do cuidado com o paciente, pois ela é efetuada nas internações ou nas altas hospitalares. Muitas vezes o far- macêutico pode elaborar uma tabela comtodas as orientações necessárias a essa transição do cuidado. 13Farmácia clínica Apesar de o termo “reconciliação” ser muito empregado como sinônimo de conciliação, optou-se por não o utilizar, a fim de evitar dubiedade de interpretação. Realizar evolução farmacêutica e registro no prontuário do paciente, docu- mentando as IF realizadas e outras recomendações pertinentes ao cuidado, é a forma de o farmacêutico compartilhar suas tomadas de decisão a fim de garantir uma boa reprodutibilidade do processo. O prontuário é um documento em que ficam registradas todas as intervenções realizadas em determinado paciente, desde a aferição da temperatura até os procedimentos cirúrgicos. Por seu turno, evolução farmacêutica é o registro efetuado pelo farmacêutico no prontuário do paciente, com a finalidade de documentar o cuidado em saúde prestado, propiciando a comunicação entre os diversos membros da equipe de saúde. O CFF disponibiliza uma plataforma on-line, a Registre, que pode ser utilizada para o farmacêutico evoluir seus pacientes na prática, sobretudo para aqueles que estão iniciando e ainda não têm a farmácia clínica completamente implantada no hospital (BRASIL, c2020). Lima (2017) avaliaram a percepção dos farmacêuticos em um hospital em Porto Alegre acerca das suas atividades clínicas, tendo como um dos tópicos abordados o registro documental de suas atividades. Os farmacêuticos dessa instituição reconheceram a importância e a necessidade de se registrarem suas atividades clínicas; no entanto, esse registro não ocorria devido à inexperiência prática, à sobrecarga de atividades, à necessidade de elaboração de políticas institucionais e à capacitação desses profissionais. Da interação com a equipe de saúde e o paciente A interação com a equipe de saúde e o paciente é parte crucial no desenvolvi- mento das atividades clínicas. Isso porque, junto com a equipe, o farmacêutico realiza a promoção, a proteção e a recuperação de saúde, além da prevenção de doenças; com o paciente, por seu turno, é necessário estabelecer e conduzir uma relação de cuidado. Durante o desenvolvimento de suas atividades, o farmacêutico tem con- tato com vários profissionais da equipe multiprofissional, entre os quais se podem citar médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, auxiliares de farmácia, técnicos de enfermagem, outros farmacêuticos, etc. Ao desenvolver essas atividades com a equipe ou diretamente com o paciente, o farmacêutico deve se adequar a uma linguagem coerente com o nível de entendimento dos envolvidos, além de se portar de forma segura e conciliadora. Farmácia clínica14 No que diz respeito ao contato entre o farmacêutico e a equipe, vale ressaltar a importância da aceitabilidade das intervenções, que podem ser consideradas aceitas se alteram a prescrição, a tomada de decisão ou a conduta de outro profissional. Além disso, para monitoramento, devem-se avaliar os motivos e os desfechos das IFs não aceitas (SABATER, 2005). Os desfechos clínicos das IFs podem ser classificados da seguinte forma. � Melhora: quando o problema de saúde associado ao medicamento melhorou após a IF. � Estável: o problema de saúde associado ao medicamento não apresentou evolução positiva ou negativa após a IF. � Piorou: quando o problema de saúde associado ao medicamento piorou após a IF. � Prevenido: foi identificado um PRM, mas sem que o paciente tenha apresentado um problema de saúde. A IF realizada teve por finalidade prevenir a manifestação do problema. 3 Classificação dos serviços farmacêuticos clínicos: fases para sua implantação Os serviços farmacêuticos clínicos hospitalares podem ser classificados em quatro classes, a depender da complexidade e da exigência de especialização. Eles podem servir como parâmetro na implantação da farmácia clínica e, assim, estruturar primeiramente o básico dos serviços de classe I até chegar ao serviço de classe IV. A seguir, podem-se observar os tipos encontrados e as ações mínimas para cada um deles (STORPIRTIS et al., 2008). � Serviços de Classe I: são fundamentais na implantação da farmácia clínica e não têm foco em nenhum paciente. São os serviços que estão envolvidos apenas com a seleção da farmacoterapia e a educação. As- sim, nesse tipo, desenvolvem-se atividades na Comissão de Farmácia e Terapêutica, elaboração de boletins informativos, educação continuada e estudos retrospectivos de utilização de medicamentos. � Serviços de Classe II: são categorizados com base no seu papel na comunicação com o paciente. Logo, neles ocorre contato direto com o paciente na realização de atividades como obtenção de histórico medicamentoso, aconselhamento de alta e de programas de educação de grupos específicos de pacientes. 15Farmácia clínica � Serviços de Classe III: são mais estruturados, com foco em grupos de pacientes ou em classes de fármacos, e objetivam a melhoria da farmacoterapia por meio da educação de prescritores e pacientes. Por isso, o farmacêutico pode atuar, nesses serviços, no Centro de Infor- mação de Medicamentos (CIM), na pesquisa clínica, em clínicas de adesão à farmacoterapia, ou até no fornecimento dos medicamentos para utilização em domicílio. � Serviços de Classe IV: são os mais especializados, que exigem pro- fissionais altamente treinados em uma área específica. São servi- ços especializados em áreas como UTI, emergência, transplantes e onco-hematologia. O farmacêutico e a segurança do paciente Em 1 de abril de 2013, foi instituída a portaria nº. 529, que criou o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), cujo objetivo geral é contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde brasileiros. O PNSP visa principalmente à qualificação do atendimento integral ao cuidado do paciente em todo o território nacional (BRASIL, 2013). No entanto, a cultura de segurança do paciente não é discutida somente no Brasil. Em contexto mundial, ela já vem sendo colocada em pauta desde 2006, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou o estabelecimento de um protocolo universal contendo seis metas para a segurança do paciente, as quais são apresentadas a seguir (WHO, 2006). 1. Identificação do Paciente: a finalidade deste protocolo é garantir a correta identificação do paciente, para que se reduza a ocorrência de incidentes. O processo de identificação do paciente deve assegurar que o cuidado seja prestado à pessoa para a qual se destina. 2. Prevenção de úlcera por pressão: promover a prevenção de ocorrência de úlcera por pressão (UPP) e outras lesões de pele. 3. Segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos: promover práticas seguras no uso de medicamentos em estabelecimentos de saúde. Farmácia clínica16 4. Cirurgia segura: a finalidade deste protocolo é determinar as medidas a serem implantadas para reduzir tanto a ocorrência de incidentes e de eventos adversos quanto a mortalidade cirúrgica, possibilitando o aumento da segurança na realização de procedimentos cirúrgicos, no local correto e no paciente correto, por meio do uso da Lista de Veri- ficação de Cirurgia Segura desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 5. Prática de higiene das mãos em serviços de saúde: este protocolo ob- jetiva instituir e promover a higiene das mãos nos serviços de saúde do país com o intuito de prevenir e controlar as infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), visando à segurança do paciente, dos profissionais de saúde e de todos aqueles envolvidos nos cuidados aos pacientes. 6. Prevenção de quedas: o objetivo deste protocolo é reduzir a ocorrência de queda de pacientes nos pontos de assistência e o dano dela decorrente, por meio da implantação/implementação de medidas que contemplem a avaliação de risco do paciente, garantam o cuidado multiprofissio- nal em um ambiente seguro e promovam a educação do paciente, dos familiares e dos profissionais. Conhecendo, então, as seis metas,pode-se identificar que a terceira delas está diretamente relacionada com os medicamentos. Além de promover o uso racional de medicamentos, ela incentiva a melhoraria das práticas envolvendo o seu uso, para que seja possível evitar incidentes. A dispensação do medica- mento em unidades hospitalares envolve duas ações que se correlacionam: a forma de distribuição do medicamento e a prescrição de acordo com as boas práticas de prescrição. A seguir, você vai conhecer um pouco sobre práticas seguras na distribuição e na prescrição de medicamentos. � Boas práticas para a distribuição segura de medicamentos: ■ certificar-se de que os medicamentos estejam disponíveis para administração ao paciente no tempo adequado, na dose correta, assegurando a manutenção das características físicas, químicas e microbiológicas e, dessa forma, contribuindo para o seu uso seguro; 17Farmácia clínica ■ os ambientes da farmácia onde serão dispensados os medicamentos devem ser limpos, organizados, bem iluminados e com adequados controle e registro de temperatura, umidade e controle de pragas, a fim de garantir que todos os medicamentos e materiais dispensados estejam de acordo com o padrão de qualidade exigido pela legislação; ■ manter a estrutura organizada, com local reservado, fluxo de pessoas restrito e sem fonte de interrupção e distração; ■ é vedado o uso de rádio, televisão, celular na sala de distribuição e armazenamento de medicamentos; ■ deve haver dispensação segura com as etapas de seleção, padroni- zação, aquisição, recebimento, armazenamento, fracionamento e identificação segura dos medicamentos; ■ para a identificação dos medicamentos dispensados, devem ser utili- zadas etiquetas impressas de cor branca, contendo as informações em letra com fonte e tamanho legíveis, e deve-se realizar a conferência do rótulo do medicamento com a etiqueta de identificação; ■ para a identificação dos Medicamentos Potencialmente Perigosos, deverá ser utilizada etiqueta de cor vermelha nas embalagens e nos locais de armazenamento; ■ deve-se adotar o uso de etiquetas de alertas para os medicamentos que não podem ser triturados e disponibilizar listas desses medicamentos nas unidades de saúde; ■ devem ser disponibilizados alertas de medicamentos com embalagem e/ou grafia semelhantes; ■ diariamente, o serviço de farmácia deverá recolher os medicamentos não administrados nas unidades assistenciais; ■ a farmácia deve disponibilizar Manual de Boas Práticas de Arma- zenamento e Distribuição de Medicamentos; ■ a farmácia deve elaborar os procedimentos operacionais de cada processo de trabalho, disponibilizar a equipe, e capacitar e trabalhar a disseminação da cultura de segurança; e ■ a gestão da farmácia deverá realizar educação permanente, de forma sistemática e registrada, para farmacêuticos e auxiliares de farmácia, com foco na segurança do uso de medicamentos, envolvendo os processos de análise farmacêutica da prescrição, da dispensação e do armazenamento dos medicamentos. Farmácia clínica18 � Os itens de verificação para a prescrição segura de medicamentos são: ■ a identificação do paciente; ■ a identificação do prescritor; ■ a identificação da instituição-setor na prescrição; ■ a identificação da data de prescrição; ■ legibilidade; ■ uso de abreviaturas — não se devem utilizar abreviaturas, sendo necessário escrever por extenso “unidades” (U) e “unidades interna- cionais” (UI), assim como não se devem utilizar fórmulas químicas (KCl, NaCl, KMnO4 e outras) e nomes abreviados de medicamentos (HCTZ, RIP, PEN BEZ, MTX, SMZ-TMP e outros); ■ denominação dos medicamentos — os medicamentos devem ser prescritos utilizando-se a denominação comum brasileira (DCB), com o nome genérico, a concentração, a forma farmacêutica e a posologia; ■ expressão de doses completa e por extenso; ■ prescrição de medicamentos com nomes semelhantes — medica- mentos cujos nomes são reconhecidamente semelhantes a outros de uso corrente na instituição deverão ser prescritos com destaque na escrita, e, para a parte do nome que os diferencia, deverá ser empregada letra maiúscula. � Exemplos de nomes semelhantes: ■ DOPAmina e DOBUtamina; ■ ClorproPAMIDA e ClorproMAZINA; ■ VimBLASTina e VinCRIStina. Outro aspecto que envolve a segurança do paciente e a farmácia clínica é a racionalização do uso de antibióticos, pois atualmente a promoção do seu uso racional é um dos principais desafios encontrados na terapêutica de infecções em ambiente hospitalar. Os microrganismos resistentes são reconhecidos como uma razão para longos períodos de internação, custos mais elevados e maior morbidade e mortalidade nos hospitais. Na maioria das vezes, a escolha da terapia é feita de forma empírica, o que tem promovido o aumento da resistência antimicrobiana e tornado cada dia mais desafiador realizar a escolha do antimicrobiano adequado. 19Farmácia clínica A racionalização de antimicrobianos é um componente essencial para uma abordagem multifacetada na prevenção da resistência antimicrobiana. A boa gestão de antimicrobianos envolve a seleção do medicamento apropriado a fim de se otimizar sempre sua dose e sua duração de tratamento, minimizando a toxicidade e as condições para a seleção de cepas bacterianas resistentes e garantindo, assim, sucesso terapêutico. A seguir, de acordo com Cabral et al. (2018), você vai ler sobre estratégias para a racionalização de antimicrobianos que podem ser implementadas em conjunto pela gestão, pelo CCIH e pelo farmacêutico. Descalonamento da terapia O descalonamento consiste na administração inicial de tratamento empírico de amplo espectro, com o objetivo de cobrir os patógenos mais frequentemente relacionados à infecção a ser tratada e, assim que o agente causador for identifi- cado, ajustar o tratamento. O descalonamento também inclui alteração de terapia combinada por monoterapia, ou suspensão da antibioticoterapia, assim que o estado clínico do paciente permitir. O objetivo do descalonamento é reduzir mortalidade e morbidade com o início precoce de terapia empírica ampla, além de limitar o desenvolvimento de resistência bacteriana por meio da redução da pressão seletiva, com a suspensão do antimicrobiano ou a redução do espectro. Rotação de antibióticos O objetivo desta estratégia é reduzir, mediante a troca frequente de antibióticos, a ocorrência de resistência, preservando sua atividade para que possam ser reintroduzidos em um ciclo posterior. Terapia preemptiva Consiste na administração de antibióticos a determinados pacientes com alto risco de infecções oportunistas, antes mesmo do aparecimento dos sinais de infecção. É sugerida a utilização de terapia preemptiva em pacientes críticos com alto risco de candidemia, que é associada a altas taxas de mortalidade, apesar do tratamento adequado. Farmácia clínica20 Restrição de medicamentos O controle de quais drogas estarão disponíveis para prescrição é o método mais direto de influenciar na utilização de antibióticos. O perfil de resistência geralmente é considerado na decisão pelos medicamentos disponíveis, cuja lis- tagem deve ser dinâmica e responder às mudanças de patógenos locais e novas drogas disponíveis. Esse controle deve ser aplicado principalmente às drogas de amplo espectro de ação, como, por exemplo, os carbapenêmicos, ou àquelas relacionadas a um rápido surgimento de resistência, como as cefalosporinas. Pré-autorização Esta ferramenta tem impacto positivo no desfecho clínico e, particularmente, no surgimento de resistência. A pré-autorização pode ser realizada de várias formas: formulário de prescrição de antibióticos (com justificativa), contato telefônico e suspensão automática da prescrição, entre outras. Uso de parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos para ajuste de dose O regime posológico mais adequado deve ser estabelecido seguindo as ca- racterísticas de farmacocinética e farmacodinâmica de cada antibiótico.O efeito do medicamento é o resultado da exposição das bactérias à fração do antibiótico livre, no sítio da infecção, de modo que a concentração sérica total não reflete a fração ativa da droga. Educação Um programa educacional, com o objetivo de aumentar a compreensão dos médicos sobre o uso adequado dos agentes antimicrobianos, é relativamente barato e fácil de implementar. As diretrizes clínicas para manejo de infecções específicas podem ser extremamente úteis no processo de tomada de decisão e ajudam na implementação de estratégias para a racionalização no uso de antibióticos. No entanto, é necessário que sejam constantemente revisadas e atualizadas. 21Farmácia clínica BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Registros de atendimentos farmacêuticos. c2020. BRASIL. Lei nº. 13.021, de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. Diário Oficial da União, Brasília, 17 mar. 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13021.htm. Acesso em: 17 mar. 2020. BRASIL. Portaria nº. 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Se- gurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, Brasília, 1 abr. 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html. Acesso em: 17 mar. 2020. CABRAL, L. G. et al. Racionalização de antimicrobianos em ambiente hospitalar. Rev. Soc. Bras. Clin. Med., v. 16, nº. 1, p. 59–63, jan./mar. 2018. Disponível em: http://docs.bvsalud. org/biblioref/2018/06/884999/dezesseis_cinquenta_nove.pdf. Acesso em: 17 mar. 2020. CIPOLLE, R.; STRAND, L. M.; MORLEY, P. El ejercício de la atención farmaceutica. Madrid: McGraw-Hill, 2000. 368 p. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Resolução nº. 586 de 29 de agosto de 2013. Regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências. 2013. Disponível em: http://www. cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/586.pdf. Acesso em: 17 mar. 2020. HEPLER, C. D.; STRAND, L. M. Opportunities and responsibilities in the pharmaceutical care. Am. J. Hosp. Pharm., v. 47, nº. 3, p. 533–543, mar. 1990. IVAMA, A.M. et al. Consenso brasileiro de atenção farmacêutica: proposta. Brasília: Orga- nização Pan-Americana da Saúde, 2002. LIMA, E. D. de. Farmácia clínica em ambiente hospitalar: enfoque no registro das ativi- dades. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde, v. 8, nº. 4, 18-24 out./dez. 2017 MARTINBIANCHO, J. K.; ZUCKERMANN, J.; ALMEIDA, S. M. Definição e competências. In: SANTOS, L. dos; TORRIANI, M. S.; BARROS, E. (org.). Medicamentos na prática da farmácia clínica. Porto Alegre: Artmed, 2013. SABATER, D. et al. Tipos de intervenciones farmacéuticas e seguimiento farmacote- rapéutico. 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Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 17 ago. 2009. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/RDC_44_2009. pdf/ad27fafc-8cdb-4e4f-a6d8-5cc93515b49b.html. Acesso em: 17 mar. 2020. BOLETIM ISMP. Nomes de medicamentos com grafia ou som semelhantes: como evitar os erros? v.3, n. 6, 2014. CARDINAL, L.; FERNANDES, C. Intervenção farmacêutica no processo da validação da prescrição médica. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde, v. 5, nº. 2, p. 14–19, abr./jun. 2014. Disponível em: https://www.santapaula.com.br/Arquivos/IEP_farmacia_trabalho021. pdf. Acesso em: 17 mar. 2020. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução CNE/CES 2, de 19 de fevereiro de 2002. 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Acesso em: 17 mar. 2020. 23Farmácia clínica Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Farmácia clínica24
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