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Introdução à Psicanálise

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Introdução à Psicanálise
em torno da sexualidade 
1. A visão comum define a sexualidade como instinto ou comportamento pré-formado, característico da espécie, com um objeto (parceiro do sexo oposto) e um alvo (união dos órgãos genitais no coito)
Mas a clínica mostra a existência de numerosas “perversões”, em que existe variedade quanto à escolha de objeto sexual e ao modo de atividade utilizado para obter gratificação
As finalidades do prazer e da procriação não são inteiramente coincidentes
“Sexual” e “genital” (reprodutor) são dois conceitos diferentes
2. Existem numerosas transições entre a sexualidade “perversa” e “normal”: aparecimento de perversões temporárias ou actividades que precedem e acompanham o coito (ex. elementos do prazer preliminar)
A sexualidade inclui desejos não relacionados com a actividade procriadora. Os usos normais da boca, do tacto, etc. nos “preliminares” são componentes da sexualidade
Existem voyeuristas, exibicionistas e fetichistas, mas mesmo as pessoas normais satisfazem parcialmente esses impulsos na sua vida sexual e nos sonhos
3. A clínica da neurose mostrava que os sintomas constituíam realizações de desejos sexuais de forma deslocada ou modificada
A clínica mostrava igualmente que os neuróticos resistiam fortemente a esta ideia
4. O estudo da sexualidade infantil vem alargar a compreensão, uma vez que mostra atividades aparentadas com as perversões do adulto, que utilizam outras zonas corporais que não apenas as genitais e buscam um prazer (ex. chuchar o dedo) independente da função biológica (ex. alimentação)
Da mesma forma que o psiquismo não se limita ao consciente, o sexual não se reduz ao genital
três ensaios sobre a teoria da sexualidade
· As aberrações sexuais 
· A sexualidade infantil 
· As transformações da puberdade
A experiência clínica mostrava uma ligação entre neurose, perversão e infância
A neurose é o negativo da perversão (o neurótico faz em fantasia aquilo que o pervertido faz na realidade)
A criança é perversa polimorfa (todas as atividades empreendidas pelo pervertido ou fantasiadas pelo neurótico são normais à criança em algum estado da sua infância)
Na adolescência todos os impulsos parciais contribuem para o ato sexual total
o conceito de pulsão 
Pulsão: “processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética ou fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu alvo é suprimir o estado de tensão que reina na fonte; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir o seu alvo” (Laplanche & Pontalis, 1985: 506)
“Todas as pessoas nascem com uma energia sexual básica, uma energia instintiva, chamada LIBIDO («desejo» em latim)
A energia sexual tem características mentais e características físicas. Essas características são:
1. Uma fonte orgânica interna de excitação
2. Uma quantidade ou pressão de excitação
3. Um alvo, que consiste em conseguir uma sensação de prazer, eliminando a pressão
4. Um objeto, que é a coisa ou pessoa realmente necessária para se atingir o alvo”
A história sexual do indivíduo começa no nascimento
A libido da criança recém-nascida não é estruturada; é polimorficamente perversa
1. Significa que retira prazer de qualquer parte do seu corpo
2. A aquisição de um alvo e de um objeto específicos requer um complexo processo de aprendizagem
3. Os órgãos específicos de satisfação sexual estabelecem-se com base nas zonas erógenas
FASE LIBIDINAL: DEFINIÇÃO 
Etapa do desenvolvimento da criança caracterizada por uma organização mais ou menos acentuada da libido sob o primado de uma zona erógena e pela predominância de uma relação de objeto
EXEMPLO: Fase Oral
· Zona erógena: cavidade bucal e lábios
· Relação de objeto: a atividade de nutrição fornece as suas significações; a relação de amor com a mãe pode passar pelos significados de “comer” ou “ser comido”
FASES PSICOSSEXUAIS
1. Sexualidade infantil (aproximadamente até aos 5 anos de idade)
· Fase oral
· Fase anal
· Fase fálica
· Complexo de Édipo
2. Período de latência (aproximadamente a idade da escola primária)
· Fase biologicamente determinada, na qual as manifestações da sexualidade estão ausentes ou reduzidas ao mínimo
3. Puberdade
· União dos sentimentos de ternura e sexuais em relação a uma pessoa do sexo oposto (atinge-se o amor ao objeto)
· O objeto que os indivíduos escolhem na puberdade é uma repetição do objeto que se tornara importante à época da fase edipiana (redescoberta do objeto)
Fase anal (12/18 a 24/36 meses): a zona erógena é o ânus; a expulsão (aliviar-se) e contenção (segurar-se) proporcionam prazer, tal como a experiência de controlo sobre os pais (que ficam agradados ou desagradados com o comportamento da criança); educação dos esfíncteres
Fase Oral (primeiros 12/18 meses): a atividade sexual, num primeiro momento, está associada à amamentação (rapidamente se desvincula, pois, a criança apercebe-se que pode ter prazer chuchando o dedo); a zona erógena é a boca; a mastigação, a sucção e o morder reduzem a tensão na criança, proporcionando prazer
Fase fálica (24/36 meses até 5/7 anos de idade): a nomenclatura da terceira fase deriva da palavra latina phallus (pénis); a zona erógena é a uretra e a criança descobre prazer na autoestimulação (masturbação)
FASES PSICOSSEXUAIS E PERSONALIDADE
Se a pessoa se encontra “fixada” nalgum estádio psicossexual, essa fixação irá colorir a sua personalidade de muitas formas, incluindo os mecanismos de defesa que utiliza para lidar com a ansiedade:
cOMPLEXO DE ÉDIPO: DEFINIÇÃO 
“Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta relativamente aos pais. Sob a sua chamada forma positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo sexual da personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, apresenta-se inversamente: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, estas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo.”
O primeiro objeto de amor é a sua mãe (deseja dormir com ela, acariciá-la, ser o centro do seu mundo)
Contudo, o pai interfere com estes planos…
A criança desenvolve desejos assassinos direcionados ao seu pai…
Estes desejos resultam em culpa, medo de retaliação do pai e ansiedade perante a retaliação iminente (principal medo é a retaliação na forma de castração – angústia de castração)
Como forma de evitar a castração o menino abdica desta disputa sexual e identificasse com o seu pai
Esta identificação com o agressor traz consigo a decisão de buscar uma mulher como a mãe, para que o menino possa ser como o pai
Finalmente, por volta do 5º/6º ano de idade, o pai retaliador é internalizado, formando o Superego
No caso do menino…
FASE DE LATêNCIA
Dos 6 anos de idade até à puberdade o impulso sexual parece desaparecer
O impulso sexual passa a um nível subterrâneo e instala-se a amnésia infantil (esta geralmente ocorre de forma tão absoluta que a maior parte das pessoas nega as primeiras experiências sexuais)
A fase infantil da sexualidade termina com o recalcamento do Complexo de Édipo
As ideias e os impulsos associados com as fases oral, anal e fálica são igualmente recalcadas para o inconsciente e impedidas de expressão. Mas os impulsos continuam lá, de forma latente, tal como a estrutura que libido adquiriu (as lembranças sexualmente organizadas vão influenciar futuras associações)
ADOLESCêNCIA
Mecanismo do prazer preliminar: todas as zonas erógenas servem para criar uma excitação apropriada para o ato sexual
· Prazer preliminar:
· ligado aos impulsos sexuais infantis (ex. beijar, ver e tocar)
· apresenta perigos de fixação (suspensão nos atos preparatórios), quando os “preliminares” se tornam um fim em si mesmos
· Prazer terminal:
· é a novidade da adolescência
· difere do preliminar pois conduz a uma descarga e desaparecimento temporário da tensão(ejaculação dos produtos genitais)
· (Re)descoberta do objeto:
· Num primeiro momento, a satisfação sexual estava associada à absorção de alimentos (o impulso encontrava o objeto no exterior, no seio materno)
· Este objeto é “perdido” e o impulso torna-se autoerótico (ex. prazer pelo controlo esfincteriano ou pela masturbação)
· Na puberdade restabelece-se a relação original (a criança ao seio da mãe como protótipo de toda a relação amorosa)
· Freud tem a notável frase de que “é a mãe, pelos beijos embalos e carícias, tratando a criança como objeto sexual substituto que vem despertar o impulso sexual do filho, ou seja, «ensina o filho a amar»”
· O adolescente tende a escolher as pessoas que amou desde a infância, mas agora já teve tempo para erguer as barreiras contra o incesto
· Assim, num primeiro momento, a escolha de objeto está associada a representações infantis, a fantasmas edipianos não destinados a realizarem-se
· Subtracção da autoridade paterna:
· O adolescente tem a tarefa de gradualmente ultrapassar os fantasmas incestuosos e desligar dos pais os sentimentos de ternura infantis
· Efeitos longínquos da escolha de objecto infantil:
· Aquele que conseguiu evitar a fixação incestuosa da libido, nem por isso fica liberto da sua influência
· São representações infantis que levam à escolha dos primeiros amores (ex. professores, artistas ou figuras adultas mais velhas e de prestígio são frequentemente as primeiras paixões adolescentes)
· A escolha de objeto apoia-se sobre estes modelos (o homem procura a imagem da sua mãe e a mulher a do seu pai)
· percebe-se, pois, que se as relações com os pais influenciam a escolha de objeto sexual, todas as perturbações destas relações precoces detêm consequências graves para a vida sexual adulta
NEUROSE E CONHECIMENTO
A infância não é um momento passivo. Os impulsos instintivos (olhar, tocar, exibir) são também os componentes ativos da aprendizagem (a curiosidade sexual é humana)
· Nos animais o instinto sexual está pré-adaptado à realidade; está biologicamente fixado
· Nos seres humanos a vida sexual aparece em duas “ondas” (infância e adolescência); o impulso sexual é parcialmente adquirido através da aprendizagem
O PROBLEMA DO CONHECIMENTO
· A pessoa seria “normal” se a sua busca do conhecimento for desinibida
· O neurótico seria ignorante relativamente à causa da sua infelicidade, alguma coisa o impede; esta ignorância deriva de inibições inconscientes (a inibição significa um impedimento de conhecer a origem do comportamento rígido do neurótico)
Freud traça a origem dos problemas neuróticos à infância. Tratam-se problemas na aprendizagem, na forma como é adquirida a estrutura do instinto sexual humano
Fixação: interrupção do desenvolvimento numa determinada fase (por ausência ou excesso de gratificação)
Regressão: regresso a esse nível anteriormente fixado, dando origem a diversas formas de neurose adulta
Os neuróticos estariam “fixos”. A fixação anal, por exemplo, manifesta-se em comportamentos inibidos de várias espécies:
1. O avarento
2. A obsessão da ordem
3. A procrastinação (tarefas por acabar)
Conscientemente, o avarento tem a obsessão de conservar o seu dinheiro; inconscientemente estaria a “agarrar-se” ao valor associado com o excremento na fase anal
FIXAÇÃO: DEFINIÇÃO 
“o facto de a libido se ligar fortemente a pessoas ou imagos, de reproduzir determinado modo de satisfação e permanecer organizada segundo a estrutura característica de uma das suas fases evolutivas”
A fixação pode ser manifesta e atual ou constituir uma virtualidade predominante que abre ao indivíduo o caminho a uma regressão
A noção de fixação é geralmente compreendida no quadro de uma concepção genética que implica uma progressão ordenada da libido (fixação numa fase)
Podemos considerá-la, fora de qualquer referência genética, no quadro da teoria freudiana do inconsciente, como designando o modo de inscrição de certos conteúdos representativos (experiências, imagos, fantasmas) que persistem no inconsciente de forma inalterada e a que a pulsão permanece ligada”
regressão: definição 
“num processo psíquico que contenha um sentido de percurso ou de desenvolvimento, designa-se por regressão um retorno em sentido inverso desde um ponto já atingido até um ponto situado antes desse.”
A regressão pode ser considerada em 3 sentidos:
· Tópico: existe uma sucessão de sistemas psíquicos que a excitação percorre normalmente, segundo uma determinada direcção (a regressão implica o percurso inverso; por exemplo, na vigília a excitação parte do consciente para o inconsciente; no sonho opera-se o sentido inverso)
· Temporal: existe uma sucessão genética de etapas do desenvolvimento (a regressão implica o regresso a fases já ultrapassadas)
· Formal: existe uma sucessão de modos de expressão, de níveis inferiores de complexidade e estruturação, a níveis superiores (a regressão implica o sentido inverso, por exemplo, do processo secundário ao primário)
neurose e sexualidade infantil
“A neurose é uma fixação ou regressão a alguma fase da sexualidade infantil”
Esta proposição tornou-se o âmago de todas as modernas teorias de neurose e psicose, variando apenas quanto aos pormenores
Quanto mais antiga a fixação ou mais profunda a regressão, maior a psicopatologia
A elaboração destas duas proposições conduz a uma resolução da questão das neuroses clássicas: histeria e neurose obsessiva
· Na histeria (geralmente uma mulher) as ideias são reprimidas, enquanto os afetos avassalam o indivíduo
· Na neurose obsessiva (geralmente um homem) a ideação é clara, mas o afeto bloqueado
· Os pacientes que sofrem estas neuroses formam transferências ao analista
· Pela análise das transferências e resistências, pode-se descobrir a fonte dos sintomas na sexualidade infantil e dissipá-los
sexualidade e crítica social 
Com a teoria da etiologia sexual da neurose e do desenvolvimento da sexualidade, Freud penetra no campo da crítica social
· A ideia dos neurologistas da época, que a doença mental era uma variedade de patologia cerebral, pouca relevância tinha para a estruturação da sociedade
· Mas se o sexo é uma fonte de perturbação em “neuróticos” e “normais”, então importa considerar as determinações sociais, pois a sociedade prescrevia rígidos códigos de abstinência sexual
· Então a moralidade das grandes nações, diria Freud, produz um mundo de neuróticos
· As necessidades de reforma que se afiguravam, são encaradas com cautela por Freud:
“talvez sejamos forçados a nos reconciliar com a ideia de que é inteiramente impossível ajustar as necessidades do instinto sexual às exigências da civilização”
A QUESTÃO DO “AMOR”
Um tópico que preocupava Freud, intimamente ligado ao desenvolvimento psicossexual, era a questão do amor. Nos Três Ensaios referia:
“As inúmeras peculiaridades da vida erótica dos seres humanos, assim como o carácter compulsivo do processo de ficar apaixonado são inteiramente incompreensíveis, se não fizermos referência à infância, constituindo efeitos residuais da infância”
Freud correlacionava as observações clínicas do amor com os “efeitos residuais da infância” - o caso mais importante, na prática clínica, era o “amor de transferência”
“o paciente, inconsciente e compulsivamente, recapitula com o analista os profundos sentimentos de amor e ódio que ele sentiu em relação aos pais, quando criança”
“Freud via o amor como sendo essencialmente uma fixação nos pais. Sua irracionalidade, sua compulsividade, seus frequentes aspetos autodestruidores deveriam ser compreendidos em termos dos distúrbios no relacionamento da criança com os pais”
o amor é neurótico?
Não se deve concluir que Freud encarava o amor como inerentemente neurótico
Enquanto clínico, ele trabalhava com as formas infantis de amor, tais como:
· A necessidade de recuperar uma mulher sexualmente promíscua ou uma prostituta
· A necessidade de degradar a mulher (a distinção/clivagem entre a mulher “boa” e mulher “má” com base na satisfação sexual)
· O amor como espécie de transe hipnótico
Contudo, ele estava bastante conscientedo poder construtivo do amor. É sua a afirmação de que…
A PESSOA NORMAL É AQUELA QUE PODE AMAR E TRABALHAR
teoria da libido 
A teoria divisada por Freud nas fases iniciais continha as seguintes hipóteses:
1. Há um processo de desenvolvimento que consiste de várias fases libidinais
2. A libido é a principal fonte de energia psíquica
3. A escolha de objeto (relações interpessoais) resulta das transformações da libido
4. Os impulsos libidinais podem ser satisfeitos, reprimidos, manipulados por uma formação reativa ou sublimados. Para a maior parte das necessidades instintivas, a sublimação é o ajuste humano normal
5. A estrutura de carácter (personalidade) é construída sobre as formas pelas quais os instintos biologicamente determinados são manipulados
6. A neurose é a fixação ou regressão a alguma fase da sexualidade infantil. Quanto mais anterior for a fixação, ou mais profunda a regressão, maior a psicopatologia
transferência e resistência
A terceira peça fundamental da psicanálise é a transferência (e a resistência)
Observação de que os pacientes na terapia não se submetem a uma consideração desapaixonada das suas dificuldades, entrando num intenso relacionamento com o terapeuta
O indivíduo sente imensa dificuldade em reconhecer os impulsos emocionais inconscientes e por isso reprime-os. No tratamento psicanalítico a repressão torna-se uma resistência, uma recusa (inconsciente) de ver a verdadeira natureza da ligação ao terapeuta, os impulsos instintivos que motivam o indivíduo e as ligações com as outras pessoas
O neurótico repete em vez de se lembrar
integração dos 3 pilares: inconsciente, desenvolvimento psicossexual, transferência/resistência
O inconsciente lida principalmente com os remanescentes da sexualidade infantil
A sexualidade infantil é inaceitável para o sujeito, sendo reprimida no inconsciente
Como consequência, as pessoas são impelidas por uma massa de ímpetos irracionais que não compreendem nem controlam, mas que determinam a sua vida
Sob o ímpeto desses impulsos vêm como pacientes para tratamento analítico, onde repetem (transferência) os mesmos padrões relacionais
No tratamento resistem ao desvendamento dos seus desejos, da mesma forma que o fazem na sua vida quotidiana
Por isso a terapia racional fracassa, porque não toma em consideração a natureza da doença
transferência: definição 
“Processo pelo qual os desejos inconscientes se actualizam sobre determinados objectos no quadro de um certo tipo de relação (…) Repetição de protótipos infantis vivida com uma sensação de actualidade acentuada”
O neurótico repete em vez de lembrar - repete porque algo inconsciente se opõe a que ele se lembre (ex. o paciente recear que o terapeuta o castigue, tal como receava que o pai o fizesse quando era criança, mas não ter noção que está a repetir um padrão)
Quando os sentimentos se repetem na relação, eles podem ser interpretados e transformados em lembranças autênticas
Só quando o material inconsciente é posto a descoberto (revivido como segunda neurose no decorrer da análise) é que ele pode ser resolvido - trata-se aqui da “neurose de transferência”, a qual pode ser curada
CONCEITOS 
Libido: principal fonte de energia; dos instintos sexuais provém o maior impulso para o funcionamento (embora não seja o único; Freud assinala a existência de instintos do ego, de auto-conservação, de natureza não sexual)
Objeto: o indivíduo necessita de objetos para satisfazer as suas necessidades libidinais; a escolha do objeto resulta da transformação da libido (ex. a libido do eu, investida no próprio, é transformada em libido objetal, promovendo a ligação a outro)
Mecanismo de Defesa: os impulsos podem ser satisfeitos, reprimidos, manipulados por formação reativa ou sublimados. Como são biológicos, devem ser trabalhados de alguma forma. Numa primeira fase da teoria, a ênfase era colocada na repressão/recalcamento e sublimação (as restantes defesas viriam a ser definidas posteriormente)
EROS E THANATOS
sEGUNDA TEORIA DA ANGÚSTIA (ANSIEDADE)
Desde o início que Freud considerava a ansiedade como estando no âmago da neurose. A sua ideia era a seguinte:
1. A libido reprimida, incapaz de se expressar normalmente, transforma-se em ansiedade (primeira teoria da angústia)
Posteriormente, chega à conclusão que a ansiedade está no Ego (e não no Id). O medo seria uma resposta biológica ao perigo e a ansiedade traduz uma resposta a ameaças percebidas.
2. A ansiedade seria um sinal dado pelo Ego de que há uma ameaça de perigoIsto conduz a reconceptualizar os mecanismos de defesa: 
Primeiramente, o recalcamento (mecanismo de defesa) conduzia à ansiedade
Agora era a ansiedade que levava ao recalcamento (utilizamos mecanismos de defesa para lidar com a ansiedade) - conduz aos estudos sobre os mecanismos de defesa e auxilia a compreender a “compulsão à repetição” (ver diapositivos seguintes)
A teoria dupla dos instintos 
A teoria dos instintos proposta inicialmente por Freud englobava:
1. Libido (impulso instintivo básico) 
2. Pulsões de auto-preservação
Esta mitologia, como a apelidava, nunca agradou completamente a Freud. Em “Para além do princípio do prazer” de 1920, Freud propõe uma nova revisão que contemplava dos tipos de instintos: 
1. Eros (ou vida)
2. Thanatos (ou morte)
Motivos para a mudança… 
1. Entre 1910 e 1920, Freud focou-se cada vez mais nos problemas de culpa e ódio - a guerra levou à consideração que a humanidade regredia periodicamente a massacres maciços
2. Continuava a ser difícil explicar os impulsos sádicos dentro da teoria da libido; originalmente o sadismo era considerado um instinto componente da sexualidade (dificuldade em encaixar ódio e amor na primeira teoria dos instintos)
3. O problema do masoquismo também começou a ser explorado. Em “Luto e Melancolia” (1917): 
a. Reconhece que a depressão está ligada à punição
b. No luto a punição deriva-se da perda de um objecto externo (o mundo ficou mais pobre)
c. Na melancolia deriva-se de um objecto internalizado (o Ego ficou mais pobre)
MELANCOLIA
Termo derivado do grego melas (negro) e kholé (bile), utilizado em filosofia, literatura, medicina, psiquiatria e psicanálise para designar, desde a Antiguidade, uma forma de loucura caracterizada pelo humor sombrio, isto é, por uma tristeza profunda, um estado depressivo capaz de conduzir ao suicídio, e por manifestações de medo e desânimo que adquirem ou não o aspecto de um delírio
LUTO E MELANCOLIA
Neste texto, Freud diferencia “Luto” de “Melancolia”, fazendo do segundo termo a forma patológica do primeiro:
1. No trabalho do luto o sujeito desliga-se progressivamente do objecto perdido (não existe confusão entre Ego e objecto)
2. Na melancolia o sujeito julga-se culpado da morte ocorrida, possuído pelo morto ou pela doença que o vitimou (o Ego identifica-se com o objecto perdido)
1. Chorar a perda de uma pessoa querida é normal
2. Mas na melancolia (depressão psicótica) a mágoa do doente esconde sentimentos inconscientes e ódio
3. Como o sujeito não pode aceitar esses sentimentos, o objecto de amor perdido identifica-se com o Ego do doente (esta identificação extrema apelida-se de introjecção - o objecto de amor é incorporado ou “devorado” pelo ego, numa espécie de regressão ao narcisismo infantil, na transição da fase oral para a fase anal)
Resultado: 
Assim, o ódio inconsciente, em vez de se dirigir para o objecto perdido, é desencaminhado para o próprio doente (originando culpa depressiva e autorecriminação) (Appignanesi & Zarate: 2001)
 
Em direção ao “instinto de morte” (1915-1919)
A questão que se punha era encontrar uma teoria satisfatória do conflito de instintos
Freud já tinha diferenciado princípio do prazer e princípio da realidade:
1. Princípio do prazer: impele o organismo para uma satisfação imediata, impulsiva e realizadora de um desejo
2. Princípio da realidade: permite tolerar demoras e adiamentos da satisfação; põe em acção o pensamento; permite uma distanciação dos impulsos sexuais e uma orientação da energia no sentido do pensamento, trabalho e lazer(ex. sublimação)
Estes princípios não são antagónicos; ambos têm por finalidade a descarga de tensão. “O prazer é o resultado psíquico da descarga de um certo quantitativo de excitação, estímulo ou tensão que surge dentro do organismo. O princípio da realidade é simplesmente um processo diferido e modificado de atingir o mesmo alvo – que é o prazer” (Appignanesi & Zarate, 2001: 146)
Todo o comportamento está ao serviço da redução da tensão?
Como entender comportamentos auto-agressivos (ex. masoquismo)?
Como entender os casos de “neurose de guerra”?Estados de choque causados por risco iminente (ex. experienciar um bombardeamento ou a morte de camaradas de armas), dos quais resulta uma ansiedade violenta
Os sonhos repetiam o trauma assustador (neste caso, os sonhos não pareciam traduzir a realização de um desejo nem protegiam o sono)
Os estados de tensão desagradável eram mantidos através da repetição (como ajustar a repetição de uma experiência desagradável ao princípio do prazer?)
Compulsão à REPETIÇÃO
Expressão utilizada por Freud para descrever a tendência para reviver situações desagradáveis ou traumáticas:
1. A necessidade de repetir é sempre precedida de uma experiência desagradável
2. Normalmente, a ansiedade prepara-nos para a expectativa do perigo
3. Por vezes, o psiquismo sofre um choque para o qual não estava preparado - não é a ansiedade que causa uma neurose traumática; a ansiedade visa proteger o indivíduo
4. A compulsão à repetição cria uma ansiedade retrospetiva no psiquismo - a lembrança penosa é revivida até ser criada uma defesa suficiente
Contudo, esta compulsão à repetição pode virar-se contra o próprio até ao ponto da auto-destruição, era considerada “demoníaca”
EM TORNO DA MORTE… 
1. O alvo da actividade mental é reduzir tensões provocadas por uma excitação instintiva ou por uma excitação exterior.
2. O sistema nervoso de um indivíduo é regulado por um princípio de constância – uma tendência conservadora para a estabilidade.
3. Um instinto é, portanto, o impulso inerente a toda a vida orgânica para restabelecer um estado de coisas anterior.
4. Uma vez que toda a matéria viva é feita à custa de matéria não viva, inorgânica, é possível que exista um instinto para além do princípio do prazer que tenha como alvo um regresso a um estado de inércia inorgânica.
5. A compulsão a repetir é um princípio instintivo regressivo cujo alvo é fazer regressar o indivíduo a uma condição totalmente vazia de energia – a morte.
THANATOS: INSTINTO DE MORTE
Pulsões de morte: “designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida e que tendem para a redução completa de tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgânico” (Laplanche & Pontalis, 1985: 528)
Quando defronta obstáculos exteriores, o resultado é a agressão
Quando se dirige contra o próprio ego, o resultado é um comportamento autodestrutivo
As pulsões de morte tendem para a destruição das unidades vitais, para a igualização radical das tensões e para o retorno ao estado anorgânico (estado de repouso absoluto; retorno a um estado anterior)
EROS: INSTINTO DE VIDA
Pulsões de vida: “grande categoria de pulsões que Freud contrapõe, na sua última teoria, às pulsões de morte (…) as pulsões de vida, também designadas pelo termo «Eros», abrangem, não apenas as pulsões sexuais propriamente ditas, mas ainda as pulsões de auto-conservação” (Laplanche & Pontalis, 1985: 528)
As pulsões de vida tendem a conservar as unidades vitais (ex. ao nível celular, manter a coesão intercelular) e a constituir unidades cada vez mais englobantes (progressão para estados mais diferenciados e organizados, p. ex., dos organismos unicelulares aos multicelulares). Ao nível do indivíduo, tentativa deste manter a sua unidade e existência (auto-conservação) e a união a partes mais englobantes (ex. a libido e a união dos indivíduos no acasalamento)
EROS e THANATOS passam a formar a antinomia de base da teoria do conflito
Tanato (a Morte) era uma divindade infernal, ajudante e fornecedor de Hades (senhor dos Infernos) conjuntamente com Hipno (“o que adormece os homens”) (Lamas, 2000).
Eros, deus do amor, era a “força fundamental do mundo”. Os poetas figuram-no como um menino alado, que se diverte a perturbar os corações e a feri-los com as suas setas, ateando o fogo da paixão. 
eros e thanatos: ligação e nirvana
A oposição “princípio da realidade” vs. “princípio do prazer” não permite explicar a dualidade (ambos visam a redução da tensão, podendo associar-se às pulsões de morte)
Pulsões de morte: tendência regressiva (para formas menos diferenciadas e organizadas, em último caso, sem diferenças de nível energético, para a redução absoluta das tensões)
Princípio de Nirvana: designa a tendência do aparelho psíquico para levar a zero ou reduzir o mais possível todas as excitações de origem interna ou externa.
Pulsões de vida: tendência progressiva (para formas mais organizadas, para maiores diferenças energéticas entre organismo e meio, que supõem um nível mais elevado de tensão)
Princípio de Ligação: segundo Freud “o alvo do Eros é instituir unidades cada vez maiores e, portanto, conservar: é a ligação. O alvo da outra pulsão é, pelo contrário, dissolver os agregados, e assim destruir as coisas”
Psicologia do ego – corresponde à segunda tópica de freud
O ego e a terapia 
O ego começa a formar-se quando o bebé começar a entrar em contacto com a realidade (Primeiras sensações corporais, quando é focado, quando falam com ele)
A formulação do conceito de Ego conduziu a profundas alterações no conceito de psicanálise e psicoterapia psicanalítica
EGO
- Parte do aparato psíquico que lida com a realidade
- Surge ao longo do desenvolvimento através do contacto com a realidade
· Surge por diferenciação progressiva do id (no princípio, tudo era id)
· Primeiro momento em que surge é quando são percebidas as sensações corporais – o primeiro ego é “ego do corpo”
- O ego pode fugir dos perigos externos, mas não dos internos (impulsos instintivos)
- O ego é uma composição de uma série de mecanismos de defesa (Vai permitir ao ego do indivíduo defender-se de eventuais ameaças. As estruturas de personalidade têm mecanismos de defesas – caraterísticas) 
· O conceito de repressão (recalcamento passa a mecanismo de defesa) foi substituído pelo de defesa
· A repressão era apenas uma das muitas defesas que podemos utilizar
- Estrutura de personalidade (psicótica, borderline, neurose) e ego estão intimamente relacionadas
· As diversas componentes do ego podem variar, do normal ao psicótico
- Estas variações do ego podem ser hereditárias ou adquiridas
· A maneira de um indivíduo se relacionar com o mundo é um misto de estruturas inatas e influências ambientais
- O ego pode ser considerado “forte” ou “fraco”, dependendo da sua capacidade para lidar com a realidade externa e interna
Psicótico Borderline Neurose 
Ego mais forte
Desenvolve-se em relação à Neurose (realidade) tornam-se mais fortes no contacto com a realidade
Ego mais fraco
(mecanismos de defesa primários)
	
Estudos sobre a histeria
Os sintomas histéricos: lembranças reprimidas (tornar consciente o que estava inconsciente) 
Método catártico 
· O paciente era hipnotizado e levado de volta à situação traumática que deflagrara a neurose
· Existia uma estrangulação do afeto que precisava de ser abreagido
· Uma vez abreagido o afeto, o paciente estava curado 
A fórmula era: tornar consciente o inconsciente
Primeiro sistema psicanalítico (Psicologia do Id) 
Transferência e resistência
· O paciente era convidado a deitar-se no divã e associar livremente
· Devido à transferência e resistência ninguém faz associações de forma completamente livre (a compreensão intelectual que tinha sido enfatizada anteriormente mostrava-se inútil)
O paciente tinha de atravessar as resistências, o que produziria as maiores mudanças
NOTA: 
Freud encontrou resistências. Os mecanismos de defesa deviam ser inconscientes e não se conseguiriaaceder a eles facilmente. Deveríamos ultrapassar esses mecanismos de defesa. 
Segunda tópica (Psicologia do Ego)
Substituição de comportamentos irracionais inconscientes, em detrimento de outras mais reais e adaptativas (racionais)
A fórmula tornou-se: onde estava o Id, estará o Ego 
· O paciente tinha de substituir o comportamento compulsivo, impelido pelo Id, por considerações racionais sob o domínio do Ego
· A terapia visa o fortalecimento do ego e a substituição de soluções infantis inadequadas para soluções mais amplas e corretas
· Não se trata de eliminar as peculiaridades em prol de uma normalidade padronizada, nem que a pessoa deixe de sentir paixões e desenvolver conflitos internos: trata-se tão só de assegurar as melhores condições para o funcionamento do ego
Análise terminável e interminável
1. Sonhos: as análises mostravam que mesmo os indivíduos assintomáticos podem revelar sonhos com uma variedade de problemas subjacentes na análise dos sonhos
2. Memórias de infância: no primeiro período, Freud acreditava que a libertação de uma memória podia desenredar e curar toda a estrutura neurótica. Mais tarde, constatou que memórias (de factos) e reconstruções (fantasias) têm igual valor (por isso, a recuperação das memórias não cura a neurose). Estas memórias tinham uma importância igual que a realidade psíquica, e a sua recuperação não curava a neurose porque haviam outras coisas a operar. 
3. Sexualidade infantil: o enfoque é depois colocado sobre o material reprimido (particularmente, o complexo de Édipo). Era necessário que o paciente superasse as fixações edipianas (trata-se de um processo mais quantitativo do que qualitativo). Foco no complexo de édipo que é reprimido. 
4. Transferência: a compreensão intelectual as questões eram insuficientes; era necessário que o paciente superasse a transferência no contexto da relação terapêutica. Existem sempre aspetos inconscientes e como tal não eram compreendidos. A forma como se relacionam como os outros (transferência) 
5. Resistência: os pacientes devem atravessar as resistências no contexto da relação terapêutica; o terapeuta interpreta o conteúdo latente das produções associativas do paciente. Mecanismos de defesa no ego (difíceis de ser alcançados). Através da interpretação dos conteúdos que são trazidos por parte do paciente. 
6. Elaboração: é indispensável a repetição de interpretações durante um período de tempo. Não se pode esperar que alguém melhore com uma interpretação (trata-se de um aspecto muito relevante da psicoterapia, mas difícil de ser especificado com precisão - quando é que o paciente já aprendeu o suficiente sobre si próprio?) – Trazer à consciência o que é inconsciente. Facilitado pela repetição das interpretações. 
7. Estrutura do Ego: para que a psicanálise chegou efetivamente ao fim, o ego deveria ser reconstruído (contudo, persiste a dúvida sobre que maneira particular deve o ego ser reconstruído)
Discípulos e continuadores
Alguns discípulos de Freud afastaram-se da ortodoxia freudiana e constituíram Escolas próprias. Por exemplo:
1) Jung e a “Psicologia Analítica”
2) Adler e a “Psicologia Individual”
Os discípulos que não romperam o vínculo desenvolveram trabalhos que aprofundaram/exploraram outras questões. Por exemplo:
1) Otto Rank aborda o “traumatismo do nascimento” – protótipo dos traumas
2) Sandor Ferenczi propõe uma “terapia ativa” – permitia comentários ou comportamentos, por parte do terapeuta quando existe necessidade por parte do paciente
As controvérsias 
Com o advento do nazismo e da II Guerra Mundial, assiste-se ao êxodo de muitos psicanalistas (muitos deles judeus) para a Grã-Bretanha e Estados Unidos. Entre estes contava-se:
Melanie Klein: emigrou para Londres em 1926 a convite de Ernest Jones e trabalhava na Sociedade Britânica de Psicanálise, com um interesse especial pela psicanálise de crianças (Baseou-se mais na psicologia do Id)Análise das crianças
Anna Freud: em 1927 publica “O tratamento psicanalítico de crianças” (onde critica a metodologia de Klein) e em 1938 acompanha o seu pai na fuga ao nazismo, instalando-se em Londres (Baseou-se mais na Psicologia do Ego)
A partir daí assiste-se ao agudizar do conflito entre Anna Freud e Melanie Klein (que na altura era a figura mais proeminente da Sociedade Britânica), que culmina com um acordo que prevê a coexistência de 3 tendências: Kleiniana, Anna Freudiana e o Middle Group (Tambem na intervenção com crianças – no meio das duas correntes) (não alinhados)
O pensamento de anna freud
Pode ser articulado em 3 eixos:
1) Defesa e continuidade das ideias do pai (Psicologia do Ego)
2) Início da psicanálise de crianças
3) Aprofundamento do conceito de Ego e dos mecanismos de defesa (através do trabalho que faz com as crianças)
Relativamente ao primeiro ponto, é de destacar que quando se mudaram para Londres, o meio psicanalítico já continha muitos indivíduos que propunham teorias que se distanciavam substancialmente das formulações freudianas (entre os quais, Melanie Klein). Assim:
· Anna Freud trabalha e aprofunda a instância mais mediadora com a realidade – o Ego
· Melanie Klein postula e trabalha com as fantasias inconscientes – o Id
Psicanálise de crianças segundo anna freud
A criança não reconhece nenhuma problemática como sendo sua, ou seja, não existe uma decisão voluntária de procurar ajuda – (A criança não procura ajuda seja dos pais, cuidadores, então…) - é necessário um trabalho prévio de preparação (dressage)
Para a Psicoterapia (consciencializar a criança da sua doença e proporcionar sentimentos de apego – colaborar na análise) 
As crianças não tinham capacidade de formar transferências (permite as interpretações elaboradas) (ou seja, reproduzir na relação terapêutica sintomas vividos como neurose de transferência) - a criança não pode repetir algo (a relação com os pais) que ainda não terminou (nos neuróticos adultos os pais enquanto objetos originais existem em fantasia; nas crianças ainda existem na realidade) 
Fomentar um vinculo entre a criança e o analista que prevenia a interrupção da análise (abandono) 
O enfoque é também colocado numa Pedagogia de base psicanalítica - facultar orientações para professores e educadores que lidam com crianças com problemas
O ego e os mecanismos de defesa
Anna Freud - intervenção na realidade, relação objetal (nossa relação com os outros indivíduos) e mecanismos de defesa 
Com trabalhos como “Indicações da Análise para Crianças” (1945) e “O Ego e os Mecanismos de Defesa” (1946), o interesse de Anna Freud dirige-se cada vez mais para o Ego
Trata-se de uma oposição entre uma psicanálise do Id (focada em fantasias inconscientes, impulsos reprimidos) e uma psicanálise do Ego (focada na adaptação da criança/adulto ao mundo exterior) - para Anna Freud, os psicanalistas davam pouca importância à segunda
O exterior entra em conflito com o Id
Importa, pois, estudar os mecanismos de defesa, as formas como o Ego lida com as angústias e as exigências internas/externas (de forma adaptativa ou desadaptativa).
Estes trabalhos acabam por convergir com um modelo, que teve grande aceitação nos Estados Unidos - O modelo da Psicologia do Eu (Hartmann, Kris e Lowenstein) - onde o problema central era a adaptação entre organismo e ambiente
Dar ênfase no trabalho do Ego, mecanismos de defesa e adaptação à realidade
Melanie klein e o modelo das relações de objeto 
Melanie klein (1882-1960)
Pode ser considerada a segunda figura de maior impacte no movimento psicanalítico europeu (depois de Freud) – Baseia-se na teoria de Freud (conflito entre pulsões de vida e de morte (interno), e existe um mundo externo que pode ser gratificante ou ameaçador) 
Percurso autodidata (não completou nenhum curso superior), com a realização de duas psicanálises pessoais (Ferenczi e Abraham)
Ferenczi encoraja Klein a fazer a sua primeira apresentação na Sociedade Psicanalítica de Budapeste sobre o desenvolvimento infantil; Abraham estimula-a a trabalhar com crianças muito pequenas (para investigar a origem das psicoses)
Em 1927,instala-se em Londres, a convite de Ernest Jones. Aqui desenvolve um quadro teórico original, que se transforma numa escola.
Vida pulsional 
A tese de partida de Klein assenta nas últimas formulações freudianas: existe desde o início da vida um conflito entre pulsões de vida e pulsões de morte (id); existe igualmente um mundo externo ameaçador e gratificante (ego)
O bebé vai relacionar-se com os seus objetos internos e externos (fase inicial onde não há pensamentos, mas sim sensações): a sua finalidade é adquirir e conservar em si mesmo o objeto ideal (aquele que é dador de vida e protetor) e excluir os maus objetos e as partes de si mesmo que contêm as pulsões de morte
Surge um mundo fantasmático (interno), povoado por bons e maus objetos, que permitiria explicar a génese dos processos psicopatológicos psicóticos (o ponto de partida é sempre o auto-relacionamento psicótico que evolui para uma neurotização socializada) (Leal, 2005) – Todos nós nascemos no “P” e tendemos para “N”
Teoria do desenvolvimento Psicopatologia é o desvio da estrutura 
Psicopatologia – Narcisismo 
Esquizofrenia 
Estrutura da personalidade 
Teoria das posições (coisas transitórias)
Das análises que vai efetuando, Klein descreve a existência de fases de desenvolvimento, que designa “posições” (referentes à anteriormente considerada “fase oral”) – apenas para o primeiro ano de vida (Baseou-se na teoria de Freud)
Posição (divisão do objeto externo mãe boa, mãe má) esquizo-paranóide (primeiros 3/4 meses de vida)
· Angústia persecutória (devido à projeção no exterior da pulsão de morte)
· Formação de objetos parciais (“seio bom” e “seio mau”; tentativa de incorporar o bom objeto e ataque ao mau objeto percecionado no exterior)Fase oral da Teoria Psicossexual de Freud
· Utilização de mecanismos de defesa primitivos para gerir a angústia (clivagem, projeção, introjeção) – Podemos usar noutras estruturas, mas são mais utilizadas na paranoide) 
Posição depressiva (restantes meses do primeiro ano de vida) – Progressivamente superada
· Integração dos objetos parciais num objeto único (à medida que vá tendo esta experiência com a realidade, vai perceber que o objeto que ele odeia “seio mau” é o mesmo que o “seio” bom.) – Já tem alguma maturidade para perceber que estes dois seios são o mesmo, diminui a clivagem (divisão – ex: bom ou mau). As sensações libinais são para o objeto na sua totalidade (internalização)
· Angústia depressiva (por receio de ter ferido o bom objeto) – Angústia que o bebé percebe como perigo eminente, perda da mãe (perda do objeto)
· Sentimentos de culpa e movimentos de reparaçãoMedo de perder a mãe
alguns contribituos de klein (2ºFigura da psicanálise)
1. Articula uma teoria que descreve as fantasias inconscientes mais precoces e assim faculta à psicanálise conceitos que permitem explicar as psicopatologias mais graves que até aí estavam fora dos quadros psicanalíticos (ex. patologia borderline e psicótica)
2. Inovadora pelo trabalho direto com crianças (as referências de Freud à infância eram feitas indiretamente, pela análise dos pacientes adultos); faculta as ferramentas para a aplicação da psicanálise a crianças (“play technique”: o brincar como o principal modo de comunicação emocional da criança; não interferimos no que a criança quer brincar e abordar)
3. Valorização dos vínculos estabelecidos pelas crianças nas suas fases precoces de desenvolvimento, abrindo as portas à valoração das relações de objeto (até então secundarizadas em relação à dimensão pulsional).
Outro indivíduo
Os primórdios da psicanálise de crianças
Primeiros passos de Freud:
· Considerava que a neurose adulta tinha as suas raízes numa neurose infantil (ex. Homem dos Lobos – era um adulto)
· Observava os seus próprios filhos e encorajava os seus discípulos a fazerem o máximo de observações de crianças
· Publicação da história do Pequeno Hans (menino de 5 anos que sofria de uma agorafobia (medo do ar livre – espaços livres); análise conduzida pelo pai com supervisão de Freud)
CONTUDO…
Antes de Klein considerava-se que:
· As crianças não têm uma noção de doença e da necessidade de ajuda - por isso, era impossível esperar a sua cooperação
· Era impossível fazer uma criança deitar-se quieta num divã e associar livremente
· Pensava-se que as crianças ainda estavam apegadas aos pais e não desenvolviam uma transferência (neurose de transferência)
A análise de crianças segundo klein
O modo natural da criança expressar-se é através de jogos e brinquedos - possibilidade de comunicar com a criança (a forma de associação livre das crianças é brincar)
Brincar, para a criança, não é “apenas brincar”, mas também é trabalho - “é não só um modo de explorar e dominar o mundo externo, mas também, através da exploração e elaboração de fantasias, um meio de explorar e dominar ansiedades. Em seus jogos, a criança teatraliza suas fantasias e, ao fazê-lo, elabora e resolve seus conflitos” (Segal, 1983: 32) – estar atento à forma de brincar da criança – e o seu simbolismo 
A atividade lúdica (como representante simbólico de fantasias, desejos e experiências) pode ser usada como via de acesso ao inconsciente infantil - o livre jogo da criança e suas comunicações verbais podiam servir propósitos similares às livres associações dos adultos
Play technique
Técnica na qual as crianças podem expressar-se através dos brinquedos e brincadeiras.
Importa analisar e interpretar os significados da brincadeira (e dos desenhos), a transferência e as fantasias inconscientes expressas
A análise infantil, tal como a de um adulto, requer um adequado ambiente psicanalítico, afastado do lar e da família (as primeiras análises de Klein forem em casa das crianças com os seus brinquedos)
Era proporcionado um setting psicanalítico apropriado:
· As sessões decorriam em horários estritamente definidos, cinco vezes por semana
· O gabinete era adaptado para a criança (contém apenas móveis simples e robustos; o chão e as paredes eram laváveis; existiam caixas com brinquedos)
· Os brinquedos eram cuidadosamente escolhidos: pequenas casas, bonecos homens e mulheres (preferivelmente em dois tamanhos), animais domésticos e selvagens, blocos de montagem, lápis de cor, papel, plasticina…
· Os brinquedos não podem ditar o tema de jogo (tal como na análise de adultos o analista não deve sugerir o tema das associações): não devem existir brinquedos como jogos que imponham regras (ex. damas), as figuras não devem ter uniformes ou indicadores de profissão – Dar jogos com regras é implicar regras. Ter brinquedos neutros para não interferir com o assunto da criança
· Os brinquedos pequenos são mais adequados, pois a sua pequenez torna-os apropriados a representar o mundo interior
A criança é livre para usar os materiais, o quarto e o analista. Este pode ser chamado pela criança a desempenhar papéis (por exemplo, o analista pode fazer de “criança malandra” enquanto a criança faz de “professor severo”). A prática atual é similar às definições básicas de Melanie Klein
Diferenças 
+ Ligada ao INCONSCIENTE
+ Ligada ao EGO
Modelo das relações de objeto
“O modelo das relações de objeto, tem como grande linha condutora o deixar de pensar a evolução do sujeito de acordo com sucessivos reordenamentos da relação pulsional e sexual com o objeto e passar-se a procurar mostrar como se organiza estruturalmente a atividade fantasmática precoce, conforme o tipo de relações objetais” (Leal, 2005: 96) – forma de relação com outro/mãe 
“Construção de uma premissa central na psicanálise de que, muito mais importante que qualquer realidade, é o fantasma e a construção que os seres humanos vão fazendo, desde sempre, com os seus objetos (internos e externos, parciais e totais)” (Leal, 2005: 96)
“Outros autores (…) preocuparam-se menos com um hipotético mundo interno e fantasmático das crianças e destacaram a importância dos vínculos que estas estabelecem” (Leal, 2005: 97)
· Ex. Bion e a “mãe-contentora” (sentido de contenção), aquela que tem a capacidade de ressonânciado que é projetado sobre ela)
· Ex. Winnicott faz a afirmação que “o bebé não existe”, pois só pode Ser na relação com outro
Integra autores como Balint, Bion, Fairbairn, Winnicott, Meltzer, entre outros.
WINNICOTT E A DÍADE MÃE/BEBÉ
A “inexistência” do bebé (quando nasce não sobrevive sozinho sem ser cuidado) implica estudar não só os objetos externos e internos, mas a sua interação mútua (interação mútua entre mãe e bebé que permite a construção do verdadeiro self):
· O bebé encontra-se primeiramente num estado de “ilusão” – as suas necessidades instintivas são supridas, como que por magia, por uma mãe preocupada
· “preocupação materna primária” é uma espécie de estado de “loucura” que ocorre após o nascimento (tem uma dimensão normativa, e desvanece-se com o passar do tempo) – a preocupação da mãe sustenta esta “ilusão” (permite criar o estado de ilusão na criança
· Com base nestas experiências, o bebé desenvolve um núcleo central de segurança – o “verdadeiro self” – que constitui a base para a gestão das frustrações e desilusões da vida e para o reconhecimento do mundo real
· Se este não se desenvolve (a criança não tem a ilusão de conseguir criar aquilo que necessita), então poderá ter dificuldades em:
· Unir o mundo interno e externo
· Agir espontaneamente – passa apenas a identificar-se com “papéis sociais” em vez de expressar as suas qualidades internas (emerge um “falso self”) – viver de acordo com o que é esperado por ela e não o que realmente quer
Winnicott, objecto e fenómenos transicionais
Objeto transicional – primeira posse “não-eu”, adotada pela criança entre os 4 e 12 meses; este objeto (ex. cobertor ou pedaço de pano) é segurado tenazmente, e se retirado o bebé/criança grita e chora. Tem as seguintes qualidades:
1. O bebé/criança assume direitos sobre o objeto
2. O objeto é afetuosamente acariciado e amado, mas também mutilado
3. Deve sobreviver ao amor e ao ódio
4. Deve parecer à criança dar algum calor, ou mover-se, ou fazer algo que pareça mostrar que tem vitalidade/realidade própria
5. Ele vem de fora do ponto de vista do observador, mas não do ponto de vista do bebé
6. Deve ser gradualmente descatexizado, não é esquecido, mas relegado para um limbo
Este objeto transicional simboliza a mãe – é um sinal que a criança já desenvolveu bastante ego para se permitir usar um objeto simbólico, em vez da própria mãe
Na transição da relação fusional com a mãe, para uma verdadeira relação de objeto, a criança cria um “objeto transicional”
· Faz a ligação entre “eu” (mundo interno) e “não eu” (mundo externo)
· Permite gerir as angústias associadas à separação
· Permite manter a ilusão que a criança pode criar aquilo que necessita
Para Winnicott, existem outros fenómenos transitivos, um “espaço transitivo” entre o mundo interno e a “realidade”, que é o espaço do jogo criativo, da imaginação e da arte
O jogo criativo pode revelar a ligação entre a relação do indivíduo com a sua realidade interna e a sua realidade externa/partilhada
WINNICOTT E O SQUIGGLE
Técnica de comunicação com a criança, através do desenho, na consulta terapêutica
1. Em primeiro lugar, o terapeuta desenharia um “squiggle”, uma linha curva, sem forma específica, numa folha de papel
2. A criança adiciona elementos ao desenho (o analista comenta o seu significado)
3. O analista acrescenta elementos ao desenho (criança e terapeuta comentam o seu significado, e por adiante)
Esta técnica é baseada nas suas perspetivas que a comunicação criativa e o jogo ocorrem numa terceira área (espaço transicional), um espaço em que as contribuições de duas pessoas se sobrepõem
Algumas notas sobre os modelos
Os diferentes modelos emergem dos dados da investigação (clínica, quotidiano, produções culturais). Desde Freud que ocorreram algumas mudanças significativas ao nível dos modelos propostos (Ward & Zarate, 2011):
· O enfoque no indivíduo deu lugar a uma ênfase nas relações
· A ideia de “aparelho psíquico” deu lugar ao conceito de “mundo interno” (amálgama fluída de objetos, fantasias e desejos)
· Os modelos do “conflito” têm sido complementados por modelos de “défice” (falhas desenvolvimentais)
· Os “objetivos instintivos” para a satisfação/gratificação passaram a incluir objetivos para formar/manter relações
· O “desenvolvimento da libido” deu lugar nalguns casos ao desenvolvimento do narcisismo e/ou do self
· A ênfase no papel do pai deu lugar a um enfoque mais substantivo nas relações pré edipianas com a mãeTodas estas alterações são mudanças de ênfase e não ruturas epistemológicas - os pilares basilares mantêm-se (inconsciente; conflito psíquico; transferência; relações e afetos…)
	
A prática da psicanálise: No interior do espaço psicanalítico Considerações técnicas da clínica psicanalítica
OBJETIVOS
Evolução em Freud (Fine, 1985):
Tornar consciente o inconsciente - ultrapassar as resistências - onde estava o Id deverá estar o Ego - criar condições ótimas para o funcionamento do Ego
Muitos psicanalistas consideram que o paciente sofre de dificuldades na vida que podem ser minoradas pela psicanálise, mas para as quais não se pode ter uma “cura” completa (Fine, 1985) 
“O trabalho psicanalítico propõe-se aclarar progressivamente a dinâmica psicológica inconsciente do sujeito, ao mesmo tempo que reforça o Ego do sujeito na sua relação com o terapeuta e pretende trazer ao nível consciente o que está recalcado, libertando desse modo uma energia útil à maturação afetiva” (Leal, 2005: 108) 
Com o amadurecimento da técnica, o foco passou da cura de sintomas à mudança da estrutura de carácter (personalidade) (Fine, 1985)
Desenvolvimento terapêutico
A transferência é o elemento motor do tratamento: ao longo da psicanálise o paciente é conduzido a reproduzir na relação com o analista, situações antigas de conflito e frustrações arcaicas
Esta transposição de experiências no contexto terapêutico chama-se neurose de transferência
O trabalho analítico tem um protocolo específico para fomentar a transferência e a instalação da neurose de transferência, dividido em dois eixos: setting e processo (associação livre, exploração da transferência)
SETTING
Setting: local onde se fixam as constantes de tempo e lugar, estipulando certas normas que estabelecem os papéis de entrevistador e entrevistado relativamente à tarefa a que se propõem levar a cabo
Conjunto de regras que enquadram a relação terapeuta-paciente: 
· Regra fundamental 
· Regra de abstinência 
· Regra de neutralidade
Modalidades práticas
O terapeuta tem de prestar atenção às condições de espaço e tempo que proporciona: 
1) Espaço: consultório livre de interrupções e barulho; divã e cadeiras confortáveis
2) Tempo: confiança no tempo, duração e frequência duração das sessões
Tempo e espaço tornam-se parte do ambiente contentor oferecido pelo terapeuta que, conjuntamente com a sua sensibilidade, contribuem para fomentar a confiança no terapeuta (Bateman, Brown & Pedder, 2003)
Aspectos práticos (Leal, 2005):
· As sessões de psicanálise têm uma duração e frequência fixas, previamente combinada (45 minutos, 3 ou mais vezes por semana, durante alguns anos) 
· O terapeuta mantém-se invisível, em posição sentada fora do ângulo de visão do paciente 
· A posição do paciente é deitada num sofá longo – o divã
O DIVÃ
“A posição do analisando deitado no divã, sem ver o analista e sem este ver o seu rosto, eliminando a comunicação pelas expressões faciais, estimula a introspeção do analisando e o pensamento indagativo do analista, ou seja, a curiosidade de perceber, através do que o doente lhe conta (…) como ele sente, pensa e age, quem é ele, quem são ou foram os seus educadores (pai, mãe, etc.), que tipo de relações estabeleceu e estabeleceram com ele”
Isto estimula a pesquisa psicanalítica nos seus três principais subsistemas:
· relações com os objetos internos (pessoas significativas do passado infantil)
· relações com os objetos externos (pessoas significativas da atualidade)
· relação com o analista
“A técnica cadeira-divã (…) promove, ainda, melhor conhecimento e compreensãoda natureza, qualidade e textura (…) dos laços de amor, ódio e curiosidade que o paciente nutre com os seus objectos” (Coimbra de Matos, 2002)
A atitude do terapeuta - regras de neutralidade e abstinência
Regra da neutralidade: evitação de conselhos, de julgamentos e de atitudes valorativas
1) Neutro quanto a valores religiosos, sociais e morais (não dirigir o tratamento em função de um ideal e abster-se de conselhos)
2) Neutro quanto às manifestações transferenciais (não entrar no jogo do paciente)
3) Neutro quanto ao discurso do analisando (não privilegiar a priori, em função de preconceitos teóricos, um determinado fragmento do discurso)
Esta atitude tem sido considerada no sentido da metáfora do espelho de Freud: necessidade de o psicanalista ser opaco para os seus pacientes, devolvendo apenas aquilo que lhe era mostrado
“Não procuramos nem formar por ele [paciente] o seu destino, nem lhe incutir os nossos ideais, nem o modelar à nossa imagem” (Freud, 1918)
A neutralidade absoluta é uma exigência limite - caracteriza a função do analista, como aquele que fornece interpretações e suporta a transferência, e não a sua pessoa real (todos os indivíduos têm as suas posições pessoais)
Em casos especiais (angústia das crianças, psicoses e certas perversões) não se considera desejável ou possível uma neutralidade absoluta (Laplanche & Pontalis, 1985)
Princípio da abstinência: o analista deve recusar satisfazer os pedidos do paciente e desempenhar os papéis que este tende a impor-lhe
· O ato fundamental do método analítico é a interpretação (descortinar o conteúdo latente das produções manifestas do paciente) e não a satisfação das exigências libidinais do paciente
Outras regras:
1) ausência de relações pessoais com os analisandos (para não contaminar o processo transferencial com aspetos do real de ambos)
2) atenção flutuante (opõe-se a uma atenção seletiva ou dirigida; é o contraponto no analista à associação livre do paciente, permitindo a comunicação de “inconsciente a inconsciente”)
O papel do paciente
Fatores para se considerar se um paciente pode retirar os melhores resultados de uma psicanálise (Bateman, Brown & Pedder, 2003: 138):
1) Ter alguma consciência de que a fonte dos seus problemas está parcialmente dentro dele mesmo
2) Considerar que uma compreensão total de si próprio e das suas relações pode facilitar a solução dos seus problemas
3) Ser capaz de questionar o que foi tomado como garantido e, no que for apropriado, modificar as suas atitudes e comportamento
REGRA FUNDAMENTAL: “regra que estrutura a situação analítica: o analisando é convidado a dizer o que pensa e sente sem nada escolher e sem nada omitir do que lhe acode ao espírito, ainda que lhe pareça desagradável de comunicar, ridículo, desprovido de interesse ou despropositado” (Laplanche & Pontalis, 1985: 565)
· Com motivação para compreender e mudar (mesmo que apenas em embrião), o paciente junta-se numa aliança terapêutica com o terapeuta, na qual se compromete a seguir a regra fundamental (ou pelo menos, tentar superar a resistência de comunicar mais espontaneamente)
· O paciente dá prioridade à busca conjunta, mesmo sobre o alívio dos sintomas e o evitamento do desconforto emocional
· Tenta falar sobre os seus sentimentos e fantasias à medida que surgem e evita descartá-los ou agi-los (dentro ou fora da terapia) (se estiver zangado com o terapeuta é encorajado a dizê-lo em vez de chegar tarde à sessão)
· O aumento da consciência com o auxílio das interpretações e comentários do terapeuta, conduzem o paciente a avaliar a influência do passado no presente, de desejos e medos inconscientes e de defesas desajustadas; desenvolve a capacidade de diferenciar os aspetos objetivos e subjetivos da relação terapêutica (“como é” a relação e “como parece ser” pelas lentes do paciente)
Psicanálise e Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica
Questões que inviabilizam a generalização da psicanálise e motivaram a busca de alternativas:
1) Estruturas de personalidade e/ou psicopatologias menos “permissivas” ao tratamento psicanalítico (embora este critério seja variável; depois de Klein, vários psicanalistas ampliaram o espectro original freudiano de patologias tratáveis pela psicanálise)
2) Baixa literacia e insight de muitas populações
3) Disponibilidade física e económica para realizar um tratamento, pelo menos três vezes por semana durante alguns anos
4) Organizações tendencialmente economicistas dos sistemas de saúde que vetam a psicanálise como abordagem terapêutica institucional
5) Motivações e interesses dos eventuais clientes deste tratamento
Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica: Definição
As necessidades ditaram o desenvolvimento de uma variedade de abordagens psicoterapêuticas, dentro das conceções e sistema teórico da psicanálise: as psicoterapias de inspiração psicanalítica
Estas não se diferenciam substancialmente do ponto de vista teórico, mas antes do ponto de vista da técnica
Segundo Bateman e Holmes (1977), o que diferencia a psicanálise da psicoterapia de inspiração psicanalítica é a frequência, intensidade e duração da psicoterapia
Estas terapias podem ter várias designações: psicoterapia dinâmica, psicoterapia dirigida ao insight, psicoterapia de orientação analítica
Psicoterapias de Inspiração Psicanalítica: Características
Objetivos: Aos objetivos da psicanálise junta-se o conceito de “máximo benefício terapêutico” (constitui uma prioridade, significando plasticidade técnica em função da situação)
Modalidades práticas:
· Duração do processo é geralmente mais curto que na psicanálise (com variações, 3 a 4 anos)
· Frequência semanal de uma ou duas sessões 
· Posição face a face de terapeuta e paciente
Atitude do terapeuta: mantêm o rigor da neutralidade e abstinência do terapeuta, mas com uma atitude mais suave, gratificante e centrada sobre o real do que em psicanálise
Indicações: neuroses, doenças psicossomáticas, personalidades borderline e psicoses (dependendo da experiência do terapeuta)
Contra-indicações: incapacidade de estabelecer uma aliança de trabalho (relação racional e não neurótica que o paciente estabelece com o psicoterapeuta)
Psicoterapias Breves
Um dos precursores foi Sandor Ferenczi (1873-1933), discípulo direto de Freud Propõe uma “técnica ativa” que intervinha no real e visava encurtar o trabalho terapêutico, com intervenções terapêuticas de gestos de ternura e afeto (infringia a regra da abstinência)
Nos anos 1950, na Tavistock Clinic, sob direção de Michael Balint, organizou-se um protocolo de psicoterapia breve: distinguia-se da psicanálise pela limitação do objetivo, número de sessões e técnica focal
Em 1976, Malan efetuou uma pesquisa em psicoterapia breve com 39 pacientes e concluiu:
1) Aqueles que mais beneficiaram foram aqueles que repetiram, na transferência, a relação com os pais
2) O papel do terapeuta inclui agora a dimensão da focalidade (capacidade de manter as interpretações em torno de um tema básico)
Psicoterapias Breves: Aspectos teóricos
Para além das diferenças de temporalidade, as psicoterapias breves chamam atenção para conceitos não tão relevantes nas abordagens precedentes: experiência emocional corretiva, foco e crise
Experiência emocional corretiva:
· Reviver emocional dos traumas antigos num contexto relacional muito específico (ênfase na relação com o terapeuta, no aqui e agora) 
· A tendência habitual consiste no acentuar as semelhanças entre passado e presente, ao passo que aqui seriam salientadas as diferenças (em que sentido a relação com o terapeuta difere da relação com os pais, por exemplo)
· A atitude diferente do analista, comparativamente com as pessoas do passado, permite ao paciente enfrentar as situações emocionais que foram anteriormente insuportáveis e modificar a sua forma de lidar com elas
· Este conceito acabou por extravasar a fronteira das psicoterapias breves, sendo adotado por outras psicoterapias dinâmicas
Foco: Conceito definidor e característico das psicoterapias breves
Lemgruber (1987) define-o como:
“o material consciente einconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e planeamento prévios”
Escolher um “foco” é uma forma de restringir os problemas colocados pelo paciente (Lau Ribeiro, 1997)
Segundo Malan (1987), o “foco” deve ser formulado como uma “interpretação essencial” em que se baseia a terapia
1. O terapeuta seleciona uma interpretação central para os dinamismos do paciente em que demonstre os padrões repetitivos
2. A interpretação deve ser transmitida em forma de palavras, de forma compreensível para o paciente
3. Ao longo da terapia vai-se “perseguindo” o “foco”, guiando o paciente para o mesmo através de:
· Uma interpretação seletiva (centrada essencialmente sobre o foco)
· Uma atenção seletiva (aos aspetos que melhor ilustram o foco)
· Uma “negligência” seletiva (aos aspetos que podem desviar do foco)
4. Ou seja, se o material trazido à consulta permite mais do que uma interpretação, devesse sempre escolher aquela que está em consonância com o foco e negar desvios do objetivo por materiais não relacionados com o foco
Crise: 
Caplan (1963) define crise como…
“um período temporário de desorganização do funcionamento de um sistema aberto, precipitado por circunstâncias que transitoriamente ultrapassam as capacidades do sistema para adaptar-se interna e externamente” (Leal, 2005: 126)
Também diferencia dois tipos de crise:
· Acidental: ocorrem em função de situações inesperadas (períodos de transição inesperados; exemplo, situação de desemprego)
· Evolutivas: fazem parte do ciclo de vida do indivíduo (períodos de transição expectáveis; exemplo, adolescência)
As crises são dolorosas para o indivíduo, mas também momentos privilegiados (oportunidades) para utilizar uma gama de recursos internos e externos para a superar
Podem adotar-se duas estratégias:
Alívio do sintomas e retorno ao equilíbrio anterior
“terapia supressora de ansiedade” (psicoterapia de apoio) indicada para pacientes com patologia de carácter ou quadros psicóticos
Técnicas: discussão de decisões; incentivo, gratificação, eventual manipulação do meio externo
Desencadear a ansiedade e procurar atingir um equilíbrio mais estável que o anterior
“terapia desencadeadora de ansiedade” (psicoterapia dinâmica) tem como foco os conflitos subjacentes aos sintomas apresentados; aborda-se um problema emocional prioritário e o conflito que está na sua base (gerador de ansiedade)
Técnicas: perguntas, clarificações, confrontações (o objetivo é conduzir o paciente a descobrir formas mais adaptadas de resolver ou lidar com esse problema/conflito)
Psicoterapias Breves: Objectivos e Processo
Objetivos:
· Experiência emocional corretiva
· Superação da crise
Processo:
· Definição pelo paciente de um problema emocional mais relevante
· Proposta pelo terapeuta de um foco subjacente à problemática expressa
· Trabalho terapêutico conjunto
· Adoção de intervenções adequadas à situação (desencadeadoras ou supressoras de ansiedade)
Psicoterapias Breves: Considerações práticas
Modalidades práticas:
· Número de sessões previamente fixado (na primeira sessão); noutras situações não existe um contrato temporal fixado
· Duração da consulta de 50 minutos (na literatura aparecem variações, dos 15 aos 60 minutos)
· Periodicidade das sessões variável (em situações de crise podem ser marcadas várias sessões semanais; noutras situações, podem ser agendadas sessões semanais ou quinzenais)
Atitude do terapeuta:
· Manter a neutralidade e abstinência, mas assumir um papel mais ativo e, por vezes, confrontativo
· Esclarecimento do contrato terapêutico
Indicações: situações de crise e modelo de trabalho em instituições (hospitais, programas de apoio à comunidade…)
Contra-indicações: devido às limitações temporais, indivíduos que lidem mal com a perda, abandono ou rejeição podem lidar mal com este tipo de psicoterapia
O desenvolvimento da psicanálise: Entre revoluções e continuidades Introdução aos contributos de Bion
Experiências com grupos
Enquadramento: O indivíduo e o grupo
O ser humano é um animal gregário que não pode evitar ser membro de um grupo (mesmo naqueles casos em que a pertença grupal dê a sensação de não se pertencer a grupo algum)
As teorias de Freud, em particular do Complexo de Édipo, sublinham a importância do grupo familiar para o desenvolvimento individual
Os trabalhos de Klein sobre as primeiras relações objetais, ansiedades psicóticas e mecanismos de defesa primitivos, ampliam esta perspetiva (desde o nascimento, o indivíduo não só pertence a um grupo familiar, como os seus primeiros contactos com este grupo apresentam qualidades peculiares)
As ansiedades primitivas, que emergem na relação com os primeiros objetos, são reativadas em muitas situações na idade adulta (as exigências associadas à pertença a um grupo podem conduzir a uma regressão)
A observação de grupos, por um observador com treino psicanalítico, permite detetar situações que, de outro modo, passariam despercebidas
Uma das primeiras experiências de Bion com grupos foi como diretor do sector de reabilitação de um hospital psiquiátrico durante a II Guerra Mundial
· Bion propôs-se a encarar a reabilitação como um problema grupal
· Programa de seis semanas que regulamentava que todos os pacientes deveriam realizar uma hora de treino físico diário e serem membros de um ou mais grupos destinados ao estudo de um ofício. Eram realizadas reuniões diárias com todos os intervenientes
· Bion observou a manifestação de algumas características dos grupos na relação com as tarefas planeadas que requeriam um exame mais aprofundado
Mais tarde, na Tavistock Clinic, Bion assume o tratamento psicoterapêutico de vários grupos pequenos
· Os grupos reunidos para realizar uma tarefa específica evidenciavam atitudes e métodos que não pareciam conducentes aos objetivos definidos (falta de riqueza intelectual nas discussões, com diminuição do juízo crítico e perturbações na conduta racional por parte dos membros que, fora do grupo, não evidenciavam estas características)
· As situações criadas nos grupos estavam intensamente carregadas de emoções, que pareciam influenciar os membros e orientar a atividade do grupo (o terapeuta participava neste clima emocional intenso; o grupo não parecia disposto a discutir estas situações)
· Dois tipos de tendência pareciam emergir: uma dirigida à realização da tarefa (atividade de trabalho) e outra que se parece opor (mais regressiva e primária)
· Para abordar os fenómenos grupais, Bion propõe uma terminologia específica que inclui os seguintes conceitos: mentalidade grupal; cultura de grupo; pressupostos básicos, grupo de pressuposto básico e grupo de trabalho
MENTALIDADE GRUPAL
Designa a atividade mental coletiva que se produz quando as pessoas se reúnem em grupo
É constituída pelas opiniões, vontades ou desejos unânimes do grupo num dado momento. Os membros do grupo contribuem para a mesma de forma anónima e/ou inconsciente
Pode estar em conflito com os desejos, opiniões ou pensamentos dos indivíduos, causando-lhes sofrimento
A organização de um grupo num dado momento resulta da interação da mentalidade grupal e dos desejos individuais. Esta organização, mesmo que rudimentar ou primitiva, é apelidada de CULTURA DO GRUPO
O conceito de “cultura do grupo” inclui a estrutura do grupo, as tarefas que se propõe realizar e a organização adotada. É observável considerando o comportamento dos membros, os papéis que desempenham, a atuação dos líderes e o comportamento do grupo como totalidade
Pressupostos Básicos
A mentalidade grupal é o recipiente ou continente das contribuições dos membros do grupo. O conceito de pressuposto básico diz algo acerca do conteúdo destas contribuições
Os PRESSUPOSTOS BÁSICOS são configurados por emoções intensas de origem primitiva. A sua existência determina, em parte, a organização que o grupo adota e a forma como encara a tarefa a realizar; por esse motivo, a cultura do grupo revelará sempre evidências dos pressupostos básicos subjacentes ou do pressuposto básico ativo num dado momentoExpressam fantasias grupais, do tipo omnipotente e mágico, acerca do modo de alcançar os objetivos ou satisfazer os desejos. Apesar do seu conteúdo irracional, têm uma força e realidade que se atualiza no comportamento grupal
Os pressupostos básicos são inconscientes e muitas vezes encontram-se em oposição com as opiniões conscientes e racionais dos membros do grupo
Um “grupo sob pressuposto básico” designa uma estrutura e organização adotada pelo grupo em função de um pressuposto básico em atividade → Em oposição está a organização baseada no “grupo de trabalho”
Pressuposto Básico de Dependência
O grupo tem a convicção de que está reunido para que alguém, de quem o grupo depende de forma absoluta, providencie a satisfação de todas as suas necessidades e desejos
Crença coletiva de que existe um objeto externo cuja função é providenciar segurança ao grupo, sentido como “organismo imaturo”
Crença numa divindade protetora, cuja bondade, poder e sabedoria não são questionáveis
Pressuposto Básico de Luta-Fuga
Consiste na convicção grupal de que existe um inimigo, e que é necessário atacá-lo ou fugir dele 
O objeto mau é externo e as únicas atividades defensivas possíveis são a sua destruição (luta) ou evitamento (fuga)
Pressuposto Básico de Acasalamento
Crença coletiva e inconsciente de que, quaisquer que sejam os problemas ou necessidades do grupo, uma pessoa ou ideia por nascer os resolverá. Trata-se de uma esperança irracional e primitiva do tipo messiânico
Frequentemente, esta esperança é depositada num “casal”, cujo “filho” ainda não concebido, será o “salvador” do grupo. Neste estado emocional, a atenção é centrada no futuro e não a resolução dos problemas no presente
Em termos religiosos, consiste na esperança da aparição de um Messias
Pressupostos Básicos
A conceptualização dos três pressupostos básicos permite determinar a situação emocional dos grupos, a qual é frequentemente obscura
Ao delimitar três configurações emocionais específicas, o observador dispõe de um novo instrumento para a compreensão dos fenómenos grupais em que participa
As similitudes entre os pressupostos básicos e os fenómenos descritos por Melanie Klein (objetos parciais, ansiedades psicóticas e defesas primitivas) permite aventar a hipótese que os fenómenos de pressuposto básico são reações grupais defensivas às ansiedades psicóticas reativadas pelo dilema da inclusão de um indivíduo num grupo, e a regressão que este dilema impõe
Os indivíduos que participam em atividades de pressuposto básico, fazem-no de forma automática, não necessitando de qualquer treino, experiência emocional ou maturidade emocional, nem requerendo qualquer capacidade de cooperação (esta última fundamental para a atividade mental do “grupo de trabalho”)
Grupo de Trabalho
Termo introduzido por Bion para referenciar um tipo específico de mentalidade grupal e a cultura de grupo daí derivada
O grupo de trabalho requer a maturidade, o esforço e a capacidade de cooperação dos seus membros. Implica o contacto com a realidade, a tolerância à frustração e o controlo das emoções
Grupo Especializado de Trabalho
A sociedade enquanto grupo também apresenta fenómenos de pressuposto básico. Ao longo da sua evolução, os grupos sociais resolveram este problema delegando em determinados subgrupos a função de conter estes fenómenos → Bion apelida estas organizações e instituições de “grupo especializado de trabalho”
A Igreja, com a sua organização e estrutura, especializa-se na instrumentação do pressuposto básico de dependência
As Forças Armadas, focam a instrumentação do pressuposto básico de luta-fuga 
A Aristocracia especializa-se no pressuposto básico de acasalamento
Teoria do pensamento
A evolução da experiência emocional para a capacidade de pensar e o potencial descarrilamento desse processo são os principais fenómenos descritos neste modelo
Bion criou uma teoria do pensamento baseada na transformação de elementos-beta em elementos-alfa
· Elementos-beta: impressões sensoriais e experiências emocionais não-metabolizadas; estes elementos não são apropriados para pensar, sonhar, recordar ou exercer funções intelectuais; estes elementos são vividos como “coisas em si mesmas” e geralmente são evacuados através da identificação projetiva
· Elementos-alfa: impressões sensoriais e experiência emocionais transformadas em imagens visuais ou a modelos auditivos, olfativos, etc., no domínio mental; são utilizados para a formação de pensamentos oníricos, pensamentos inconscientes durante o estado de vigília, sonhos e recordações
· Função-alfa: função da personalidade que opera sobre as impressões sensoriais e experiências emocionais percebidas, transformando-as em elementos-alfa
Barreira de contacto
Conjunto formado pela proliferação de elementos-alfa que se ligam entre si para marcar o contacto e a separação entre consciente e inconsciente, com uma passagem seletiva de elementos de um para outro. A barreira de contacto está em permanente processo de formação, cumprindo a função de uma membrana semipermeável que separa os fenómenos mentais em dois grupos:
· Impede que as fantasias ou estímulos endopsíquicos sejam comprometidos por uma visão realista
· Protege o contacto com a realidade, evitando que seja distorcido por emoções de origem interna
Tela de elementos-beta
Estados mentais em que não existe diferenciação entre consciente e inconsciente, estar a dormir ou acordado. A tela-beta é formada por elementos-beta, “coisas-em-si-mesmas”, que não possuem a capacidade de se ligarem entre si (apenas de se aglomerarem)
A barreira de contacto forma a base da relação normal com a realidade e o mundo interno e externo, ao passo que a tela-beta é característica do vínculo psicótico
Elementos-alfa, barreira de contacto, elementos-beta e tela-beta, são o resultado das vicissitudes das sensações e emoções provenientes da experiência imediata, de acordo com a operacionalidade da função-alfa
Bion parte da premissa de que o bebé necessita de uma mente para ajudá-lo a tolerar e organizar a experiência 
· Nas fases mais precoces do desenvolvimento, os pensamentos não são mais do que impressões sensoriais e experiências emocionais muito primitivas (“protopensamentos”) relacionadas com a experiência concreta de uma “coisa-em-si-mesma” 
· Dois mecanismos participam na formação deste aparelho:
· a relação dinâmica entre algo que se projeta - um conteúdo (♂) - e um objeto que o contém - um continente (♀)
· A relação dinâmica entre a posição esquizo-paranóide e depressiva (PS ↔ D)
Relação Conteúdo-Continente
O bebé expele as suas distintas emoções (conteúdos), dentro da mãe por identificação projetva 
A mãe recebe estes elementos projetados (continente) e transforma-os através da sua função-alfa 
A capacidade da mãe estar aberta às projeções/necessidades do bebé é apelidada de capacidade de rêverie (capacidade de sentir e atribuir um significado ao que se passa dentro do bebé) 
Através da rêverie, a mãe é capaz de transformar as sensações desagradáveis e facultar alívio ao bebé. O bebé reintrojecta a experiência emocional modificada e suavizada, reintrojecta a função-alfa como aspeto não sensorial do amor materno
Num processo psicoterapêutico, a capacidade de rêverie do psicoterapeuta é um instrumento fundamental para a sua resposta ao material trazido pelo paciente 
Relação PS ↔ D
Melanie Klein descreve a posição esquizoparanóide como a situação em que o que o bebé, exposto ao impacto da realidade externa e à ansiedade provocada pelas suas pulsões de morte, utiliza mecanismos de clivagem, negação, omnipotência, idealização e identificação projetiva para defender-se. Estes mecanismos conduzem a situações de dispersão e fragmentação do Eu e dos objetos
A posição depressiva constitui o processo de integração da dissociação anteriormente descrita 
Bion conceptualiza os momentos de desintegração e integração como estando em permanente oscilação. Daí deriva o símbolo PS ↔ D 
Na formação e utilização de pensamentos, ambos os processos (PS ↔ D e ♂, ♀) operam conjuntamente
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