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Introdução a Psicanálise Aula 3

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19/02/2024, 12:46 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/15
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19/02/2024, 12:46 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/15
Profª Giseli Cipriano Rodacoski
CONVERSA INICIAL
Até aqui vimos que psicanálise foi em sua origem definida por Freud, seu fundador, como:
um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis de outro
modo;
um método para o tratamento de distúrbios psíquicos;
uma disciplina científica.
Essa definição inicial, ainda que continue válida, foi alterada ao longo dos cem anos de exercício
clínico da psicanálise; hoje, a teoria psicanalítica freudiana é respeitada como uma teoria da
personalidade humana. Podemos sintetizar dizendo que se trata de uma modalidade de psicoterapia,
de estudo e de pesquisa que entende o ser humano a partir do pressuposto do inconsciente. Para a
psicanálise, a subjetividade é muito importante, pois o homem não é um ser determinado apenas por
processos racionais e grande parte do comportamento dele é motivada pelo inconsciente.
Nesta aula vamos falar um pouco sobre a natureza e a personalidade do ser humano. Não sei se
você já pensou a esse respeito, mas algumas questões costumam inquietar as pessoas:
O ser humano nasce bom e a sociedade o corrompe, ou é ao contrário?
A personalidade é herdada ou adquirida?
As pessoas melhoram ou pioram com o tempo?
É possível prever o comportamento das pessoas?
Por que as pessoas têm atitudes diferentes para lidar com a mesma situação?
O objetivo hoje é compreender o conceito de personalidade, entender o que caracteriza o
desenvolvimento humano e o que caracteriza a estruturação da personalidade para a teoria
psicanalítica freudiana.
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TEMA 1 – PERSONALIDADE
Podemos considerar que há alguma semelhança no comportamento entre crianças, adolescentes,
adultos e idosos; no entanto, em cada um desse grupo de “iguais” existe uma série de evidências de
que as pessoas são diferentes entre si. Por exemplo, os adolescentes gostam de conviver em grupos,
mas nem todos. Costumamos dizer que a personalidade das pessoas é diferente com base em
particularidades que as distinguem, apesar de fazerem parte de um mesmo grupo de iguais.
As abordagens psicodinâmicas da personalidade embasam sua fundamentação na teoria
psicanalítica e compreendem que a personalidade se estrutura ao longo do desenvolvimento
humano:
A estruturação da personalidade do indivíduo é o resultado da interação entre variáveis
neurobiológicas inatas, como o temperamento, e experiências psicossociais e emocionais precoces,
especialmente as relações parentais na primeira infância e os estressores ambientais. (Cordioli;
Grevet, 2019, p. 1105)
Essa definição caracteriza múltiplos determinantes, e não apenas uma relação de causa-efeito.
Vamos entender melhor o que Cordioli e Grevet (2019) ressaltam.
Variáveis neurobiológicas inatas: ao nascer, a criança já tem consigo uma determinação
hereditária que terá influência no seu padrão de comportamento. Essa carga hereditária é
chamada de temperamento.
Experiências psicossociais e emocionais precoces: a partir do nascimento, os primeiros anos
de vida até a adolescência são um período muito importante para formar a personalidade de
uma pessoa. A maneira como foi cuidada, socializada, bem como a intensidade e os tipos de
emoção que marcaram essa época da vida, serão determinantes significativos para a
personalidade.
Estressores ambientais: a partir da adolescência, com toda a determinação hereditária e as
experiências internalizadas ao longo da infância, a personalidade já será relativamente estável,
mas os estressores ambientais no decorrer da vida inteira irão interagir com o temperamento
(herdado) da pessoa, com os modelos adquiridos durante a vida, e dessa interação resultarão
graus diferentes de regulação e de adequação ao ambiente.
São muitas as teorias que se posicionam nesse campo do conhecimento entre o determinismo e
o sociointeracionismo, sem negar as duas influências, mas sim atribuindo mais ou menos importância
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a cada uma delas.
TEMA 2 – MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS DA PERSONALIDADE
Já vimos que a perspectiva freudiana pressupõe múltiplas determinações, mas enfatiza a
influência do inconsciente na personalidade. Há teorias que propõem outras perspectivas igualmente
respeitadas, mesmo entre os psicanalistas, que não negam as múltiplas influências. O que acontece é
um alinhamento com base em identificações pessoais com uma ou outra área de atuação profissional.
Como psicanalistas, o objeto de trabalho será a atuação com os aspectos subjetivos que influenciam a
personalidade, os processos e conflitos inconscientes. O Quadro 1 apresenta uma síntese das
principais abordagens psicológicas sobre a personalidade.
Quadro 1 − As múltiplas perspectivas da personalidade
Abordagem
teórica e
principais
teóricos
Determinantes Cs
X Ic da
personalidade
Natureza (fatores
hereditários) X criação
(fatores ambientais)
Livre arbítrio X
determinismo
Estabilidade X
modificabilidade
Psicodinâmica
(Freud, Jung,
Adler)
Ênfase no
inconsciente
Enfatiza a estrutura
inata, herdada da
personalidade,
valorizando a
importância da
experiência infantil
Enfatiza o determinismo, a
visão de que o
comportamento é
direcionado e causado por
fatores externos ao próprio
controle
Enfatiza a estabilidade
das características
durante a vida de uma
pessoa.
Traços (Allport,
Cattell, Eysenck)
Desconsidera o
consciente e o
inconsciente
As abordagens variam
Enfatiza o determinismo, a
visão de que o
comportamento é
direcionado e causado por
fatores externos ao próprio
controle
Enfatiza a estabilidade
das características
durante a vida de uma
pessoa.
Aprendizagem
(Skinner,
Bandura)
Desconsidera o
consciente e o
inconsciente
Centra-se no ambiente Enfatiza o determinismo, a
visão de que o
comportamento é
direcionado e causado por
Enfatiza que a
personalidade permanece
flexível e resiliente
durante a vida de uma
pessoa
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fatores externos ao próprio
controle
Biológica e
evolucionista
(Telleger)
Desconsidera o
consciente e o
inconsciente
Enfatiza os
determinantes inatos,
herdados da
personalidade
Enfatiza o determinismo, a
visão de que o
comportamento é
direcionado e causado por
fatores externos ao próprio
controle
Enfatiza a estabilidade
das características
durante a vida de uma
pessoa
Humanista
(Rogers, Maslow)
Enfatiza o
consciente mais do
que o inconsciente
Enfatiza a interação
entre a natureza e a
criação
Enfatiza a liberdade dos
indivíduos de fazer escolhas
Enfatiza que a
personalidade permanece
flexível e resiliente
durante a vida de uma
pessoa
Fonte: Feldman, 2015, p. 406.
Podemos relacionar o Quadro 1 com os fundamentos da psicologia da educação e as concepções
filosóficas sobre a natureza humana. Desde a antiguidade até os dias atuais, as concepções acerca do
ser humano sofreram mudanças. Também conhecidos como paradigmas, podemos dizer que é o que
predomina na sociedade, um padrão ou um modelo de pensamento. A ciência já acolheu diferentes
pontos de vista como válidos, e a educação é uma das áreas que mais sofre influência desse padrão
de pensamento a respeito da natureza do ser humano. Aqui residem as questões sobre "quem sou
eu", ou seja, questões de difícil resposta.
Com base no quadro que acabamos de apresentar, podemos perceber que Freud não é uma
unanimidade. Ele postula a influência do inconsciente, ao passo que Skinner põe ênfase no ambiente
para determinar a conduta do ser humano. No tema a seguir, vamos investigar algumas dessas
concepções.
TEMA 3 – CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS
São concepções que fundamentam as teoriasdo conhecimento científico (Oliveira, 2008):
3.1 CONCEPÇÃO INATISTA
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A concepção inatista, biológica e evolucionista teve o filósofo Platão como precursor e muitos
outros autores importantes, cujas teorias fundamentam os pressupostos educacionais. Nessa
perspectiva, ao nascer o ser humano já porta os elementos da sua personalidade, e o meio ambiente
tem pouco efeito para alterar o que já é determinado. Ao professor resta identificar e separar os aptos
dos não aptos. "A linha do pensamento inatista pode ser encontrada na filosofia antiga com dois de
seus principais representantes, Sócrates e Platão e, na filosofia moderna, com Descartes" (Almeida;
Valeirão, 2015, p. 39).
Até a Idade Média, quando era a mitologia, e não a ciência, que dominava o pensamento
humano, a crença era a de que tudo o que aconteceria durante a vida já havia sido determinado por
Deus ao nascer (destino). As teorias biológicas e evolucionistas estão alinhadas com o inatismo, mas,
sob influência do Iluminismo, seguem atreladas à ciência e não mais à mitologia, a exemplo da teoria
evolucionista de Charles Darwin sobre a seleção natural das espécies (Oliveira, 2008).
3.2 CONCEPÇÃO AMBIENTALISTA
Na filosofia, John Locke (1632-1704), filósofo inglês alinhado à Aristóteles, faz uma crítica ao
inatismo e concebe que a mente humana ao nascer é uma folha em branco e que os conteúdos são
impressos pelo ambiente externo ao interno:
A crítica ao inatismo, realizada por Locke, levou-o a conceber a alma humana, no momento do
nascimento, como uma "tábula rasa", uma espécie de papel em branco, no qual inicialmente nada se
encontra escrito. Chega, então, à conclusão de que, se o homem adulto possui conhecimento, se
sua alma é um "papel impresso", outros deverão ser os seus conteúdos: as ideias provenientes −
todas − da experiência. (Locke, 1999, p. 10)
A concepção ambientalista enfatiza a influência do meio ambiente sobre a pessoa, que se
constituirá como sujeito a partir de suas experiências com o mundo externo. O psicólogo norte-
americano B. F. Skinner, teórico do comportamento, representa a compreensão de estímulos
ambientais que provocam respostas do organismo que, se forem reforçadas, serão mantidas, e se
forem punidas, serão extintas. As teorias comportamentalistas (ou behavioristas) não trabalham com a
hipótese do inconsciente, mas sim com a análise funcional do comportamento (Davis, 1994, p. 31).
A concepção ambientalista na educação levou, por um lado, ao planejamento e organização do
ensino, mas, por outro, a um excessivo direcionamento do professor, e os alunos eram considerados
passivos, aos quais cabia a tarefa de ouvir, copiar, decorar e repetir. O educador brasileiro Paulo Freire
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fez a crítica a esse modelo de educação chamando de educação bancária que leva à opressão, e não à
libertação (Freire, 2005).
Aqui podemos identificar uma diferença entre a área de estudo da psicologia e da psicanálise: a
primeira engloba as teorias do comportamento de concepção ambientalista; a segunda, não (o objeto
de interesse da psicanálise é o inconsciente, e não o comportamento observável).
3.3 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA
Os teóricos interacionistas, ou sociointeracionistas, concordam que organismo e meio exercem
ação recíproca, portanto discordam tanto dos inatistas quanto dos ambientalistas. Piaget e Vygotski
são representantes dessa concepção (Davis, 1994, p. 36).
É, pois, na interação da criança com o mundo físico e social que as características e
peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas. Para cada criança, a construção desse
conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação sobre o mundo (Davis, 1994, p. 36).
É possível perceber a interface da psicanálise como ciência que estuda o inconsciente, com as
outras ciências que estudam o comportamento, o desenvolvimento físico, social, cognitivo e
neurológico dos seres humanos ao longo da vida.
Quando definimos nosso interesse pela psicanálise, não estamos negando, mas sim selecionando
um ponto de vista sobre o ser humano, mantendo a consideração de se tratar de um ser
biopsicossocial.
TEMA 4 – OS CICLOS VITAIS
É sabido que há um processo de maturação biologicamente determinado, e, mesmo que não
queiram, os seres humanos irão crescer fisicamente, nascerão dentes, cabelos, haverá habilidade para
sentar-se, engatinhar, andar etc., além de uma carga genética que os habilitará para certas
habilidades (vocações). O que é geneticamente determinado é tudo aquilo que não se pode mudar
por força da vontade nem com anos de psicanálise, como a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, a
estatura e o som da voz, as fases sequenciais de criança, adolescência, adulto, idoso e a certeza da
morte. No entanto, essas características típicas do desenvolvimento humano podem nos identificar,
mas não definem nossa personalidade.
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No clássico livro O ciclo vital, a autora, Helen Bee, considera que o desenvolvimento dos seres
humanos acontece em ciclos previsíveis e os organiza da seguinte forma:
Pré-natal e nascimento;
Infância;
Infância pré-escolar;
Meninice intermediária;
Adolescência;
Início da vida adulta;
Vida adulta intermediária;
Velhice e vida adulta tardia (Bee, 1997, p. 62).
Esses são os ciclos vitais previsíveis, ou seja, aqueles esperados. Dentro de cada um deles, são
observados processos de desenvolvimento biopsicossocial, apresentados no livro pela autora como:
Desenvolvimento físico;
Desenvolvimento perceptivo e cognitivo;
Desenvolvimento social e da personalidade (Bee, 1997).
Ao se tratar do desenvolvimento da personalidade, a partir da teoria psicanalítica de Sigmund
Freud, também encontraremos fases que são previsíveis, chamadas por ele de estágios do
desenvolvimento psicossexual.
O que são previsíveis são os cinco estágios que, assim como os ciclos vitais, se sucedem ao longo
do desenvolvimento (Friedman; Shustack, 2004, p. 73-75):
1. Fase oral: do nascimento até por volta dos 12 meses de idade;
2. Fase anal: no segundo e terceiro anos de vida;
3. Fase fálica: do terceiro até por volta do quinto ano;
4. Fase de latência: entre o quinto até por volta de 12 anos;
5. Fase genital: da adolescência em diante.
Além dos ciclos vitais previsíveis, que os autores definem conforme acabamos de elencar, temos
os imprevisíveis, ou seja, aqueles eventos que podem ou não acontecer, que são os processos
individuais, subjetivos, particulares, o modo como cada um vai lidar com as situações e experiências,
como será a relação entre mundo interno e mundo externo. Freud se interessou por esse aspecto do
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desenvolvimento humano, e não por todo o desenvolvimento humano. Apesar de sua teoria ser
considerada uma teoria psicossexual do desenvolvimento da personalidade, precisamos lembrar que
personalidade e desenvolvimento não são sinônimos. Vejamos:
O desenvolvimento humano ocorre em diversas áreas, dentre elas física, emocional, social,
cognitiva e adaptativa.
A estruturação da personalidade é um dos elementos que caracteriza o desenvolvimento global
do ser humano.
Com base na compreensão do conceito de personalidade, podemos concluir que os seres
humanos podem passar igualmente por todos os ciclos vitais e chegar até a fase idosa, pois tais ciclos
são previsíveis, e, sob esse ponto de vista, todos terão vivido igualmente. No entanto, cada um terá se
constituído a seu modo, determinado pelo que lhe foi inato, pelas experiências significativas que
internalizou, pelo modo com que elaborou seus conflitos, influenciado ainda por outros
determinantes, especialmente pela condição de saúde, conceituada aqui em seu sentido mais amplo:
“Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação,educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da
terra e acesso a serviços de saúde” (CNS, 1988).
Por ser o desenvolvimento humano determinado por tantos fatores, as teorias do
desenvolvimento são de interesse de multiprofissionais e de pessoas leigas, especialmente pais,
cuidadores, gerentes, treinadores e líderes de equipes que precisam de assessoria para planejar
intervenções assertivas em suas atribuições.
Feitos os esclarecimentos sobre desenvolvimento humano (geral) e desenvolvimento da
personalidade, vamos seguir falando apenas sobre a personalidade.
TEMA 5 – TEORIA PSICANALÍTICA DA PERSONALIDADE
Freud formulou sua teoria do desenvolvimento da personalidade por meio de cinco estágios
psicossexuais; em cada um deles, as crianças têm necessidades/conflitos que são atendidos ou
negligenciados. Tais conflitos podem ser decorrentes de ter as necessidades ignoradas ou
excessivamente atendidas; ou seja, um excesso de frustração ou um excesso de gratificação podem
ser igualmente prejudiciais para a formação de personalidade na criança. Vamos ver em detalhes cada
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uma das fases. Friedman e Shustack, (2004, p. 73-75), com base na teoria psicossexual do
desenvolvimento infantil, sintetizaram os cinco estágios (ou fases), conforme mostra o Quadro 2.
Quadro 2 − Fases do desenvolvimento psicossexual
Fases Idade Características principais
Oral 0 a 12 meses
Ocorre no primeiro ano de vida, quando a atenção da criança está concentrada basicamente
nas zonas erógenas da boca, por meio da qual obtém prazer pela sucção, no ato de mamar.
Anal 2 a 3 anos
O interesse na atividade anal passa a ser importante para a criança, principalmente quanto ao
controle dos esfíncteres (cocô e xixi).
Fálica 3 a 5 anos
Nessa fase, a criança se interessa pelos órgãos sexuais e pelos prazeres ligados ao seu manejo.
O menino e a menina se colocam nos papéis imaginários de pai e mãe. Desenvolvimento do
Complexo de Édipo.
Latência 5 a 12 anos
Idade escolar. Ocorre supressão (sublimação) dos impulsos sexuais, construção do
pensamento lógico e influência da vida psíquica pelo princípio da realidade.
Genital
Adolescência em
diante
É nessa fase que o adolescente passa a se interessar por outras pessoas e coisas como objetos
importantes, deixando de lado o interesse por si mesmo como objeto primário. É despertado
por atividades da vida madura.
Fonte: Friedman; Shustack, 2004, p. 73-75.
É por meio dos estágios de desenvolvimento que a personalidade se organiza. Não é linear, mas
sim sequencial, as fases podem se sobrepor, as idades de mudança de fase também não são exatas,
mas sim “por volta de”. No quadro mostrado, as faixas etárias estão definidas, mas isso atende apenas
a uma função didática. O mais adequado é considerar que:
Fase oral: se inicia ao nascer e irá terminar quando, pela observação, for percebido que o
interesse e a satisfação já não estão tanto na boca, mas sim nas situações de controle: dos
esfíncteres, da presença e ausência de pessoas e objetos, esconder e achar.
Fase anal: fica evidente quando o desejo da criança é ter o “controle”.
Fase fálica: período em que a diferença entre os sexos é percebida e problematizada pela
criança. Ela volta seu interesse aos órgãos genitais, demonstra ciúmes e faz comparações. Nesse
período Freud descreveu o Complexo de Édipo.
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Fase de latência: por volta de 6 ou 7 anos até a adolescência, quando a criança diminuir o
interesse pelos temas da fase anterior e focar atividades cognitivas, na aprendizagem, formar
grupos e diversificar sua atenção para objetos fora do corpo dela.
Fase genital: da adolescência em diante. É quando a sexualidade terá adquirido sua maturidade
(ou não). A ocorrência de conflitos importantes nas fases anteriores, como memórias
traumáticas por exemplo, será determinante para a saúde mental na fase adulta.
Sobre a sexualidade infantil, Freud (1905/1989, p. 162) escreveu que:
Faz parte da opinião popular sobre a pulsão sexual que ela está ausente na infância e só desperta no
período da vida designado da puberdade. Mas esse não é apenas um erro qualquer, e sim um
equívoco de graves consequências, pois é o principal culpado de nossa ignorância de hoje sobre as
condições básicas da vida sexual. Um estudo aprofundado das manifestações sexuais da infância
provavelmente nos revelaria os traços essenciais da pulsão sexual, desvendaria sua evolução e nos
permitiria ver como se compõe a partir de diversas fontes.
O que Freud vai teorizar é que o objeto da pulsão muda ao longo do desenvolvimento, ou seja, é
"aquilo junto a que, ou através de que, a pulsão pode atingir seu alvo" (Freud, 1915/1989, p. 86). No
bebê, o objeto desejado para alívio de tensões é o seio materno, carregado de prazer na experiência
da amamentação. Anos depois, esse meio seio materno pode ser visto com asco pela criança maior.
Ao observar uma criança de 2 a 3 anos, é possível perceber que para ela é mais prazeroso ter o
controle (dos esfíncteres, da presença/ausência) do que mamar no peito. O objeto da pulsão é
contingente e variável e está a serviço de tornar possível a satisfação ao longo do desenvolvimento.
A teoria do desenvolvimento psicossexual foi construída na mesma época em que Freud publicou
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/1989), cujos conceitos centrais são: perversão,
fixação e regressão. O objetivo aqui não é aprofundar esses temas, mas sim estabelecer relação de
interdependência entre tais conceitos com os estágios do desenvolvimento psicossexual e a
estruturação da personalidade.
Até esse momento da teoria freudiana, o aparelho psíquico era descrito com base na 1ª tópica:
Consciente (Cs), Pré-consciente (Pcs) e Inconsciente (Ic). Os anos seguintes na experiência clínica de
Freud o levaram a elaborar a 2ª tópica, ou seja, a segunda teoria para explicar o aparelho psíquico: id,
ego e superego. A 2ª tópica não exclui nem compete com a 1ª tópica, mas a complementa.
Na continuidade de nossas reflexões, sob um ponto de vista cronológico de estudos, vamos
procurar compreender como se dá a estruturação da personalidade e a constituição do sujeito
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considerando a dinâmica entre id, ego e superego.
NA PRÁTICA
A psicanálise é uma teoria sobre a personalidade que contribui para os estudos a respeito do
desenvolvimento humano. Considerando-se que esse desenvolvimento é biopsicossocial, outros
elementos também o caracterizam além da estruturação da personalidade, dentre eles marcadores
biológicos e maturidade neurológica que impactam o pleno desenvolvimento físico e motor,
capacidades cognitivas e diversas outras funções do corpo. Portanto, o desenvolvimento da
personalidade faz parte ou compõe o processo de desenvolvimento humano.
Por sua vez, a estruturação da personalidade também sofre influência de outras variáveis.
Conforme ressaltam Cordioli e Grevet (2019, p. 1105), “a estruturação da personalidade do indivíduo é
o resultado da interação entre variáveis neurobiológicas inatas, como o temperamento, e experiências
psicossociais e emocionais precoces, especialmente as relações parentais na primeira infância e os
estressores ambientais”.
No senso comum, são conhecidos os ditados populares que comunicam, em forma de
brincadeira, a concepção de homem que se tem. O inatismo é representado por ditos como “filho de
peixe, peixinho é”, “pau que nasce torto morre torto” e “tal pai, tal filho”. Já o ambientalismo é
identificado em discursos como: “Me dê uma criança de colo e eu faço dela um bandido ou um
homem de bem” ou "Diga-me com quem andas e te direi quem és".
Sobre a concepção interacionista, vale a pena assistir a um vídeo antigo, da Universidade de Yale,
de 1977, mas apresentado pelo próprio Jean Piaget,com áudio traduzido ao português. Ele está
disponível no seguinte link: <https://www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI>. Acesso em: 9 fev.
2022.
Uma aproximação da psicanálise com a teoria do conhecimento abre um campo de atuação de
psicanalistas na área educacional. Uma leitura sobre esse tema é o livro O que esse menino tem? Sobre
alunos que não aprendem e a intervenção da psicanálise na escola, de Ana Lydia Santiago e Raquel
Martins de Assis. Parte da obra está disponível no link: <https://www.relicarioedicoes.com/wp-conten
t/uploads/2019/10/MIOLO_Oqueessemeninotem_primeiras-p%C3%A1ginas.pdf>. Acesso em: 9 fev.
2022.
https://www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI
https://www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI
https://www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI
https://www.relicarioedicoes.com/wp-content/uploads/2019/10/MIOLO_Oqueessemeninotem_primeiras-p%C3%A1ginas.pdf
https://www.relicarioedicoes.com/wp-content/uploads/2019/10/MIOLO_Oqueessemeninotem_primeiras-p%C3%A1ginas.pdf
https://www.relicarioedicoes.com/wp-content/uploads/2019/10/MIOLO_Oqueessemeninotem_primeiras-p%C3%A1ginas.pdf
https://www.relicarioedicoes.com/wp-content/uploads/2019/10/MIOLO_Oqueessemeninotem_primeiras-p%C3%A1ginas.pdf
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FINALIZANDO
A psicanálise se desenvolveu a partir da hipótese do inconsciente, como um procedimento de
investigação e de tratamento de distúrbios psíquicos.
A estruturação da personalidade ocorre ao longo do desenvolvimento dos seres humanos e é
resultado da:
A estruturação da personalidade do indivíduo é o resultado da interação entre variáveis
neurobiológicas inatas, como o temperamento, e experiências psicossociais e emocionais precoces,
especialmente as relações parentais na primeira infância e os estressores ambientais. (Cordioli;
Grevet, 2019, p. 1105)
No campo do estudo da personalidade, muito se discute quais são os determinantes da
constituição do sujeito. Como expressões desses paradigmas temos as concepções inatistas,
ambientalistas e interacionistas.
O desenvolvimento humano envolve fatores biopsicossociais, e a psicanálise contribui com
teorias, dentre as quais a teoria psicossexual do desenvolvimento infantil, que irá organizar a
atividade psíquica da criança até a adolescência em cinco estágios:
Fase oral: do nascimento até o segundo ano de vida;
Fase anal: por volta dos 3 anos de idade;
Fase fálica: por volta dos 4 aos 6 anos;
Fase de latência: dos 6 ou 7 anos até a adolescência;
Fase genital: da adolescência em diante.
De acordo com Freud, os excessos de frustração ou de gratificação, em um estágio particular,
podem resultar em fixações.
Ao longo do desenvolvimento existem ciclos vitais previsíveis: nascimento, infância, adolescência,
adultez e envelhecimento. A área de interesse da psicanálise não são os ciclos previsíveis observados
no crescimento e envelhecimento, mas sim os processos intrapsíquicos e os conflitos que cada um
desses estágios apresenta como desafios.
A teoria de Piaget, de concepção interacionista, se tornou dominante na área da educação.
Mesmo assim, a psicanálise continuou estudando o inconsciente, pois não está nem esteve
disputando o domínio de uma teoria do conhecimento nem do desenvolvimento humano, mas sim
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esteve interessada na estruturação da personalidade e está colocando em curso um método de
tratamento no qual acredita, ou seja, o método da associação livre para tratamento de conflitos
psíquicos.
REFERÊNCIAS
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NASIO, J-D. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Tradução de André Telles. Rio
de Janeiro: Zahar, 2007.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo socio-histórico. 4. ed.
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PIAGET por Piaget. YouTube, [s.d.]. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=FWYjDvh3bWI>. Acesso em: 7 fev. 2022.
SANTIAGO, A. L.; ASSIS R. M. O que esse menino tem? Sobre alunos que não aprendem e a
intervenção da psicanálise na escola. 2. ed. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2018. (Coleção BIP –
Biblioteca do Instituto de Psicanálise).

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