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O Ciume Patologico uma discussao
psicanalitica20200709 19412 1oz4fya
Paulo Freedman
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL 
 
 
 
Paulo Freedman de Souza Junior 
 
 
 
 
 
 
 
O Ciúme Patológico 
Uma discussão psicanalítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campo Grande MS 
2020 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL 
 
 
 
Paulo Freedman de Souza Junior 
 
 
 
 
 
O Ciúme Patológico 
Uma discussão psicanalítica. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de artigo 
científico apresentado ao Curso de Psicologia do 
Centro Universitário UNIGRAN CAPITAL, como 
requisito parcial para obtenção do título de bacharel 
 
Professora orientadora: M.ª Elaine Cristina da Fonseca 
Costa Pettengill. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campo Grande MS 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paulo Freedman de Souza Junior 
 
 
O Ciúme Patológico 
Uma discussão psicanalítica. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
______________________________________________________________________ 
Professora Orientadora Me. Elaine Cristina da Fonseca Costa Pettengill 
 
________________________________________________________________ 
Professora Me. Iara Oliveira Meireles 
 
________________________________________________________________ 
Professor Me. Carlos Alfredo Pettengill 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campo Grande MS 
2020
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Dona Ivanilde, minha avó, que investiu em mim 
não só recursos financeiros, mas sua fé para que eu 
fizesse parte da mudança para um mundo melhor. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Mãe, pai e vó, por serem o pilar de sustentação da minha existência. 
Thamiris e Luiz, meus irmãos, que me ensinam a arte e a grandeza da vida. 
Bruno pelo incentivo e insistência em todos os caminhos por onde andei. 
Lucas, Elisangela, Adriana, Rômulo e Aline, por estarem comigo diariamente na caminhada 
dessa graduação. 
Helena, Stéphanie, Fábio, Francislaine, Luciana, Ana, Loubetão, pela credibilidade na minha 
formação. 
Aos professores que fizeram parte dessa caminhada, e me ensinam o ofício de ser psicólogo. 
Prof. Estefânia, por despertar em mim o interesse pela pesquisa no campo do afeto. 
Prof. Elaine, por toda beleza e toda sabedoria. Por ter também aceitado trabalhar comigo neste 
artigo, me orientando para o melhor, e sendo exemplo de bom profissional, desde o primeiro 
dia que entrou em minha vida. 
Cibele e Youssef, amigos queridos e mestres do meu barco, vocês me permitem ver a 
mudança no mundo. 
Ainda Israel, Nilce e Lindaura, que embora não fisicamente, seguem olhando por min com os 
olhos de Deus, junto a Ele. 
A todos os amigos que passaram, ficando ou não comigo, mas que me sempre deixaram algo 
de valor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Não tenha medo de sair um pouco de si, para 
compreender melhor qual o seu sentido para as 
coisas. 
Ás vezes realmente será necessário que isso 
aconteça, porque certas situações merecem um olhar 
mais atenuado e calmo. 
Basta não ter medo de se perder para se encontrar”. 
(Maysa Muniz, Afeto Interestelar). 
 
 
 
 
 
 
SUMARIO 
 
1 INTRODUÇÃO 8 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 10 
2.1 A VIOLÊNCIA RELACIONADA AO CIÚME 11 
2.2 DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL NA INFÂNCIA 12 
3 RESULTADO E DISCUSSÃO 16 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 21 
5 REFERÊNCIAS 22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
O Ciúme Patológico, uma discussão psicanalítica. 
 
Paulo Freedman de Souza Junior 
M.ª Elaine Cristina da Fonseca Costa Pettengill 
 
RESUMO: O que diferencia o ciúme normal do patológico é apenas uma frágil e tênue linha. 
É um sentimento que depende de alguma fagulha de desconfiança para que apareça como uma 
obsessão. O ciúme normal seria baseado em alguma situação temporária e real. O ciúme 
patológico teria razões infundadas e irreais, havendo um inconsciente desejo de ameaça a um 
rival. O objetivo deste artigo é discutir a partir dos pressupostos da Psicanálise, sobre os 
fatores que, no desenvolvimento da personalidade, podem suscetibilizar o sujeito ao ciúme 
patológico. Este estudo justifica-se em razão de inúmeros crimes que são cometidos em nome 
do ciúme e representa uma tentativa de prevenção primária em saúde mental, visando a 
compreensão dos fatores de risco para o desenvolvimento do ciúme patológico. A 
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Como resultados, verificou-se que quando 
a criança, mobilizada por um incremento de seu próprio sadismo, fica impossibilitada de 
introjetar a mãe enquanto objeto ideal, restando a ela a experiência da insegurança e da 
desconfiança do amor do outro e de sua própria capacidade de amar, ela fica suscetível ao 
ciúme patológico. O ciúme patológico também guarda estreita relação com a autoestima 
diminuída. A literatura aponta que o comportamento dos pais de predileção a um dos filhos ou 
sobrinhos, pode intensificar o ciúme do filho, gerando registros duradouros em seu 
desenvolvimento. Pode acontecer de o ressentimento e as inseguranças geradas tornem a 
criança uma pessoa hesitante e hostil em todas as situações que venha enfrentar até a fase 
adulta. Por fim conclui-se que antes de mais nada é necessário dar importância à prevenção 
ainda nas fases inicias do desenvolvimento psíquico, de modo que o sentimento não se torne 
patológico. Buscar ajuda psicológica é fundamental para lidar com o problema, de forma a 
receber o suporte psicológico necessário para retomar o desenvolvimento emocional das 
etapas onde determinadas experiências emocionais não puderam ser elaboradas e hoje se 
repetem por meio das manifestações do ciúme patológico. 
 
Palavras-chave: Ciúme. Infância. Patológico. Psicanálise. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 O termo ciúme é derivado da palavra em latim “zelumen”, que por sua vez é derivada 
da palavra grega “zelus”, que, conforme o dicionário Aurélio significa “sentimento doloroso 
causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada; zelos; angústia provocada por 
sentimento exacerbado de posse”. (FERREIRA, 2010, p. 157). 
Pode se manifestar diante da percepção da falta de exclusividade afetiva frente ao 
objeto, também pela sensação de se estar a dividir, ou até mesmo disputar atenção, 
intimidade, dedicação, cumplicidade e afeto com outros. Este sentimento de não pertença está 
 
 
9 
 
presente no desenvolvimento com a entrada do terceiro elemento (figura do pai) em cena, que 
vai gerar os sentimentos ambivalentes na criança. (FREUD, 1916 – 1991). 
 Em Freud (1976, p. 271), o ciúme se constitui essencialmente do luto,da dor pelo 
objeto amoroso que se acredita haver perdido e da injuria narcísica: “(...) é um daqueles 
estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais. Sua falta seria 
então, resultado de repressão, desempenhando papel ainda mais importante no inconsciente”. 
O ciúme, ainda conforme Freud (1976, p. 271) “é um estado afetivo normal. O que 
preocupa são suas manifestações extremas. Sua falta sugere um problema, e sua intensidade, 
uma patologia”. A ausência da manifestação do ciúme pode indicar um bloqueio ou 
dificuldade de expressar as emoções, causando dor e sofrimento, oriundo de grandes 
repressões nas fases iniciais da vida do sujeito. 
Melanie Klein (1960) afirma que os primeiros sinais de ciúme e ódio se manifestam na 
infância, e se estendem ao longo de toda a fase adulta. Outra contribuição importante de 
Klein, diz respeito ao ciúme como uma manifestação da inveja. A inveja seria do plano do 
imaginário, e o ciúme da ordem do simbólico, se constituindo no Complexo de Édipo. 
De acordo com Ballone (2004), o que diferencia o ciúme normal do patológico é 
apenas uma frágil e tênue linha. É um sentimento que depende de alguma fagulha de 
desconfiança para que apareça como uma obsessão. O ciúme normal seria baseado em alguma 
situação temporária e real. O ciúme patológico teria razões infundadas e irreais, havendo um 
inconsciente desejo de ameaça a um rival. 
O conceito de ciúme patológico ou mórbido, conforme Ballone (2004), compreende o 
exagero de vários sentimentos, como o medo de perder o objeto amado para um rival 
imaginário ou real, e que, por ser de absurdo exagero, traz prejuízos às relações interpessoais, 
em razão do desejo obsessivo de total controle sobre os sentimentos e comportamentos do 
outro. 
O ciúme patológico é abordado no DSM-V (2014), na descrição dos transtornos de 
personalidade do tipo paranoide. Indivíduos com esse transtorno podem ser patologicamente 
ciumentos, muitas vezes suspeitando que o parceiro é infiel sem qualquer justificativa 
adequada. Podem reunir “evidências” triviais e circunstancias que apoiem suas crenças de 
ciúmes. Desejam manter controle total das relações intimas para evitar serem traídos e podem 
constantemente questionar e desafiar o paradeiro, as ações, as intenções e a fidelidade do 
parceiro. 
 
 
10 
 
Na descrição do Transtorno Obsessivo Compulsivo, o DSM-V (2014) refere que o 
ciúme obsessivo se caracteriza pela preocupação não delirante com a infidelidade percebida 
do parceiro. As preocupações podem levar a comportamentos ou atos mentais repetitivos em 
resposta às preocupações com a infidelidade; elas causam sofrimento clinicamente 
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional, ou em outras áreas 
importantes da vida do indivíduo, e não são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
como o transtorno delirante tipo ciumento ou o transtorno de personalidade paranoide. 
O objetivo deste artigo é discutir a partir dos pressupostos da Psicanálise, sobre os 
fatores que, no desenvolvimento da personalidade, podem suscetibilizar o sujeito ao ciúme 
patológico. Este estudo justifica-se em razão de inúmeros crimes que são cometidos em nome 
do ciúme: “Com ciúmes, mulher queima marido com ferro de passar em Campo Grande” 
(Midiamax, 20 de maio de 2019), “Mulher que matou por ciúmes é condenada a 14 anos de 
prisão” (Campo Grande News, 04 de setembro de 2019), “Em briga por ciúmes, homem joga 
copo de vidro na namorada, dá socos, chutes e tenta enforcá-la em MS” (G1, 20 de maio de 
2019), “Motorista de aplicativo foi morto por conta de ciúmes entre casal de passageiros” 
(Correio do Estado, 14 de maio de 2019). Essas são algumas chamadas de notícias jornais 
eletrônicos do ano de 2019 em Campo Grande, onde o motivador do crime foi o ciúme. 
Além de ser um tema que desperta interesse em grande parte da população, o presente 
estudo representa uma tentativa de prevenção primária em saúde mental, visando a 
compreensão dos fatores de risco para o desenvolvimento do ciúme patológico. Entender de 
que modo o ciúme pode se desenvolver nas pessoas dentro de uma perspectiva psicanalítica, 
favorece a reflexão sobre os cuidados que devem ser observados na educação infantil, no 
atendimento às necessidades psicológicas nas diferentes etapas da infância, a fim de contribuir 
para um desenvolvimento adequado ao longo da vida e a diminuição de problemas sociais 
(como a violência contra a mulher) relacionados a padrões de comportamento desajustados 
como as manifestações patológicas do ciúme. 
Trata-se de pesquisa bibliográfica com acesso às bases de dados da internet (scielo, 
lilacs, bireme, google acadêmico, etc.), utilizando-se de artigos publicados entre 2009 e 2019, 
com os descritores: ciúme patológico, desenvolvimento infantil, desenvolvimento da 
personalidade, fase fálica, complexo de édipo. Também foram utilizadas obras clássicas da 
psicanalise que tratam sobre o desenvolvimento da personalidade. 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
 
11 
 
 
2.1 A violência relacionada ao ciúme: 
 
Segundo Christian Dunker (2017, p.62), “o ciúme é um sentimento demasiadamente 
humano, pois ele traduz a tragédia da inclusão de um terceiro em um espaço antes 
supostamente habitado apenas pelo par amoroso. Essa intrusão de um terceiro representa a 
exclusão interna do próprio sujeito”. Tal situação está por muitas vezes associada a uma 
emoção negativa por sua relação importante estar sendo ameaçada. 
Por muitas vezes a manifestação do ciúme sugere uma mudança na relação amorosa. O 
sofrimento experimentado pelo adulto ciumento retoma à dor infantil sentida por ter deixado 
de ser o objeto de desejo dos pais. Ele então vive as experiências de um amor possessivo, por 
medo ou risco de perda do objeto amado. O ciúme então se configura numa emoção negativa 
porque causa dor psicológica, produz raiva, desconfiança, baixa-autoestima, insegurança, 
podendo atingir formas doentias e chegar ao extremo da violência, prejudicando então a 
relação afetiva. 
Sobre o ciúme patológico, a dra. Elizabeth Zamerul diz: 
“... sentimento doloroso de ameaça de perda de algo que se 
possui. Na opinião de muitos, o ciúme é natural e inclusive inevitável, 
mas o que importa não é a natureza da emoção, e sim como o 
ciumento e o outro parceiro lidam com ela”. (ZAMERUL, 2018) 
Antes de chegar à agressão física, a violência se disfarça no cotidiano em situações 
que não podem ser ignoradas em uma relação. Uma das principais razões de agressões físicas 
reside no ciúme. As manifestações podem variar de ameaças de violência, ocorrências de 
espancamento até assassinatos. Muitas vezes, o ciumento ataca o parceiro com uma raiva 
intensa, com a intensão de causar dano corporal e até a morte: 
“Os comportamentos dos casais que vivem a violência 
psicológica, moral, sexual, patrimonial ou física mostram que, no 
início da relação, aos primeiros sinais do ciúme, acreditavam que era 
“sinal de amor”: às vezes, até mais que isto, ele era visto como uma 
prova de amor. E qual é o problema de pensar assim? Isto abre uma 
brecha – faz com que as cobranças ou hostilidades geradas pelo ciúme 
se tornem toleráveis”. (ZAMERUL, 2018) 
Santos (2017), em seu artigo Crimes Motivados por Ciúmes, aborda os crimes que 
cercam a humanidade com relatos bárbaros, e os classifica como “passionais”. Os crimes de 
 
 
12 
 
violência doméstica são cometidos, na maioria das vezes, quando o ciumento se sente 
rejeitado, agindo por um sentimento de exclusão, como o ser egocêntrico, egoísta e ególatra. 
Segundo a Juíza Jacqueline Machado da 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher, de Campo Grande, e responsável pela Coordenação da Mulher em Violência 
Doméstica e Familiar do TJ-MS (G1, 20 de maio de 2019), somente em Campo Grande 5.200 
mulheres tinham medidas protetivas contra seus parceiros, concedidas peja justiça. Consta 
ainda no Mapa daViolência Contra a Mulher em Campo Grande / MS (2018 ref. 2017), da 
SEMU – Secretaria de Políticas para a Mulher, para a Prefeitura de Campo Grande, no ano de 
2017, que foram registrados 6.102 casos de violência doméstica no Estado de Mato Grosso do 
Sul, sendo 1.936 casos em Campo Grande. 
Ainda conforme as informações da pesquisa do Mapa da Violência Contra a Mulher 
em Campo Grande / MS (2018 ref. 2017), o ciúme é apontado como fator motivacional da 
violência em 20% dos casos registrados. 
Para Scheer (2017), tais padrões são fortalecidos pela romantização de 
relacionamentos abusivos, uma vez que o controle e o ciúme servem para naturalizar 
comportamentos agressivos dentro deste contexto. Era comum em obras midiáticas (novelas, 
filmes, etc.) a presença de ciumentos (as), controladores (as) e possessivos (as) em papeis de 
destaque. A violência física fica então mascarada pelo ciúme, controle, humilhação, ironias e 
ofensas. 
 
2.2 O Desenvolvimento Emocional na infância: 
 
O desenvolvimento emocional, segundo a teoria psicanalítica, acontece através do 
desenvolvimento psicossexual. A Fase Oral vai do nascimento até meados dos 2 anos de 
idade. Essa fase é a primeira fase da evolução da libido, onde o bebê entende o mundo e todo 
o prazer pela boca. Ele chora, mama, chupa o dedo. A boca é seu contato com o mundo 
externo. 
Segundo explica a psicanalista Monica Marchese Damini (2018), nessa fase ocorre a 
formação da segurança física, psicológica e de seus modelos. Tal processo acontece a partir 
do seu contato com a mãe. É a época da estruturação emocional, e o toque, os cuidados e o 
contato com a mãe/cuidador são primordiais para seu desenvolvimento, sendo o seio da mãe o 
 
 
13 
 
seu primeiro objeto de prazer, e a amamentação, sua primeira satisfação e experiência de 
desejo. 
O bebê que recebe cuidados satisfatórios dos pais (contato físico, é pego no colo, é 
atendido quando chora) recebe a segurança física que necessita, e como consequência, tende a 
repetir boas relações no futuro, podendo lidar melhor com perdas, angústias e ansiedades, 
diminuindo as chances de dependência emocional. 
Em contrapartida, o bebê que não recebe bem todos esses cuidados, seja por falta ou 
por excesso, corre o risco de ficar fixado nessa fase, trazendo prejuízos como ser uma pessoa 
de grande insegurança afetiva, com medo (real ou imaginário) de ser abandonado, numa busca 
constante por elogios, afeto, e por ser amado (DAMINI, 2018). 
Nessa fase, então, o bebê precisa de um adulto (mãe/figura materna) que cuide dele, 
para evoluir bem e tornar-se um adulto saudável. Para esse adulto, Winnicott (1956) dá o 
nome de “mãe suficientemente boa”, que representa a figura disponível para responder às 
necessidades do bebê quase que imediatamente, passando assim segurança e amor. Ela 
também dá a falsa sensação de que é uma extensão do bebê, suprindo seus desejos, dando 
gratificação e frustração equilibradamente. 
A esse sentimento de segurança, Erik Erikson (1976) traduz o estágio de Confiança X 
Desconfiança. É a partir desse sentimento de segurança passado pela mãe ao bebê, que ele vai 
ser capaz de confiar em si, nas pessoas e no mundo, melhor adaptando-se nas suas relações 
futuras, e seu amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada. 
A Fase Anal, segundo Freud (Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, 1905), 
começa por volta dos 2 anos e dura até por volta dos 4 anos de idade, quando a base da 
segurança psíquica e da formação de valores da criança se estruturam. Nesta segunda fase da 
evolução da libido, estão em evidência para a criança o ânus, o trato intestinal e o trato 
urinário, onde entram em cena também características defensivas e sádicas, naturais e 
necessárias, como a agressividade, posse, egoísmo e dominação. 
Para Marchese (2018), a criança de 2 anos já sabe da existência do outro, começa a 
entender que ele não é o centro do universo, e que recebe ordens, e começa também a 
formação do seu Ego Ideal, que são os valores passados para ele pela família, sociedade, 
religião, etc. 
Neste período a criança não entende o abstrato (ironias, sarcasmo, duplo sentido), o 
 
 
14 
 
que é dito sem nenhum cuidado pode ser mal-entendido, gerando angústia. É importante que 
os pais entendam que a criança é totalmente literal. 
Conforme Marchese (2018), ela passa a entender as fezes como sua produção, que 
passam a funcionar como objeto, e buscam através dela segurança psíquica pela posse e 
dominação, quando conseguir o controle dos esfíncteres. Com autonomia adquirida, a criança 
passa a gostar do objeto cocô, então é necessário ensina-la cuidados e higiene, sem que isso 
reprima seu potencial de produção e ela o veja como algo sujo. 
Quando recebe os cuidados adequados, começa a aprender sobre controle (e 
autocontrole), desenvolve um sadismo saudável (uso adequado da agressividade, como 
determinação e persistência na vida), desprendendo-se do que não lhe serve ou não lhe faz 
bem ao longo da vida, e também aprende sobre dominação, e a pensar no amanhã de forma 
saudável. 
A criança que ouviu que seu cocô era sujo ou não teve cuidados higiênicos pode 
desenvolver agressividade destrutiva, não conseguindo expressar o que não lhe faz bem, ou 
desenvolver passividade e covardia. Também se desenvolve o masoquismo, por não poder 
evacuar naturalmente (MARCHESE, 2018). 
Segundo Erik Erikson (1976), a criança de 2 anos vivencia o estágio da Autonomia X 
Vergonha e dúvida, pois o controle de suas necessidades fisiológicas traz para a criança a 
confiança e autonomia necessárias para tentar coisas novas sem medo de errar. A 
disponibilidade e a tolerância dos pais para com os erros da criança nesse período são 
fundamentais, contribuindo para que a mesma tenha vontade de fazer melhor. Em 
contrapartida, a extrema rigidez e crítica leva à dúvida e vergonha de sua própria capacidade. 
A Fase Fálica, segundo Freud (1905), tem início por volta dos 4 anos e vai até os 6 
anos aproximadamente. É a terceira fase da evolução da libido, colocando o falo como 
evidência, ou seja, a criança desenvolve um grande interesse pelas pessoas que, na sua 
percepção, tem o domínio ou poder sobre as outras pessoas. E é assim que então ela pode 
buscar se identificar com esse adulto que “manda mais”, que exerce maior poder em seu lar, 
como um dos genitores. Outro motivo que explica o nome desta fase, é o grande interesse da 
criança por seus genitais, sendo esta fase considerada a fase da descoberta dos genitais pela 
criança (RAPPAPORT, FIORI e DAVIS, 1987). 
Nesta fase está a base da formação do reconhecimento, da busca por ser amado, 
valorizado e aceito. Nesse momento a criança quer fazer parte do triangulo familiar (pai, mãe 
 
 
15 
 
e filho) e é importante que, apesar de seu desejo de separar os pais, ela perceba e se sinta 
segura de que este seu desejo e fantasias de destruir a união dos pais não serão concretizados, 
pelo menos não por causa dela. Segundo Rappaport, Fiori e Davis (1987), quando o casal 
decide se separar nesta fase de desenvolvimento do filho, é muito importante assegurar à 
criança que ela não foi responsável pela separação, pois é nisto que ela tende a acreditar em 
razão de seu pensamento ainda egocêntrico e onipotente. 
É nesse período também que a criança experimenta sentimentos de ciúme, inveja e 
rivalidade relacionada aos seus pais. Freud (1905) refere que nesta fase a criança vivencia o 
que ele nomeou Complexo de Édipo: A menina vê a mãe como rival na disputa pelo amor do 
pai, e o menino rivaliza com o pai o amor da mãe. Tais conflitos vão influenciar sua vida 
emocional até a fase adulta. Segundo Melanie Klein (1960, p.100): “A psicanalise de adultos 
revelou-me que os efeitos dessa primitiva vida de fantasias são duradouros, influenciando 
profundamente o inconsciente do adulto. ” 
Marchese (2018) afirma que ênfase é dada nos estudos psicanalíticos à personalidadenarcísica da criança da fase fálica (a menina percebe que é mulher como a mãe e o menino 
que é homem como o pai), ela começa a prestar atenção nos órgãos sexuais dela e dos pais, e 
buscar seu reconhecimento, amor e atenção como forma de aceitação. 
Para Erikson, a criança entre 3 e 5 anos vivencia o estágio da Iniciativa X Culpa. Aqui 
se marca a possibilidade de tomar iniciativas sem culpa. Quando reprimida e/ou castigada em 
excesso nas suas curiosidades (sexual, intelectual, etc.), poderá desenvolver culpa, diminuindo 
sua iniciativa de buscar novos conhecimentos e explorar novas situações. 
A atenção satisfatória (afeto, envolvimento e limites bem estabelecidos) que os pais 
dedicam ao filho, favorecem à criança o desenvolvimento de uma adequada autoestima, 
vaidade e orgulho, sabendo reconhecer seus erros e acertos. A falta da atenção pode gerar 
timidez ou introversão, sentimentos de inferioridade, bem como a necessidade de agradar os 
outros (por busca de atenção e reconhecimento). O excesso de atenção pode gerar um 
narcisismo crítico, exigindo muita atenção, sempre para si. 
Após esse período, o indivíduo entra numa época de amadurecimento psíquico no 
Período de Latência, onde há uma pausa no desenvolvimento da sexualidade. Ocorre a 
sublimação (um desvio da libido para novos objetos) dos impulsos sexuais e a criança 
demonstra maior capacidade de socialização e de ajustamento às regras de conduta. A criança 
nesta fase é superegóica, ou seja, demonstra uma preocupação importante com seus 
 
 
16 
 
comportamentos, procurando ser elogiada por se comportar conforme o desejo de seus 
educadores (pais, professores na escola). 
Segundo Erik Erikson, a criança de 6 anos vivencia o estágio da Produtividade X 
Inferioridade, pois sente-se capaz de produzir, logo, competente. Através da sociabilidade e 
cooperatividade, desenvolve-se o sentimento de pertencer. A descrença em suas habilidades, 
fomentada por atitudes de rigidez e excessiva exigência dos pais por perfeição de desempenho 
da criança, pode leva-la a ter sentimentos de inferioridade e exclusão, sentimentos estes que 
são prejudiciais ao desenvolvimento de sua personalidade. 
 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Para que seja melhor entendida a dinâmica do ciúme patológico, é necessária uma 
reflexão acerca do processo de constituição do sujeito de acordo com a teoria psicanalítica, 
bem como a importância do ciúme neste processo. Rios (2003) fala sobre o ciúme primordial, 
do bebê em relação a mãe. O rompimento da relação mãe-bebê, com o avanço do 
desenvolvimento, irá, segundo Rios (2003), proporcionar a ocorrência de eventos decisivos 
para os processos de constituição do sujeito, que estão diretamente relacionados com a 
vivência primordial do ciúme. 
Sobre o ciúme e a infância, Skoloff (1954) afirma que o ciúme excessivo das pessoas 
adultas, de caráter neurótico e irracional, tem sua real origem nos traumas ciumentos da 
primeira infância. Melanie Klein (1960), afirma que a criança primeiramente experimente a 
inveja, desejando o corpo fértil da mãe para si. Essa experiência é vivenciada até os dois anos. 
Depois disso a criança começa a se dar conta da importância que o pai também tem na vida da 
mãe, e o ciúme excessivo vai ocorrer, segundo Klein, quando a criança, mobilizada por um 
incremento de seu próprio sadismo, fica impossibilitada de introjetar a mãe enquanto objeto 
ideal, restando a ela a experiência da insegurança e da desconfiança do amor do outro e de sua 
própria capacidade de amar. 
Segundo Diogo (2009), o ciúme patológico guarda estreita relação com a autoestima 
diminuída. Os pais podem iniciar logo cedo uma forma de construção da autoestima na vida 
dos filhos, antes que o mundo externo tenha um impacto maior. A família é a instituição 
social mais importante durante seu processo de formação. As mensagens que a criança recebe 
 
 
17 
 
da família devem ser de aceitação, valorização, sempre inspirando o outro, no caso o filho, 
sobrinho, neto, enfim, as crianças do núcleo familiar, a se tornarem pessoas capazes de 
estabelecer convívio social satisfatório, de respeito e consideração por si mesmo e pelos 
outros. Quando a relação mãe, pai e filho for positiva, este último terá maior probabilidade de 
adquirir o senso de segurança e autoconfiança que o acompanharão pelo resto da vida 
(DIOGO, 2009). 
As crianças precisam ser capazes de confiar em seus pais e os pais devem ser dignos 
de confiança. A confiança se desenvolve quando os pais estão presentes na vida da criança de 
modo qualitativo, ou seja, não adianta muito passar o dia todo fazendo companhia fisicamente 
para a criança, mas distante afetiva e emocionalmente dela, como nos casos em que os pais 
estão conectados em suas comunicações via internet e seus filhos estão do lado deles 
fisicamente esperando uma atenção que não vem. Para que a confiança se desenvolva, as 
crianças devem se sentir seguras. Depende dos pais a criação de um ambiente seguro para os 
filhos. Ao criar segurança, os pais fortalecem os alicerces da confiança e da saúde. Um 
ambiente inseguro é um solo fértil para o aparecimento de neuroses (BRAZELTON, 1988). 
Em seu texto de 1933, sobre a Feminilidade, Freud declara que não importa o sexo da 
criança, ela é cuidada por um semelhante. Esse papel de cuidador pode ser ocupado por 
qualquer pessoa. A pessoa que sempre cuida da criança é o primeiro amor de sua vida, 
proporcionando uma série de sensações de prazer. A criança reconhece que é o centro das 
atenções até o momento que começa a perceber a existência de mais pessoas a sua volta, 
podendo desenvolver esse sentimento ciumento. 
 Para a criança, que deixa de ser o centro das atenções da mãe (por volta do final do 
primeiro ano de vida), e começa a perceber que a mãe tem uma vida além da relação que 
existe entre eles de mãe-filho, o ciúme é um sentimento que naturalmente é experimentado, 
ocorrendo também a repressão desse sentimento ao longo de sua vida. Nos casos em que esta 
experiência infantil do ciúme foi exacerbada ou percebida como traumática porque a criança 
não pôde, por exemplo, desfrutar da fantasia e às vezes nem da realidade de ter uma mãe só 
pra ela, não pôde sentir-se única por algum tempo em seu desenvolvimento emocional, como 
quando a mãe engravida de um outro filho quando o filho mais novo ainda nem completou 1 
ano de vida, esta vivência então traumática pode predispor a criança ao ciúme patológico na 
vida adulta posterior (FREUD, 1976, p. 271) 
No entanto, Freud (1922) refere que a origem do ciúme patológico reside 
 
 
18 
 
consideravelmente na fase edipiana e seus conflitos, em especial no que se refere às 
frustrações e conflitos que estão em torno do complexo de Édipo. Freud (1922), afirma que o 
ciúme provém de reprimidas inclinações à infidelidade, provenientes das fantasias edipianas 
de estar sendo infiel aos progenitores, em especial, o progenitor do mesmo sexo da criança. 
Assim, o menino se culpa inconscientemente de trair a confiança de seu pai, a quem também 
ama, desejando ter a mãe como sua namorada, e a menina sente-se culpada por trair a 
confiança da mãe desejando seu parceiro amoroso. 
A nível inconsciente, é como se o sujeito ciumento pensasse: “se eu pude trair a quem 
amo, o que me garante que o mesmo não vai acontecer comigo? Afinal, até mereço este 
castigo por ter sido infiel”. É esta crença inconsciente do sujeito ciumento que, segundo 
Freud, o leva a angustiar-se em demasia no vínculo com a pessoa amada. Nada do que a 
pessoa amada possa fazer ou dizer para convencê-lo de sua fidelidade, fará diferença em sua 
dúvida patológica inconsciente. Conforme Freud (1922), apenas o rastreamento destas 
lembranças infantis em torno de seu complexo de Édipo, poderiam ajuda-lo no sentido de 
rever e mudar o comportamento de ciúme e necessidade de controle sobre a pessoa amada. 
 O ciúme serve à rejeição,por projeção, de dois tipos de impulsos: impulsos à 
infidelidade x impulsos ao homossexualismo. Certamente ambos os impulsos desempenham 
um papel no ciúme normal que pode desenvolver-se sempre que há uma necessidade de 
reprimir impulsos à infidelidade e/ou ao homossexualismo e coincide com a característica de 
intolerância à perda de amor (FREUD, 1922). 
 Klein (1960, p.90) afirma que a criança revela também um intenso sentimento de 
ciúme para com os irmãos e irmãs, na medida em que também se apresentam como rivais no 
amor dos pais, despertando conflitos entre impulsos agressivos e sentimentos de amor. Daí a 
importância do cuidado que os pais devem tomar no sentido de não demonstrar sua predileção 
por um dos filhos, ainda que realmente se identifique mais com o mesmo. O cumprimento de 
regras de conduta que se espera de um dos filhos, deve ser solicitado de todos, inclusive 
daquele com quem os pais se identificam mais, a fim de evitar fomentar o ciúme que 
naturalmente é experimentado pelas crianças no vínculo com seus pais. 
Ferreira-Santos (1996, p.25) refere que o comportamento dos pais de predileção a um 
dos filhos ou sobrinhos, pode intensificar o ciúme do filho, gerando registros duradouros em 
seu desenvolvimento. Pode acontecer de o ressentimento e as inseguranças geradas tornem a 
criança uma pessoa hesitante e hostil em todas as situações que venha enfrentar até a fase 
 
 
19 
 
adulta. Isso pode se intensificar ainda mais quando os pais inconscientemente demostram 
predileção por um dos filhos. 
Para Brito (2013) a criança pode assumir total desprezo para com o terceiro intruso da 
relação (em especial, contra os irmãos ou primos), cometendo atos de violência como 
beliscões, mordidas, e num nível patológico, tentativas de eliminação física, comportamentos 
estes que tendem a ser transferidos e repetidos nas relações afetivas da vida adulta caso não 
haja nenhum tipo de intervenção a esse respeito, como a busca por auxílio psicológico por 
parte dos pais à criança ciumenta. 
Segundo Stamateas (2010), o ciumento tem medo de perder porque não tem a 
permissão interior de ter. É um sujeito que cresceu em um ambiente negligente, onde os pais o 
desqualificavam e enganavam, não lhe permitindo experimentar novas situações, faltando 
validação. Os pais, segundo este autor, devem bendizer os filhos. Isso surgirá como como 
permissão para ter, viver e poder. Stamateas (2010) explica ainda a relação do ciúme como 
consequência de uma das principais características que o ciumento apresenta: a baixa 
autoestima. O sujeito ciumento acredita que não tem valor e que não merece respeito. Acha 
que é alguém que a qualquer momento pode ser traído e abandonado, somando ainda fatores 
como insegurança, medo, instabilidade e desorganização pessoal. 
Mussen (1995) define a autoestima como um conjunto de juízos e valores que um 
indivíduo atribui a aspectos de sua personalidade, suas habilidades e de sua imagem pessoal. 
A figura dos pais tem papel fundamental na estruturação psíquica da criança e na constituição 
da sua autoestima e do seu autoconceito, onde, através da fala, das atitudes e gestos dos pais 
para com a criança, esta vai estabelecendo um vínculo de maior ou menor valorização de si 
mesma. Ela precisa que seus pais/cuidadores lhe evidenciem suas boas características e 
conquistas, para um melhor desenvolvimento da autoestima. As mensagens que ela recebe, 
influenciam diretamente na construção do seu Ego Ideal (MUSSEN, 1995). 
Conforme Brito (2016), é importante que se estabeleça uma comunicação positiva 
entre a criança e seus pais. Pais que utilizam de expressões desafiadoras (mas não 
humilhantes) e construtivas ajudam na construção de uma identidade confiante. A crítica 
inadequada acaba reforçando as crenças de incapacidade e inferioridade. A comunicação deve 
ser estabelecida no sentido de mostrar que sua capacidade é superior à dificuldade. Os pais 
devem procurar estabelecer um modo positivo de comunicação, evitando frases do tipo “você 
não é capaz de fazer algo”. Ao invés disso dizer que acredita no potencial da criança, para que 
 
 
20 
 
ela crie em seu sistema psíquico a energia necessária para acreditar em si mesma. 
 
Os pais também podem propor, segundo Brito (2016), uma parceria com a criança, 
para que juntos cheguem à uma solução para o tema que é visto como problema, como “o que 
podemos fazer para mudar isso juntos? ”, dessa forma a criança sente que os pais acreditam 
em sua capacidade e criatividade para lidar com problemas, além de ser esta uma forma 
saudável de expressar o amor que se sente pela criança, tornando-se um fator de proteção 
contra o desenvolvimento do ciúme patológico. 
Ainda de acordo com Brito (2016), separar a criança da sua conduta também pode ser 
a forma ideal de se estimular uma mudança positiva, desaprovando dessa forma o 
comportamento e não a pessoa, evitando rótulos que podem estigmatizar a criança, gerando 
uma crença duradoura no psíquico dos filhos. Dizer que uma criança é barulhenta, por 
exemplo não é a maneira ideal de apontar uma mudança no seu modo de agir. É necessário 
que se separe o indivíduo da conduta que ela traz. Dizendo então “seria bom que você fizesse 
menos barulho”, o responsável repara o fazer barulho como comportamento, enquanto 
barulhento é identidade, desaprovando o comportamento e não o filho. 
O diálogo entre pais e filhos deve acontecer sempre no caminho de mostrar que a 
capacidade é maior em relação à situação a ser superada. Em momentos de dificuldade, 
mostrar compreensão e solidariedade são importantes para a construção da autoestima do 
indivíduo. Uma maneira eficaz de fazer isso é exaltar as habilidades da criança, reforçando 
sua competência, tornando-a mais confiante e ciente do seu valor (BRITO, 2016). 
Coopersith (1967, p.4) refere que uma pessoa com a autoestima elevada mantém uma 
imagem constante de suas capacidades, e são menos preocupadas por medos e ambivalências, 
orientando-se de maneira mais diretiva e realista em direção aos seus objetivos pessoais. 
É importante salientar que para o desenvolvimento saudável da autoestima e outros 
atributos psíquicos que vão influenciar nas atitudes que o sujeito vai adotar durante a vida 
adulta nos relacionamentos que vir a estabelecer, a criança também precisa de um espaço 
onde possa expressar sua raiva e ciúme de maneira que não sofra retaliação dos pais por causa 
disso. Quando os pais dizem que o filho não pode sentir ciúmes e raiva, é o mesmo que pedir 
que ele não sinta fome ou sede. Não há como controlar um disparo psíquico, mas, pode-se 
aprender a manejar as ações quando esses disparos são acionados, como controlar um 
comportamento agressivo quando sentir raiva (CAMINHO, 2017). Quando os pais são 
 
 
21 
 
capazes de lidar com estes sentimentos da criança de forma adequada, ou seja, permitem ao 
filho sentir tais sentimentos sem grande espanto ou indignação (não reagindo como se o filho 
fosse um anjo e sim o ser humano que ele é), a criança não se sente inadequada e isto se 
reflete de modo positivo em sua autoestima e favorece a adequada expressão de emoções e 
sentimentos sempre que sentir necessidade de manifestá-los, sem que se sinta culpada por 
assim se comportar. 
Caminho (2017) se refere aos casos em que os pais reagem mal a qualquer 
manifestação de agressividade da criança, levando a criança a inibir seus sentimentos 
agressivos e não àqueles casos em que a criança sempre reage de forma agressiva e impulsiva 
com grande dificuldade para conter suas emoções, o que indicaria sim a necessidade dos pais 
agirem de modo a solicitar da criança maior capacidade de autocontrole. E mesmo nestes 
casos, existem maneiras e maneiras de mostrar a uma criança seus comportamentos 
inadequados, e que seja de preferência, conforme estudos de Winnicott (1956), de maneira 
respeitosa, terna, ainda que de forma firme e séria,protegendo dessa forma a autoestima e o 
autoconceito da criança e ao mesmo tempo sinalizando a ela que existe um limite que ela não 
deve transpor na relação com os pais e com outras pessoas, que é a desobediência e a falta de 
respeito para com eles e os outros. Segundo Winnicott (1956), é este limite que um dia foi 
oferecido pelos pais na infância com todo o amor e respeito que eles têm (e tinham) por seu 
filho, que pode possibilitar a ele hoje na vida adulta sentir-se responsável em conter seus 
impulsos agressivos e destrutivos (como o ciúme patológico) de modo a proteger o seu 
vínculo afetivo com as pessoas de seu convívio. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Este trabalho possibilitou uma reflexão sobre os fatores que, durante o 
desenvolvimento psíquico do indivíduo, acarretam no desenvolvimento do ciúme de forma 
patológica. 
A psicanalise pode contribuir no sentido de facilitar a construção do indivíduo com 
seu Self Verdadeiro, viabilizando a sua expressão de forma genuína. 
No contexto clinico, é apontada a necessidade de proporcionar ao homem ou mulher 
que sofre com o ciúme patológico, a reflexão diante de seus complexos parentais, elaborando 
uma conexão com sua autoestima, seus valores, levando-o (a) a superar a estrutura edípica, 
fazendo o luto das suas feridas psíquicas. 
 
 
22 
 
Através desta pesquisa teórica, foi possível compreender o que leva uma pessoa a agir 
de forma a fracassar no controle de suas angústias (que em grande parte são motivadas por 
experiências emocionais malsucedidas da infância) e a transgredir os limites necessários para 
uma convivência humana harmoniosa e respeitosa, como é o caso do sujeito que manifesta o 
ciúme doentio. 
O medo que alguém sente de perder o outro ou sua necessidade de exclusividade sobre 
ele é um sentimento egocêntrico, que pode ser associado à terrível sensação de um dia ter sido 
o excluído na relação triangular estabelecida com seus pais na infância, mais precisamente na 
fase edipiana do desenvolvimento. 
O ciúme se caracteriza como um problema quando alcança proporções significativas e 
negativas, que alterem a dinâmica do relacionamento. É importante ter a consciência que o 
parceiro não é um instrumento transicional que vai curar as feridas infantis, e reconhecer que 
embora a boa vontade em mudar seja um primeiro passo, buscar ajuda psicológica é 
fundamental para lidar com essas questões de forma a receber o suporte psicológico 
necessário para retomar o desenvolvimento emocional das etapas onde determinadas 
experiências emocionais não puderam ser elaboradas e hoje se repetem por meio das 
manifestações do ciúme patológico. 
 
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