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1 Surdos e o reflexo do Congresso de Milão no processo de ensino- aprendizagem Sidnalva Viana I- Introdução O presente trabalho pretende analisar as relações entre as decisões tomadas no Congresso de Milão e seus impactos sociais, também será avaliada o bilinguismo como proposta de inserção dos surdos no meio escolar, contrapondo as determinações realizadas nessa conferência, dessa forma será pontuada os desafios enfrentados pelos surdos em cada momento vivido ao longo da história. Com o advento da história social, alguns grupos marginalizados foram incorporados à análise historiográfica e passaram a ser visto como sujeitos históricos, tendo mais visibilidade e começaram acontecer discussões a respeito dos seus processos de identidades. (...) é inegável a legitimidade da busca por direitos de grupos sociais historicamente marginalizados, que nas últimas décadas, por meio da ascensão da chamada História Social, vem lutando para serem reconhecidos como sujeitos partícipes do processo histórico. (NETO,2017,p.216). A historiografia a partir dos anos setenta passou a dá destaque aos grupos excluídos que eram representados como “histórias menores”, mesmo com essa mudança de perspectiva, os grupos de pessoas com “deficiência”, continuaram a margem do estudo histórico, apesar deles travarem lutas por direitos no mercado de trabalho, no campo escolar, acessibilidade, entre outros. Como ocorre de modo geral com as pessoas que possuem deficiência, com as pessoas surdas também não é diferente e o fator linguagem para esse grupo específico se apresenta como motivo de exclusão de uma organização social restritiva. Os surdos sempre foram, historicamente, estigmatizados, considerados de menor valor social. Afinal, faltava-lhes a característica eminentemente humana: a linguagem (oral, bem entendido) e suas virtudes cognitivas. Sendo destituídos dessas “virtudes”, os surdos eram “humanamente inferiores” (SANTANA & BERGAMO, 2005, p.566). II- História da Educação de Surdos no Brasil 2 No Brasil o olhar a respeito da importância da educação das pessoas surdas aconteceu no Segundo Império, no ano de 1857, um pouco antes de acontecer o Congresso de Milão que foi em 1880. O início em solo brasileiro se apresenta séculos depois do iniciado na Europa, que deu seus primeiros passos no final da Idade Média e início da Idade Moderna. Os fatores históricos dessa diferença de período entre a Europa e o Brasil estão relacionados ao seu contexto histórico, o Brasil nesse período estava iniciando o seu processo de colonização e a sua história estava vinculada a exploração europeia, não tendo autonomia política, econômica e nem social, a sua educação era ministrada pelos jesuítas, em que os interesses eram em catequizar os índios e transformarem em novos féis. O marco na educação dos surdos aconteceu com a criação do alfabeto manual, a escrita e a oralização por Pedro Ponce de Leon, no século XVI, que após os bons frutos do seu método criou uma escola de professores para surdos, impulsionados por Leon surge também o livro na Espanha, Reducion de las letras y artes para ensñar a hablar a las mudos, de Juan Martin Pablo Bonet. No Brasil chega em 1857 a Libra que sofreu influência da LSF (Língua Francesa de Sinais ) que foi trazida pelo professor Ernest Huet que veio ao Brasil por convite do Imperador D.Pedro II para inaugurar o Instituto de Surdos Mudos, a primeira escola para esse tipo de público no país. Com a isenção da língua de sinais importantes avanços aconteceram e a mudança de perspectiva a respeito do processo de ensino aprendizagem modificou, pois os surdos eram considerados pessoas que não tinha condições de aprender por não desenvolverem a linguagem falada, considerada a única forma de aprendizado, até a criação do alfabeto manual e a escrita. Com esse método de Huest representou uma inovação na educação para os surdos, mas no Brasil não foi aproveitado o suficiente, porque após a criação da escola para mudo-surdo 23 anos depois aconteceu o Congresso de Milão, na Itália, transformando completamente a educação de surdos no mundo. O Congresso representou uma reviravolta no avanço do processo de ensino- aprendizagem dos surdos que durou cem anos por causa do domínio do oralismo na educação de surdos no mundo, alguns especialistas consideram como ano de fracasso. (MORI & SANDER, 2015). 3 Com a mudança de panorama em relação a educação de pessoas surdas as línguas de sinais foram praticamente eliminadas em todos os países que utilizavam, porque com o Congresso de Milão ficou determinada que o método oralista puro era considerado o mais adequado para ser utilizado na educação desse tipo de público. Com a imposição determinada nessa Reunião os alunos que eram pegos utilizando a língua de sinais eram severamente punidos para que pudessem utilizar a língua falada, além de todo esforços para criação e desenvolvimento das línguas de sinais foram prejudicas representando um retrocesso. Um longo período que poderia ser ampliada a língua de sinais ficaram estagnadas só retornando os estudos oficialmente com a grande descoberta na década de 1960 com o professor da Universidade Gallaudet, Dr Wiliam C. Stoke em que constata que a língua de sinais tem aspectos linguísticos. O professor Stokoe se dá conta de que a língua de sinais americana é uma língua natural, completa e complexa, usada pela sociedade surda americana e que possuía aspectos linguísticos de estruturas da linguagem humana. (MORI & SANDER, 2015, p.7). O professor Stoke foi fundamental para a formação da identidade surda no mundo, pois a partir dessa constatação foi retornado o estudo com a língua de sinais e o bilinguismo passou a ter destaque e a sua principal finalidade é a compreensão de que a surdez é uma diferença cultural e que possui sua própria língua gestual defendendo que toda criança surda deveria ser ensinada a partir do bilinguismo e a língua de sinais seria a sua língua materna. (...)a língua de sinais, neste período do século XX, auxiliada pelo aprofundamento da sua compreensão e complexidade linguística, se transforma no principal instrumento da filosofia do bilinguismo que propõe a convivência, porém a não simultaneidade das duas línguas, oportunizando ao surdo seu desenvolvimento de habilidades em sua língua primária de sinais e na secundária, escrita, excluindo o objetivo do desenvolvimento da fala. (SOUTO, 2017). No Brasil com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n° 9.394/96 em 20 de dezembro de 1996, a Educação Especial para a ter mais destaque e a política educacional passou a ter como objetivo o processo de inclusão e a promoção da educação passou a ser um direito de todos. E no processo de inclusão se faz como primordial a utilização de várias ferramentas para inserir as pessoas com deficiência no 4 contexto escolar com os demais, o bilinguismo representou uma filosofia que se encaixava nessa nova forma do desenvolvimento educacional, contrapondo a oralismo imposto com o Congresso de Milão. Consideração Final As pessoas que apresentam uma surdez tiveram ao longo da história vários altos e baixos, desde a exclusão social, ao processo de valorização da sua identidade e inclusão social e educacional. A linguagem representa um grande fator de dominação de um grupo sobre outro e o Congresso de Milão em linhas gerais aprisionou ao avanço da educação dos surdos, a partir de um autoritarismo, baseada na imposição. As mudanças de perspectiva e a inserção do bilinguismo como prática nas escolas estão atreladas com as mudanças sociais e de estrutura, tanto nas leis, como de mudança de olhar. A educação ampliou os seus métodos, seu público e a valorização da diversidade ganhou espaço e nesse contexto, outros tipos de públicos foram encaradoscomo merecedores de uma identidade e as pessoas com necessidades especiais também foram inseridos nesse contexto. Referência Bibliográfica MORI, Nerli Nonato Ribeiro & SANDER, Ricardo Ernani. História da Educação dos Surdos no Brasil. Universidade Federal de Maringá, Maringá, 2015. SANTANA, Ana Paula & BERGAMO, Alexandre. Cultura e Identidade Surdas: Encruzilhada de Lutas Sociais e Teóricas. Educ. Soc, vol, 26, Campinas, 2005. SOUTO, Maíra Wood Almeida. Oralismo X Bilinguismo: Filosofias Educacionais Historicamente contrastantes e presentes na Educação para o Surdo. UFSC, Santa Catarina, 2017.
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