Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Andressa Marques – medicina UFR INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) →Compreende a fixação e a multiplicação bacteriana no trato urinário (podendo ser localizada ou acometer todo o trato urinário); →INFECÇÃO URINÁRIA BAIXA: localizado na bexiga; →PIELONEFRITE: fixação bacteriana no parênquima renal. EPIDEMIOLOGIA →Trata-se de uma das doenças mais comuns na pediatria, sendo uma das doenças bacterianas de maior morbidade na infância, principalmente para lactentes; →Há uma maior incidência de ITU no primeiro ano de vida, principalmente para o sexo masculino; depois dessa idade a incidência nos meninos cai e das meninas se mantém até por volta dos 6 anos; →RECORRÊNCIA: 30% das meninas apresentam um novo episódio dentro do primeiro ano após o primeiro; 50% apresentam recidiva em 5 anos e outras meninas vão ter várias recidivas; ETIOLOGIA E FISIOPATOGENIA →Decorre da ascensão bacteriana pela região periuretral de bactérias que compõem a microbiota intestinal → gram negativos →A principal bactéria é a Escherichia coli uropatogênica, que possui as fimbrias p, que facilitam a adesão dessa bactéria às células uroepiteliais, além disso, ela também produz diversos fatores de evasão das defesas do hospedeiro; →Outra bactéria é o Proteus mirabilis, que coloniza frequentemente o prepúcio de lactentes não circuncidados; →Outras bactérias: Klebsiella, Enterococus; →Há também outros agentes que vão estar relacionadas a quadros de ITU em situações específicas: a Pseudomonas é mais comum em imunossuprimidos e pós manipulação cirúrgica de trato geniturinário; o Staphylococcus saprophyticus é mais comum em meninas adolescentes que iniciaram a vida sexual; e o fungo candida que também é mais comum nos imunossuprimidos, em quem faz uso de atb prolongado ou que tem cateterização vesical; →Além disso, a ITU pode ser decorrente de uma disseminação hematogênica: (RN, imunodeficientes, sepse, anomalias obstrutivas de trato urinário) → nesses casos os principais agentes etiológicos são: Streptococcus B, Staphylococcus aureus e Salmonella →Temos também um agente viral que leva a cistite hemorrágica – adenovírus (mais comum em meninos, pré escolares) e o quadro de ITU é autolimitado e tem pouca morbimortalidade. QUADRO CLÍNICO →Varia de acordo com o grupo etário e com a localização da infecção; →Fatores que influenciam as manifestações clínicas: estado nutricional, presença de alterações anatômicas do trato urinário, número de infecções anteriores e o intervalo de tempo do último episódio infeccioso; Andressa Marques – medicina UFR →O quadro pode variar de febre isolada ou alterações do hábito miccional até pielonefrite aguda, podendo culminar com quadro de urossepse (principalmente nos lactentes); →Em recém-nascidos, apresenta-se geralmente como um quadro séptico, com manifestações inespecíficas como ganho de peso insuficiente, anorexia, vômitos, dificuldade de sucção, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada e hipotermia; também pode se apresentar como um quadro menos agudo, predominando a recusa alimentar, vômitos ocasionais, palidez cutânea e icterícia. →Vale ressaltar que nos RNs há alta probabilidade de bacteriemia, principalmente com via de disseminação hematogênica, com alta frequência de mortalidade devido à disseminação do processo infeccioso; →Nos lactentes a febre é a principal manifestação e muitas vezes único sinal de ITU; raramente se tem polaciúria, gotejamento urinário, disúria, urina com odor fétido, dor abdominal ou lombar. →Em pré escolares a febre também é um sinal frequente; já os quadros com acometimento do estado geral, adinamia, calafrios, dor abdominal e nos flancos sugerem pielonefrite; já sintomas como enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência e/ou retenção urinária com urina fétida e turva pode ser uma cistite; →Disúria também pode dizer a respeito de balanopostites e vulvovaginites; →Em adolescentes é mais comum disúria, polaciúria e dor à micção, podendo ser associado à urgência miccional, hematúria e febre; →Em adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens pode haver a síndrome de disúria-frequência, com sensação de queimação ao urinar, desconforto suprapúbico e frequência urinária aumentada. (o início da vida sexual pode ser acompanhado de surtos de ITU); DIAGNÓSTICO CLÍNICO →Exame físico completo; →Percussão lombar (punho-percussão) – pode evidenciar forte reação dolorosa: Giordano positivo; →Palpação abdominal das lojas renais pode mostrar aumento do volume renal (hidronefrose); →Persistência de bexiga palpável após a micção sugere processo obstrutivo ou disfunção do trato urinário inferior; →Avaliar jato urinário: continuidade, volume, força de expulsão; quando alterados sugere obstrução baixa: disfunção do trato urinário inferior em ambos os sexos ou válvula de uretra posterior nos meninos; →Presença de vulvovaginites ou de balanopostites pode alterar os exames de urina levando a um quadro laboratorial falso-positivo de ITU; →A perda constate de urina, observada durante exame físico, sugere ureter ectópico. LABORATORIAL →Exame de urina →Nos pacientes com controle miccional, o jato médio é o modo ideal de coleta; →Nos pacientes sem controle miccional, a urina pode ser coletada de 3 formas: Andressa Marques – medicina UFR 1. Saco coletor: ter cuidados de higiene e na adaptação do adesivo no contorno da genitália (trocar a cada 30 minutos até conseguir coletar); 2. Punção suprapúbica (PSP): método invasivo; indicada nos casos em que a coleta por via natural suscita dúvidas (diarreia aguda, dermatite perineal, vulvovaginites e balanopostites); 3. Cateterismo vesical: método invasivo e que pode provocar ITU em caso de falha técnica; INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS →Realizar a contagem de unidades formadoras de colônicas (UFC) na cultura; avaliar a presença de piócitos na urina e de bactérias na bacterioscopia por método de gram em gota de urina não centrifugada; ver a densidade urinária (baixa densidade pode significar um distúrbio da concentração); analisar o pH (pH alcalino por infecção pelo Proteus); albuminúria transitória (pode ocorrer na fase febril do processos ou em casos de pielonefrite); hematúria microscópica; conversão de nitrato urinário em nitrito (evidenciando a presença de bactérias gram-negativas na urina). PIÚRIA →Relativo à presença de 5 ou mais piócitos por campo microscópico sob grande aumento (400X), ou mais de 10.000 piócitos/mL; →A presença de cilindros piocitários sugere fortemente um processo pielonefrítico; →Demais condições que podem apresentar piúria ou leucocitúria sem ITU: desidratação grave, inflamação de estruturas contíguas (apendicite), injúria química do trato urinário, glomerulonefrites, tuberculose (nesse caso com cultura negativa nos meios tradicionais de cultivo); BACTERIÚRIA →Presença de uma ou mais bactérias (bastonetes gram-negativos) em gota de urina não centrifugada corada pelo gram; →Sensibilidade de 94% e especificidade de 92%, valor preditivo de 85% quando associado à piúria; IDENTIFICAÇÃO DE CONTAGEM DE BACTÉRIAS PELA UROCULTURA →O diagnóstico de ITU é confirmado pela presença na urina de um número igual ou superior a 100.000 UFC de uma única bactéria. →Achado inferior a 10.000 UFC é considerado negativo, e entre 10.000 e 100.000 UFC, um exame duvidoso, devendo ser repetido; →Quando tem duas cepas de bactérias diferentes na amostra sugere contaminação da mesma; →A sensibilidade do método da urocultura é superior a 95% na presença do mesmo microrganismo em 3 culturas de urina obtidas por jato médio; →Em caso de sintomas clínicos e piúria, urocultura com valor entre 50000 e 100000 UFC/mL de um mesmo microrganismo é fortemente sugestivo de ITU; Andressa Marques – medicina UFR →A maioria dos episódios de ITU é causada por bacilosGram-negativos aeróbios, conhecidos como enterobactérias: Escherichia, Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Proteus, Serratia; →PRINCIPAL AGENTE ETIOLÓGICO NO PRIMEIRO SURTO DE ITU: Escherichia coli →Bactérias da espécie Proteus são encontradas aproximadamente em 30% dos meninos com cistite, e Staphylococcus saprophyticus, em uma proporção similar em adolescentes de ambos os sexos. →Pacientes com obstrução do trato urinário, bexiga neurogênica e litíase renal, as bactérias mais comumente envolvidas são: Proteus, Pseudomonas, Enterococus, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis e, com menor frequência, a Escherichia coli. →Hemograma e PCR podem ou não estar alterados; →Presença de leucocitose e PCR elevada sugere pielonefrite aguda. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA →O achado é ocasional ou em controles de crianças com história de ITU prévia; →Mais prevalente em meninas; →É caracterizada por 3 uroculturas consecutivas com bacteriúria significativa em um período de 3 dias a 2 semanas – pode ser transitória (some em até 12 meses) ou persistente (pode ficar por anos); →A persistente é comumente encontrada em crianças portadoras de meningomielocele, bexiga neurogênica e que necessitam de cateterismo vesical de repetição. →Crianças com bacteriúria assintomática não devem ser tratadas, pois podem desenvolver ITU sintomática e, muitas vezes, com germes de virulência maior. TRATAMENTO ABORDAGEM DA CRIANÇA COM ITU CONFIRMADA →Envolve 2 aspectos: 1. ERRADICAÇÃO DO AGENTE INFECCIOSO (seguida da quimioprofilaxia); 2. ESTUDO MORFOFUNCIONAL DO TRATO URINÁRIO; →Visando prevenir a doença renal progressiva, procuram-se identificar alterações anatômicas e/ou funcionais do trato urinário e fatores predisponentes de lesão do parênquima. ALÍVIO DOS SINTOMAS Andressa Marques – medicina UFR →Dor e febre – analgésicos e antitérmicos em doses usuais; →Disúria intensa – antiespasmódico →Manifestações sistêmicas, vômitos associados com distúrbios hidroeletrolíticos ou acidobásicos – reidratação imediatamente, por via oral ou, se necessário, parenteral. TRATAMENTO ERRADICADOR →Antibioticoterapia deve ser iniciada imediatamente após coleta da urina, porque a demora em começar o tratamento é fator de risco para lesão renal; Sobre internação ou tratamento ambulatorial →Crianças maiores de 3 meses de vida, sem sinais de toxemia, BEG, hidratadas e capazes de ingestão oral podem tratar ambulatorialmente; se tiver febre alta, toxemiadas, desidratadas e com vômitos persistentes, o tratamento inicial deve ser com a criança hospitalizada; →RNs e lactentes jovens, independentemente da sintomatologia, são considerados portadores de ITU complicada ou potencialmente grave; →O antibiótico deve ser escolhido com base na prevalência conhecida dos agentes bacterianos; a bactéria que mais frequentemente causa infecção é a E. coli, seguida das outras enterobactérias. →Deve ser escolhido antibiótico de espectro adequado, não nefrotóxico, de boa eliminação renal e administrado por via oral – as cefalosporinas de 1ª geração, a associação sulfametoxazol + trimetoprim e a nitrofurantoína são medicamentos que geralmente preenchem esses requisitos; (OBS: há baixo tolerância para nitrofurantoína nas doses para tratamento erradicador e também já se observaram a queda da eficácia da associação sulfametoxazol + trimetoprim); →Melhora do estado geral e desaparecimento da febre em 48 a 72 horas são indicativos de boa resposta ao tratamento, se não houver essa melhora, deve-se avaliar a urocultura para modificação da terapêutica; →O tratamento dura em média 10 dias, admitindo-se uma variação entre 7 e 14 dias; →Em crianças com grave acometimento do estado geral, lactentes, com vômitos, desidratados e com distúrbios metabólicos, deve-se iniciar o tratamento parenteral até as condições permitirem o oral, nesses casos, as opções são as cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou ceftazidima) ou os aminoglicosídeos (gentamicina ou amicacina); →Infecções por Pseudomonas sp – são raros esses casos e predominam nos pacientes portadores de alterações graves do trato urinário ou naqueles em uso de cateterismo vesical limpo; o tratamento Andressa Marques – medicina UFR com quinolonas geralmente é eficaz; outra opção é utilizar cefalosporinas combinadas inicialmente com um aminoglicosídeo; OBS: a Pseudomonas sp pode surgir em culturas urinárias sem significar ITU; quando se tem ITU por elas há presença de sinais de gravidade, indicando acometimento sistêmico e não só do trato urinário. →RNs devem ser abordados de maneira específica e o uso de antimicrobianos neles segue orientação diferente; deve-se iniciar tratamento empírico recomendado para sepse precoce, com a associação de penicilina ou ampicilina com aminoglicosídeo; naqueles em que as bactérias isoladas forem Staphylococcus ou Enterococcus, usar vancomicina associada a aminoglicosídeo; TRATAMENTO PROFILÁTICO →Depois de completar o tratamento e enquanto se investiga possíveis alterações do trato urinário, a criança deve ser mantida em profilaxia com baixas doses de antibiótico ou quimioterápico, iniciada imediatamente após o término do tratamento erradicador – isso tem a finalidade de impedir recidivas de ITU e eliminar fator de risco para lesão do parênquima renal; →Indicações de profilaxia: Durante a investigação do trato urinário após o primeiro episódio de ITU; Quando há diagnóstico de anomalias obstrutivas do trato urinário até a realização da correção cirúrgica; Na presença de refluxo vesicoureteral (RVU) de graus III a V; Nas crianças que apresentem recidivas frequentes da ITU, mesmo com estudo morfofuncional do trato urinário dentro da normalidade; nesses casos, deve ser utilizada por período de 6 a 12 meses, podendo, quando necessário prolongar-se o tempo de uso. →Dentre os fármacos, o de melhor eficácia e maior segurança é a nitrofurantoína, apesar da possibilidade de intolerância gástrica; →Outra droga usada é a associação sulfametoxazol + trimetoprim; →As cefalosporinas de 1ª geração são usadas no período recém nascido até 60 dias de vida, quando deverão ser substituídas pela nitrofurantoína ou por sulfametoxazol + trimetoprim →OBS: nos últimos anos tem se visto que a profilaxia pode não prevenir a recidiva de ITU nem o surgimento de novas lesões cicatriciais do parênquima e, atualmente, a quimioprofilaxia não é empregada nos casos de RVU de graus leves; AVALIAÇÃO MORFOFUNCIONAL DO TRATO URINÁRIO →O livre fluxo da urina, desde o parênquima renal até a micção, é a principal condição de defesa do trato urinário contra invasão, fixação e multiplicação bacteriana; Andressa Marques – medicina UFR →Indica-se investigação do trato urinário por imagens após o 1º episódio bem documentado de ITU, em qualquer idade e para ambos os sexos – isso se justifica pela frequente associação de ITU a anomalias do trato urinário (RVU e processos obstrutivos, por ex); →Objetivos da avaliação morfofuncional: Detectar condições predisponentes da infecção e das recidivas; avaliar a presença de lesão renal e estabelecer conduta que possa prevenir o seu surgimento ou agravamento, visando o melhor prognóstico para o paciente; →Utilizam-se: exames ultrassonográficos, radiológicos, cintilográficos, urodinâmicos e urológicos. ULTRASSONOGRAFIA (US) →Métodos seguro, não invasivo, sem efeitos colaterais, de baixo custo, com capacidade de rastreamento do trato urinário superior e inferior e pode ser realizado na fase aguda do processo; →Permite avaliação da dinâmica das vias de drenagem e da micção; →É observador dependente; →Exame de escolha para o início da investigação; →Inclui avaliação do volume e tamanho renal, espessura e características do parênquima renal, diâmetro anteroposterior (AP) da pelve, diferenciação corticomedular e tambéma espessura da parede vesical, resíduo pré e pós-miccional, morfologia dos ureteres; também demonstra o crescimento do parênquima renal, as anomalias de posição e localização renais, a presença de hidronefrose, cálculos e abscesso renal. →A US realizada durante a gravidez identifica, com muita precisão, a hidronefrose fetal propiciando condições de se atuar no período pré-natal ou no pós-natal imediato, minimizando significativamente a morbimortalidade; EXAMES RADIOLÓGICOS URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL (UCM) →Método que melhor define a morfologia do trato urinário inferior, com avaliação da uretra, da bexiga e dos ureteres (quando há RVU); →Permite identificar anomalias na forma e na espessura da parede vesical (divertículos, ureteroceles) e da uretra (estenoses ou válvula de uretra posterior – VUP), além da presença de RVU; →É um método invasivo e precisa preparar a criança para que a mesma colabore; →Deve ser realizada somente após o término do tratamento erradicador para evitar disseminação da infecção e a criança deve estar em uso de antibioticoprofilaxia para reduzir os riscos de ITU iatrogênica; UROGRAFIA EXCRETORA (EU) →Restrita a casos especiais como malformações complexas com possibilidade de abordagem cirúrgica; Andressa Marques – medicina UFR →Apresenta riscos com o uso de contraste iodado e carga elevada de radiação; RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E ANGIORRESSONÂNCIA DOS VASOS RENAIS →Grande acurácia para identificação da anatomia do trato urinário e estudo dos vasos renais; →Precisa sedar crianças que não colaboram, tem alto custo e é pouco disponível; EXAMES DE MEDICINA NUCLEAR →Apresentam radiação menor, são muito precisos na determinação de lesões do parênquima renal e na avaliação da função renal; →Também tem grande valor na avaliação das obstruções ureterais como nas estenoses da junção ureteropélvica (JUP); CINTILOGRAFIA RENAL ESTÁTICA →Emprega o ácido dimercaptossuccínico (DMSA) ligado ao 99mTc; →Permite a avaliação morfológica e funcional quantitativa por meio da detecção da radiação por aparelhos de gama-câmara; CINTILOGRAFIA RENAL DINÂMICA →Emprega o ácido dietilenotriaminopentacético (DTPA) ligado ao 99mTc, que sofre filtração e excreção renal, permitindo a aquisição de imagens sequenciais, desde a sua captação pelos rins até sua eliminação para a bexiga; →Permite avaliar se o sistema excretor urinário está pérvio, diferenciando os processos obstrutivos funcionais dos anatômicos; →Indicado nos casos de ITU associada à hidronefrose; →NÃO indicada na presença de RVU; CISTOGRAFIA RADIOISOTÓPICA DIRETA →Empregada para a avaliação da presença de RVU; →É útil no acompanhamento da evolução do RVU quando necessário ou quando os pacientes apresentam alergia ao composto iodado; ESTUDO URODINÂMICO →Avaliação urológica da função vesical para estudar a capacidade, a pressão vesical, a atividade do detrusor e da musculatura do assoalho pélvico durante o enchimento e o ato miccional. →Permite o diagnóstico acurado das disfunções vesicais. →Está indicado nos casos de ITU associada à bexiga neurogênica e em alguns casos de distúrbios miccionais. →É invasivo e testa uma situação não fisiológica, pois usa cateteres vesicais. DIRETRIZES PARA INVESTIGAÇÃO →As crianças são estratificadas de acordo com a idade, tendo como ponto de corte 2 anos, pois há maior chance de se detectar as anomalias do trato urinário em lactentes. Andressa Marques – medicina UFR →Nas crianças menores de 2 anos de idade, realizam-se US do trato urinário e UCM. Na presença de alterações, procede-se à complementação da propedêutica com exames cintilográficos (cintilografia estática e/ou dinâmica), cuja indicação dependerá da anomalia detectada. →Nos casos de RVU, deve ser avaliada a presença de dano renal pela cintilografia estática. →Nos achados de hidronefrose e/ou na suspeita de obstruções do trato urinário, a cintilografia dinâmica auxilia na diferenciação entre obstrução funcional ou anatômica. →Nas crianças maiores de 2 anos de idade, em ambos os sexos, realiza-se inicialmente US do trato urinário. Quando a US estiver alterada, adicionam-se, na propedêutica, a UCM e os exames cintilográficos. →Nos casos de ITU recidivante ainda sem investigação de imagens, deve-se realizar US, UCM e cintilografia renal estática, caso ainda não tenham sido realizados. →A UE, a ressonância magnética (RM), a urodinâmica e as endoscopias urológicas ficam reservadas para casos especiais. HIDRONEFROSE FETAL →Hidronefrose é a dilatação da pelve e dos cálices renais; →Trata-se da alteração mais encontrada no trato urinário fetal pela ecografia obstétrica; →Pode ser um achado fisiológico, transitório na maioria dos casos, ou pode indicar uma uropatia, obstrutiva ou não em qualquer ponto do trato urinário, desde o meato uretral até o infundíbulo calicial; →Geralmente a gravidade da hidronefrose correlaciona-se com a presença de doença nefrourológica; →Atualmente, considera-se que um diâmetro anteroposterior (DAP) da pelve renal maior que 5mm visto na ultrassonografia fetal já deve sugerir causas patológicas, com necessidade de investigação complementar pós-natal; →As principais consequências da hidronefrose diagnosticada ainda no pré-natal são a hipoplasia pulmonar nas uropatias obstrutivas que cursam com oligodramnia e a perda da função renal. →No período pós-natal, a hidronefrose e a estase urinária são importantes fatores para pielonefrite e todas as complicações a ela relacionadas: cicatrizes, hipertensão e estágio de rim terminal. ETIOLOGIA Andressa Marques – medicina UFR →A principal causa de dilatação da pelve renal no neonato é a hidronefrose idiopática; →Entre as uropatias mais frequentemente detectadas, incluem-se a obstrução de junção ureteropélvica (OJUP), refluxo vesicoureteral (RVU) e válvula de uretra posterior (VUP); Obstrutivas: OJUP (geralmente unilateral), VUP (geralmente bilateral) Não obstrutivas: RVU, Rim multicístico Outras etiologias menos comuns: ureterocele ectópica e síndrome de Prune-Belly →A OJUP corresponde por ~30% das causas; →Dentre as causas não obstrutivas, predomina o RVU, correspondendo a 10 a 20% dos casos; OBSTRUÇÃO DA JUNÇÃO URETEROPÉLVICA (OJUP) EPIDEMIOLOGIA →Uropatia obstrutiva mais comum da infância e principal causa de hidronefrose fetal; →É causada por uma estenose intrínseca da JUP; →Em 60% dos casos ocorre unilateralmente do lado esquerdo; →Mais frequente no sexo masculino; CLÍNICA →Pode manifestar-se como: 1. Hidronefrose geralmente unilateral sem visualização do ureter ipsilateral pelo USG pré-natal; 2. Massa palpável em flancos no período neonatal; 3. Dor lombar ou abdominal na infância 4. Pielonefrite 5. Hematúria após trauma leve →A função renal pode estar comprometida pela pressão retrógrada sobre as estruturas glomerulares (50% dos casos apresentam exames normais); →É necessária a realização de uretrocistografia pós-miccional, por em 15% dos casos existe RVU ipsilateral à obstrução da JUP; TRATAMENTO →Todas as crianças com este diagnóstico deverão iniciar quimioprofilaxia com atb logo após o nascimento; →Principais opções: cefalexina e sulfametoxazol + trimetropim; →As obstruções que cursam com hidronefrose grau I e II podem se resolver espontaneamente, ao passo que os graus mais intensos (III e IV) frequentemente requerem correção cirúrgica; →O reparo consiste em uma pieloplastia, com excisão do segmento estenótico e reimplante do reter na pelve; VÁLVULA DE URETRA POSTERIOR (VUP) DEFINIÇÃO →Consiste em uma membrana localizada distalmente à uretra prostática, que dificulta a drenagem adequada da urina; →Resulta em dilatação da uretra prostática, dilatação vesical, hipertrofia de detrusor, refluxo vesicoureteral em 50% dos casos, hidronefrose bilateral ou até displasiarenal em casos mais graves; EPIDEMIOLOGIA →É uma das principais causas de uropatia obstrutiva grave; Andressa Marques – medicina UFR →Exclusiva de meninos; CLÍNICA →Manifestações variáveis de acordo com o período embriológico em que se desenvolve e a intensidade da obstrução; →+ precoce = manifestações mais graves – hipoplasia pulmonar por oligodramnia, insuficiência renal por displasia do parênquima; →Ao nascimento, a presença de bexiga palpável e jato urinário fraco em meninos deve levantar suspeita; →Em outros casos pode haver sintomas de uremia ou sepse de foco urinário; →Crianças maiores poderão apresentar incontinência urinária por anormalidades funcionais do esvaziamento vesical, poliúria por dificuldades no processo de concentração urinária e acidose tubular renal; DIAGNÓSTICO →É estabelecido com a realização de uretrocistografia pós-miccional; →A função renal (ureia e creatinina) deve ser incluída nas solicitações, ajudando a avaliar o prognóstico; TRATAMENTO →Suporte ventilatório após o nascimento; →Sondagem vesical de alívio – sendo essa diagnóstica e terapêutica; →Antibioticoterapia profilática deve ser iniciada prontamente; →O tratamento definitivo é conseguido com a realização da ablação transuretral da valva por técnicas endoscópicas; PROGNÓSTICO →Os fatores relacionados ao pior prognóstico são: hidronefrose antes de 24 semanas de idade gestacional, oligodramnia, creatinina sérica acima de 1 mg/dl depois da descompressão vesical, presença de cistos renais e persistência da incontinência urinária após os cinco anos. REFLUXO VESICOURETERAL (RVU) →O RVU primário, alteração mediada por expressão genética, é causado por uma anormalidade estrutural da junção ureterovesical (curto segmento submucoso do ureter), permitindo ascensão da urina da bexiga até os ureteres e os rins. →Exame padrão outro para diagnóstico e graduação: Uretrocistografia miccional (UCM) →Classifica-se o RVU em 5 graus: leve (I e II), moderado (III) e grave (IV e V). →Estima-se a incidência do RVU em 1% da população pediátrica e em 30 a 40% das crianças com ITU; →Os pacientes com RVU podem ser classificados em três grupos (baixo, médio e alto risco) quanto às chances de pior evolução, ou seja, o surgimento de cicatrizes renais, persistência do refluxo, surgimento de hipertensão arterial ou evolução para perda progressiva da função renal. Andressa Marques – medicina UFR 1. Baixo risco: graus de refluxo I e II uni ou bilateral, sem cicatrizes e sem síndrome de disfunção de eliminação. 2. Médio risco: grau III uni ou bilateral, grau IV unilateral e presença de lesão definitiva, sintomatologia de disfunção das eliminações leve. 3. Alto risco: graus IV bilateral e V uni ou bilateral, lesão renal moderada ou grave, rim único, síndrome de disfunção das eliminações. Também os lactentes, pois, nessa época, é maior o risco de pielonefrites com lesões do parênquima que evoluem com cicatrização. →O RVU primário apresenta tendência para involução. →A associação RVU, infecção urinária e lesões do parênquima renal, com possibilidade de evolução para hipertensão e perda da função renal, induziram a terapêutica de correção cirúrgica. Paralelamente, a evolução natural do refluxo para resolução espontânea propiciou a proposta terapêutica de tratamento conservador (uso de profilaxia com antibióticos ou quimioterápicos por longo prazo). →A tendência atual é de reservar a profilaxia para as crianças que apresentem RVU de graus maiores; nas demais, a vigilância quanto a episódios de ITU deve ser enfatizada para prevenção de deterioração da função renal. →Não há indicação de tratamento cirúrgico do RVU, exceto em algumas situações especiais, como refluxos que funcionem como obstrução ao fluxo urinário e refluxos associados a defeitos anatômicos da bexiga que necessitem de correção cirúrgica. É contraindicada a correção cirúrgica em presença de bexigas disfuncionais. CONDUTA NO PÓS-NATAL CONDUTA NA UNIDADE NEONATAL →Fatores preditivos de mau prognóstico, com Oligoidrâmnio, obstrução uretral, Cromossomopatias e malformações em outros sistemas, devem ser corretamente identificados; →O exame físico deve ser minucioso; → Massa unilateral palpável no flanco pode ser secundária a rim multicístico ou estenose de junção ureteropélvica. →Quando bilateral, pode ser secundária a obstrução ureteropélvica bilateral, que é rara, ou decorrente de obstrução uretral, como nos casos de VUP nos meninos. Nesses casos, muitas vezes a Andressa Marques – medicina UFR bexiga também pode ser palpável, logo acima da sínfise púbica. Diante desse quadro, cabe ainda ao pediatra avaliar o jato urinário que, nos casos de VUP, pode ser em gotejamento. →Também faz parte da avaliação inicial um exame clínico completo, incluindo mensuração da pressão arterial com manguito apropriado para a idade. →A avaliação laboratorial inclui uma avaliação da função renal, por meio da dosagem sérica de ureia e creatinina. →Essa avaliação bioquímica deve ser postergada, se possível, até 72 horas de vida, uma vez que, nos 3 primeiros dias de vida, a creatinina do neonato reflete ainda a passagem transplacentária da creatinina materna. →Já para os casos graves, com suspeita de displasia renal bilateral ou VUP, a função renal deve ser avaliada imediatamente. →A coleta de urina para avaliação de sedimentoscopia, bioquímica e cultura será obtida nos casos em que haja suspeita de ITU ou pode ser postergada para quando a criança estiver em acompanhamento ambulatorial. →A quimioprofilaxia com atb para ITU nessa população é controversa; →Tem-se iniciado antibioticoprofilaxia contínua para pacientes com DAP > 10 mm, presença de megaureter ou diante da suspeita clínica de uropatias complexas. →A droga de escolha no 1º mês de vida é uma cefalosporina de 1ª geração, como cefalexina ou cefadroxil, na dose de 50 a 100 mg/dia, dose única noturna. →Após o período neonatal, têm-se as opções de profilaxia com nitrofurantoína 1 mg/kg/ dose ou trimetoprim 1 a 2 mg/kg/dose. →Em recém-nascidos com suspeita de nefrouropatias complexas, como VUP, displasia renal bilateral e hidronefrose grave bilateral, justifica-se uma avaliação propedêutica e, possivelmente, uma intervenção imediata, por exemplo, alívio da obstrução ao fluxo urinário. INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM →Ultrassonografia (US), exames radiológicos e de medicina nuclear; →Diante de um caso de hidronefrose fetal, deve ser solicitado US (devendo conter medidas longitudinais, transversais e volume dos rins, medidas da pelve renal anteroposterior, dos ureteres proximais e distais, do volume e da espessura da bexiga e do resíduo urinário); →O momento mais adequado pra realiza-lo é no final da 1ª semana de vida, exceto para os casos suspeitos de obstrução uretral (VUP, atresia de uretra, síndrome de Prunne-Belly); →O segundo exame na investigação de hidronefrose fetal é a uretrocistografia miccional (UCM); deve ser solicitado após confirmar que a criança não apresenta bacteriúria e está em uso de quimioprofilaxia; UCM é utilizada para diagnóstico de RVU e VUP e alterações anatômicas da bexiga; é um método invasivo, com possíveis sintomas irritativos, exposição radioativa e risco de ITU; →A solicitação de UCM após um achado normal de US ainda é controversa, todavia, em estudo realizado, RVU foi o achado patológico mais frequente, sendo pouco diagnosticado nos casos em que não se pediu UCM (2 a cada 3 casos de refluxo não seriam diagnosticados caso não pedisse UCM, pois o US veio normal); Andressa Marques – medicina UFR →Muitos autores recomendam a UCM para todos os casos em que a hidronefrose persiste no pós- natal (DAP > 5 mm), com o objetivo de evitar ou minimizar eventos infecciosos e/ ou nefropatia do refluxo. Outros recomendam esse exame apenas para casos em que o DAP > 10 mm;→Mas, há evidência de que a realização da UCM não é justificada para o diagnóstico de RVU assintomático, cujo grau geralmente não tem significado clínico; →Entretanto, o adequado acompanhamento ecográfico para detectar aumento da dilatação da pelve renal e a monitoração de ITU são essenciais. →Indica-se a UCM na presença de DAP fetal ou DAP pós-natal ≥ 10 mm, ou a presença de megaureter, ou ainda a ocorrência de infecção urinária durante o seguimento clínico. Andressa Marques – medicina UFR
Compartilhar