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Lei X Graça Silvio Dutra DEZ/2015 2 Sumário Introdução 7 É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna 10 Deixar que a Graça nos Conduza 12 Não é por Persuasão, mas por Graça 14 A Graça Está Destinada a Vencer 16 Senhor Justiça Nossa 22 A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo 26 O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei 32 A Graça não Condena 37 Graça Sobre Graça 40 A Troca da Antiga Aliança pela Nova 42 Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar 54 A Justiça do Evangelho Não é Juízo 57 O Real Significado da Graça 60 Uma Nova Aliança Diferente da Antiga 63 3 Uma Aliança Firmada em Graça 65 A Bênção da Graça Perdoadora 71 A Graça Está Sujeita a Decadências 78 Alianças e Dispensações Para um Único Propósito 80 A Graça Nunca Desconsidera o Viver Pecaminoso 90 A Graça se Manifesta na Nossa Fraqueza 97 A Justiça do Evangelho Testemunhada pela Lei e pelos Profetas 102 A Justiça Manifestada sem Lei 107 A Luz da Lei e a do Evangelho 117 É Pela Graça mas Não é Fácil Conforme Possa Parecer 119 Impossível para a Lei mas Não para a Graça que Opera pela Fé 121 Uma Graça que Cresce 125 Todo Mérito é da Graça 126 4 O Recebimento é Gratuito Mas é Condicional 131 Graça 133 Justa Cooperação da Graça com a Vontade Consciente 136 A Dispensação do Espírito Santo 138 A Graça Opera Pela Obediência 142 A Graça Supera a Aflição 144 Cobre como as Águas do Dilúvio 146 A Graça não Condena 148 O Modo de Concessão da Graça 151 A Aliança da Graça – 2 Samuel 7 153 Características do Evangelho Verdadeiro 162 Como Saber Qual é o Evangelho Verdadeiro? 165 O Evangelho Não Condena 170 Por Que Jesus Não Veio Condenar? 173 5 O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei 176 Aceitos por Causa da Justificação 180 Quem Condenará a Quem Deus Justifica? 182 Resgatados da Ira e da Maldição 185 Cristo, Nossa Redenção, Justiça e Santificação 187 O Que é a Antiga Aliança 231 O Que é a Nova Aliança 234 Todo Mérito é da Graça 248 A Graça Exige Perseverança 253 Pregar o Evangelho a Toda Criatura 264 Uma Nova Esperança para Adúlteros e Ladrões 273 O Que é a Caducidade da Letra 283 O Jugo da Lei de Moisés e o de Jesus 287 Fazer a Vontade de Deus é Mais do que Cumprir a Lei Moral 294 6 Como o Crente Está Morto Para a Lei? 299 O Espírito Santo é uma Promessa da Nova Aliança 303 A Antiga Aliança Era Figura da Nova 313 A Finalidade da Lei 316 Jesus Livrou o Crente do Jugo da Lei 322 Breve Comentário de Gálatas 4 326 Breve Comentário de Gálatas 5 352 7 Introdução Há cerca de vinte anos, em uma visão noturna, vi escrito em letras douradas gigantes as palavras do nosso título, como se estivessem em chamas, escritas exatamente na forma como as estamos apresentando. Junto com a visão fui instruído em espírito com as seguintes palavras: “você escreverá um livro sobre este assunto”. Ao que repliquei: “Senhor tu conheces a dificuldade que tenho para entender de modo adequado qual é a relação que existe entre a lei e a graça. Ao que simplesmente respondeu: “eu te darei entendimento”. Era uma madrugada fria de inverno, e por cerca de três horas despertei do meu sono, e ainda naquela mesma noite comecei a escrever, com a Bíblia aberta à minha frente, as coisas que me vinham à mente na referida ocasião. Animado pela visão comecei a estudar o assunto com maior afinco e recordo que cheguei a preparar um esboço de livro com cerca de cento e cinquenta página, todavia, sentia que algo de substancial faltava à minha exposição, de maneira que não tendo desistido de prosseguir 8 interessado no tema, abandonei a ideia de escrever o livro. Posteriormente, em nova revelação, cerca de dez anos depois da primeira, foi-me ordenado em sonho que “fosse aos puritanos e a Martyn LLoyd Jones”, sem que nada mais fosse acrescentado. Até a ocasião, por incrível que possa parecer, pois já havia sido ordenado ao pastorado, nunca tinha ouvido falar sobre os mesmos. Creio que esta instrução tinha a ver com a primeira visão, para que eu fosse conduzido a um melhor entendimento do significado do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, e como é que a Lei de Deus se relaciona a ele. Desde então, comecei a escrever abundantemente sobre o assunto em diversos artigos, sem no entanto condensá- los em um livro – tarefa à qual estou me entregando neste fim do ano de 2015. Em vez de apresentar o assunto de forma didática e acadêmica, optei por uma forma mais direta e simples, sem me ater a qualquer arranjo prévio quanto à divisão do assunto em capítulos. Na verdade, se o fizesse, ficaria muito limitado no desenvolvimento do tema, pois quantos capítulos seriam suficientes para abranger de modo profundo um assunto que é em sua natureza infinito e eterno, a saber, o da lei e a graça de Deus? 9 Com a apresentação livre dos diversos artigos, cremos que poderemos observar melhor o assunto em seus diversos ângulos, de modo a obtermos uma maior compreensão de tudo o que é de vital importância para o nosso conhecimento. Estamos fazendo uma consideração prática do tema porque ele tem muito a ver com a nossa vida prática. Não se trata de algo para apenas satisfazer a nossa curiosidade ou desejo de ampliar nossos conhecimentos, mas temos diante de nós algo que se relaciona à vida ou à morte; à bênção ou à maldição eternas. Como poderíamos então trata-lo de modo descuidado ou não objetivo? Tenho testemunhado que muitos que andavam na graça, vieram a decair da mesma, e não acharam qualquer auxílio na Lei para serem reerguidos. Como pode ser então isto? Não é a Lei proveniente do mesmo Deus de toda a graça? Esta e muitas outras questões serão respondidas ao longo das páginas deste livro, que espero, seja de grande ajuda para reerguer os caídos e manter em firmeza os que continuam de pé na presença do Senhor. 10 É Irrevogável e Indissolúvel Porque é Eterna Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e prometeu isto desde os dias dos profetas, e o prometeu especialmente a Davi. Sendo eterna não pode ser anulada. E como aliança em seu caráter matrimonial onde Ele é o esposo, e a igreja a noiva, o que se requer então dos aliançados é que eles sejam fiéis. Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo. Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que remanescem na natureza terrena, são exortados a serem fiéis em tudo durante a sua peregrinação terrena, porque, tal casamento, do Criador com a criatura, requer isto. Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança. Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade. Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a alternativa de serem também fiéis, de modo que se viva de modo agradável 11 Àquele com os quais se aliançaram numa união de amor indissolúvel e eterno. Ao falar do caráter eterno da Nova Aliança que faria com os crentes por meio da fé em Jesus Cristo, Deus disse que esta consistiria na fiéis misericórdias que havia prometido a Davi. “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Isaías 55:3) Esta promessa de Isaías 55.3 foi confirmada em Atos 13.34. Davi fizera menção ao caráter eterno desta aliança em suas últimas palavras antes de morrer: “Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura.Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?” (II Samuel 23.5) 12 Deixar que a Graça nos Conduza “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito,” (Hebreus 6.1) Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito” se refere à vocação de Deus para todos os cristãos de crescerem na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de varão perfeito. Não que eles chegarão ao estado de perfeição moral absoluta sem qualquer pecado enquanto estiverem neste mundo, mas que devem chegar à perfeição espiritual, à plenitude do desenvolvimento das suas faculdades, para poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o que é possível somente para aqueles que chegarem à plenitude do seu amadurecimento espiritual, de maneira a estarem aptos a darem um correto e adequado testemunho da verdade, no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor 13.11; Ef 4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim 3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4). Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a santidade no crescimento da graça e do conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12; Hb 13.21; I Pe 5.10). Do mesmo modo que há uma perfeição a ser esperada no porvir que é total e absoluta, sem qualquer pecado, há também uma perfeição que é para ser buscada e atingida 13 enquanto ainda estamos neste mundo e que se refere ao nosso amadurecimento espiritual pelo crescimento progressivo em santificação até atingir tal medida de perfeição que foi proposta por Deus aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio Abraão: “Anda na minha presença e sê perfeito.” (Gên 17.1). O cristão deve ser confirmado por Deus, depois de ter sido aperfeiçoado na fé, no amor e na esperança, pela renovação de sua mente e caráter, através do processo da santificação. Somente assim, poderá se achar fortificado e fundamentado (I Pe 5.10). Assim, o “deixemo-nos levar” do texto significa permitir e cooperar voluntariamente com trabalho da graça na nossa vida, especialmente pela paciência nas tribulações e aflições. Sabendo que tudo coopera juntamente para o seu bem o cristão perseverante na fé e na santificação há de experimentar graus cada vez maiores desta perfeição relativa ao seu amadurecimento espiritual, conforme lhes serão concedidos por Deus. 14 Não é por Persuasão, mas por Graça Uma pessoa não é salva por Cristo por meio de argumentos humanos persuasivos. Ainda que alguém pudesse compreender nocionalmente todos os mistérios espirituais concernentes à justificação pela fé, à regeneração e santificação do Espírito Santo, ele não poderia ser salvo e santificado a menos que estas realidades espirituais lhe fossem comunicadas de modo experimental pela graça divina. Sem uma experiência real de conversão, sem que o próprio Espírito Santo opere em nós esta salvação, continuaremos os mesmos de sempre, só que com a diferença de possuir agora conhecimentos religiosos. Por isso a fé não é apenas o assentimento da nossa mente às verdades reveladas, ou seja, a nossa aceitação de que a Palavra de Deus seja a verdade. Além deste assentimento é necessário a confiança em Cristo que nos leva a nos entregar inteiramente a Ele e ao Seu trabalho e cuidado. Isto consiste em se apropriar do conhecimento da verdade ao qual demos o nosso assentimento que se torna real e prático na nossa confiança no Senhor e na disposição de cumprir os Seus mandamentos e vontade. 15 Deus honrará este tipo de fé que é mais do que mero conhecimento e assentimento relativo à verdade. E responderá com a concessão da Sua graça e poder para operar a nossa transformação (conversão, santificação etc). 16 A Graça Está Destinada a Vencer Satanás arremete contra nós, procurando nos destruir, quando estamos enfraquecidos e doloridos. Tal como Simeão e Levi deram sobre os siquemitas, quando estavam abatidos em dores, pela circuncisão (Gên 34.25). Todavia, Cristo nos fortalece na nossa fraqueza, e habita com o quebrantado de coração (Is 61.1). Não desprezemos o trabalho de humilhação de nossas almas, pelo qual o Senhor administra a nós a Sua graça em maior medida. Sempre é deixado algo para que os cristãos lutem, de modo que entendamos que necessitamos de Cristo, para que possamos exalar o Seu bom perfume. Mas ainda que possa parecer um paradoxo, são estes corações quebrados como canas, e estes pavios fumegantes que fazem as orações mais preciosas diante de Deus, por causa da dependência dos gemidos inexprimíveis do Espírito, através deles. Quão preciosas são para o Senhor as orações que fazemos com um coração quebrantado! 17 Assim, ao falarmos de pavio fumegante devemos ter em conta que isto tem o propósito de nos lembrar que a menor fagulha da graça é preciosa. Há uma bênção especial nesta pequena faísca. Jesus não veio salvar justos e sãos, mas pecadores e enfermos. Deus se agrada de que nos alegremos com os humildes começos. Ele se agrada em usar grãos de mostarda e formar grandes arbustos a partir destas pequenas sementes. Ele preferiu a pequena cidade de Belém Efrata, e não Jerusalém, para nos trazer o Salvador. Ele não começou a Igreja com pessoas notáveis, poderosas, nobres, importantes e nem mesmo com um grande número de seguidores. O Seu método é primeiro provar fidelidade no pouco, para depois conduzir ao muito. O Seu ministério é restaurador e nos deu um exemplo disto na reconstrução dos muros e portas de Jerusalém com Neemias. E muito mais do que muros e portas, Ele está interessado em restaurar vidas. E fará isto principalmente com paciência e amor. 18 Os pastores devem então, ser pessoas simples e humildes, seguindo o exemplo do Senhor deles, e exporem a verdade de maneira clara, e nunca de forma obscura. A verdade não teme algo tanto quanto o encobrimento, e não deseja algo tanto que seja exposta clara e abertamente à visão de todos. Daí Jesus ter dito que tudo o que ensinou reservadamente aos discípulos deveria ser proclamado de cima dos telhados. Paulo era profundo, no entanto se tornou como ama acariciando seus filhos (I Tes 2.7), e se fez fraco com os fracos (I Cor 9.22). Cristo desceu do céu e se esvaziou de Sua majestade, para se oferecer a nós, como oferta suave de amor. E não desceremos de nossas elevadas vaidades para fazermos o bem a qualquer alma necessitada de salvação? Devemos nos guardar daquele espírito que em vez de exibir paciência, longanimidade, mansidão e misericórdia aos homens, demonstra fúria, exaltação e ira obstinada, ainda que em nome de fazer prevalecer a verdade. Devemos lembrar que não podemos fazer prevalecer a verdade agindo contra a verdade. 19 E devemos nos lembrar sempre que o fruto da justiça é semeado em meio à paz, sobretudo, a paz interior dos nossos corações, enquanto ministramos. No exercício da disciplina na Igreja devemos nos acautelar para não tentar matar uma mosca na testa de alguém com um martelo. O poder que é dado à Igreja é para edificação e não para destruição. O amor cobre uma multidão de transgressões. Não foi exatamente isto que Deus fez conosco ao perdoar todos os nossos pecados, quando nos salvou em Cristo? O Espírito Santo está contente em habitar em almas fumegantes e ofensivas. Que nós pudéssemos reter algo desta mesma disposição misericordiosa! A graça não reside em almas perfeitas neste mundo. Lembremos sempre disto. Como nenhum cristão se encontra em estado de perfeição absoluta deste outro lado do céu, então nós temos que nos exercitar sempre em espírito de misericórdia, de perdão e mansidão. Por isso, nunca devemos nos julgar, de acordo com os nossos sentimentos presentes, porque nas tentações nós veremos muita fumaça desprendendo de pensamentos incorretos. 20 Nós devemos nos precaver do falso raciocínio, porque nosso fogo não écomo o dos demais, ou então por parecer que não há qualquer fogo em nós. As portas de Jerusalém estavam queimadas, mas Deus providenciou para que fossem restauradas através de Neemias, de forma que erraram todos aqueles que pensavam que Jerusalém permaneceria sem portas para sempre. Devemos lembrar que estamos na Aliança da Graça, em que nem toda medida é como fogo pleno, pois há muita faísca, que deve ser também vista como chama. Todos os cristãos têm a mesma fé preciosa (II Pe 1.1) por meio da qual obtiveram a perfeita justiça de Cristo. Uma mão fraca pode pegar uma joia preciosa. Algumas uvas mostrarão que a planta é uma videira e não um espinheiro. Uma coisa é ser deficiente na graça e outra coisa não ter qualquer graça. Deus sabe que nós não temos nada de nós mesmos, então na aliança da graça Ele não requer nada além do que Ele dá, e que sempre nos dá o que Ele requer. Se não pudermos trazer um cordeiro, então permitirá que tragamos duas pombas e uma rola (Lev 12.8). 21 O evangelho é uma moderação misericordiosa, em que a obediência de Cristo é estimada como sendo a nossa (Rom 5.19). 22 Senhor Justiça Nossa No capítulo 23 de Jeremias o Senhor repreende a infidelidade e a corrupção dos sacerdotes e anciãos de Israel (pastores do povo naquela dispensação) e os profetas que falavam em Seu nome sem terem sido levantados por Ele, os quais haviam feito o Seu povo se desviar da Sua presença. O protesto de Deus se fundamenta no fato deles nunca terem ensinado a Sua Palavra, conforme fora revelada e escrita para eles, senão, aquilo que eles afirmavam ser a Sua Palavra, quando na verdade, era a própria palavra deles, ensinada para atender aos seus propósitos cobiçosos, interesseiros, carnais e egoístas. Isto pode ser visto claramente nas palavras de repreensão dirigidas contra eles como as da seguinte passagem: “28 O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale fielmente a minha palavra. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor. 29 Não é a minha palavra como fogo, diz o Senhor, e como um martelo que esmiúça a pedra? 30 Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo. 23 31 Eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse.” (Jer 23.28-31). O efeito que era produzido no povo, de andarem contrariamente com o Senhor, era uma prova evidente de que a vida e o ensino destes pastores e profetas não eram segundo a verdadeira Palavra de Deus, porque o efeito dela é sempre o de produzir temor e santidade no Seu povo, como o próprio Senhor se expressou em relação a isto da seguinte maneira: “21 Não mandei esses profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei a eles, todavia eles profetizaram. 22 Mas se tivessem assistido ao meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam desviado do seu mau caminho, e da maldade das suas ações.” (v. 21,22). O que eles ensinavam e profetizavam não provinha do céu senão dos seus próprios corações enganosos e corrompidos: “25 Tenho ouvido o que dizem esses profetas que profetizam mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. 26 Até quando se achará isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que profetizam do engano do seu próprio coração? 24 27 Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal.” Isto é um grande alerta para os ministros do evangelho, para que não incorram no mesmo erro deles, deixando de pregar a genuína Palavra do Senhor, no poder do Espírito. Quando se desvia deste rumo os resultados sempre serão funestos. Há muitos sonhadores que desejam conduzir a Igreja de Cristo pelas visões do seu próprio coração, afirmando que são revelações recebidas da parte de Deus. Se estas visões não estiverem de acordo com a Palavra revelada na Bíblia, em gênero, número e grau, em vez de serem proclamadas, devem ser esquecidas e abominadas, porque não será apenas o povo que será prejudicado por elas, mas o próprio Deus terá a Sua ira despertada contra tais pastores ou profetas, como se vê neste capítulo de Jeremias. Como o quadro que havia prevalecido em Israel por séculos, sempre foi este de o povo não receber a devida instrução por parte da grande maioria de seus pastores e profetas, então o Senhor mesmo seria o Pastor do Seu povo, e o faria através de pastores que estariam debaixo da justiça de um Rei justo que procederia da descendência de Davi, nosso Senhor Jesus Cristo, e 25 estando assim justificados por Ele, tanto eles, seus pastores, quanto o rebanho de Deus sobre o qual seriam constituídos, seriam conhecidos pelo nome de O SENHOR JUSTIÇA NOSSA. Este Rei justo viria então a se manifestar em dias futuros para buscar as ovelhas perdidas da casa de Israel que haviam sido dispersadas por todos os maus pastores e profetas que haviam presidido sobre elas. “3 E eu mesmo recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão. 4 E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor. 5 Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e procederá sabiamente, executando o juízo e a justiça na terra. 6 Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este é o nome de que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (v.3 a 6). Esta promessa está vinculada à da Nova Aliança, constante do capítulo 31. 26 A Firmeza da Nossa Aliança com Cristo No sétimo capítulo de Romanos nós vemos o caráter firme e seguro da nossa aliança com Jesus, e pela qual somos libertados da condenação de uma aliança segundo a lei. Deus como o Grande Legislador e Juiz de todo o universo, criou o homem e fez com que ele fosse responsável perante Ele segundo a norma da lei moral que ele inscreveu em sua consciência, instalando ali um tribunal que age no próprio homem condenando-o naquilo que é reprovável e aprovando-o naquilo que é louvável. Mas, segundo a Lei Régia há a exigência da perfeita obediência, conforme foi revelado a Adão, e que a penalidade para qualquer ato de desobediência é a morte, e todo homem responde à referida Lei até hoje. Posteriormente, nos dias de Abraão, Deus acrescentou novos mandamentos para serem guardados pelas pessoas da descendência do patriarca, com as quais formaria um povo para Si, para se revelar ao mundo através do mesmo, e principalmente para que por este povo nos fosse dado o Messias. O caráter da obediência completa exigida de toda a humanidade da Lei Régia foi ainda mais detalhado com os mandamentos que foram dados através de Moisés. E desde então, até que viesse o Messias, o modo de 27 agradar a Deus, passava obrigatoriamente pelo cumprimento dos mandamentos da Lei. E a pena de morte espiritual e eterna para os desobedientes foi mantida porque se afirma na Lei de Moisés que é maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas da Lei, para cumpri-las. Isto descreve a condição de miséria espiritual e de condenação que paira sobre toda a humanidade, porque todos são pecadores, e não têm em si mesmos a condição e o poder para obedecerem perfeitamente a todos os mandamentos da Lei. Como poderia então Deus se prover de filhos semelhantes a Cristo? Se todos estão obrigados à Lei, como poderão ter vida, estando mortos; como poderão ser livres, estando condenados? Só havia um modo de Deus nos libertar da condenação da Lei e nos dar vida eterna, permanecendo Justo, por não remover ou contrariar a Lei. Isto Ele fez nos considerando como mortospara a Lei, por ter feito com que a morte de Jesus na cruz fosse a nossa própria morte. Ele visitaria o Seu próprio Filho Unigênito com o castigo que era destinado a nós pecadores. Ele executaria a sentença de morte exigida pela Lei nEle, fazendo com que fosse feito pecado e maldição no nosso lugar. 28 E assim, a Lei não seria removida, mas nós seríamos resgatados por meio de Cristo de debaixo da sua condenação e maldição. É basicamente isto que Paulo expõe no sétimo capítulo de Romanos; de modo que toda a argumentação que ele fizera quanto à condição de não se fazer o bem que queremos, e fazer o mal que não queremos, pelo pecado que opera na nossa carne, é sobretudo uma condição que explica sobretudo a condição em que se encontram aqueles que permanecem debaixo da Lei e não da graça do evangelho, a saber as pessoas que não foram regeneradas pelo Espírito Santo. Elas podem dizer isto, por não terem encontrado a solução que Paulo havia encontrado: "miserável homem que sou". Isto porque não têm a Cristo que é o único que pode nos livrar do corpo desta morte. E este livramento que se obtém somente por Cristo e em Cristo, não é decorrente do fato de que agora os próprios crentes são perfeitos segundo a Lei, porque sempre haverá resquícios de pecado e de desobediência em sua natureza terrena que ainda carregam neste mundo, mas sim, e exclusivamente pelo fato de que foram resgatados da condenação da Lei por terem morrido para a Lei em Cristo. Uma Lei não tem autoridade sobre quem já está morto. Assim, os crentes já não são julgados ou condenados por Deus com base na Lei, porque não estão mais debaixo da 29 Lei, quanto ao que se refere ao seu poder de condenação daqueles que pecam contra os seus mandamentos. Eles são julgados agora pela lei da liberdade, respondendo, livres que são, não mais a um Juiz, mas a um Pai de amor, que os corrige e dirige como filhos amados, por causa de Jesus Cristo. Haverá ainda um grande conflito entre o Espírito e a carne, entre a velha e a nova natureza, em todos os crentes, mas juntamente com Paulo eles podem dizer em uníssono: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor." Não serão mais condenados por não serem tão bem sucedidos nesta guerra contra as suas almas, quanto gostariam de ser. Contudo, sabem que são amigos de Deus, que amam a Deus, que odeiam o diabo e o pecado, e que por fim serão transformados à perfeita imagem de Jesus, ainda que isto ocorra somente na glória. Todavia, esta grande verdade central do evangelho não deve servir de motivo para que abusemos da liberdade que foi conquistada para nós por um preço elevadíssimo de sangue, e não de um sangue qualquer, senão o puro e imaculado sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Preço este que foi pago para que livres do pecado, pudéssemos viver em novidade de vida santificada perante Deus. Afinal, foi para isto que fomos chamados e justificados. E para vivermos esta vida santa sem a qual não podemos manter nossa comunhão com Deus, necessitamos de poder do alto. 30 Veja que quando os apóstolos viram todos os sinais que Jesus havia realizado, Sua ressurreição e ascensão, a uma mente carnal pareceria que isto seria o suficiente para que eles saíssem pelo mundo afora dando testemunho das coisas que haviam visto e ouvido. Todavia, nosso Senhor lhes falou da necessidade de permanecerem em oração, e aguardando em Jerusalém o batismo do Espírito Santo, para que fossem revestidos de poder, pois quem dá e sustenta o testemunho de Cristo em nós é o poder do Espírito Santo. Por este motivo vemos o apóstolo Paulo dirigindo a Timóteo as seguintes palavras, para o cumprimento adequado do seu ministério: “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2 Tim 2.1) E a todos os cristãos: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef 6.10) Vemos assim a nossa necessidade vital de estarmos permanentemente fortalecidos na graça de Jesus, mediante o poder do Espírito Santo que em nós opera. Muitos pensam erroneamente que quando se fala em batismo do Espírito Santo, revestimento de poder do Espírito, ou enchimento do Espírito, que isto signifique simplesmente receber um poder sobrenatural que 31 operará em nossas vidas independentemente das condições morais e espirituais em que nos encontremos. Todavia, se examinarmos com mais cuidado não somente o texto bíblico, mas a nossa própria experiência prática em relação a este assunto, verificaremos que é muito mais do que isto o significado do poder da graça e do Espírito Santo atuando em nossas vidas. Antes de tudo, devemos lembrar que este poder nos é dado para sermos cheios do fruto do Espírito Santo, que tem a ver com as nossas atitudes, com o nosso comportamento, com a transformação progressiva do nosso caráter e coração. É um poder para nos habilitar a sermos obedientes aos mandamentos de Deus, para aprendermos a ser mansos e humildes de coração, a sustentarmos um bom testemunho de comportamento em nossa vida cristã, de modo a nos tornarmos exemplo para ser seguido por outros. Trata-se de ser cônjuges exemplares, filhos exemplares, servos exemplares, líderes exemplares, cidadãos exemplares, enfim, sermos achados em todas as áreas de relações humanas como homens e mulheres de Deus, que trazem estampada em suas vidas a imagem de Jesus Cristo, conforme veremos no estudo do oitavo capítulo de Romanos, no qual se afirma que fomos predestinados por Deus para tal propósito. 32 E nada disto poderá existir sem que haja uma transformação do nosso coração. E por isso necessitamos crucialmente deste poder do alto, porque como o próprio Senhor Jesus afirmou, sem Ele nada podemos fazer, notadamente no que tange às coisas que são celestiais, espirituais, e divinas. Em cumprimento à promessa que nos fez em relação à Nova Aliança (Jeremias 31.31-35) Deus já nos deu um coração de carne em substituição ao coração insensível de pedra às coisas concernentes ao reino dos céus que tínhamos antes da nossa conversão a Cristo. 33 O Que é Estar Debaixo da Graça e Não da Lei Não encontramos nas Escrituras a expressão pacto de obras, ou aliança de obras. Todavia, ambas as formas, especialmente a primeira é muito empregada para definir a condição de Deus como o Grande Juiz e Legislador que exige perfeição absoluta para que possamos estar eternamente em Sua presença. E a falta desta condição implica em morte espiritual e eterna. Em sua infinita sabedoria, bondade e misericórdia, o Senhor tem conhecido pela sua onisciência, que nenhum descendente de Adão está habilitado para atender a tal demanda desta Lei Eterna que emana da própria natureza perfeitamente santa e justa de Deus. Assim, entendemos que Ele não tem proposto a pecadores uma opção de salvação por este modo de se cumprir perfeitamente a Sua vontade e mandamentos. Isto sempre será feito por pura graça, misericórdia, e simplesmente mediante a fé, como foi proposto ao próprio Adão quando o Senhor foi procurá-lo com a promessa da redenção quando ele se escondeu envergonhado da sua nudez atrás das árvores do jardim. Não pode entretanto, ser removida esta lei que exige perfeição absoluta, e por isso Jesus não morreu apenas como nosso substituto para quitar a culpa do nosso pecado, como também para nos revestir dessa perfeição 34 requerida pela justiça divina, que há de ser absoluta na glória, e mediante o trabalho da santificação da graça pelo Espírito Santo e aplicação da Palavra de Deus aos nossos corações, conforme o penhor do trabalho da nossa transformação e purificação já iniciado aqui na Terra a partir da nossa conversão. O grande mandamento de Deus foi revelado por Jesus como sendo o amor de uns pelos outros com o mesmo amor com o qual ele nos amou; ou seja, o dever imposto é o de amar com o amor de Deus. Então quando Tiago alude a isto, elese reporta em sua epístola à questão da acepção de pessoas que estava ocorrendo na igreja em favor dos mais abastados e contra os pobres e necessitados do rebanho. Isto era um pecado claro e contundente contrário ao que Ele chama de Lei Régia, ou seja a Lei do Rei, esta Lei que está amarrada à própria natureza e essência de Deus, que é amor. “Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem;” (Tiago 2.8) Não convinha que aqueles que foram resgatados da morte espiritual e eterna, inclusive e principalmente por se transgredir tal mandamento do amor, que é o principal de todos, continuassem transgredindo o mesmo. “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como 35 aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” (Tiago 2.12) A esta lei da liberdade da condenação em Cristo, aludiu também o apóstolo Paulo em Rom 8.2: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” Então, se não fosse por Cristo, todo o nosso esforço em cumprir perfeitamente a Lei – ao qual devemos nos dedicar com sinceridade e amor – seria totalmente perdido caso viéssemos a transgredir um único ponto da lei que está indissoluvelmente ligada à natureza de Deus, porque é Legislador e Juiz conforme demanda a sua justiça que haja perfeita conformação à sua santidade e amor. “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.” (Tiago 2.10) – Este é o caráter da lei para aqueles que não estão debaixo da cobertura do sangue de Jesus. Daqui vemos quão ineficaz é a tentativa de se justificar por meio das obras da lei. Assim, devemos clamar e dar graças a Deus por nos ter dado Jesus Cristo, juntamente com o apóstolo quanto à nossa condição natural de sermos achados mortos em delitos e pecados que pode ser somente revertida por estarmos no Senhor: Rom 7:24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 36 Rom 7:25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. 37 A Graça não Condena Deus não está condenando a qualquer pessoa na presente dispensação da graça, conforme afirmação de Jesus de que não veio condenar, mas salvar. A natureza de Deus é longânima, perdoadora, misericordiosa, amorosa, e por isso uma das características do amor destacada em I Cor 13.5 é que ele não é facilmente provocado, ou seja, ele não se exaspera. Deus se ira contra o pecado, mas não tem qualquer prazer na morte dos ímpios, ou seja, de todos aqueles que não Lhe amam e aos Seus mandamentos. A ira pode ser definida como uma oposição séria e violenta de espírito contra qualquer mal, real ou suposto, ou devido a qualquer falta ou ofensa, porque isto está contra a natureza do amor. Nós somos chamados por Cristo a desejar o bem e a orar para o bem de todos, até mesmo de nossos inimigos, e até daqueles que zombam de nós e nos perseguem (Mat 5:44); e a regra dada pelo apóstolo é: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis.” (Rom 12.14), quer dizer, nós devemos desejar o bem e orar para o bem de todos, e em nenhum caso desejar o mal. 38 Porque como imitadores de Deus, na busca da sua imagem e semelhança, é justamente o que devemos fazer, porque isto é parte da essência divina. Dizemos que é um dever porque o evangelho veio trazer a restauração em nós, da imagem e semelhança, não com Adão, antes da queda no pecado, mas a do próprio Cristo, conforme se afirma amplamente na Bíblia. E o que temos em Cristo, quanto ao trato com as imperfeições que há na humanidade? Graça, amor, bondade, misericórdia, perdão, reconciliação, e justiça (a sua justiça que nos justifica). Os próprios juízos divinos na presente dispensação, têm em vista contribuir para a continuidade da referida restauração, e são corretivos e decorrentes da rejeição obstinada da graça que nos está sendo oferecida. As obras más ou boas de todas as pessoas serão somente passadas em revista no grande dia do Juízo Final. Por isso toda vingança é proibida por Deus, já que Ele afirma que toda a vingança lhe pertence. A regra é: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18); e o apóstolo diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rom 12.19), de forma que 39 toda a ira que contém um desejo de vingança, é contrária ao cristianismo e proibida por Deus. Disto Cristo falou em Mat 5.22: “Eu, porém vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;”. Se uma pessoa se permitir ficar muito tempo irada com uma outra, logo esta ira se transformará em ódio. E assim nós achamos que na verdade acontece com aqueles que retêm um rancor nos seus corações contra outros, durante semana depois de semana, e mês depois de mês, e ano depois de ano. Eles virão no fim, a odiar verdadeiramente as pessoas contra as quais se deixaram irar assim deste modo. E este é um pecado mais terrível à vista de Deus. Então, não é de se admirar que esta seja a principal estratégia do diabo para nos afastar de Deus, e para nos manter sob julgamentos em nossas almas, e ainda a ficarmos à mercê de sermos oprimidos por ele. Assim, toda vigilância e sabedoria é ainda pouco para ter um coração manso, sofredor, paciente, perdoador. E mais do que isto, necessitamos do derramar abundante do amor de Deus nos nossos corações que é operado sobrenaturalmente pelo Espírito Santo. 40 Graça Sobre Graça “12 E o Senhor vos aumente, e faça crescer em amor uns para com os outros, e para com todos, como também o fazemos para convosco; 13 Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos.” (I Tes 3.12,13). As graças operadas pelo Espírito Santo são a fonte da nossa santidade, no aumento delas em nós pelo trabalho da santificação. E nada se perde deste trabalho progressivo do Espírito nos cristãos, porque uma graça não é substituída por outra, senão acrescentada, conforme dizer do apóstolo Pedro: “5 E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, 6 E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, 7 E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade.” (II Pe 1.5-7). 41 O que foi conquistado será mantido por vigilância e oração, e será aumentado pelo recebimento de outras graças (virtudes e poder) que também serão aperfeiçoadas em seu crescimento. O que não aprendeu ainda a ser misericordioso será com certeza aperfeiçoado em misericórdia. O de mau temperamento será aperfeiçoado em mansidão. E o modo do Espírito Santo implantar estas virtudes é pela formação de hábitos. Assim como aprendemos determinadas habilidades e comportamentos pelo hábito de repeti-las. A santificação é pois em seu progresso um hábito que é incorporado em nós, em relação a todos os nossos deveres espirituais, à medida que eles nos vão sendo ensinados e implantados em nós pelo Espírito Santo, consoante a aplicação da doutrina da Palavra de Deus. 42 A Troca da Antiga Aliança pela Nova “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.” (Hebreus 8:13) Toda vez que abrirmos as páginas do Velho Testamento, devemos sempre colocar como pano de fundo o Evangelho de Cristo, para que não tomemos ao pé da letra, como mandamento divino ordenado aos discípulos de Jesus, muitos dos preceitos daantiga dispensação, que durou de Moisés a João Batista (Mt 11.13; Lc 11.16), os quais não podem e não devem ser aplicados na nova dispensação em que estamos vivendo há cerca de dois milênios. A Lei Antiga, determinada por Deus para vigorar em Israel, por cerca de 1440 anos prescrevia: . morte por apedrejamento em razão de determinadas transgressões daquela Lei dada por meio de Moisés. . como maldito de Deus deveria se anunciar a si mesmo publicamente o leproso. . proibidos estavam vários alimentos classificados como impuros. . sacrifícios de animais oferecidos para cobrir o pecado. 43 . e muitos outros preceitos civis e cerimoniais, além dos morais. Deus, pela Lei, revelava que era o Juiz do Seu povo e ensinava ao mesmo tempo o quanto é oposto ao pecado. Todavia, em sendo Juiz, é também pai bondoso, amoroso, misericordioso, perdoador e salvador. E como revelou isto, já que os preceitos da Lei antiga poderiam ofuscar tais atributos relativos à Sua completa longanimidade, amor e bondade? Ele o fez trazendo uma nova lei por meio de Cristo, para substituir a antiga. Jer 31:31 Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Jer 31:32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Jer 31:33 Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Jer 31:34 Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor 44 até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei. Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer. Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados. Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. A Lei da nova aliança, do novo testamento, do evangelho, da graça, pela qual se revogou a primeira, é chamada pelo apóstolo de lei régia (Tg 2.8), porque prescreve o amor ao próximo, sem qualquer tipo de condenação legal, conforme ocorria na primeira, apesar de também prescrever o amor ao próximo. 45 Assim, a lei do amor de Cristo não vigora pelo cumprimento de ordenanças cerimoniais e civis, como a primeira, mas simplesmente por fé, graça, misericórdia e arrependimento. A punição dos malfeitores é designada para as autoridades civis de cada nação, conforme determinação da parte de Deus. Não é uma característica ou atribuição do evangelho, pelo qual se oferta a libertação do espírito do jugo e condenação do pecado. A lei do evangelho é amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. O amor nunca busca o mal, ou que seja do próprio interesse, não se conduz inconvenientemente, não é preconceituoso, enfim, o amor faz somente o bem ao seu semelhante. Mat 22:35 E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou: Mat 22:36 Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Mat 22:37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Mat 22:38 Este é o grande e primeiro mandamento. 46 Mat 22:39 O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Mat 22:40 Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Rom 13:10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Poderia haver uma lei melhor do que essa? No episódio da mulher adúltera que Jesus livrou da condenação por apedrejamento, podemos constatar o quanto Ele realmente mudou a antiga lei por uma nova, porque pela antiga, ela deveria morrer apedrejada. É por isso que é ordenado por Cristo aos cristãos, na Bíblia, que façam o convite da salvação pelo evangelho a todas as pessoas e em todos os lugares da terra. Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Este convite consiste basicamente no oferecimento gratuito que Ele está fazendo da Sua própria justiça divina, amor e misericórdia, para perdoar todos os nossos pecados e justificar a todos os que nEle crerem, de modo que sejam livrados da condenação, e para o recebimento da vida eterna. 47 Todavia, em havendo recusa em se ouvir a mensagem do evangelho, o próprio Cristo ordena que não haja insistência. Luc 10:16 Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou. Mar 6:11 Se nalgum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, ao sairdes dali, sacudi o pó dos pés, em testemunho contra eles. O evangelho é o tempo da paciência, da misericórdia, da longanimidade de Deus para com todos os pecadores. A ninguém Deus está condenando, enquanto durar esta dispensação. Ao contrário, está salvando. João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. João 12:48 Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. O evangelho é a lei divina, se assim podemos nos referir a ele, na presente dispensação da graça, e esta lei de justiça oferecida para a nossa justificação e perdão, a ninguém condena. 48 É a rejeição do evangelho, segundo nosso Senhor Jesus Cristo, que será o motivo da condenação no último dia, como Ele o afirma em João 12.48. João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. João 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Mar 16:15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Mar 16:16 Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Esta nova dispensação do evangelho substituiu a chamada antiga dispensação da lei de Moisés, porque Jesus se ofereceu a si mesmo como sacrifício, em nosso lugar, para satisfazer a exigência da justiça divina. Não é do teor e essência do evangelho condenar as pessoas pelos seus maus atos e até mesmo pensamentos, porque até os próprios cristãos que fazem a oferta do evangelho também são pecadores, que foram remidos pela graça, mediante a fé em Jesus. 49 Aos que têm abraçado a fé no evangelho, Cristo lhes impõe a disciplina da nova aliança, pela admoestação mútua à prática do amor e das boas obras. Outra característica do convite do evangelho é que não se deve fazer distinção de qualquer pessoa, que não deve haver preconceito de raça, religião, condição social, ou de qualquer outra natureza. Desta forma, aqueles que têm sentimentos preconceituosos, não estão de modo algum anunciando o verdadeiro evangelho de Cristo, tal como ele se encontra registrado nas páginas da Bíblia. Rom 3:21 Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelosprofetas; Rom 3:22 justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, Rom 3:23 pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, Porque isto seria uma contradição, uma vez que não se pode conciliar preconceito com o fato de Jesus não fazer acepção, distinção de qualquer pessoa, e de igual modo, devem agir aqueles que falam em Seu nome. Por outro lado, deixar de anunciar o evangelho, em desobediência ao mandamento de Deus, para o bem eterno dos ouvintes que o receberem, por livrar o espírito 50 da condenação eterna a ser proferida no dia do Juízo Final, seria então uma grande prova de falta de amor e de misericórdia para com nossos semelhantes, esconder deles esta mensagem, ou então adulterá-la. Por isso é também ordenado nas Escrituras que se deve ter cautela com o ensino de falsos pastores, profetas e mestres que falam em nome de Cristo, e que se dizem cristãos, e mensageiros genuínos do evangelho, quando na verdade não são, e o fazem por motivo interesseiro e por torpe ganância. Mat 7:16 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. 2Pe 2:1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor. 2Pe 2:2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; Mat 10:16 Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. Mat 10:17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; 51 Mat 10:25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos? A prudência da serpente é recomendada pelo Senhor aos que se empenham na obra da pregação do evangelho, ao lado da simplicidade das pombas. As serpentes evitam confrontos desnecessários, mas atacam quando são atacadas. Por isso o cristão deve reter apenas a prudência da serpente, e associá-la à inofensividade das pombas, que nunca atacam quando são atacadas. Por fim, ao concluir esta breve explanação, deve ser dito que a ninguém deve ser imposto o evangelho como uma forma de obrigação a ser cumprida, e nem mesmo nas congregações de Cristo, porque Deus quer ser amado e adorado em espírito e de modo voluntário. Ninguém deve ser condenado ou acusado por conta da religião ou costumes que tenha adotado, evidentemente, é claro, desde que não infrinjam as normas legais e os costumes de cada sociedade à qual se pertença, mas isto não é um encargo dos cristãos enquanto cristãos, mas das autoridades constituídas. Os mensageiros do evangelho devem ser promotores da paz, e por isso é dito por Cristo que bem-aventurados são os pacificadores. 52 Para este propósito, da promoção da paz e do bem estar dos seus semelhantes, devem orar em favor de todos os homens. 1Tm 2:2 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, 1Tm 2:2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. 1Tm 2:3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, 1Tm 2:4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Devem também os cristãos serem modelos de bom comportamento e de conduta, como pais, filhos, empregados, empregadores, ou o que for. Devem estar sujeitos às autoridades, porque conforme afirmado na Bíblia, não há autoridade genuína que não tenha sido instituída por Deus. Rom 13:1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 53 O evangelho não é pregado por mero dever de consciência ou por obediência ao mandamento divino, mas sobretudo porque os discípulos de Jesus são movidos em amor a fazê-lo, pelo mesmo Espírito Santo que neles habita, e que também atuava em nosso Senhor Jesus Cristo. “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele;” (Atos 10:38) 54 Jesus Não Veio Condenar Mas Salvar Marcos 2:17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores. João 12:47 Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. Dê a devida atenção a estas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo. Até que Ele volte, a porta da salvação estará aberta para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e buscar viver para Ele. Amados leitores, nosso Senhor mesmo definiu a Sua principal missão em ter vindo a este mundo há cerca de 2.000 anos atrás, como sendo a de salvar e não a de condenar pecadores. Então, enquanto perdurar esse tempo de graça até que Ele volte, Deus está abrindo uma grande oportunidade para todas as pessoas que queiram ser livradas da manifestação da ira vindoura, em forma de juízo de uma condenação eterna, que há de vir sobre todos os que viveram neste mundo, sem terem se convertido a Cristo. 55 Por isso, queremos ser muito claros, sinceros e diretos em todas as mensagens transmitidas aos amados leitores, mantendo o foco do evangelho que aponta somente para Jesus Cristo para que sejamos salvos de tal condenação em razão do pecado. É bom lembrar que um único pecado praticado ao longo de toda a vida já sujeita o seu praticante à condenação eterna. Portanto, não há um único justo, de si mesmo, pela sua própria justiça, diante de Deus. Por isso Jesus morreu em nosso lugar na cruz, carregando sobre si toda a culpa dos nossos pecados. Em suma, tudo o que se refere à necessidade de um viver reto, do dever de se guardar os mandamentos de Deus, e tudo o mais que se refira à santificação de nossas vidas, somente pode ser praticado e vivido caso sejamos convertidos a Cristo, e estando em comunhão com Ele, por meio do Espírito Santo. Assim, se a Lei santa de Deus lhe condena justamente por causa do pecado, lembre que pela fé em Jesus, nos está sendo oferecida gratuitamente a libertação de tal condenação, ao mesmo tempo que somos por Ele capacitados a viver de modo aprovado pela justiça divina, pelo poder da graça de Jesus, mediante o trabalho do Espírito Santo em nossos corações. 56 Não há qualquer condenação no evangelho, porque Jesus, pelo evangelho que nos trouxe, ou seja, por esta maravilhosa notícia, que é o significado desta palavra no original grego do Novo Testamento, tem se oferecido para ser a nossa justiça, de modo que Deus possa se agradar de nós e se reconciliar conosco. A rejeição do evangelho. Desta oferta de justiça da pessoa de Jesus, tão graciosa, é que traz condenação. 57 A Justiça do Evangelho Não é Juízo O propósito de Deus, jamais pode ser frustrado. Então o que faria para tornar justo o pecador culpado? Que se opondo ao seu Criador e não querendo se sujeitar à sua vontade, segue o seu caminho de vaidade? Que resistindo a se entregar a Jesus resiste também ao recebimento da Sua graça? E sem a graça, sabemos, somente há ruína, perdição, ódio, desobediência e morte. Ah! Que situação difícil para ser resolvida! Difícil para nós, mas não para Deus, a quem tudo é fácil e possível. 58 Difícil e penoso seria sim, o único modo pelo qual o pecador poderia ser justificado. Deus visitaria o seupecado, com juízos, no Seu Filho Amado. Colocaria sobre Ele nossas transgressões, resistências e descaminhos, e com o grande golpe do seu juízo castigaria o próprio Cristo, fazendo com que a justiça exigida fosse por fim atendida. Jesus tem desde então justiça, e não juízo para oferecer, pelo Evangelho. Quem quiser ser justo, para receber a graça salvadora e transformadora, 59 basta vir a Cristo, com a mão do coração estendida, e Ele a concederá com agrado para apagar nosso pecado. Por isso Ele diz que não veio a este mundo para condená-lo, mas sim, para salvá-lo. Oh! Senhor amado! Muito obrigado por sua justiça! Felizes são os que têm fome e sede desta sua maravilhosa justiça, pela qual, nós perdidos pecadores, somos saciados, justificados e abençoados! 60 O Real Significado da Graça Há um grande paradoxo no entendimento carnal relativo à graça divina, uma vez que se costuma considerar como sendo graça exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons naturais e comuns de Deus para toda a humanidade são buscados por pessoas religiosas como se fossem o grande propósito da vida cristã. Geralmente visa-se tão somente ao que é externo, e não propriamente o que seja espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à transformação do próprio caráter e vida, segundo o propósito de Deus na concessão da Sua graça que nos foi dada em Cristo. Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto podemos observar na grande maioria das passagens bíblicas referentes à graça, qual é o propósito de Deus quanto à sua concessão. Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da mesma graça que devemos crescer com vistas ao nosso aperfeiçoamento espiritual. O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do Espírito Santo em 61 nós. As demais graças são consequência desta referida e gravitam em torno da mesma. Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em espírito tanto por nós, quanto por aqueles que estiverem na mesma condição. A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o poder do pecado. O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes, e sem correr o risco de sermos rejeitados por Deus, custou um alto preço a nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu sofrimento e derramamento do seu sangue numa terrível morte de cruz. É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou barato. A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez tendo sido convertidos mediante a simples fé no Senhor. Fomos comprados por preço para vivermos para Deus. Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser chamada de dispensação da graça, enquanto a antiga era chamada de dispensação da Lei. 62 Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-lhes assim a oportunidade de se arrependerem e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das características essenciais da citada dispensação. 63 Uma Nova Aliança Diferente da Antiga Devemos ter o devido cuidado ao estudarmos a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas partes relativas ao Antigo Pacto, porque ali encontramos muitas figuras de realidades que se cumpriram em Cristo, e muitos preceitos que foram revogados e alterados por Cristo com a instituição da Nova Aliança, que revogou a Antiga, de modo que não pratiquemos na dispensação da graça aquelas coisas e atitudes que eram determinadas e aceitas por Deus no Antigo Pacto, mas que de modo algum podem ser aceitas nesta nova dispensação, em que novas diretrizes foram dadas para substituírem muitas das diretrizes antigas, como por exemplo a lei do olho por olho, dente por dente; o ofício sacerdotal com a apresentação de animais em sacrifício; as guerras santas ordenadas por Deus para extermínio de povos idólatras etc. A Nova Aliança não é ministério de morte, mas de vida. Isto é, os ministros de Deus estão encarregados de levar a vida de Cristo aos homens, e não a condenação e a morte. Isto fica agora exclusivamente nas mãos de Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de Deus, como Israel foi no mundo antigo para exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios. Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou não a vida de qualquer pessoa, de modo que não deseja nenhuma cooperação da Igreja neste sentido, ao 64 contrário, foi vedado à Igreja na presente dispensação toda e qualquer forma de juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente a ninguém deve julgar neste sentido, porque o juízo sobre vida ou morte está agora exclusivamente nas mãos de Deus. À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos quais Cristo será cheiro de morte para a morte e não aroma de vida para a vida, é assunto que se encontra fora da alçada da Igreja, e que está totalmente nas mãos do Grande e único Juiz O dever do qual a Igreja está incumbida é o de levar a mensagem de salvação e se empenhar muito para a salvação de alguns, porque Jesus, na dispensação da graça, se empenha não em condenar os pecadores, mas salvá-los. 65 Uma Aliança Firmada em Graça Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os que têm fome e sede de justiça. A mesa do banquete está pronta e tudo o que de nós se exige é apetite. É tudo de graça. Por isso o convite da salvação é dirigido a todos os que têm sede para que venham às águas da salvação, e que poderão adquirir (comprar) o vinho espiritual da alegria, e o leite racional que nos alimenta que é a graça de Cristo, que acompanha o evangelho, para sermos alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1). Diz-se que todo esforço e gasto de dinheiro para obter a salvação é vão, porque a salvação verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é completamente gratuita. A boa comida espiritual, e o tutano divino são achados somente na mesa de Cristo, e não nas mãos dos que fazem da religião ocasião de comércio (Is 55.2). A mensagem do evangelho deve ser ouvida atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor, através dos quais Cristo fala, para que pessoas se convertam a Ele, para entrarem na aliança eterna, que Ele havia prometido como sendo firmes beneficências a Davi (v. 3). 66 Estas firmes beneficências a Davi são citadas também em passagens do Novo Testamento, como em At 13.34. “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3). É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança segura e eterna. Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi que é uma aliança perpétua. Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5). Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela. Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra, ele o será no céu. E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos. Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃONA 67 ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS. Por isso Jesus afirma que na lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador. E se diz que a aliança é segura porque está assim bem ordenada por Deus. Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir pecadores ao céu. Ela está tão bem estruturada que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será concluída no céu. E uma das razões para que o aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo, embora todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé. A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura. É segura porque é suficiente. 68 Nada mais do que isto nos salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto que a nossa salvação depende. Muitos podem pensar que quando se conclama, na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos para se voltar para o Senhor, para achar misericórdia e perdão, porque se diz que Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique às pessoas perversas. No entanto, é um convite a todas as pessoas porque não há quem não peque, e Cristo veio salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma que aquele que se julgar justo e bom a seus próprios olhos jamais poderá ser salvo por Cristo, porque Ele salva aqueles que se reconhecem pecadores. Para esclarecer este ponto, para que ninguém fizesse uma avaliação errada relativa à sua real condição diante de Deus, Ele declarou que os seus pensamentos não são os nossos pensamentos, nem os nossos caminhos os seus caminhos (Is 55.8). Se nos compararmos com outras pessoas é possível que nos achemos bons e justos. Mas se contemplarmos os que estão no céu, especialmente ao próprio Deus em sua perfeita 69 santidade e glória, nós veremos quão imperfeitos somos. E clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo sexto, quando viu a santidade e glória com que os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de glória. Por isso se ordena que olhemos para Cristo para que sejamos salvos, porque somente quando contemplamos a majestade da sua santidade, é que podemos enxergar qual é o nosso real quadro de miséria e de necessidade que temos de sermos salvos por Ele. Então esta salvação não será achada em nós mesmos. Porque ela nos vem inteiramente destes caminhos e pensamentos elevados de Deus que procedem do céu e não da terra. É do alto que a graça e o Espírito são derramados, e por isso somos conclamados a olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do céu e não para o que é terreno, quando o assunto se refere à nossa salvação. Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que salva foi revelada por Cristo na terra, e está não apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e coração, para que façamos a confissão da fé no Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos. Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua Palavra. A palavra do evangelho é a semente que contém a vida eterna. De maneira que todo o que crê na Palavra da verdade será salvo, porque esta Palavra gerará em seu coração a 70 fé pela qual Deus o salvará. Por isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11. Estes que crerem no evangelho e forem salvos sairiam dando testemunho por todas as partes com a alegria e a paz com que seriam guiados pelo Espírito Santo, e por onde passarem anunciando as boas novas, a maldição será transformada em bênção porque se diz que em vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e a murta que são plantas ornamentais. E isto seria para o Senhor um nome e um sinal eterno que nunca se apagará (v. 12, 13). 71 A Bênção da Graça Perdoadora Se nada mais fosse dito além das coisas referidas nos capítulos anteriores ao 30º do livro de Deuteronômio, e o livro fosse fechado com as palavras do capítulo precedente (29º), não haveria nenhuma esperança para Israel prosseguir como povo da aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita com eles no Sinai, porque a maldição da Lei os baniria para sempre da presença de Deus quando invalidassem a aliança com os seus pecados. Entretanto, o capítulo 30º de Deuteronômio é iniciado com a promessa de Deus de usar de misericórdia para com eles, quando na terra do seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de seus pecados para Ele. A Lei colocou diante deles a escolha da bênção ou da maldição, conforme o seu comportamento diante do Senhor e dos Seus mandamentos. Haveria bênçãos no caso de obediência, e maldições no caso de desobediência. Servir ou não a Deus não seria uma opção que não afetaria as suas vidas. Ao contrário, seria uma questão de vida ou de morte. A Aliança que eles fizeram com o Senhor não gerou um compromisso de serem meramente religiosos, mas um compromisso que afetaria profundamente o rumo das 72 suas vidas; quer para o bem, quer para o mal. O bem por escolherem ouvir o Senhor e guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em caso contrário. Mas eles são lembrados que não estavam diante de um Deus inflexível e implacável, pois Ele sabia perfeitamente que o homem é carnal e dado a se desviar dos Seus caminhos, e não andará neles caso não seja assistido pela Sua graça e misericórdia, e também pelo temor que Lhe é devido. Assim como Ele disse que não destruiria mais a terra com as águas do dilúvio, por saber que o homem é carnal; de igual modo Ele fez promessas de misericórdia para que Israel pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe tivessem voltado as costas para servirem a outros deuses. Ele aceitaria a esposa infiel de volta, desde que esta deixasse os seus amantes e voltasse para o Seu marido. O Senhor sabia em todo o tempo que estava entrando em aliança com uma esposa que lhe seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso deixou de desposá-la (a nação de Israel) porque a amava. De igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo, apesar de suas infidelidades para com o Senhor, não podem romper o laço matrimonial que têm com Ele porque são laços indissolúveis em razão da perfeita fidelidade do Senhor, que permanece fiel ao que nos tem prometido, apesar da nossa infidelidade. 73 Afinal, foram libertados da escravidão ao pecado, por Cristo, para viverem em obediência completa a Deus, mas como carregam a fraqueza da carne neste mundo, há esta ação da misericórdia restauradora do Senhor operando em suas vidas para serem curados de suas apostasias e pecados. Por esta promessa de misericórdia e restauração da Antiga Aliança, vemos que o caráter de Deus é realmente perdoador e compassivo. Nenhum pecador, por pior que seja, poderá se desculpar em juízo de não ter alcançado a salvação, porque a misericórdia do Senhor é infinita. Ele tem prometido que usa de misericórdia com qualquer um, independentemente de seus méritos. Isto significa que ninguém poderá impugnar a decisão de Deus de usar de misericórdia para com o pior dos pecadores, porque Ele determinou em Sua Soberania usar de misericórdia com quem Ele quisesse, isto é, conforme a Sua própria vontade, e nada mais. Ninguém poderá se desculpar pelo fato de se ter desviado e não ter buscado reconciliação com o Senhor e com a Sua Igreja, porque ninguém está excluído de alcançar misericórdia quando se arrepende e se volta para Deus.O verso 10 fala de conversão e do modo desta conversão: “quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus, 74 guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.” Os versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance próximo desta conversão, uma vez que a vontade revelada de Deus é conhecida na Sua Palavra, e o que crê na Palavra do Senhor e se dispõe a obedecê-la, será salvo. Estas palavras de Moisés citadas nos versos 11 a 14 são usadas pelo apóstolo Paulo em Rom 10.6-8 para se referir ao evangelho de Cristo, que salva mediante a mesma conversão em se dizer não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua Palavra: “Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” (Rom 10.11 a 14). O que tanto Moisés quanto Paulo querem se referir é que a Palavra de Deus para a salvação já foi revelada por Ele de uma vez para sempre e está registrada na Bíblia. Não precisamos de nenhuma nova revelação, de nenhum novo profeta, de nenhuma nova visão ou sonho para 75 sabermos qual é a vontade de Deus relativamente a nós para que possamos ser salvos. A Sua vontade já está revelada na Bíblia. O Espírito Santo abrirá o entendimento daqueles que Se aproximarem de Deus com todo o coração e alma, para que possam não somente entender a Sua Palavra, como também a serem transformados por meio dela em novas criaturas. Há uma ilustração interessante neste capítulo, quanto ao fato de que os povos inimigos que o próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os israelitas, por causa da sua desobediência, seriam repreendidos pelo Senhor assim que Seu povo buscasse se converter dos seus maus caminhos. O mesmo se dá com cristãos desobedientes que são entregues a Satanás para destruição da carne. Caso eles se arrependam dos seus pecados e voltem para Deus numa verdadeira conversão que implique na obediência à Sua Palavra, eles não são apenas restaurados à comunhão, como os espíritos malignos que os oprimiam são repreendidos e afastados pelo Senhor. Muitas das aflições que sofremos têm o propósito de nos conduzirem ao arrependimento e à conversão ao Senhor e à Sua Palavra. Ninguém deve contar com a aprovação e a bênção do Senhor quando vive na prática deliberada do pecado, mas pode e deve esperar a Sua bênção quando se arrepende e se converte dos seus maus caminhos. Isto é prometido pelo Senhor abundantemente em várias 76 passagens das Escrituras, como por exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn 7.13,14. Verdadeiros penitentes podem ter grande encorajamento quanto às compaixões e misericórdias do Senhor, que nunca falham. Moisés fecha este capítulo 30º com uma convocação aos israelitas para que se apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque nisto estava a felicidade e a vida deles. Não haveria nenhuma bênção vivendo longe do Senhor. Não haveria nenhuma vida aparte da comunhão com Ele. Seria marcante entre eles a diferença que haveria entre os que servissem e amassem a Deus e aqueles que não o servissem e amassem, porque o próprio Deus os distinguiria com o derramar da sua bênção e vida para os primeiros, e das suas maldições e castigos para os últimos. A adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a adoração aos falsos deuses lhes traria morte. É isto o que sempre ocorreu no mundo. Os que se voltam para Deus encontram a vida, e os que resistem a Ele à Sua vontade permanecem debaixo da Sua ira e mortos em seus pecados. A Palavra de Deus é um atalaia que adverte aos homens em toda a parte sobre a sua condição diante de Deus. Ela é uma Palavra de vida para os que nela creem e se arrependem de seus pecados, por darem crédito à Palavra do Senhor que é a verdade. E os que a ignoram ou que resistem a ela não lhe dando 77 a devida atenção permanecerão condenados em seus pecados. Por isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho: “Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo 12.48). O sentido do Novo Testamento é o mesmo, porque o evangelho coloca todo homem diante da vida ou da morte, da maldição ou da bênção. “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16). 78 A Graça Está Sujeita a Decadências “Apo 2:25 - tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha.” “Apo 3:11 - Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” “Gál 5:4 - De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.” Estas passagens bíblicas, entre outras de igual teor, apontam para o fato de que a graça está sujeita a decadências. Se não nos exercitarmos espiritualmente todos os dias, e se nos tornamos negligentes no uso dos meios destinados a fortalecer a graça (oração, vigilância, meditação e prática da Palavra, comunhão dos santos etc), podemos ter como certo de que seremos achados enfraquecidos na fé, sofremos perdas em nossa santificação e comunhão com Deus. Daí a advertência apostólica: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (I Cor 10.12) Ele diz: o “que pensa”, porque é possível pensarmos que estamos fortificados na graça do Senhor, quando na verdade podemos estar enfraquecidos. 79 Todavia, caso estejamos fortificados nesta graça em que estamos firmes por causa da obra de Jesus em nosso favor, é importante prestarmos a devida consideração à referida advertência, porque é possível a qualquer santo que venha a ficar enfraquecido na graça, por falta de diligência espiritual, e cair da comunhão com o Senhor, ainda que não para uma queda final, que signifique a perda da sua salvação. A coroa que podemos perder citada por nosso Senhor em Apo 3.11 refere-se ao galardão futuro, e para que tal não suceda devemos guardá-la por não permitir que o fascínio do mundo, as tentações de Satanás, um viver segundo a carne, a furtem de nós. Decadências na graça são comuns na vida da maioria dos crentes, em uns são mais graves e constantes do que em outros, todavia, importa que sempre nos levantemos no caminho estreito em que nos encontramos pela fé, toda vez que nele cairmos, de modo que retomemos a nossa caminhada e nos fortifiquemos na graça que está em Jesus Cristo, de modo a permanecermos e perseverarmos na nossa jornada neste caminho estreito que nos conduz a uma mais íntima comunhão e conhecimento do Senhor, e por fim ao céu. 80 Alianças e Dispensações Para um Único Propósito Deus interage com a humanidade através de dispensações e alianças ou pactos, previamente prefixados por Ele em Sua onisciência e soberania, para conduzir-nos até a conclusão da história da nossa redenção, quando todas as coisas serão restauradas em Jesus Cristo com a criação de um novo céu e de uma nova terra. Se nos detivermos examinando com paciência estas dispensações e alianças a partir da perspectiva do próprio Deus ao planejá-las tendo o grande fim em vista de glorificar em Cristo uma humanidade que havia caído no pecado, podemos entender que não se trataram de dispensações e alianças independentes e para fins particulares, senão, partes integrantes visando ao mesmo fim. Então, quando a primeira aliança foi feita com Adão, baseada na obediência perfeita do homem e toda a sua descendência para a vida, ou da desobediência para a morte, o grande alvo era o de encerrar a todos sob o pecado (Gál 3.22), de forma a possibilitar que a promessa da salvação pudesse ser fosse
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