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Ensaio 4 de SJ - O Estado Democrático de Direito e sua crise no Brasil

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA JURÍDICA
DOCENTE: MATEUS ROCHA TOMAZ
DISCENTE: JOÃO GUILHERME BEZERRA DA SILVA OLIVEIRA
MATRÍCULA: 200058509
Quarto módulo
Tema: Discorra sobre os pressupostos estruturais do paradigma do Estado Democrático de Direito no que concerne a tensão entre democracia e constitucionalismo, âmbitos público e privado da sociedade, exercício da cidadania e sobre a possibilidade de emergência, no seio da democracia, de pretensões abusivas e autoritárias.
Título: O Estado Democrático de Direito e a sua crise no Brasil
Introdução:
A crise do Estado de Direito e do constitucionalismo liberal levou a necessidade de criar uma nova doutrina constitucional, que efetivasse os direitos abstratos, e daí surgiu o constitucionalismo social e o Estado Social, que possuía um Executivo forte, capaz de unificar uma nação dividida por interesses antagônicos e garantir a cidadania para todos. Contudo, a queda do Muro de Berlim, a falência do paradigma social e o surgimento de novos temas na esfera pública, como a questão ambiental e os direitos das mulheres e crianças, mostraram que a construção da democracia e da cidadania só era possível com uma efetiva participação dos cidadãos na esfera pública. Nesse sentido, esse ensaio busca dissertar acerca de alguns elementos do paradigma do Estado Democrático de Direito, que substitui o antigo paradigma social, e suas implicações na sociedade moderna.
Desenvolvimento:
O conceito de paradigma, oriundo da filosofia da ciência de Thomas Kuhn, implica em uma divisão temporal do conhecimento, no sentido de que tudo aquilo que as pessoas sabem sobre um determinado assunto é condicionado pelos limites da sociedade e da cultura na qual elas vivem (CARVALHO NETTO,2003, p.151), e que sempre variam com o passar do tempo. Logo, matérias e disciplinas teóricas devem ser estudadas com base nessa divisão periódica, de tal modo que não ocorram anacronismos, isto é, a análise de uma época passada sob a ótica do presente.
Nesse caso, um dos estudos mais importantes dentro da área do direito, e que deve levar em conta as diferenças paradigmáticas, é a da relação entre democracia e constitucionalismo. Isso se deve ao fato de que tanto o conceito de democracia quanto a doutrina do constitucionalismo sofreram mudanças importantes com o passar do tempo, especialmente a partir do fim do século XVIII, com o surgimento do movimento constitucionalista. Nesse sentido, dissertarei acerca da relação entre os dois.
Consoante o professor Menelick de Carvalho Netto, a concepção de Constituição do constitucionalismo liberal era estritamente formal, visto que declarava a existência de direitos universais, gerais e abstratos, como a liberdade e a igualdade, porém eles não eram garantidos de maneira concreta, devido as condições de exploração da mão de obra trabalhadora durante o século XIX. Ademais, a participação política era restrita, devido ao voto censitário, que limitava o voto às classes mais altas, o que demonstra que a liberdade defendida pelo constitucionalismo clássico era uma defesa da liberdade burguesa de explorar a mão de obra e de dominar o cenário político (IBIDEM, p.147-149). Esse fato é comprovado pela própria retórica liberal, que considerava, até o início do século XX, que o governo representativo, calcado pelo voto censitário, era o oposto da democracia, sendo o parlamentarismo o único governo possível (IDEM,2002, p.71).
Contudo, a crise do capitalismo do século XX, ocasionado pela Segunda Guerra Mundial e pela Crise de 29, que trouxe grande miséria para a Europa e para os EUA e que piorou a condição da classe trabalhadora e dos países pobres, demonstrou que era impossível existir democracia, igualdade e liberdade se as condições matérias entre os cidadãos são muito discrepantes. Portanto, era necessário que a Constituição superasse a sua condição formal e se tornasse material, ou seja, os direitos constitucionalmente garantidos deveriam ser realizados concretamente, de modo que todos estivessem em uma situação equitativa. Isso só poderia ser feito com um Estado forte, capaz de prover serviços estatais e direitos sociais, concedendo a cidadania para as pessoas, o que caracteriza o constitucionalismo social.
Infelizmente, o paradigma do Estado Social costuma resultar em ditaduras, uma vez que os processos formais de participação política são suprimidos (IDEM,2003, p.150). Carl Schimtt, ideólogo do Estado Social no século XX, defendia que a única maneira possível de se existir uma democracia era por meio da ditadura, visto que o princípio democrático, a identidade entre governante e governado, só era possível em governos autoritários, com o líder manipulando as massas ao seu favor e tornando a sua própria vontade a vontade do povo (IDEM,2002, p.71-72).
O fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim marcaram o fim do Estado Social, porém, era inconcebível simplesmente voltar ao Estado de Direito, uma vez que as políticas assistencialistas do Estado, que garantiam condições de vida dignas para as pessoas, eram grandes conquistas que não poderiam simplesmente ser deixadas de lado devido ao fracasso do constitucionalismo social. Nesse caso, o novo desafio do constitucionalismo era manter esses novos direitos e, ao mesmo tempo, garantir os processos de participação democrática na construção do regime político. Nesse sentido, Menelick afirma que a nova doutrina constitucional deve ser dotada de um grau a mais de complexidade, considerando o caráter formal e o material da Constituição não como contraditórios, mas como complementares (IDEM,2003, p.150-151).
Ademais, outro fato importante para esse debate é a relação entre as esferas pública e privada em cada um dos paradigmas. No paradigma liberal, a esfera pública era o Estado, cuja única função era a garantir manutenção da ordem legal, e a esfera privada, representada pela sociedade civil, era o espaço de realização das liberdades individuais, na qual o governo não deveria interferir. Já no paradigma social, o Estado era o responsável por garantir a cidadania e a liberdade para os cidadãos, enquanto que a sociedade civil era uma esfera egoísta. Nesse sentido, Menelick afirma que a única diferença entre os dois paradigmas reside na mudança da seta valorativa (IDEM,2002, p.79), uma vez que nos dois casos, a esfera pública é o Estado e a esfera privada é a sociedade civil, só que cada um considera uma esfera como boa e a outra como ruim.
Nesse sentido, a inovação que o paradigma do Estado Democrático de Direito traz para o debate de constitucionalismo e democracia é a reconstrução e a superação dos binômios simplistas “Constituição Formal x Material” e “Público x Privado”. Primeiramente, ele assimila as contribuições mais importantes dos paradigmas anteriores, que são a garantia das liberdades individuais e os processos formais da democracia do Estado Liberal, e a criação dos direitos sociais e a sua materialização por meio de políticas públicas assistencialistas do Estado Social. Ademais, direitos como igualdade e liberdade são ressignificados, representando uma comunidade de princípios na qual os indivíduos se reconhecem como iguais e livres, e são co- autores das normas que regem suas vidas (IDEM, 2004, p.37).
Nesse sentido, outra característica importante desse novo paradigma é o fato de que a cidadania agora é caracterizada pela participação efetiva do povo no debate público e no processo de construção cotidiana do novo regime político (IDEM,2002, p.79). No constitucionalismo democrático, a população é responsável por lutar pelos seus direitos fundamentais e exigir a sua efetivação, por meio de associações civis, como os movimentos feminista, negro, LGBTQI+, ambiental e vários outros. Nesse caso, a dicotomia público-privado não serve mais para descrever a realidade, pois a esfera pública agora não é mais dominada pelo Estado e a sociedade civil está cada vez mais engajada em processos políticos de construção democrática popular. 
Em síntese, o Paradigma do Estado democrático deDireito é caracterizado pela participação popular na construção da cidadania e da democracia, marcada pela ressignificação dos conceitos de igualdade e liberdade, que possibilitam uma composição plural da sociedade, com cidadãos mais livres para expressar a sua individualidade e gostos pessoais, desde que isso não interfira na liberdade do outro. Além disso, o surgimento de uma nova categoria de direitos, os difusos, representados pelos direitos da mulher, da criança, das minorias raciais e sexuais, do consumidor e ambientais, permitiu uma ampliação da esfera pública no que se refere à atuação do Estado e a participação do povo nos processos de institucionalização dos direitos, o que desconstruiu a separação entre as esferas pública e privada, presente nos paradigmas anteriores, demonstrando a equiprimordialidade das dimensões pública e privada, que segundo Habermas, é a importância igual das duas para a construção da democracia (IBIDEM, p.80).
Entretanto, assim como nos paradigmas anteriores, o Estado Democrático de Direito apresenta problemas, como por exemplo, a possibilidade de surgimento de pretensões autoritárias no seio da democracia. Isso decorre do fato de que esse modelo de constitucionalismo, ao garantir que os cidadãos possam expressar livremente suas opiniões acerca de assuntos diversos, como sexualidade, política, relações familiares, religiosidade, abre espaço para que ideias antidemocráticas e reacionárias estejam presentes na esfera pública e possam ser abertamente defendidas. Como exemplo, podemos citar a atuação da militância bolsonarista que, desde a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro, e até mesmo antes dela, tem utilizado as redes sociais e as manifestações para expressar sua ideologia autoritária, ao pedir o fechamento do STF, a prisão de seus ministros e uma intervenção militar constitucional para criar uma nova ditadura (CARVALHO NETTO, TOMAZ, 2020, p.273).
Nesse sentido, é importante mencionar o “Paradoxo da Tolerância”, de Karl Popper, que resumidamente defende que as pessoas tolerantes não podem tolerar os intolerantes, pois caso isso ocorra, a tolerância e os tolerantes irão desaparecer, e a intolerância irá reinar na sociedade (OBSERVADOR,2020). Esse paradoxo é de suma importância para compreender os problemas da sociedade brasileira contemporânea, uma vez que as demandas bolsonaristas são um risco para a construção de uma sociedade plural e democrática, pois implicam em um autoritarismo estatal que irá restringir as liberdades individuais das pessoas e suprimir conquistas das minorias sociais.
Com base nisso, pode-se afirmar seguramente que, a fim de proteger a democracia e os direitos das minorias, a população não pode mais tolerar essas ideias reacionárias propagadas pelos apoiadores do governo, a não ser que ela abandone o processo de construção de uma sociedade livre e igualitária, iniciada na constituinte de 88. Apesar de que a censura contra essa militância reacionária pareça ser contraditória com o princípio democrático desse novo paradigma, é importante ter em mente que, para boa parte desses militantes, os progressos propiciados pelo constitucionalismo democrático são uma afronta à sua identidade, construída sociologicamente como reflexo da figura do senhor de escravos, geralmente homem branco, hétero e rico, que dispõe de violência irrestrita e mando ilimitado (GOMES,2020, p.21-22). Nesse caso, o fato de que a maior parte dos apoiadores do presidente são homens, ricos e brancos (O POVO+,2021) apenas comprova que as conquistas e liberdades adquiridas por mulheres, negros e LGBTQIs, além das restrições de poder e do uso da violência, são um perigo para eles e, por isso, sua retórica e práxis são fundamentalmente antidemocráticas.
Todavia, apesar do Paradigma do Estado Democrático de Direito implicar em uma maior participação da sociedade civil nos assuntos da esfera pública, a defesa da democracia não é responsabilidade apenas do povo, mas também das instituições do poder público, como é o caso do Supremo Tribunal Federal que, como já mencionado anteriormente, tem sido um dos grandes alvos dessas manifestações antidemocráticas.
O STF teve suas atividades expandidas após a formulação da Constituição de 88, passando a contar com controle de constitucionalidade, além de ser responsável por garantir os direitos fundamentais das minorias historicamente excluídas, fiscalizar o pacto federativo e arbitrar questões federativas e parlamentares (CARVALHO NETTO, TOMAZ,2020, p.272). Logo, percebe-se que a Suprema Corte desempenha um importante papel na vida jurídica e política nacional, algo inédito em sua história anterior. Contudo, apesar desse protagonismo, o órgão máximo do judiciário demonstrou uma incapacidade de lidar com essa onda reacionária que tem assolado o país e ameaçado a democracia brasileira.
Infelizmente, isso se deve à própria atuação do STF, porém não me refiro a ações como reestabelecer a jurisprudência contrária à prisão em segunda instância, que ocasionou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atiçou ainda mais a militância bolsonarista, mas sim a uma questão mais complexa, que é a maneira pela qual a Corte lida com o passado institucional do Brasil. Como dissertado por David Gomes, um dos principais elementos responsáveis pela crise atual da democracia brasileira é a interrupção de um processo incompleto de justiça transicional (GOMES,2020, p.22). Nesse caso, ele está se referindo aos trabalhos estatais que buscavam tematizar publicamente e aprofundar os abusos do regime militar, os quais foram esvaziados após a ruptura institucional de 2016, o que permitiu que a retórica militar, um dos elementos mais importantes desse governo, retornasse ao primeiro plano da política.
Ademais, outro elemento importante, referente a essa mesma questão, e a jurisprudência do STF acerca da ditadura militar, que corrobora o discurso autoritário do governo e dos seus defensores. Nesse sentido, é importante analisar o julgamento da ADPF nº 153/DF, ajuizada pelo Conselho Federal da OAB, que defendia que a cláusula de reciprocidade, criada pelo governo militar, dentro da lei da anistia era inválida, pois ela garantia anistia política aos agentes estatais responsáveis pela repressão política durante o regime. Segundo a ação, essa interpretação não possuía validade, uma vez que ela viola os princípios democráticos e republicanos, a dignidade da pessoa humana, e o dever do Poder Público de não ocultar a verdade. Por fim, utilizou a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em matéria de auto- anistia de crimes, afirmando que é nulo e de nenhum direito a anistia criminal auto- imposta pelos governantes (CARVALHO NETTO, TOMAZ, 2020, p.283-284).
Entretanto, o STF julgou a ação como improcedente, pois a anistia concedida aos militares fazia parte do acordo político que permitiu a abertura política e a redemocratização, tendo sido chancelada pela Emenda Constitucional nº 26/1985, que convocou a constituinte de 87-88 e que originou a Constituição de 88. Logo, desconsiderar essa interpretação implica deslegitimar a emenda que convocou a Assembleia que criou a Constituição e todo o seu processo democrático (IBIDEM, p.284-285).
Essa interpretação do STF é perigosa por dois motivos: primeiro porque ela desrespeita a própria Constituição, uma vez que a decisão de não investigar os crimes da ditadura vai contra as decisões da CIDH, e o artigo 4 da Constituição estabelece que as relações internacionais do Brasil são regidas pelos direitos humanos (MEYER,2012, p.214, apud IBIDEM, p.286-287). Inclusive, a CIDH já tomou decisões contrárias a essa jurisprudência do STF, nos casos da Guerrilha do Araguaia e do jornalista Vladimir Herzog, nos quais o Brasil foi condenado por crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura militar. Ademais, a CIDH decidiu que qualquer previsão contida na Lei da Anistia que impedisse a investigação e a punição dessas violações de direitos humanos é nula, pois contraria a Convenção Americana de DireitosHumanos, não podendo permanecer como empecilho à apuração dos fatos (IBIDEM, p.285).
O outro motivo pelo qual essa interpretação do STF é perigosa é porque ela vincula a legitimidade do Estado Democrático de Direito brasileiro meramente ao seu ato convocatório, e pior, à anistia concedida aos algozes do regime anterior, algo inconcebível em uma democracia. Além disso, essa interpretação implica em uma simplificação absurda do amplo processo democrático que, sustentado por diversos setores da sociedade civil que pediam por mais democracia, resultou nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte de 87-88 e culminou com a promulgação da Constituição Federal de 88 (IBIDEM, p.287).
Nesse sentido, Marcelo Cattoni defende que, ao analisarmos a experiência constitucional de 88, deveríamos ter em mente que esse foi o processo de maior participação popular da história do país (CATTONI, 2006, p.42-43, apud IBIDEM, p.287-288). Ademais, Marcos Fernandes Bastos afirma que a legitimidade da ordem constitucional de 1988 advém do seu inovador e democrático procedimento de elaboração constitucional, visto que a participação popular no processo constituinte se dava não apenas nos limites da assembleia, mas também contava com a pressão exercida pelos movimentos sociais e pelas entidades civis nos trabalhos dos constituintes, condicionando a sua atuação (BASTOS, 2019, p.115-117, apud IBIDEM, p.288-289). Portanto, pode-se afirmar que a visão do STF acerca da legitimidade do novo paradigma constitucional brasileiro é incompatível com a realidade do processo plural e democrático que originou a Constituição de 1988.
Conclusão:
A principal conquista do paradigma do Estado Democrático de Direito é o protagonismo da população no processo democrático, conciliando as liberdades individuais e políticas do paradigma liberal e a efetivação dos direitos sociais do paradigma social, além de possibilitar novos direitos, os difusos, e ampliar o espaço de participação da esfera pública, resultando em um diálogo entre as esferas privada e pública. Contudo, esse não é um processo dado, e exige a sua constante reafirmação e defesa, caso contrário, corre o risco de ser consumida pelas pretensões autoritárias de determinados indivíduos e grupos, que acham um absurdo a aquisição de direitos por parcelas da sociedade antigamente excluídas. Portanto, a sociedade civil, por meio dos movimentos sociais, e o Estado, por meio de suas instituições, como o STF, devem defender a nova ordem constitucional democrática, pluralista e libertadora, assegurada pela Constituição de 1988. 
Referências bibliográficas:
ARAÚJO, Henrique. Porque Bolsonaro mantém 30% de apoio em meio à crise sanitária. O POVO+. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/jornal/politica/2021/03/26/por-que-bolsonaro-mantem-30--de-apoio-em-meio-a-crise-sanitaria.html. Acesso em: 18 mai, 2021.
CARVALHO NETTO, Menelick de. A contribuição do direito administrativo enfocado da ótica da administrado para uma reflexão acerca dos fundamentos do controle de constitucionalidade das leis no Brasil: um pequeno exercício de teoria da constituição. Revista TST, Brasília, vol.68, nº 2, abr/jun 2002.
CARVALHO NETTO, Menelick de. A Hermenêutica Constitucional e os desafios postos aos Direitos Constitucionais. In: José Adécio Leite Sampaio (Org). Jurisdição constitucional e Direitos Fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p.141-163.
CARVALHO NETTO, Menelick de. A Hermenêutica sob o Paradigma do Estado Democrático de Direito. In: CATTONI, Marcelo (coord.). Jurisdição e Hermenêutica Constitucional no Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte: Mandamentos,2004, p.25-44.
CARVALHO NETTO, Menelick de, TOMAZ, Mateus Rocha. “As instituições estão funcionando?” O bumerangue constitucional da problemática narrativa oficial da ADPF nº 153 e o STF frente aos autoritarismos de ontem e hoje: um pequeno exercício da História Constitucional e de Teoria da Constituição. In: OLIVEIRA, Marcelo Cattoni de; GOMES, David F.L. (Org). 30 anos, e agora? Direito e política nos Horizontes da República de 1988 (Em homenagem a Juarez Guimarães Rosa). Belo Horizonte: Conhecimento Editora,2020.
CORREIA, Pedro. O Paradoxo da Tolerância. Observador. Disponível em: https://observador.pt/opiniao/o-paradoxo-da-tolerancia/. Acesso em: 18 mai, 2021.
GOMES, David F.L. Brasil, 2020: tentativa de diagnóstico. Revista de Ciências do Estado. Belo Horizonte: v.6, n.1, e28895. ISSN:2525-8036.
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