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CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSOS Gizele Lozada Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 L925c Lozada, Gisele. Controle estatístico de processos / Gisele Lozada ; [revisão técnica: Henrique Martins Rocha] . – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 295 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-116-7 1. Estatística – Controle de processos. I. Título. CDU 519.2 Revisão técnica: Henrique Martins Rocha Graduação em Engenharia Mecânica (UERJ) Mestrado em Sistemas de Gestão (UFF) Doutorado em Engenharia Mecânica (UNESP) Pós-doutorado em Projetos/ Desenvolvimento de Novos Produtos (UNESP) Iniciais_Controle estatístico de processos.indd 2 18/07/2017 09:29:47 U N I D A D E 2 Ferramentas gerenciais da qualidade: diagrama de afinidades, diagrama de relações e diagrama em árvore Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as características e aplicações do diagrama de a� nidades. De� nir as propriedades e destinação do diagrama de relações. Identi� car atributos e utilidades do diagrama em árvore. Introdução Na gestão da qualidade são utilizadas diversas ferramentas, com diferentes propósitos e objetivos, mas que visam, de forma integrada, a mensuração, definição, análise e proposição de soluções para eventuais problemas. Podemos dizer que estas ferramentas se subdividem em grupos, como as ferramentas básicas (voltadas para a gestão da qualidade) e as ferramentas gerenciais, também chamadas ferramentas estratégicas (voltadas para o planejamento da qualidade). Esse conjunto de ferramentas de caráter mais estruturado, busca promover o pensamento não linear, tornando- -se mais complexo que as ferramentas básicas. Seu objetivo está mais relacionado à melhoria contínua e a qualidade total em processos e seus resultados, sendo normalmente aplicadas em cenários de maior dimensão, e podendo, muitas vezes, serem utilizadas em conjunto com as ferramentas básicas. U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 47 17/07/2017 12:09:45 Da mesma forma que as ferramentas básicas da qualidade, as fer- ramentas gerenciais se utilizam de recursos gráficos, incentivando a análise e por meio dela promovendo uma linguagem e entendimento universal, aproveitando-se da capacidade visual promovida pelo uso de imagens, como diagramas e gráficos. Contudo, são menos lineares e mais sofisticadas, geralmente relacionadas e orientadas para redes, e direcio- nadas para a eficiência e o desenvolvimento. Seu objetivo é descrever problemas de forma específica, questionando as razões que levam a sua ocorrência. Buscam conhecer a causa raiz, fornecendo uma resposta mais profunda e permitindo uma solução mais adequada e efetiva ao problema, evitando remediações. Em outras palavras, buscam encontrar a origem do problema, revelando seu caráter simples, mas eficaz, presente na essência dos conceitos e técnicas que propõem. Neste capítulo, você vai estudar algumas das ferramentas gerenciais da qualidade, que correspondem ao diagrama de afinidades, o diagrama de relações e o diagrama em árvore, visando reconhecer as principais características e aplicações destas importantes ferramentas. Diagrama de afinidades Corresponde a uma representação gráfi ca de dados, que são organizados de acordo com a relação natural entre eles, que permite a formação de grupos específi cos. Sua intenção é reunir e organizar dados dispersos e/ou confusos. Partindo de um conjunto de dados diversos e não segmentados, promove sua reorganização em grupos e os apresenta de forma gráfi ca. O diagrama de afinidades promove a reorganização de dados em grupos, de acordo com a relação existente entre eles, apresentando-os de forma gráfica. Segundo Thompson et al. (2011), ao citar Pyzdeck (2003), “[...] os diagramas de afinidade são uma popular ferramenta “Seis Sigma” para organizar ideias em categorias, tendo como base sua similaridade subjacente; os diagramas Controle estatístico de processos 48 U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 48 17/07/2017 12:09:46 de afinidade ajudam a identificar padrões e a estabelecer grupos relacionados existentes em conjuntos de dados qualitativos”. Uma criança organizando seus brinquedos, separando-os por tipo (bolas, bonecos, pe- ças), pode ser simples, mas é uma boa analogia ao conceito do diagrama de afinidades. Consiste em uma ferramenta de caráter exploratório, correspondendo a uma técnica que incentiva questões como mobilização e criatividade. Pode permitir, por exemplo, que um grupo de trabalho perceba de forma mais concreta as relações existentes entre os dados analisados, podendo demonstrar como um determinado fato é compreendido pelo grupo. Permite a geração de um panorama geral sobre o assunto analisado e a promoção de um entendimento universal, bem como o reconhecimento de padrões. Sua aplicação é geralmente realizada em grupos, formados por pessoas com diferentes visões, perspectivas e experiências sobre um determinado tema. Isso permite a formação de uma equipe multidisciplinar, que atua de forma colaborativa, evitando a existência de um viés único de análise. Além disso, explora a capacidade intuitiva, não lógica e o poder de síntese dos envolvidos em sua construção. Durante a aplicação, é comum a utilização de outras ferramentas como o brainstorming, permitindo a coleta de dados, que inicialmente são toma- dos de forma verbal e depois transformados em formato escritos (cartões de afinidades), apurando ideias potenciais. Estes cartões são dispostos de forma organizada, com base em afinidades, similaridades, dependências ou proximidade, dando origem ao diagrama. Assim, o diagrama de afinidades (Figura 1) organiza grandes volumes de informação, gerando um conjunto de dados escritos que auxiliam na per- cepção de um problema. Desta forma, permite delimitar o tema trabalhado, suas subdivisões e interdependências, dando forma e sentido a uma massa de dados. Além disso, colabora para a identificação dos elementos mais relevantes, auxiliando no direcionando das decisões sobre um processo ou projeto. 49Ferramentas gerenciais da qualidade... U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 49 17/07/2017 12:09:46 Figura 1. Exemplo genérico de um diagrama de afinidades. Fonte: FERRAMENTAS... ([200-?]). Tema A1 AB D2 D3 D1 DC C1 C2 B1 B2 B O diagrama de afinidades pode ser utilizado em diversas situações, como ocasiões em que existem muitos fatos e ideias, necessitando organização para que possam colaborar na solução de um problema, fornecendo suporte. É também útil para a análise de problemas que pareçam complexos e de difícil solução, permitindo seu fracionamento para melhor entendimento, e o levantamento e organização das ideias para sua solução, e a formação de consenso entre integrantes do grupo de trabalho. Diagrama de relações Integrante das ferramentas estratégicas da qualidade, o diagrama de relações normalmente se destina ao tratamento de problemas ou situações complexas, onde os elementos estão interligados por uma rede de relações de causa X efeito (ou objetivos X meios). Sua intenção é demonstrar estas relações de forma lógica e sequencial, formando uma estrutura de múltiplas conexões. Controle estatístico de processos 50 U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 50 17/07/2017 12:09:47 O diagrama de relações se destina à análise lógica e sequencial das relações de causa e efeito entre variáveis, normalmente envolvidas em problemas ou situações complexas. Utilizando-se da representação gráfica, o diagrama se torna capaz de facilitar a análise das relações de causa e efeito existentes entre as variáveis, permitindo a visualização das conexões com o problema central, que podem ocorrer de forma direta ou indireta. Ver Figura 2. Figura 2. Exemplo genérico de um diagrama de relações. Fonte: FERRAMENTAS... ([200-?]). Causa 2 EFEITO Causa 6 Causa 4 Causa 1 Causa 5 Causa7 Causa 9 Causa 3 Causa 8 No diagrama, os diversos fatores ou elementos integrantes do cenário são dispostos de forma a permitir a demonstração lógica e sequencial das relações, que são sinalizadas por setas, indicando não somente a existência da conexão entre duas variáveis, mas também revelando qual delas é causa (flecha de saída) e qual é efeito ou sintoma (flecha de entrada). Além disso, é possível que uma mesma variável se conecte com mais de um elemento do diagrama, podendo ser, ao mesmo tempo, causa e efeito. Nestes casos, quanto maior o número de conexões de uma mesma variável for com outras, mais crítica ela será. Isso viabiliza a identificação dos elementos mais relevantes, permitindo a priorização das ações e o direcionando das decisões sobre um processo ou projeto. 51Ferramentas gerenciais da qualidade... U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 51 17/07/2017 12:09:47 Considerando o cenário em sua totalidade, permite o estabelecimento de uma visão mais ampla, facilitando a solução do referido problema. Deste modo, como alguns dos principais objetivos da ferramenta, podemos citar a busca por facilitar o entendimento amplo, identificar fatores e promover soluções adequadas para problemas complexos. Contudo, segundo Souza (2007), a elaboração do diagrama pode ser consi- derada complexa, tendo em vista que não existe forma única de correlacionar os itens analisados. Isso traz a necessidade de especial atenção à sequência das causas, para que as conclusões sejam acertadas. Assim como ocorre com muitas ferramentas da qualidade, o diagrama de relações também pode ser associado a outros instrumentos ou ferramentas, possuindo similaridades e diferenças que permitem utilizações complemen- tares. No caso do diagrama de relações, seus propósitos estarão mais voltados ao caráter lógico e pensamento multidirecional, podendo ser aplicado como próximo passo ao diagrama de afinidades, aproveitando os dados já orga- nizados por meio desta ferramenta. Neste caso, permite testar as relações estabelecidas na formação dos grupos de afinidades, a partir do momento em que são realizadas conexões entre as variáveis, sinalizando as relações de causa e efeito entre elas. Enquanto o diagrama de afinidades está voltado para a organização inicial dos dados, buscando explorar o lado subjetivo do tema, o diagrama de relações assume a função de adicionar ao cenário um caráter lógico, que permite o aproveitamento e aprofun- damento das conclusões levantadas pela ferramenta anterior. Diagrama em árvore Também chamado de diagrama de hierarquia, diagrama sistemático ou árvore funcional, o diagrama de árvore é destinado à representação do encadeamento lógico de causas relacionadas. Através desta ferramenta, pode-se realizar o mapeamento sistemático dos caminhos a serem seguidos e as tarefas a serem executadas para que se possa alcançar um determinado objetivo. Ver Figura 3. Controle estatístico de processos 52 U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 52 17/07/2017 12:09:48 O diagrama de árvore destina-se à representação do encadeamento lógico de causas, permitindo o mapeamento dos caminhos a serem seguidos e tarefas a serem execu- tadas para o alcance de um objetivo. Neste mesmo contexto, Doane e Seward (2014, p. 194) comentam que “[...] eventos e probabilidades podem ser dispostos em forma de um diagrama em árvore ou árvore de decisão para ajudar a visualizar todos os possíveis eventos”. Figura 3. Exemplo de um diagrama de árvore. Fonte: FERRAMENTAS... ([200-?]). Objetivo Meio Ações Melhorar equipamentos do caixa Treinar atendentes Reforçar atendimento nos horários de pico Atender mais rápido Incentivar uso da internet Incentivar uso do caixa eletrônico Desviar tarefas que podem ser feitas fora do caixa Incentivar pagamentos com débito automático Atender fora do caixa Diminuir fila no caixa Uma das principais características do diagrama de árvore é sua disposição para desdobrar um objetivo primário em objetivos secundários. Esta operação pode ser realizada sucessivas vezes, até que se possam definir ações claramente executáveis, que permitam o atingimento do objetivo primário pretendido. Esta característica integra e colabora para a definição dos objetivos da ferramenta, entre os quais podemos citar: divisão ou segmentação de características de interesse; desdobramento de problemas na intenção de simplificar e priorizar ações para sua solução; 53Ferramentas gerenciais da qualidade... U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 53 17/07/2017 12:09:48 identificação dos meios e tarefas necessárias para o atingimento do objetivo principal; detalhamento dos meios e tarefas em nível suficiente para representar ações executáveis; mapeamento sistemático dos caminhos a serem seguidos e tarefas a serem executadas para o atingimento do objetivo principal. A conhecida metodologia dos “porquês” é uma representação clássica do propósito do diagrama de árvore: a pergunta é repetida sucessivas vezes, até que se consiga chegar a uma ação efetivamente capaz de promover o atendimento do objetivo ou problema original. A aplicação do diagrama de árvore é normalmente indicada em situações mais complexas, que demandam um maior nível de detalhamento e profun- didade, podendo ser adotado em situações como: tarefas de implantação complexa, ou de execução complicada, sendo dificilmente atribuíveis a uma única pessoa; necessidade de garantir a execução de tarefas básicas, cujo esquecimento representa risco significativo (como questões legais ou de segurança); existência de obstáculos que já tenham provocado dificuldades ou fra- cassos em tentativas anteriores de realização de uma determinada tarefa. Muitas destas aplicações ou utilidades do diagrama de árvore podem ser efetivadas pela realização sucessiva dos seguintes questionamentos: “O quê” e “porquê”: quando se deseja determinar a sequência lógica e detalhada de causas relacionadas com o problema ou objetivo. “Como”: quando se deseja visualizar a forma de solucionar um deter- minado problema ou atingir um objetivo. Embora possa apresentar semelhanças com o diagrama de afinidades, o diagrama de árvore aborda um objetivo a ser alcançado e os caminhos a serem percorridos para isso, enquanto que o diagrama de afinidades lida com Controle estatístico de processos 54 U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 54 17/07/2017 12:09:49 causas e problemas. Desta forma, Souza (2007) sugere que a ferramenta busca a redução dos erros de diagnóstico. Partindo do estudo realizado por meio de outras ferramentas, como o dia- grama de relações, pode-se utilizar o diagrama de árvore para traçar objetivos, meios e ações capazes de tratar os problemas apurados, colaborando para a implantação de melhorias e o atingimento de objetivos. Pode-se também comparar os diagramas de árvore, afinidades e relações, tomando por base algumas características relativas ao ambiente por eles pro- movidos: enquanto que os diagramas de afinidades e relações permitem uma certa dose de caos em sua aparência, o diagrama de árvore promove uma estruturação mais organizada, introduzindo o contexto da lógica linear. De maneira geral, é importante comentar que toda a análise realizada durante a construção dos diferentes diagramas deve ser baseada na observação de fatos, e não por inferência ou dedução. A aplicação destas ferramentas irá desencadear um processo de tomada de decisões relativas aos problemas detectados, e estas decisões precisam estar baseadas em fatos para que pro- movam os resultados apropriados. Neste contexto, os diagramas de afinidades, relações e em árvore revelam- -se como importantes ferramentas estratégicas, muito úteis ao planejamento, auxiliando no processo decisório, além de integrar o contexto da gestão da qualidade. Leia mais sobre as ferramentas gerenciais da quali- dade na obra As sete ferramentas do planejamento da qualidade(DELLARETTI FILHO, 1996) e acompanhe um caso prático de sua aplicação no artigo Adequação de ferramentas de gestão da qualidade às clínicas de saúde (SOUZA, 2007). 55Ferramentas gerenciais da qualidade... U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 55 17/07/2017 12:09:49 DELLARETTI FILHO, O. As sete ferramentas do planejamento da qualidade (7FPQ). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; Fundação Christiano Ottoni, 1996. DOANE, D. P.; SEWARD, L. E. Estatística aplicada à administração e economia. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. FERRAMENTAS aplicadas às metodologias de análise e solução de problemas. [200- ?]. Material de apoio do curso de Engenharia de Produção da UFSM. Disponível em: <http://w3.ufsm.br/engproducao/wp-content/uploads/8-ferram_texto.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2017. SOUZA, M. A. de. Adequação de ferramentas de gestão da qualidade às clínicas de saúde. Seminário Estudantil de Produção Acadêmica, Salvador, v. 11, n. 1, 2007. Dispo- nível em <http://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/view/293/241>. Acesso em: 15 abr. 2017. THOMPSON JR, A. A.; STRICKLAND III, A. J.; GAMBLE, J. E. Administração estratégica. Porto Alegre: AMGH, 2011. Leitura recomendada KAZMIER, L. J. Teoria e problemas de estatística aplicada à administração e economia. Porto Alegre: Bookman, 2008. 57Ferramentas gerenciais da qualidade... U2_C03_Controle estatístico de processos.indd 57 17/07/2017 12:09:51 http://w3.ufsm.br/engproducao/wp-content/uploads/8-ferram_texto.pdf%3E. http://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/view/293/241%3E. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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