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Aula 1 - Noções introdutórias Arbitragem

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Apostila Tópicos Especiais do Direito 
Professora: Amanda Zaquini 
 
Arbitragem 
1. Aspectos históricos 
A arbitragem é um dos mais antigos meios de composição de conflitos pela heterocomposição, ou seja, a 
solução do conflito por um terceiro imparcial. A arbitragem teve sua origem nos costumes. Já era encontrado 
entre os povos antigos havendo registros na doutrina de sua utilização pelo Egito, Assíria, Babilônia, Kheta e 
pelos hebreus. 
Apesar de sua presença entre estes povos, seu maior desenvolvimento se deu na Grécia, considerada o berço 
da arbitragem e do Direito Internacional. 
 
Obs: Quais são as formas de solução de conflitos? 
A AUTOTUTELA (ou autodefesa) é a forma mais primitiva de solução dos conflitos, na qual há o 
emprego da força por uma das partes, e a submissão da parte contrária. A força pode ser 
entendida em diversas modalidades: física, moral, econômica, social, política, cultural, filosófica, 
etc. Atualmente, em regra, a autotutela é vedada pelo ordenamento jurídico, sendo 
considerada crime, conforme preleciona o artigo 345 do Código Penal Brasileiro (CP)1. 
Excepcionalmente, a autotutela é admitida, como nos casos do Direito Penal, em que se aplica a 
legítima defesa (art. 23, II c/c 25, CP); e do Direito Civil, em que é admitido o desforço imediato na 
tutela da posse (art. 1.210, § 1º, CC). 
A AUTOCOMPOSIÇÃO é a forma mais privilegiada na solução dos conflitos. Esta é a forma em que 
as próprias partes solucionam o conflito por meio do consenso, sem o emprego da força. 
Quanto à manifestação de vontade, a autocomposição pode ser classificada em unilateral: 
manifestação de vontade por uma das partes (ex.: renúncia); ou bilateral: manifestação de vontade 
por ambas as partes (ex.: transação). 
Quanto ao local, a autocomposição pode ser classificada em intraprocessual: dentro do processo 
(ex.: tentativas de conciliação); ou extraprocessual: fora do processo (ex.: Convenção Coletiva de 
Trabalho, Acordo Coletivo de Trabalho, Comissão de Conciliação Prévia e Mediação). 
A autocomposição é gênero, e tem como espécies a transação, a renúncia e a submissão. 
A renúncia ocorre quando o titular do direito abdica dele, acabando com o conflito. A submissão 
ocorre quando o sujeito se submete à pretensão contrária, ainda que entenda ter o direito. 
A transação envolve o sacrifício recíproco de interesses, tendo três subespécies: a negociação que 
é a transação entre as partes, sem a intervenção de terceiros; a mediação, em que há a presença 
de um terceiro que não oferece soluções (não faz propostas), tendo apenas a função de construir 
um diálogo entre as partes para que elas mesmas encontrem uma solução; e a conciliação na qual 
 
1 Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. 
 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10595483/artigo-345-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637476/artigo-23-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637394/inciso-ii-do-artigo-23-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637196/artigo-25-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10654625/artigo-1210-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10654582/par%C3%A1grafo-1-artigo-1210-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
há a presença de um terceiro que se encontra equidistante das partes, tendo o papel de oferecer 
soluções. 
A HETEROCOMPOSIÇÃO é caracterizada por duas ideias: a presença de um terceiro; e que este 
tenha poder de decisão sobre as partes. Esta é a forma mais conhecida e utilizada atualmente na 
solução de conflitos, sobretudo por meio da jurisdição, na qual o Estado-juiz dá solução impositiva 
aos casos concretos. Outro método heterocompositivo, alternativo à jurisdição, é a Arbitragem. 
A arbitragem estava prevista no Código Civil de 1916 entre os meios indiretos de pagamento, sob o título de 
“compromisso” (arts. 1.037 a 1.048), mas não encontrou larga utilização como meio de solução de conflitos, 
tendo em vista que, nos arts. 1.085 a 1.102, o Código de Processo Civil de 1973 exigia a homologação do 
então denominado “laudo arbitral” (hoje equivalente à sentença arbitral), por sentença judicial com todos 
os recursos inerentes. 
A Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996, acabou com a necessidade de homologação judicial da sentença 
arbitral e equiparou o árbitro ao juiz togado no desempenho da arbitragem (art. 18), esclarecendo que a sua 
decisão é sentença e, como tal, constitui título executivo judicial (CPC, art. 515, VII), fazendo coisa julgada 
material ao decidir o mérito do conflito. 
2. Natureza jurídica 
A discussão da natureza jurídica é campo fértil para as considerações jurídicas e de suma importância para 
o entendimento do instituto. 
Podemos verificar que considerando sua localização no sistema, ou seja, de acordo com a natureza jurídica 
atribuída ao instituto, é que a doutrina traça os contornos do conceito da arbitragem. Dentre as teorias que 
procuram explicá-la, vamos encontrar a dos publicistas que, salientando a atuação do árbitro de dizer o 
direito, lhe atribuem natureza jurisdicional, a dos privatistas que, dando destaque à figura da convenção 
arbitral, ressaltam sua natureza como puramente contratual, e a daqueles que, dando igual ênfase às duas 
fases da arbitragem e conciliando os dois aspectos vão caracterizá-la como de natureza híbrida, 
considerando os aspectos contratual e jurisdicional. 
2.1. Teoria jurisdicional 
Segundo os jurisdicionalistas, a arbitragem age como substituta da jurisdição, porém, esta sua atuação é 
limitada dentro de parâmetros legais. Defendem a jurisdicionalidade do instituto baseando-se, 
fundamentalmente, em que a função dos árbitros é substancialmente a mesma dos juízes – decidir litígios. 
A crítica dos privatistas tem como principal argumento a ausência de coercitividade, uma vez que há a 
necessidade do judiciário para a sua execução. 
Contudo, na opinião de Hermes Marcelo Huck, essa participação do Estado, ao colocar sua estrutura 
judiciária para atuar subsidiariamente ao processo arbitral, dando-lhe suporte, demonstra seu 
reconhecimento à função jurisdicional. 
Ainda nesse sentido, Carlos Alberto Carmona defende a predominância da natureza jurisdicional na 
arbitragem, considerando que a jurisdição é atividade ou movimentação do órgão judicante no processo, 
com o fim de atuar o direito ao fato concreto, declarando o direito aplicável à espécie. 
A teoria privilegia a fase do juízo arbitral, apesar de aceitar que os poderes dos árbitros e as regras provêm 
do contrato, a ele não dão maior relevância, concentrando-se na etapa de conhecimento do conflito, no 
juízo arbitral. 
2.2. Teoria Contratual 
Segundo os privatistas, a arbitragem tem natureza puramente contratual, prevalece a figura da convenção 
arbitral na qual as partes acordam a resolução do conflito, entregando a decisão a terceiros (árbitros), 
outorgando-lhes poderes. Estes atuam como mandatários das partes e sua decisão nada mais é que a 
manifestação da vontade das partes, assemelhando-se a sentença arbitral a um contrato que põe fim ao 
litígio. 
Os contratualistas privilegiam a convenção arbitral, na qual as partes designam as diretrizes e o conteúdo da 
arbitragem,estendendo para o juízo arbitral seus efeitos e retirando o fundamento da obrigatoriedade do 
cumprimento da decisão da própria vontade das partes, não considerando jurisdição por estar despido o 
juízo arbitral da “coertio” e da “executio”. 
2.3. Teoria híbrida 
Em posição conciliadora surge a noção da natureza jurídica hibrida, apresentando aspecto contratual em sua 
primeira fase, em razão da convenção arbitral que lhe dá nascimento, e jurisdicional na segunda, vista como 
forma privada de dizer o direito. 
Nas palavras de Guido F. S. Soares é uma jurisdição pactuada. 
3. Conceito 
A arbitragem pode ser definida, assim, como o meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de 
conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral, definida como título 
executivo judicial e prolatada pelo árbitro, juiz de fato e de direito, normalmente especialista na matéria 
controvertida. 
Em outras palavras, a arbitragem resulta de negócio jurídico mediante o qual as partes optam pela solução 
arbitral, abdicando da jurisdição estatal em razão dos seus direitos patrimoniais e disponíveis. 
Hoje, a arbitragem possui a mesma força de uma sentença judicial transitada em julgado, até porque o 
Código de Processo Civil coloca a decisão arbitral (sentença) no rol dos títulos executivos judiciais. 
Nessa medida: “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os 
artigos previstos neste Título: (...) VII – a sentença arbitral (...)”. 
Jurisdição significa “dizer o direito”, ou seja, é o poder conferido a alguém, imparcial, para aplicar a norma e 
solucionar o conflito por meio do processo, prolatando sentença capaz de produzir coisa julgada material e, 
nessa medida, pode ser imposta aos litigantes. 
Para a corrente híbrida, o fato de o árbitro não reunir poderes de executar as decisões que toma, inclusive 
as tutelas provisórias, de urgência, cautelares ou antecipatórias de tutela, ou de evidência, não retira o 
caráter jurisdicional daquilo que decide. 
O art. 3º do CPC de 2015 está assim redigido: 
“Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser 
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no 
curso do processo judicial.” 
No art. 42 do CPC encontramos o seguinte: 
“Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, 
ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei.” 
 
4. Vantagens da arbitragem 
Aqueles que preferem a arbitragem, quando aplicável, costumam apontar diversas vantagens. 
Nessa medida: 
a) Especialização: na arbitragem, é possível nomear um árbitro especialista na matéria controvertida ou no 
objeto do contrato entre as partes. A solução judicial de questões técnicas impõe a necessária perícia que, 
além do tempo que demanda, muitas vezes não conta com especialista de confiança das partes do ponto de 
vista técnico. 
b) Rapidez: na arbitragem, o procedimento adotado pelas partes é abissalmente mais célere que o 
procedimento judicial. 
c) Irrecorribilidade: a sentença arbitral vale o mesmo que uma sentença judicial transitada em julgado e não 
é passível de recurso. 
d) Informalidade: o procedimento arbitral não é formal como o procedimento judicial e pode ser, nos limites 
da Lei 9.307/1996, estabelecido pelas partes no que se refere à escolha dos árbitros e do direito material e 
processual que serão utilizados na solução do conflito. 
e) Confidencialidade: a arbitragem pode ser sigilosa e nesse particular diverge da publicidade que emana, 
em regra, dos processos judiciais a teor do art. 189 do CPC. 
5. Normas de direito material aplicáveis à solução do conflito pela via arbitral 
Nos termos dos art. 2º da Lei 9.307/19962, as partes podem livremente escolher a norma aplicável à solução 
de seus conflitos pela via arbitral, ainda que seja de direito estrangeiro. 
Então, se a decisão for pela solução arbitral do conflito, que substitui a via judicial, como os direitos são 
patrimoniais e disponíveis, as partes podem escolher quais normas de direito material serão aplicadas pelo 
árbitro. 
As partes têm liberdade para dizerem se a arbitragem será de direito ou de equidade, conforme o tipo de 
fonte escolhida para o árbitro fundamento para sua decisão. 
Nesse sentido, podem as partes determinar que a decisão arbitral seja tomada com base em princípios e 
regras de direito nacional, estrangeiro ou internacional, em normas estatutárias, convencionais ou 
costumeiras e até mesmo em noções de justiça. 
As partes podem determinar, inclusive, a utilização de uma combinação dessas fontes e o apelo a outras não 
mencionadas expressamente no dispositivo legal. 
A verificação da regra do direito escolhido pelas partes na arbitragem é questão de mérito que escapa à 
homologação judicial. 
Podemos afirmar, portanto, e em resumo, que a arbitragem pode ser: 
 
2 “Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes. § 1º Poderão as partes escolher, livremente, 
as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública. § 2º 
Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e 
costumes e nas regras internacionais de comércio”. 
a) de direito e, nesse caso, não afrontando a ordem pública (norma cogente que regule a matéria que se 
pretende submeter à arbitragem) e os bons costumes, as partes podem escolher a norma que querem ver 
aplicada pelo árbitro para solução do seu conflito decorrente de direito patrimonial e disponível. Caso não 
escolham, o árbitro decidirá com fundamento na lei nacional; 
b) de equidade, desde que, nesse caso, as partes convencionem a hipótese expressamente e desde que não 
haja, igualmente, afronta à ordem pública nacional; 
c) pela aplicação dos princípios gerais de direito; e 
d) pelos usos e costumes. 
O que é norma de ordem pública? 
Normas de ordem pública são aquelas que não podem ser derrogadas pelas partes, vez que sua aplicação 
interessa a toda a sociedade. 
Nos termos do que ensina Silvio Rodrigues, “a ideia de ordem pública é constituída por um conjunto de 
interesses jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, os princípios de ordem 
pública não podem ser alterados por convenção entre os particulares; jus publicum privatorum pactis 
derrogare non potest”. 
Eis um exemplo de norma de ordem pública nacional: o art. 5º, caput, da CF, que determina a igualdade 
entre as pessoas. 
Assim, uma norma eleita para a solução arbitral não pode afrontar a necessária igualdade, configurada, 
nesse contexto, como questão de ordem pública. Não há regra estabelecida, legal ou doutrinária, para 
esclarecer quais seriam as normas de ordem pública no sistema e quais seriam dispositivas. 
O conceito de ordem pública é impreciso e, bem assim, a doutrina não ousa se aprofundar. Com exceção de 
algumas poucas normas que no seu corpo esclarecem, essa definição se dá, apenas, pela atividade dos 
tribunais, ou seja, pela jurisprudência. 
São de ordem pública as normas constitucionais, administrativas, processuais, penais, fiscais, de organização 
judiciária, econômica, familiar e de proteção aos incapazes. 
6. Limite geral imposto à possibilidade de solução arbitral 
Nos termos do art. 1º da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996), a arbitragem se limita à capacidade de contratar 
e aos direitos patrimoniais e disponíveis. 
Vejamos: “As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a 
direitos patrimoniaisdisponíveis”. 
A doutrina majoritária entende que apenas pessoas maiores e capazes podem se valer da arbitragem. 
Afirmam que incapazes não podem convencionar a arbitragem por ausência de capacidade de contratar e 
seus representantes ou assistentes não o podem porque indisponíveis os seus direitos, mesmo que versando 
sobre questões de conteúdo econômico, visto que a atuação do Ministério Público continua a ser obrigatória. 
Todavia há entendimento em sentido contrário, o qual irei discorrer abaixo. 
Para alguns doutrinadores, no entanto, basta que a pessoa tenha personalidade jurídica para que possa se 
submeter à arbitragem. Lembre-se que, nos termos do art. 1º do CC, personalidade jurídica é a capacidade 
de ser titular de direitos e obrigações, adquirida pela pessoa natural com o nascimento com vida (art. 2º do 
CC). 
Isto porque estamos no campo da capacidade de gozo dos direitos (capacidade de direito) e não do seu 
exercício pessoal (capacidade de fato), que depende da inexistência de incapacidades absolutas ou relativas, 
tal qual delineadas no Código Civil. 
O que se quer afirmar, apesar de posições em sentido contrário, é que as pessoas podem ser representadas, 
assistidas ou podem estar abarcadas pela concessão de tomada de decisão apoiada (art. 1.783-A do CC) na 
convenção de arbitragem, desde que respeitados os limites decorrentes da matéria, que deve versar sobre 
direitos patrimoniais disponíveis. 
7. Direitos patrimoniais disponíveis 
Podemos afirmar que os direitos são, sob o aspecto patrimonial, divididos em: 
a) Direitos patrimoniais; e, 
b) Direitos não patrimoniais. 
Entre os direitos de cunho patrimonial, encontramos as relações jurídicas de direito obrigacional, ou seja, 
aquelas que encontram sua origem nos contratos, nos atos ilícitos e nas declarações unilaterais de vontade. 
Os direitos não patrimoniais, por seu turno, são aqueles ligados aos direitos da personalidade, como o direito 
à vida, à honra, à imagem, ao nome e ao estado das pessoas, como, por exemplo, a capacidade, a filiação e 
o poder familiar, entre outros com a mesma natureza. Todavia, para que possa ser adotada como meio de 
solução dos conflitos, além de se limitar aos direitos patrimoniais, a arbitragem ainda exige a existência de 
direitos disponíveis. 
A disponibilidade dos direitos se liga à possibilidade de alienação, renúncia ou transação. 
Assim, por exemplo, não é possível transacionar acerca do direito ao próprio corpo, à liberdade, à igualdade 
e ao direito à vida. 
Entretanto, esses conceitos não são suficientes para que possamos entender os limites impostos à 
possibilidade de as partes adotarem a solução arbitral. 
Nessa medida, a afronta aos direitos indisponíveis, a exemplo dos direitos da personalidade, como é cediço, 
são indenizáveis e, quanto a essa indenização, cabe a arbitragem, tal qual delineada na Lei 9.307/1996. 
Por exemplo: ninguém pode transacionar, abrindo mão do seu direito à honra, que é um direito da 
personalidade. Contudo, a afronta à honra da pessoa gera o direito de receber indenização por danos morais. 
Assim, diante da afronta ao seu direito, nada obsta que, através de compromisso arbitral com o ofensor, o 
valor da reparação seja arbitrado nos termos da Lei 9.307/1996. Nesse contexto, o árbitro não pode decidir 
se a pessoa tem ou não o direito à honra, vez que este direito é indisponível. Porém, nada obsta que decida 
acerca do fato que enseja a afronta ao direito à honra e quanto à liquidação dessa afronta. Por exemplo: 
diante de acidente aéreo, surge inevitavelmente o dever de a companhia aérea reparar os danos materiais 
e morais aos parentes das vítimas. Optando as partes pela arbitragem, através do compromisso arbitral, 
nada obsta que o valor da indenização por danos morais seja arbitrado nos termos da Lei 9.307/1996. 
Dessa forma, pode-se concluir que os efeitos econômicos de direito não-patrimoniais e indisponíveis podem 
ser objeto de arbitragem. 
Em resumo, questões que não envolverem direito que admita transação (patrimoniais disponíveis) não são 
passíveis de arbitragem e, entre esses direitos, podemos mencionar questões penais, aquelas referentes ao 
estado das pessoas, matéria tributária e direitos pessoais concernentes ao direito de família, como, por 
exemplo, filiação e poder familiar. 
8. Espécies de arbitragem: institucional ou avulsa 
Para levar a efeito a arbitragem, as partes podem escolher uma entidade em funcionamento, que se dedique 
à atividade arbitral (uma instituição arbitral), ou um árbitro independente de uma instituição. 
Surge, assim, a arbitragem institucional ou administrada, na qual existe uma instituição especializada que 
administrará a arbitragem, com regras procedimentais de acordo com a Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) 
acerca dos prazos, forma da prática dos atos, maneira de escolha dos árbitros, custos para a realização da 
arbitragem, forma de produção de provas, entre outras regras indispensáveis ao procedimento. 
Nesse sentido, o art. 5º da Lei 9.307/1996: “Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras 
de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de 
acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro 
documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem”. 
Por outro lado, existe a arbitragem avulsa, também conhecida como arbitragem ad hoc, que se realiza sem 
a participação de uma entidade especializada. De fato, ninguém pode ser compelido a vincular a decisão 
arbitral a uma instituição que se destine à arbitragem. Poderão, assim, as partes, contratar um árbitro e, 
com isso, normalmente reduzir os custos da arbitragem. 
9. Arbitragem e sua constitucionalidade 
A lei da arbitragem é constitucional na medida em que decorre da vontade autônoma das partes e não 
impede o controle judicial de eventuais abusos. 
A convenção arbitral é obrigatória para os estipulantes, ressalvado controle judicial de invalidades. 
O controle judicial não importa em reforma da decisão arbitral, mas apenas em sua eventual invalidação. É 
controle de forma e não de mérito.

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