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Problema 6 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (TA) Os TA estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tto. Eles podem ser vistos como uma família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia e (5) TAG. Ansiedade normal É de apresentação variável. Caracterizada mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e inquietação, indicada por incapacidade de ficar sentado ou em pé por tempo ↑. Medo versus ansiedade São ambos sinais de alerta e atuam como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. Ansiedade - resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou conflituosa. Medo - resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; é por vezes, precedido de susto, ambos levam os sentidos da visão e da audição a serem alertados de forma imediata. O medo também pode ser devido a um objeto inconsciente, reprimido, interno, deslocado para outro objeto no mundo exterior. Ex.: um menino pode ter medo de cachorros latindo porque, na verdade, tem medo de seu pai e, inconscientemente, associa o pai a cachorros latindo. Diferença psicológica principal entre as 2 respostas emocionais: o medo é súbito; a ansiedade é insidiosa. Ansiedade → resposta normal e adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual. Ela impele o indivíduo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça ou ↓ suas consequências. É acompanhada por ↑ da atividade somática e autonômica (SNS e SNP). Ex.: agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida para evitar punição, correr para pegar o último trem → a ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a realizar certos atos que evitam o perigo. Estresse e ansiedade Se um acontecimento é percebido ou não como estressante depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o ego. Ego funcionando de maneira apropriada → equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; Ego não funcionando adequadamente → desequilíbrio → persistência → ansiedade crônica. ANSIEDADE PATOLÓGICA EPIDEMIOLOGIA Constitui um dos grupos mais comuns de doenças psiquiátricas. O Estudo Americano de Comorbidade relatou que 1 em cada 4 pessoas satisfaz o critério diagnóstico de pelo menos 1 TA e que há uma taxa de prevalência em 12 meses de 17,7%. As mulheres (prevalência 30,5%) têm mais probabilidade de ter um TA do que os homens (prevalência 19,2%). Por fim, sua prevalência ↓ com o status socioeconômico mais ↑. ETIOLOGIA TEORIAS PSICOLÓGICAS a) Psicanalítica Ansiedade seria um sinal da presença de perigo no inconsciente. Em resposta a esse sinal, o ego mobilizava mecanismos de defesa para evitar que pensamentos e sentimentos inconscientes inaceitáveis emergissem para a percepção consciente. Freud afirma que “era a ansiedade que produzia a repressão, e não, como eu antes acreditava, a repressão que produzia a ansiedade”. De um ponto de vista psicodinâmico, o objetivo do tto não é eliminar toda a ansiedade, mas ↑a tolerância a ela. b) Comportamental Postula que a ansiedade é uma resposta condicionada a um estímulo específico do ambiente. Ex.: uma menina criada por um pai abusivo, p.ex., pode se tornar ansiosa assim que enxerga esse pai. Por meio de generalização, ela pode passar a desconfiar de todos os homens. No modelo de aprendizagem social, uma criança pode desenvolver uma resposta de ansiedade imitando a ansiedade no ambiente, p.ex., em casos de pais ansiosos. c) Existencial Não há um estímulo específico identificável para a sensação crônica de ansiedade. A teoria é o de que as pessoas experimentam sentimentos de viver em um universo sem objetivo. A ansiedade é sua resposta ao vazio de sentido e existência. TEORIAS BIOLÓGICAS SNA - A estimulação do SNA causa certos sintomas – taquicardia, cefaleia, diarreia e taquipneia. Os pctes com TA, sobretudo aqueles com transtorno de pânico, exibem tônus simpático ↑, se adaptam lentamente a estímulos repetidos e respondem de maneira excessiva a estímulos moderados. Neurotransmissores - Os 3 principais associados a ansiedade: Norepinefrina - os pctes afetados podem ter um sistema noradrenérgico com problemas de regulação, com surtos ocasionais de atividade. Os sintomas crônicos vivenciados por pctes com TA (ataques de pânico, insônia, sobressalto e hiperexcitação autonômica) são característicos de ↑ da função noradrenérgica. Os corpos celulares desse sistema estão localizados principalmente no locus ceruleus e projetam seus axônios para o córtex cerebral, sistema límbico, tronco cerebral e medula espinal. Experimentos mostraram que a estimulação do locus ceruleus → resposta de medo; ablação dessa área → inibe/bloqueia a resposta de medo. Serotonina - estresses agudos resultam do ↑ no turnover de 5-HT no córtex pré-frontal, no nucleus accumbens, na amígdala e no hipotálamo lateral. Muitos relatos indicam que alucinógenos e estimulantes serotonérgicos (LSD e ecstasy) estão associados com o desenvolvimento de ansiedade aguda e crônica. Gaba - seu papel nos TA é apoiado com mais força pela eficácia dos BZD, que ↑ sua atividade no receptor tipo A de GABA, no tto de alguns tipos de TA. Embora os BZD de ↓ potência sejam mais eficazes para os sintomas de TAG, os de ↑ potência (alprazolam e clonazepam), são eficazes no tto do transtorno de pânico. Eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal – O estresse psicológico ↑ a síntese e a liberação de cortisol. O cortisol serve para mobilizar e reabastecer os estoques de energia e contribui para ↑ o alerta, a vigilância, a atenção focada e a formação de memória; inibe o crescimento e o sistema reprodutivo; e contém a resposta imune. A secreção excessiva e contínua de cortisol pode ter efeitos adversos graves. Alterações do eixo foram demonstradas no TEPT. Hormônio liberador de corticotrofina (CRH) - coordena as mudanças comportamentais e fisiológicas adaptativas que ocorrem durante o estresse. Os níveis de CRH são ↑ pelo estresse, resultando em ativação do eixo HHS e ↑ da liberação de cortisol e DHEA. Neuropeptídeo Y – tem efeitos contrarreguladores sobre os sistemas do CRH e LC-NE em locais do cérebro importantes na expressão de ansiedade, medo e depressão. Estudos preliminares com soldados de operações especiais sob estresse de treinamento extremo indicam que ↑ níveis de NPY estão associados com melhor desempenho. Estudo de imagens – Estudos estruturais (TC e RM) – mostram ↑ no tamanho dos ventrículos cerebrais. Em um estudo, o ↑ foi correlacionado à duração do tempo de uso de BZP. Em um estudo com RM, foi observado um defeito específico no lobo temporal D em pctes com transtorno de pânico. Vários outros estudos de imagens cerebrais relataram achados anormais no hemisfério direito, mas não no esquerdo. Estudos de imagens cerebrais funcionais de pctes com TA relataram anormalidades no córtex frontal, em áreas occipitais e temporais e, em um estudo sobre transtorno de pânico, no giro para-hipocampal. Estudos genéticos – Quase 50% dos pctes com transtorno de pânico tem, no mínimo, um parente afetado. As taxas para outros TA tbm indicam uma frequência mais ↑ da doença em parentes em 1º grau de pctes afetados. Dados de registros de gêmeos tbm apoiam a hipótese. Um relato atribuiu 4% da variabilidade intrínseca da ansiedade na população a um variante polimórfico do gene para o transportador de serotonina,que é o sítio de ação de muitos medicamentos serotonérgicos. Pessoas com essa variante produzem ↓ transportador e têm níveis ↑ de ansiedade. Considerações neuroanatômicas Sistema Límbico – Recebe inervação noradrenérgica e serotonérgica e possui ↑ concentração de receptores GABA. Estudos demonstram relação com geração de respostas de ansiedade e medo. Duas áreas de destaque: ↑ da atividade na via septo-hipocampal (ansiedade), e o giro do cíngulo, (TOC). Córtex Cerebral – O córtex frontal conecta-se com a região para-hipocampal, o giro do cíngulo e o hipotálamo e, dessa forma, pode estar envolvido na produção dos TA. O córtex temporal tbm parece ter relação. Essa associação baseia- se, em parte, na semelhança da apresentação clínica e da eletrofisiologia entre alguns pctes com epilepsia do lobo temporal e pcts com TOC. TRANSTORNO DE PÂNICO Um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente. A ansiedade é caracterizada por períodos distintos de medo intenso que podem variar de vários ataques durante um dia a apenas poucos ataques durante um ano. Os pctes com o transtorno apresentam-se com uma série de condições comórbidas, mais comumente agorafobia. EPIDEMIOLOGIA A prevalência ao longo da vida varia de 1 a 4%, com a prevalência em 6 meses de aproximadamente 0,5 a 1,0%, e de 3 a 5,6% para ataques de pânico. As mulheres têm 3 x mais probabilidade de serem afetadas do que os homens, ainda que haja subdiagnóstico em homens. O único fator social é história recente de divórcio/separação. O transtorno costuma surgir na idade adulta jovem (a idade média é 25 anos), mas tanto transtorno de pânico como agorafobia podem se desenvolver em qualquer idade. Comorbidades: 91% dos pctes têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico. Cerca de 1/3 das pctes com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo maior antes de seu início; e em torno de 2/3 experimentam transtorno de pânico pela 1ª vez durante ou após o início de depressão maior. 15 a 30% tbm têm fobia social, 2 a 20% têm fobia específica, 15 a 30% têm TAG, 2 a 10% têm TEPT, e até 30% têm TOC. ETIOLOGIA • Fatores biológicos A disfunção serotonérgica é bem evidente no transtorno de pânico. Foi levantada a possibilidade de uma hipersensibilidade pós-sináptica a serotonina. Evidências pré-clínicas sugerem que a atenuação da transmissão GABAérgica inibidora local na amígdala basolateral, no mesencéfalo e no hipotálamo pode desencadear respostas fisiológicas semelhantes a ansiedade. De maneira específica, transtornos de ansiedade e ataques de pânico estão associados com vasoconstrição cerebral, que pode resultar em sintomas do SNC, como tonturas, e em sintomas do SNP que podem ser induzidos por hiperventilação e por hipocapnia. Substâncias indutoras de pânico Substâncias respiratórias – causam estimulação e mudança no equilíbrio acidobásico. Elas incluem CO2 (misturas de 5 a 35%), lactato de sódio e bicarbonato. Podem atuar inicialmente nos barorreceptores cardiovasculares periféricos e retransmitir seus sinais por aferentes vagais para o núcleo do trato solitário e, a seguir, para o núcleo paragigantocelular da medula. A hiperventilação em pctes com transtorno de pânico pode ser causada por um sistema de alarme pelo qual o ↑ das concentrações de Pco2 e de lactato cerebral ativa de forma prematura um sensor fisiológico de asfixia. Substâncias neuroquímicas – atuam por meio de sistemas neurotransmissores específicos incluem a ioimbina, um antagonista dos receptores 2-adrenérgicos; a mCPP, um agente com efeitos serotonérgicos múltiplos; medicamentos m-Carolines; agonistas inversos dos receptores GABAB; o flumazenil, um antagonista dos receptores GABAB; a colecistocinina; a cafeína e o isoproterenol. Presume-se que as substâncias neuroquímicas indutoras de pânico afetem diretamente sobretudo os receptores noradrenérgicos, serotonérgicos e GABAérgicos do SNC. • Fatores genéticos Parentes em 1º grau têm um risco 4-8 x maior para o transtorno do que os parentes em 1º grau de outros pctes psiquiátricos. Os gêmeos monozigóticos >> dizigóticos. • Fatores psicossociais Teorias psicanalistas defendem o transtorno como tendo origem em uma defesa malsucedida contra impulsos provocadores de ansiedade. O que era anteriormente uma leve ansiedade-sinal se torna um sentimento esmagador de apreensão, junto com sintomas somáticos. Embora os ataques de pânico sejam neurofisiologicamente correlacionados com o locus ceruleus, seu início costuma estar associado a fatores ambientais ou psicológicos. Os pctes têm uma incidência mais ↑ de acontecimentos estressantes (sobretudo perdas) nos meses anteriores ao início do transtorno. Cerca de 60% das mulheres com ataques de pânico apresentam história de abuso sexual, comparadas com 31% daquelas com outros TA. Além disso, os pctes normalmente experimentam mais tensão sobre os acontecimentos da vida do que os controles. DIAGNÓSTICO Ataque de pânico É um período súbito de intenso medo ou apreensão que pode durar de minutos a horas. Ele pode ocorrer também em outros transtornos mentais, particularmente na fobia específica, na fobia social e no TEPT. Ataques inesperados ocorrem a qualquer momento e não estão associados a um estímulo situacional identificável, mas não precisam se apresentar dessa forma. Alguns não se encaixam com facilidade na distinção entre inesperado e esperado, sendo referidos como ataques de pânico predispostos por situações. Eles podem ou não ocorrer quando um pcte é exposto a um gatilho específico, ou podem ocorrer imediatamente após ou após uma considerável demora. Critérios diagnósticos: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Com frequência, o 1º ataque de pânico é completamente espontâneo, embora muitos possam estar relacionados com excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional moderado. Deve-se avaliar qualquer hábito ou situação que costume preceder os ataques (consumo de cafeína, álcool, nicotina ou outras substâncias); padrões incomuns do sono e de alimentação; e situações ambientais específicas (iluminação desagradável no trabalho). O ataque com frequência começa com um período de 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte e tragédia iminentes. Em geral não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e com dificuldade de se concentrarem. Os sintomas físicos costumam incluir taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese. O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora. O exame do estado mental durante o ataque pode revelar ruminação, dificuldade de fala (gagueira) e comprometimento da memória. É possível experimentar depressão ou despersonalização durante um ataque. Entre os ataques, os pctes podem manifestar ansiedade antecipatória de terem um novo ataque. Preocupações somáticas de morte por problemas cardíacos ou respiratórios podem ser o principal foco da atenção do indivíduo durante os ataques. Eles podem acreditar que as palpitações e a dor no peito indicam que estão para morrer. Até 20% deles de fato têm episódios de síncope durante os ataques de pânico. A hiperventilação pode produzir alcalose respiratória e outros sintomas. A recomendação de respirar dentro de um saco de papel pode ajudar (↓ a alcalose). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Ataques de pânico ocorrem em muitos TA, entre eles fobia social e específica. Pânico tbm pode ocorrer no TEPT e no TOC. O segredo para diagnosticar de maneira correta o transtorno de pânico e diferenciar a condição de outros transtornos de ansiedade envolve a documentação de ataques de pânico espontâneos recorrentes. A diferenciação de TAG tbm pode ser difícil. Classicamente, os ataques de pânico são caracterizados por seu início rápido (em minutos) e duração curta (em geral menos de 10 a 15 minutos), em comparação com a ansiedade associada com o TAG, que surge e se dissipa mais lentamente.Outras condições orgânicas: CURSO E PROGNÓSTICO O transtorno em geral é crônico, ainda que seu curso seja variável tanto entre pctes como em um único pcte. Cerca de 30 a 40% dos pctes parecem ficar livres de sintomas, em torno de 50% têm sintomas leves para não afetar sua vida de modo significativo, e 10 a 20% continuam a ter sintomas relevantes. As pessoas podem tentar manter os ataques de pânico em segredo e, assim, preocupam seus familiares e amigos com as mudanças inexplicáveis no comportamento. A ingestão excessiva de cafeína ou nicotina pode exacerbar os sintomas. A depressão pode complicar o quadro de sintomas em 40 a 80% de todos os pctes. Apresentam ↑ risco para cometer suicídio. TRATAMENTO Farmacoterapia: Alprazolam (BZP) e paroxetina (ISRS - sedativo, ↑peso). A experiência está mostrando ISRSs e clomipramina >>> BZP, IMAOs e os medicamentos tricíclicos e tetracíclicos, em termos de eficácia e tolerância de efeitos adversos. Venlafaxina (TAG, TP+Depressão) e a buspirona tem sido sugerida como um medicamento auxiliar em alguns casos. Abordagem conservadora: iniciar o tto com paroxetina, sertralina, citalopram ou fluvoxamina no TP isolado. Controle rápido de sintomas graves: um tto breve com alprazolam deve ser iniciado + ISRS, seguido pela ↓ gradativa da utilização do BZP. Uma vez eficaz, o tto farmacológico, em geral, deve continuar por 8 a 12 meses. Muitos estudos e relatos verificaram que a combinação de terapia cognitiva e/ou comportamental com farmacoterapia é mais eficaz do que cada abordagem isolada (remissão mais prolongada). OBS.: BZP - potencial para dependência, comprometimento cognitivo e abuso, sobretudo com uso a longo prazo. AGORAFOBIA Refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil. É possível que seja a mais incapacitante das fobias, porque pode interferir de maneira significativa na capacidade de uma pessoa funcionar no trabalho e em situações sociais fora de casa. EPIDEMIOLOGIA A prevalência ao longo da vida varia entre 2 e 6% (discordância TP x Agorafobia). De acordo com o DSM-5, pessoas >65 anos têm uma taxa de prevalência de agorafobia de 0,4%, mas isso pode ser uma estimativa baixa. Embora os estudos de agorafobia (contexto psiquiátrico) tenham relatado que pelo menos 3/4 dos pctes afetados também têm transtorno de pânico, estudos de agorafobia (amostras da comunidade) revelaram que até 50% dos pctes tem agorafobia sem transtorno de pânico. Em muitos casos, o início da agorafobia segue-se a um evento traumático. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Indivíduos com agorafobia evitam situações nas quais seria difícil obter ajuda. Eles preferem estar acompanhados por um amigo ou familiar em ruas movimentadas, lojas superlotadas, espaços e veículos fechados. Podem insistir em ser acompanhados toda vez que saem de casa. O comportamento pode resultar em conflito conjugal, que pode ser mal diagnosticado como o problema principal. Pessoas gravemente afetadas podem se recusar a sair de casa. Critérios diagnósticos (DSM 5): DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Transtorno depressivo maior, esquizofrenia, TP paranoide, TP esquiva e TP dependente. CURSO E PROGNÓSTICO Acredita-se que a maioria dos casos de agorafobia seja causada por transtorno de pânico. Quando esse transtorno é tratado, a agorafobia muitas vezes melhora com o tempo. Para uma ↓ rápida e completa dessa condição, a terapia comportamental é, às vezes, indicada. Agorafobia sem uma história de TP é frequentemente incapacitante e crônica, e os transtornos depressivos e a dependência de álcool muitas vezes complicam seu curso. TRATAMENTO Farmacoterapia: Alprazolam e lorazepam (BZP) Os ISRSs ajudam a ↓ ou prevenir recaídas de várias formas de ansiedade, incluindo agorafobia. As principais vantagens dos antidepressivos ISRSs incluem o melhor perfil de segurança na superdosagem e efeitos colaterais mais toleráveis. ATDs (clomipramina e imipramina) também possuem boa eficácia. Psicoterapia: Psicoterapia de apoio; Psicoterapia orientada ao insight; TCC; Terapia virtual (avatares). FOBIA ESPECÍFICA O termo fobia refere-se a um medo excessivo de objeto, circunstância ou situação específicos. A fobia específica é um medo intenso e persistente de um objeto ou de uma situação. Deve haver ansiedade intensa, mesmo a ponto de pânico, na exposição ao objeto temido. Pessoas com essa fobia podem antecipar lesões, tal como serem mordidas por um cão, ou podem ficar em pânico ante o pensamento de perder o controle; p.ex., se têm medo de andar de elevador, tbm podem se preocupar com a possibilidade de desmaiar após a porta se fechar. EPIDEMIOLOGIA Um dos transtornos mentais + comuns nos EUA: ≈ 5 a 10% da população seja afetada. A prevalência ao longo da vida de fobia específica é de cerca de 10%. É o transtorno mais comum entre as mulheres e o 2º mais comum entre os homens, atrás apenas dos transtornos relacionados a substâncias. Sua prevalência em seis meses é de 5 a 10 por 100 pessoas. As taxas de fobias específicas em mulheres (14 a 16%) eram o dobro das dos homens (5 a 7%), embora a proporção seja mais próxima de 1 para 1 para o medo de sangue, injeção ou ferimentos. A idade de pico para o início das fobias do tipo ambiente natural e do tipo sangue-injeção-ferimentos é dos 5 aos 9 anos, ainda que possa ocorrer mais tarde. No entanto, a idade de pico para o início das fobias do tipo situacional (exceto para medo de altura) é mais alta, em torno dos 20 anos, idade mais próxima daquela para princípio de agorafobia. Os objetos e as situações temidos nas fobias específicas (listadas em frequência descendente de aparecimento) são animais, tempestades, altura, doença, ferimento e morte. Os relatos de comorbidade na fobia específica variam de 50 a 80% e são principalmente os de ansiedade, de humor e relacionados a substâncias. Fatores comportamentais. Condicionamento do medo: se um estímulo aversivo, como choque nas patas, for associado a um estímulo neutro, como uma campainha, o animal aprende a associar os dois e irá desenvolver medo quando ouvir a campainha. Em seres humanos, o medo é aprendido durante experiências estressantes associadas a trauma emocional e influenciado pela predisposição genética do pcte, bem como pela sua exposição prévia a estressores ambientais capazes de causar sensibilização dos circuitos cerebrais ao estresse (p. ex., abuso infantil). Com frequência, situações amedrontadoras são controladas com sucesso e, em seguida, esquecidas. Alguns medos são cruciais para a sobrevivência, como o medo diante de situações perigosas. Desse modo, o mecanismo do medo aprendido denomina-se condicionamento do medo, extremamente bem conservado nas espécies, como os seres humanos. Entretanto, outros medos “aprendidos” e não “esquecidos” podem, hipoteticamente, evoluir para um transtorno de ansiedade ou para um episódio depressivo maior. Isso representa um grande problema, já que quase 30% da população irá desenvolver um transtorno de ansiedade, devido, em grande parte, a ambientes estressantes. Na teoria clássica de estímulo-resposta, a ansiedade é um impulso que motiva o organismo a fazer o que puder para evitar o afeto doloroso. No curso desse comportamento aleatório, o organismo aprende que certas ações permitem que ele evite o estímulo provocador de ansiedade. Áreas cerebrais envolvidas: A amígdala está envolvida na “lembrança” dos vários estímulos associados a determinada situação amedrontadora. A amígdala tem função de integrar as informações sensoriais e cognitivas e, em seguida, determinar se haverá ou não resposta de medo. A resposta de medo tbm pode envolver respostas motoras, como reação de luta ou fuga, alterações na respiração, nos batimentos cardíacos, na liberação de alguns hormônios, etc, que tbm estão relacionados com a amígdala. O processamento da resposta de medo é regulado pelas numerosas conexões neuronais que fluem para dentro e para forada amígdala. Os sintomas ansiedade e medo estão associados à disfunção dos circuitos centrados na amígdala. Os neurotransmissores que regulam esses circuitos são a serotonina (5HT), ácido γ-aminobutírico (GABA), glutamato, fator de liberação da corticotrofina (CRF) e noradrenalina (NA), entre outros. Além disso, os canais iônicos controlados por voltagem estão envolvidos na neurotransmissão desses circuitos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ocorre desencadeamento de ansiedade grave quando as pessoas são expostas a situações ou objetos específicos ou mesmo quando antecipam a exposição às situações ou aos objetos. Há um medo irracional e egodistônico de uma situação, uma atividade ou um objeto específicos. Muitas vezes resultam em um ataque de pânico em indivíduos suscetíveis. Pessoas com fobias tentam evitar o estímulo fóbico; algumas passam muito trabalho para evitar situações que provocam ansiedade. P.ex., um pcte fóbico pode fazer longas viagens de ônibus, em vez de voar, p/ não entrar em contato com seu objeto da fobia, o avião. Talvez como outra forma de evitar o estresse do estímulo fóbico, muitos indivíduos têm transtornos relacionados a substâncias, principalmente álcool. DIAGNÓSTICO É clínico, baseado nos critérios diagnósticos do DSM-V, a seguir: A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento de agarrar-se. B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de medo ou ansiedade. C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com intensa ansiedade ou sofrimento. D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real imposto pelo objeto ou situação específica e ao contexto sociocultural. E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração mínima de 6 meses. F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. G. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL As condições médicas que podem resultar no desenvolvimento de uma fobia incluem uso de substâncias (em particular alucinógenos e simpatomiméticos), tumores do SNC e doenças cerebrovasculares. Nesses casos, sintomas fóbicos são improváveis na ausência de outros achados sugestivos nos exames físico, neurológico e mental. Esquizofrenia: os pacientes que a apresentam podem ter sintomas fóbicos como parte de suas psicoses. Entretanto, diferentemente dos pctes com esquizofrenia, aqueles com fobia têm consciência da irracionalidade de seus medos e não apresentam a qualidade bizarra e os outros sintomas psicóticos que acompanham a esquizofrenia. A diferenciação entre transtorno de pânico, agorafobia, fobia social e fobia específica pode ser difícil. Em geral, porém, pacientes com fobia específica tendem a experimentar ansiedade assim que se defrontam com o estímulo fóbico. Além disso, a ansiedade ou o pânico são limitados à situação identificada; os pctes não são ansiosos a esse nível quando não estão diante do estímulo fóbico ou quando não o antecipam. Outros diagnósticos diferenciais: hipocondria, TOC e transtorno da personalidade paranoide. Enquanto a hipocondria é o medo de ter uma doença, a fobia específica do tipo doença é o medo de contrair a doença. Alguns indivíduos com TOC manifestam comportamento que não pode ser diferenciado do de uma pessoa com fobia específica. P.ex., enquanto pctes com TOC podem evitar facas porque têm pensamentos compulsivos sobre matar seus filhos, os com fobia específica de facas podem evitá-las por medo de se cortarem. Pacientes com transtorno da personalidade paranoide têm um medo generalizado que os diferencia daqueles com fobia específica. FOBIA SOCIAL / TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL Medo de situações sociais, que envolvem contato com estranhos. Os pctes temem se embaraçar em situações sociais (como reuniões sociais, apresentações orais, encontro com pessoas novas). Podem ter medo de realizar determinadas atividades, como comer ou falar na frente dos outros, ou podem experimentar um medo vago e inespecífico de “embaraçar-se”. O medo é do embaraço que pode ocorrer na situação, não da situação em si. EPIDEMIOLOGIA Vários estudos relataram uma prevalência ao longo da vida variando de 3 a 13%. A prevalência em seis meses é de aproximadamente 2 a 3 por 100 pessoas. A idade de pico de início é na adolescência, embora seja comum dos 5 aos 35 anos. As pessoas com fobia social podem ter história de outros transtornos de ansiedade, transtornos do humor, transtornos relacionados a substâncias e bulimia nervosa. Em geral, são encontradas taxas mais ↑ de fobia social em indivíduos do sexo feminino do que nos do masculino na população em geral, mas as taxas de gênero são equivalentes ou um pouco mais altas para o sexo masculino nas amostras clínicas, e presume-se que os papéis de gênero e as expectativas sociais desempenham influência no maior comportamento de busca de ajuda nesses pctes. ETIOLOGIA Estudos mostraram que algumas crianças possivelmente tenham um traço consistente de inibição comportamental. Esse traço pode ser mais comum nos filhos de pais com transtorno de pânico e pode se desenvolver para timidez grave à medida que crescem. Estudos psicológicos indicaram que os pais de pessoas com fobia social foram menos carinhosos, mais rejeitadores e mais superprotetores de seus filhos do que outros pais. Fatores neuroquímicos: o sucesso dos ttos farmacológicos na fobia social gerou duas hipóteses neuroquímicas específicas sobre dois tipos de transtorno de ansiedade social. Especificamente, a utilização de antagonistas dos receptores β-adrenérgicos – p.ex., propranolol – para as fobias de desempenho (p. ex., falar em público) levou ao desenvolvimento de uma teoria adrenérgica para essas fobias. Pctes com fobias de desempenho podem liberar mais norepinefrina ou epinefrina, tanto central como perifericamente, do que pessoas não fóbicas, ou podem ser sensíveis a um nível normal de estimulação adrenérgica. Fatores genéticos: Parentes em 1º grau de pessoas com transtorno de ansiedade social têm cerca de 3x mais probabilidade de ser afetados. Gêmeos monozigóticos >> dizigóticos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O indivíduo teme agir ou aparecer de certa forma ou demonstrar sintomas de ansiedade, tais como ruborizar, tremer, transpirar, tropeçar nas palavras, que serão avaliados negativamente pelos demais. Um indivíduo com medo de tremer as mãos pode evitar beber, comer, escrever ou apontar em público; um com medo de transpirar pode evitar apertar mãos ou comer alimentos picantes; e um com medo de ruborizar pode evitar desempenho em público, luzes brilhantes ou discussão sobre tópicos íntimos. Alguns têm medo e evitam urinar em banheiros públicos quando outras pessoas estão presentes (i.e., parurese, ou “síndrome da bexiga tímida”). Um indivíduo que fica ansioso apenas ocasionalmente em situações sociais não seria diagnosticado com fobia social. Entretanto, o grau e o tipo de medo e ansiedade podem variar (p. ex., ansiedade antecipatória, ataque de pânico) em diferentes ocasiões. A ansiedade antecipatória pode ocorrer às vezes muito antes das próximas situações (p. ex., preocupar-se todos os dias durante semanas antes de participar de um evento social, repetir antecipadamente um discurso por dias). A esquiva da situação social pode ser abrangente (p. ex., não ir a festas, recusar a escola) ou sutil (p. ex., preparando excessivamente o texto de um discurso, desviando a atenção para os outros, limitando o contato visual). Os indivíduos com fobia social podem ser inadequadamente assertivos ou muito submissos. Podem mostrar uma postura corporal rígida ou contato visual inadequado ou falar com voz extremamente suave.Podem ser tímidos ou retraídos e ser menos abertos em conversas e revelar pouco a seu respeito. Podem procurar emprego em atividades que não exigem contato social. Podem sair da casa dos pais mais tarde. Os homens podem retardar o casamento e a paternidade, enquanto as mulheres que gostariam de trabalhar fora de casa podem viver uma vida inteira como donas de casa. A automedicação com substâncias é comum (p. ex., beber antes de ir a uma festa). A ansiedade social entre adultos mais velhos tbm pode incluir a exacerbação de sintomas de doenças médicas, como tremor aumentado ou taquicardia. O rubor é a resposta física característica do transtorno de ansiedade social. DIAGNÓSTICO É clínico, baseado nos critérios diagnósticos do DSM-V, a seguir: A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Nota: Em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, e não apenas em interações com adultos. B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo- se ou fracassando em falar em situações sociais. D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural. F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de 6 meses. G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica. I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental. J. Se outra condição médica (p. ex., doença de Parkinson, obesidade, desfiguração por queimaduras ou ferimentos) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente não relacionado ou é excessivo. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Timidez normal - quando existe um impacto adverso significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo, um diagnóstico de fobia social deve ser considerado. Agorafobia – essas pessoas podem ter medo ou evitar situações sociais (p. ex., ir ao cinema) porque escapar pode ser difícil ou o auxílio pode não estar disponível no caso de incapacitação ou sintomas do tipo pânico, enquanto os indivíduos com fobia social têm mais medo da avaliação dos outros. Aqueles com fobia social ficam normalmente calmos quando deixados inteiramente sozinhos, o que com frequência não é o caso na agorafobia. Transtorno de pânico – Os indivíduos com fobia social podem ter ataques de pânico, mas a preocupação está relacionada ao medo de avaliação negativa, enquanto no transtorno de pânico a preocupação se relaciona aos próprios ataques de pânico. Transtorno de ansiedade generalizada – Preocupações sociais são comuns no TAG, mas o foco é mais na natureza das relações existentes do que no medo de avaliação negativa. Os indivíduos com TAG podem ter preocupações excessivas acerca da qualidade do seu desempenho social, mas essas preocupações tbm são pertinentes ao desempenho não social e a quando o indivíduo não está sendo avaliado pelos outros. No transtorno de ansiedade social, as preocupações focam no desempenho social e na avaliação dos demais. Transtorno de ansiedade de separação – Os indivíduos com transtorno de ansiedade de separação podem evitar contextos sociais (incluindo recusa à escola) devido às preocupações de serem separados das figuras de apego ou, em crianças, por demandarem a presença de um dos pais quando essa exigência não é apropriada ao seu estágio de desenvolvimento. Geralmente ficam confortáveis em contextos sociais quando sua figura de apego está presente ou quando estão em casa, enquanto aqueles com transtorno de ansiedade social podem ficar desconfortáveis quando ocorrem situações sociais em casa ou na presença das figuras de apego. Fobias específicas – Os indivíduos com fobias específicas podem ter medo de constrangimento ou humilhação (p. ex., vergonha de desmaiar quando lhes é tirado sangue), mas geralmente não têm medo de avaliação negativa em outras situações sociais. Transtorno depressivo maior – Indivíduos deprimidos podem se preocupar em serem avaliados negativamente pelos outros porque acham que são maus ou não merecedores de que gostem deles. Aqueles com fobia social preocupam- se em serem avaliados negativamente devido a certos comportamentos sociais ou sintomas físicos. Transtorno dismórfico corporal – Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal preocupam-se com a percepção de um ou mais defeitos ou falhas em sua aparência física que não são observáveis ou parecem leves para os outros; essa preocupação frequentemente causa ansiedade social e esquiva. Se seus medos e a esquiva social são causados apenas por suas crenças sobre sua aparência, um diagnóstico separado de fobia social não se justifica. Transtorno delirante – Os indivíduos com transtorno delirante podem ter delírios e/ou alucinações não bizarros relacionados ao tema delirante que foca em ser rejeitado por ou em ofender os outros. Embora a extensão do insight das crenças acerca das situações sociais possa variar, muitos indivíduos com transtorno de ansiedade social têm bom insight de que suas crenças são desproporcionais à ameaça real apresentada pela situação social. Transtorno do espectro autista (TEA) – Ansiedade social e déficits na comunicação social são características do TEA. Os indivíduos com fobia social geralmente têm relações sociais adequadas à idade e capacidade de comunicação, embora possam parecer ter prejuízo nessas áreas quando inicialmente interagem com pessoas ou adultos estranhos. Transtornos da personalidade – Dado seu frequente início na infância e sua persistência durante a idade adulta, a fobia social pode se parecer com o transtorno da personalidade evitativa. Os indivíduos com esse transtorno têm um padrão mais amplo de esquiva do que aqueles com fobia social. Outras condições médicas – Condições médicas podem produzir sintomas constrangedores (p. ex., tremor na doença de Parkinson). Quando o medo de avaliação negativa devido a outras condições médicas é excessivo, um diagnóstico de transtorno de ansiedade social deve ser considerado. TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO O transtorno de ansiedade de separação está entre os quadros psiquiátricos mais comuns na infância e na adolescência. Caracteriza-se pelo medo excessivo acerca da separação dos pais ou seus substitutos ou de sua casa. Ocorre um apego excessivo a seus cuidadores, evitando o afastamento deles ou telefonando repetidamente como forma de assegurar seu bem-estar. No DSM-5, esse transtorno passou a fazer parte do grupo de TA e passou a ser possível diagnosticá-lo após os 18 anos. MUTISMO SELETIVO Trata-se de um transtorno bastante raro da infância, caracterizado pela capacidade de compreender a linguagem e de falar, mas de não o fazer em certas situações. Crianças com mutismo seletivo podem ter desempenho escolar inferior e comprometimento dos relacionamentos em razão da falta da fala. Em geral, é diagnosticado na pré-escola, quando se espera que a criança comece a interagir em um ambiente mais amplo. Em vez de se comunicarem pela verbalização, essas crianças o fazem por gestos, acenos ou balanços de cabeça, puxando ou empurrando ou, em alguns casos, por monossílabos ou sussurros. Um ponto críticopara o diagnóstico é estabelecer se há ou não anormalidade significativa da compreensão ou da produção da linguagem que possa levar ao mutismo. Na maioria dos casos, o exame neurológico e audiológico são normais. Geralmente, não se encontram complicações perinatais graves, mas pequenas anormalidades do desenvolvimento podem estar presentes, inclusive no desenvolvimento da aquisição da linguagem. Apresentam, muitas vezes, timidez excessiva, medo de embaraço social, isolamento social, negativismo, ataques de ira ou comportamento controlador ou opositor, particularmente em casa. Pode haver um intenso comprometimento do funcionamento social e escolar. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) Definido como ansiedade e preocupação excessivas com vários eventos ou atividades na maior parte dos dias durante um período de pelo menos seis meses. A preocupação é difícil de controlar e está associada com sintomas somáticos, como tensão muscular, irritabilidade, dificuldade para dormir e inquietação. Ela é difícil de controlar, é subjetivamente perturbadora e compromete áreas importantes da vida da pessoa. EPIDEMIOLOGIA A proporção de mulheres para homens com o transtorno é de aproximadamente 2 para 1. A prevalência ao longo da vida é de 5 a 8%. Em clínicas de transtorno de ansiedade, cerca de 25% dos pctes têm TAG. Em geral, começa no fim da adolescência ou início da vida adulta, mas pode ocorrer em adultos mais velhos. Comorbidades extremamente comuns: fobia social, fobia específica, transtorno de pânico, transtorno depressivo, distimia e transtorno de uso de substâncias. Talvez 50 a 90% dos pctes com TAG tenham outro transtorno mental. Até 25% dos pctes experimentam, por fim, transtorno de pânico. ETIOLOGIA Genético – Cerca de 25% dos parentes em 1º grau de pctes com esse transtorno tbm são afetados. Os parentes masculinos têm probabilidade de desenvolver um transtorno por uso de álcool. Estudos de gêmeos relatam uma taxa de concordância de 50% em gêmeos monozigóticos e de 15% nos dizigóticos. A preocupação, que pode envolver o sofrimento ansioso, as expectativas apreensivas, o pensamento catastrófico e as obsessões, está ligada a alças de retroalimentação corticoestriadotalamocorticais (CETC) do córtex pré- frontal. Vários neurotransmissores e reguladores modulam esses circuitos: serotonina, GABA, dopamina, noradrenalina, glutamato e canais iônicos regulados por voltagem. Os benzodiazepínicos agiriam como ansiolíticos pq modulariam os impulsos excessivos das alças da preocupação, ↑ as ações dos interneurônios inibitórios nos circuitos CETC (como o GABA) e ↓ o sintoma preocupação. A serotonina inerva a amígdala e os elementos do circuito CETC, isto é, o córtex pré-frontal, o estriado e o tálamo. Portanto, ela está envolvida na regulação tanto do medo quanto da preocupação capazes de ↑ os estímulos serotoninérgicos por meio do bloqueio do transportador de serotonina (efetivos na ↓ dos sintomas de ansiedade e do medo em todos os transtornos de ansiedade). Esses agentes são os ISRS. Fatores comportamentais: De acordo com a escola cognitivo-comportamental, indivíduos com TAG respondem de forma incorreta e imprecisa aos perigos percebidos. Isso é gerado pela atenção seletiva a detalhes negativos no ambiente, por distorções no processamento de informações e por uma visão global negativa sobre a própria capacidade de enfrentar os problemas. A escola psicanalítica postula a hipótese de que a ansiedade é um sintoma de conflitos inconscientes não resolvidos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ansiedade e preocupação contínuas e excessivas acompanhadas por tensão ou inquietação motora. Pode haver tremores, contrações, abalos e dores musculares, nervosismo ou irritabilidade associados a tensão muscular. Muitos indivíduos com TAG também experimentam sintomas somáticos (p. ex., sudorese, náusea, diarreia) e uma resposta de sobressalto exagerada. Outras condições que podem estar associadas ao estresse (p. ex., síndrome do intestino irritável, cefaleia) frequentemente acompanham o transtorno. DIAGNÓSTICO É clínico, baseado nos critérios diagnósticos do DSM-V, a seguir: A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos 6 meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). Nota: Apenas 1 item é exigido para crianças. 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. Não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de estresse pós- traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Transtorno de ansiedade devido a outra condição médica - esse diagnóstico deve ser dado se a ansiedade e a preocupação são consideradas, com base na história, em achados laboratoriais ou em exame físico, efeito fisiológico de outra condição médica específica (p. ex., feocromocitoma, hipertireoidismo). Transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento - esse transtorno se diferencia do TAG pelo fato de que uma substância ou medicamento (p. ex., droga de abuso, exposição a uma toxina) está etiologicamente relacionada com a ansiedade. P.ex., a ansiedade grave que ocorre apenas no contexto de consumo pesado de café seria diagnosticada como transtorno de ansiedade induzido por cafeína. Transtorno de ansiedade social - esses indivíduos frequentemente têm ansiedade antecipatória que está focada nas próximas situações sociais em que devem apresentar um desempenho ou ser avaliados por outros, enquanto aqueles com TAG se preocupam independentemente de estarem ou não sendo avaliados. Transtorno obsessivo-compulsivo - no TAG, o foco da preocupação são os problemas que estão por vir, e a anormalidade é o excesso de preocupação acerca dos eventos futuros. No TOC, as obsessões são ideias inadequadas que assumem a forma de pensamentos, impulsos ou imagens intrusivos e indesejados. Transtorno de estresse pós-traumático e transtornos de adaptação - a ansiedade está invariavelmente presente no TEPT. TAG não é diagnosticado se a ansiedade e a preocupação são mais bem explicadas por sintomas de TEPT. A ansiedade tbm pode estar presente no transtorno de adaptação, mas essa categoria residual deve ser usada apenas quando os critérios não são satisfeitos para qualquer outro transtorno (incluindo o TAG). Além disso, nos transtornos de adaptação, a ansiedade ocorre em resposta a um estressor identificável dentro de três meses do início do estressor e não persistepor mais de seis meses após o término do estressor e das suas consequências. Transtornos depressivo, bipolar e psicótico - A ansiedade generalizada/medo é uma característica em geral associada dos transtornos depressivo, bipolar e psicótico e não deve ser diagnosticada separadamente se a preocupação excessiva ocorreu exclusivamente durante o curso dessas condições. TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE O tto dos transtornos de ansiedade é com antidepressivos, na seguinte ordem de preferência: ISRS, IRSN, ADT. Porém, para uma resposta mais rápida, pode-se utilizar os benzodiazepínicos. O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um dos neurotransmissores essenciais envolvidos na ansiedade e na ação ansiolítica de muitos fármacos usados no tto dos transtornos de ansiedade. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, que normalmente desempenha um papel regulador importante na ↓ da atividade de numerosos neurônios, como os da amígdala e os das alças CETC. Os benzodiazepínicos atuam ao intensificar as ações do GABA na amígdala e no córtex pré-frontal, nas alças CETC, para aliviar a ansiedade. Porém, os benzodiazepínicos são muito viciantes, logo, devem ser utilizados durante o menor tempo possível, para evitar que a dependência seja desencadeada, e, como a ansiedade é um transtorno crônico, deve-se associar com o antidepressivo. Ex. de Benzodiazepínicos: clonazepam, diazepam, alprazolam, lorazepam, clobazam. A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) tbm é muito interessante no tto. TRANSTORNO MISTO DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO Esse transtorno descreve pctes com sintomas tanto de ansiedade quanto de depressão que não satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno de ansiedade e um transtorno do humor. A combinação de sintomas de ansiedade e depressão resulta em comprometimento funcional significativo para a pessoa afetada. EPIDEMIOLOGIA É comum a coexistência de transtorno depressivo maior e transtorno de pânico. Até 2/3 de todos os pctes com sintomas depressivos apresentam sintomas de ansiedade proeminentes, e 1/3 pode satisfazer os critérios diagnósticos para transtorno de pânico. Pesquisadores revelam que 20 a 90% de todos os pctes com transtorno de pânico têm episódios de transtorno depressivo maior. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos para transtorno misto de ansiedade e depressão requerem a presença de sintomas subsindrômicos tanto de ansiedade como de depressão e de alguns sintomas autonômicos, como tremor, palpitações, boca seca e a sensação de “reviravolta” no estômago. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Transtornos de ansiedade, transtorno depressivo maior, distimia, transtornos da personalidade esquivo, dependente e obsessivo-compulsivo. Os sinais prodrômicos da esquizofrenia podem se apresentar como um quadro misto de ansiedade e depressão crescentes com consequente início de sintomas psicóticos. TRATAMENTO Semelhante ao tto dos outros transtornos de ansiedade primários. Referências: Kaplan 2017 Stahl 2014 DMS 5 Problema 7: TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE O TDAH é uma condição neuropsiquiátrica que afeta pré-escolares, crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo. Tem como característica um padrão de ↓ sustentada no nível de atenção e uma intensificação na impulsividade ou hiperatividade. Com frequência, pctes com TDAH apresentam deficiências significativas na função acadêmica e em situações sociais e interpessoais. Costuma estar associado a transtornos comórbidos (da aprendizagem, de ansiedade, do humor e do comportamento disruptivo). EPIDEMIOLOGIA O TDAH afeta entre 5 a 8% das crianças em idade escolar; 60 a 85% dos indivíduos diagnosticados quando crianças continuam a atender aos critérios para o transtorno na adolescência, e até 60% permanecem sintomáticos na vida adulta. A taxa nessa população adulta é de 2,5%. A taxa de incidência em pais e irmãos de crianças com o transtorno é 2-8x ↑ que na população em geral. É mais prevalente em meninos >> meninas (2:1 até 9:1). Os parentes em 1º grau correm um risco ↑ de desenvolver este e outros transtornos psiquiátricos, incluindo os do comportamento disruptivo, os de ansiedade e depressivos. Os pais de crianças com a doença apresentam uma ↑ incidência de transtornos por uso de substâncias. Com frequência, os sintomas de crianças com TDAH surgem aos 3 anos de idade, porém, a não ser que eles sejam muito graves, o diagnóstico não é feito até que a criança esteja no jardim de infância ou na escola elementar, quando as informações dos professores poderão ser comparadas aos dados dos pares com a mesma idade. ETIOLOGIA As evidências disponíveis, apontam para um caráter multifatorial, tanto de natureza ambiental como genética. O componente genético (hereditariedade ≈ 75%) é um dos mais envolvidos. Seus sintomas resultam de interações complexas dos sistemas neuroanatômicos e neuroquímicos. A maior parte das crianças com TDAH não apresenta evidências de danos estruturais graves no SNC. Nenhum dos fatores de risco identificados até o momento parece ser necessários para o desenvolvimento do TDAH, bem como se mostram inespecíficos, já que associam-se com outros transtornos mentais e alterações do neurodesenvolvimento. • Fatores genéticos Concordância em gêmeos monozigóticos >> dizigóticos. Risco ↑ de 2-8x para irmãos e pais de crianças com TDAH. Sob o ponto de vista clínico, um irmão pode apresentar sintomas de impulsividade/hiperatividade, e outros sintomas de desatenção. Até 70% das crianças com TDAH preenchem os critérios de algum transtorno psiquiátrico comórbido, incluindo transtornos da aprendizagem, de ansiedade, do humor, da conduta e por uso de substância. Mudanças no DSM-5 Antes era necessária a presença dos sintomas de TDAH na idade de 7 anos; atualmente, é imprescindível a presença de “diversos sintomas de déficit de atenção e de hiperatividade e impulsividade” aos 12 anos. Antes, havia 2 subtipos: tipo envolvendo déficit de atenção e tipo hiperativo/impulsivo. Entretanto, no DSM-5, esses subtipos foram substituídos por 3 especificadores que, em essência, denotam os mesmos grupos: (1) apresentação combinada; (2) apresentação predominantemente desatenta; (3) apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva. As alterações adicionais feitas no DSM-5 permitem fazer diagnóstico de TDAH e do transtorno do espectro autista comórbidos. Por fim, no manual, para adolescentes ≥ 17 anos e adultos são necessários apenas 5, e não 6, sintomas de desatenção ou hiperatividade e impulsividade. Hipóteses propostas sobre o modo de transmissão de TDAH: relacionada ao sexo → possivelmente explica o ↑ significativo na incidência em indivíduos do sexo masculino; interação de vários genes → estudos mostraram associação entre o gene transportador de dopamina (DAT1) e TDAH (essa hipótese ainda não está confirmada). • Fatores neuroquímicos Há associação entre diversos neurotransmissores e sintomas de TDAH. A dopamina é o foco principal das investigações clínicas. O córtex pré-frontal, que está envolvido na atenção e regulação do controle de impulsos, tbm é alvo dos estudos. Estudos com animais mostraram que outras regiões do cérebro, como o locus ceruleus (tem predomínio de neurônios noradrenérgicos), tbm têm uma função importante na atenção. O sistema noradrenérgico inclui o sistema central (com origem no locus ceruleus) e o sistema simpático periférico. Qualquer disfunção na epinefrina periférica, que provoca o acúmulo periférico do hormônio, tem um grande potencial para realimentar o sistema central e “reajustar” o locus ceruleus para um nível mais baixo. Os estimulantes, que reconhecidamente são os agentes mais eficazes no tto de TDAH, afetam a dopamina e a norepinefrina, levando à hipótese de que os neurotransmissores podem adicionar disfunções aos sistemas adrenérgico e dopaminérgico. Os estimulantes ↑ as concentrações das catecolaminas,promovendo sua liberação e bloqueando sua reabsorção. • Fatores neurofisiológicos Alguns estudos eletroencefalográficos em crianças/adolescentes encontraram evidências de ↑ de atividade na faixa de frequência teta, principalmente nas regiões frontais. Estudos posteriores em jovens com o transtorno produziram dados mostrando atividade beta ↑ nos achados eletroencefalográficos. Estudos mostraram que as crianças afetadas por TDAH, com tipos combinados do transtorno, foram as que apresentaram atividade beta significativamente mais ↑, tendo estudos posteriores indicado que esses jovens tbm tendem a apresentar ↑ na labilidade do humor e ataques de mau humor. • Aspectos neuroanatômicos Estudos levantaram a hipótese da existência de redes cerebrais que promovem componentes da atenção, incluindo foco, atenção sustentada e mudança de atenção. Foram descritas correlações neuroanatômicas entre: − Córtex superior e temporal, focalizando a atenção; − Regiões parietal e estriatal externas com funções motoras executivas; − Hipocampo com codificação de traços de memória; − Córtex pré-frontal, deslocando-se de um estímulo para outro. Outras hipóteses sugerem o envolvimento do tronco cefálico, que contém a função do núcleo talâmico reticular na atenção sustentada. Uma revisão das imagens por RM, PET e SPECT indica que crianças com TDAH apresentam ↓ de volume e atividade nas regiões pré-frontais, cingulado anterior, globo pálido, caudado, tálamo e cerebelo. Insuficiências nos circuitos do córtex pré-frontal e amígdala, a partir da neurotransmissão das catecolaminas, resultam nos sintomas de esquecimento, distratibilidade, impulsividade e desorganização. As varreduras por PET mostraram tbm que adolescentes do sexo feminino com TDAH apresentam um ↓metabolismo da glicose total, em comparação aos grupos-controle de garotos e garotas sem o transtorno. Uma das teorias postula que os lobos frontais de crianças com TDAH não inibem de forma adequada as estruturas cerebrais inferiores, efeito que leva a desinibição. • Fatores relacionados ao desenvolvimento As taxas de TDAH ↑ em: exposições tóxicas pré-natais (álcool, tabaco), prematuridade, insulto mecânico pré-natal ao sistema nervoso fetal, condições psicológicas maternas durante a gestação, duração do aleitamento materno, infecções na gestação. Os relatos da literatura indicam que, no hemisfério norte, no mês de setembro, ocorre um pico de nascimentos de crianças afetadas por TDAH. Acredita-se que a exposição pré-natal às infecções típicas de inverno durante o 1º trimestre de gestação possa contribuir para o surgimento de sintomas de TDAH em crianças mais suscetíveis. O uso de substâncias como aditivos alimentares, corantes, preservativos e açúcar pode ser uma das causas dos comportamentos hiperativos, embora nenhum estudo tenha confirmado essas teorias. Não há evidências claras de que os ácidos graxos ricos em ômega 3 sejam benéficos no tto de TDAH. • Fatores psicossociais Fatores como abuso crônico grave, maus-tratos e negligência estão associados a determinados sintomas comportamentais que se sobrepõem ao TDAH, incluindo falta de atenção e controle precário dos impulsos. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2): 1. Desatenção: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos 6 meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (≥ 17 anos), pelo menos 5 sintomas são necessários. a. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p. ex., negligencia ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). b. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (p. ex., dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas). c. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (p. ex., parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia). d. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (p. ex., começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo). e. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (p. ex., dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos). f. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex., trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos). g. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular). h. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados). i. Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (p. ex., realizar tarefas, obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados). 2. Hiperatividade e impulsividade: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos 6 meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos 5 sintomas são necessários. a. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. b. Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (p. ex., sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar). c. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.) d. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente. e. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p. ex., não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar). f. Frequentemente fala demais. g. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (p. ex., termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar). h. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (p. ex., aguardar em uma fila). i. Frequentemente interrompe ou se intromete (p. ex., mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo). B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade. C. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes (p. ex., em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; em outrasatividades). D. Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno da personalidade, intoxicação ou abstinência de substância). DETERMINAR O SUBTIPO: Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. Apresentação predominantemente desatenta: Se o Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. ESPECIFICAR A GRAVIDADE ATUAL: Leve: Poucos sintomas, se algum, estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais do que pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional. Moderada: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave” estão presentes. Grave: Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes, ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional. CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS Em algumas situações (p. ex., na escola), a hiperatividade pode ser mais grave, menos acentuada em outras (p. ex., entrevistas individuais) e menos óbvia em atividades recreativas estruturadas (esportes). Em geral, essas crianças agem de maneira impulsiva, são instáveis sob o ponto de vista emocional, são explosivas, não conseguem manter o foco e são irritáveis. Crianças com predominância de hiperatividade possivelmente são encaminhadas para tto antes daquelas que têm déficit de atenção como sintoma principal. Com frequência, transtornos linguísticos específicos nas áreas de leitura, aritmética, linguagem e escrita ocorrem em associação com TDAH. A história escolar e os relatórios dos professores são de extrema importância para avaliar se as dificuldades de aprendizagem e o comportamento na escola são causados principalmente por desatenção ou pelo comprometimento da compreensão do material acadêmico. Além das limitações intelectuais, o mau desempenho escolar pode resultar de problemas de amadurecimento, rejeição social, transtornos do humor, ansiedade ou autoestima ↓ em razão dos transtornos da aprendizagem. O exame neurológico pode revelar presença de deficiências ou de imaturidade discriminatória visual, motora, perceptiva ou auditiva, sem sinais manifestos de distúrbios visuais ou auditivos. Crianças com TDAH costumam enfrentar problemas de coordenação motora e têm dificuldades para encaixar cópias das figuras apropriadas, problemas de alternação rápida de movimentos, de discriminação do lado direito e esquerdo, ambidestria, de assimetrias reflexas e de uma grande variedade de sinais neurológicos sutis. Nas situações em que houver indicações de episódios de ausência, os médicos devem encaminhar o pcte para o neurologista → excluir a hipótese de transtornos convulsivos. Uma criança com foco convulsivo não identificado no lobo temporal tem probabilidade de apresentar perturbações comportamentais que podem se assemelhar àquelas dos casos de TDAH. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O TDAH pode iniciar na primeira infância, embora raras vezes seja reconhecido até a idade em que a criança começa a andar. Em geral, os lactentes com esse transtorno são ativos no berço, dormem pouco e choram bastante. Na escola, crianças com TDAH podem se engajar rapidamente em um teste, porém respondem apenas às duas primeiras perguntas. Elas costumam não ter paciência para esperar a chamada e respondem antes de qualquer outra pessoa. Em casa, não conseguem esperar nem sequer por um minuto. Impulsividade e incapacidade para esperar elogios são reações típicas. Com frequência, são suscetíveis a acidentes. As características mais citadas de crianças com TDAH em ordem de frequência são: 1. Hiperatividade 2. Déficit de atenção (memória curta) 3. Distração 4. Perseverança 5. Incapacidade para concluir tarefas 6. Desatenção 7. Má concentração 8. Impulsividade (agir antes de pensar, mudanças súbitas de ativ, falta de organização, dar pulos na sala de aula) 9. Déficits de memória e de raciocínio 10. Incapacidade de aprendizagens específicas 11. Deficiências na fala e na audição Em geral, as características associadas tbm incluem deficiência motora perceptiva, instabilidade emocional e transtorno da coordenação do desenvolvimento. Um percentual significativo de crianças com TDAH apresenta sintomas comportamentais de agressão e desafio. Geralmente, as dificuldades escolares, tanto de aprendizagem quanto comportamentais coexistem com o TDAH. Os transtornos comórbidos da comunicação ou da aprendizagem que dificultam a aquisição, retenção e a exibição de conhecimentos complicam o curso do transtorno. Patologia e exames laboratoriais A avaliação de crianças para verificar a presença de TDAH deve incluir história médica e psiquiátrica detalhadas. As informações pré-natais, perinatais e da primeira infância devem estar inclusas. Informações sobre eventuais complicações maternas durante a gestação tbm são muito importantes. Problemas médicos que podem produzir sintomas que se sobrepõem ao TDAH: epilepsia de petit mal, deficiências auditivas e visuais, anormalidades tireoidianas e hipoglicemia. É imprescindível obter uma história cardíaca completa, incluindo uma investigação sobre a incidência de síncope ao longo da vida, história familiar de morte súbita e exame cardíaco da criança. Nenhuma medida laboratorial específica é patognomônica do TDAH. Diagnóstico Diferencial Transtorno de oposição desafiante. Esses indivíduos podem resistir a tarefas profissionais ou escolares que exijam autodeterminação porque resistem a se conformar às exigências dos outros. Seu comportamento caracteriza-se por negatividade, hostilidade e desafio. Tais sintomas diferem de aversão à escola ou a tarefas de ↑ exigência mental causadas por dificuldade em manter um esforço mental prolongado, esquecimento de orientações e impulsividade que caracteriza os indivíduos com TDAH. Transtorno explosivo intermitente. Esses indivíduos apresentam agressividade importante dirigida aos outros, o que não é característico do TDAH, e não têm problemas em manter a atenção como se vê no TDAH. O transtorno explosivo intermitente é raro na infância. Pode ser diagnosticado na presença de TDAH. Transtorno específico da aprendizagem. Essas crianças podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse ou capacidade limitada. A desatenção, no entanto, em pessoas com um transtorno específico da aprendizagem, mas sem TDAH, não acarreta prejuízos fora dos trabalhos acadêmicos. Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual). Sintomas de TDAH são comuns entre crianças colocadas em ambientes acadêmicos inadequados à sua capacidade intelectual. Nesses casos, os sintomas não são evidentes durante tarefas não acadêmicas. Um diagnóstico de TDAH na deficiência intelectual exige que desatenção ou hiperatividade sejam excessivas para a idade mental. Transtorno do espectro autista. A disfunção social e a rejeição pelos pares encontradas em pessoas com TDAH devem ser diferenciadas da falta de envolvimento social, do isolamento e da indiferença a pistas de comunicação faciais e de tonalidade encontrados em indivíduos com transtorno do espectro autista. Crianças com transtorno do espectro autista podem ter ataques de raiva devido a incapacidade de tolerar mudanças no curso dos eventosesperado por elas. Em contraste, crianças com TDAH podem se comportar mal ou ter um ataque de raiva durante alguma transição importante devido a impulsividade ou autocontrole insatisfatório. Transtornos de ansiedade. Indivíduos com TDAH são desatentos por causa de sua atração por estímulos externos, atividades novas ou predileção por atividades agradáveis. Isso é diferente da desatenção por preocupação e ruminação encontrada nos transtornos de ansiedade. Agitação pode ser encontrada em transtornos de ansiedade. No TDAH, todavia, o sintoma não está associado a preocupação e ruminação. Transtornos depressivos. Esses indivíduos podem se apresentar com incapacidade de se concentrar. Entretanto, a dificuldade de concentração nos transtornos do humor fica proeminente apenas durante um episódio depressivo. Transtorno bipolar. Esses indivíduos podem ter ↑ da atividade, dificuldade de concentração e ↑ na impulsividade. Essas características são episódicas, ocorrendo por vários dias de cada vez e acompanhadas por humor ↑, grandiosidade e outras características bipolares específicas. Transtorno por uso de substância. Diferenciar o TDAH dos transtornos por uso de substância pode ser um problema se a primeira apresentação dos sintomas do TDAH ocorrer após o início do abuso ou do uso frequente. Evidências claras de TDAH antes do uso problemático de substâncias, obtidas por meio de informantes ou registros prévios, podem ser essenciais para o diagnóstico diferencial. TRATAMENTO Em geral, pacientes TDAH são incapazes de ativar adequadamente as áreas do córtex pré-frontal em resposta a tarefas cognitivas de atenção e função executiva. Estudos sugerem que essa dificuldade resulte da desregulação da dopamina (DA) e da noradrenalina (NA) no TDAH, que impede a “sintonização” normal dos neurônios piramidais no córtex pré-frontal. No córtex, a estimulação excessiva ou deficiente pela NA ou pela DA pode causar o processamento ineficiente de informações, pois, para que o córtex pré-frontal funcione adequadamente, é preciso que os neurônios piramidais corticais estejam sintonizados, o que significa a necessidade de estimulação moderada de receptores específicos pela NA e pela DA, ou seja, nem excessivamente ↑, nem excessivamente ↓. Teoricamente, o papel da NA consiste em ↑ o sinal de entrada, possibilitando maior conectividade das redes pré- frontais, enquanto o papel da DA consiste em ↓ o ruído, impedindo a ocorrência de conexões inapropriadas. A estimulação moderada e equilibrada dos receptores α2A e D1 é de importância fundamental para a interpretação correta de determinado sinal.
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