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GESTÃO DA QUALIDADE HOSPITALAR Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autora: Carla Eunice Gomes Corrêa CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenadora da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Sofia Eliane dos Santos Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Revisão Pedagógica: Ivan Tesck Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 362.11068 C824g Corrêa, Carla Eunice Gomes Gestão da qualidade hospitalar / Carla Eunice Gomes Corrêa. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 96 p. : il. ISBN 978-85-69910-28-2 1. Administração de Hospital. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Carla Eunice Gomes Corrêa Doutora em Ciência e Tecnologia Ambiental pela UNIVALI (2014), Mestre em Desenvolvimento Regional pela FURB (2008), Especialista em Gestão e Educação Ambiental pela UNIASSELVI (2010), Especialista em Formação Integrada Multiprofissional em Educação Permanente em Saúde pela UFRGS (2015), MBA em Gestão Hospitalar (UNINTER) e Graduada em Ciências Econômicas pela FURB (2004). Membro dos Grupos de Pesquisa: Análise Ambiental através do Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Gestão em Saúde Pública e PRAESA-SC. Atualmente, é docente na Universidade Regional de Blumenau (FURB), nos cursos de graduação em Ciências Econômicas e Medicina Veterinária; UNIASSELVI NEAD, UNIASSELVI Pós-graduação na área de gestão e saúde. Atua nas áreas de gestão ambiental; economia do meio ambiente; saúde ambiental; responsabilidade socioambiental; economia da saúde e gestão hospitalar. Possui experiência no ensino da área da saúde, projetos de residência médica e captação de recursos para instituições de saúde. Autora dos cadernos de estudos para graduação: Gestão e Qualidade Hospitalar, Desenvolvimento e Planejamento em Saúde, Hotelaria e Arquitetura Hospitalar. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Conceitos e princípios da qualidade ....................................9 CAPÍTULO 2 Acreditação hospitalar ........................................................25 CAPÍTULO 3 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar ..........45 CAPÍTULO 4 Gerenciamento do risco hospitalar...................................67 APRESENTAÇÃO Caro(a) Pós-Graduando(a), Atualmente, vivemos em meio a muitas mudanças e com elas muda o comportamento das pessoas, ou seja, o nível de exigência de nossos clientes. A necessidade de constantes atualizações e aperfeiçoamento das ferramentas de trabalhos é vivenciada em todas as instituições. Na área da saúde não poderia ser diferente. Lidar com todas as inovações tecnológicas, que garantem a integridade da saúde do paciente, é algo desafiador para os profissionais da área da saúde e, também, para os futuros gestores, uma vez que nosso paciente se moldou às mudanças e passou a ser um cliente exigente e bem informado. Dessa forma, a gestão de qualidade em instituições hospitalares se tornou fundamental hoje. Com base nisso, pensamos o presente caderno da Disciplina de Gestão da Qualidade Hospitalar em quatro capítulos. O primeiro capítulo tem o objetivo de familiarizá-lo(a) com a evolução, conceitos e princípios da qualidade. No segundo capítulo são demonstradas as certificações existentes na área da saúde que poderão ajudar o gestor no processo de implantação de melhorias em sua instituição. O terceiro capítulo apresenta as ferramentas que o gestor poderá utilizar com sua equipe para atender aos critérios das normas certificadoras. Mostraremos, também, a importância da auditoria no processo de gestão da qualidade. O quarto e último capitulo está voltado à gestão de risco em instituições de saúde. Hoje, a gestão de risco e a segurança do paciente são assuntos muito discutidos no âmbito da saúde. Trata-se de uma preocupação frequente, uma vez que envolve diretamente a assistência prestada ao paciente. Esperamos que você aproveite ao máximo os estudos desta disciplina e que possa contribuir com o processo de ensino e aprendizagem, pois a qualidade nas instituições de saúde ainda é um desafio muito grande. A cada dia dependemos mais da capacidade, eficiência e eficácia dos processos de trabalhos e isso envolve diversos fatores, como tecnológicos, emocionais e técnicos. Aproveite os conteúdos e bons estudos! CAPÍTULO 1 Conceitos e Princípios da Qualidade A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os conceitos básicos da qualidade. � Entender os princípios da qualidade. � Compreender o desdobramento do conceito de qualidade. � Aplicar os conceitos de qualidade estudados. 10 Gestão da Qualidade Hospitalar 11 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 Contextualização Nunca se falou tanto em “Qualidade” como hoje, principalmente devido às transformações que ocorrem no mundo, fomentadas pelo avanço da tecnologia, e que geram uma grande quantidade de informações e dados. Tais informações e dados permitem que as pessoas adquiram novos conhecimentos e, com isso, aprimorem seus desejos e também as exigências por produtos e serviços de qualidade. Na área da saúde, busca-se oferecer aos clientes serviços de qualidade, que atendam não apenas as suas necessidades de saúde como a cura de doenças. Dessa forma, a disciplina Gestão da Qualidade Hospitalar tem por objetivo desenvolver no aluno competências essenciais para aplicabilidade das técnicas e ferramentas do sistema de gestão no gerenciamento da qualidade no ambiente hospitalar. Neste capítulo, caro(a) pós-graduando(a), vamos relembrar a evolução histórica do conceito da qualidade e a sua implantação pelos serviços de saúde. Estudaremos o processo evolutivo da sua aplicabilidade e como essa ferramenta está sendo fundamental para os serviços de saúde aprimorarem seus processos de trabalho. Vamos lá! Evolução do Conceito de Qualidade No decorrer dos anos, houve diversas transformações nos métodos de produção em consequência da mecanização do trabalho. O modelo tradicional do sistema produtivo fazia com que o empregado não tivesse visão da imensidão do seu trabalho e do reflexo de suas ações no produto final. Em cada uma das épocas, o trabalho foi sendo aperfeiçoado e especializado, desenvolvido de forma repetitiva e permitia uma visão parcial do processo de produção. Como o passar dos anos, os modos de produção foram se estruturando a procura de modelos ideais de gestão dos processos produtivos em busca de melhorias contínuas para a satisfação das necessidades dos clientes. A partir disso, as empresas também passaram a se preocupar com a Gestão da Qualidade. 12 Gestão da Qualidade Hospitalar Surgimento da Gestão da Qualidade A gestão da qualidade teve sua origem na década de 30, baseada nos processos operacionais da indústria. Em 1950, surgiu o conceito de qualidade total, a partir da visão japonesa e, também, da visão norte-americana, Total Quality Control. Processo: É uma sequência organizada de atividades que transforma as entradas dos fornecedores em saídas para os clientes, com um valor agregado gerado pela unidade. (MIGUEL, 2005). O período pós-guerra trouxe ainda dimensões novas ao planejamento das empresas. Em virtude da incompatibilidade entre seus produtos e as necessidades do mercado, passaram a adotar um planejamento estratégico, porque caracterizavauma preocupação com o ambiente externo das empresas. (RODRIGUES et al., 2011, p. 20). Figura 1 – Organização do fluxo produtivo Fonte: Adaptado de Rodrigues et al. (2011). Mas, para você compreender melhor essa origem da qualidade, cabe salientar que esses modelos apresentavam diferentes objetivos. Os norte-americanos, por exemplo, estavam preocupados com a identificação de problemas na produção; os japoneses tinham por objetivo o desenvolvimento de processos produtivos mais eficazes. (MIGUEL, 2005). Nas décadas de 1950/60, Edward Deming e Joseph Juran ensinaram aos japoneses as mais modernas técnicas de produção com qualidade e produtividade. Neste período, era muito comum os japoneses apresentarem produtos com baixa qualidade e os índices de retrabalhos eram consideravelmente altos, o que implicava também baixa produtividade. (RODRIGUES et al., 2011). Jaqueline Realce Jaqueline Realce 13 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 Os esforços para a melhoria da qualidade receberam forte impulso com a introdução progressiva do controle estatístico dos resultados que desejam atingir, num sistema produtivo planejado para alcançar a qualidade do produto final. (COUTO; PEDROSA, 2011). Nesse contexto, algumas épocas marcaram o surgimento da qualidade na indústria. Garvin (1997) denominou tais períodos como sendo as “Eras da Qualidade”. Observe, no quadro que segue, as características específicas de cada uma das eras da qualidade. Quadro 1 – Eras da qualidade Fonte: Adaptado de Garvin (1997). Atualmente, as características da qualidade estão relacionadas ao atendimento das necessidades dos clientes, e, por isso, a implantação de programas de qualidade não é mais uma exclusividade. (MARSHAL JUNIOR, 2003). Eras Descrição Era da inspeção A era da inspeção surgiu a partir da produção em massa (Revolução Industrial) e tinha por objetivo a verificação do produto, mantendo a uniformidade, por meio de instrumentos de medição que se resumiam à inspeção, à classificação, à contagem, à avaliação e ao reparo. Era do controle esta- tístico A era do controle estatístico do processo foi desenvolvida por Shewhart, na década de 1930, com o objetivo de monitorar o processo produtivo e identificar a necessida- de de fazer ações de melhoria por meio de técnicas estatísticas básicas. Era da gestão estratégica Na era da gestão estratégica, a prevenção de problemas continuava sendo o foco principal, porém os instrumentos de controle estatísticos foram associados à quan- tificação de custos da qualidade por Joseph Juran, em 1951. Era da gestão total da qualidade A era da gestão total da qualidade foi marcada pela utilização do planejamento estratégico, com o desenvolvimento de metas, capacitação das equipes, contra- tação de consultorias especializadas, investimentos em programas e sistemas de informática. Os esforços para a melhoria da qualidade receberam forte impulso com a introdução progressiva do controle estatístico dos resultados. Jaqueline Realce Jaqueline Realce Jaqueline Realce Jaqueline Realce Jaqueline Realce Jaqueline Realce 14 Gestão da Qualidade Hospitalar Para aprofundar seu conhecimento sobre as Eras da Qualidade, sugere-se a leitura do capítulo 1 do livro de: GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. A qualidade também é marcada por alguns pensadores, cujos projetos foram destaque em cada um desses períodos. São os chamados “Gurus da Qualidade”. O que eles têm em comum? Podemos “[...] dizer que eles fizeram parte da história, tanto pela contribuição teórica, como pela intervenção em empresas.”. (CARVALHO, 2005, p. 10). O quadro a seguir apresenta os principais nomes citados na literatura acadêmica e profissional a respeito dos “Gurus da Qualidade”: Walter A. Shewhart, Joseph M. Juran, Philip B. Crosby, W. Ewards Deming e Kaoru Ishikawa. Quadro 2 – Principais gurus da qualidade Fonte: Adaptado de Carvalho (2005) e Garvin (1997). Guru Formação Contribuição Walter A. Shewhart Americano graduado em Engenharia com doutorado em Física. Conhecido como pai do controle estatístico do processo. Controle estatístico do processo (CEP). Propõe o ciclo PDCA (plan- -do-check-act). W. Ewards Deming Americano, Engenheiro Elétrico e doutor em Matemática e Física. Pai do controle da quali- dade no Japão. Seu nome tornou-se o Prêmio Japonês da Qualidade – Deming Prize. Os 14 princípios de Demming. De- senvolvimento do controle estatístico do processo (CEP). Joseph M. Juran Natural da Romênia, graduou-se em Enge- nharia e Direito. Colaborador da Revolução da Qualidade Japonesa. Os 10 pontos de Juran. Trilogia do plano de melhoria da qualidade. Philip B. Crosby Americano formado em Engenharia. Especia- lista na área da qualidade. Os 14 pontos de Crosby. Quality is Free (1979). Defeito Zero. Kaoru Ishi- kawa Natural do Japão, graduou-se em Química Aplicada. Desempenhou importante papel no modelo japonês. Controle da Qualidade por toda a empresa (Company Wide Quality Control – CWQC). As sete ferramen- tas da qualidade. Jaqueline Realce 15 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 O século XX foi marcado pela conformidade dos produtos fabricados, devido à produção em massa, que levou a indústria a desenvolver sistemas de produção baseados em inspeção, em que um ou mais atributos eram examinados, testados e controlados. (RODRIGUES et al., 2011). Em 1946 era fundada a JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers) com objetivo de agregar estudiosos que pudessem contribuir para a recuperação [...]. Demming foi convidado para ensinar engenheiros e técnicos japoneses o controle estatístico da qualidade. A partir de então, centrado na JUSE, essas técnicas administrativas foram determinadas pelas empresas japonesas, tornando-se as ferramentas gerenciais que permitiram aos produtos japoneses sair do ruim e barato para o melhor do mundo e ainda barato, o que viabilizou o milagre japonês. (COUTO; PEDROSA, 2011, p. 103). A aplicabilidade da qualidade incorpora um conceito mais amplo, que extrapola o produto, e suas ferramentas se voltam para setores como, por exemplo, o de serviços, e isso tem se tornado um desafio dos gestores pela complexidade das organizações. Conceito da Qualidade A literatura apresenta amplo significado ao conceito de qualidade e, por isso, surgem várias interpretações para a qualidade. Muitos autores vêm a qualidade como uma satisfação do cliente pelo produto e/ou serviço adquirido, para outros, engloba, também, a busca da excelência para todas as atividades de um processo. (RODRIGUES et al., 2011). Essa situação torna difícil atribuir um conceito definitivo para a ideia do que realmente seja qualidade, principalmente porque o termo é associado às necessidades, às percepções, às expectativas e à aplicabilidade de cada agente. A qualidade é um atributo intrínseco às coisas, muitas vezes, difícil de ser quantificável e possui uma dimensão subjetiva, e que pode ser uma forma de diferenciação. Pode-se dizer que qualidade é o que determina a natureza das coisas. Ela permite avaliação, aprovação, aceitação ou a recusa de um bem ou serviço. [...] a qualidade é um conceito abstrato, que varia de acordo com o tempo, os costumes, a tecnologia e a cultura. (RODRIGUES et al., p. 23, grifo nosso). O século XX foi marcado pela conformidade dos produtos fabricados, devido à produção em massa, que levou a indústria a desenvolver sistemas de produção baseados em inspeção, em que um ou mais atributos eram examinados, testados e controlados. 16 Gestão da Qualidade Hospitalar Garvin (1997) a partir de alguns questionamentos: A qualidade é objetiva ou subjetiva? É relativa ou absoluta? Independe do tempo ou é socialmente determinada? Pode ser dividida em categorias mais restritas e de maior significado?,apresenta cinco abordagens do conceito para a qualidade. Quadro 3 - Definições da qualidade a partir das abordagens de Garvin Fonte: Adaptado de Garvin (1997). ABORDAGENS DEFINIÇÃO CONCEITO TRANSCENDEN- TAL Qualidade é sinônimo de excelência inata. A qualidade não é uma coisa concreta, mas uma terceira identidade indepen- dente das duas; embora não possa definir qualidade, sabe-se o que ela é. (PIRSING, 1974, p. 185). BASEADO NO PRODUTO A qualidade é vista como uma variável precisa e mensurável. Melhor quali- dade somente com custo elevado. É vista como característica inerente ao produto, e não como algo atribuído a ele. Diferenças de qualidade correspon- dem a diferenças de quantidade de algum ingrediente ou atributo deseja- do. (ABBOUT, 1955, p. 126-127). BASEADA NO USUÁRIO Qualidade é uma variável subjetiva. Parte da premissa de que a qualida- de está diante dos olhos de quem observa. Qualidade é a adequação de uso. (JURAN, 1968, p. 37). BASEADA NO VALOR A qualidade é definida em termos de custos e preços. Qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável e o controle da variabilidade a um custo aceitável. (BROH, 1982, p. 3). BASEADA NA PRODUÇÃO A qualidade tem como base o produto final. Qualidade é o grau em que um produ- to específico está de acordo com um projeto ou especificação. (GILMORE, 1974, p. 16). Jaqueline Realce Jaqueline Realce 17 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 Para Feigenbaum (1961 apud MARSHAL JÚNIOR, 2003) a qualidade é a determinação do cliente e não da engenharia, nem do marketing e nem da alta direção. A qualidade deve ser baseada na expectativa do cliente com o produto ou serviço. Para saber mais sobre o conceito de qualidade, sugere-se a leitura do livro: CARPINETTI, L. C. R. Gestão da qualidade: conceitos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. Atividade de Estudos: 1) Agora que você estudou sobre os conceitos de qualidade, responda: O que é qualidade? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Qualidade nos Serviços de Saúde Geralmente, a qualidade é associada às atividades desenvolvidas pelas organizações de saúde, já que se trata de um setor cujo propósito é a prevenção, a promoção e a reabilitação da saúde das pessoas. Florence Nightingale já demonstrava a preocupação com a qualidade em procedimentos assistenciais. (MIRANDA, 2011). FLORENCE HIGHTINGALE Florence Nightingale é considerada a fundadora da enfermagem moderna. Sua família considerava a enfermagem algo inapropriado para uma dama de boa estirpe, por isso, começou seus estudos após os 31 anos, em um curso de treinamento na Alemanha. Na Inglaterra, Florence abriu o primeiro curso de treinamento, em 1860. Florence não conhecia o conceito de contato por micro- organismos, uma vez que este ainda não tinha sido descoberto, A qualidade deve ser baseada na expectativa do cliente com o produto ou serviço. 18 Gestão da Qualidade Hospitalar porém já acreditava em um meticuloso cuidado quanto à limpeza do ambiente e pessoal, ar fresco e boa iluminação, calor adequado, boa nutrição e repouso, com manutenção do vigor do paciente para a cura. Ao longo de toda a Guerra da Criméia, Florence conseguiu reduzir as taxas de mortalidade entre os soldados britânicos, através de seus esforços como enfermeira e, provando a eficiência das enfermeiras treinadas para a recuperação da saúde. Até o momento, só homens e mulheres religiosos podiam cuidar dos soldados no exército Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/eU3qdl>. Acesso em: 28 jun. 2016. Atualmente, as discussões sobre qualidade nos serviços de saúde abrangem tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) como também os sistemas privados (planos de saúde e convênios). Você sabia que o Brasil se destaca por ter um dos sistemas privados mais abrangentes do mundo? Segundo Rodrigues et al. (2011), a iniciativa privada se destaca em adotar medidas de qualidade na assistência privada, uma vez que estas aumentam a satisfação dos clientes, melhoram os processos e, consequentemente, aumentam a relação custo-efetividade. Na Coreia do Sul, o setor privado é responsável pelo atendimento de 90% da população. O país é detentor de tecnologia da informação (TI) e garante a qualidade da atenção em saúde, por meio do monitoramento domiciliar de pacientes. Quando falamos em qualidade, geralmente nos referimos aos sete pilares que são amplamente discutidos há décadas: aceitabilidade, efetividade, eficácia, eficiência, equidade, legitimidade e otimização. 19 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 Figura 2 – Pilares da qualidade Fonte: Adaptado de Miranda (2011). De acordo com Miranda (2011), esses pilares significam: • Aceitabilidade: adaptação da assistência às expectativas e aos valores dos pacientes, familiares e acompanhantes; • Efetividade: o que se pode esperar; • Eficácia: o melhor que se pode fazer em condições favoráveis (tecnologia e competência técnica); • Eficiência: medida do custo pelo qual a melhoria na saúde é alcançada (relação de parâmetro); • Equidade: principio pelo qual se determina o que é razoável e/ou justo à sociedade; • Legitimidade: aceitabilidade do cuidado tal como é visto pela comunidade ou sociedade; • Otimização: relação mais favorável entre custo e benefício. A discussão sobre o que é qualidade em saúde, bem como sobre a diversidade de conceitos, muitas vezes, diverge de acordo com o entendimento e aplicabilidade do termo pelos gestores. (RODRIGUES et al., 2011; LUONGO, 2011; BURMESTER, 2012). 20 Gestão da Qualidade Hospitalar Rodrigues et al. (2011) afirma que a qualidade passou a ser um diferencial competitivo e uma forma de as organizações alcançarem melhores resultados financeiros. Os programas de qualidade se tornaram habituais, fazendo do cliente um consumidor mais exigente. Atualmente, observamos que adotar programas de qualidade também passou a ser um diferencial nas instituições públicas de saúde, que buscam melhorar a eficiência financeira com adoção de melhoria dos processos de trabalho, porém se deparam com muitos desafios. Na contramão da tendência mundial de enxugamento e agilidade das funções do Estado, o Brasil se encontra mergulhado em burocracia, que impede uma melhoria na produtividade, eficiência e eficácia dos serviços públicos ofertados. Existe uma lista imensa de problemas e os que nos ocorrem são a existência de uma legislação complexa, problemas financeiros, problemas de pessoal, muitas vezes relacionados a baixos salários, poucos incentivos a uma formação adequada à realidade social e falta de programa de capacitação continuada. (RODRIGUES et al., 2011. p. 39). Para o desenvolvimento de uma política de qualidade em organizações de saúde, é necessário o conhecimento das diretrizes e estratégias institucionais. O desafio, no entanto, está na forma de planejar de maneira mais adequada, levando em consideração as necessidades da organização. (MIRANDA, 2011). Vimos anteriormente que a palavra qualidade sofre diversas definições. Alguns autores, como Couto e Pedrosa (2011), ao falar de qualidade em hospitais, classificam a qualidade em: 1. Qualidade essencial: é o tipo de qualidade que não pode faltar ao produto e/ou serviço. Possui qualidade intrínseca, ou seja, o produto e/ou serviço deve ser realmente bom para o que se propõe. Além disso, apresenta como características marcantes, também, a entrega, a segurança e o custo operacional. Para melhor entendimento, vamos exemplificar. Imagine um paciente que tomará uma “medicação venosa”. Ele deverá receber um medicamento de qualidade, que apresente eficácia no tratamento, na hora correta, na quantidade adequada e com o menorcusto para a instituição e para o cliente. 2. Qualidades atrativas: são características que determinam a preferência do cliente e que incentivam a competitividade. Por exemplo, o “atendimento domiciliar”, ofertado por alguns planos de saúde. 3. Qualidade defensiva: é aquela que desagrada ao cliente, como, por exemplo, tempo de espera para o atendimento em unidades de urgência e Adotar programas de qualidade também passou a ser um diferencial nas instituições públicas de saúde, que buscam melhorar a eficiência financeira com adoção de melhoria dos processos de trabalho, porém se deparam com muitos desafios. 21 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 emergência. Entretanto, nem sempre é possível eliminar essa característica por completo, visto que estas unidades são portas de entradas nos hospitais e voltadas para atendimentos em estado de saúde grave. 4. Qualidade ofensiva: é antecipar características da qualidade que satisfaçam o cliente e que, muitas vezes, eles nem esperam, por exemplo, ofertar a um tratamento de beleza sem custo adicional. A finalidade da instituição de saúde é satisfazer a necessidade do cliente, garantido a ele a excelência na qualidade do serviço ofertado e executado. Assim, é necessário conhece-lo, saber de suas necessidades, suas expectativas e seu perfil, assumindo com ele um compromisso. Para assumir um compromisso com o cliente é preciso conhecer as próprias falhas. Não basta excluir-se e culpar a instituição e sua estrutura organizacional; é necessário se colocar no lugar do cliente, entendendo suas razões e procurando soluções para seus anseios e problemas [...] (MIRANDA, 2011, p. 37). Qual a motivação do cliente? A motivação do cliente é oriunda da qualidade do serviço, da relação custo-benefício, da satisfação de suas necessidades, da possibilidade de escolha e da diversidade dos serviços oferecidos. Atividade de Estudos: 1) Você, em algum momento da vida, já deve ter procurado pelos serviços das instituições de saúde, seja por um problema de doença, seja para acompanhar algum familiar, seja, ainda, para visitar alguém. Neste momento, quais atributos observou em relação à qualidade dos serviços? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ A finalidade da instituição de saúde é satisfazer a necessidade do cliente, garantido a ele a excelência na qualidade do serviço ofertado e executado. 22 Gestão da Qualidade Hospitalar Algumas Considerações Prezado(a) pós-graduando(a), chegamos ao final do capítulo 1 da disciplina de Gestão da Qualidade. Ele nos proporcionou aprimorar o conhecimento sobre a história de qualidade e sua evolução ao longo do tempo. Além disso, foi possível compreender como estes conceitos, oriundos das indústrias, foram adaptados para atender à necessidade das organizações de saúde, com o objetivo de melhorar os serviços prestados. Por tratar-se de um assunto amplo, o objetivo neste caderno não foi de esgotar o assunto, e sim fazer com que você compreenda que, embora a qualidade seja muito voltada ao setor de produção, trata-se de uma ferramenta que pode e deve ser aplicada ao setor de serviços. Dessa forma, sugerimos que aprofunde seus conhecimentos com as leituras sugeridas ao longo do capítulo, para que possa alcançar sucesso no processo de aprendizagem. No próximo capitulo, veremos quais são as certificações da qualidade aplicadas às organizações de saúde e quais os critérios estabelecidos para a concessão destas. Referências BURMESTER, H. Manual de gestão hospitalar. Rio de Janeiro: FGV, 2012. CARVALHO, M. M. (Org.). Gestão da Qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. COUTO, R. C.; PEDROSA, T. M. G. Qualidade total aplicada a hospitais. In: COUTO, R. C.; PEDROSA, T. M. G. Hospital: acreditação e gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. LUONGO, J. Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Ridell, 2011. MARSHALL JUNIOR, I. (Org.). Gestão da Qualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2003. 23 Conceitos e princípios da qualidade Capítulo 1 ______ et al. Gestão da qualidade. 10. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010. MIGUEL, P. A. C. Gestão da qualidade: TQM e modelos de excelência. In: CARVALHO, M. M. (Org.). Gestão da qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. MIRANDA, V. M. Aspectos históricos da qualidade em saúde. In: LUONGO, J. Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Rideel, 2011. RODRIGUES, M. V. et al. Qualidade e acreditação em saúde. Rio de Janeiro, FGV, 2011. 24 Gestão da Qualidade Hospitalar CAPÍTULO 2 Acreditação Hospitalar A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os processos de acreditação. � Conhecer as certificadoras no Brasil. � Conhecer os critérios de cada um dos tipos de certificação. 26 Gestão da Qualidade Hospitalar 27 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Contextualização Prezado(a) pós-graduando(a), neste capitulo vamos estudar a evolução das instituições acreditadoras no mundo e no Brasil. Atualmente, várias empresas já são especializadas em prestar serviços para as empresas certificadoras de instituições de saúde. Estes institutos utilizam-se da metodologia desenvolvida pelas acreditadoras para avaliar as instituições de saúde. Estudaremos, também, os critérios estabelecidos pelas acreditadoras para a certificação das instituições de saúde. Bons estudos! Conceito de Acreditação Hospitalar Antes de estudarmos os sistemas de acreditação e sua evolução com o passar dos anos, é importante diferenciarmos alguns dos termos utilizados pelos sistemas de acreditação. Você sabia que certificação e acreditação são terminologias diferentes? A certificação da qualidade é o reconhecimento da instituição por uma unidade certificadora da conformidade do sistema de qualidade. Estas conformidades podem incluir: os processos; requisitos da assistência ao cliente/paciente; normatização das ações. (ALVES, 2012). A acreditação é um processo de avaliação externa, por meio do qual uma organização avalia periodicamente as instituições de saúde para determinar se elas atendem aos critérios estabelecidos para a melhoria dos serviços prestados no cuidado ao paciente. (ALVES, 2012). Você também encontrará na literatura sobre avaliação da qualidade na atenção e na assistência em saúde outros instrumentos reguladores, como: • Habilitação: realizada principalmente por autoridade sanitária, necessária para o funcionamento do serviço; A certificação da qualidade é o reconhecimento da instituição por uma unidade certificadora da conformidade do sistema de qualidade. Jaqueline Realce 28 Gestão da Qualidade Hospitalar • Categorização: é a divisão e classificação das unidades de saúde de acordo com as especialidades e complexidades. Atualmente, a qualidade faz parte de um conjunto de atributos essenciais para que as empresas sejam competitivas no seu mercado de atuação, e, por isso, é de fundamental importância que gestores, líderes do processo, envolvam- se e envolvam seus subordinados na elaboração do planejamento estratégico, estabelecimento de objetivos, mobilização de toda organização para a busca da melhoria contínua de processos. Evolução da Acreditação Hospitalar no Mundo As organizações hospitalares da Europa foram as percursoras em implantar a qualidade dos serviços, a partir do século XVIII, devido à inadequação dos prédios hospitalares da época. (MADUREIRA; OLIVEIRA, 2014). A partir do século XX, dois eventosforam considerados marco para avaliação dos serviços de saúde: o Council on Medical Education da American Medical, em 1906, que iniciou com um processo de avaliação de 163 escolas médicas, das quais 124 foram fechadas por não apresentarem condições de estrutura e processos de trabalho; e a proposta do cirurgião americano Ernst Amory Codmann, do Massachussetts General Hospital, em padronizar a avaliação dos resultados, primeira iniciativa de avaliação de tratamento em que o hospital deveria acompanhar o paciente o tempo suficiente para determinar se o tratamento alcançara seus objetivos. (MADUREIRA; OLIVEIRA, 2014; RODRIGUES et al., 2011). Em 1913, o Colégio Americano de Cirurgiões desenvolveu uma padronização mínima para hospitais (Minimum Standard for Hospitais) com os requisitos básicos a serem avaliados: organização do corpo clínico; conselho diretor do hospital; regulamentação e normas para os trabalhadores do hospital; guarda de prontuários; padronização de check-list de avaliação do paciente; solicitação de exames laboratoriais e específicos; disponibilidade de equipamentos para diagnósticos e terapêuticos. Essa inspeção iniciou em 1918, e dos 692 hospitais apenas 89 preencheram os requisitos. No início, a padronização tinha por finalidade criar um ambiente adequado para proteger o médico do ambiente de trabalho adverso, mas, em seguida, passou a enfatizar a prática clínica. À medida que o sucesso do programa se 29 Acreditação hospitalar Capítulo 2 espalhou, um número crescente de hospitais quis se submeter ao processo. (RODRIGUES et al., 2011, p. 89). Em 1951, da parceria entre o Colégio Americano de Cirurgiões, o Colégio Americano de Clínicos, a Associação Americana de Hospitais e a Associação Médica Canadense, formou-se a Joint Commission on Hospital Acreditation (JCHA). Em 1958, a Associação Médica Canadense se separou da JCHA e fundou a Canadian Council on Hospital Accreditation (CCHA). (DONAHUE; O´ LEARY, 2000). Em 1974, a Austrália criou o conselho de padronizações de Hospitais. Em seguida, Nova Zelândia, Reino Unido e França criaram seus próprios critérios de padronização. Além das normas da JCHA, também foram relevantes os critérios criados pela European Foundation for Quality Management (EFQM). Em 1988, a JCHA expande seus objetivos, abrangendo organizações de saúde em geral, não mais somente instituições hospitalares, e forma-se a Joint Comissiono n Acreditation of Healthcare Organizations (JCAHO). E, em 1999, criou-se a Joint Comission Internacional, responsável em desenvolver padrões internacionais para sua atuação fora dos Estados Unidos. (RODRIGUES et al., 2011; MALIK; SCHIESARI, 2014). Os Sistemas de Acreditação na América Latina e Brasil A partir de 1990, intensificou-se a implantação de sistemas de acreditação na América Latina, organizada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Em 1991, através da parceria entre a OPAS e a Federação Latino Americana de Hospitais, elaborou-se um instrumento de avaliação hospitalar para a América Latina e Caribe. A estruturação deste documento foi realizada por meio de padrões e níveis de complexidade. (RODRIGUES et al., 2011). Desde 1970, o Brasil vem desenvolvendo portarias e resoluções com critérios para avaliar a assistência à saúde. Uma das primeiras iniciativas não- 30 Gestão da Qualidade Hospitalar governamentais ocorreu em 1986, inspirada no modelo americano desenvolvido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões. O Ministério da Saúde elaborou, em 1992, o projeto Garantia da Qualidade em Saúde junto com o Banco Mundial. Sua estrutura compreendeu quatro componentes básicos: rede de informações, desenvolvimento gerencial, regulação e controle da utilização de tecnologias e controle social, informados por sistemas específicos ligados à vigilância epidemiológica, vigilância sanitária e instrumentos de ação para o Sistema Único de Saúde, nos três níveis de governo. (MADUREIRA; OLIVEIRA, 2014, p. 321, grifo nosso). Em 1994, a Academia Nacional de Medicina, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões e a Universidade do Estado de Rio de Janeiro se reuniram para criar o programa de Avaliação e Certificação da Qualidade em Saúde (PACQS). Em 1997, o PACQS transformou-se no Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), que representa a JCI no Brasil. (RODRIGUES et al., 2011). Tais esforços evoluíram com o passar dos anos e, atualmente, o Brasil possui quatro modelos de acreditação hospitalar: Programa de Controle de Qualidade do Atendimento Médico Hospitalar (CHQ); International Organization for Standardization (ISO); Organização Nacional de Acreditação (ONA); Joint Comission International (JCI). Programa de Controle de Qualidade Hospitalar – CHQ O Programa de Controle de Qualidade do Atendimento Médico-Hospitalar (CHQ) está vinculado à Associação Paulistana de Medicina e ao Conselho Regional de Medicina. O programa envolve a coleta e análise regular de informações sobre a gestão dos hospitais. Além disso, o CHQ prevê a visita in loco para verificação dos padrões estabelecidos para a concessão da certificação. O objetivo do CHQ é o estimulo à melhoria da qualidade nos hospitais do Estado de São Paulo, ajudando-os a cumprir sua função social e seu compromisso com as comunidades. (MIRANDA, 2011). De acordo com Alves (2012), as instituições que adotam o modelo CHQ têm os seguintes benefícios: � Têm à disposição um modelo de gestão da qualidade; 31 Acreditação hospitalar Capítulo 2 � Podem compartilhar experiências com pelo menos 100 instituições hospitalares do Estado de São Paulo através de reuniões periódicas; � Participação de eventos da qualidade; � Assessoria específica voltada à infecção hospitalar; � Pesquisas de satisfação com usuários; � Visitas periódicas para avaliação das equipes; � Selo de reconhecimento de conformidade; � Participação do Prêmio de Gestão em Saúde – PNGS. PRÊMIO DE GESTÃO EM SAÚDE – PNGS. Este é um prêmio anual que reconhece e qualifica as organizações da área da saúde que buscam excelência em sua gestão, resultando em um atendimento adequado à população e resultados superiores de desempenho. A visão do PNGS é servir como modelo referência para avaliação e orientação da gestão das organizações de saúde em todo o Brasil. A rigorosa metodologia de avaliação do PNGS está alinhada com as diretrizes do Prêmio Nacional da Qualidade. O prêmio consistirá de um troféu, diploma de reconhecimento e ampla divulgação na mídia. A missão do prêmio é contribuir para o aprimoramento das práticas de gestão na área da saúde, por meio da avaliação e reconhecimento das melhores práticas no setor. Há quatro categorias distintas, nas quais pode haver mais de um vencedor: hospitais, laboratórios de patologia clínica, clínicas de especialidades médicas (clínicas de imagem, hemoterapia, ortopedia, oncologia, diálise, etc.) e atendimento domiciliar. Poderão concorrer entidades de qualquer parte do território nacional e que tenham: pelo menos um ano de existência; pelo menos dez pessoas na sua força de trabalho; registro no Conselho Regional de Medicina do seu Estado; estar inscrito no CNPJ e que não sejam operadoras de planos de saúde. As entidades para concorrer, deverão submeter ao PNGS um relatório de gestão que será avaliado por uma banca avaliadora e por 32 Gestão da Qualidade Hospitalar um corpo de juízes; o processo de avaliação terá duas fases, sendo a segunda, uma visita às instalações. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/RdzDCw>. Acesso em: 10 ago. 2016. Joint Comission International - JCI A Joint Commission on Acreditation foi criada nos Estados Unidos, em 1951, e, aos poucos, foi evoluindo para outros países. O processo de acreditação americano é coordenado pela Joint Comisson international - JCI. O objetivo do programa é estimular a demonstração de uma melhoria contínua e sustentada nas instituições de saúde, por meiodo emprego de padrões de consenso internacional de Metas Internacionais de Segurança do Paciente. No Brasil, a JCI é representada pela Comissão Brasileira de Acreditação, que detém o direito de utilização da metodologia. Além da CBA, estão autorizados a fazer uso da metodologia a Fundação para a Acreditação e o Desenvolvimento Assistencial (FADA), instituição ligada à Fundação Avedis Donabedian, na Espanha. A Fundação Avedis Donabedian (FAD) foi fundada em 1989 e é a entidade gestora do Instituto Universitário Donabedian Avedis, criada em 2006. Ele está ligado à Universidade Autónoma de Barcelona, como um centro com personalidade jurídica própria. Sua missão é colaborar com os profissionais, instituições, administrações públicas, os cidadãos e as organizações profissionais e outras instituições públicas e privadas, com o objetivo de melhorar a qualidade de saúde e serviços sociais recebidos pelos cidadãos. Melhorar a qualidade promove uma atitude e um desempenho científico e profissional que utiliza elementos da teoria de avaliação, as disciplinas de gestão e outras metodologias quantitativas e qualitativas, para fazer o trabalho de profissionais cada vez com maior qualidade científica e técnica e que os usuários recebam um serviço adequado às suas necessidades e expectativas. Fonte: Disponível em: <www.fadq.org>. Acesso em: 15 jul. 2016. 33 Acreditação hospitalar Capítulo 2 A CBA é uma agência acreditadora, formada pela Academia Nacional de Medicina, pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Fundação Cesgranio. (MADUREIRA; OLIVEIRA, 2014). A JCI, assim como as outras agências certificadoras, desenvolveu um manual internacional de padrões de acreditação hospitalar, constituído de quatro seções, conforme quadro a seguir: Quadro 4 – Seções do Manual da ONA Fonte: Adaptado de Brasil (2012). Embora a metodologia internacional JCI tenha chegado ao Brasil na mesma época em que foi estabelecido o Programa Brasileiro de Acreditação, a quantidade de organizações acreditadas por essa metodologia corresponde a 10% das acreditadas pela ONA. A maior parte das organizações são de São Paulo, Rio de janeiro e Rio Grande do Sul. Seção Critérios Avaliados Seção I Requisitos para participação na acreditação Seção II Padrões centrados no paciente - Metas internacionais de segurança do paciente (IPSG). - Acesso ao cuidado e continuidade do cuidado (ACC). - Direitos dos pacientes e familiares (PFR). - Avaliação do paciente (AOP). - Cuidado ao paciente (COP). - Anestésicos e cirurgias (ASC). - Gerenciamento e uso de medicamentos (MMU). - Educação dos pacientes e familiares (PFE). Seção III Padrões de Gestão da Organização de Saúde - Melhoria da qualidade e segurança do paciente (QPS). - Prevenção e controle de infecções (PCI). - Governo, Liderança e Direção (GLD). - Gerenciamento e segurança das instalações (SQE). - Gerenciamento da informação (MOI). Seção IV Padrões para Hospitais de Ensino - Educação Médica (MPE). - Programa de Pesquisas Seres Humanos (HRP). 34 Gestão da Qualidade Hospitalar Organização Nacional de Acreditação A Organização Nacional de Acreditação é um sistema brasileiro voltado ao sistema de certificação de terceira parte, ou seja, utiliza instituições acreditadoras para realização do processo de certificação. Esse processo é muito semelhante às normas da ISO. O processo de avaliação está fundamentado nos critérios estabelecidos pela Fundação Nacional da Qualidade, nos setes pilares da qualidade em saúde, descritos por Donabedian no manual publicado pela OPA, no sistema Americano Joint Commission e em outros sistemas desenvolvidos por países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, França e Argentina. (MADUREIRA; OLIVEIRA, 2014). Figura 3 - Elementos básicos do sistema de acreditação ONA Fonte: A autora. O Ministério da Saúde e a ONA tornaram-se parceiros em todo o processo de elaboração, desde a habilitação de empresas acreditadoras até as certificações das unidades de saúde. Para que as empresas possam organizar-se para serem certificadas e atender aos critérios estabelecidos, a ONA desenvolveu um manual. O manual foi editado a partir da experiência acumulada em dez anos da avaliação de vários hospitais brasileiros. (HELITO, 2010). O manual é dividido em seções e subseções. Nas seções estão reunidos os serviços, setores e unidades que possuem afinidades entre si. Nas subseções estão descritos os respectivos padrões, cada um deles com a definição do que se busca avaliar e com uma lista de itens e orientações. A Organização Nacional de Acreditação é um sistema brasileiro voltado ao sistema de certificação de terceira parte, ou seja, utiliza instituições acreditadoras para realização do processo de certificação. O Ministério da Saúde e a ONA tornaram-se parceiros em todo o processo de elaboração, desde a habilitação de empresas acreditadoras até as certificações das unidades de saúde. 35 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Quadro 5 - Seções e subseções do manual da ONA Fonte: Rodrigues et al. (2011, p. 96-97). A ONA realiza a certificação tendo como base 03 níveis: • Nível 1 – Segurança e Estrutura. • Nível 2 – Organização. • Nível 3 – Práticas de Gestão da Qualidade. Agora, caro(a) pós-graduando(a), veremos o que cada um desses níveis exige. Nível 1 – As exigências contemplam o atendimento aos requisitos básicos Seções Descrição Liderança e administração Direção e liderança, gestão de pessoas, gestão administrativa financeira, gestão de materiais e suprimentos e gestão da qualidade. Serviços profissionais e organização da assistência Corpo clínico e enfermagem. Serviços de atenção ao paciente/cliente Internação, recepção, transferência, referência e contrarreferência, aten- dimento ambulatorial e emergência, centro cirúrgico, anestesiologia, obs- tetrícia, neonatologia, tratamento intensivo, hemoterapia, reabilitação, medicina nuclear e radioterapia. Serviço de apoio diagnós- tico e terapêutico Laboratório clínico, diagnóstico por imagem, métodos gráficos e anato- mia patológica. Serviços de apoio técnico e abastecimento Sistema de informação do paciente, prevenção e controle de infecções, assistência farmacêutica, assistência nutricional, lavanderia, central de processamento de materiais e esterilização, higiene, segurança e saúde ocupacional, serviço social e materiais e suprimentos. Serviços de apoio admi- nistrativo e infraestrutura Gestão de projetos físicos, gestão da infraestrutura fisco-funcional, ges- tão de manutenção predial, gestão de resíduos, gestão de equipamentos médico-hospitalares e gestão de segurança. Ensino e pesquisa Educação continuada, ensino e pesquisa. 36 Gestão da Qualidade Hospitalar da qualidade na assistência prestada ao cliente, nas especialidades e nos serviços das organizações de saúde a serem avaliadas, com recursos humanos compatíveis com a complexidade, qualificação adequada dos profissionais e responsáveis técnicos com habilitação correspondente para as áreas de atuação institucional. (HELITO, 2010). Neste nível, é avaliada a segurança necessária exigida pelas normas sanitárias e técnicas e pelas boas práticas assistenciais, por isso, assemelha-se à lógica da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (ANVISA). (RODRIGUES et al., 2011; HELITO, 2010; ALVES, 2012). Nível 2 – As exigências deste nível contemplam evidências de adoção de planejamento na organização da assistência, referentes à documentação, ao corpo funcional, ao treinamento, ao controle, às estatísticas, às estatísticas básicas para a tomada de decisão clínica e gerencial e às práticas de auditoria interna. (FELDMAN, 2010). Neste nível, a organização cumpre os requisitos do nível 1 e utiliza uma metodologia com seus processos, protocolos clínicos e toda uma estratégia de padronização dos processos assistenciais, administrativose gerenciais. (HELITO, 2010; ALVES, 2012). Aqui, a organização é o atributo a ser alcançado, os critérios são bem semelhantes ao da ISO 9000. Nível 3 – As exigências deste nível contêm evidências de políticas institucionais de melhoria contínua em termos de estrutura, novas tecnologias, atualização técnico-profissional, ações assistenciais e procedimentos médico- sanitários. Neste nível, a assistência em saúde deve ser segura e com processos padronizados. A fase apresenta, também, ciclos de melhoria compactos, sistêmicos e uma gestão voltada para a excelência, ou seja, tem estratégias de benchmaketing, indicadores comparativos de desempenho, processos de ciclos de melhoria nos quais se observam tendência e resultados positivos. (HELITO, 2010). Aqui, o objetivo principal é alcançar a excelência, assemelhando-se ao Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ). Após a avaliação, a organização de saúde poderá obter o seguinte resultado: Não acreditada. 37 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Acreditada – nível 1. Acreditada plena – nível 2. Acreditada com excelência – nível 3. Mas quais são as organizações acreditadas no Brasil? No Brasil, atualmente, há 253 instituições acreditadas, divididas nos diversos Estados brasileiros, com destaque para São Paulo, Minas gerais, Espirito Santo, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão, Goiás, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Accreditation Canada International O Canadian Council on Hospital Accreditation (CCHA) foi formado em 1958, passando por várias modificações nos últimos 50 anos. Em 2000, o Conselho Canadense de Acreditação - Canadian Council on Health Services Accreditation (CCHSA) - lançou o programa internacional, estendendo sua atuação a outros países. A partir de 2008, passou a chamar-se Accreditation Canada. (RODRIGUES et al., 2011). A metodologia foi implantada no Brasil pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG). Da mesma forma que o CBA, o IQG desenvolve a dimensão educacional e participa junto ao Accreditation Canada da avaliação. A Accreditation Canada não adota nenhum tipo de manual específico. Para eles, a acreditação deve ser feita por um programa customizado de acordo com as características de cada instituição com uma abordagem centrada no cliente. (HELITO, 2010; ALVES, 2012). No Brasil, atualmente, há 253 instituições acreditadas, divididas nos diversos Estados brasileiros, com destaque para São Paulo, Minas gerais, Espirito Santo, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão, Goiás, Mato Grosso e Rio de Janeiro. 38 Gestão da Qualidade Hospitalar Quadro 6 – Padrões da avaliação da Accreditation Canada International Fonte: Adaptado de Rodrigues et al. (2011). No Brasil, apenas 45 hospitais são acreditados pelo Accreditation Canada, sendo dois no Rio de Janeiro, um em São Paulo e um em Curitiba. Esses hospitais também são acreditados pela ONA. (RODRIGUES et al., 2011). Padrões clínicos Atenção ambulatorial. Cuidado ao paciente com câncer. Cuidados especializados e contínuos em geriatria. Serviços comunitários. Serviços de emergência e atendimento ao trauma. Atenção domiciliar. Atenção materna infantil. Cuidado em saúde mental. Reabilitação. Cuidados intensivos. Serviços de atenção ao paciente cirúrgico. Padrões administrativos Liderança e parcerias. Recursos humanos. Ambiente. Gestão da informação. Outros padrões Farmácia. Laboratório biomédico. Diagnóstico por imagem. No Brasil, apenas 45 hospitais são acreditados pelo Accreditation Canada, sendo dois no Rio de Janeiro, um em São Paulo e um em Curitiba. 39 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Figura 4 - Mapa das instituições acreditadas pela ACI no Brasil Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/JyBqRI>. Acesso em: 16 jul. 2016. International Organization for Standarzation (ISO) A International Organization for Standarzation (ISO) foi fundada em 1947 como uma instituição não governamental sediada em Genebra. Em 1987, foi publicada a primeira ISO série 9000 para certificação da qualidade total. A primeira versão brasileira publicada da ISO 9000 foi a série NBR ISO-9000, publicada em 1994 pela Norma Brasileira de Acreditação (NBR). Essa versão passou por diversas modificações e foi transformada na NBR–ISO 9000:2000, a qual foi compactada em três normas: 9000:2000; 9001:2000, 9004:2004. (HELITO, 2010). A International Organization for Standarzation (ISO) foi fundada em 1947 como uma instituição não governamental sediada em Genebra. 40 Gestão da Qualidade Hospitalar A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira desde a sua fundação, em 28 de setembro de 1940, e confirmado pelo governo federal por meio de diversos instrumentos legais. Entidade privada e sem fins lucrativos, a ABNT é membro fundador da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização - ISO), da Comisión Panamericana de Normas Técnicas (Comissão Pan-Americana de Normas Técnicas - Copant) e da Asociación Mercosur de Normalización (Associação Mercosul de Normalização - AMN). Desde a sua fundação, é também membro da International Electrotechnical Commission (Comissão Eletrotécnica Internacional - IEC). A ABNT é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT/NBR), elaboradas por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE). Desde 1950, a ABNT atua também na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e reconhecimento dos serviços prestados. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/uAMVV5>. Acesso em: 16 jul. 2016. Esta norma está baseada em 08 princípios fundamentais: • Princípio 1 – Foco no cliente; • Princípio 2 – Liderança; • Princípio 3 – Envolvimento das pessoas; • Princípio 4 – Abordagem do processo; • • Princípio 5 – Abordagem sistêmica para a gestão; • Princípio 6 – Melhoria contínua; • Princípio 7 – Abordagem factual para tomada de decisão; • Princípio 8 – Benefícios mútuos nas relações com fornecedores. 41 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Para você melhor compreender a aplicação das normas da série BNR- ISO-9000:2000, apresentamos, no quadro que segue, uma breve descrição de cada uma das normas: Quadro 7 – Resumos das principais normas da série ISO-9000 Fonte: Adaptado de Rodrigues et al. (2011, p. 29). A ISO promove nas instituições de saúde o processo de certificação de acordo com as conformidades estabelecidas nas normas. (HELITO, 2010). A certificação ISO tem como base quatro objetivos estratégicos: a) Aceitação universal; b) Compatibilidade atual; c) Compatibilidade futura; d) Documentação e manutenção. Caro(a) pós-graduando(a), a série ISO 9000 é uma norma que se aplica a qualquer tipo de empresa, dessa forma, grande parte das indústrias (principalmente por empresas de natureza complexa – indústria bélica, naval, aeronáutica), empresas que necessitam da máxima segurança e qualidade, e, por isso, adotam a norma ISO 9000 para a melhoria de seus processos e, consequentemente, a melhoria da qualidade de seus produtos. Normas Descrição NBR-ISO-9000:2000 (Sistemas de Gestão da Qualidade – fundamen- tais e vocabulários) Define os termos fundamentais empregados na série ISO. NBR-ISO-900:2000 (Sistemas de Gestão da Qualidade – requisitos) É a norma que estabelece os requisitos utilizados pela organização para avaliar sua capacidade de atender tanto aos requisitos do cliente como os decorrentes de regulamentação aplicável as suas atividades. NBR-ISO-9004:2000 (Sistemas de Gestão da Qualidade – diretriz para melhoria do desempenho)Esta norma fornece diretrizes para a organização obter melhorias contínuas em seu sistema de ges- tão da qualidade e trazer benefícios para a organi- zação através da satisfação dos clientes. 42 Gestão da Qualidade Hospitalar Atividade de Estudos: 1) Caro(a) pós-graduando(a), na sua carreira profissional você jaz fez parte de uma equipe de certificação? Descreva como foi a sua experiência. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Algumas Considerações Grande parte das instituições de saúde tem adotado a certificação da qualidade como forma para melhorar os serviços ofertados. Embora, muitas vezes, os gestores não façam esta associação, mas a gestão da qualidade é fundamental para melhoria da produtividade, evitando que sejam realizados retrabalhos. Diante desse contexto, observa-se um número cada vez maior de instituições de saúde que tem visto na qualidade uma poderosa estratégia para a competitividade frente à concorrência. Tanto para alavancar parte do mercado como na minimização de custos, a qualidade oferece a melhoria de rentabilidade do negócio. Porém, para que se alcance este grau de qualidade, é necessário cumprir critérios estabelecidos pelos órgãos certificadores. Assim, o objetivo, neste capítulo, foi apresentar os principais órgãos certificadores e os critérios estabelecidos por cada um deles para que se conceda a certificação em seus diversos níveis de qualificação. No próximo capítulo, veremos quais as ferramentas da qualidade poderão ser utilizadas pelo gestor hospitalar para alcançar os critérios da certificação. Bons estudos! 43 Acreditação hospitalar Capítulo 2 Referências ALVES, V. L. de S. Gestão da Qualidade: ferramentas utilizadas no contexto contemporâneo da saúde. 2. ed. São Paulo: Martinari, 2012. BRASIL. Manual brasileiro de acreditação hospitalar/Secretaria de assistência à saúde. 3. ed. rev. e atual. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. DONAHUE K. T.; O’LEARY D. S. A evolução dos sistemas de acreditação de instituições de saúde. Ensaio: Avaliação de Políticas Públicas em Educação, 2000. FELDMAN, L. B. Auditoria de gestão de risco com foco profissional. In: D´INOCENZZO, M. (Coord.). Indicadores, auditoria, certificações: ferramentas de qualidade para gestão em saúde. 2. ed. São Paulo: Martinari, 2010. HELITO, R. A. B. Processos de qualificação e avaliação de serviços de saúde. In: D´INOCENZZO, M. (Coord.). Indicadores, auditoria, certificações: ferramentas de qualidade para gestão em saúde. 2. ed. São Paulo: Martinari, 2010. MADUREIRA, M. C.; OLIVEIRA, S. C. Qualidade e acreditação em Saúde. In: ANDRÉ, A. M. (Coord.). Gestão estratégica de clínicas e hospitais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2014. MALIK, A. M.; SCHIESARI, L. M. C. Qualidade e acreditação. In: VECINA N. Gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. MIRANDA, V. de M. Aspectos históricos da qualidade em Saúde. In: LUONGO, J. Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Rideel, 2011. RODRIGUES, M. V. et al. Qualidade e acreditação em saúde. Rio de Janeiro: FGV, 2011. 44 Gestão da Qualidade Hospitalar CAPÍTULO 3 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a aplicabilidade das ferramentas da qualidade. � Entender o funcionamento do programa 5S. � Conhecer os métodos de análise da qualidade. � Identificar situações-problema ocorridas nos processos de trabalho. � Implantar métodos de solução de problemas nos processos de trabalho. � Entender as etapas de melhorias nos processos de trabalho. � Compreender a elaboração de documentos da qualidade. � Entender o processo de auditoria da qualidade. 46 Gestão da Qualidade Hospitalar 47 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 Contextualização Nos capítulos anteriores, você estudou sobre a evolução do conceito de qualidade e sua aplicabilidade, tendo por base alguns pesquisadores. Agora, veremos, neste capitulo, as ferramentas de qualidade disponíveis e que podem ser utilizadas para proporcionar a melhoria dos processos de trabalho, alcançando a qualidade total almejada pelas instituições de saúde. Até mesmos as instituições públicas de saúde estão buscando a implantação de programas de qualidade, como, por exemplo, o 5S para alcançar a satisfação dos clientes e melhorar a produtividade das esquipes assistenciais e administrativas. Ao longo deste capitulo, veremos alguns exemplos de como é possível utilizar estas ferramentas. Ferramentas da Qualidade A palavra ferramenta significa um utensilio utilizado pelo trabalhador para desenvolver uma arte e/ou um ofício. No contexto da qualidade, as ferramentas representam um apoio que conduz à manutenção e à melhoria dos processos de trabalho. De acordo com Bohomol (2010), as ferramentas da qualidade são técnicas aplicadas na definição, na mensuração, na análise e no monitoramento dos processos, bem como são capazes de propor soluções aos problemas que interferem direta ou indiretamente no desempenho destes. As ferramentas da qualidade podem ser aplicadas pelos diversos níveis da organização, ou seja, operacional, técnico e gerencial, fazendo parte da rotina no desenvolvimento de diversas funções. No decorrer deste capítulo, serão apresentadas diversas ferramentas para prevenir e corrigir possíveis erros ou falhas nos processos. Algumas delas são bem simples de serem aplicadas e outras mais complexas, necessitando de um conhecimento técnico ou de softwares específicos para processar as informações. (BOHOMOL, 2010; ALVES, 2012). Jaqueline Realce Jaqueline Realce 48 Gestão da Qualidade Hospitalar FOLHA DE VERIFICAÇÃO A folha de verificação é utilizada para coletar dados sobre diversos fatos que ocorrem com maior frequência na prestação de serviços, em um curto período de tempo, permitindo uma percepção da realidade e minimizando a ocorrência de eventos adversos. A aplicabilidade desta ferramenta está no controle da identificação correta dos pacientes, como, por exemplo, a falta de etiquetas de identificação em pacientes com risco de queda, ou, ainda, pacientes sem a identificação de cabeceira de leito. (ALVES, 2012). A folha de verificação pode ser simples, composta de uma lista de itens pré- estabelecidos, como se fosse um check-list. Quadro 8 – Lista de verificação simples utilizada na auditoria de identificação correta do paciente Fonte: A autora. Além disso, o gestor da qualidade poderá utilizar a folha de verificação para acompanhar e monitorar com que frequência ocorre determinado evento adverso no processo. Podem ser coletados dados de eventos que estejam ocorrendo ou que já ocorreram, formando, assim, uma série histórica dos acontecimentos. Quadro 9 – Modelo de folha de verificação de frequência utilizada para aprazamento de medicamentos Fonte: Adaptado de Alves (2012). A folha de verificação é utilizada para coletar dados sobre diversos fatos que ocorrem com maior frequência na prestação de serviços. Item Ótimo Bom Regular Ruim NA Possui pulseira de identificação? Possui pulseira de risco de queda? Possui pulseira de alergia? Cabeceira do leito está identificada corretamente? Ocorrência Frequência Total Medicamento administrado e não checado. IIII IIII IIII IIII 16 Medicamento prescrito e não aprazado. IIII IIII IIII 12 Medicamento não aprazado devido à dificuldade de entendimento da letra. IIII 4 Medicamento prescrito “se necessário” e aprazado em horários fixos. II 2 Jaqueline Realce 49 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 Embora pareçauma tarefa fácil registrar os dados nesta ferramenta, lembre-se de que se trata de uma atividade que exige muita atenção, pois o lançamento equivocado acarretará um resultado incorreto e isso poderá prejudicar a melhoria dos processos de trabalho. DIAGRAMA DE PARETO Geralmente, o diagrama de Pareto é representado por um gráfico de barras, cujo objetivo é demonstrar, de forma estratificada, as várias causas dos efeitos ou falhas no processo, auxiliando na resolução do problema. O diagrama de Pareto foi criado pelo economista italiano Vilfredo Pareto, em 1897, inicialmente para demonstrar a desigualdade na distribuição de salários. (LUONGO; ROCHA, 2011). Para a construção do “diagrama de Pareto”, você poderá seguir os seguintes passos, descritos por Alves (2012): • Definir o que será analisado; • Selecionar e definir o período de tempo da coleta de dados; • Coletar os dados de acordo com o período de tempo definido (horas, dias, semanas); • Agrupar os dados em categorias; • Traçar dois eixos (vertical e horizontal); • Colocar os dados em ordem decrescente, com a causa principal vista do lado esquerdo e as causas menores do lado direito do diagrama. • Geralmente, o diagrama de Pareto é representado por um gráfico de barras, cujo objetivo é demonstrar, de forma estratificada, as várias causas dos efeitos ou falhas no processo, auxiliando na resolução do problema. 50 Gestão da Qualidade Hospitalar Figura 5 – Modelo do gráfico de Pareto para identificação dos problemas com maior relevância no aprazamento de medicamentos Fonte: Alves (2012). Assim, a utilização do diagrama de Pareto possibilita que os gestores selecionem as situações mais frequentes e busquem soluções para resolver os problemas identificados. (LUONGO; ROCHA, 2011). DIAGRAMA DE ISHIKAWA O diagrama de Ishikawa também é chamado de diagrama de causa e efeito ou espinha de peixe, devido ao seu formato. Trata-se de uma ferramenta gráfica que possibilita o acesso às informações das causas e efeitos de determinado evento adverso. (ALVES, 2012). O processo reúne as causas que produzem determinados efeitos. Principalmente nos hospitais, cada processo resulta num efeito ou, ainda, em diversos efeitos. Para que o processo seja executado e apresente o efeito desejado, é preciso avaliar cada uma das ações que nele interferem. Essas ações são chamadas de itens de verificação, que devem ser analisados para ter a qualidade assegurada. (LUONGO; ROCHA, 2011). O diagrama de Ishikawa também é chamado de diagrama de causa e efeito ou espinha de peixe, devido ao seu formato. Trata-se de uma ferramenta gráfica que possibilita o acesso às informações das causas e efeitos de determinado evento adverso. Jaqueline Realce 51 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 Figura 6 – Modelo do diagrama de Ishikawa ou causa e efeito Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/vaOAYw>. Acesso em: 05 ago. 2016. Lembre-se de que para cada um dos efeitos descritos, existem diversas categorias que poderão ser alocadas, como, por exemplo, procedimentos, pessoas, medição e ambiente. 5W2H A partir da construção do diagrama de Ishikawa ou causa e efeito, é possível elaborar um plano de ação do controle do processo, evitando que um novo evento adverso se repita. Geralmente, nesses casos, utiliza-se a ferramenta 5W2H. O 5W2H é basicamente um check-list que apresenta as atividades as quais precisam ser desenvolvidas para a correção do efeito adverso identificado. Trata- se de um mapeamento com a definição clara das tarefas dos setores e/ou cargos envolvidos, bem como dos valores que deverão ser desprendidos pela empresa para tal correção. (MALIK; SCHIESARI, 2011; ALVES, 2012). O nome dessa ferramenta foi assim estabelecido por juntar as primeiras letras dos nomes (em inglês) das diretrizes utilizadas no processo. Veja, na sequência, cada uma delas e o que representam: • What – O que será feito (etapas); • Why – Por que será feito (justificativa); • Where – Onde será feito (local); • When – Quando será feito (tempo); • Who – Por quem será feito (responsabilidade); • How – Como será feito (método); • How much – Quanto custará fazer (custo). 52 Gestão da Qualidade Hospitalar Figura 7 – Modelo de plano de ação: metodologia 5W2H Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/CHvaOO>. Acesso em: 05 ago. 2016. Você encontrará na literatura diversos modelos de plano de ação. Mas lembre-se de que o melhor modelo é aquele que atende às suas necessidades e que ajude você a concluir e alcançar seus objetivos. Porém não basta apenas elaborar o plano de ação, é necessário realizar o acompanhamento constante de suas ações. OS CINCO SENSOS DA QUALIDADE – 5S Em 1950, o Japão criou o programa 5S como um projeto de qualidade total. A base do programa 5S são cinco palavras japonesas que iniciam com a letra “s” no alfabeto ocidental: seiri, seiton, seiso, seiketsu e shitsuke. O programa possui esse nome por que se trata de um sistema que utiliza cinco conceitos básicos e simples, mas que fazem diferença no dia a dia da organização, uma vez que resultam em mudanças de atitudes e comportamentos. Países como Espanha e Inglaterra adotaram metodologias semelhantes com objetivo de organizar e diminuir o desperdício, mas com outros nomes: “Teoria da escova” e Housekeeping (cuidar da casa). (ALVES, 2012). No Brasil, o programa 5S foi introduzido pela Fundação Cristiano Ottoni em 1991. (NOGUEIRA, 2003). Jaqueline Realce Jaqueline Realce 53 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 a) Senso da utilização (seiri): O senso da utilização é o primeiro “s” do programa e visa identificar, selecionar e eliminar os objetos que se encontram no local de trabalho e não são mais utilizados. A mesma separação pode ser feita com o material de uso pessoal: quantas vezes guardamos papéis e documentos que não são mais úteis e só ficam ocupando espaço? Muitas vezes, o que é inútil para nós pode servir para outra pessoa ou outro departamento da empresa. Você também pode doar, vender ou encaminhar o material para o lixo reciclável quando possível. Lembre-se: É preciso consultar as legislações vigentes da ANVISA para descartar corretamente os materiais e/ou objetos oriundos de instituições de saúde. b) Senso da ordenação (seiton) O senso da ordenação tem por objetivo arrumar os objetos que sobram após a seleção e seu lema é “um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar”. A legislação impõe que as instituições de saúde guardem os prontuários dos pacientes por no mínimo 20 anos, pois a qualquer momento eles podem ser solicitados. Imaginem como será difícil encontrá-los se o arquivo não estiver organizado! O senso da ordenação também pode/deve ser utilizado para organizar os arquivos de computador. Colocar os arquivos em pastas facilita seu acesso, bem como organiza o backup para encontrar sempre a versão mais atualizada. c) Senso da limpeza (seiso) Este senso consiste em aplicar regras referentes à limpeza do local de trabalho. Sua principal vantagem está em proporcionar um ambiente agradável, sadio e melhorar a imagem interna e externa da organização. d) Senso da saúde (seiketsu) Este senso compreende a saúde, a higiene e a padronização. Seu objetivo é criar uma cultura de hábitos saudáveis entre os membros da organização e, ainda, a preocupação com a prevenção de acidentes. 54 Gestão da Qualidade Hospitalar e) Senso da autodisciplina (shitsuke) Seu objetivo é manter o local de trabalho em ordem. A regra básica consiste em desenvolver as tarefas de forma correta, segundo os padrões e normas da organização. OS DEZ SENSOS DA QUALIDADE – 10S O programa 5S passou por um processo evolutivo e, atualmente, as empresas estão colocando em prática os 10S, ou seja, estão acrescentando mais 5S aos anteriores. a) Senso da constância (shikakhi) Diz respeito à firmezade ânimo, multiplicar o que aprendeu e ajudar quem precisa. b) Senso do compromisso (shitsukoku) Corresponde à dedicação, à obrigação assumida por todos, ao comprometimento com o sucesso do processo 5S. c) Senso da coordenação (seisho) Diz respeito às questões de liderança e à coordenação do sistema 5S dentro dos setores da empresa. d) Senso da padronização (seido) Corresponde à ação simultânea, aos procedimentos e às normas que regimentem o sistema 5S nas áreas e na empresa. e) Senso de responsabilidade social (sekinin shakai) Trata do compromisso que a organização e as pessoas que dela fazem parte devem ter para com a sociedade. Aqui está incluída toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. MÉTODOS DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS - MASP O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) é um processo de melhoria que apresenta 8 etapas. Cada uma delas contribui para a identificação dos problemas e a elaboração de ações corretivas/preventivas para eliminá-los ou minimizá-los. Jaqueline Realce Jaqueline Realce 55 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 Esse método auxilia os gerentes na solução de problemas, fornecendo subsídios para analisá-los e priorizá-los, identificando situações que não foram bem definidas e exigem atenção. Estabelece rápido controle das situações e planeja o trabalho que será realizado, apresentando respostas que ajudam na priorização de problemas que exigem atenção, dividindo-os em partes para serem analisados. Figura 8 – Sequência de etapas do MASP Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/Pdznt5>. Acesso em: 05 ago. 2016. A ferramenta MASP é importante na tomada de decisão, pois contribui para alcançar resultados positivos nos processos de diagnóstico e avaliação da qualidade. PDCA O PDCA (Plan – Do - Check – Action), também conhecido como “ciclo PDCA”, é uma ferramenta de gestão utilizada para monitorar e melhorar os processos de forma contínua e sem interrupções. O percursor na divulgação do PDCA como ferramenta de apoio para gestão da qualidade foi William Edwards Deming, na década de 1950. (ALVES, 2012). 56 Gestão da Qualidade Hospitalar Figura 9 – Etapas do ciclo PDCA Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/uBcreB>. Acesso em: 05 ago. 2016. O ciclo PDCA inicia pela etapa do planejamento (PLAN) com o levantamento e análise das informações da organização. Em seguida, ocorre a execução (DO), em que são efetivadas todas as atividades planejadas. Na sequência, ocorre a checagem do processo (CHECK), na qual é verificado se a execução e o resultado estão conforme o planejado ou se no decorrer do processo ocorreu alguma falha. A última etapa consiste na ação (ACT), na qual ocorre a correção dos problemas e/ou falhas identificados na etapa anterior. (MIRANDA, 2011). A ferramenta PDCA pode ser aplicada em qualquer nível de atividade dentro da organização, desde processos assistenciais até as atividades de apoio, como, por exemplo, as administrativas. O PDCA é uma ferramenta muito útil, uma vez que contempla várias etapas para solucionar problemas e planejar a melhoria nos processos de trabalho. Padronização dos Documentos A padronização dos documentos é de fundamental importância na gestão da qualidade. 57 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 A documentação da qualidade é uma ferramenta necessária para que os setores envolvidos possam se comunicar sobre as decisões tomadas, bem como fornecer as informações necessárias para que a gestão da qualidade seja implantada de forma clara. (OLIVEIRA, 1994). De acordo com Silva et al. (2010, p. 7): O objetivo principal da documentação do sistema da qualidade é apresentar um modelo que esteja voltado para o desenvolvimento, implementação e melhoria da eficácia do sistema de gestão da qualidade, tendo como prioridade aumentar a satisfação do cliente através do atendimento de seus requisitos. O documento de maior valor agregado do sistema da qualidade é a política da qualidade. Nela, estabelecem-se as diretrizes que a organização deve seguir, bem como a definição da missão, visão e valores da gestão da qualidade dentro da organização. Carpinetti et al. (2007) sustentam que a documentação da qualidade é um conjunto de documentos que serão utilizados pela organização, como, por exemplo, formulários, modelos de manuais e normas que darão suporte para as equipes de trabalho. Esses documentos poderão ser disponibilizados por meio físico ou digital, porém recomenda-se que seja realizado um controle rigoroso das cópias existentes na organização. Geralmente, as empresas optam por disponibilizar os documentos de forma digital, com restrição para impressões. Os documentos impressos recebem uma tarja de “cópia” e são controlados pelo setor da qualidade. Quando há qualquer tipo de alteração, eles são imediatamente recolhidos e substituídos pela versão mais atual do documento. Não existe um modelo padrão para os referidos documentos, porém Tjara (2010, p. 32) esclarece que são necessários os seguintes dados: • Nome do procedimento, rotina de trabalho e instrução de trabalho/manual; • Código do documento (geralmente se usa um número sequencial de controle); • Número de páginas; • Data da elaboração; • Data da revisão; • Número da revisão; • Responsável pela elaboração. Todos os documentos elaborados pela organização deverão passar por revisões constantes. Em geral, os prazos médios das revisões podem variar de 12 a 24 meses, conforme o órgão certificador e/ou necessidade da organização. 58 Gestão da Qualidade Hospitalar FLUXOS E MAPEAMENTO DO PROCESSO O fluxograma é uma representação gráfica muito utilizada no mapeamento dos processos organizacionais. Processos são maneiras de fazer alguma coisa. Envolvem a transformação de um insumo em produto final. No interior dos processos ocorrem transformações, que incluem as etapas necessárias para a obtenção do produto final com valor agregado. (SCARTEZINI, 2009). Entende-se por mapeamento de processos a primeira etapa, que tem por função o estudo e entendimento das lógicas inseridas na cadeia de informações e insumos. (PAVANI JUNIOR; SCUCUGLIA, 2011). Para Scartezini (2009), o mapeamento de processos é uma ferramenta gerencial, analítica e de comunicação, utilizada para melhorar os processos existentes ou, ainda, na implantação de um novo processo, visando à redução das falhas durante a execução, melhorando, assim, a produtividade e a implantação de padronização das atividades de forma simplificada e fácil de entender. O fluxograma é um gráfico que representa o fluxo sequencial de um trabalho de maneira analítica ou sintética, facilitando o entendimento das operações e dos membros executores. Analisar o fluxo do processo com base no fluxograma é uma das maneiras rápidas, lógicas, simples e eficientes para perceber oportunidades de melhoria. Fonte: Tjara (2010, p. 89). Geralmente, ao desenvolver um fluxograma de processo, é necessário que o documento apresente questões básicas em relação ao modo de análise. De acordo com Tjara (2010, p. 90), essas informações são: • O que é? • Quem faz? • Como faz? • Quando faz? Além disso, para melhor entendimento dos usuários, as normas de qualidade exigem que se utilize uma padronização universal na elaboração do fluxograma de símbolos. Veja no quadro que segue: O fluxograma é uma representação gráfica muito utilizada no mapeamento dos processos organizacionais. 59 Padronização e auditoria da qualidade hospitalar Capítulo 3 Quadro 10 - Os principais símbolos utilizados na elaboração do fluxograma Fonte: Tjara (2010, p. 92). Quanto ao tipo de fluxograma, você poderá utilizar aquele que atender à necessidade da organização no mapeamento dos processos. Os principais tipos são: • Fluxograma vertical: utilizado para descrever processos simples;
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