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o facto: ✔ dos próprios aderentes, que podem ser tentados (levados) a fazer aceder pessoas do seu meio (membros da família ou vizi- As fraudes e os abusos 200 Guia de gestão das mutualidades de saúde em África BIT/STEP nhos, por exemplo) às prestações da mutualidade sem que estas sejam beneficiárias; ✔ de indivíduos não beneficiários da mutualidade que tentem fazer- se passar por beneficiários, junto dos prestadores de cuidados. Os abusos e fraudes traduzem-se, concretamente, para a mutuali- dade num aumento de utilização dos serviços de saúde. Este aumento será progressivo. Pode ser cancelado rapidamente, se a mutualidade efectuar um bom controlo, permitindo detectar e sancio- nar os primeiros casos de fraudes. Pode, em contrapartida, aumen- tar rapidamente e atingir proporções catastróficas, se não houver controlo nem sanção. O controlo social desempenha um papel importante a este nível. É por isso que o risco de fraudes e de abusos é menos importante numa pequena mutualidade, onde todos os aderentes se conhecem. Este risco é, em contrapartida, particularmente importante nas gran- des mutualidades. É-o, igualmente, no caso de conluio entre os ade- rentes e os prestadores de cuidados. A título de exemplo, os aderen- tes podem entender-se com um prestador de cuidados para que este faça passar por consultas pequenos internamentos, quando estes últi- mos constituam o único serviço coberto pela sua mutualidade. Este último risco está ligado a eventos excepcionais e não controlá- veis pela mutualidade, tais como: ✔ o aparecimento de epidemias que provocam um aumento maciço e brutal da quantidade e/ou do custo das prestações e podem levar a uma situação de crise financeira para a mutuali- dade; ✔ a comparticipação de uma despesa de cuidados excepcional. Este risco respeita, essencialmente, à cobertura dos serviços de internamento e de cirurgia e aparece, aquando da compartici- pação de um dano particularmente grave que requeira uma inter- venção pesada e onerosa. Trata-se de casos raros, mas que podem, igualmente, colocar uma pequena mutualidade em situa- ção de crise financeira. 1.2 A prevenção dos riscos ligados ao seguro O objectivo da prevenção é evitar o aparecimento dos riscos anteriormente descritos ou reduzir o seu impacto na mutualidade. Sendo estes riscos previamente conhecidos, os res- ponsáveis de uma mutualidade de saúde devem integrar nos mecanismos de funciona- mento um conjunto de medidas que permitirão prevenir ou limitar o seu aparecimento. Deverão, nomeadamente, ter em conta que os riscos são muito dependentes da natureza dos serviços cobertos. Não existe receita miraculosa nesta matéria e cada mutualidade deve escolher, entre todas as possíveis medidas, as que melhor se adaptem à situação. As medidas mais cor- rentes são adiante descritas, colocando em evidência os seus efeitos positivos e negati- A ocorrência de casos catastróficos Parte VI • A gestão dos riscos ligados ao seguro 201 vos. Com efeito, cada medida pode ter consequências nefastas, nomeadamente, nas adesões. Estas medidas visam reduzir o risco de selecção adversa ao: ✔ procurar uma cobertura, a maior possível, dos potenciais benefi- ciários. O objectivo é, de algum modo, “diluir” a proporção de pessoas com forte risco de doença; ✔ limitar a possibilidade de os membros do público-alvo decidirem por si próprios se se querem ou não segurar. As principais medidas possíveis respeitam os tipos, os modos e o período de adesão, o número de beneficiários no início do funciona- mento da mutualidade e o respeito da unidade de base das adesões. Os tipos de adesão Num sistema de seguro são possíveis três tipos de adesão princi- pais: ✔ a adesão voluntária: o potencial aderente é livre de escolher entre aderir ou não à mutualidade; ✔ a adesão automática: a adesão é automática quando a filiação numa entidade (aldeias, cooperativas, empresas, etc.) implica automaticamente a adesão à mutualidade. A decisão de aderir é tomada pelo grupo (e não por cada indivíduo) e não é imposta do exterior; ✔ a adesão obrigatória: os indivíduos, as famílias ou os agrupa- mentos são obrigados a aderir sem que esta decisão tenha sido tomada por eles. As formas de adesão São possíveis três formas principais de adesão, conforme a respec- tiva base seja: ✔ o indivíduo: cada pessoa adere individualmente, sem obriga- ções de pertencer a uma família ou uma colectividade; ✔ a família: todos os membros da família devem estar inscritos e pagar a sua quotização; os critérios que definem a família e a condição de pessoa a cargo são fixados pelos Estatutos e pelo Regulamento Interno; ✔ um grupo, uma aldeia, uma cooperativa, uma empresa, etc.: todos os membros aderem colectivamente à mutualidade. A adesão individual comporta um risco máximo de selecção adversa. Esta forma deverá ser, de um modo geral, evitada, excepto quando estiver associada a uma adesão obrigatória. A adesão familiar é a adesão de grupo que permite, em contrapartida, limitar a escolha individual de aderir e, assim, uma repartição mais equilibrada de doentes e de pessoas saudáveis no seio da mutuali- As medidas relacionadas com as adesões 202 Guia de gestão das mutualidades de saúde em África BIT/STEP dade. Estas formas de adesão atenuam, portanto, o risco de selecção adversa. Introduzem, contudo, um constrangimento para os aderentes: ✔ a adesão familiar pode ser desfavorável às famílias numerosas, cujo montante de quotização será elevado quando for fixado por pessoa; ✔ a adesão de grupo implica que todos os membros devem poder quotizar. Dito de outra forma, se um membro estiver impossibili- tado de pagar a sua quotização, o grupo inteiro pode ser excluído da mutualidade. Este constrangimento pode ser ultra- passado pela implementação de mecanismos de entreajuda e de solidariedade que, no seio do grupo, permitam o pagamento das quotizações. A incidência destas formas de adesão está dependente dos tipos de adesão. Por exemplo, uma adesão individual e voluntária implicará um risco máximo de selecção adversa. Inversamente, uma adesão obrigatória ou automática por agrupamento é a medida mais eficaz contra este risco. O número de beneficiários no início do funcionamento da mutualidade O risco de selecção adversa é importante no início do funcionamento de uma mutualidade, quando o número de beneficiários é ainda pequeno e os primeiros indivíduos que aderem são aqueles com forte risco de doença (por isso mais interessados em estar cobertos). Uma mutualidade deve, portanto, procurar chegar ao máximo possí- vel de pessoas desde o início. Para isso, pode: ✔ fixar um número limitado de beneficiários, abaixo do qual não poderá dar início às comparticipações. Este limiar é, igualmente, fixado em percentagem do público-alvo. Permite uma atenuante eficaz para os casos de selecção adversa, mas deve ser bem colocado. Com efeito, o risco é de bloquear o início do funcio- namento da mutualidade se o número mínimo de beneficiários a atingir for demasiado elevado; ✔ realizar campanhas de sensibilização. O princípio da mutualiza- ção do risco doença deve ser bem compreendido pelo conjunto dos aderentes, aos quais não é inútil lembrar, regularmente, os princípios de responsabilidade e de solidariedade. A AG Constituinte e as seguintes Assembleias constituem momen- tos importantes de informação e de sensibilização dos aderen- tes, mas nem sempre são os suficientes. Uma mutualidade de saúde dispõe, igualmente, de numerosos possíveis contactos, a fim de assegurar uma permanente sensibilização: autoridades locais, instituições religiosas, associações de bairros, de jovens, agrupamentos femininos, etc. As campanhas de sensibilização têm, igualmente, por fim informar o conjunto da população, visando aumentar o número de aderentes e garantir um melhor funcionamento dos mecanismos de seguro. Parte VI • A gestão dos riscos ligados ao seguro 203 O período de adesão A possibilidade de aderir a qualquer momento do ano pode favore- cer a selecção adversa, sobretudo, se a mutualidade