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COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS INTRODUÇÃO: Tudo vai girar em torno de hemostasia (do grego, haima = sangue; stasis = detenção). Mecanismos gerais envolvidos na manutenção do equilíbrio sanguíneo interno. Componentes: plaquetas, fatores de coagulação, inibidores da coagulação, fatores fibrinolíticos e vasos sanguíneos. Fator von Willebrand: glicoproteína grande multimérica (2 a 50 subunidades). Envolvido na adesão de plaquetas à parede vascular e às demais plaquetas (agregação). Transporta o fator VIII (fator anti-hemofílico). Sintetizado por células endoteliais e megacariócitos. Armazenado nos corpúsculos de Weibel-Palade (endotélio e grânulos alfa das plaquetas). Cascata de coagulação: sistema de amplificação biológica para produção de trombina (produz fibrina). Envolve: fatores plasmáticos de coagulação, pró-cofatores e proteínas reguladoras (C e S), cálcio iônico e do Fator tecidual (tromboplastina ou fator III). Formação de T por 3 complexos enzimáticos: extrínseca (FT, VII, fosfolipídio, Ca), intrínseca (IX, VIII, fosfolipídio, Ca), protrombinase (X, V, fosfolipídio, Ca). Extrínseca: início – interação do FT (III) + VIII → ativa X → resulta em pouca trombina. Intrínseca: início – interação de polifosfatos + XII → ativa XI, IX e VII na presença IV (Ca2+) → resulta em X ativado e amplificação da coagulação. DISTÚRBIOS HEMORRÁGICOS VASCULARES Hereditário: telangiectasia hemorrágica hereditária (ENG). Adquirido: púrpura senil, púrpura associado a infecções, escorbuto, púrpura associado ao uso de esteroides, etc. PLAQUETÁRIOS (função alterada ou trombocitopenia) Hereditário: trombastenia de Glanzmann e Naegeli (GPIIb/GPIIa) e Síndrome de Bernard-Soulier (GPIb). Adquiridos: causas de trombonitopenia ou trombocitopenia como consequência de fármacos ou agentes químicos. FATORES DE COAGULAÇÃO Hereditário: hemofilia A, B e Doença de von Willebrand. Adquiridos: distúrbios adquiridos da coagulação (deficiência de fatores de vitamina K-dependentes, doença hemorrágica do recém-nascido, má absorção de vit K, obstrução biliar. COAGULOPATIAS Deficiência qualitativa ou quantitativa de fatores de coagulação → coagulopatias (hereditárias ou adquiridas). - Tempo de tromboplastina parcial (TTP) – mede o mecanismo intrínseco – teste pré-cirúrgico de coagulação. - Tempo de trombina (TT) – mede a quantidade e a reatividade do fibrinogênio – utilizado no estudo da coagulação intravascular disseminada e da fibrinólise. - Tempo de protrombina (TP) – mede o mecanismo extrínseco, contendo quase todos os fatores que são inativados pelos anticoagulantes orais – utilizado no controle de terapêutica anticoagulante oral. HEMOFILIA A (deficiência do fator VIII) – OMIM 306700 Mutação no gene F8 (26 éxons, representa 0,1% do X) (Xq28) → 270 variantes (50% mutações pontuais e deleção) (50% inversão flip-tip). Gravidade relacionada a ausência ou baixa produção de VIII. Herança recessiva ligada ao sexo. 1:5000-10.000 homens. Mulheres tem expressão variável (proveniente de H afetado com M portadora). Brasil (12.983 pacientes com hemofilia A e B). Características clínicas: - Episódios recorrentes de sangramento (espontânea ou em consequência a pequenos traumas). – Sangramento nos espaços articulares causando edema doloroso. – Hemartroses (hemorragia nas articulações_ repetidas e hematomas musculares → levam deformidades articulares progressivas e invalidez. – Hemorragia pode ocorrer no cérebro e o sistema digestório. – Nas extrações dentárias, ocorre sangramento prolongado. – Podem ser encontrados pseudotumores hemofílicos → grandes hematomas encapsulados com dilatação progressiva do cisto pelas hemorragias repetidas. Tratamento: - Reposição do fator VIII → derivados do plasma humano (fracionamento de doadores), concentrados recombinantes (vários fabricantes). – Desmopressina (hemofilias menos graves) → análogo sintético da vasopressiva (sem efeitos vasopressores), aumento de 2 a 4x o fator VIII. Problema: 30 a 40% dos hemofílicos graves desenvolve Ac contra o FVIII. A – Imunossupressão e regimes de imunotolerância para erradicar os Ac. B – Uso de VIIa recombinante e concentrado de complexo protrombínico ativado (casos e eficácia subótima). Solução: uso do emicizumabe – mimetiza o F VIII: atua na ligação do IXa ao X, incorporado no SUS em 2019. HEMOFILIA B (deficiência de fator IX) – OMIM 306900 Mutação no gene F9 (8 éxons) (Xq27.1-q27.2), herança recessiva ligada ao sexo, gravidade relacionada a ausência ou baixa produção de IX. 20% dos casos de hemofilia. 1:30000-40000 homens. Mulheres com expressão variável. DOENÇA DE VON WILLEBRAND (OMIM 193400) Distúrbio hemorrágico mais comum. 1/250 para todas as formas. Causada pela deficiência ou função anormal do fator VWF. Gene VWF (52 éxons) (12p13.3). Glicoproteína multimérica – Hemostásia 1ª (interação e adesão das plaquetas ao subendotélio), hemostasia 2ª (transportando e protegendo o VIII de degradação). Classificação da doença: Tipo 1 – deficiência quantitativa parcial (40-80%). Tipo 2 – anormalidade funcional (10-30%). Tipo 3 – deficiência completa (1-5%). Tratamento: 1 – Medidas locais e agentes antifibrinolíticos (ex: ácido tranexâmico para sangramento leve). 2 – Infusão de desmopressina para VWD tipo 1 (libera VWF de células endoteliais). 3 – Concentrados de VWF de alta pureza para pacientes com níveis baixos de VWF. Concentrados de fator VIII/VWF derivados de plasma. ESTADOS HIPERCOAGULÁVEIS OU PRÉ-TROMBÓTICOS TROMBOEMBOLISMOS Trombos: massas sólidas ou tampões formados por constituintes do sangue, na circulação, resultando em isquemia por obstrução vascular local ou embolia a distância. Envolvidos na patogenia de várias doenças: infarto do miocárdio, doença cerebrovascular, doença arterial periférica e oclusão venosa profunda. Trombofilia → distúrbios hereditários ou adquiridos que predispõem à trombose. Distúrbios hereditários associados ao aumento do risco de trombose – Prevalência é mais alta do que a de distúrbios hemorrágicos hereditários. 1/3 dos pacientes que sofrem de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar têm um fator de risco genético identificável: deficiências raras de antitrombina, proteína C ou proteína S; mutações mais comuns que afetam o fator V ou a protrombina. Mutação Leiden do fator V de coagulação, conferindo resistência à proteína C ativada – Causa hereditária mais comum de aumento de risco de trombose venosa. Incidência do fator V Leiden em pacientes com trombose venosa é de 20 a 40%. Proteína C inativa o Va. Mutação afeta o sítio de clivagem para a degradação FV. Fator de risco no desenvolvimento de trombose: Heterozigotos – ricos 5-8x maior que a população geral. Homozigotos – risco 30-140x maior que a população em geral. Mutação G20210A do gene do fator II (protrombina) – Alelo G20210A → Prevalência de 2-3% na população. Substituição de G para A na posição 20210 na região 3’ não traduzida do gene (20210G>A). Aumento nos níveis de mRNA → Elevados níveis de protrombina. Fator de risco no desenvolvimento de trombose. Heterozigotos: 3-6x maior que a população em geral. Uso de contraceptivos orais → contém estrogênio sintético → Aumentam os níveis de fatores de coagulação. Fator de risco: 14-22x independente dos genótipos de Fator V e de Protrombina. Fatores de risco: 30-150x – trombose venosa cerebral: contraceptivos orais + hetero para protrombina.
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