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Rousseau

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Rousseau: da servidão à liberdade, Milton Meira do Nascimento
Sobre o autor do texto
Possui graduação (1971), mestrado (1978) e doutorado(1987) em Filosofia pelo Departamento de
Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, da
qual é professor desde 1975;
Em 1981, cursou o D.E.A. na Universidade de Paris I - Sorbonne e obteve o D.E.A - Diplôme
d´Études Approfondues pela École des Hautes Études en Sciences Sociales - Paris.
Em 2002, obteve o diploma de livre-docente e atualmente é professor titular aposentado sênior do
departamento de filosofia da FFLCH da Universidade de São Paulo, na área de ética e filosofia
política, tendo como foco de referência em toda a sua formação acadêmica a tradição ilustrada do
século XVIII(18), em especial, o pensamento político de Jean-Jacques Rousseau, e o jusnaturalismo
do século XVII(17)
Quem foi?
Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. É considerado
um dos principais filósofos do Iluminismo, sendo que suas ideias influenciaram a Revolução
Francesa (1789) e outros movimentos pela liberdade e independência em outros países. Rousseau
foi também um dos precursores do Romantismo.
Biografia resumida:
- Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712, na cidade de Genebra (Suíça);
- Rousseau não conheceu a mãe, pois ela morreu no momento do parto. Foi criado pelo pai, um
relojoeiro, até os 10 anos de idade;
- Em 1722, outra tragédia familiar acontece na vida de Rousseau, a morte do pai. Na adolescência
foi estudar numa rígida escola religiosa. Nesta época estudou muito e desenvolveu grande
interesse pela leitura e música;
- No final da adolescência foi morar em Paris e, na fase adulta, começou a ter contatos com a elite
intelectual da cidade. Foi convidado por Diderot para escrever alguns verbetes para a Enciclopédia;
foi um filósofo, escritor e tradutor francês, um dos grandes pensadores do Iluminismo francês e
principal idealizador da Enciclopédia. Símbolo do Iluminismo e preparou ideologicamente a Revolução
Francesa.
Diderot queria que a Enciclopédia fosse o veículo das novas ideias contra as forças, para ele
reacionárias, da igreja e do estado, e que destacasse os princípios essenciais das artes e das ciências.
- No ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na França, pois suas obras foram
consideradas uma afronta aos costumes morais e religiosos;
- Refugiou-se numa cidade suíça;
- Em 1765, foi morar na Inglaterra a convite do filósofo David Hume;
- Faleceu em 2 de julho de 1778, aos 66 anos, numa cidade da França.
A filosofia de Rousseau: ideias principais
- Escreveu, além de estudos políticos, romances e ensaios sobre educação, religião, música, ética,
autobiografia e literatura;
- Sua obra principal é Do Contrato Social, publicada em 1762. Nesta obra, defende a ideia de que o
ser humano nasce bom, porém a sociedade o conduz a degeneração. Afirma também que a
sociedade funciona como um pacto social, onde os indivíduos, organizados em sociedade,
concedem alguns direitos ao Estado em troca de proteção e organização;
- Sua obra se caracterizou também pelas observações críticas sobre a natureza do ser humano e a
sociedade;
- Defendeu a aproximação entre justiça e liberdade;
- Era amplamente favorável, na sociedade, à soberania da vontade coletiva.
Principais obras:
- Discurso Sobre as Ciências e as Artes (1750) - ensaio; esse livro inaugural do pensamento do
Rousseau ,é a resposta ao concurso proposto pela Academia de Dijón. Nele o filósofo defende que as
ciências e as técnicas não promovem o aprimoramento moral do ser humano, pelo contrário, elas
promovem o seu afastamento de sua natureza. Com isso, há um processo de corrupção do ser que o
leva à sua ruína moral e social.
- Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens (1755) - ensaio; nesse livro, Rousseau
mostra como a propriedade privada tornou-se o meio de corrupção primeiro entre os seres humanos,
iniciando a desigualdade entre as pessoas e rompendo com a lei de natureza.
- Júlia ou a Nova Heloísa (1761) - romance epistolar; (escrita simula uma troca de cartas) Resumo
da história: Cenário é a Suíça, Júlia se apaixona por seu professor, cujo nome real não é revelado,
porém ele é tratado como Saint-Preux, e nas cartas que os dois amantes trocam, ele lhe conta sobre a
saudades e o amor que sente por ela, e aproveita para relatar críticas sociais dos lugares que passa
(inclusive uma crítica pesada à corte francesa), e lamenta por não poderem ficar juntos, já que suas
posições dentro da sociedade nunca permitiriam.
- Do Contrato Social (1762) - obra sobre política; nessa obra, o filósofo dedica-se a demonstrar como
seria o estado de natureza e como o pacto social colocou-se como momento de mudança para que a
sociedade passasse a viver de maneira a contemplar o convívio social por meio de normas jurídicas e
morais.
- Emílio, ou da Educação (1762) - obra sobre educação; esse livro é um ensaio sobre a educação ou
como os adultos deveriam educar as crianças para que elas se tornassem pessoas mais livres, em
contanto com sua natureza, e melhores cidadãos
- Rousseau, juiz de Jean-Jacques (1776) - diálogos;
- Os Devaneios de um Caminhante Solitário (1782) - autobiografia;
- Confissões - Parte I (1782) - autobiografia;
- Confissões - Parte II (1789) - autobiografia
O ingresso de Rousseau na república das letras aconteceu com a obtenção do prêmio
concedido pela Academia de Dijon, que havia proposto o seguinte tema para dissertação: “O
restabelecimento das ciências e das artes teria contribuído para aprimorar os costumes?” Ao
responder negativamente a essa questão, Rousseau iria marcar uma posição bem diferente do
espírito da época.
“Se nossas ciências são inúteis no objeto que se propõem, são ainda mais perigosas pelos
efeitos que produzem.”
A ciência que se pratica mais pela busca da glória e da reputação do que por um verdadeiro
amor ao saber, não passa de algo ridículo e sua divulgação só contribui para piorar muito mais as
coisas. Não se trata de acabar com as academias, as universidades, as bibliotecas, os espetáculos.
Uma vez que já quase não mais se encontram homens virtuosos, as ciências e as artes poderão
desempenhar o papel de impedir que a corrupção seja maior ainda.
Como era filho de relojoeiro, não encontrou um caminho fácil pela frente. O mundo das
letras era dominado por pensadores como Voltaire, cuja linhagem era a de uma burguesia bem
abastada, e que tinham uma proximidade da corte.
Rousseau deixou trabalhos exemplares em vários domínios, da música à política, passando
pela produção de peças de teatro e pelo romance A nova Heloísa. E deixou o testemunho maior de
sua vida na sua autobiografia, As confissões.
O que Rousseau defendia?
É importante deixar claro que, apesar de Rousseau ser considerado um filósofo, ele não fez
o que a maioria dos pensadores dessa área preocupam-se em fazer: escrever sistemas lógicos e
tratados em que defendem e argumentam sistematicamente sobre um ponto de vista até
esgotá-lo. Rousseau transitou entre teorias diversas, mas não procurou criar sistemas para
defendê-las. A sua filosofia era muito mais ensaística do que uma filosofia de tratados.
Nesse sentido, ele utilizou de um estilo e de bons argumentos para defender uma
complicada tese geral: a de que o ser humano teria uma vida bem melhor quando em seu estado
natural. Assim, podemos dividir a defesa de Rousseau em duas grandes ideias:
Estado de natureza → O ser humano era um ser animal como qualquer outro, vivendo, assim, em
um momento hipotético chamado de estado natural ou estado de natureza. Esse estado era de
plena liberdade e era o momento em que o ser humano foi capaz de desenvolver-se plenamente e
sem as amarras sociais. Ele era puro, por ainda não conhecer a moral, e vivia como um animal vive
na selva. Não havia moral e não havia propriedade, portanto, não existia qualquer traço de
corrupção do ser humano. Isso mudou quando surgiu a propriedadeprivada, e, a partir de então,
foi necessário o estabelecimento de um contrato social.
Contrato social → ou pacto civil, é o artifício elaborado pelo ser humano para resolver os
problemas decorrentes da propriedade privada no estado de natureza. Como não havia uma lei
específica que regulamentasse a propriedade no estado natural, o ser humano teve de recorrer a
outros meios (o estado civil) para regulamentá-la. Com isso, ficou instituído o governo, as leis e a
moral. Isso corrompeu o ser humano, pois ele se afastou de sua natureza. Para que haja um
governo justo e que reaproxime o ser humano de sua natureza, seria necessário que o governo
atendesse à vontade geral do povo e que, mesmo inconscientemente, requer uma política que
reaproxime o ser humano de sua natureza e anule qualquer traço de corrupção moral na
sociedade.
A trajetória do homem, da sua condição de liberdade no estado de natureza, até o surgimento da
propriedade, com todos os inconvenientes que daí surgiram, foi descrita no Discurso sobre a
origem da desigualdade. Nesta obra, o objetivo de Rousseau é o de construir a história incerta da
humanidade e demonstrá-la através de argumentos racionais. Foi escrita para responder a
pergunta da Academia Dijon “Qual é a origem da desigualdade entre os homens e se ela é
autorizada pela lei natural?” e aqui o Rousseau procura descrever a gênese histórica da
desigualdade social, realizando antes, uma análise hipotética do ser humano no estado de
natureza, demonstrando que a ingenuidade natural e a bondade foram, sendo substituídos pela
impureza.
O Contrato Social
Estabelece as condições de possibilidade de um pacto através do qual os homens, depois
de terem perdido sua liberdade natural, ganhem, em troca, a liberdade civil. No processo de
legitimação do pacto social, o fundamental é a condição de igualdade das partes contratantes.
Ao contrário da situação descrita no Discurso sobre a origem da desigualdade, ninguém sai
prejudicado, porque o corpo soberano que surge após o contrato é o único que determina o modo
de funcionamento da máquina política. Desta vez, estariam dadas todas as condições para a
realização da liberdade civil, pois o povo soberano, sendo ao mesmo tempo agente do processo de
elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis, tem todas as condições para se
constituir enquanto um ser autônomo. Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo é um ato de
liberdade. Um povo, só será livre quando tiver condições de elaborar suas leis de tal modo que a
obediência a essas mesmas leis signifique, uma submissão à vontade geral e não à vontade de um
indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos.
Neste sentido, podemos dizer que uma das preocupações de Rousseau era o de mostrar
em sua obra que a monarquia não era a única forma de governo capaz de fundar a soberania do
Estado. Rousseau concebe o povo como portador da vontade geral que constitui o fundamento do
Estado.
A vontade a representação
A primeira condição para a legitimidade da vida política é de um pacto legítimo, onde a
alienação total e a condição de todos é de igualdade. Esse processo de legitimação deve se
estender também para a máquina política em funcionamento.
Antes de mais nada, para Rousseau, é preciso definir o governo como um órgão limitado
pelo poder do povo e não como um poder máximo. A administração é uma parte importante para
o bom funcionamento da máquina política, mas qualquer que seja a forma de governo, precisa se
submeter ao poder soberano do povo. As formas clássicas de governo, a monarquia, a aristocracia
e a democracia, teriam um papel secundário dentro do Estado e poderiam variar ou combinar-se
de acordo com as características do país. Mesmo sob um regime monárquico, segundo Rousseau,
o povo pode se manter como soberano, desde que o monarca se caracterize como funcionário do
povo.
Uma outra instituição que merece muita atenção é a da representação política. Rousseau
não admite a representação ao nível da soberania. Quando um quer pelo outro, a vontade de
quem a cedeu não mais existe ou não mais está sendo levada em consideração. A soberania é
intransmissível. Mas Rousseau reconhece a necessidade de representantes a nível de governo. E,
se já era necessária uma grande vigilância em relação ao executivo, por sua tendência a agir contra
a autoridade soberana, não se deve descuidar dos representantes, cuja tendência é a de agirem
em nome de si mesmos e não em nome daqueles que representam.
Considerando os próprios textos de Rousseau, nos deparamos com certa incredulidade
quanto à recuperação da liberdade por povos que já a perderam. Sua visão da história é
pessimista. Fazer com que um povo, da servidão recupere a liberdade, é o mesmo que recuperar a
vida de um doente prestes a morrer.

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