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Métodos Experimentais da Física III LOM3230 Investigação da influência da temperatura sobre a condutividade de Fe, Si, Nb e Cu Bruno Brunello Vieira1, Fábio de O. e Silva Marques1, Felipe Todaka da Silva1, Fernando H. C. de Almeida Cardoso1 1Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de Lorena, Departamento de Engenharia de Materiais 30 de junho de 2021 Resumo Na era da tecnologia, faz-se imprescindível compreender as diversas propriedades dos materiais, pois, ao passo que as propriedades são entendidas, a manipulação destas podem ser benéficas para aplicações tecnológicas. Através do presente documento, buscou-se entender os conceitos relacionados as propriedades de dilatação térmica de três materiais: alumínio, alumina e teflon. Utilizando-se de um termistor em conjunto com um extensômetro considerando-se um intervalo de temperatura de aproximadamente 77K até a temperatura ambiente (300K), pôde-se realizar as devidas medições para que a análise dos parâmetros de interesse fosse realizada. Graças ao ajuste linear para os intervalos em que cada material apresentou uma significativa linearidade, fez-se possível obter o coeficiente linear de expansão para cada caso em estudo. Para o alumínio e a alumina, os erros associadas foram baixos, sendo de 0, 93% e 7, 88%, respectivamente. Já para o teflon, obteve-se um elevado valor de erro (52, 57%). Os erros devem possuir, sobretudo, relação com as impurezas dos materiais e a sensibilidade dos equipamentos. Considerando a sensibilidade dos equipamentos utilizados na experimentação e a disponibilidade dos dados teóricos encontrados na literatura, pode-se aferir que, os conceitos relacionados com as propriedades de dilatação térmica dos materiais estudados foram compreendidos com êxito e os resultados teóricos foram coerentes com os presentes na literatura. Palavras-chave: dilatação térmica – alumina – alumínio – teflon – ajuste linear – coeficiente linear 1 Introdução Dilatação térmica é a mudança das dimensões de um ma- terial, sem alterar sua massa, devido a variação de temperatura, seja tal variação positiva ou negativa. Tal propriedade do ma- terial é estudada em diversos ramos da área de tecnologia, seja por suas implicações no ramo da engenharia civil ou no estudo para aprimorar o conhecimento na área de engenharia dos ma- teriais [1]. No presente trabalho, utilizou-se os conceitos acerca desse tema para estudar as propriedades de dilatação térmica do alumínio, alumina (Al2O3) e Teflon1. 1.1 Dilatação Térmica É comum utilizar o conceito de expansão linear para ma- teriais considerados bidimensionais e pode-se definir um coefi- ciente de expansão linear α [1]: αi = 1 Li ∂Li ∂T . (1) Para um material isotrópico o coeficiente linear será igual para os três eixos principais, caso o material tenha geometria cúbica pode-se utilizar o coeficiente térmico de expansão volu- 1 Nome comercial da substância inerte politetrafluoretileno, paten- teado pela empresa DuPont. métrica β, dado por β = 1 V ∂V ∂T , (2) que se relaciona com alpha da seguinte forma α = β/3. Se o sólido for um material anisotrópico, cada eixo principal (i = 1, 2, 3) terá um coeficiente térmico linear próprio. Portanto, a dilatação térmica pode ser calculada de forma direta através da Equação 3 [1]. ∆l l0 = αl∆T (3) As propriedades termodinâmicas de um sólido são contidas na energia livre de Helmholtz, F (V, T ) = U − TS, onde U é a energia interna, T a temperatura absoluta e S a entropia, resultando numa equação de estado P (V, T ) = − ( ∂F ∂V ) T , (4) a entropia S(V, T ) = − ( ∂F ∂T ) V , (5) e a capacidade térmica para volume constante CV (V, T ) = − ( ∂U ∂T ) V = − ( ∂2F ∂T 2 ) V . (6) Grüneisen propôs um modelo através da conclusão de que o coeficiente de expansão térmica deveria ser proporcional a 2 B. Brunello Vieira et al. capacidade térmica, dado por β = γCV BTV , (7) onde γ é um número adimensional de ordem unitária, chamado de parâmetro de Grüneisen. E para baixas temperaturas (T << θ), a energia livre da rede pode ser expressa por F (V, T ) = Tf (T/θ) . (8) Em temperaturas inferiores a temperatura de Debye (T << θ0) , que corresponde à temperatura na qual é atingido um limite finito da frequência e número de vibrações no sólido, a capacidade térmica é dada por [1]: CV = 12 5 π 4NkB ( T θ0 )3 = bT 3 . (9) 1.2 Ponte de Wheatstone O extensômetro é um dispositivo comumente utilizado com uma ponte de Wheatstone que realiza medições de distân- cia entre dois pontos em materiais quando sofrem deformação. Eles respondem com uma mudança em seu comportamento elétrico, usualmente a resistência, quando submetidos à um es- tresse físico, expansão ou compressão. Seu principal parâmetro é chamado de fator Gage k e pode ser definido como k = ∆R/R∆l/l , (10) onde R é a resistência elétrica e l refere-se ao comprimento da amostra [2]. A configuração mais utilizada com um extensômetro é a ponte de Wheatstone de baixa energia, apresentada na Figura 1. Considerando que a ponte é abastecida por uma fonte de tensão constante com baixa resistência interna, tem-se a se- guinte relação de tensão de entrada UA e tensão captada UE [2]: UE UA = R1 R1 +R2 − R4 R3 +R4 , (11) sendo o balanceamento inicial: R1R3 = R2R4 (12) Substituindo a Equação 12 em 11, adotando R1,R2 e R3 constantes e utilizando R4 = R4 + ∆R4, tem-se que a tensão de saída UE relaciona-se com R4 da seguinte forma: UE UA = (1 + n)∆R4 R4 (13) A utilização de uma ponte de Wheatstone se dá pela van- tagem de que ela é menos suscetível à erros cometidos pelo operador ou imprecisões de medidas devido a falta de calibra- ção, já que no multímetro é necessário a passagem de corrente elétrica pelo mesmo, podendo ocasionar uma leve imprecisão na medida devido ao “roubo” de corrente para o funcionamento do equipamento [3]. Figura 1. Ponte de Wheatstone convencional. Fonte: [2]. 1.3 Termistor Os termistores, ou também conhecidos como resistores ter- micamente sensíveis, são dispositivos que apresentam signifi- cante variação de resistência elétrica devido a temperatura. Os termistores são produzidos através de semicondutores, os quais a resistência pode variar em grande escala, de até milhares de vezes apenas pela presença de impurezas, tratamento térmico ou dopagem. Portanto é importante compreender como esses materiais se comportam, um semicondutor pode ser definido como um material que possui condutividade elétrica à tempe- ratura ambiente muito menor que de um metal, mas conside- ravelmente maior que a de um isolante típico [4]. Para uma variação de temperatura de 0 a 300 graus cen- tígrados, a resistência de um semicondutor pode diminuir em até três ordens de grandeza. Enquanto que para uma mesma faixa de temperatura a resistência de um metal típico como a platina, aumenta em um fator de duas vezes [4]. Os semicondutores podem ser classificados de acordo com os portadores de carga que apresentam quando aplicada uma tensão, que podem ser chamados de semicondutores tipo N e tipo P. Nos semicondutores tipo N os portadores de carga são defletidos por um campo magnético de maneira semelhante à como partículas carregadas negativamente se comportariam, e contrariamente à como partículas positivamente carregadas se comportariam [4]. O termistor gerou grande interesse como um componente de circuito eletrônico devido a sua versatilidade e compactação, sendo um de seus principais usos no estudo da relação entre resistência e temperatura. Já que a característica resistência- temperatura desse dispositivo permite que ele seja utilizado como um termômetro sensível, controlador de temperatura ou como um compensador para efeitos de variação de tempera- tura ambiente em outros elementos de um aparato experimen- tal. Para aplicações na termometria os termistores apresentam grande estabilidade e durabilidade, com precisão semelhante a termômetros de platina [4]. 3 2 Materiais e Métodos Na Tabela 1, encontram-se os equipamentos e os materiais utilizados ao longo deste estudo experimental.Tabela 1. Equipamentos e materiais utilizados. Fonte: [5]. Equipamento Descrição Multímetro digital Keithley – 2000 Ponte de Wheatstone National Instruments – NI-9237 Termístor tipo PT1000 em platina Extensômetro — Amostras Teflon, alumínio e alumina Computador usado para aquisição de dados Cabo USB — Cabo RJ 50 — Conector RJ 50 — Chapa de cobre — Recipiente de isopor — Nitrogênio líquido — Fita adesiva fita de alumínio Equipamentos de solda ferro de solda e estanho Outros componentes Fios, cabos e conectores Inicialmente os extensômetros foram posicionados sob a face polida das amostras com a utilização da fita adesiva de alumínio. Em seguida, seus terminais foram cuidadosamente conectados ao terminal RJ 50 e, com o cabo RJ 50, conecta- dos consequentemente ao módulo NI-9237. Esse equipamento foi ligado, através de um cabo USB, ao notebook, para a aqui- sição dos dados com o software Labview. Da mesma forma, o termístor também foi posicionado sob a amostra com a fita adesiva e ligado, com fios de cobre, ao termístor. Em sequência a isso, foi utilizado um recipiente de iso- por como criostato, preenchido com nitrogênio líquido, onde a amostra, e consequentemente o extensômetro e o termístor, mantiveram-se submergidos e sob a mesma temperatura. O aparato experimental finalmente montado pode ser visualizado na Figura 2. Figura 2. Aparato experimental montado. Fonte: [5]. Dessa forma, encontrou-se em homogeneidade térmica, o aparato experimental, à temperatura de aproximadamente 77 K no criostato. Conforme o conjunto ganhava calor do ambiente, aquela temperatura fora aumentando até a temperatura ambi- ente. Ao longo deste aquecimento, os valores da resistência do termístor e as variações dimensionais da amostra foram cole- tados e lidos pelo computador. Esse mesmo procedimento foi feito para todas os materiais estudados nessa experimentação. Na Figura 3, há um fluxograma que resume os procedimentos experimentais a partir da montagem do aparato. Montagem do aparato experimental Resfriamento Equilíbrio térmico Aquisição de dados Resistência do termístor Dilatação da amostra Figura 3. Fluxograma da metodologia. Fonte: os Autores. Na Figura 4, pode-se visualizar uma fotografia da ban- cada onde o experimento foi realizado, em que se pode ver os equipamentos utilizados e o aparato montado. Figura 4. Bancada do experimento. Fonte: [5]. 3 Resultados A partir dos dados fornecidos, foi possível obter os coe- ficientes lineares de expansão. A Figura 5 mostra a curva da 4 B. Brunello Vieira et al. deformação em função da temperatura para a alumina. O in- tervalo de análise para esse material foi de 100 - 150K, sendo a região mais linear do gráfico. Figura 5. Deformação X temperatura do Alumina A curva da deformação em função da temperatura do alu- mínio teve um comportamento mais linear, portanto a região de análise foi de 100 - 250K como mostrado na Figura 6. Figura 6. Deformação X temperatura do Alumínio Por fim, foi possível determinar a curva para o Teflon, a Figura 7. A região analisada para calcular o coeficiente de expansão foi de 100 - 150K. Figura 7. Deformação X temperatura do Teflon A Tabela 2 mostra os resultados dos coeficientes de tem- peratura para cada um dos materiais e a faixa de temperatura analisada para cada um dos materiais. Tabela 2. Coeficientes de expansão linear. Fonte: Autores. Amostra Coeft. Linear (K−1) Faixa de Temperatura Teflon 6, 0 × 10−5 200 K – 250 K Alumínio 3, 0 × 10−5 100 K – 250 K Alumina 4, 8 × 10−5 100 K – 150 K 4 Discussão A Tabela 3 mostra a comparação dos resultados experi- mentais com resultados de literatura fornecidos [1, 6]. Os erros dos resultados foram calculados utilizando: E% = ∣∣∣ ideal − realideal ∣∣∣ × 100% (14) Tabela 3. Dados experimentais X literatura. Os erros das medidas vêm principalmente da diferença da faixa de temperatura realizada nas medidas. Quanto maior a temperatura, menor o valor do coeficiente linear, uma vez que as moléculas alcançam um limite de vibração, dessa forma há um limite para sua expansão térmica para temperaturas mais altas. Além disso, problemas na fixação do extensômetro na amostra pode trazer problemas nas medições. Outro fator importante nas medidas, é o processo de equi- líbrio da ponte H. Qualquer fator externo pode trazer problemas nas medidas de deformação pela ponte, por isso, esse sistema deve ter uma precisão quase exata para ser possível medir a resistência correta no circuito e transformá-la em temperatura para os cálculos. Um fator importante também é o termistor. É possível haver diferenças nas medições por conta de seu posi- cionamento. Se ele não estiver em uma posição estratégica no material, as suas medições de temperatura serão diferentes da temperatura real do material. Apesar de todos esses fatores, e analisando dados de lite- ratura de outros materiais, o fator que mais traz diferenças nas medições foi a faixa de temperatura analisada. Como foi dis- cutido, para temperaturas mais baixas, a rede cristalina possui mais liberdade na expansão, na medida em que a temperatura aumenta e a vibração associada também aumenta, o material vai sofrendo uma espécie de saturação, dessa forma para uma 5 mesma variação de faixa de temperatura, o material sofrerá menos deformação em altas temperaturas do que em baixas temperaturas. 5 Conclusão O erro associado ao coeficiente linear do alumínio e da alumina foram relativamente baixos, sendo de 0, 93% e 7, 88%, respectivamente, revelando que, para esses materiais, a expe- rimentação ocorreu de uma maneira controlada e, além disso, o controle de pureza deles deve ter sido maior, fazendo com que os dados encontrados na literatura coincidissem com os da experimentação. O erro percentual do teflon foi de 52, 57%, revelando que a experimentação está em desacordo com a teoria. Dito isto, devido ao fato dos equipamentos utilizados na experimentação serem extremamente sensíveis a quaisquer interferências, os er- ros e a imperícia humana devem ter prejudicado o resultado em demasia. Outro motivo extremamente importante e que deve ser mencionado, são as possíveis impurezas presentes no te- flon que, provavelmente, prejudicaram nos resultados obtidos de maneira significativa. A ausência de uma mesma faixa de temperatura entre os dados experimentais e os presentes na literatura, é um outro fa- tor que prejudicou na análise e, consequentemente, contribuiu para a diferença percentual entre os respectivos erros percen- tuais. Por mais que os erros encontrados tenham sido conside- ráveis, a experimentação, em um contexto geral, ocorreu de maneira satisfatória, pois, fez-se possível compreender como é que se determina o coeficiente linear de expansão experimen- talmente e, consequentemente, qual o seu significado físico. Referências [1] Frederick Robert Kroeger Jr. The absolute thermal expansion of copper and aluminum between 5 k and 330 k. Digital Repository at Iowa State University, 1974. [2] Stefanescu, Dan Mihai. Strain gauges and wheatstone brid- ges—basic instrumentation and new applications for electrical measurement of non-electrical quantities. Eighth International Multi-Conference on Systems, Signals & Devices, pages 1–5, 2011. [3] Shreem Ghosh, Aninda Mukherjee, Kunal Sahoo, Sunit Kumar Sen, and Arindam Sarkar. A novel sensitivity enhancement tech- nique employing wheatstone’s bridge for strain and temperature measurement. Proceedings of the 2015 Third International Con- ference on Computer, Communication, Control and Information Technology (C3IT), pages 1–6, 2015. [4] JA Becker, CB Green, and GL Pearson. Properties and uses of thermistors—thermally sensitive resistors. Electrical Engineering, 65(11):711–725, 1946. [5] Repositório da Disciplina Métodos Experimentais da Física III (LOM3230). Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/ enrol/index.php?id=75705. Acesso em: 10 de junho de 2021. [6] Sergio Machado Rezende. Materiais e dispositivos eletrônicos. Editora Livraria da Física, 2004. https://edisciplinas.usp.br/enrol/index.php?id=75705https://edisciplinas.usp.br/enrol/index.php?id=75705 M00-0000
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