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Disforia de gênero, como termo descritivo geral, refere-se ao descontentamento afetivo/cognitivo de um indivíduo com o gênero designado, embora seja definida mais especificamente quando utilizada como categoria diagnóstica Disforia de gênero refere-se ao sofrimento que pode acompanhar a incongruência entre o gênero experimentado ou expresso e o gênero designado de uma pessoa. Embora essa incongruência não cause desconforto em todos os indivíduos, muitos acabam sofrendo se as intervenções físicas desejadas por meio de hormônios e/ou de cirurgia não estão disponíveis. SEXO BIOLÓGICO Definido por características anatômicas e fisiológicas: cromossomos, gônadas, genitália interna, genitália externa, hormônios e caracteres sexuais secundários. Identifica-se o sexo como sendo masculino (macho), feminino (fêmea) ou com desenvolvimento sexual diferente (interssexualidade). IDENTIDADE Pode ser entendida como o reconhecimento de um conjunto de características e traços particulares que caracterizam uma pessoa (nome, sexo, data de nascimento, reconhecimento social), assim como também a consciência que uma pessoa tem dela própria tornando-a única, porém com características comuns às de outras pessoas GÊNERO Conceito sociocultural que estabelece comportamentos, adereços, acessórios e gostos para o indivíduo, sendo um espectro de possibilidade entre o masculino, passando pelo andrógino/ambíguo, até o feminino. IDENTIDADE DE GÊNERO Está vinculado com o entendimento de uma pessoa sobre o próprio sexo e gênero, ou seja, sua singularidade e especificidade associadas a aspectos culturais, biológicos, seus desejos, escolhas e afetos. Trata-se de uma experiência profunda e individual, podendo ou não corresponder ao sexo reconhecido ao nascimento. Também passa por um espectro de possibilidades abarcando a noção de pertencimento ao gênero masculino, ao gênero feminino ou a outras possibilidades de gênero concordantes ou discordando com o binário masculino/feminino. Envolve uma interação complexa entre fatores biológicos como hormonais, epigenéticos, e de desenvolvimento cognitivo, fatores psicológicos, sociais, ambientais e culturais. PAPEL DE GÊNERO OU EXPRESSÃO DE GÊNERO Tudo o que uma pessoa diz e faz para indicar aos outros, ou a si mesmo, sua masculinidade, feminilidade, ambos ou nenhum, ou seja, a expressão social de sua identidade de gênero. Isso inclui, mas não se restringe, ao desejo e à resposta sexual. Papel de gênero é a expressão pública da identidade de gênero e identidade de gênero é a experiência pessoal e subjetiva do papel de gênero. ORIENTAÇÃO AFETIVO-SEXUAL Está relacionada ao desejo sexual e/ou afetivo por pessoas do mesmo gênero (homossexualidade), do gênero oposto (heterossexualidade), por ambos os gêneros (bissexualidade), por ambos os gêneros incluindo as possibilidades não binárias de gênero (panssexualidade) ou ausência de atração sexual e/ou afetiva (assexualidade). CISGÊNERO Indivíduo cuja identidade de gênero está em consonância com o sexo reconhecido ao nascimento (ligado ao sexo anatômico, genitália e características físicas) e com o seu comportamento e papel de gênero esperados. TRANSGÊNERO Engloba termos como transexual, travesti, pessoa trans. A identidade de gênero e/ou seu papel de gênero (o que uma pessoa diz ou faz publicamente para expressar sua identidade de gênero) é diferente do sexo reconhecido ao seu nascimento. Pode ou não ter realizado hormonioterapia ou procedimentos cirúrgicos como a cirurgia de adequação genital. TRAVESTI Usado no Brasil para identificar uma pessoa que nasceu com as características físicas do sexo masculino, mas se identifica com o gênero feminino. Vivenciam papéis de gênero femininos, mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, mas como um gênero próprio travesti. Podem ou não recorrer a cirurgias plásticas ou hormonioterapia para adequarem seu corpo à sua identidade. É costumeiramente uma identidade de gênero feminina e deve ser referenciada sempre com pronomes femininos, a não ser que a pessoa opte pelo masculino. INTERSEXO Ou desenvolvimento sexual diferente. Antes chamados de hermafroditas ou pseudo-hermafroditas, são homens ou mulheres que nasceram com alguma anomalia ou má formação na genitália masculina ou feminina e por vezes necessitam de hormonoterapia ou cirurgias durante seu desenvolvimento NÃO BINÁRIOS/ GENDERQUEER Não se identificam com o gênero masculino ou com o gênero feminino ou transitam entre os gêneros. CRITERIOS DIAGNÓSTICOS DSM-V DISFORIA DE GÊNERO EM CRIANÇAS 302.6 (F64.2) A. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses, manifestada por no mínimo seis dos seguintes (um deles deve ser o Critério A1): 1. Forte desejo de pertencer ao outro gênero ou insistência de que um gênero é o outro (ou algum gênero alternativo diferente do designado). 2. Em meninos (gênero designado), uma forte preferência por cross-dressing (travestismo) ou simulação de trajes femininos; em meninas (gênero designado), uma forte preferência por vestir somente roupas masculinas típicas e uma forte resistência a vestir roupas femininas típicas. 3. Forte preferência por papéis transgêneros em brincadeiras de faz de conta ou de fantasias. 4. Forte preferência por brinquedos, jogos ou atividades tipicamente usados ou preferidos pelo outro gênero. 5. Forte preferência por brincar com pares do outro gênero. 6. Em meninos (gênero designado), forte rejeição de brinquedos, jogos e atividades tipicamente masculinos e forte evitação de brincadeiras agressivas e competitivas; em meninas (gênero designado), forte rejeição de brinquedos, jogos e atividades tipicamente femininas. 7. Forte desgosto com a própria anatomia sexual. 8. Desejo intenso por características sexuais primárias e/ou secundárias compatíveis com o gênero experimentado. B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou a prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. DISFORIA DE GÊNERO EM ADOLESCENTES E ADULTOS 302.85 (F64.0) A. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses, manifestada por no mínimo dois dos seguintes 1. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado/expresso e as características sexuais primárias e/ou secundárias (ou, em adolescentes jovens, as características sexuais secundárias previstas). CROSS-DRESSER É uma expressão de gênero. Gostam de usar roupas ou acessórios relativos ao gênero oposto ao do seu nascimento, na maioria das vezes não em tempo integral, e não há identificação pessoal com o gênero oposto. Pode estar associado ou não a situações de fetiche. DRAG QUEEN Pessoa que se veste ou usa acessórios como uma mulher estereotipada ou exagerada para shows e performances artísticas. DRAG KING Pessoa que se veste ou usa acessórios como um homem estereotipado ou exagerado para shows e performances artísticas. TRANSFORMISTA Termo muito popular na década de 1980/1990, referia-se a homens que se vestiam como mulheres para apresentações performáticas sem uma vivência integral ou identificação com o gênero feminino e sem relação com a obtenção de prazer sexual 2. Forte desejo de livrar-se das próprias características sexuais primárias e/ou secundárias em razão de incongruência acentuada com o gênero experimentado/expresso (ou, em adolescentes jovens, desejo de impedir o desenvolvimento das características sexuais secundárias previstas). 3. Forte desejo pelas características sexuais primárias e/ou secundárias do outro gênero. 4. Forte desejo de pertencer ao outro gênero (ou a algum gênero alternativo diferente do designado). 5. Forte desejo de ser tratado como o outro gênero(ou como algum gênero alternativo diferente do designado). 6. Forte convicção de ter os sentimentos e reações típicos do outro gênero (ou de algum gênero alternativo diferente do designado). B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Especificar se: Pós-transição: O indivíduo fez uma transição para uma vida em tempo integral no gênero desejado (com ou sem legalização da mudança de gênero) e fez (ou está se preparando para fazer) pelo menos um procedimento médico ou um regime de tratamento transexual – a saber, tratamento hormonal transexual regular ou cirurgia de redesignação de gênero confirmando o gênero desejado (p. ex., penectomia, vaginoplastia em um gênero masculino ao nascimento; mastectomia ou faloplastia em um gênero feminino ao nascimento). CID-11 Incongruência de gênero é termo diagnóstico da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças – 11ª versão), caracterizado por uma incongruência marcada e persistente entre a identidade de gênero vivenciada por um indivíduo e seu sexo reconhecido ao nascimento, podendo ou não estar associada a um sofrimento marcante. Dessa forma, passa a se referir a qualquer pessoa que possui uma incongruência (de maior ou menor grau) com a identidade de gênero que lhe foi designada a partir do reconhecimento do sexo biológico. Pessoas transexuais, travestis, não binárias e agêneras recebem esse diagnóstico para ter acesso ao sistema de saúde e receber cuidados específicos que demandarem (como cirurgias ou hormonização). Essa nomenclatura não se refere a doença ou transtorno, mas, sim, a mais uma condição da diversidade humana. Na versão atual do CID-10, questões de identidade de gênero aparecem sob transtornos da personalidade e do comportamento adulto, na categoria transtornos da identidade de gênero (F64), e incluem cinco diagnósticos: transexualismo (F64.0), travestismo dual (F64.1), transtorno de identidade de gênero da infância (F64.2), outros transtornos de identidade de gênero (F64.3) e transtorno de identidade de gênero, não especificado (F64.4). ESCALA DE KINSEY A Escala Kinsey é um índice e instrumento altamente utilizado para medir comportamentos heterossexuais e homossexuais. A Escala Kinsey não contempla todas as identidades sexuais possíveis e não tem a intenção de acomodar respondentes que se identificam como não-binário EPIDEMIOLOGIA “PREVALÊNCIA” • As taxas de persistência da disforia de gênero da infância até a adolescência ou a fase adulta variam. Em indivíduos do sexo masculino ao nascimento, a persistência varia de 2,2 a 30%. Em indivíduos do sexo feminino ao nascimento, a persistência varia de 12 a 50%. CRIANÇAS • Em crianças encaminhadas para atendimento clínico, o início de comportamentos transgêneros ocorre geralmente entre as idades de 2 e 4 anos • Em uma amostra de meninos com menos de 12 anos que foram encaminhados por diversos problemas clínicos, 10% referiram o desejo de ser do sexo oposto. • Para as meninas com menos de 12 anos que foram encaminhadas para avaliação clínica, o desejo de ser do sexo oposto foi referido por 5%. • Entre as crianças encaminhadas por disforia de gênero, a proporção é de 4 a 5 meninos para cada menina, o que talvez se deva, em parte, ao estigma social dirigido aos garotos femininos. ADULTOS • As estimativas de disforia de gênero em adultos emanam de clínicas cirúrgicas/hormonais europeias, com prevalência de 1 em 11 mil homens e de 1 em 30 mil mulheres designadas. • O DSM-5 relata uma proporção de prevalência que varia de 0,005 a 0,014% de pessoas designadas como masculinas e de 0,002 a 0,003% de pessoas designadas como femininas. • A maioria dos centros clínicos aponta uma proporção de 3 a 5 pacientes masculinos para cada paciente feminina. • A maior parte dos adultos com disforia de gênero relata ter se sentido diferente de outras crianças do mesmo sexo que o seu, apesar de, em retrospecto, muitos não conseguirem identificar a fonte dessa diferença. • A prevalência de disforia masculina para feminina é maior do que a feminina para masculina. • As diferenças de sexo em relação às taxas de encaminhamento para clínicas especializadas variam de acordo com o grupo etário. o Em crianças, as proporções entre meninos em comparação com meninas variam de 2:1 a 4,5:1. o Em adolescentes, essa proporção se aproxima da paridade; em adultos, a proporção é favorável aos indivíduos do sexo masculino ao nascimento e varia de 1:1 a 6,1:1 ETIOLOGIA • BIOLÓGICA o Hormonal − Para os mamíferos, o estado de repouso dos tecidos é inicialmente feminino; conforme o feto se desenvolve, um macho é produzido apenas se o androgênio (deflagrado pelo cromossomo Y, que é responsável pelo desenvolvimento testicular) for introduzido. Sem os testículos e o androgênio, a genitália feminina externa se desenvolve. − A masculinidade depende dos androgênios fetais e perinatais. − Os esteroides sexuais influenciam a expressão do comportamento sexual em homens e mulheres maduros A testosterona pode aumentar a libido e a agressividade em mulheres, e o estrogênio pode diminuir a libido e a agressividade em homens. − Indivíduos XX com hiperplasia adrenal congênita: maior incidência de disforia de gênero e identificação com gênero oposto ao assinalado ao nascimento − Indivíduos XY com síndrome da insensibilidade androgênica: maioria desenvolveu identidade de gênero feminina o Neuroanatomia − A teoria da organização cerebral refere-se à masculinização ou à feminilização do cérebro no útero. A testosterona afeta os neurônios que contribuem para a masculinização do cérebro em áreas como o hipotálamo (em estudo) − Alguns estudos de neuroimagem têm demonstrado que adolescentes com disforia de gênero possuem características estruturais e funcionais semelhantes compatíveis com o sexo por eles desejado o Genética (estão sendo estudadas) − Estudo de Dutch: Realizado com cerca de 23 mil gêmeos entre 7-10 anos Dentre os gêmeos monozigóticos quando um deles apresentava identidade de gênero oposta daquela assinalada ao nascimento, o outro irmão tinha 70% de ser um indivíduo trans • PSICOSSOCIAIS o Os psicanalistas postularam que a qualidade do relacionamento mãe-filho nos primeiros anos é essencial para o estabelecimento da identidade de gênero. Durante esse período, a mãe normalmente facilita a consciência e o orgulho da criança em relação a seu gênero: as crianças são valorizadas como meninos ou meninas. o Analistas argumentam que uma mãe hostil e desvalorizadora possa resultar em problemas de gênero. o O processo de separação-individuação está se desenrolando. Quando os problemas de gênero ficam associados com problemas de separação-individuação, o resultado pode ser o uso da sexualidade para permanecer em relacionamentos caracterizados por alternâncias entre proximidade infantil desesperada e distanciamento hostil e desvalorizador o TEORIA QUEER − Teoria sobre o gênero que afirma que a orientação sexual e a identidade de gênero/sexual são resultados de uma construção social − Não existem papeis sexuais essenciais ou biologicamente inscritos na natureza humana, mas sim formas socialmente variáveis para desempenhar um ou vários papeis − Explicita e analisa os processos a partir de uma perspectiva comprometida com aqueles socialmente estigmatizados − Dá atenção a formação de identidades sociais normais ou “desviantes” e nos processos de formação de sujeitos de desejos classificados em legítimos e ilegítimos CARACTERISTICAS • MENINAS PRÉ-PUBERAIS o Podem expressar o desejo de serem meninos, afirmar que são meninos ou declarar que serão homens quando crescerem. o Preferem usar roupas e cortes de cabelo de meninos, com frequência são percebidascomo meninos por estranhos e podem pedir para serem chamadas por um nome de menino. o Geralmente apresentam reações negativas intensas às tentativas dos pais de fazê-las usar vestidos ou outros trajes femininos. o Essas meninas podem demonstrar identificação transgênero acentuada em brincadeiras, sonhos e fantasias. o Sua preferência é por esportes de contato, brincadeiras agressivas e competitivas, jogos tradicionalmente masculinos e ter meninos como pares. Elas demonstram pouco interesse por brinquedos (p. ex., bonecas) ou atividades (p. ex., usar vestidos ou desempenhar papéis femininos em brincadeiras) tipicamente femininos. o Às vezes, recusam-se a urinar na posição sentada. o Algumas meninas podem expressar o desejo de ter um pênis, afirmar ter um pênis ou que terão um pênis quando forem mais velhas. Também podem afirmar que não querem desenvolver seios ou menstruar. • MENINOS PRÉ-PUBERAIS o Podem expressar o desejo ou afirmar que são meninas ou que serão meninas quando crescerem. o Preferem usar trajes de meninas ou de mulheres ou podem improvisar roupas com qualquer material disponível (p. ex., usar toalhas, aventais e xales como cabelos longos ou como saias). o Essas crianças podem desempenhar papéis femininos em brincadeiras (p. ex., brincar de “mãe”) e com frequência se interessam intensamente por bonecas. o Na maioria das vezes, preferem atividades, jogos estereotípicos e passatempos tradicionalmente femininos (p. ex., “brincar de casinha”, desenhar quadros femininos, assistir a programas de televisão ou vídeos com personagens femininos favoritos). o Bonecas estereotípicas femininas (p. ex., Barbie) geralmente são os brinquedos favoritos, e as meninas são as companheiras de brincadeira preferidas. o Eles evitam brincadeiras agressivas e os esportes competitivos e demonstram pouco interesse por brinquedos estereotipicamente masculinos (p. ex., carrinhos, caminhões). o Alguns fingem que não têm pênis e insistem em urinar sentados. Mais raramente, podem dizer que sentem repulsa pelo pênis ou pelos testículos, que gostariam que eles fossem removidos ou que têm, ou gostariam de ter, uma vagina. • ADOLESCENTES JOVENS o O momento em que surgem sinais visíveis de puberdade, os meninos podem depilar as pernas aos primeiros sinais de crescimento de pelos. Eles às vezes prendem os órgãos genitais para que as ereções não fiquem visíveis. o As meninas podem prender os seios, andar curvadas ou usar blusas folgadas para que os seios fiquem menos visíveis. o Cada vez mais, os adolescentes solicitam ou obtêm sem prescrição médica nem supervisão receitas de supressores hormonais (“bloqueadores”) de esteroides gonadais (p. ex., análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas [GnRH], espironolactona). o Adolescentes mais velhos, quando sexualmente ativos, em geral não mostram ou permitem que seus parceiros toquem em seus órgãos sexuais. No caso de adultos com aversão por suas genitálias, a atividade sexual é limitada pela preferência de que seus órgãos sexuais não sejam vistos ou tocados por seus parceiros. Alguns adultos podem procurar tratamento hormonal (às vezes sem prescrição e supervisão médica) e cirurgia de redesignação de gênero. Outros ficam satisfeitos apenas com o tratamento hormonal ou a cirurgia. • ADULTOS o Podem adotar o comportamento, as vestimentas e os maneirismos do gênero experimentado. o Sentem-se desconfortáveis com o fato de serem considerados pelos outros ou de funcionar na sociedade como membros do seu gênero designado. o Alguns adultos podem sentir desejo intenso de pertencer a um gênero diferente e de ser tratados como tal e podem ter a convicção interior de sentirem e reagirem como o gênero experimentado sem procurar tratamento médico para alterar as características corporais. o Eles podem encontrar outras maneiras de solucionar a incongruência entre o gênero experimentado/expresso e o gênero designado, vivendo parcialmente o papel desejado ou adotando um papel de gênero que não seja convencionalmente masculino nem convencionalmente feminino. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Não conformidade com os papeis do gênero • Transtorno transvéstico • Transtorno dismorfico corporal • Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos CONDUTA • A equipe multidisciplinar deve ser obrigatória no acompanhamento destes pacientes. • A avaliação clínica inicial deve privilegiar o sujeito, acolhendo-o de forma empática e integralizada. • Um acompanhamento individualizado e contínuo é indispensável nestes casos e o pediatra tem um papel fundamental de aconselhamento e encaminhamento para o acompanhamento psicológico do adolescente e seus familiares. • Deve-se identificar se o indivíduo preenche os critérios diagnósticos, se apresenta interesse em realizar intervenções clínicas ou cirúrgicas para mudança de gênero no futuro, avaliar o suporte social (sobretudo para o paciente e a família), assim como os aspectos relacionados à saúde mental. TRATAMENTO PSICOTERÁPICO • A psicoterapia está indicada para que a criança e o(a) adolescente estejam confortáveis com a evolução da sua sexualidade com melhora da ansiedade e para que se desenvolva um autoconceito positivo. • A psicoterapia (individual, casal, família ou grupo) deve ter o foco na identidade de gênero, preconceito, apoio social, imagem corporal, promoção da resiliência e suporte para lidar com os sintomas psíquicos associados ao quadro. • Sugere-se que ela seja realizada antes e após a cirurgia, mantendo o seguimento até a vida adulta. TRATAMENTO HORMONAL • As intervenções reversíveis ou parcialmente reversíveis podem ser realizadas no Brasil conforme parecer do Conselho Federal de Medicina nº 8/2013.42 • Este tratamento só pode ser realizado por endocrinologista com experiência na área, em conjunto com a equipe multidisciplinar, pois são muitos os efeitos colaterais significativos e devem ser explicitados claramente aos pacientes e familiares. • Não cabe ao pediatra orientar este tratamento hormonal. • Os critérios para intervenção hormonal compreendem: o O(A) adolescente demonstra um padrão duradouro e intenso de não conformidade de gênero ou disforia de gênero (seja velada ou expressa) o A disforia de gênero surgiu ou piorou com o início da puberdade; (3) O(A) adolescente tem condições biopsicossociais par manter o o O(A) adolescente/pais ou responsáveis assinaram o consentimento médico informado do tratamento. • RISCOS ASSOCIADOS À TERAPIA HORMONAL • O TRATAMENTO HORMONAL É DIVIDIDO EM DUAS ETAPAS Supressão Puberal o A supressão do desenvolvimento puberal é indicada para que o(a) adolescente possa ter tempo para explorar sua identidade sexual, reduzindo as preocupações com as alterações corporais induzidas pela puberdade, além de dar tempo aos pais para se familiarizarem e entenderem essa nova situação. o Antes de ser iniciada é importante avaliar se: A não conformidade de gênero é persistente ou está se acentuando com o surgimento das características sexuais indesejadas. Suporte psicológico permanente, entendimento das mudanças físicas e dos riscos da terapia e assinatura do termo de consentimento e assentimento informado pelos pais e/ou pelo adolescente. o A supressão puberal é iniciada pelo menos no estágio 2 de desenvolvimento e maturação puberal, segundo os critérios estabelecidos por Tanner, independentemente da idade cronológica, com o objetivo de suprimir a produção dos esteroides sexuais e consequentemente, retardar as mudanças físicas do início da puberdade (alterações da voz, aumento da massa muscular e pelos faciais no sexo masculino; e desenvolvimento mamário e menstruação no sexo feminino). − A importância em se aguardar o estadio 2 consiste na possibilidade de permitir ao adolescente que experimente a puberdade de acordo com o seu sexo natal e no fato de que, para melhores resultadosfuncionais no caso de cirurgias como a construção de neovagina, é ideal um ganho de comprimento prévio do falo − O início da supressão puberal mais tarde, nos estágios 3-4 de Tanner, ainda é capaz de regredir algumas características sexuais, impedir a progressão puberal e cessar menstruações e ereções. − Quando a terapia de supressão hormonal é iniciada no final da puberdade, estágio 5 de Tanner, as características sexuais já são irremediavelmente bem estabelecidas. o A supressão do desenvolvimento e maturação puberal pode ser mantida por alguns anos, até o momento em que se define a terapia de reafirmação, quando então se modifica a terapia para um regime de reposição de hormônio feminilizante ou masculinizante. o Medicamentos Usados − Agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (aGnRH) “são os medicamentos de escolha” Agem diminuindo a secreção hipofisária do hormônio luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH), reduzindo a secreção de esteroides sexuais pelos testículos (testosterona) e pelos ovários (estrógenos). Essa supressão com duração média de 2 anos, é totalmente reversível com retorno do desenvolvimento puberal após a suspensão do agonista do GnRH. Apesar de reversível, o uso de análogos de GnRH pode trazer prejuízos na manutenção da fertilidade pela dificuldade de produção dos óvulos. − Medroxiprogesterona Tratamento alternativo, indicado quando da indisponibilidade do aGnRH. Atua reduzindo a produção de gonadotrofinas e inibindo a secreção de esteroides sexuais nas gônadas, em indivíduos do sexo masculino ou feminino. − Acetato de ciproterona, espironolactona e finasterida Antiandrogênicos indicados para diminuir os efeitos androgênicos em indivíduos do sexo masculino que deseja se afirmar como do sexo feminino. Hormonioterapia para Reafirmação do Gênero − Essas intervenções incluem a terapia hormonal para masculinizar ou feminilizar o corpo (cross-sex hormonal therapy) de acordo com a identidade de gênero escolhida pelo individuo. − Adolescentes elegíveis para iniciar a terapia hormonal devem ter o consentimento dos pais, sincronizada com a equipe. − Algumas mudanças induzidas por hormônios necessitam de cirurgia reconstrutiva para reverter o efeito (ginecomastia causada por estrógenos), enquanto outras são irreversíveis (voz grave causada pela testosterona). − Para o adolescente genotipicamente masculino (mulher-trans) que irá repor estrógeno, deve-se avaliar e monitorar: risco elevado de trombose venosa profunda, hiperprolactinemia, disfunção hepática grave, hipertensão arterial, diminuição da libido e tumores estrógeno-sensíveis. − Para o adolescente genotipicamente feminino (homem-trans) que irá repor testosterona, deve-se avaliar e monitorar: dislipdemia, policitemia, aumento de enzimas hepáticas, acne e alopecia androgenética. o Os hormônios utilizados − Estrógenos Usados para desenvolver características feminilizantes (ex: desenvolvimento de mamas, voz mais aguda, diminuição de pelos corporais de padrão masculino). − Testosterona Usada para desenvolver características masculinizantes (aumento do clitóris, voz grave, aumento de massa muscular, pelos faciais). − Os efeitos e o tempo esperado da ação do tratamento hormonal TRATAMENTO CIRÚRGICO (INTERVENÇÃO IRREVERSÍVEL) • O tratamento cirúrgico só deve ser cogitado após a maioridade e é indicado para mudar características primárias e/ou secundárias do sexo (mamas, tórax ou órgãos genitais externos e internos, características faciais, voz, contorno corporal) • Nos serviços internacionais, geralmente iniciam-se cirurgias como a mastectomia a partir dos 16 anos e a transgenitalização é postergada para a maioridade. No Brasil, as cirurgias podem ser realizadas pelo Serviço Único de Saúde (SUS) somente a partir dos 21 anos de idade, nos serviços especializados e de referência • A equipe de saúde mental deve auxiliar sempre no preparo emocional do paciente com expectativas claras e realistas, após ter vivenciado 12 (doze) meses congruentes no gênero desejado e o termo de consentimento assinado. • Opções reprodutivas devem ser exploradas antes de se submeter à cirurgia genital, como o armazenamento de células reprodutivas. ACOMPANHAMENTO • A regulamentação do Conselho Federal de Medicina para a população adulta com disforia de gênero (ou incongruência de gênero) iniciou em 1997 • Instituído pelas Portarias nº 1.707 e nº 457 de agosto de 2008 e ampliado pela Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, o Processo Transexualizador realizado pelo SUS garante o atendimento integral de saúde a pessoas trans, incluindo acolhimento e acesso com respeito aos serviços do SUS, desde o uso do nome social, passando pelo acesso à hormonioterapia, até a cirurgia de adequação do corpo biológico à identidade de gênero e social, como cirurgias reafirmação sexual (mudança de sexo); de mastectomia (retirada de mama); plástica mamária reconstrutiva (incluindo próteses de silicone) e; cirurgia de tireoplastia (troca de timbre de voz). Além disso, no campo ambulatorial, inclui-se terapia hormonal e acompanhamento dos usuários em consultas e no pré e pós-operatório • Entre 2008 e 2016, ao todo, foram realizados 349 procedimentos hospitalares e 13.863 procedimentos ambulatoriais relacionados ao processo transexualizador • Para ambos os gêneros, a idade mínima para procedimentos ambulatoriais é de 18 anos (acompanhamento multiprofissional e hormonioterapia). Para procedimentos cirúrgicos, a idade mínima é de 21 anos. • O SUS conta com cinco serviços habilitados pelo Ministério da Saúde no processo transexualizador que realizam atendimento ambulatorial e hospitalar o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás/ Goiânia (GO); o Universidade Estadual do Rio de Janeiro - Hospital Universitário Pedro Ernesto/ Rio de Janeiro (RJ); o Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ Porto Alegre (RS); o Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina FMUSP/Fundação Faculdade de Medicina MECMPAS – São Paulo (SP) o Hospital das Clínicas/Universidade Federal de Pernambuco – Recife (PE). • Ainda não há posicionamento específico e objetivo do Conselho Federal de Medicina em relação ao acompanhamento de crianças e adolescentes com incongruência de gênero, além do Parecer nº 8/2013.42 • No Brasil, não existe uma legislação que regulamenta a retificação do prenome, sexo e imagem nos documentos pessoais. Dessa forma, os indivíduos precisam recorrer à justiça, ficando à mercê da burocracia, interpretações e exigências de cada juiz. • O termo parafilia representa qualquer interesse sexual intenso e persistente que não aquele voltado para a estimulação genital ou para carícias preliminares com parceiros humanos que consentem e apresentam fenótipo normal e maturidade física. • Algumas parafilias envolvem principalmente as atividades eróticas do indivíduo (interesses intensos e persistentes em espancar, chicotear, cortar, amarrar ou estrangular outra pessoa, ou um interesse por essas atividades que seja igual ou maior do que o interesse do indivíduo em copular ou em interagir de forma equivalente com outra pessoa), outras têm a ver sobretudo com seus alvos eróticos (interesse sexual intenso ou preferencial por crianças, cadáveres ou amputados (como classe), bem como interesse intenso ou preferencial por animais, como cavalos ou cães, ou por objetos inanimados, como sapatos ou artigos de borracha) GRUPOS Grupo de transtornos baseia-se em preferências por atividades anormais. • Transtornos do namoro o Transtorno voyeurista - espiar outras pessoas em atividades privadas o Transtorno exibicionista - é o impulso recorrente de expor os próprios genitais a um estranho ou a uma pessoa que não espera o fato. o Transtorno frotteurista - tocar ou esfregar-se em indivíduo que não consentiu • Transtornosda algolagnia - os quais envolvem dor e sofrimento o Transtorno do masoquismo sexual - passar por humilhação, submissão ou sofrimento o Transtorno do sadismo sexual - realizar humilhação, submissão ou sofrimento Grupo de transtornos baseia-se em preferências por alvo anômalo • Transtorno pedofílico - foco sexual em crianças • Transtornos fetichista - usar objetos inanimados ou ter um foco altamente específico em partes não genitais do corpo • Transtorno transvéstico - vestir roupas do sexo oposto visando excitação sexual EPIDEMIOLOGIA • As parafilias são praticadas por apenas uma pequena porcentagem da população, mas a natureza insistente e repetitiva do transtorno resulta em uma alta frequência desses atos. • As parafilias parecem ser, em grande parte, condições masculinas • Mais de 50% de todas as parafilias têm seu início antes dos 18 anos. • Entre os casos identificados legalmente de transtornos parafílicos, a pedofilia é o mais comum. o De todas as crianças, 10 a 20% foram molestadas até os 18 anos de idade • Das mulheres adultas, 20% foram alvo de pessoas com exibicionismo ou voyeurismo. • O sadismo sexual em geral chama atenção apenas em casos sensacionalistas de estupro, brutalidade e assassinato por luxúria. • O fetichismo quase sempre ocorre em homens. • A ocorrência de comportamento parafílico atinge o auge entre 15 e 25 anos e declina de maneira gradual. O DSM-5 sugere que a designação de parafilia seja reservada para aqueles que estão acima de 18 anos para evitar patologizar a curiosidade sexual normal e a experimentação ocasional na adolescência. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DIAGNOSTICO DIFERENCIAL • Os clínicos devem diferenciar uma parafilia de um ato experimental que não é recorrente ou compulsivo e que é realizado por seu caráter de novidade. • A atividade parafílica inicia-se mais provavelmente durante a adolescência. • Algumas parafilias (em especial os tipos bizarros) estão associadas a outros transtornos mentais, como esquizofrenia. • Doenças cerebrais também podem liberar impulsos perversos. CONDUTA TERAPÊUTICA • CONTROLE EXTERNO – prisão • REDUÇÃO DOS IMPULSOS SEXUAIS • TRATAMENTO DE CONDIÇÕES COMÓRBIDAS (P. EX., DEPRESSÃO OU ANSIEDADE) o Terapia medicamentosa, incluindo medicação antipsicótica ou antidepressiva, é indicada para o tratamento de esquizofrenia ou transtornos depressivos se a parafilia estiver associada a eles. Antiandrogênios, como acetato de ciproterona, e acetato de medroxiprogesterona, podem reduzir o impulso de se comportar sexualmente, reduzindo os níveis séricos da testosterona até concentrações subnormais. Agentes serotonérgicos como a fluoxetina já foram usados com sucesso limitado em alguns pacientes com parafilia • TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL o A terapia cognitivo-comportamental é usada para romper os padrões parafílicos aprendidos e modificar o comportamento para torná-lo socialmente aceitável. o As intervenções incluem treinamento em habilidades sociais, educação sexual, reestruturação cognitiva (confrontar e destruir as racionalizações usadas para apoiar a vitimização dos outros) e o desenvolvimento de empatia pela vítima. Dessensibilização imaginária, técnicas de relaxamento e aprendizagem do que desencadeia o impulso parafílico de modo que esses estímulos possam ser evitados também são ensinados • PSICOTERAPIA DINÂMICA o A psicoterapia orientada para o insight é uma abordagem de tratamento de longa duração. Os pacientes têm a oportunidade de entender sua dinâmica e os eventos que fizeram a parafilia se desenvolver. Em particular, eles tomam consciência dos eventos diários que fazem atuar seus impulsos (p. Ex., uma rejeição real ou fanta-siada). Ejaculação ANATOMIA E FISIOLOGIA DA RESPOSTA EJACULATÓRIA • O reflexo ejaculatório compreende receptores e áreas sensitivas, vias aferentes, áreas cerebrais sensitivas, centros cerebrais motores, centros medulares motores e vias eferentes • Neuroquimicamente, este reflexo envolve um complexo efeito recíproco entre neurônios centrais serotoninérgicos e dopaminérgicos, com envolvimento secundário de neurônios colinérgicos, adrenérgicos, ocitocinérgicos e ácido γ-aminobutírico (GABA). • Com base na mediação funcional, central e periférica, o processo ejaculatório é tipicamente subdividido em três fases: Emissão − consiste em contrações das vesículas seminais e da próstata, com expulsão de esperma e fluido seminal na uretra posterior, e é mediada pelos nervos simpáticos (T10 a L2) Ejeção (ou expulsão peniana) − É mediada pelos nervos somáticos (S2 a S4) e envolve contrações pulsáteis dos músculos bulbocavernosos e do assoalho pélvico junto com relaxamento do esfíncter urinário externo. − A ejeção também envolve um reflexo simpático do cordão espinhal, que é limitado pelo controle voluntário. O colo vesical se fecha para prevenir o fluxo retrógrado Os músculos bulbocavernosos, bulboesponjosos e outros do assoalho pélvico se contraem de uma forma rítmica e o esfíncter urinário externo relaxa. A contração intermitente do esfíncter uretral previne o fluxo retrógrado na uretra proximal Orgasmo − É o resultado do processamento cerebral do estímulo do nervo pudendo sensitivo resultante do aumento da pressão na uretra posterior − Os estímulos sensitivos aumentam a partir do verumontano e da contração do bulbo uretral e dos órgãos sexuais acessórios. − O estímulo tátil somatossensorial a partir do pênis/genitais ascende para o córtex cerebral. − As vias eferentes se projetam do hipotálamo ao cordão espinal sacral e aos genitais. − Após a ejaculação, a informação retorna dos genitais para várias áreas cerebrais. • Muitos neurotransmissores estão envolvidos no controle da ejaculação, incluindo dopamina, norepinefrina, serotonina, acetilcolina, ocitocina, GABA e óxido nítrico CAUSAS DE EJACULAÇÃO RETRÓGRADA, EJACULAÇÃO RETARDADA, ANEJACULAÇÃO E ANORGASMIA • Homem mais idoso o Degeneração de nervos aferentes do pênis • Psicogênica o Ejaculação Inibida • Congênita o Cisto de ducto mulleriano o Anormalidade do ducto de Wolffian o Síndrome do abdômen em ameixa • Causas anatômicas o Ressecção transuretral de próstata o Incisão do colo vesical • Causas neurogênicas o Neuropatia autonômica diabética o Esclerose múltipla o Injúria do cordão espinal o Prostatectomia radical o Proctocolectomia o Simpatectomia bilateral o Aneurismectomia aórtica abdominal o Linfadenectomia para-aórtica • Infecciosa o Uretrite o Tuberculose geniturinária o Esquistossomose • Endócrinas o Hipogonadismo o Hipotireoidismo • Medicamentosa o α-metildopa o Diuréticos tiazídicos o Antidepressivos tricíclicos e ISRS o Fenotiazina o Abuso de álcool o ISRS, inibidor seletivo de recaptação de serotonina Ejaculação Prematura (Precoce) – 302.75 (F52.4) • Um padrão persistente ou recorrente de ejaculação ocorrendo durante a atividade sexual com parceira dentro de aproximadamente 1 minuto seguinte a penetração vaginal e antes que ele deseje. Este sintoma Os seguintes fatores podem ser relevantes na avaliação de qualquer disfunção sexual Fatores relacionados à parceira (p. Ex., problemas sexuais, estado de saúde) Fatores associados ao relacionamento (p. Ex., comunicação inadequada, discrepâncias no desejo para atividade sexual) Fatores relacionados a vulnerabilidade individual (p. Ex., má imagem corporal; história de abuso sexual ou emocional), comorbidade psiquiátrica (p. Ex., depressão, ansiedade) ou estressores (p. Ex., perda de emprego, luto) Fatores culturais ou religiosos (inibições relacionadas a proibições de atividade sexual ou prazer; atitudes em relação à sexualidade) Fatores médicos relevantes para prognóstico, curso ou tratamento. deve estar presente por pelomenos 6 meses e deve ter ocorrido em quase todas ou todas (aproximadamente 75%-100%) as ocasiões de atividade sexual (livro de Urologia Campbell) • A ejaculação prematura (precoce) manifesta-se pela ejaculação que ocorre antes ou logo após a penetração vaginal, avaliada pela estimativa individual de latência ejaculatória (i.e., tempo decorrido antes da ejaculação) após a penetração vaginal. • O tempo de latência ejaculatória intravaginal de 60 segundos é um ponto de corte adequado para o diagnóstico de ejaculação prematura (precoce) ao longo da vida em homens heterossexuais. EPIDEMIOLOGIA • As estimativas da prevalência de ejaculação prematura (precoce) variam amplamente de acordo com a definição utilizada. • Em termos internacionais, mais de 20 a 30% dos homens com idades entre 18 e 70 anos demonstram preocupação com a rapidez da ejaculação. • Com a nova definição de ejaculação prematura (precoce) (i.e., ejaculação que ocorre dentro de aproximadamente um minuto após a penetração vaginal), somente 1 a 3% dos homens seriam diagnosticados com esse transtorno. • A prevalência da disfunção pode aumentar com a idade. FATORES DE RISCO • Temperamentais o EP está associada com consequências psicológicas negativas, incluindo estresse, aborrecimento e frustração que podem afetar a qualidade de vida, relacionamentos com parceiras, autoestima e autoconfiança e pode atuar como um obstáculo para homens solteiros formando relacionamentos com novas parceiras. • Genéticos e fisiológicos o A disfunção pode estar associada a polimorfismos do gene do transportador de dopamina e do gene do transportador de serotonina. o Condições como doença da tireoide, prostatite e abstinência de drogas estão associadas à ejaculação prematura (precoce) adquirida FISIOPATOGÊNIA • Atualmente pensa-se que na génese da EP está uma hipossensibilidade dos recetores 5-HT2C ou uma hipersensibilidade dos receptores 5-HT1A. • Esta teoria é suportada pela eficácia no tratamento da EP com SSRI. • No entanto, várias outras potenciais explicações foram propostas como causas da EP • Etiologias genéticas, que regulam o transporte de serotonina o Causas psicológicas, como por exemplo a ansiedade o Alterações hormonais (patologia tiroideia, terapêutica farmacológica, por exemplo com androgénios) o Alterações da sensibilidade peniana o Prostatite CLASSIFICAÇÃO • PRIMÁRIA o É caracterizada por ter tido início desde a primeira relação sexual, mantendo-se durante toda a vida, ocorrendo a ejaculação antes da penetração vaginal ou até 1-2 minutos após • SECUNDÁRIA o É caracterizada pelo aparecimento gradual ou súbito, após uma vivência sexual normal, de um tempo de ejaculação curto (mas normalmente maior do que na ejaculação primária) • VARIÁVEL NATURAL o Caracterizada por ejaculações inconsistentes e irregulares, representando uma variante do normal • DISFUNÇÃO EJACULATÓRIA TIPO PREMATURA o É uma percepção subjetiva pelo próprio de que a duração da ejaculação é inferior ao normal CRITERIOS DIAGNÓSTICO A. Padrão persistente ou recorrente de ejaculação que ocorre durante a atividade sexual com parceira dentro de aproximadamente um minuto após a penetração vaginal e antes do momento desejado pelo indivíduo. Nota: Embora o diagnóstico de ejaculação prematura (precoce) também possa ser aplicado a indivíduos envolvidos em atividades sexuais não vaginais, não foram estabelecidos critérios específicos para o tempo de duração dessas atividades. B. Os sintomas do Critério A devem estar presentes por pelo menos seis meses e devem ser experimentados em quase todas ou todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) de atividade sexual (em contextos situacionais identificados ou, caso generalizada, em todos os contextos). C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo para o indivíduo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância ou medicamento ou a outra condição médica. Determinar o subtipo: Ao longo da vida: A perturbação esteve presente desde que o indivíduo se tornou sexualmente ativo. Adquirida: A perturbação iniciou depois de um período de função sexual relativamente normal. Determinar o subtipo: Generalizada: Não se limita a determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros. Situacional: Ocorre somente com determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros. Especificar a gravidade atual: Leve: A ejaculação ocorre dentro de aproximadamente 30 segundos a 1 minuto após a penetração vaginal. Moderada: A ejaculação ocorre dentro de aproximadamente 15 a 30 segundos após a penetração vaginal. Grave: A ejaculação ocorre antes da atividade sexual, no início da atividade sexual ou dentro de 15 segundos após a penetração vaginal. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Disfunção sexual induzida por substância/medicamento. Nos casos em que os problemas com ejaculação prematura são causados exclusivamente pelo uso, intoxicação ou abstinência de substância, o diagnóstico deve ser de disfunção sexual induzida por substância/medicamento. • Preocupações ejaculatórias que não preenchem os critérios diagnósticos. É necessário identificar homens com latências ejaculatórias normais que desejam latências ejaculatórias mais prolongadas e aqueles com ejaculação prematura (precoce) episódica (p. ex., durante o primeiro encontro sexual com uma nova parceira, quando uma latência ejaculatória curta pode ser comum ou normal). Nenhuma dessas situações levaria a um diagnóstico de ejaculação prematura (precoce), mesmo que sejam desconfortáveis para alguns homens. TRATAMENTO • Os homens com EP adquirida devem receber tratamentos específicos para a causa (p. ex., aconselhamento psicossexual ou farmacoterapia para DE, isoladamente ou em combinação com farmacoterapia para EP) • Os homens com EP naturalmente variável ou EP simulando disfunção ejaculatória devem ser primariamente tratados com educação psicossexual e psicoterapia gradativa para o paciente e o casal. PSICOTERAPIA • O processo prevê técnicas como comportamental, cognitiva e outras psicoterápicas. • Terapia Psicossexual o Na EP primária este tipo de técnicas não estão recomendadas como primeira linha de tratamento. o Técnica start-stop - consiste na interrupção da estimulação quando o paciente inicia a sensação de ejaculação iminente, recomeçando a estimulação após essa sensação ter desaparecido. o Técnica squeeze - trata-se de comprimir a glande até supressão da vontade em ejacular TRATAMENTO FARMACOLÓGICO • Várias formas de farmacoterapia têm sido utilizadas no tratamento da EP o O uso de anestésicos locais tópicos − A utilização dos anestésicos locais tópicos, tais como lidocaína, prilocaína ou benzocaína, isoladamente ou em associação, diminui a sensibilidade da glande peniana e é o tratamento farmacológico conhecido mais antigo para EP o ISRSs − Paroxetina, sertralina fluoxetina e citalopram, e o antidepressivo tricíclico (ATC), clomipramina − Bloqueiam a recaptação axonal de serotonina, a partir da fenda sináptica dos neurônios serotoninérgicos centrais pelos transportadores de 5-HT, resultando em melhor neurotransmissão de 5-HT e estímulo dos receptores de 5-HT na membrana pós-sináptica. o Tramadol o Inibidores de fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) − Têm alguma eficácia no tratamento da EP − Apesar de não alterar o IELT, os iPDE5 melhoram a confiança, a percepção do controle da ejaculação e a satisfação sexual em geral. − Reduzem a ansiedade e diminuem o período refratário para conseguir nova ereção após ejaculação. − O papel dos iPDE5 no tratamento da EP não está estabelecido e ainda não existem estudos suficientes para se retirarem conclusões relativamente a estes fármacos.o bloqueadores α-adrenérgicos Ejaculação Retardada – 302.74 (F52.32) • Na ejaculação retardada, por vezes denominada ejaculação atrasada, um homem consegue ejacular durante o coito com grande dificuldade, quando consegue • O problema raramente está presente na masturbação, mas aparece durante o sexo com uma parceira. • A característica particular da ejaculação retardada é retardo acentuado ou incapacidade de atingir a ejaculação • O homem relata dificuldade ou incapacidade para ejacular, a despeito da presença de estimulação sexual adequada e do desejo de ejacular. • O homem e sua parceira podem relatar tentativas prolongadas de atingir o orgasmo a ponto de causar exaustão ou desconforto genital, cessando os esforços logo em seguida. Alguns homens podem dizer que evitam a atividade sexual em razão de um padrão repetitivo de dificuldade para ejacular. A ejaculação retardada do subtipo ao longo da vida - inicia com as primeiras experiências sexuais e continua durante a vida toda. A ejaculação retardada do subtipo adquirida - inicia depois de um período de função sexual normal. EPIDEMIOLOGIA • A prevalência da disfunção permanece relativamente constante até os 50 anos de idade, quando a incidência começa a aumentar de forma significativa. • Homens na faixa dos 80 anos relatam duas vezes mais a dificuldade para ejacular em comparação àqueles com menos de 59 anos. • Trata-se da queixa sexual menos comum entre os homens. • Somente 75% deles afirmam que sempre ejaculam durante a atividade sexual, e menos de 1% se queixa de problemas para conseguir a ejaculação que tenham mais de seis meses de duração. FATORES DE RISCO • Genéticos e fisiológicos o A perda de nervos sensoriais periféricos de condução rápida e a redução na secreção de esteroides sexuais, ambas relacionadas à idade, podem estar associadas ao aumento da ejaculação retardada em homens com mais de 50 anos. CRITERIOS DIAGNÓSTICO A. Qualquer um dos seguintes sintomas deve ser vivenciado em quase todas ou em todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) da atividade sexual com parceira (em contextos situacionais identificados ou, se generalizada, em todos os contextos), sem que o indivíduo deseje o retardo: 1. Retardo acentuado na ejaculação. 2. Baixa frequência marcante ou ausência de ejaculação. B. Os sintomas do Critério A persistem por um período mínimo de aproximadamente seis meses. C. Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente significativo ao indivíduo. D. A disfunção sexual não é mais bem explicada por um transtorno mental não sexual ou como consequência de uma perturbação grave do relacionamento ou de outros estressores importantes e não é atribuível aos efeitos de alguma substância/medicamento ou a outra condição médica. Determinar o subtipo: Ao longo da vida: A perturbação esteve presente desde que o indivíduo se tornou sexualmente ativo. Adquirida: A perturbação iniciou depois de um período de função sexual relativamente normal. Determinar o subtipo: Generalizada: Não se limita a determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros. Situacional: Ocorre somente com determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros. Especificar a gravidade atual: Leve: Evidência de sofrimento leve em relação aos sintomas do Critério A. Moderada: Evidência de sofrimento moderado em relação aos sintomas do Critério A. Grave: Evidência de sofrimento grave ou extremo em relação aos sintomas do Critério A. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Outra condição médica o O contexto situacional da queixa sugere a presença de uma base psicológica para o problema (p. ex., homens que conseguem ejacular durante a atividade sexual com parceiro de um sexo, porém não do outro; homens que conseguem ejacular com um parceiro, mas não com outro do mesmo sexo; homens com padrões parafílicos de excitação; homens que precisam de uma atividade altamente ritualizada para ejacular em uma atividade sexual com parceiro). o Interrupção no suprimento nervoso para os órgãos genitais, como pode ocorrer depois de lesão cirúrgica traumática nos gânglios simpáticos lombares, cirurgia abdominoperitoneal ou simpatectomia lombar. o Doenças neurodegenerativas, como esclerose múltipla e neuropatia diabética ou alcóolica, podem causar incapacidade para ejacular. o A ejaculação retardada deve também ser diferenciada de ejaculação retrógrada (i.e., ejaculação para dentro da bexiga), que pode ocorrer depois de ressecção transuretral da próstata • Uso de substância/medicamento o Inúmeros agentes farmacológicos, como antidepressivos, antipsicóticos, medicamentos alfa simpáticos e opioides, podem causar problemas ejaculatórios. • Disfunção com orgasmo o É importante verificar, na história, se a queixa diz respeito a ejaculação retardada, sensação de orgasmo ou a ambas. o A ejaculação ocorre nos órgãos genitais, enquanto se acredita que a experiência de orgasmo seja principalmente subjetiva. Em geral, ejaculação e orgasmo ocorrem ao mesmo tempo, mas nem sempre. TRATAMENTO • ESTRATÉGIAS PSICOLÓGICAS o Se causas orgânicas e farmacológicas tiverem sido eliminadas, referenciar para um terapeuta psicossexual especializado é usualmente indicado para avaliar as causas psicológicas e problemas comportamentais. o Os efeitos benéficos através da psicoterapia dependem da severidade da ER e da receptividade individual para se engajar ao aconselhamento e adesão às recomendações do conselheiro. • FARMACOTERAPIA • Esses fármacos facilitam a ejaculação tanto através de ação dopaminérgica central, antiserotoninérgica quanto de mecanismo de ação ocitocinérgico ou adrenérgico periférico. • Entretanto, nenhum dos medicamentos tem sido aprovado pelas agências reguladoras para esta indicação, e a maioria dos medicamentos que têm sido identificados para uso potencial tem eficácia limitada, efeitos colaterais significativos ou, ainda, é considerada experimental in natura. Os agonistas de receptor α1-adrenérgico tal como pseudoefedrina pré-coito (60 a 120 mg 1 a 2 horas antes do intercurso) ou inibidor seletivo da recaptação de norepinefrina (ISRN), antidepressivo reboxetina (4 a 8 mg diariamente), que inibem a receptação da noradrenalina sináptica, tiveram eficácia limitada. O anti-histamínico cipro-heptadina, um antagonista central da serotonina, é, de maneira anedótica, associado com a reversão da anorgasmia induzida pelos antidepressivos ISRS, porém estudos não controlados têm sido publicados. Estes estudos sugerem a faixa de dosagem efetiva de 4 a 12 mg 3 a 4 horas antes do intercurso, com administração regular ou sob demanda. Entretanto, efeitos sedativos significativos relacionados a dose provavelmente diminuem a eficácia global. Amantadina, um estimulante indireto dos nervos dopaminérgicos centrais e periféricos, tem sido relatada para estimular o comportamento sexual e a ejaculação na anorgasmia induzida por antidepressivo ISRS quando administrada sob demanda (100 a 400 mg 2 dias antes do coito) ou cronicamente (100 a 200 mg duas vezes por dia). REFERÊNCIAS 1. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica (Kaplan,11. Ed. 2017) 2. DSM-V 3. https://apurologia.pt/wp-content/uploads/2018/10/ejaculacao-prematura.pdf 4. Campbell-Walsh Urologia https://apurologia.pt/wp-content/uploads/2018/10/ejaculacao-prematura.pdf
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