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Beatriz Cruz – Medicina No embrião constituem um só folheto e são, por vezes, consideradas corno uma formação única, a leptomeninge ou meninge fina Camadas do tecido nervoso O sistema nervoso central é envolvido por membranas conjuntivas denominadas meninges, e que são: - Dura-matér - Aracnoide - Pia–máter Dura-máter É a meninge mais superficial, ela é espessa e resistente, sendo formada por tecido conjuntivo muito rico em fibras colágenas, contendo vasos e nervos. A dura-máter do encéfalo difere da dura-máter espinhal por ser formada por dois folhetos, externo e interno, dos quais apenas o interno continua com a dura-máter espinhal. O folheto externo adere intimamente aos ossos do crânio e comporta-se como periósteo destes ossos A dura-máter, em particular seu folheto externo, é muito vascularizada. No encéfalo, a principal artéria que irriga a dura-máter é a artéria meníngea média, ramo da artéria maxilar interna. Ao contrário das outras meninges, é ricamente inervada. Como o encéfalo não possui terminações nervosas sensitivas, toda a sensibilidade intracraniana se localiza na dura-máter e nos vasos sanguíneos, responsáveis, assim, pela maioria das dores de cabeça. Em algumas áreas, o folheto interno da dura-máter destaca-se do externo para formar pregas que dividem a cavidade craniana em compartimentos que se comunicam amplamente. As principais pregas são: - Foice do cérebro: ocupa a fissura longitudinal do cérebro, separando os dois hemisférios cerebrais - Tenda do cerebelo: separa a fossa posterior da fossa média dividindo a cavidade craniana em um compartimento superior, ou supratentorial, e outro inferior, ou infratentorial (é de grande importância clínica, pois a sintomatologia das afecções supratentoriais (sobretudo os tumores) é muito diferente das infratentoriais). A borda anterior livre da tenda do cerebelo, denominada incisura da tenda, ajusta-se ao mesencéfalo → esta relação tem importância clínica, pois a incisura da tenda pode, em certas circunstâncias, lesar o mesencéfalo e os nervos troclear e oculomotor, que nele se originam. - Foice do cerebelo: situado abaixo da tenda do cerebelo, entre os dois hemisférios cerebelares - Diafragma da sela: pequena lâmina horizontal que fecha superiormente a sela túrcica, deixando apenas um pequeno orifício para a passagem da haste hipofisária Os seios da dura-máter são canais venosos revestidos de endotélio e situados entre os dois folhetos que compõem a dura-máter encefálica. O sangue proveniente das veias do encéfalo e do globo ocular é drenado para os seios da dura-máter e destes para as veias jugulares internas. Os seios comunicam- -se com veias da superfície externa do crânio através de veias emissárias, que percorrem forames ou canalículos que lhes são próprios, nos ossos do crânio. Os seios dispõem-se sobretudo ao longo da inserção das pregas da dura-máter, distinguindo-se os seios em relação com a abóbada e com a base do crânio. Os seios da abóbada são: - Seio sagital superior: percorre a margem de inserção da foice do cérebro e termina próximo à protuberância occipital interna, na chamada confluência dos seios → formada pela confluência dos seios sagital superior, reto e occipital e pelo início dos seios transversos esquerdo e direito - Seio sagital inferior: se encontra na margem livre da foice do cérebro, terminando no seio reto - Seio reto: localiza-se ao longo da linha de união entre a foice do cérebro e a tenda do cerebelo. Recebe, em sua extremidade anterior, o seio sagital Beatriz Cruz – Medicina inferior e a veia cerebral magna, terminando na confluência dos seios - Seio transverso: dispõe-se de cada lado ao longo da inserção da tenda do cerebelo no osso occipital, desde a confluência dos seios até a parte petrosa do osso temporal, onde passa a ser denominado seio sigmoide - Seio sigmoide: em forma de ‘S’, é uma continuação do seio transverso até o forame jugular, onde continua diretamente com a veia jugular interna OBS: o seio sigmoide drena a quase totalidade do sangue venoso da cavidade craniana - Seio occipital: dispõe-se ao longo da margem de inserção da foice do cerebelo Já os seios venosos da base são: - Seio cavernoso: é uma cavidade bastante grande e irregular, situada de cada lado do corpo do esfenoide e da sela túrcica. Recebe o sangue proveniente das veias oftálmica superior e central da retina, além de algumas veias do cérebro. Além de comunicar-se com o seio cavernoso do lado oposto, através do seio intercavernoso, ele é atravessado pela artéria carótida interna, pelo nervo abducente e, já próximo à sua parede lateral, pelos nervos troclear, oculomotor e pelo ramo oftálmico do nervo trigêmeo OBS: aneurismas da carótida interna no nível do seio cavernoso comprimem o nervo abducente e, em certos casos, os demais nervos que atravessam o seio cavernoso, determinando distúrbios muito típicos dos movimentos do globo ocular. Pode haver perfuração da carótida in terna dentro do seio cavernoso, formando-se, assim, um curto- circuito arteriovenoso, que que determina dilatação e aumento da pressão no seio cavernoso. Isto faz com que se inverta a circulação nas veias que nele desembocam, como as veias oftálmicas, resultando em grande protrusão do globo ocular, que pulsa simultaneamente com a carótida - Seios intercavernosos: unem os dois seios cavernosos, envolvendo a hipófise - Seio esfenoparietal: percorre a face interior da pequena asa do esfenoide e desemboca no seio cavernoso - Seio petroso superior: Drena o sangue do seio cavernoso para o seio sigmoide, terminando próximo à continuação deste com a veia jugular interna - Seio petroso inferior: percorre o sulco petroso inferior entre o seio cavernoso e o forame jugular, onde termina lançando-se na veia jugular interna - Plexo basilar: ocupa a porção basilar do occipital OBS: mulheres com 30-45 anos, com uso de anticoncepcional tem a tendencia de ter uma trombose do seio venoso Aracnoide É uma membrana muito delicada, justaposta à dura- máter, da qual se separa por um espaço virtual, o espaço subdural, contendo pequena quantidade de líquido necessário à lubrificação das superfícies de contato das duas membranas. A aracnoide separa-se da pia-máter pelo espaço subaracnóideo, que contém o líquido cerebroespinhal, ou líquor, havendo ampla comunicação entre o espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula. Consideram-se também como pertencendo à aracnoide as delicadas trabéculas que atravessam o espaço para se ligar à pia- máter, e que são denominadas trabéculas aracnóideas → aspecto de uma teia de aranha A aracnoide justapõe-se à dura-máter e ambas acompanham apenas grosseiramente a superfície do encéfalo. A pia-máter, entretanto, adere intimamente a esta superfície, que acompanha em todos os giros, sulcos e depressões. Desse modo, a distância entre as duas membranas, ou seja, a profundidade do espaço subaracnóideo é variável, sendo muito pequena no cume dos giros e grande nas áreas onde parte do encéfalo se afasta da parede craniana. Formam-se assim, nessas áreas, dilatações do espaço subaracnóideo, as cisternas subaracnóideas, que contêm grande quantidade de líquor. As cisternas mais importantes são: Beatriz Cruz – Medicina - Cisterna cerebelo-medular ou cisterna magna: é, de todas, a maior e mais importante, sendo às vezes utilizada para obtenção de líquor através das punções suboccipitais, em que a agulha é introduzida entre o occipital e a primeira vértebra cervical - Cisterna pontinha - Cisterna interpeduncular - Cisterna quiasmática - Cisterna superior - Cisterna da fossa lateral do cérebro Em alguns pontos a aracnoide forma pequenos tufos que penetram no interior dos seiosda dura-máter, constituindo as granulações aracnóideas, mais abundantes no seio sagital superior. As granulações aracnóideas levam pequenos prolongamentos do espaço subaracnóideo, verdadeiros divertículos deste espaço, nos quais o líquor está separado do sangue apenas pelo endotélio do seio e uma delgada camada da aracnoide. A passagem do líquor através da parede das granulações se faz por meio de grandes vacúolos, que o transportam de dentro para fora. No adulto e no velho, algumas granulações tornam-se muito grandes, constituindo os chamados corpos de Pacchioni, que frequentemente se calcificam e podem deixar impressões na abóbada craniana. Pia-máter É a mais interna das meninges, aderindo intimamente à superfície do encéfalo e da medula, cujos relevos e depressões acompanha, descendo até o fundo dos sulcos cerebrais. A pia-máter dá resistência aos órgãos uma vez que o tecido nervoso é de consistência muito mole. A pia-máter acompanha os vasos que penetram no tecido nervoso a partir do espaço subaracnóideo, formando a parede externa dos espaços perivasculares. Nestes espaços existem prolongamentos do espaço subaracnóideo, contendo líquor, que forma um manguito protetor em tomo dos vasos, muito importante para amortecer o efeito da pulsação das artérias ou picos de pressão sobre o tecido circunvizinho Líquor O líquor ou líquido cerebroespinhal é um fluido aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades ventriculares. A função primordial do líquor é de proteção mecânica do sistema nervoso central Através de punções lombares, suboccipitais ou ventriculares, pode-se medir a pressão do líquor, ou colher certa quantidade para estudo de suas características citológicas e físico-químicas → O líquor normal do adulto é límpido e incolor O líquor é produzido mesmo na ausência de plexos corioides, sendo o epêndima das paredes ventriculares responsável por400/o do total do líquor formado, ele é ativamente secretado pelo epitélio ependimário, sobretudo dos plexos corioides, e sua composição é determinada por mecanismos de transporte específicos. Sua formação envolve transporte ativo de Na+ CI·, através das células ependimárias dos plexos corioides, acompanhado de certa quantidade de água, necessária à manutenção do equilíbrio osmótico. Entende-se, assim, porque a composição do líquor é diferente da do plasma. Por meio das aberturas mediana e laterais do IV ventrículo, o líquor formado no interior dos ventrículos ganha o espaço subaracnóideo. sendo reabsorvido, sobretudo através das granulações aracnóideas que se projetam no interior dos seios da dura-máter, pelas quais chega à circulação geral sistêmica. Como essas granulações predominam no seio sagital superior, a circulação do líquor no espaço subaracnóideo se faz de baixo para cima, devendo, pois, atravessar o espaço entre a incisura da tenda e o mesencéfalo. No espaço subaracnóideo da medula, o líquor desce em direção caudal Funções do líquor: 1. Manutenção de um meio químico estável no sistema ventricular, por meio de troca de componentes químicos com os espaços intersticiais, permanecendo estável a composição química do líquor 2. Excreção de produtos tóxicos do metabolismo das células do tecido nervoso que passam aos espaços intersticiais de onde são lançados no líquor e deste para o sangue. Beatriz Cruz – Medicina 3. Veículo de comunicação entre diferentes áreas do SNC. Correlações anatomoclínicas Hidrocefalia Se caracterizam por aumento da quantidade e da pressão do líquor, levando à dilatação dos ventrículos e compressão do tecido nervoso de encontro ao estojo ósseo OBS: a hidrocefalia ocorre durante a vida fetal geralmente em decorrência de anomalias congênitas do sistema ventricular, já que os ossos do crânio ainda não estão soldados, há grande dilatação da cabeça da criança, o que confere alguma proteção ao encéfalo. No adulto, como o crânio não se expande, a pressão intracraniana se eleva rapidamente, com compressão das estruturas e sintomas típicos de cefaleia e vômitos, evoluindo para herniação, coma e óbito, caso não ocorra tratamento de urgência. Existem dois tipos de hidrocefalias: as comunicantes e não comunicantes - Hidrocefalias comunicantes: aumento na produção ou deficiência na absorção do líquor, em razão de processos patológicos dos plexos corioides ou dos seios da dura-máter e granulações aracnóideas. - Hidrocefalias não comunicantes: são muito mais frequentes e resultam de obstruções no trajeto do líquor, o que pode ocorrer nos seguintes locais: - Forame interventricular - Aqueduto cerebral - Aberturas medianas e laterais do IV ventrículo - Incisura da tenda Hipertensão intracraniana É o aumento de volume de qualquer componente da cavidade craniana reflete- -se sobre os demais, levando ao aumento da pressão intracraniana. Tumores, hematomas e outros processos expansivos intracranianos comprimem não só as estruturas em sua vizinhança imediata, mas todas as estruturas da cavidade crânio-vertebral, determinando um quadro de hipertensão craniana com sintomas característicos, entre os quais se sobressai a cefaleia, podendo também ocorrer vômitos e formação de hérnias de tecido nervoso. Havendo suspeita de hipertensão craniana, deve- - se fazer sempre um exame de fundo de olho. O nervo óptico é envolvido por um prolongamento do espaço subaracnóideo, levando à compressão do nervo óptico. lsso causa obliteração da veia central da retina, a qual passa em seu interior, o que resulta em ingurgitamento das veias da retina, com edema da papila óptica Hérnias intracranianas São processos expansivos, como tumores ou hematomas que se desenvolvem em um deles. aumentam a pressão dentro do compartimento, podendo causar a protrusão de tecido nervoso para o compartimento vizinho. Um tumor em um dos hemisférios cerebrais pode causar hérnias do giro do cíngulo, que se insinua entre a borda da foice do cérebro e o corpo caloso, fazendo protrusão para o lado oposto. Entretanto, são mais importantes, pelas graves consequências que acarretam as hérnias do úncus e das tonsilas. - Hérnias do úncus: é um processo expansivo cerebral, determinando aumento de pressão no compartimento supratentorial. empurra o úncus, que faz protrusão através da incisura da tenda do cerebelo, comprimindo o mesencéfalo (Figura 8.6). Inicialmente há compressão do nervo oculomotor na base do pedúnculo cerebral. Ocorre dilatação da pupila do olho do mesmo lado da lesão com resposta lenta à luz, progredindo para dilatação completa, desvio lateral do olhar, com paralisia contralateral. A sintomatologia mais característica e mais grave é a rápida perda da consciência, ou coma profundo por lesão das estruturas mesencefálicas responsáveis pela ativação do córtex cerebral - Hérnias das tonsilas: é um m processo expansivo na fossa posterior, como um tumor em um dos hemisférios cerebelares, pode empurrar as tonsilas do cerebelo através do forame magno, produzindo hérnia de tonsila. Nesse caso, há compressão do Beatriz Cruz – Medicina bulbo, levando geralmente à morte por lesão dos centros respiratório e vasomotor que nele se localizam. O quadro pode ocorrer também quando se faz uma punção lombar em pacientes com hipertensão craniana. Nesse caso, há súbita diminuição da pressão liquórica no espaço subaracnóideo espinhal, causando a penetração das tonsilas através do forame magno → Não se deve, portanto, na suspeita de hipertensão intracraniana, realizar uma punção liquórica sem antes realizar o fundo de olho ou exame de imagem Hematomas extradurais e subdurais É uma das complicações mais frequentes dos traumatismos cranianos são as rupturas de vasos que resultam em acúmulo de sangue nas meninges soba forma de hematomas. Assim, lesões das artérias meníngeas, ocorrendo durante fraturas de crânio, sobretudo da artéria meníngea média, resultam em acúmulo de sangue entre a dura-máter e os ossos do crânio, formando-se um hematoma extradural. O hematoma cresce, separando a dura-máter do osso, e empurra o tecido nervoso para o lado oposto, levando à morte em poucas horas se o sangue em seu interior não for drenado. Nos hematomas subdurais. o sangramento se dá no espaço subdural, geralmente em consequência da ruptura de uma veia cerebral no ponto em que ela entra no seio sagital superior. O sangue acumula-se entre a dura-máter e a aracnoide. São mais frequentes os casos em que o crescimento do hematoma é lento, e a sintomatologia aparece tardiamente. No caso de hemorragias no espaço subaracnóideo, não se formam hematomas, uma vez que o sangue se espalha no líquor, podendo ser visualizado em uma punção lombar O quadro clínico é agudo, com cefaleia muito intensa, podendo ocorrer alteração de consciência Anotações da aula OBS1 : No crânio, o folheto da dura está firmemente aderido a calota, não existindo nenhum espaço epidural. Porém, na medula, vai existir o espaço epidural e vai ter tecido adiposo e complexo medular. OBS2: Tudo que está acima da tenda do cerebelo é chamado de espaço supratentorial, tudo que está abaixo da tenda do cerebelo é chamado de infratentorial Meningite Meningite é um processo inflamatório das membranas leptomeningeas (pia-máter e aracnoide) extensivo ao espaço subaracnoide, cuja reação inflamatória é detectada no líquor. As vias de infecção são: - Hematogênicas (bacteriana/nasofaringe colonizada) - Contiguidade (foco infeccioso contíguo como sinusite, otite e mastoidite) - Continuidade ou invasão direta (TCE, fístula liquórica) Pode-se classificar as meninges em: - Aguda (piogênica ou bacteriana; asséptica ou viral) - Crônica (tuberculose e fúngica) Principais manifestações clínicas • - Tríade da meningite: cefaleia/febre/ miningismo - cefaleia difusa e intensa - Fotofobia/febre/vômito em jato - Crises convulsivas - Petéquias - Alteração de nervos cranianos - Rigidez de nuca (sinais de Kerning e Brudzinski) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA - MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional - NETTER, FRANK H. Atlas de Anatomia Humana
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