Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Antiepiléticos 1 Antiepiléticos Neurobiologia da epilepsia CAUSA DAS CRISES EPILÉPTICAS → atividade elétrica anormal em circuitos neuronais = hiperexcitação neuronal, seja por aumento direto da excitação neuronal (glutamatérgica) ou diminuição da inibição tônica (endocanabinoide/GABAérgica). Epilepsia Frequência baixa (0,5% da população), mas alto impacto. CAUSAS: 30% por causas genéticas (tratamento complexo). Secundária a traumas e infecções encefálicas. CONSEQUÊNCIAS: Alterações metabólicas/elétricas locais (basal = o tempo todo ou ictal = durante a crise); Crises autossustentadas (fadiga sináptica) - forma de autocontrole. Sintomatologia particular à região afetada: PERDA DE CONSCIÊNCIA (formação reticular e tálamo); AMNÉSIA (hipocampo); SINTOMAS SENSORIAIS (auditivos, visuais, equilíbrio); CONVULSÃO (córtex motor). Epilepsia = convulsão? Convulsão pode ser secundária à: Hipoglicemia; Diabetes descompensado (hiperglicemia, corpos cetônicos); Acidoses/alcaloses metabólicas; Uso/abstinência de drogas de abuso; Intoxicação em geral (plantas tóxicas, como mamona); Febre intensa; Tumores encefálicos; Sepse. EPILEPTOGÊNESE FARMACOLÓGICA → alguns fármacos ou uso/abstinência de drogas de abuso ou intoxicação. Antiepiléticos 2 Tipos de epilepsia 1. CRISES FOCAIS → podem ainda ser descritas como apresentando características motoras, sensoriais, autonômicas, cognitivas ou de outro tipo. 2. CRISES GENERALIZADAS → ausência típica ou atípica, tônico-clônicas, clônicas, tônicas, atônicas, mioclônicas 3. CRISES FOCAIS, GENERALIZADAS OU INCERTAS → espasmos epilépticos Crises parciais (focais) Despolarização restrita (EEG hemilateral) - foco epiléptico local, afetando regiões próximas somente. SINTOMATOLOGIA: Sintomas motores (epilepsia jacksoniana); Sintomas não-motores (sensorial, autonômico); Sintomas psicomotores (foco temporal) → humor; Perda de consciência (nem sempre; complexas) → sintoma geral. CAUSAS: Lesão final, tumores ou malformação. Podem ser origem de crises generalizadas secundárias (se atingir o tálamo). Crises generalizadas (totais/bilaterais) Despolarização disseminada (EEG global). SINTOMA: Perda imediata da consciência (tálamo) Antiepiléticos 3 PODE SER: SEM AURA → perda de consciência imediata; COM AURA → convulsão secundária; algum sintoma específico e depois perda de consciência. TIPOS: CRISE DE AUSÊNCIA → ativação rítmica em vias corticotalâmicas; perda transitória de consciência (sem percepção própria); não há alteração motora. Pode ser confundida com AVEs; alteração em Cav tipo T (tálamo); crianças e adolescentes. Hiperpolarização inicial em neurônios talâmicos inibe regiões corticais, o que promove feedback de estímulo do córtex ao tálamo e ,logo, mais hiperpolarização no tálamo. CRISE TÔNICO-CLÔNICA → Fase tônica (1') = contração generalizada (hipoventilação, cianose, micção etc); Fase clônica (2'-4') = abalos sincronizados; Amnésia e confusão mental (depressão pós-convulsão). Gatilho emocional, sons/luzes, febre, alcalose. Limitações na epilepsia 1. Ação tóxica do glutamato a cada crise (hiperexcitação) → degeneração neuronal (degenera canais de Ca2+) Antiepiléticos 4 Excitotoxicidade e neurodegeneração (pior prognóstico). Aumento da gravidade, aumento da recorrência (perda inibitória remanescente) → perda neuronal para inibir futuramente hiperexcitação de crises. Degeneração progressiva, retardo e sequelas. Diminuição da eficiência do tratamento. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO → crises ininterruptas e constantes (emergência) 1. Tratamento farmacológico longe do ideal. Fármacos antigos e pouco inovadores. Perfil indesejado e muito amplo (diminui a adesão). Muitas interações medicamentosas (indução enzimática hepática → metabolismo aumentado para ele e outros fármacos; aumento do citocromo p450) Sem cura (tratamento paliativo) 30% dos pacientes são refratários. 2. Anticonvulsivantes são indutores enzimáticos → metabolismo aumentado para ele e outros fármacos. ex.: carbamazepina, fenitoína, fenobarbital e outros barbitúricos. Agentes antiepilépticos Antiepiléticos 5 Mecanismos gerais de ação Comum à maioria dos agentes antiepilépticos: 1. Potencializar a ação de GABA (aumento da hiperpolarização - controle da hiperexcitabilidade); 2. Bloqueio de Cav do tipo T (CaT) → diminuição da excitabilidade; 3. Bloqueio de canais de Nav (dependentes de voltagem) → diminuição da excitabilidade (dependente de uso - só se ligam a canais de Na+ usados recentemente - inativados pela comporta interna); 4. Inibir ação glutamatérgica (NMDA/AMPA) → diminuição da excitabilidade. Racional terapêutico Independente do mecanismo, tudo culmina com: Aumento na inibição (hiperpolarização) OU; Redução na excitabilidade (dificultando a despolarização). Antiepilépticos clássicos Barbitúricos (fenobarbital) - Gardenal Potencializa ação GABAa. BENEFÍCIOS: Tão efetivo quanto fenitoína; PROBLEMAS: Pode agravar crise de ausência; Aumento da sedação (sonolência, diminuição do desenvolvimento infantil); Induz metabolismo de enzimas hepáticas (interações); Diminuição da margem de segurança (parada cardiorrespiratória); Caindo em desuso pelo perfil indesejado. Funcionamento dos canais iônicos de acordo com as fases dos tipos de epilepsia Antiepiléticos 6 Fenitoína (hidantoínas, derivados barbitúricos) - Hidantal Bloqueio dos canais de Nav. BENEFÍCIOS: Focais e tônico-clônicas; Não causa sedação; Terapia individualizada (monitoração terapêutica). PROBLEMAS: Diminuição do índice terapêutico (toxicidade); Aumento da ligação plasmática (deslocado por salicilato, valproato...); Metabolismo saturável (aumento do t1/2 cronicamente); Indutor enzimático (interações); Compete com fenobarbital/etanol por metabolismo; Farmacocinética imprevisível (individual). Pode agravar crise de ausência; Vertigem, nistagmo, cefaleia; Hiperplasia gengival; Hirsutismo e masculinização (aumento de andrógenos); Malformação fetal (teratogênico); Intoxicação → diminuição da cognição, anemia (diminuição do ácido fólico) e agravamento epiléptico. Etossuximida Bloqueia CaT. BENEFÍCIOS: Efetivo na crise de ausência; PROBLEMAS: Náusea, anorexia, letargia e tontura; Pouco usado em detrimento ao valproato (maior espectro de ação); Etoxin no Brasil (sem genérico). Benzodiazepínicos (diazepam, clobazam, clonazepam) - Rivotril, Valium Potencializa ação GABAa. BENEFÍCIOS: Aumento da segurança e tolerabilidade; Controle de status epilepticus (agudo); Clonazepam → bloqueio CaT (crise de ausência); PROBLEMAS: Sedação, tolerância e dependência; Risco de abuso (“droga segura”). NÃO usar em idosos. NÃO usar por mais de 3 meses. Antiepiléticos 7 Carbamazepina (derivado tricíclico) Bloqueio Nav. BENEFÍCIOS: Eficácia similar à fenitoína (focais); Cinética linear (fenitoína) = previsível. PROBLEMAS: Sedação, ataxia, tontura e aumento do peso (retém H2O); Depressão medula óssea (anemia e imunodepressão); Indução enzimática (reduz concentração plasmática de valproato, barbitúricos, BZDs); Tolerância farmacocinética (diminuição do t1/2 com uso); Oxcarbazepina → pró-fármaco menos indutor enzimático. Ácido valproico (valproato) - Depakene, Depakote Bloqueia Nav e CaT. Diminuição da degradação de GABA (ação direta GABAa). BENEFÍCIOS: Espectro amplo de ação (crise de ausência); Diminuição da sedação, aumento índice terapêutico (segurança); Divalproato → liberação lenta (aumento da adesão, menor risco de intoxicação, diminiução dos efeitos TGI); PROBLEMAS: Perda de cabelo (“afinamento”, “encrespamento”...); Perda sensorial (audição, gustação, visão); transitório; Hepatotóxico e teratogênico; Inibe o metabolismo da fenitoína. Mecanismos anticonvulsivantes "novos" Antiepilépticos modernos Mecanismos mais diversificados e uso abrangente. Ainda pouco usados (desconhecimento/custo). Devem ganhar destaque (segurança e aplicação). a. Vigabatrina (inibe irreversivel a GABA-transaminase, ↑GABA + CaT); b. Gabapentinae pregabalina (↓Cav pré-sináptico + ação GABA); c. Tiagabina (↓recaptação de GABA via GAT1); d. Lamotrigina (↓liberação de glutamato + Nav + CaT); e. Felbamato (antagonismo NMDA + Nav); f. Perampanel (antagonista AMPA, ↑agressividade?); g. Rufinamida (antagonista mGlu5 + Nav); Antiepiléticos 8 h. Retigabina (abertura Kv, ↑efluxo K+, hiperpolarização); i. Levetiracetam e brivaracetam (inibe SV2A vesicular, diminui a exocitose de glutamato, principalmente) → semelhante ao botox. Topiramato Bloqueia Nav e potencializa GABA. Bloqueia receptores de glutamato (AMPA/metabotrópicos). Ação neuroprotetora? BENEFÍCIO → pouco impacto farmacocinético (diminuição de interações medicamentosas); PROBLEMA → sedação e redução da fome (obesidade). obs.: também utilizado em enxaquecas. Mecanismos em resumo CANAIS DE Na+ DEPENDENTES DE VOLTAGEM CANAIS DE Ca2+ TRANSMISSÃO GABAÉRGICA → SÍNTESE, METABOLIZAÇÃO E RECEPTORES Seleção de antiepilépticos De acordo com o tipo de convulsão. Casos de crises generalizadas e crises de ausência → canais de GABAa e canais de Ca2+ tipo 2. Outros → canais NMDA, de Ca2+, GABAa, de Na+. Destaque para valproato e lamotrigina. Antiepiléticos 9 Usos além da epilepsia “Espectro amplo” em neurologia e psiquiatria. Profilaxia pós-traumática (diminuição de dano neurológico) (topiramato); Profilaxia da enxaqueca (topiramato, valproato, gabapentina); Ansiedade (gabapentina); Estabilizador de humor (carbamazepina, valproato, topiramato, lamotrigina); Dor crônica (vigabatrina, gabapentina, pregabalina, carbamazepina, lamotrigina). Disponíveis na rede pública
Compartilhar