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RECURSOS ESTÉTICOS MANUAIS Erica Ballestreri Ácidos: peelings químicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o processo de renovação celular. Definir e classificar os tipos de peelings químicos. Descrever produtos e protocolos utilizados em peelings químicos. Introdução A pele sofre um ciclo de constante renovação. Com o avançar da idade, ou por outros fatores, esse ciclo de renovação celular vai diminuindo, e o resultado são manchas, desidratação e rugas na pele. Para causar a desca- mação e estimular a renovação celular, são utilizados na estética ácidos, empregados em formulações cosméticas. Esse é um dos procedimentos mais utilizados para melhorar a aparência da pele. Sua principal ação é provocar o refinamento da pele, retirando as camadas mais superficiais e contribuindo para a melhora da permeação cutânea, permitindo melhor ação dos princípios ativos que serão utilizados posteriormente. Neste capítulo, você vai estudar os tipos e os mecanismo dos peelings químicos, sua profundidade, indicações e contraindicações, bem como protocolos de aplicação. Peelings químicos O peeling é um agente esfoliante que tem como objetivo causar a descamação da pele. O procedimento utiliza substâncias químicas ou instrumentos para realizar um processo abrasivo, ou seja, de desgaste das camadas da pele, removendo suas células mortas. Essas camadas se regeneram e recebem um novo aspecto, devido às novas células que foram estimuladas a se reproduzi- rem. A palavra peeling vem do verbo inglês “to peel” e signifi ca “descascar”. O peeling químico consiste na aplicação de um ou mais agentes ácidos na pele para provocar uma “destruição” controlada da epiderme e/ou parte da derme, com consequente regeneração dos tecidos. A descamação com o uso do ácido diminui a espessura da região tratada, baseada em fenômenos naturais de reparação como a retenção líquida, a migração de células e a formação de colágeno, aumentando a densidade das camadas internas da pele e atenuando sulcos, rugas e manchas. Principais objetivos do peeling: Renovação celular: ocorre por meio da estimulação do crescimento epidérmico mediante remoção do estrato córneo, aumento da perme- abilidade cutânea e hiperplasia dos queratinócitos. Redução de manchas: ocorre pela destruição das camadas superfi- ciais da pele envelhecida, obtendo-se um tecido mais jovem e saudável com melhora da aparência estética, principalmente nas desordens de pigmentação e ceratoses actínicas. Há uma diminuição da quantidade de melanina depositada. Rejuvenescimento: ocorre pela indução de reação inflamatória nos tecidos mais profundos — a ativação de mediadores de inflamação induz à produção de colágeno novo na derme. Ocorre mitose dos fibrócitos. Entre seus mecanismos de ação, destacam-se: diminuição da coesão entre células da epiderme; esfoliação química; estímulo da síntese de compostos da matriz; aumento da hidratação dermoepidérmica. Os peelings são classificados em três grupos, de acordo com o nível de profundidade da necrose tecidual provocada pelo agente esfoliante. Para um melhor entendimento em relação à profundidade dos peelings, vamos relembrar as camadas da pele: Epiderme: camada mais superficial, dividida em cinco estratos: camada basal ou germinativa, camada mais profunda da epiderme; camada espinhosa; camada granulosa; camada lúcida; e camada córnea, a mais superficial. Derme: camada localizada abaixo da epiderme, dividida em derme papilar e derme reticular; a derme reticular é a camada mais profunda. Ácidos: peelings químicos2 Os peelings, portanto, são capazes de provocar reações que vão desde uma leve descamação até a necrose da derme, com remoção da pele em diferentes graus. Veja a Figura 1. Classificação dos peelings quanto à profundidade Os peelings podem ser classificados conforme a sua profundidade e os efeitos que atingem na pele. Sendo assim, se dividem em: Superficial ou epidérmico: atinge a camada basal da pele. Médio: atinge até a camada da derme papilar. Profundo: quando atinge a derme reticular. Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. Estes são os tipos de peeling, de acordo com a sua profundidade de ação na pele: Muito superficial: afina ou remove o estrato córneo e não cria lesão abaixo do estrato granuloso. 3Ácidos: peelings químicos Superficial: produz necrose de parte ou de toda a epiderme, em qual- quer parte do estrato granuloso até a camada de células basais. A descamação costuma ser fina e clara, não alterando a rotina diária do paciente. Médio: produz necrose da epiderme e de parte ou toda a derme papilar. Provoca descamação espessa e escura da pele, demorando de 7 a 15 dias para o paciente retornar às atividades normais. Atinge em média 0,45 mm a 0,6 mm (dérmico papilar). Profundo: produz necrose da epiderme e da derme papilar, que se estende até a derme reticular. De uso exclusivamente médico, é um procedimento mais forte e mais agressivo. Provoca a formação de muitas crostas espessas. Indicado para peles muito envelhecidas. Atinge 0,6 mm a 0,8 mm (dérmico reticular). A penetração dos ácidos é dependente dos seguintes fatores: Pré-tratamento: para que seja feito o tratamento com peeling, o paciente tem que estar com a pele preparada. Esse preparo visa não só a uma melhor atuação do produto usado, mas também evita complicações. O pré-peeling deve ser iniciado de 7 a 15 dias antes do peeling, com o objetivo de reduzir a espessura da camada córnea, promover uma penetração mais uniforme do agente peeling, diminuir o risco de hi- perpigmentação pós-inflamatória, reduzir a atividade melanocitária, reduzir o tempo de cicatrização e estabelecer uma rotina de cuidados diários. Tratamentos indicados de uso home care (em casa) são higieni- zadores com alfa-hidroxiácidos (AHAs) ou beta-hidroxiácidos (BHAs), cosméticos com efeito clareador, filtros solares e águas hidratantes, todos adequados ao tipo de pele do paciente. Peso molecular do ácido: quanto maior o peso molecular de um ácido, menor a penetração e, consequentemente, menos agressivo o peeling. pH e concentração do ácido: quanto maior a concentração do ácido (10, 20, 30%), maior seu poder irritativo. A concentração relaciona-se muito com o peso molecular e o tempo de aplicação. Um ácido com alto peso molecular a 10% se comporta de modo diferente de um ácido de baixo peso molecular também a 10%. Quanto menor seu pH, maior a chance de causar eritemas persistentes e lesões irritativas acentuadas. Tempo de contato com a pele: quanto maior o tempo de contato do ácido com a pele, maior o risco de lesões e sequelas indesejadas, como as hipercromias. Ácidos: peelings químicos4 De forma geral, a intenção do peeling químico é acelerar o processo de renovação celular, eliminando as camadas mais superficiais e envelhecidas. No entanto, cada ácido tem uma característica e indicação específica. Além disso, o fototipo do paciente deve ser sempre considerado na escolha do ácido utilizado para condução do tratamento. Para isso podemos identificar o tipo de pele em relação ao fototipo, de acordo com a classificação de Fitzpatrick, que você pode ver no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Suzuki et al. (2011). Fototipos Características Sensibilidade ao sol I – Branca Queima com facilidade, nunca bronzeia Muito sensível II – Branca Queima com facilidade, bronzeia pouco Sensível III – Morena clara Queima moderadamente, bronzeia moderadamente Normal IV – Morena moderada Queima pouco, bronzeia com facilidade Normal V – Morena escura Queima raramente, bronzeia bastante Pouco sensível VI – Negra Nunca queima, totalmente pigmentada Insensível Quadro 1. Classificação dos fototipos de Fitzpatrick Principais indicações do peeling: rejuvenescimento; hiperceratoses; discromias; oleosidade e sequelas de acne; fotoenvelhecimento.Contraindicações, principalmente para peelings químicos de maior con- centração e menor pH: 5Ácidos: peelings químicos pacientes que não possam/queiram evitar radiação UV; lesões ativas de herpes-zóster; infecções virais e bacterianas; dermatoses inflamatórias (psoríase, dermatite atópica); histórico de má cicatrização e formação de queloide; peles sensíveis, irritadas, lesões abertas; gravidez e lactação; pacientes portadores do vírus HIV ou em tratamento de câncer; eritema solar e depilação com uso de cera quente; displasias, neoplasias, lesão melanocítica não diagnosticada; pacientes que não obedeçam instruções; cautela com fumantes (cicatrização mais lenta); uso de imunossupressores e esteroides; problemas metabólicos (diabe- tes), lúpus eritematoso; uso de corticoides; pacientes que não estejam preparados psicologicamente: expectativas não realistas; tratamentos faciais (cirúrgicos ou medicamentosos) de 6 a 24 meses antes; dermoabrasão ou resurfacing com laser de CO2; presença de pigmentos (sobrancelhas e lábios); alergia aos componentes (sempre testar antes de aplicar). Tipos de peelings químicos Alfa-hidroxiácidos Constituem um grupo de compostos orgânicos que possuem em comum a hidroxila na posição alfa. São derivados do leite (ácido lático), frutas cítricas (ácido maleico e cítrico), uva (ácido tartárico) e cana-de-açúcar (ácido glicólico), mas também podem ser de origem sintética. Diferenciam-se pelo tamanho da molécula: o ácido glicólico tem menor molécula e, portanto, tem maior poder de penetração na pele. São eficientes no tratamento de rugas, desidratação, espessamento e pigmentação irregular da pele. Podem causar irritações e sensação de queimação, por penetrarem rapidamente na pele devido à sua pequena estrutura molecular. Efeitos dos AHAs: incrementam a microcirculação dérmica; estimulam o crescimento epidérmico; Ácidos: peelings químicos6 descompactam os queratinócitos; incrementam a substância da matriz intersticial; aumentam o grau de retenção hídrica; estimulam a produção de fibroblastos; reorganizam as fibras colágenas; reestruturam as fibras elásticas; promovem alisamento da pele por esfoliação. Ácido glicólico As principais fontes naturais de ácido glicólico são cana de açúcar, beterraba, uva, alcachofra e abacaxi. Indicado no tratamento dos sinais clínicos do fotoenvelhecimento, pele áspera, discromias, rugas e vincos, psoríase, acne, pele desidratada. Pode ser utilizado em fototipo I, II e III. Sua estrutura molecular é muito pequena, penetrando melhor e sendo mais eficaz — mas, por essa razão, é mais irritante. O ácido glicólico é solúvel em água e satura-se a 80%, por isso o utilizamos em concentrações de até, no máximo, 70%. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 20 e 70% em pH de 1,8 a 3,5 ou 4,5. As concentrações utilizadas em casa, para preparo da pele, são entre 2 e 20% em pH acima de 3,5. Ácido lático A principal fonte natural de ácido lático é a fermentação bacteriana da glicose, da lactose e da sacarose. Indicado para peles sensíveis, com intolerância ao ácido glicólico. Faz parte do fator de hidratação natural da pele. Apresenta bom resultado para peles desidratadas e secas; melasma e hiperpigmentação incluindo a induzida por exposição ao sol; acne e cicatrizes de acne. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 10 e 90% em pH de 3,8 a 4,0. As concentrações utilizadas em casa, para preparo da pele, são entre 2 e 10% em pH acima de 4,0. Ácido mandélico A principal fonte natural de ácido lático é a amêndoa amarga. Indicado para todos os fototipos e em especial IV, V e VI, por possuir uma molécula grande e não causar irritação. Utilizado em hipercromias, acne 7Ácidos: peelings químicos ativa ou cicatricial; tratamento de pseudofoliculite; envelhecimento cutâneo; óstios dilatados; rugas e vincos. Possui atividade antibacteriana. Não causa descamação excessiva. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 20 e 50% em pH de 3,0 a 3,8. As concentrações utilizadas em casa, para preparo da pele, são entre 5 a 10% em pH acima de 3,5. Beta-hidroxiácidos São ácidos carboxílicos orgânicos que apresentam um grupamento hidroxila ligado à posição beta do grupamento carboxila. É um composto lipofílico que remove lipídeos, isso signifi ca que eles se dissolvem em gordura, o que os torna mais capazes de penetrar nos poros da pele, onde a queratina e o sebo estão armazenados. São queratolíticos e destroem a camada córnea da pele. Os ingredientes mais comuns que encontramos nos BHAs são o salicilato, o salicilato de sódio, o ácido trópico e o extrato de salgueiro, porém o mais comum é o ácido salicílico. Ácido salicílico O ácido salicílico é seguro em todos os tipos de pele e, por seus efeitos que- ratolíticos e comedolíticos, torna-se o peeling ideal para peles com acne. Efi caz no clareamento de manchas em geral, principalmente as decorrentes do fotoenvelhecimento nas mãos, braços e costas, age na hidratação e regula a oleosidade. Também tem ação anti-infl amatória, por isso é muito utilizado para tratamentos de acne. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 10 e 20% em pH 3,0 a 3,5. Deve ser mantido na pele por 3 a 5 min antes da neutralização. Poli-hidroxiácidos No caso dos poli-hidroxiácidos (PHAs), dois ou mais grupamentos de hidroxila encontram-se ligados a átomos de carbonos. Este grupo inclui as gluconolac- tonas e o ácido lactobiônico. Por serem moléculas grandes, penetram mais lentamente na pele, sem causar as sensações de desconforto e ardência, sendo indicados para pessoas com pele sensível. Além disto, os PHAs parecem apresentar outras vantagens sobre os AHAs, já que são moléculas altamente hidratantes, para as quais foram descritas atividades antioxidantes. Indicados para todos os fototipos de pele. Ácidos: peelings químicos8 Gluconolactona É obtida pela oxidação da glicose do milho. Além disso, é o PHA mais utilizado na área da estética, promovendo efeito antienvelhecimento, ação hidratante e antioxidante. Melhora a luminosidade da pele, reduz rugas superfi ciais. É um componente natural da pele e é não toxico, tolerado em peles sensíveis, inclusive em áreas ao redor dos lábios e dos olhos. Indicado para todos os fototipos, rosácea, dermatite atópica, infecções fúngicas. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 0,5 e 15 % em pH 3,0 a 5,0. Pode ser deixado agindo na pele por 40 min. Ácido lactobiônico Obtido após a oxidação da lactose. É um ácido orgânico com a estrutura mo- lecular semelhante à gluconolactona, muito utilizado como esfoliante químico em produtos cosméticos. Possui efeito antioxidante e umectante. Apresenta a função de reduzir o excesso de ferro na pele, impedindo o surgimento de radicais livres. Possui poder hidratante e rejuvenescedor, pois atua retendo a umidade do ambiente e incorporando-a à pele. Eficaz no tratamento de acne e outras inflamações na epiderme, pois a galactose presente em sua fórmula confere poder cicatrizante. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 2 e 10%, em pH de estabilidade que varia entre 3,5 e 5,0 para peelings. Outros ácidos Ácido azelaico Ácido dicarboxílico saturado com propriedades terapêuticas na acne vulgar. Encontrado na farinha, cevada e malte. Indicado para hipercromias e peles seborreicas. Atua na normalização da queratinização folicular, antimicrobiano e bactericida. Usado em cremes ou loção nas concentrações de 10 a 20%. O pH ideal deve ser abaixo de 4,5. 9Ácidos: peelings químicos Ácido kójico Produzido por fungos Aspergillus e Penicillium, do arroz. É inibidor de tiro- sinase sendo que dessa forma age como despigmentante. A tirosinase é uma enzima chave para a biossíntese de melanina. O início do processo de formação da melanina ocorre na transcriçãodo RNA, que irá dar origem à enzima tirosinase. Essa enzima é um catalisador importante, que, por meio de uma complexa cadeia de reações oxidativas, vai converter a L-tirosina presente na pele em L-Dopa e, em seguida, em melanina. A concentração usual é de 1 a 3%. Ácido tranexâmico Previne a pigmentação induzida por UV e produz clareamento da pele. O ácido tranexâmico impede a ação infl amatória e, consequentemente, a formação de melanina. Esse ácido bloqueia a conversão do plasminogênio (presente nas células basais epidérmicas) em plasmina por meio da inibição do ativador de plas- minogênio, o qual é gerado pelos queratinócitos, e aumenta a atividade dos melanócitos. Inibindo a formação da plasmina, que reconhecidamente aumenta a formação de precursores melanogênicos e também a liberação de bFGF, que é um potente fator de crescimento de melanócitos, obtemos um clareamento. Portanto, o ácido tranexâmico inibe a síntese de melanina não pela atuação direta nos melanócitos, mas através da inibição dos ativadores dos melanócitos. É indicado para olheiras, melasma, pós-escleroterapia e hipercromias de origem inflamatória. Apresentado em solução ou emulsão com concentração de 0,4 a 3%. Ácido tioglicólico Indicado para hipercromias decorrentes da insufi ciência venosa com depósito de hemossiderina e melanina. A hemossiderina é um pigmento derivado da hemoglobina, de cor amarelo-dourada a marrom, granular ou cristalina, forma na qual o ferro é estocado nas células. Os excessos de ferro fazem com que a hemossiderina se acumule dentro das células. O ácido tioglicólico, ou ácido mercaptoacético, possui grande afinidade com o ferro iônico. A ação desse ácido é a quelação do ferro, então, ele é potencialmente útil nos casos de depósito de hemossiderina. Ácidos: peelings químicos10 O ácido tioglicólico à classe dos tioglicolatos, substâncias solubilizantes de depósitos hemossideróticos. Apresenta enxofre em sua composição, é altamente solúvel em água, álcool e éter, e facilmente oxidável. Ácido bem utilizado em olheiras e hipercromias. A concentração recomen- dada é de 2 a 5% em olheiras e, para outras aplicações, 10 a 15%. Ácido retinoico O ácido retinoico é um retinoide derivado da vitamina A, que causa a prolife- ração epidérmica e a neocolagênese. Possui aspecto amarelado e sua aplicação deve ser homogênea em todo o rosto, permanecendo por 6 a 12 horas. Ele penetra na pele atingindo somente sua camada superficial (peeling superficial). Proporciona uma leve esfoliação na pele e ativa a microcircu- lação, estimulando a pele e promovendo os processos de neocolagênese e elastogênese (produção de novas fibras de colágeno e de elastina). O ácido retinoico também promove a aceleração da renovação celular, por esfoliar e descamar a pele, bem como a leve compactação e espessamento da camada córnea da pele. Reorganiza as fibras elásticas danificadas pela exposição solar e melhora a irrigação da pele. Em consultório, o peeling com ácido retinoico é realizado em concentrações que variam entre 1 e 4%. As formas tópicas em home care (creme, gel, solução) geralmente são de 0,01%, 0,025%, 0,05% e 0,1%. Esse ácido é de uso médico. Hidroquinona A hidroquinona é um componente natural encontrado em muitas plantas, incluindo frutas, grãos (entre eles o café), chás, e produtos fermentados, como cerveja e vinho. Sua principal ação é pela inibição da tirosinase, pois impede a conversão da Dopa em melanina. Tem efeito citotóxico, ou seja, tóxico para os melanócitos. As concentrações usuais da hidroquinona empregadas nas formulações são de 2 a 4%, consideradas menos tóxicas. Ela deve ser utilizada em um período não excedente a seis meses. Apresenta grande eficácia na melanose solar, efé- lides e melasma. Também é indicada para hiperpigmentação pós-inflamatória. No Japão, União Europeia e Austrália, o uso e a venda da hidroquinona foram proibidos por diversos casos de ocronose, manchas preto-azuladas que acometem as regiões da face, pescoço e costas. No Brasil, ainda é utilizada para o tratamento agudo de hipercromias. 11Ácidos: peelings químicos Arbutin O arbutin é um β-glicosídeo da hidroquinona presente em várias plantas, sendo uma delas as folhas da uva-ursi (arctostaphylos uva-ursi). Ele que cla- reia e promove tom uniforme em todos os tipos de pele, atuando no bloqueio da biossíntese epidermal da melanina, por inibir a oxidação enzimática da tirosina, a DOPA. Sua concentração não apresenta toxicidade e atua de forma semelhante à hidroquinona, inibindo a enzima tirosinase, mas não causa irritação. Desen- volvido para minimizar os inconvenientes técnicos da hidroquinona, o arbutin possui alta estabilidade, proporcionando o clareamento de forma rápida e eficaz, minimizando manchas já existentes e reduzindo o grau de bronzeamento da pele após exposição UV, de forma mais segura e com mínimos efeitos colaterais e de toxicidade. A concentração indicada é de 1 a 3%, quando usado isoladamente, ou de 0,5 a 1%, em associação com outros agentes despigmentantes. Ácido pirúvico Este peeling tem ação queratolítica, antimicrobiana e propriedades sebostáticas. Tem capacidade de estimular a produção de novo colágeno e a formação de fi bras elásticas. As concentrações normalmente utilizadas em consultório são entre 40 a 50% em água/etanol. As concentrações normalmente utilizadas em home care são de 8%. Pode apresentar intensa queimação e ardência na aplicação, leve escamação de 2 a 3 dias após, eritema e às vezes formação de crostas. Indicado para acne, cicatrizes superficiais, fotodano na pele e alterações pigmentares. Fenol Este peeling produz a coagulação das proteínas da pele. É considerado um agente químico que produz rejuvenescimento facial intenso, quando utilizado corretamente. Clinicamente, o fenol produz efeitos bacteriostáticos em concentrações mínimas de até 1%; acima dessa concentração, possui ação bactericida. A formulação para peeling mais conhecida que utiliza o fenol é a de Baker- -Gordon (1962), em que o fenol é diluído em concentração que varia de 45 a 55%. O fenol diluído na formulação atua como agente queratolítico, rompendo Ácidos: peelings químicos12 as pontes de enxofre da queratina e penetrando mais profundamente, sendo biotransformado pelo fígado e excretado pelos rins. O peeling de fenol é recomendado nos seguintes casos: clareamento da pele, rugas, hiperpigmentação ou pigmentação heterogênea, tratamento da acne, cicatrizes, lentigos actínicos, queratoses solares e seborreicas. O fenol promove um peeling profundo e é de uso exclusivamente médico. Técnica de aplicação Para realizarmos a aplicação do peeling, é necessário seguir alguns cuidados. A higienização da face deve ser realizada de modo a retirar as sujidades, com loção de limpeza e solução desengordurante. Após, é iniciada a aplicação do peeling, que deve seguir uma sequência de aplicação. A aplicação deve iniciar pelas regiões de maior sensibilidade e seguir para as regiões de menor sensibilidade, seguindo esta sequência: 1. Região frontal (testa). 2. Laterais da face (maçãs do rosto e bochechas). 3. Região do queixo. 4. Área superior da boca. 5. Nariz. É necessário deixar um limite em áreas como a comissura labial, o canto dos olhos e a aba do nariz, por serem regiões de grande sensibilidade. Essa técnica é realizada para evitar que o peeling permaneça mais tempo nas regiões mais sensíveis. Dependendo do tipo de peeling, podem ser usados pincéis, torundas, co- tonetes ou mesmo a mão enluvada para a aplicação. Possíveis complicações do peeling: eritema exagerado, edema; acne; 13Ácidos: peelings químicos frost; hiperpigmentação pós-peeling. hiperpigmentação pós-inflamatória. hipopigmentação; dermatite de contato ou alérgica; telangectasias, equimose; eritema persistente, lacrimejamento; cicatrizes; alterações de textura da pele; infecção e irritação. O frost é uma coagulação proteica deaparência branca, causada pela aplicação de peeling químico em peles sensibilizadas, ou quando o ácido utilizado encontra-se em uma concentração alta. Ele acontece quando o ácido penetra mais profundamente na pele, atingindo a junção dermoepidérmica. Quando ocorre, é necessário neutralizar o peeling imediatamente. Aplicabilidade em protocolos diversos Ácido salicílico 30% Técnica de aplicação de ácido salicílico 30%: 1. Limpar a pele. 2. Aplicar a solução com gaze ou cotonete. 3. Deixar agir por 3 a 4 minutos — o álcool evapora e precipita o sal. 4. Remover com água. Usar compressa fria para aliviar o ardor. 5. Aplicar pós-peeling e fotoproteção. Número de sessões: 4 a 6. Intervalo: semanal. Ácidos: peelings químicos14 Com a evaporação do álcool e a precipitação do sal, forma-se uma camada esbran- quiçada sobre a pele. Não se preocupe, isso não é frost! É apenas um depósito de pó fino, efeito normal do processo. Gluconolactona 20% Técnica de aplicação de gluconolactona 20%: 1. Limpar e desengordurar a pele. 2. Tonificar a pele. 3. Aplicar o peeling com pincel. 4. Pode-se usar com iontoforese. 5. Remover com água. 6. Aplicar pomada, pós-peeling e fotoproteção. Número de sessões: 4 a 6. Intervalo: semanal. Ácido lático 90% Técnica de aplicação de ácido lático 90%: 1. Limpar e desengordurar a pele. 2. Aplicar a solução com aplicadores de algodão, compressa de gaze ou pincel. 3. O tempo da aplicação pode variar entre alguns segundos e de 1 a 3 minutos, dependendo das características individuais do paciente. Re- avaliar para reaplicação, que pode ser feita várias vezes. 4. Remover completamente com água. 5. Aplicar pomada, pós-peeling imediato e fotoproteção. Número de sessões: 4 a 6. Intervalo: 15 dias. 15Ácidos: peelings químicos Ácido glicólico 50% e ácido kójico 10% Técnica de aplicação de ácido glicólico 50% e ácido kójico 10%: 1. Limpar a pele com sabonete do mesmo ácido. 2. Aplicar rápida e uniformemente com pincel ou torunda (1 a 3, 3 a 5 min, aumentando com as sessões). 3. Manter o tempo, sempre observando o eritema e a queixa de quei- mação pelo paciente — apresenta frost, que deve ser imediatamente neutralizado. 4. Neutralizar com água. 5. Aplicar pós-peeling e fotoproteção. 6. pH 2,5. Número de sessões: 4 a 6. Intervalo: 15 dias. Indicação: clareador e rejuvenescimento. Soluções químicas são cuidadosamente aplicadas na pele para melhorar a textura, removendo camadas exteriores danificadas. São diversos os produtos químicos usados, e cada um tem uma finalidade diferente. Dessa maneira, o profissional deverá estar habilitado para determinar qual o tipo de peeling será aplicado, de acordo com o tipo de pele e as necessidades específicas do cliente. 1. Sobre os principais objetivos da aplicação do peeling químico, assinale a alternativa correta. a) Estimula o crescimento epidérmico mediante a remoção do estrato córneo, o que chamamos de turn over ou renovação celular. b) Transforma o sebo da pele em sabão por um processo eletroquímico denominado saponificação. c) Auxilia na produção de colágeno, sem que provoque a desepitelização da pele. d) O calor ocasionado alcança os tecidos mais profundos, provocando a contração das fibras Ácidos: peelings químicos16 colágenas e proporcionando um efeito “lifting”. e) Ameniza as linhas de expressão (rugas) decorrentes da contração muscular, através da paralização dos músculos faciais. 2. Os peelings são classificados em grupos de acordo com o nível de profundidade da necrose tecidual provocada pelo agente esfoliante. A respeito disso, assinale a alternativa correta. a) São 5 os graus de profundidade dos peelings químicos, segundo a ANVISA. b) O peeling profundo atinge a derme reticular. c) O peeling médio atinge até a camada basal da pele. d) O peeling superficial atinge até a camada da derme papilar. e) O pH, concentração e peso molecular dos ácidos não interferem na profundidade da penetração dos ácidos. 3. Paciente do sexo feminino, 22 anos, com pele lipídica com acne ativa e cicatrizes faciais do tipo deprimidas, distensíveis e superficiais, sem tratamento estético dermatológico anterior. Qual o tipo de peeling mais indicado para esse caso? a) Ácido mandélico. b) Ácido lático. c) Ácido lactobiônico. d) Gluconolactona. e) Ácido salicílico. 4. Assinale a alternativa que corresponde ao composto obtido pela oxidação da glicose do milho, que possui ação hidratante e antioxidante, sendo tolerado em peles sensíveis, inclusive em áreas ao redor dos lábios e dos olhos. a) Gluconolactona. b) Ácido azelaico. c) Ácido tranexâmico. d) Arbutin. e) Ácido salicílico. 5. Imagine uma cliente de 50 anos, do sexo feminino, cozinheira, fototipo V segundo Fitzpatrick, com melasma epidérmico nas laterais da face bilateralmente e região frontal. Qual o melhor despigmentante que ela poderia utilizar em casa? a) Ácido salicílico. b) Ácido kójico. c) Ácido mandélico. d) Ácido tioglicólico. e) Ácido glicólico. 17Ácidos: peelings químicos SUZUKI, H. S. et al. Comparação do fototipo entre caucasianos e orientais. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 3, n. 3, p. 193-196, 2011. Leituras recomendadas BORGES, F. S. Dermato funcinal: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2010. MAIO, M. Tratado de medicina estética. São Paulo: Roca, 2011. 3 v. PIMENTEL, A. S. Peeling, máscara e acne: seus tipos e passo a passo do tratamento estético. São Paulo: Livraria Médica Paulista, 2008. PINTO, B. de S.; ROSA, S. F. da; SILVA, D. da. Peelings químicos faciais utilizados em protocolos estéticos. [2011]. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/bruna%20pinto,%20 samanta%20da%20rosa.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2018. SOUZA, T. de J. F. et al. Proposta de melhoria do processo de uma fábrica de polpas por meio da metodologia de análise e solução de problemas. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 35., 2015, Fortaleza. Anais... Fortaleza: [s.n.], 2015. Referência Ácidos: peelings químicos18 http://siaibib01.univali.br/pdf/bruna%20pinto Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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