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Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. APG 03 – “O CRIME NÃO COMPENSA” Abertura: 12/02/2021 Devolutiva: 16/02/2021. Objetivos: 1. COMPREENDER OS EXAMES LABORATORIAIS E DE IMAGENS DA HAS; 2. CONHECER OS MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTI HIPERTENSIVOS CLASSIFICAÇÃO: Os limites de PA considerados normais são arbitrários. São considerados hipertensos os indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg. Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico de HA deverá ser sempre validado por medições repetidas, em condições ideais, em duas ou mais visitas médicas em intervalo de dias ou semanas; ou de maneira mais assertiva, realizando - se o diagnóstico com medidas fora do consultório (MAPA ou MRPA), excetuando-se aqueles pacientes que já apresentem LOA ou doença CV. Define-se a classificação de acordo com a PA do consultório e pelo nível mais elevado de PA, sistólica ou diastólica. Indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg são definidos como portadores de HA sistólica isolada, enquanto a presença de níveis de PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg caracteriza a HA diastólica isolada. Tanto a HA sistólica isolada quanto a HA diastólica isolada apresentam maior prevalência de HA do avental branco (HAB) Com relação à diretriz brasileira anterior, a PA normal passa a ser denominada PA ótima e a pré-hipertensão, a ser dividida em PA normal e pré-hipertensão. Os indivíduos com PAS entre 130 e 139 e PAD entre 85 e 89 mmHg passam a ser considerados pré-hipertensos, POIS ESTA POPULAÇÃO APRESENTA CONSISTENTEMENTE MAIOR RISCO DE DOENÇA CV, DOENÇA ARTERIAL CORONÁRIA E ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO DO QUE A POPULAÇÃO COM NÍVEIS ENTRE 120 E 129 OU 80 E 84 MMHG. Há também maior risco de ser portadores de HA mascarada (HM). Consequentemente, indivíduos pré-hipertensos devem ser monitorados mais de perto. INTRODUÇÃO: A avaliação inicial de um paciente com hipertensão arterial (HA) inclui a confirmação do diagnóstico, a suspeita e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco cardiovascular (CV). As LESÕES DE ÓRGÃO-ALVO (LOA) e as doenças associadas também devem ser investigadas. FAZEM PARTE DESSA AVALIAÇÃO: A MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL (PA) NO CONSULTÓRIO E/OU FORA DELE, UTILIZANDO-SE TÉCNICA ADEQUADA E EQUIPAMENTOS VALIDADOS E CALIBRADOS, A OBTENÇÃO DE HISTÓRIA MÉDICA (PESSOAL E FAMILIAR), A REALIZAÇÃO DE EXAME FÍSICO E A INVESTIGAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL. Propõem-se avaliações gerais a todos os hipertensos e avaliações complementares apenas para grupos específicos. CLASSIFICAÇÃO (inclui fora e dentro do consultório): A PA deve ser medida em toda avaliação por médicos, de qualquer especialidade, e por todos os profissionais da saúde devidamente capacitados. Exclusivamente aos médicos cabem o diagnóstico de HA e seus fenótipos, assim como a conduta relacionada a tais diagnósticos. Os esfigmomanômetros auscultatórios ou oscilométricos são os métodos preferidos para medir a PA. Esses dispositivos devem ser validados de acordo com as condições e os protocolos padronizados, e sua calibração deve ser verificada anualmente, no caso dos oscilométricos, e a cada seis meses no caso dos auscultatórios ou de acordo com as orientações do Inmetro/Ipem. ✓ A PA DEVE SER INICIALMENTE MEDIDA NOS DOIS BRAÇOS E IDEALMENTE ESTABELECIDA POR MEDIÇÃO SIMULTÂNEA. CASO OCORRA UMA DIFERENÇA > 15 MMHG DA PAS ENTRE OS BRAÇOS, HÁ O AUMENTO DO RISCO DE DOENÇA CV, O QUAL PODE ESTAR RELACIONADO COM A DOENÇA VASCULAR ATEROMATOSA. ✓ Todas as medidas subsequentes devem ser realizadas no braço com valores mais elevados da PA. ✓ Na suspeita de HA secundária à coartação da aorta, a medida deverá ser realizada também nos membros inferiores, utilizando-se manguitos apropriados para a circunferência do braço ou da coxa. ✓ Em idosos, diabéticos, disautonômicos ou naqueles em uso de anti-hipertensivos, a PA também deve ser medida 1 minuto e 3 minutos após estar em pé (imóvel). Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ A hipotensão ortostática é definida como uma redução na PAS ≥ 20 mmHg ou na PAD ≥ 10 mmHg dentro do 3o minuto em pé e está associada a um risco aumentado de mortalidade e eventos cardiovasculares. Enfatiza-se que a medida inadequada da PA pode levar a classificação imprecisa, superestimação ou subestimação da verdadeira PA do paciente e, consequentemente, tratamento desnecessário ou até mesmo ausência de tratamento em hipertensos mal avaliados. ✓ Diante da simplicidade da medida realizada pela técnica oscilométrica, a utilização de dispositivo oscilométrico de braço pode ser preferível ao auscultatório, quando as duas técnicas estiverem disponíveis. As diferenças para a realização da medida da PA entre as duas técnicas. NO ESTUDO SYSTOLIC BLOOD PRESSURE INTERVENTION TRIAL (SPRINT), UTILIZOU-SE UMA NOVA MODALIDADE DE MEDIDA DA PA NO CONSULTÓRIO SEM A PRESENÇA DO PROFISSIONAL DE SAÚDE, DENOMINADA MEDIDA DESACOMPANHADA DA PA NO CONSULTÓRIO (MDPAC). Nessa modalidade, o paciente, depois de devidamente treinado, realiza sua própria medida em sala reservada para essa finalidade. Os participantes do SPRINT seguiram um protocolo no qual aguardavam em uma sala silenciosa por cinco minutos; em seguida, um aparelho automático realizava a medida a PA por três vezes, com intervalos de um minuto, registrando os valores obtidos. A MDPAC melhora a reprodutibilidade da medida da PA, e o efeito do avental branco pode ser substancialmente reduzido ou mesmo eliminado. NA MDPAC, OS VALORES OBTIDOS SÃO SEMELHANTES OU MESMO INFERIORES AOS OBTIDOS PELA MEDIDA AMBULATORIAL DA PA (MAPA) NA VIGÍLIA OU PELA MEDIDA RESIDENCIAL DA PA (MRPA). Contudo, mostra-se fundamental lembrar que a medida convencional da PA no consultório é a base de todos os dados epidemiológicos e clínicos disponíveis atualmente. Nos indivíduos obesos, o uso de um manguito com tamanho e forma ideais em relação ao braço do paciente é de importância primordial. A escolha do manguito apropriado depende não apenas da circunferência do braço, mas também de sua forma. Manguitos mais longos e largos são necessários nesses pacientes para não haver superestimação da PA. A abordagem do antebraço deve ser considerada válida e pode ser usada em contextos clínicos para medir a PA, quando a medição do braço for desafiadora na obesidade grave (circunferência superior a 50 cm, em que não há manguito disponível). Assim, o pulso auscultado deve ser o radial, embora haja restrições a tal prática. Ocorre uma especial dificuldade em braços largos e curtos, em forma de cone, nos quais manguitos de grandes dimensões não se adaptam. Nesses casos, o uso de monitores de pulso validados também pode ser considerado. MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL FORA DO CONSULTÓRIO: A PA fora do consultório pode ser obtida através da MAPA ou da MRPA, respeitando-se suas indicações e limitações. As medidas da PA fora do consultório devem ser estimuladas Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. A MAPA E A MRPA NÃO DEVEM SER CONFUNDIDAS COM A AUTOMEDIDA DA PA (AMPA), REALIZADA COM EQUIPAMENTO AUTOMÁTICO DO PRÓPRIO PACIENTE, QUE NÃO OBEDECE A NENHUM PROTOCOLO PREESTABELECIDO. As medidas são realizadas aleatoriamente e feitas por decisão do próprio paciente ou até a pedido médico. A pandemia provocada pela covid-19acelerou o processo de telemedicina (teleconsulta, teleorientação e telemonitoramento), que acreditamos ser irreversível. No momento presente, o SUS já realiza teleorientação sobre a covid-19, e algumas operadoras de saúde suplementar já a adotaram. Nesse cenário, a AMPA surge como uma possibilidade para contribuir no diagnóstico, no acompanhamento e no tratamento dos hipertensos. Para isso, sugere-se a utilização de equipamentos oscilométricos de boa qualidade, ou seja, validados e preferencialmente de braço. Caso seja utilizado o de punho, o que deve ser desestimulado, preferem-se aqueles validados, com sensor de altura e movimento. Sugere-se um número mínimo de sete medidas realizadas no período de 16 a 72 horas. Até o momento, sugerem-se valores de normalidade iguais aos da MRPA, embora estudos específicos ainda precisam ser realizados para comparar os valores de PA obtidos pelas diferentes técnicas. Quando comparados com os valores da PA no consultório, os valores da MRPA são geralmente mais baixos, e o limiar de diagnóstico para HA é ≥ 130/80 mmHg (equivalente à PA no consultório ≥ 140/90 mmHg). A MRPA fornece valores de PA mais reprodutíveis e está mais fortemente relacionada com a LOA, particularmente à hipertrofia ventricular esquerda, e a predição de morbimortalidade CV do que a PA do consultório. Há também evidências de que a MRPA pode ter um efeito benéfico na adesão à medicação e no controle da PA, especialmente quando combinada com orientação e aconselhamento. O telemonitoramento e os aplicativos de smartphone podem oferecer vantagens adicionais à MRPA, como auxílio à memória das medidas da PA e uma maneira conveniente de armazenar e editar os dados da PA em laudo digital. A MAPA é melhor preditor de risco CV e de LOA do que a PA do consultório. Além disso, a média ambulatorial da PA de 24 horas demonstrou ter uma melhor relação com eventos não fatais ou fatais, como eventos coronários fatais e não fatais e acidente vascular encefálico. EFEITO DO AVENTAL BRANCO (EAB) E EFEITO DE MASCARAMENTO (EM): A diferença da PA entre as medidas obtidas no consultório e fora dele é denominada EAB ou EM, quando seus valores são, respectivamente, positivos ou negativos. ✓ Com base em estudos de MRPA, diferenças iguais ou superiores a 15 mmHg na PAS e/ou 9 mmHg na PAD indicam EAB significativa, enquanto diferenças iguais ou inferiores a -1 mmHg na PAS e/ou PAD indicam EM significativa. ✓ ESSAS SITUAÇÕES NÃO MUDAM O DIAGNÓSTICO, OU SEJA, SE O INDIVÍDUO É NORMOTENSO, PERMANECERÁ NORMOTENSO; E, SE É HIPERTENSO, CONTINUARÁ SENDO HIPERTENSO. ✓ Contudo, talvez seja útil para identificar indivíduos com risco de ter diferenças relevantes na PA dentro e fora do consultório, o que pode contribuir para um melhor manejo terapêutico. HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO (HAB) E HIPERTENSÃO MASCARADA (HM): No diagnóstico da HA, são possíveis vários fenótipos. ✓ DEFINE-SE A NORMOTENSÃO VERDADEIRA (NV) COMO AS MEDIDAS DA PA NO CONSULTÓRIO E FORA DO CONSULTÓRIO NORMAIS, A HA SUSTENTADA (HS) QUANDO AMBAS SÃO ANORMAIS, A HAB QUANDO A PA É ELEVADA NO CONSULTÓRIO, MAS É NORMAL FORA DELE, E HM QUANDO A PA É NORMAL NO CONSULTÓRIO, MAS É ELEVADA FORA DELE. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ Embora a prevalência varie entre os estudos, a HAB pode ser detectada em cerca de 15 a 19% dos indivíduos no consultório, alcançando 30 a 40% naqueles com PA elevada no consultório. É mais comum nos pacientes com HA estágio 1. ✓ A presença de LOA e o risco de eventos CV associados à HAB são menores do que na HS. No entanto, em comparação com a NV, a HAB está associada a maior atividade adrenérgica, maior prevalência de fatores de risco metabólicos, LOA mais frequente e maior risco para desenvolver diabetes melito e progressão para HS e hipertrofia ventricular esquerda. Na HAB, os valores da PA fora do consultório tendem a ser mais altos do que na NV, o que pode explicar o aumento do risco a longo prazo de eventos CV. Assim como a HAB, a prevalência de HM pode variar bastante entre as populações. Contudo, de maneira geral, a HM pode ser detectada em cerca de 7 a 8% dos indivíduos no consultório, podendo atingir aproximadamente 15% dos pacientes normotensos. ✓ Vários fatores podem elevar a PA fora do consultório com relação à PA do consultório, como idade avançada, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, HA induzida pelo exercício, ansiedade, estresse, obesidade, diabetes melito, doença renal crônica e história familiar de HA. ✓ A HM está associada à dislipidemia, à disglicemia, à LOA, à pré-hipertensão e à atividade adrenérgica e aumenta o risco de desenvolver diabetes melito e HS. ✓ Metanálises de estudos prospectivos indicam que a incidência de eventos CV é cerca de duas vezes maior na HM do que na NV, sendo comparável à da HÁ. HIPERTENSÃO MASCARADA NÃO CONTROLADA E HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO NÃO CONTROLADA: Os termos HAB e HM foram originalmente definidos para pessoas que não estavam sendo tratadas para HA. Entretanto, em pacientes em uso de medicações anti-hipertensivas também pode haver comportamentos discrepantes da PA dentro e fora do consultório. Nesse contexto, utilizam-se as seguintes nomenclaturas para os pacientes tratados com anti- hipertensivos: ✓ HA mascarada não controlada, quando a PA está controlada no consultório, mas elevada fora dele; ✓ HA do avental branco não controlada quando a PA está elevada no consultório, mas normal fora dele; ✓ HA sustentada não controlada, quando a PA no consultório e a fora dele estão elevadas; e ✓ HA controlada, quando a PA está normal no consultório e fora dele. RECOMENDAÇÕES PARA DIAGNÓSTICO E SEGUIMENTO: A HA é uma condição habitualmente assintomática. Por isso, deve ser avaliada em todo atendimento médico e em programas estruturados de triagem populacional. Nestes últimos, mais de 50% dos portadores de HA não sabiam que tinham a doença. As medidas da PA devem ser realizadas em intervalos regulares, com a frequência conforme a classificação de PA. Pessoas saudáveis com uma PA ótima no consultório (< 120/80 mmHg) ou com PA normal (120-129/80-84 mmHg) devem ter a PA medida novamente pelo menos anualmente e nas consultas médicas. Pacientes com pré-hipertensão (130-139/85-89 mmHg) devem ter a PA medida anualmente ou, preferencialmente antes, devido às altas taxas de progressão para HA. Além disso, nos casos suspeitos de HM, a MAPA ou a MRPA devem ser realizadas para detectar tal fenótipo. Como a PA pode ter alta variabilidade, o diagnóstico de HA não deve se basear exclusivamente na medida da PA em apenas uma consulta médica, a menos que esteja substancialmente elevada (HA estágio 3) ou haja diagnóstico estabelecido de LOA ou de doença CV. Para os demais pacientes, as medidas repetidas da PA em visitas subsequentes no consultório devem ser utilizadas para confirmar uma elevação persistente, bem como para classificar o estágio da HA. Quanto maior o estágio da HA, maior deverá ser o número de visitas e menor o intervalo de tempo entre elas. Assim, pacientes em estágio 2 ou 3 poderão requerer mais visitas com intervalos de tempo mais curtos entre as visitas (dias ou semanas), enquanto aqueles com estágio 1 poderão requerer visitas após alguns meses, especialmente quando não há LOA e o risco CV é baixo. A diretriz recomenda o uso de medidas de PA fora do consultório como uma estratégia alternativa às avaliações repetidas da PA dentro dele para confirma o diagnóstico de HA, desde que sejam logística e economicamente viáveis. Tal abordagem pode também gerar informaçõesclínicas complementares relevantes, como a detecção de HAB e HM. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. O teste ergométrico não é recomendado para a avaliação diagnóstica da HA, devido a várias limitações, inclusive a falta de padronização da metodologia e das definições. Atualmente, não há consenso sobre a resposta normal da PA durante o exercício. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. AVALIAÇÃO CLÍNICA E COMPLEMENTAR: HISTÓRIA CLÍNICA: A avaliação clínica do paciente hipertenso deve ser feita seguindo-se o método tradicional, constituído por anamnese, exame físico e laboratorial. O seguimento de todas as etapas permitirá o diagnóstico correto da hipertensão arterial (HA) e estratificar o risco cardiovascular e renal, contribuindo para estabelecer a estratégia terapêutica mais adequada. AVALIAÇÃO CLÍNICA: ANAMNESE: Deve ser realizada anamnese, com história clínica completa, perguntas obrigatórias sobre o tempo de diagnóstico e tratamentos anti-hipertensivos instituídos previamente (medicamentos e doses). Além disso, convém apurar os sintomas que indiquem a evolução da doença hipertensiva, especialmente a presença de lesão de órgãos-alvo (LOA). São importantes os antecedentes pessoais e a construção de uma linha de tempo que permita melhor compreensão do quadro clínico. A história familiar também deve ser obtida para corroborar o diagnóstico de HA primária(GR: I; NE: B). Durante a consulta, deve ser questionada, entre outros, a existência de: fatores de risco específicos para doença cardiovascular (DCV) e renal, comorbidades e aspectos biopsicossociais, culturais e socioeconômicos. É fundamental avaliar o uso de outros medicamentos, fármacos e drogas lícitas e ilícitas, que não anti-hipertensivos, que possam interferir na PA, bem como pesquisar indícios na história clínica que sugiram causas secundárias de HÁ. EXAME FÍSICO: Um exame físico minucioso deve ser realizado, com medida correta e repetida da PA e da frequência cardíaca (FC), além de se procurar sinais de LOA e de achados que possam sugerir causas secundárias de HA. Os dados antropométricos, peso e altura, assim como o cálculo do índice de massa corporal (IMC) e da circunferência abdominal (CA), têm seus valores de normalidade definidos pela World Obesity Federation. A avaliação deve contemplar palpação e ausculta cardíaca e de carótidas, além de verificação dos pulsos. A medida do índice tornozelo braquial (ITB) também é incentivada, assim como a fundoscopia. Realiza-se o cálculo do ITB por meio da razão entre a pressão arterial sistólica (PAS) do braço e a do tornozelo, tanto esquerdo quanto direito. A relação PAS braço/PAS tornozelo normal é acima de 0,90. A obstrução leve caracteriza-se por ITB entre 0,71-0,90; moderada 0,41-0,70; e grave 0,00-0,40 (GR: IIa, NE: B). É ferramenta importante tanto para o diagnóstico de doença arterial obstrutiva periférica quanto para o prognóstico de eventos cardiovasculares Em alguns casos, pode ser indicada a medida da pressão arterial sistólica central (PASc) com o intuito de detectar a hipertensão sistólica isolada no jovem (hipertensão espúria no jovem), pois, diferentemente da medida na artéria braquial, a PASc não se encontra elevada (GR: IIa, NE: B). Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL BÁSICA, AVALIAÇÃO DE LESÕES CLÍNICAS SUBCLÍNICAS EM ÓRGÃOS-ALVO: A avaliação complementar tem como objetivo detectar lesões clínicas ou subclínicas em órgãos-alvo, no sentido de melhor estratificar o risco cardiovascular (CV). Para a estratificação do risco CV global, deverão ser levados em conta, além dos fatores de risco clássicos, os novos fatores de risco que vêm sendo identificados, embora nem todos ainda não tenham sido incorporados em escores clínicos. Nesta investigação, DESTACAM-SE ALTERAÇÕES DA GLICEMIA OU DA HEMOGLOBINA GLICADA, A OBESIDADE ABDOMINAL (SÍNDROME METABÓLICA), A PRESSÃO DE PULSO > 65 MMHG EM IDOSOS, A HISTÓRIA DE PRÉ-ECLÂMPSIA/ECLÂMPSIA E A HISTÓRIA FAMILIAR DE HA (EM HIPERTENSOS LIMÍTROFES) A alteração da velocidade de onda de pulso (VOP), quando disponível, é um exame que denota LOA, podendo reclassificar os pacientes de risco CV intermediário para risco elevado (GR: IIa, NE: A) A AVALIAÇÃO LABORATORIAL BÁSICA DEVE FAZER PARTE DA ROTINA INICIAL DE TODO PACIENTE HIPERTENSO. B) São recomendadas: DOSAGEM SÉRICA DE POTÁSSIO, ÁCIDO ÚRICO, CREATININA, GLICEMIA E PERFIL LIPÍDICO; E REALIZAÇÃO DE UM EXAME SUMÁRIO DE URINA E DE ELETROCARDIOGRAMA, PARA POSSÍVEL DETECÇÃO DE HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA. Para a avaliação da função renal, devemos obter o ritmo de filtração glomerular estimado calculado pelas fórmulas do Modification of Diet in Renal Diseases (MDRD) ou, preferencialmente, pelo Chronic Kidney Diseases Epidemiology Collaboration (CKD-EPI), que podem ser obtidas no site http://mdrd.com/. Tem ritmo de filtração glomerular estimado (RFG-e) com a interpretação dos valores para a classificação em estágios (E1 a E5) e o prognóstico da doença renal crônica, levando-se em conta a categoria de albuminúria, de acordo com o Kidney Diseases Improving Global Outcomes (KDIGO). As cores expressam o prognóstico renal e a conduta. ✓ O VERDE indica bom prognóstico e baixo risco; ✓ O AMARELO, risco intermediário, devendo-se monitorizar o paciente; ✓ O LARANJA, alto risco, mau prognóstico, com obrigatoriedade de referenciar para o especialista; e ✓ O VERMELHO, risco muito alto, mau prognóstico e obrigatoriedade de referenciar para o especialista. ➔ COM RELAÇÃO À AVALIAÇÃO RENAL: ✓ Recomenda-se que o laboratório de análises clínicas disponibilize o resultado do exame de dosagem de creatinina acompanhado do resultado do RFG-e (GR: I, NE: B); ✓ Não recomendamos a dosagem de clearance de creatinina (urina de 24h), exceto para alteração http://mdrd.com/ Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. significativa da massa muscular (amputação), superfície corporal de extremos e instabilidade clínica ; ✓ Recomenda-se que se investigue a proteinúria/albuminúria utilizando- se pela ordem de importância: razão albuminúria/ creatininúria (RAC), razão proteinúria/creatininúria (RPC); ✓ urinálise por fita de proteinúria total com leitura automática e urinálise por fita de proteinúria total com leitura manual. Recomenda-se que os laboratórios clínicos relatem RAC e RPC de qualquer amostra de urina e não apenas suas concentrações . EXAMES LABORATORIAIS: A avaliação laboratorial básica deverá contemplar os exames definidos na Tabela 5, segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Segundo a Diretriz Europeia de Hipertensão, os exames recomendados para a avaliação do paciente com HAS são os apresentados na Tabela 6, sendo divididos em testes de rotina, testes adicionais baseados no histórico clínico, exame físico e exames de rotina e avaliação especializada, em geral de competência do especialista em hipertensão arterial sistêmica. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya EducacionalSistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Essa mesma diretriz europeia considera a aplicação de exames segundo o valor preditivo, a disponibilidade e a reprodutibilidade e a relação custo/ eficácia. Esses parâmetros deverão ser considerados antes da decisão de solicitar exames nas avaliações dos pacientes com HAS. OUTROS ASPECTOS FUNDAMENTAIS PARA O CONHECIMENTO APROPRIADO DOS PACIENTES COM HAS SÃO RELACIONADOS À IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE RISCO CONCOMITANTES. ➢ A maior parte dos pacientes com HAS apresenta, além da doença, outros fatores de risco associados, sendo por isso indispensável identificá-los por meio do histórico clínico e dos exames subsidiários. ➢ Outras avaliações laboratoriais recomendadas e de utilidade são representadas por exames que possibilitam a identificação de lesões subclínicas em órgãos-alvo. Pode-se com isso ampliar a avaliação dos pacientes com HAS, refinando o conhecimento sobre eles. A Tabela 9 exibe as avaliações que poderão ser feitas com esse objetivo, devendo-se considerar o que está explicitado na Tabela 7. A análise judiciosa dessas avaliações tornará as utilizações desses exames mais apropriadas. APÓS A AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL, A IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE RISCO ASSOCIADOS E DOENÇAS PRESENTES É NECESSÁRIA PARA A OBTENÇÃO DA ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO E A QUALIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE HAS. Dessa forma, devemos acrescentar às avaliações já realizadas informações como: ➢ IDADE (HOMENS COM MAIS DE 55 ANOS E MULHERES COM 65 ANOS OU MAIS); ➢ TABAGISMO; ➢ DISLIPIDEMIAS; ➢ DIABETE MELITO E ➢ HISTÓRICO DE DOENÇA CARDIOVASCULAR PRECOCE. Igualmente, as condições clínicas associadas deverão fazer parte da avaliação complementar. Com esse conjunto de dados e informações, deveremos, então, fazer a estratificação do risco cardiovascular. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. OBJETIVO 02: O PRINCIPAL OBJETIVO DO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL É A DIMINUIÇÃO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE CARDIOVASCULARES PELO CONTROLE ADEQUADO DA PRESSÃO ARTERIAL. Para atingi-lo, vários fatores devem ser considerados, pois a hipertensão é uma doença crônica de etiologia multifatorial. Assim, o tratamento deve incluir, entre outras ações, a participação do paciente na compreensão da importância do tratamento de uma doença essencialmente assintomática e também ser integrado com a adoção de hábitos de vida saudáveis e medicamentos apropriados. DE MANEIRA GERAL, O TRATAMENTO ATUAL DA HIPERTENSÃO ARTERIAL DEVE SER INDIVIDUALIZADO, CONSIDERANDO-SE AS CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS A ELA, OS ASPECTOS SOCIODEMOGRÁFICOS E AS EVIDÊNCIAS DE BENEFÍCIOS COM DETERMINADA CLASSE FARMACOLÓGICA PARA AQUELE TIPO DE PACIENTE. No futuro, espera -se que a utilização da genética e da farmacogenética possa tornar o tratamento muito mais individualizado e direcionado na medida em que avalia e prediz as respostas às dietas apropriadas, à atividade física regular e aos efeitos dos medicamentos anti-hipertensivos. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: O tratamento farmacológico da hipertensão arterial se iniciou no início do século passado, com medicações que atuavam no sistema nervoso central que eram eficazes em pacientes com hipertensão grave, mas traziam efeitos colaterais muito indesejáveis. Com o passar dos anos, e o melhor entendimento da fisiopatologia da doença, novas medicações foram surgindo, e os benefícios do tratamento foram sendo evidenciados a partir de estudos clínicos prospectivos randomizados em diferentes populações. As diretrizes internacionais recentes de hipertensão orientam o tratamento medicamentoso considerando, sobretudo, os resultados dos desfechos cardiovasculares e de mortalidade observados nos principais estudos que avaliaram os principais fármacos usados para o tratamento anti-hipertensivo na prática clínica. Os ensaios clínicos com desfechos cardiovasculares relevantes têm demonstrado redução de morbidade e mortalidade com todas as principais classes farmacológicas anti-hipertensivas, incluindo diuréticos, inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA), bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II (BRA), betabloqueadores e antagonistas dos canais de cálcio (ACC). As DIRETRIZES EUROPEIAS atuais recomendam essas classes como as mais adequadas para o início e também para o acompanhamento do tratamento da hipertensão arterial, tanto em monoterapia ou quando necessário em combinações, enquanto as RECOMENDAÇÕES AMERICANAS E INGLESAS incluem as mesmas classes como primeira escolha, exceto os betabloqueadores. Os benefícios do tratamento estão relacionados a cada classe individualmente, mas devemos destacar que na maior parte dos estudos foi necessária a associação de anti-hipertensivos para se atingir as metas de redução da pressão arterial preconizadas. Com base nessas evidências, todas as recomendações recentes para o tratamento anti-hipertensivo indicam a introdução precoce da associação de duas classes farmacológicas quando o paciente apresentar pressão arterial superior a 160/100 mmHg. Todos os ensaios clínicos realizados até hoje mostraram que a diminuição dos eventos cardiovasculares associada ao controle da pressão arterial tem relação direta com a redução da pressão arterial persistente, e parece ser independente da classe farmacológica do medicamento utilizado. ➢ Redução de risco cardiovascular semelhante é observada também em subpopulações de hipertensos, como idosos, diabéticos e portadores de insuficiência renal. ➢ Em pacientes idosos, diminuir a pressão arterial leva a uma significativa redução de eventos cardiovasculares, independentemente da classe medicamentosa, e as evidências mais contundentes indicam que a meta de tratamento não deve ser tão agressiva, podendo ter toleráveis níveis de até 150 mmHg para a pressão sistólica, mas que podem atingir valores inferiores a 140 mmHg se o paciente não tiver efeitos adversos associados. ➢ Nos pacientes que apresentam DISFUNÇÃO RENAL moderada a significativa, a redução da pressão arterial é uma das mais importantes estratégias, pois visa evitar a ocorrência de eventos cardiovasculares, sem aparente superioridade de uma classe farmacológica sobre a outra. PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: AO SE INICIAR O USO DE UM MEDICAMENTO PARA OBTER O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL, É FUNDAMENTAL A EXISTÊNCIA DE UMA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE BEM CONSTITUÍDA PARA QUE O PACIENTE POSSA COMPREENDER DE MANEIRA ADEQUADA QUE O USO CORRETO DA MEDICAÇÃO É MUITO IMPORTANTE PARA O SUCESSO DO TRATAMENTO, QUE, NA MAIORIA DAS VEZES, É PARA SEMPRE. Também é muito importante explicar ao paciente de que forma a diminuição da pressão arterial vai ocorrer, o que é esperado conseguir com o tratamento além de reduzir a pressão, a possibilidade de haver mudanças na medicação inicialmente prescrita e o tempo que será necessário para que o efeito Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. desejado dos medicamentos seja alcançado, além dos efeitos colaterais que podem surgir. Todas essas explicações são imprescindíveis para o melhor controle da pressão arterial e consequentemente para a prevenção de suas complicações, poisisso contribui para a adesão ao tratamento. A escolha do medicamento para o tratamento anti-hipertensivo deve considerar as principais características do fármaco que devem se aproximar ao máximo das descritas na Tabela 1, de acordo com as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Apesar de não existir medicação anti-hipertensiva que apresente todas essas características, é fundamental escolher o medicamento que tenha as melhores características para o paciente que irá recebê-la. De acordo com as últimas diretrizes brasileiras, qualquer uma das principais classes de anti-hipertensivos mostradas na Tabela 2 e comercialmente disponível no Brasil, pode ser escolhida para o tratamento da hipertensão arterial, desde que as indicações e contraindicações específicas e o perfil clínico individual dos pacientes sejam considerados. Os principais fármacos utilizados para o tratamento da hipertensão arterial, as respectivas doses baseadas no uso delas nos ensaios clínicos mais relevantes sobre o impacto na redução da pressão arterial e da morbidade e mortalidade cardiovascular, estão relacionados na Tabela 3 DIURÉTICOS: Os diuréticos reduzem a pressão arterial por mecanismos que incluem inicialmente um AUMENTO DA EXCREÇÃO RENAL DE SÓDIO E ÁGUA, com consequente diminuição do volume extracelular, e, após cerca de 4 a 6 semanas, o volume sanguíneo praticamente se normaliza e há vaso dilatação por diminuição da resistência vascular periférica em razão de um Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. mecanismo ainda não reconhecido. Em estudos experimentais prévios, demonstrou-se redução de cálcio intracelular e do tônus vascular induzidos por diuréticos tiazídicos, levando à vasodilatação. Os diuréticos têm comprovado efeito anti-hipertensivo e nos ensaios clínicos mais importantes têm demonstrado relevante capacidade para reduzir morbidade e mortalidade cardiovasculares. Para a escolha do tratamento anti-hipertensivo, deve-se dar preferência ao uso dos diuréticos TIAZÍDICOS E SIMILARES, em doses de 12,5 a 50 mg, conforme a medicação. O efeito anti-hipertensivo pode diferir entre os tiazídicos conforme a dose utilizada, sobretudo entre a CLORTALIDONA E A HIDROCLOROTIAZIDA. ➢ A redução da pressão arterial observada com 25 mg de clortalidona equivale à mesma redução observada com 50 mg de hidroclorotiazida. Portanto, dá-se preferência ao uso de clortalidona , especialmente em pacientes que apresentam sinais de hipervolemia associados a um excesso da ingestão de sódio. Os DIURÉTICOS DE ALÇA, como a FUROSEMIDA E A BUMETAMIDA, são indicados no tratamento da hipertensão arterial na presença de insuficiência renal com taxa de filtração glomerular abaixo de 30 mL/ min/1,73 m2 ou de insuficiência cardíaca congestiva com retenção de sódio e água. Em pacientes com maior gravidade de hipervolemia (insuficiências cardíaca e renal avançadas ou em associação), os diuréticos de alça podem ser indicados em associação com os TIAZÍDICOS, tanto para controle do edema quanto para redução dos sintomas de congestão pulmonar, além do melhor controle da pressão arterial, devendo-se ter cautela quanto ao maior risco de eventos adversos. Os diuréticos que têm ação no túbulo distal, conhecidos como POUPADORES DE POTÁSSIO, como a ESPIRONOLACTONA E O EPLERENONA, têm efeitos diuréticos e anti-hipertensivos limitados, mas são indicados para a prevenção e o tratamento de hipocalemia, se usados em associação com os tiazídicos e com os diuréticos de alça. Outra indicação da espironolactona é como quarta opção farmacológica em pacientes com hipertensão resistente, isto é, a hipertensão arterial que não se controla com esquema terapêutico de três classes (diuréticos, iECA, antagonistas de canais de cálcio) e, além disso, esses diuréticos são indicados como primeira escolha nos pacientes portadores de hiperaldosteronismo primário. Quando usados cronicamente, sobretudo em pacientes com disfunção renal, os níveis de potássio devem ser frequentemente monitorados. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: Entre os principais efeitos adversos descritos com o uso crônico dos diuréticos, particularmente em doses mais altas, destacam- se a HIPERURICEMIA COM SINAIS E SINTOMAS DE GOTA E A HIPOPOTASSEMIA, QUE PODE PROVOCAR CÃIBRAS, E, NOS GRAUS MAIS ACENTUADOS, ARRITMIAS VENTRICULARES, PRINCIPALMENTE QUANDO ASSOCIADA À HIPOMAGNESEMIA. Para diminuir o risco dos efeitos colaterais sem prejudicar o efeito anti-hipertensivo, recomendam-se doses mais baixas de diuréticos, sobretudo em associação com outros anti- hipertensivos. Há evidências de que o uso crônico de diuréticos em altas doses pode levar ao surgimento de intolerância à glicose e também a um maior risco de desenvolvimento de diabetes, além de elevar os níveis de triglicérides, especialmente nos pacientes que tenham predisposição para apresentar essas alterações metabólicas, como os portadores de obesidade ou de síndrome metabólica. ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE CÁLCIO (ACC): O mecanismo principal pelo qual os antagonistas dos canais de cálcio reduzem a pressão arterial DECORRE DA DIMINUIÇÃO DA RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA POR REDUÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE CÁLCIO NAS CÉLULAS MUSCULARES LISAS VASCULARES. ✓ Essa menor concentração de cálcio resulta de um menor influxo transmembrana do cálcio extracelular dependente de voltagem que age no músculo liso vascular. ✓ Há três subtipos de antagonistas de canais de cálcio com um mesmo mecanismo vasodilatador comum, mas com características farmacológicas diferentes: A ação anti-hipertensiva dos antagonistas de canais de cálcio é muito potente, PRINCIPALMENTE A DOS DI- HIDROPIRIDÍNICOS, e os estudos mostram redução significativa da morbidade e mortalidade cardiovasculares. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ Essa classe é especialmente eficaz na redução de acidente vascular encefálico, que teve uma diminuição de até 40% em alguns estudos com a medicação. Dentre os antagonistas de canais de cálcio, devem ser usados preferencialmente aqueles que têm duração de ação mais prolongada. ✓ NAS ÚLTIMAS DIRETRIZES AMERICANAS, OS ANTAGONISTAS DE CANAIS DE CÁLCIO SÃO INDICADOS COMO PRIMEIRA OPÇÃO PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL EM PACIENTES AFRODESCENDENTES. ✓ Além disso, essa classe medicamentosa também apresenta comprovada eficácia, tolerabilidade e segurança no tratamento anti-hipertensivo de pacientes com doença arterial coronariana. ✓ Em pacientes com hipertensão arterial associada à arritmia supraventricular, AS FENILALQUILAMINAS são uma ótima opção de tratamento. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: Os efeitos adversos dos antagonistas de cálcio mais frequentemente observados são, na maioria dos casos, dose- dependentes e INCLUEM EDEMA DE MEMBROS INFERIORES, CEFALEIA, TONTURA E RUBOR FACIAL (MAIS COMUM COM DI- HIDROPIRIDÍNICOS DE CURTA AÇÃO). O edema é mais observado no maléolo e tem características gravitacionais, melhorando com a posição supina, e também pode ser atenuado com o uso associado de iECA ou BRA. Novas gerações dos ACC, como o LEVANLODIPINO, parecem promover uma redução significante na taxa de edema de membros inferiores. Outro efeito observado mais raramente é a hipertrofia gengival, que pode ocasionar dor e dificuldades para a mastigação. ✓ Os di-hidropiridínicos, que têm curta duração de ação, podem causar um importante estímulo simpático reflexo,com taquicardia prejudicial para o sistema cardiovascular. ✓ Outro efeito adverso que pode ser observado com as fenilalquilaminas (verapamil) e as benzotiazepinas (diltiazem), sobretudo quando associadas a betabloqueadores, é depressão da função miocárdica e bloqueio atrioventricular, que podem levar a sérias consequências. ✓ Obstipação intestinal também pode ser observada com verapamil, que deve ser usado com cautela em pacientes com distúrbios gastrointestinais. INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA (iECA) Os mecanismos hipotensores do uso crônico dos iECA são vários, INCLUINDO A DIMINUIÇÃO DOS NÍVEIS CIRCULANTES DA ANGIOTENSINA II GERADA POR INIBIÇÃO DA ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA, BLOQUEANDO ASSIM A TRANSFORMAÇÃO DA ANGIOTENSINA I EM ANGIOTENSINA II TANTO NO SANGUE QUANTO NOS TECIDOS. A inibição da enzima conversora da angiotensina pode reduzir a pressão arterial por outros mecanismos, 1. COMO DIMINUIÇÃO DE ATIVIDADE DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO (MENOR LIBERAÇÃO DE NORADRENALINA NOS NEURÔNIOS TERMINAIS), MENOR RETENÇÃO DE SÓDIO POR REDUÇÃO DA SECREÇÃO DE ALDOSTERONA E/ OU 2. AUMENTO DO FLUXO DE SANGUE RENAL E DIMINUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE ENDOTELINA. Os iECA têm um efeito anti-hipertensivo semelhante aos observados com outras classes farmacológicas, atingindo resposta de controle de pressão arterial em 40 a 60% dos pacientes hipertensos em estágios 1 ou 2. ✓ Existem fortes evidências de que a morbidade e a mortalidade cardiovasculares diminuem significativamente em hipertensos tratados com inibidores da ECA. ✓ Além desse benefício em hipertensos, os inibidores da ECA também reduzem complicações e mortalidade cardiovasculares28 em pacientes após infarto agudo do miocárdio, portadores de insuficiência cardíaca, naqueles com alto risco para aterosclerose e na prevenção secundária do acidente vascular encefálico. ✓ A administração de iECA em longo prazo atenua o declínio da função renal em portadores de nefropatia diabética ou nefropatias por outras etiologias. Na Tabela 5, são apresentadas as principais condições clínicas que indicam o uso dos inibidores da iECA como primeira escolha no tratamento da hipertensão arterial Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: De modo geral, os iECA são bem tolerados, não têm interferência na qualidade de vida e muitos pacientes relatam sensação de bem-estar com seu uso. Os efeitos adversos mais comumente descritos pelos pacientes que usam esses medicamentos são alteração do paladar, tosse seca e reações de hipersensibilidade com erupção cutânea e edema angioneurótico, que são mais raras. Em pacientes hipertensos com doença renal crônica, especialmente naqueles com ritmo de filtração glomerular abaixo de 60 mL/1,73m2, o uso do iECA pode promover aumento dos níveis de creatinina de até 30% dos valores basais, além de elevação de potássio sérico, que devem ser sempre monitorados. Apesar disso, a utilização de iECA em longo prazo em pacientes com insuficiência renal crônica tem efeito protetor com atenuação da perda de função renal. Por outro lado, em pacientes com estenose de artéria renal bilateral ou unilateral associada a rim único, os iECA podem levar à redução da filtração glomerular com maior aumento dos níveis séricos de ureia e da creatinina e, por isso, devem ser contraindicados nesses pacientes. Em pacientes hipertensas durante a gravidez, os iECA são contraindicados por causa do risco de provocarem complicações fetais. Assim, sua indicação deve ser cautelosa em adolescentes e mulheres em idade fértil, que devem ser orientadas a não engravidar enquanto estiverem usando a medicação. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES AT1 DA ANGIOTENSINA II (BRA) Os BRA foram disponibilizados para o uso clínico como anti- hipertensivos no final do século XX. O PRINCIPAL MECANISMO DE AÇÃO ANTI-HIPERTENSIVA DOS BRA É A INIBIÇÃO DA AÇÃO DA ANGIOTENSINA II NOS RECEPTORES AT1 PELO BLOQUEIO DESTES, ALÉM DE PROPORCIONAR AÇÃO MAIS EFETIVA DA ANGIOTENSINA II NOS RECEPTORES AT2, QUE GERA VASODILATAÇÃO POR AUMENTO INDIRETO DA PRODUÇÃO DE ÓXIDO NÍTRICO. Assim, os BRA podem reduzir a resistência vascular periférica sem modificar o débito cardíaco ou a frequência cardíaca e sem interferir no metabolismo de carboidratos ou de lípidios. Os ensaios clínicos também demonstram eficácia dos BRA no tratamento da hipertensão arterial, sobretudo em populações de alto risco, com redução significativa da morbidade e da mortalidade cardiovascular. Os efeitos anti-hipertensivos dos BRA parecem ser semelhantes tanto em jovens quanto em idosos, assim como em homens e mulheres. Em pacientes com diabete melito do tipo 2 e nefropatia instalada ou incipiente, o uso dos BRA também tem ação nefroprotetora. Os principais fármacos representantes da classe são A LOSARTANA, A VALSARTANA, A IRBERSARTANA, A CANDESARTANA E A OLMESARTANA, SENDO QUE OS DOIS ÚLTIMOS POSSUEM AÇÃO MAIS PROLONGADA. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: Os BRA têm boa tolerabilidade, com prevalência de efeitos adversos semelhantes aos observados com o placebo nos estudos realizados até o momento, mas em uma pequena porcentagem dos usuários são referidas tonturas e, mais raramente, reação de hipersensibilidade cutânea. As precauções com o uso dos BRA são as mesmas descritas para o uso dos iECA. INIBIDORES ADRENÉRGICOS: BETABLOQUEADORES: Os mecanismos pelos quais os betabloqueadores reduzem a pressão não são totalmente conhecidos, mas as evidências indicam que o efeito hipotensor seja em razão de alguns destes: REDUÇÃO PARCIAL DO DÉBITO CARDÍACO, DIMINUIÇÃO DA LIBERAÇÃO DE RENINA PELO APARELHO JUSTAGLOMERULAR, AÇÃO NOS BARORRECEPTORES E DIMINUIÇÃO DAS CATECOLAMINAS NAS SINAPSES DOS NEURÔNIOS. Há diferenças nas ações entre os subtipos de betabloqueadores, pois apresentam seletividades distintas aos receptores adrenérgicos (~1 e ~2), e os desenvolvidos mais recentemente têm efeitos de vasodilatação por mecanismos diversos, como aumento da disponibilidade de óxido nítrico (nebivolol) ou ação antagonista no receptor alfa-1-adrenérgico ( carvedilol). Desde os anos 1970, os betabloqueadores adrenérgicos têm se mostrado eficazes em reduzir a pressão arterial e recomendados como opção de tratamento da hipertensão arterial. ATUALMENTE ELES SÃO A PRIMEIRA ESCOLHA TERAPÊUTICA EM PACIENTES HIPERTENSOS QUE APRESENTAM ASSOCIADAMENTE DOENÇA ARTERIAL CORONÁRIA, ARRITMIAS CARDÍACAS COMO A TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR, ENXAQUECA, ALÉM DE OUTRAS INDICAÇÕES COMPULSÓRIAS QUE ESTÃO ASSINALADAS NA TABELA 6. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Apesar disso, nas últimas duas décadas, a partir dos resultados de alguns ensaios clínicos e de meta-análises, o verdadeiro benefício dos betabloqueadores como tratamento inicial hipotensor tem sido questionado. ESSE QUESTIONAMENTO SE REFLETIU EM DIRETRIZES INTERNACIONAIS, QUE NÃO RECOMENDAM MAIS OS BETABLOQUEADORES COMO PRIMEIRA ESCOLHA PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO. Entretanto, essa classe farmacológica continua sendo a preferida para pacientes hipertensos com insuficiência cardíaca ou doença coronária associada, baseados em resultados de ensaios clínicos nos quais os pacientes que apresentavam infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca e receberam betabloqueadores tiveram um melhor prognóstico cardiovascular, inclusive com risco menor de mortalidade. Apesar desses benefícios comprovados dos betabloqueadoresna prevenção secundária de eventos cardiovasculares, não há evidências claras de que medicamentos mais antigos dessa classe tenham eficácia em prevenir eventos cardiovasculares primários em pacientes com hipertensão arterial. Diversos ensaios clínicos randomizados e controlados falharam em mostrar o benefício dos betabloqueadores quando comparados com outros anti-hipertensivos. Em pacientes mais jovens, com menos de 60 anos, os estudos mostram redução significativa da morbidade e da mortalidade cardiovascular com o uso de betabloqueadores como anti- hipertensivos. No entanto, em pacientes idosos com mais de 60 anos, estudos clínicos e meta-análises mais recentes não demonstraram redução significativa de desfechos cardiovasculares, sobretudo acidente vascular encefálico. Assim, em pacientes idosos, o uso dessa classe farmacológica seria indicado apenas para as situações especiais descritas na Tabela 6. Deve-se ressaltar que a maior parte dos estudos com betabloqueadores em hipertensão arterial utilizou o ATENOLOL como o fármaco principal, e o efeito não satisfatório verificado é mais relacionado ao próprio medicamento do que à classe farmacológica, pois outros estudos que empregaram outros betabloqueadores, como METOPROLOL, não mostraram ausência de benefícios em relação ao placebo ou aos demais fármacos anti-hipertensivos EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: As ocorrências das reações adversas associadas ao uso dos betabloqueadores depende das características farmacológicas destes, como especificidade pelos subtipos dos receptores beta -adrenérgicos, sua distribuição nos receptores e sua solubilidade. De modo geral, na prática clínica, essa classe é bem tolerada, mas ALGUNS EFEITOS COLATERAIS QUE INCLUEM FADIGA, DEPRESSÃO, DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE EXERCÍCIO, DISFUNÇÃO SEXUAL E CRISES DE ASMA SÃO DESCRITOS E PODEM COMPROMETER A ADESÃO AO TRATAMENTO. O uso continuado dos betabloqueadores tem sido relacionado também a efeitos metabólicos que podem influenciar a evolução clínica dos pacientes hipertensos, sobretudo quando estes apresentam síndrome metabólica. Dentre esses efeitos metabólicos que são mais observados com os betabloqueadores mais antigos, destacam-se a HIPERGLICEMIA E A HIPERTRIGLICERIDEMIA. Como esses betabloqueadores não apresentam ação vasodilatadora periférica, o aumento persistente da resistência vascular periférica diminui a disponibilidade de glicose ao músculo esquelético, reduzindo seu uso, o que gera intolerância à glicose. Consequentemente, isso pode gerar o aparecimento de novos casos de diabete, como tem sido demonstrado em ensaios clínicos que utilizaram betabloqueadores por pelo menos um ano. Entretanto, cabe ressaltar que o aparecimento de DIABETE foi apenas observado em estudos com ATENOLOL, mas não foi visto em outros estudos, que utilizaram metoprolol ou propranolol. Em contrapartida, OS BETABLOQUEADORES ADRENÉRGICOS MAIS RECENTES, COMO O CARVEDILOL E O NEBIVOLOL, NÃO INFLUENCIAM O METABOLISMO GLICÍDICO OU LIPÍDICO, OU ATÉ PODEM MELHORAR AS ALTERAÇÕES METABÓLICAS, POSSIVELMENTE EM RAZÃO DO EFEITO VASODILATADOR COM REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA À INSULINA E CONSEQUENTE MELHORA DA CAPTAÇÃO DE GLICOSE PELOS TECIDOS PERIFÉRICOS. Além disso, a suspensão abrupta do uso de betabloqueadores pode proporcionar aumento da atividade simpática, manifesta por hipertensão arterial rebote, taquicardia e/ou manifestações clínicas de isquemia miocárdica (angina etc.), principalmente em pacientes hipertensos com níveis prévios muito elevados de pressão arterial. Por causa desses e de outros efeitos adversos, as contraindicações dos betabloqueadores de primeira e segunda geração são: pacientes com asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica e bloqueio atrioventricular avançado (segundo grau e total). Os betabloqueadores devem ser utilizados com cautela em pacientes com doença arterial periférica, especialmente nos que apresentam claudicação intermitente. ALFABLOQUEADORES: OS ALFABLOQUEADORES REDUZEM A PRESSÃO ARTERIAL POR DIMINUIÇÃO DA RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA MEDIADA POR AÇÃO ANTAGONISTA SELETIVA DOS RECEPTORES ALFA-1-ADRENÉRGICOS VASCULARES. Por causa desse efeito, HÁ MAIOR TENDÊNCIA DE SE OBTER UMA REDUÇÃO MAIS ACENTUADA DA PRESSÃO ARTERIAL NA POSIÇÃO ORTOSTÁTICA DO QUE NA POSIÇÃO SUPINA, E POR Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ISSO OS ALFABLOQUEADORES DEVEM SER USADOS COM CAUTELA EM IDOSOS. Os principais medicamentos representantes da classe para o tratamento da hipertensão arterial são o DOXAZOSIN E O PRAZOSIN, que são indicados como quarta opção terapêutica em associação com outras classes em hipertensão resistente, visto que o efeito hipotensor é discreto como monoterapia. Contudo, apresentam uma vantagem de terem efeito neutro ou mesmo melhorar o metabolismo lipídico e glicídico , permitindo seu uso em pacientes com diabete ou dislipidemias graves. Além disso, os alfabloqueadores, principalmente o doxazosin, melhoram os sintomas de pacientes portadores de hipertrofia prostática benigna, e têm indicação compulsória nesse grupo de pacientes quando apresentam essa condição associada à hipertensão arterial. EM RAZÃO DESSA SUA AÇÃO PRINCIPAL NOS RECEPTORES ALFA-1-ADRENÉRGICOS, OS ALFABLOQUEADORES SÃO OS AGENTES DE PRIMEIRA ESCOLHA NO TRATAMENTO DE PACIENTES PORTADORES DE FEOCROMOCITOMA ANTES DO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: O efeito mais indesejável dos alfabloqueadores é a condição conhecida como "hipotensão da primeira dose", isto é, hipotensão postural exacerbada, que geralmente ocorre 30 a 90 minutos após a administração da primeira dose do medicamento. Outro efeito que limita seu uso crônico na maioria dos pacientes é o surgimento de tolerância às doses terapêuticas, exigindo o uso de doses gradativamente maiores para se obter o mesmo efeito hipotensor. Também são descritos com seu uso palpitações taquicárdicas e, em alguns casos, astenia limitante. Apesar de ter sido usado para tratamento de insuficiência cardíaca antes da era dos iECA, resultados do estudo clínico demonstraram maior número de internações por insuficiência cardíaca congestiva entre os pacientes tratados com o alfabloqueador doxazosin quando comparados com os que utilizaram a clortalidona. Assim, a partir desses resultados, o doxazosin NÃO DEVE SER MEDICAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO DE PRIMEIRA ESCOLHA, a não ser que o paciente apresente uma indicação precisa, como a alteração prostática já mencionada. AGENTES DA AÇÃO SIMPÁTICA CENTRAL: Apesar de ter sido uma das primeiras classes terapêuticas usadas para o controle da pressão arterial com comprovada eficácia, o uso desses agentes como monoterapia no tratamento da hipertensão arterial é extremamente limitado em razão da elevada incidência de eventos adversos quando empregados em doses muito altas. Essa classe farmacológica engloba basicamente dois subgrupos de fármacos: OS INIBIDORES DE RECEPTORES IMIDAZOLIDÍNICOS (MOXONIDINA E RILMENIDINA) E OS AGONISTAS DOS RECEPTORES PRÉ- -SINÁPTICOS CENTRAIS ALFA-2- ADRENÉRGICOS (ALFAMETILDOPA, CLONIDINA E GUANABENZO). Entre esses, a alfametildopa, indicada durante a hipertensão na gestação, e a clonidina, quarta opção medicamentosa em pacientes com hipertensão resistente, são as mais utilizadas da classe. Os agentes de ação simpática central diminuem diretamente o tônus simpático cardíaco e vascular ao estimular receptores alfa-2-adrenérgicos no núcleo da medula ventrolateral rostral no sistema nervoso central, resultando em vaso dilatação e redução da frequência cardíaca. Portanto, a pressão arterial diminui,assim como possíveis manifestações adrenérgicas associadas podem ser atenuadas ou desaparecer. A despeito do efeito hipotensor discreto como monoterapia, podem ser úteis quando utilizados em associação com medicamentos de outras classes, como diuréticos, particularmente quando há evidência clínica de hiperatividade simpática ou em pacientes que apresentam muita ansiedade. Como não interferem com o perfil metabólico, servem como opções para associação com outras classes em pacientes com diabete e/ ou dislipidemias. A ALFAMETILDOPA É RECOMENDADA COMO ANTI- HIPERTENSIVO DE PRIMEIRA ESCOLHA PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL DURANTE A GESTAÇÃO, POIS APRESENTA SEGURANÇA FAVORÁVEL TANTO DA MÃE QUANTO DO FETO, SENDO A DOSE MÁXIMA 2 G POR DIA. A clonidina, em doses inferiores a 0,600 mg por dia, é uma opção como quarta medicação no paciente com hipertensão resistente não controlada com três fármacos combinados adequadamente. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: Os efeitos mais observados com o uso dessa classe são decorrentes, em sua maioria, da ação direta no sistema nervoso central: sedação, boca seca, sonolência, astenia, hipotensão postural e impotência sexual. A frequência desses efeitos é ligeiramente menor com os inibidores de receptores imidazolidínicos. Em relação à clonidina, principalmente quando usada em altas doses, hipertensão arterial rebote na forma de urgência hipertensiva pode ocorrer quando a medicação é suspensa bruscamente. Por esse motivo, os pacientes que utilizam a medicação devem ser muito bem orientados quanto ao uso correto. Por outro Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. lado, a alfametildopa pode, embora em menor frequência, também provocar galactorreia, anemia hemolítica e disfunção hepática, sendo contraindicada nos casos de insuficiência hepática. VASODILATADORES DIRETOS: ESSA CLASSE FARMACOLÓGICA TEM POR CARACTERÍSTICA PRINCIPAL A AÇÃO DIRETA SOBRE O MÚSCULO LISO DA PAREDE VASCULAR, LEVANDO-O A UM RELAXAMENTO E CONSEQUENTE VASODILATAÇÃO, PROPORCIONANDO DIMINUIÇÃO DA RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA E RESULTANDO EM QUEDA DA PRESSÃO ARTERIAL. São utilizados preferencialmente em associação com diuréticos e/ou betabloqueadores em razão da retenção de volume e aumento da frequência cardíaca associados. Entre os vasodilatadores diretos disponíveis, A HIDRALAZINA E O MINOXIDIL são os dois principais medicamentos desse grupo utilizados no tratamento da hipertensão arterial, reservados para pacientes com hipertensão grave, especialmente para os portadores de hipertensão acelerada maligna. O minoxidil é também indicado em pacientes que estão em uso de vasodilatador arterial endovenoso por crise hipertensiva, na intenção de retirar mais precocemente a medicação parenteral. EFEITOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: Os principais eventos adversos são retenção de líquidos e taquicardia reflexa à vasodilatação, o que faz com que sejam contraindicados como monoterapia. Além disso, podem ser observados rubor facial e cefaleia, e o uso de doses muito altas de hidralazina (superior a 200 mg ao dia) pode desencadear uma síndrome clínica similar ao lúpus eritematoso sistêmico. O uso crônico de minoxidil pode causar hirsutismo, fator muito limitante para o uso da medicação em mulheres. INIBIDORES DIRETOS DA RENINA: ESSA CLASSE É A MAIS RECENTE QUE COMPÕE O ARSENAL TERAPÊUTICO PARA O TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO, E O ALISQUIRENO É O ÚNICO FÁRMACO DA CLASSE DISPONÍVEL E APROVADO PARA O USO CLÍNICO. Este é um agente não peptídio de baixo peso molecular e que inibe diretamente a renina, produzindo supressão da atividade plasmática da enzima com cansequente redução da formação de angiotensina II, levando a vaso dilatação e redução da pressão arterial. Além disso, outras ações adicionais podem contribuir para a queda da pressão arterial, como: bloqueio de um receptor celular próprio de renina/prorenina e diminuição da síntese intracelular de angiotensina II. Os estudos clínicos mostram comprovada capacidade de controle da pressão arterial quando esse medicamento é usado em monoterapia, de forma semelhante às demais classes de anti-hipertensivos. Estudos de curta duração indicam que o alisquireno tem possível efeito benéfico em reduzir morbidade cardiovascular e renal, além de diminuir as lesões de órgãos- alvo, como albuminúria e hipertrofia ventricular. Até o momento, não há resultados disponíveis sobre o efeito do alisquireno na mortalidade e na morbidade cardiovascular e renal, e por isso ele não está entre as opções medicamentosas como monoterapia no tratamento anti-hipertensivo. EVENTOS ADVERSOS MAIS FREQUENTES: O alisquireno é bem tolerado, com eventos adversos semelhantes aos observados com placebo, se administrado em doses adequadas, de 150 a 300 mg diárias. Em doses mais altas (acima de 300 mg ao dia), pode causar vermelhidão, diarreia, fadiga, cefaleia, aumento de creatinofosfoquinase e tosse, mas a incidência é inferior a 1%. Assim como os iECA e os BRA, não pode ser prescrito para pacientes gestantes. ESCOLHA DOS MEDICAMENTOS: A escolha dos medicamentos a serem prescritos para o paciente, tanto em monoterapia quanto em combinações, depende do estágio e da gravidade da hipertensão arterial , sempre tendo como objetivo a meta de valores de pressão arterial a ser atingida. Com base nisso, PODE-SE INICIAR COM MONOTERAPIA EM PACIENTES EM ESTÁGIOS INFERIORES (ESTÁGIO 1) E COM ASSOCIAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM ESTÁGIOS MAIS AVANÇADOS DA DOENÇA HIPERTENSIVA (ESTÁGIOS 2 E 3). Recomenda-se que o tratamento anti- hipertensivo seja individualizado, considerando-se todas as características clínicas e demográficas dos pacientes A monoterapia pode ser indicada para pacientes com hipertensão arterial de estágio 1, e com risco cardiovascular BAIXO A MODERADO, com base nas tabelas de estratificação de risco mencionadas. Nesses pacientes, a escolha do tratamento deve ser individualizada e o medicamento inicial para a monoterapia deve ser escolhido levando-se em consideração as seguintes características: CAPACIDADE DO AGENTE ESCOLHIDO EM REDUZIR MORBIDADE E MORTALIDADE CARDIOVASCULARES; MEDICAMENTO COM BOM PERFIL DE SEGURANÇA; DOENÇAS ASSOCIADAS; POSSÍVEL IDENTIFICAÇÃO DO MECANISMO FISIOPATOLÓGICO DA HIPERTENSÃO PREDOMINANTE NO PACIENTE; CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS DO PACIENTE; CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS. Assim, com base nessas características principais, as classes de anti- hipertensivos indicadas atualmente como monoterapia para o controle da pressão arterial são: diuréticos; betabloqueadores (exceto em pacientes idosos); bloqueadores dos canais de cálcio; iECA; BRA. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. A posologia deve ser ajustada até que se consiga atingira meta pressórica, ou seja, valores inferiores a 140/90 mmHg na maioria dos pacientes. Se o objetivo não for atingido com a monoterapia inicial, podemos adotar uma entre as três condutas recomendadas pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão ✓ AUMENTAR A DOSE DO MEDICAMENTO EM USO OU ASSOCIAR MEDICAMENTO DE OUTRA CLASSE FARMACOLÓGICA SE O RESULTADO FOR PARCIAL OU NULO, MAS SEM A PRESENÇA DE REAÇÃO ADVERSA; ✓ SUBSTITUIÇÃO DO ANTI-HIPERTENSIVO INICIALMENTE PRESCRITO, SE O EFEITO TERAPÊUTICO NÃO FOR O DESEJADO NA DOSE MÁXIMA POSSÍVEL OU SE HOUVER EVENTOS ADVERSOS INTOLERÁVEIS; ✓ A COMBINAÇÃO DE DUAS CLASSES DEVE SER INDICADA SE APESAR DAS MEDIDAS DESCRITAS A META NÃO FOR ATINGIDA. Em pacientes com hipertensão arterial em estágio 1 erisco cardiovascular alto ou muito alto e naqueles com hipertensão em estágios 2 e 3, independentemente do risco, as recomendações das principais diretrizes internacionais mais recentes indicam o tratamento com combinação de duas classes como primeira opção terapêutica. Para as associações de fármacos anti-hipertensivos de diferentes classes, recomenda -se seguir as orientações adaptada das mais recentes diretrizes europeias, em que se observam as combinações mais adequadas, por serem mais eficazes, e aquelas não recomendadas ou menos benéficas. Não se recomenda usar combinações com medicamentos da mesma classe, exceto a associação de diuréticos tiazídicos ou de alça com diuréticos poupadores de potássio, visando a menor risco de hipocalemia. As associações de fármacos anti- hipertensivos podem ser feitas tanto por meio de prescrição de medicamentos em separado ou por combinações em doses fixas em um mesmo comprimido. Embora o efeito hipotensor dessas associações pareça ser semelhante, os estudos que compararam diretamente o controle da pressão arterial obtido com cada uma dessas combinações são pouco conclusivos para a prática clínica. AS COMBINAÇÕES MAIS RECOMENDADAS SÃO AS QUE COMBINAM DIURÉTICOS COM IECA OU BRA, OU AQUELAS QUE COMBINAM ANTAGONISTAS DE CANAIS DE CÁLCIO COM INIBIDORES DA ECA OU BRA. Muitas dessas associações estão disponíveis em doses fixas em um único comprimido, e sua utilização pode proporcionar simplificação do esquema posológico, motivando a adesão ao tratamento. Mais recentemente, um ensaio clínico com desfechos cardiovasculares significativos avaliou comparativamente o impacto do tratamento da hipertensão arterial com combinações fixas de um iECA com um diurético e do mesmo iECA com um antagonista dos canais de cálcio, em pacientes com alto risco cardiovascular. Os autores observaram que para um mesmo grau de redução da pressão arterial, a combinação do iECA com o antagonista dos canais de cálcio foi significativamente melhor em diminuir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares e a progressão da doença renal do que a outra combinação. Considerando-se as outras combinações possíveis, a associação de betabloqueadores com diuréticos devem ser prescritas com cuidado em pacientes com ou predispostos a ter distúrbios metabólicos, particularmente os relacionados aos distúrbios glicêmicos. A combinação de iECA com BRA não está recomendada em pacientes com hipertensão arterial, pois, além de não trazer benefício cardiovascular adicional quando Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. comparada aos fármacos usados separadamente, pode aumentar muito a chance de ocorrência de eventos adversos, sobretudo hipercalemia. Se a meta de pressão arterial não for atingida com a associação inicialmente indicada, segue-se o fluxograma com três alternativas possíveis: ✓ AUMENTAR A DOSE DA COMBINAÇÃO EM USO OU ASSOCIAR UM TERCEIRO FÁRMACO DE OUTRA CLASSE, SE O RESULTADO FOR PARCIAL OU NULO, SEM REAÇÃO ADVERSA; ✓ SUBSTITUIÇÃO DA COMBINAÇÃO QUANDO A META NÃO FOR ATINGIDA NA DOSE MÁXIMA OU SE HOUVER EVENTOS ADVERSOS NÃO TOLERÁVEIS; ✓ ASSOCIAÇÃO DE OUTROS FÁRMACOS SE, APESAR DESSAS INIDATIVAS, O CONTROLE DA PRESSÃO FOR AINDA INADEQUADO. SE A ASSOCIAÇÃO UTILIZADA INCLUIR DOIS FÁRMACOS QUE NÃO SEJA UM DIURÉTICO, E A META NÃO FOR CONSEGUIDA, A COMBINAÇÃO DO DIURÉTICO COMO TERCEIRA MEDICAÇÃO É FUNDAMENTAL. TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL RESISTENTE: Quando o paciente não consegue obter o controle da pressão arterial com tríplice terapia otimizada, incluindo um diurético, apesar de uma boa adesão ao tratamento, caracterizamos a condição clínica como hipertensão resistente. Nessa situação, devemos obrigatoriamente avaliar a presença de fatores que possam estar dificultando o controle da pressão arterial, incluindo ingestão de sal em excesso, uso abusivo de álcool, obesidade, uso concomitante de medicamentos que elevam a pressão arterial, e causas secundárias de hipertensão, como a apneia obstrutiva do sono, o hiperaldosteronismo primário e a estenose de artéria renal. Depois de identificadas, as causas devem ser corrigidas e, se não houver uma causa ou se mesmo após a correção desses possíveis fatores não houver controle da pressão arterial, uma quarta medicação deve ser adicionada. ENTRE AS OPÇÕES, TEM SIDO RECOMENDADA A ADIÇÃO DE ESPIRONOLACTONA OU DE SIMPATOLÍTICOS CENTRAIS OU DE BETABLOQUEADORES AO ESQUEMA TERAPÊUTICO COM RESULTADOS SATISFATÓRIOS. Se, apesar dessas estratégias, a pressão arterial se mantiver elevada, podemos considerar a adição de vasodilatadores diretos, como a hidralazina e minoxidil. Para esses pacientes com hipertensão resistente, novas opções para o tratamento têm sido propostas, tais como a denervação renal por ablação de radiofrequência ou a estimulação de barorreceptores carotídeos por um dispositivo similar a um marca-passo, instituindo-se um tratamento intervencionista para a hipertensão arterial. A ATIVIDADE SIMPÁTICA RENAL PROMOVE LIBERAÇÃO DE RENINA, RETENÇÃO DE SÓDIO E AUMENTO DA VOLEMIA E TEM SIDO APONTADA COMO UM IMPORTANTE MECANISMO PRESENTE EM PACIENTES COM HIPERTENSÃO RESISTENTE, TORNANDO-SE UM INTERESSANTE ALVO TERAPÊUTICO. Técnicas intervencionistas têm sido desenvolvidas e aplicadas recentemente em estudos clínicos, com o foco no tratamento do sistema nervoso simpático. Uma dessas técnicas, a ablação de artéria renal por cateter de radiofrequência, visa diminuir a atividade simpática renal tanto aferente quanto eferente, e consequentemente reduzir os efeitos deletérios dessa maior atividade. Estudos clínicos preliminares mostraram resultados muito satisfatórios do procedimento em pacientes portadores de hipertensão resistente, com diminuição significativa da pressão arterial, sem graves complicações da intervenção. Em um desses estudos (Simplicity HTN2), comparou-se a denervação renal com um tratamento clínico otimizado, e um número significativamente maior de indivíduos atingiu melhor controle de pressão arterial sistólica após a ablação de artéria renal do que aqueles que permaneceram em tratamento clínico otimizado. A média de redução da pressão arterial sistólica dos pacientes submetidos à denervação após um ano do procedimento foi ao redor de 30 mmHg. Esses resultados geraram grande expectativa para o tratamento dessa população especial de hipertensos. Entretanto, um estudo randomizado recentemente publicado, que incluiu mais de 500 pacientes, comparou a denervação renal por cateter de ablação com um tratamento clínico otimizado incluindo procedimento arteriográfico placebo; (Simplicity HTN-3) e não mostrou diferenças significativas no controle da pressão arterial entre o grupo denervação e o grupo controle. Esses resultados colocaram em dúvida o real benefício da denervação renal como forma de tratamento para pacientes com hipertensão resistente. No entanto, alguns pontos críticos referentes ao estudo devem ser considerados, principalmente no que se refere ao número insuficiente de ablações, à falta de treinamento adequado de alguns centros e à falta de padronização no tratamento medicamentoso, que podem ter influenciado negativamente os resultados. Diante dessas novas evidências, a denervação renal pode ser indicada para pacientes com hipertensão resistente, mas alguns critérios rígidos devem ser respeitados para a seleção dos pacientes e a realização dos procedimentos: Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ seleção de pacientesapós amplo rastreamento para causas da resistência ao tratamento anti-hipertensivo, como má adesão ao tratamento medicamentoso e à dieta hipossódica, efeito "avental branco': e alterações metabólicas associadas; ✓ melhor identificação dos pacientes que podem ter uma reposta mais adequada ao tratamento; ✓ realização do procedimento por profissionais adequadamente treinados; ✓ escolha cuidadosa do cateter; ✓ número padronizado de aplicações de energia de radiofrequência. Para direcionar quais pacientes são elegíveis para o procedimento de denervação renal por ablação, destacando que a realização prévia de um rastreamento rigoroso de causas secundárias de hipertensão e uma investigação minuciosa da adesão ao tratamento são imprescindíveis antes de indicar o procedimento. OUTRA ALTERNATIVA DE TRATAMENTO INTERVENCIONISTA DA HIPERTENSÃO RESISTENTE É A QUE PROPÕE UMA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DOS BARORRECEPTORES CAROTÍDEOS POR ELETRODOS IMPLANTADOS NAS ARTÉRIAS CARÓTIDAS E CONECTADOS A UM DISPOSITIVO IMPLANTADO NO TECIDO SUBCUTÂNEO DO TÓRAX DO PACIENTE, SEMELHANTEMENTE A UM MARCA-PASSO. Os resultados dos primeiros estudos clínicos têm demonstrado redução persistente e significativa da pressão arterial por um período de até cinco anos, sem complicações graves do procedimento. Entretanto, o procedimento é invasivo e exige uma cirurgia prolongada por equipe experiente e treinada, além de ter um elevado custo, limitando no momento a maior aplicabilidade clínica mais global, sendo restrita a alguns centros em todo o mundo. Em nosso meio, essa modalidade terapêutica ainda não está disponível. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. TRATADO DE CARDIOLOGIA SOCESP 3ª EDIÇÃO; 2. DIRETRIZES BRASILEIRAS DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTEMICA. 2020. BARROSO ET AL.
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