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Odontologia Legal Aula 1: Noções Introdutórias de Direito. Aula 2: Evolução da Prática Odontológica. Aula 3: Orientação Profissional. Odontologia – Uri Erechim 9° semestre 2021 Noções Introdutórias de Direito Aula 01: 08/03/2021 Odontologia Legal Noção Elementar de Direito: - Aos olhos do homem comum, o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social, graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Vivemos em um Estado Democrático de Direito: - O Estado detém o poder. - PODER: capacidade de impor aos outros determinado tipo de comportamento. - Coerção (poder de exigir o cumprimento da lei até pela força, se necessário). - O ESTADO exerce o PODER para realizar o BEM COMUM. Federação Brasileira: - União Federal. - Estados-membros. - Distrito Federal. - Municípios. Organização do Poder: - Poder: Executivo Judiciário e Legislativo. Poder Judiciário Hierarquia das normas Constituição Federal – CF/88 - Valores e princípios para todas normas jurídicas. - Maior hierarquia (outras: respeito). - Assembleia Constituinte. Emenda Constitucional: - Alterar a Constituição - Votada em 2 turnos (Câmara de Deputados e Senado Federal), sem sanção presidencial - Aprovação: mín. 3/5 (60%) dos votos de cada casa - Não podem abolir: - Forma federativa do Estado. - Voto direto, secreto, universal e periódico. - Separação dos Poderes. - Direitos e garantias individuais. Lei: - Regra geral de direito. - Abstrata e permanente. - Expressa pela vontade de uma autoridade competente. - Caráter obrigatório. - Forma escrita. Elementos da Lei: LIVRO PARTE TÍTULO CAPÍTULO SECÇÃO ARTIGO PARÁGRAFO ITEM OU INCISO ALÍNEA OU LETRA Medida Provisória – MP - Presidente da República. - Relevância e urgência. - Caráter provisório: 60 dias (+ 60 d, 1x). - Ao Congresso Nacional para apreciação e aprovação (Lei Ordinária). Ministério Público: - É a personificação do interesse coletivo ante os órgãos jurisdicionais - A CF incluiu o Ministério Público entre as funções essenciais à justiça. - Art. 127 atribui ao MP a defesa: - da ordem jurídica. - do regime democrático. - dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Leis Ordinárias: - São as leis típicas, ou as mais comuns, aprovadas pela maioria dos parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal presentes durante a votação. Leis Complementares: - Exigem o voto da maioria dos parlamentares que compõe a Câmara dos Deputados e o Senado Federal para serem aprovadas. Devem ser adotadas para regulamentar assuntos específicos, quando expressamente determinado na Constituição da República. - Importante: Só é preciso elaborar uma Lei Complementar quando a Constituição prevê que esse tipo de lei é necessária para regulamentar uma certa matéria. Aula 2: 15/03/2021EVOLUÇÃO DA PRÁTICA ODONTOLÓGICA Síntese de uma visão histórica da Odontologia - Berço da Odontologia – Mesopotâmia “ ganhou o Antigo Egito, correu o Mediterrâneo, atravessando-o, chegou à Grécia, Roma, seguiu para Península Ibérica, chegou à França, à Alemanhã e à Inglaterra, tranpôs o Oceano Atlântico, espraiando-se pela América”. - Como surgiu a arte dentária? Com a primeira dor de dentes. - Maias (povo indígena – península Yucatán – Guatemala e Honduras) – odontologia voltada ao adorno pessoal – finalidades especificamente religiosas, não tinha preocupação com a saúde bucal. - Astecas (povo de origem indígena – México) odontologia voltada ao adorno pessoal e religioso – incrustações de pedras nos dentes – tratavam enfermidades da cavidade bucal com ervas medicinais e utilizavam algumas misturas – acreditavam que a cárie tinha como origem um verme. - Incas (povo indígena - Peru) – odontologia vinculada às crenças religiosas e a magia – direcionamento para a terapêutica – remédios à base de ervas. Orientação do Xamã – indivíduo que teria recebido a sabedoria dos deuses e o poder de curar. Valoravam à boa higiene da cavidade oral. Usavam remédios para aliviar a dor e métodos de extração. - Código de Hammurabi ( 1792 a 1750 a. C.) anunciavam as recompensas e os castigos aos que praticavam a medicina. “Olho por olho, dente por dente” - Artigos 200 e 201 – prescreviam que se alguém arrancasse um dente de um igual, um dente seria igualmente arrancado. - Fenícios – região litorânea da Síria – a odontologia era praticada por meio de médicos habilidosos – relatos de descoberta de uma prótese, ligadas por fios de ouro. - Hebreus – preocupação com as condições físicas que um homem deveria ter para alcançar o cargo de sumo sacerdote – não praticavam nenhum tipo de restauração odontológica ou terapêutica, utilizavam os serviços oferecidos pelos fenícios e gregos. - Egito – prática médica dividida em várias especialidades – inclusive tratamento dentário. - Grécia – Hipócrates – pai da Medicina – escritos hipocráticos a respeito do desenvolvimento dos dentes, enfermidades relacionadas à saúde bucal e métodos de tratamento. - Roma – a odontologia não existia como uma profissão separada da medicina – experiência dos romanos em restaurar dentes cariados com a utilização de coroas de ouro, substituir dentes perdidos por próteses fixas – confeccionar dentaduras parciais ou totais. - China – por meio de seus cirurgiões tratava enfermidades orais com remédios. - Século XIX – EUA - Independência da Odontologia em relação à medicina – se estendendo no Século XX para alguns países europeus. - No Brasil – a odontologia seguiu um caminho em busca da autonomia. Modelos e suas características: a). Completa autonomia técnica e independência à medicina – odontologia americana; a). Completa dependência técnica e científica da medicina – odontologia italiana até quase o final do século XX; a). Inter-relação e interdependência entre a odontologia e a medicina – odontologia exercida nos países do Leste da Europa. - A demanda pelos serviços odontológicos no início era considerada ínfima e supérflua, não era tida como uma necessidade vital e universal; - A dor de dente era resolvida com a extração; - O desenvolvimento de novas técnicas, a preocupação com a estética pessoal, a mudança de hábitos alimentares, e a reposição de dentes destruídos ou perdidos, fez surgir uma demanda maior das atividades odontológicas; - A epidemia de cárie no continente europeu fez com que a odontologia passasse a ser considerada um serviço fundamental – necessidades vitais e universais; - Problemas de saúde bucal – motivo de ordem pública; - A descoberta da anestesia foi um dos importantes fatores para o processo de profissionalização odontológica; - Odontologia atual – autônoma – independente técnica e cientificamente. Síntese de uma visão histórica da Odontologia no Brasil - Primeiros praticantes do ofício – arte de curar – cirurgiões, físicos, barbeiros – sujeitos a jurisdição do cirurgião-mor (colônia portuguesa) – falta de observação dos preceitos legais era passível de prisão e multa; - A arte de extrair dentes foi regulamentada no século XVII, ano de 1631; - Fiscalização com relação às atividades que poderiam envolver riscos à saúde da população – além da arrecadação de impostos. - 1782 – reestruturação para regulamentar as atividades profissionais ligadas às artes de curar; - Agosto de 1828 – alterou-se a lei de organização sanitária em vigor, atribuíndo às Câmaras Municipais os serviços de higiene e saúde; - Os vereadores deveriam fiscalizar o comércio de medicamentos e o exercício das atividades dos físicos, cirurgiões, boticários, sangradores, barbeiros, dentistas e parteiras. Ainda, deveriam verificar o licenciamento, o registro e a aplicação de multas por infrações. - O vocábulo dentista foi criado pelo cirurgião francês Guy Chauliacna em 1363; - A palavra dentista só passou a constar de um documento público do reino de Portugal no ano de 1800, com a criação de um plano de exames que passou a exigirconhecimentos de anatomia; - 1832 – Portaria do secretário da Academia Imperial de Medicina para impedir que a arte dentária fosse exercida por barbeiros. - Decreto nº 598 de 14/09/1850 – criação da Junta de Higiene – inicia uma nova época nas ciências ligadas à saúde no Brasil, a Odontologia passou a ser disciplinada como uma profissão sanitária; - 1856 – os exames de dentistas passaram a ser oficial e devidamente efetivados pelas Faculdades de Medicina; - Decreto nº 9.311 de 25/10/1884 instituiu o curso de Odontologia nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro; - A odontologia passou a exigir uma formação e titulação em escola profissional superior; - Decreto nº 19.852, de 11/04/1931, tratou da organização da Universidade do Rio de Janeiro, com abrangência para outras escolas e universidades – o documento definia o currículo mínimo exigível para o curso de Odontologia e e transformava em faculdades autônomas – período de 3 anos; - Lei nº 1.314, de 17/04/1951, regulamentou o exercício profissional dos cirurgiões-dentistas, estabelecendo as normas para o exercício profissional dos protéticos. - Lei nº 3.062, de 22/12/1956 – criação do Serviço Nacional de Fiscalização de Odontologia; - A profissão odontológica no Brasil é independente da Medicina e possui regulamentação própria; - Lei nº 4.324, de 14/04/1964, instituiu os Conselhos Federal e Regionais de Odontologia; - Lei nº 5.081, de 24/08/1966, regulamenta o exercício da Odontologia no País. LEI No 5.081, DE 24 DE AGOSTO DE 1966. Regula o Exercício da Odontologia - O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: - Art. 1º. O exercício da Odontologia no território nacional é regido pelo disposto na presente Lei. Do Cirurgião-Dentista - Art. 2º. O exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgião-dentista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida, após o registro do diploma na Diretoria do Ensino Superior, no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, na repartição sanitária estadual competente e inscrição no Conselho Regional de Odontologia sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. Art. 6º Compete ao cirurgião-dentista: I - praticar todos os atos pertinentes a Odontologia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação; II - prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indicadas em Odontologia; III - atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusive, para justificação de faltas ao emprego. (Redação dada pela Lei nº 6.215, de 1975) IV - proceder à perícia odontolegal em fôro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa; V - aplicar anestesia local e truncular; VI - empregar a analgesia e a hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o tratamento; VII - manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação adequadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos específicos de sua especialidade, bem como aparelhos de Raios X, para diagnóstico, e aparelhagem de fisioterapia; VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente; IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça. Art. 7º. É vedado ao cirurgião-dentista: a). expor em público trabalhos odontológicos e usar de artifícios de propaganda para granjear clientela; b) anunciar cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento eficaz; c) exercício de mais de duas especialidades; d) consultas mediante correspondência, rádio, televisão ou meios semelhantes; e) prestação de serviço gratuito em consultórios particulares; f) divulgar benefícios recebidos de clientes; g) anunciar preços de serviços, modalidades de pagamento e outras formas de comercialização da clínica que signifiquem competição desleal. Aula 3: 22/03/2021ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Responsabilidade Civil ► Conceito: ● SÍLVIO RODRIGUES com esteio em SAVATIER assim definia Responsabilidade Civil “a obrigação que incumbe a uma pessoa de reparar o dano causado a outra, por ato próprio ou pelo ato ou fato de pessoas, coisas ou animais a ela ligados”. ● No sentido etimológico exprime a ideia de obrigação, encargo, contraprestação. ● Em sentido jurídico, designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação de um outro dever jurídico. ● Apesar de sua complexidade jurídica, a responsabilidade civil do cirurgião-dentista, em síntese, é o prejuízo de ordem material, moral ou estética que o profissional se vê obrigado a reparar quando, por ação ou omissão, venha a causar ao seu paciente. ►Ato ilícito ● Caráter antijurídico da conduta e o seu resultado danoso. Violação de uma obrigação preexistente. ► Função da responsabilidade civil ● Obrigar o agente, causador do dano, a repará-lo. O dano causado pelo ato ilícito rompe o equilíbrio-econômico anteriormente existente entre o agente e a vítima. Necessidade de restabelecer este equilíbrio, recolocando o prejudicado no statu quo ante (repõe-se a vítima à situação anterior à lesão). ► Classificação a) Quanto ao seu fato gerador ● responsabilidade contratual = se oriunda de inexecução contratual ● responsabilidade extracontratual – resultante da violação de um dever previsto na lei ► Responsabilidade odontológica contratual. Características: ● Tácito – está implícito no atendimento; há necessariamente a anuência do profissional. ● Expresso – fica consignado de forma verbal ou documental. ● Consentido – o paciente tem de aquiescer com o ato que será realizado, salvo em iminente perigo de morte. ● Lícito em seu fim – o objeto do ato do cirurgião-dentista deve estar em consonância com as normas estabelecidas em lei. ● Sinalagmático – deve haver reciprocidade das obrigações assumidas entre o cirurgião-dentista e o paciente. ● Oneroso – o paciente solicita cuidados profissionais e, em contrapartida, remunera o cirurgião-dentista por seus serviços. B) Quanto ao fundamento ● Responsabilidade subjetiva – fundada na culpa ou dolo por ação ou omissão (art. 186). ● Responsabilidade objetiva – baseada na teoria do risco (art. 927, parágrafo único, art. 931 e outros do CC). ●● A responsabilidade civil odontológica caracteriza-se por ser subjetiva e está fundamentada na culpa stricto sensu: negligência, imprudência e imperícia. ●● O paciente vítima tem o ônus de provar que, por meio de uma conduta culposa, o cirurgião-dentista violou um direito, e que dessa violação direta ou indireta veio a surgir um dano, seja a que título for. ●● Na conduta culposa stricto sensu, o agente não possui a vontade de ocasionar qualquer espécie de prejuízo a um terceiro, porém, com seu modo de agir negligente, imprudente ou imperito, causa dano a outrem. ► Responsabilidade ao agente ● Responsabilidade direta: se proveniente da própria pessoa imputada. ● Responsabilidade indireta: promana de ato de terceiro, vinculado ao agente, de fato de animal ou de coisa inanimada sob sua guarda. ► Pressupostos: Sérgio Cavalieri Filho – 3 pressupostos: a) conduta culposa; b) o dano; c) o nexo de causalidade. ●O art. 186 do CC, estatui que: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. - CONDUTA CULPOSA - DANO - NEXO DE CAUSALIDADE ► A ação ou omissão (conduta culposa) ● A ação evidencia que somos responsáveis pelas nossas condutas, devendo conduzir a vida sem causar prejuízos às outras pessoas, caso isso ocorra, estar-se-á sujeito a reparar os danos. ● Tanto a conduta comissiva quanto a omissiva integram o conceito legal de ato ilícito, gerador da responsabilidade civil. ► Ação própria ou de terceiros ● No art. 932 CC, os pais respondem pelosatos dos filhos menores que estiverem sob o seu poder e em sua companhia; o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados; o empregador, por seus empregados, entre outros. ● Há ainda responsabilização por dano causado por animal ou coisa que esta sob sua guarda, conforme previsão nos arts. 936, 937 e 938 do CC. ► O dever de cuidado ● Ao praticar os atos da vida, mesmo que lícitos, o homem deve observar a cautela necessária para que seu atuar não resulte lesão a bens jurídicos alheios. A essa cautela, atenção e diligência convencionou-se chamar de dever de cuidado objetivo. ► Erro de conduta ● Diferentemente do dolo, a culpa não é a vontade de praticar determinado ato ilícito, todavia, o fato de o agente não adotar a conduta adequada, acaba por praticar ato ilícito. Há na culpa, em última instância, um erro de conduta. ► Erro de Diagnóstico ● O erro de diagnóstico é escusável, mas o de conduta não se pode perdoar. ● O erro de diagnóstico faz parte do progresso e do cabedal do conhecimento do cirurgião-dentista e não necessariamente traz maiores consequências ao paciente, mas o erro de conduta pode levar à morte. ► Negligência, imprudência e imperícia ● A falta de cautela exterioriza-se através da negligência, imprudência e imperícia. a) A imprudência é a falta de cautela ou cuidado por conduta comissiva, positiva e por ação. Para o cirurgião-dentista é um ato que resulta de uma ação sem o dever de cautela que ela exige, ou seja, apesar de ter consciência dos riscos e ser conhecedor da ciência que pratica, ele opta por agir precipitadamente e causa dano ao paciente. Ex: Quando os instrumentos não foram devidamente esterilizados e opta em fazer o procedimento assumindo as consequências de uma provável infecção. B) Negligência é a mesma falta de cuidado por conduta omissiva. No atuar do cirurgião-dentista é um ato omissivo que, devido à inércia no agir, provocará um dano ao paciente. O atuar negligente tem por consequência, quase em sua totalidade, a manifestação de resultados negativos prejudiciais ao paciente. Ex: esquecimento de objetos após procedimento invasivo na cavidade oral do paciente; o não requerimento de exames necessários para constatação de possíveis lesões sofridas. C) A imperícia decorre da falta de habilidade no exercício da atividade técnica, caso em que se exige de regra, maior cuidado ou cautela do agente. A imperícia é a deficiência de conhecimento técnicos ou científicos para o exercício de determinado ato. Ex: quebra de agulha na gengiva do paciente durante a aplicação de anestésico. ► Culpa concorrente ● A culpa concorrente ocorre quando, paralelamente à conduta do agente causador do dano, há também conduta culposa da vítima, de modo que o evento danoso decorre do comportamento culposo de ambos. ● Na culpa concorrente, as duas condutas – do agente e da vítima – concorrem para o resultado em grau de importância e intensidade. ► Culpa contratual e extracontratual ● Contratual: se o dever violado tiver por fonte uma relação jurídica obrigacional preexistente (contrato). ● Extracontratual: se o dever tiver por causa geradora a lei ou um preceito geral do Direito. 2. Dano ● O dano é a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a natureza, quer se trate de um bem patrimonial, ou um bem integrante da própria personalidade da vítima, como sua honra, imagem, liberdade, etc. Enfim, o dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral. ● O dano é o grande vilão da responsabilidade civil, ou seja, não haveria que se falar em indenização, ou ressarcimento, se não houvesse o dano. Pode haver responsabilidade sem culpa, mas jamais haverá responsabilidade sem dano. ● Na responsabilidade objetiva, o dano é o elemento preponderante, qualquer que seja a modalidade do risco. ● Sem dano poderá haver responsabilidade penal, mas não a reparação civil. ● A indenização sem dano acarretaria o enriquecimento ilícito. Um patrimônio pode ser prejudicado por dois modos: ► DANO EMERGENTE ● O Código Civil, em seu art. 402, caracteriza o dano emergente como sendo aquilo que a vítima efetivamente perdeu. ► LUCRO CESSANTE ● O lucro cessante é a perda do ganho esperável, na frustração da expectativa de lucro, na diminuição do patrimônio da vítima. ► Dano patrimonial ● O dano patrimonial, também chamado de material, atinge os bens integrantes do patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro. Todavia, nem sempre, o dano patrimonial resulta da lesão de bens ou interesses patrimoniais. ● A violação de bens personalíssimos, tais como, o bom nome, a reputação, a saúde, a imagem e a própria honra, pode refletir no patrimônio da vítima, gerando a perda de receitas ou a realização de despesas. ● O cirurgião-dentista pode ser responsabilizado por seus atos profissionais sem que tenha obrado com culpa, mas jamais poderá ser responsabilizado sem que tenha causado um dano. ► A perda de uma chance ● A perda de uma chance guarda certa relação com o lucro cessante, utilizando-se desta nos casos em que o ato ilícito tira da vítima a oportunidade de obter uma situação futura melhor. ● Caracteriza-se quando, em virtude da conduta de outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria um benefício futuro para a vítima. ► Dano moral ● Conceito negativo = dano moral seria aquele que não tem caráter patrimonial, ou seja, todo dano não-material (por exclusão). ● Conceito positivo = dano moral é dor, vexame, sofrimento, desconforto, humilhação – enfim, dor da alma. ► A prova do dano moral ● O dano moral não admite presunção, portanto deve ser demonstrado nos autos. Todavia, não se pode exigir do ofendido rigor probatório necessário para se demonstrar a ocorrência de danos patrimoniais, uma vez que os danos morais requerem procedimento probatório direto. Seria uma demasia, exigir que a vítima comprovasse a dor, a tristeza a humilhação, através de depoimentos, documentos ou perícia. ► Dano estético ● O dano estético é aquele que atinge o aspecto físico da pessoa, mediante modificação permanente ou duradoura em sua aparência, lesão à beleza física, podendo inclusive prejudicar sua capacidade laborativa. ● Importa em reflexos tanto patrimoniais quanto morais. a) Na esfera patrimonial: cirurgias plásticas, além de prováveis prejuízos profissionais (ex: modelos, atrizes); b) Na esfera moral: diminui a integridade corporal da vítima, sua aparência exterior, podendo causar-lhe humilhações que lhe tragam infelicidade. ► Dano à imagem ● A imagem recebeu tutela expressa no art. 20 do CC: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.” ● A imagem de uma pessoa só pode ser usada mediante autorização do seu titular, com exceção daqueles que aparecem numa fotografia coletiva, a que é feita para atender ao interesse público, com o fito de informar, ensinar, desenvolver a ciência, manter a ordem pública ou a necessária à administração da justiça. 3 Nexo causal ● Para a responsabilização do agente pelo dano ocorrido, é imperativa a comprovação da relação de causa e efeito entre a sua conduta (comissiva ou omissiva) e o resultado lesivo, ainda que o ato praticado ou omitido pelo agente não tenha sido a razão exclusiva da concretização do dano. ● A determinação desse nexo causal torna-se tarefa complexa, quando o evento danoso resulta de mais de uma causa. ● O nexo causal é um elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que podemos concluir quem foi o causador do dano. O nexo de causalidade é elemento indispensável em qualquer espécie de responsabilidade civil. ● Tendo em vista que não foi suficiente a conduta ilícita praticadapelo cirurgião-dentista ou tampouco o dano sofrido pelo paciente, faz-se necessária a vinculação entre a causa e o efeito. Ou seja, a culpa cometida pelo profissional deve ter por consequência a ocorrência de uma dano sofrido pelo paciente. ► Excludentes do nexo de causalidade ● Causas de exclusão do nexo causal, são casos de impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não imputáveis ao devedor ou agente. A) Fato exclusivo da vítima ● Ocorre quando o dano suportado pelo paciente guarda relação direta ou indireta e exclusiva com a sua ação ou omissão, ou seja, o comportamento do paciente é decisivo para o resultado danoso. ● O CDC, em seus arts. 12 § 3º, III, e 14, § 3º, II, inclui expressamente a culpa exclusiva do consumidor entre as causas exonerativas da responsabilidade do fornecedor. B) Fato de terceiro ● Terceiro é qualquer pessoa além da vítima e do responsável, além de não ter nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o lesado. ● Às vezes, o ato de terceiro é a causa exclusiva do evento. C) Caso fortuito e força maior ● Caso fortuito: evento imprevisível e, por consequência, inevitável, sendo superior às forças e/ou vontades do agente. Ex: o standart (padrão, modelo) do cirurgião-dentista diligente. ● Força maior: é o evento previsível, porém inevitável, superior à vontade ou ação do agente (forças da natureza). ● Ambos os casos estão fora dos limites da culpa. Fala-se em caso fortuito e força maior, quando se trata de acontecimento que escapa a toda diligência, inteiramente estranho à vontade do agente. ●● Previstos na parte relativa ao inadimplemento das obrigações – disposições gerais, art. 393: “O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado”. Direito à Informação e Consentimento Livre e Esclarecido ● Respeito ao princípio da autonomia do paciente X postura paternalista secular. ● Código de Nuremberg – primeiro texto de salvaguarda dos direitos dos paciente ao declarar, em seu art. 1º, que o consentimento voluntário do sujeito humano é absolutamente essencial. ● O respeito e a confiança do paciente em relação ao profissional não lhe retira a autonomia; o profissional tem por dever ético e legal ajudar o paciente a decidir sobre o que deve ser feito, jamais deve obrigá-lo ou coagi-lo. ● Respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. CF, Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; ● Ausentes quaisquer dos quatro elementos, não se podem assegurar, em sua plenitude, os efeitos jurídicos da obtenção do consentimento livre e esclarecido. ● Sempre que houver mudanças significativas nos procedimentos terapêuticos, deve-se obter novo consentimento ou respeitar a revogação do consentimento anteriormente dado. ► Prescrição ● O Código Civil de 2002 instituiu prazo específico para a ação de reparação de danos - três anos (CC, art. 206, § 3º, V). ● O Código de Defesa do Consumidor prevê o prazo de cinco anos para a responsabilidade civil por fato do produto e do serviço (CDC, art. 27). ► Obrigações de Meio e de Resultado Base legislativa (art. 951 do CC, art. 14 § 4º do CDC) ● Art. 951 do CC: “O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. ● Art. 14 § 4º do CDC: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação da culpa”. ● Obrigação de meio: não se pode imputar ao cirurgião-dentista o dever de obter sempre o resultado esperado pelo paciente, mormente quando em casos que necessitam de colaboração direta do paciente em razão das prescrições odontológicas ou de fatores endógenos. ● A frustração no escopo do tratamento não caracteriza inadimplemento da obrigação, tampouco enseja dever de indenizar. ● Na obrigação de meio, tem o cirurgião-dentista compromisso de aplicar todo seu empenho no tratamento, utilizando todos os meios científicos e tecnológicos, além dos conhecimentos pessoais, para alcançar o pleno restabelecimento do bem-estar físico, psíquico e social do paciente. ● O objeto do contrato é o atuar zeloso, com a aplicação da melhor técnica profissional. ● Na obrigação de resultado, o profissional, por força contratual, está obrigado a alcançar um determinado fim, devendo responder pelas consequências decorrentes de seu descumprimento. ● O cirurgião-dentista se vê obrigado a alcançar determinado fim sem o qual não terá cumprido sua obrigação; ou alcança o resultado pré-determinado, ou deverá responder pelas consequências do seu inadimplemento. ● Obrigação de meio: a finalidade é a própria atividade do profissional. ● Obrigação de resultado: será o resultado da ação. A importância do Bom Relacionamento entre o Cirurgião-Dentista e o Paciente ● Ao olhar para o paciente, deve, por princípio, o cirurgião-dentista enxergá-lo como um ser de corpo e alma. ● Convivência harmoniosa entre a arte odontológica e o relacionamento humano, até porque estatísticas demonstram que o bom relacionamento entre o profissional e o paciente é o caminho para a satisfação das partes ao final do tratamento. ● É importante consignar que, nem sempre a negligência, imprudência ou imperícia são as causas determinantes dos processos relacionados ao cirurgião-dentista, mas também pela falta de informações pertinentes ao tratamento, ignorando os pacientes. CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor: III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; Aula 4:
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