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UNIVERSIDADE TIRADENTES ARQUITETURA E URBANISMO ANA CLARA CAMPOS RABELO ARQUITETURA SENSORIAL Aracaju - SE 2020.1 ANA CLARA RABELO ARQUITETURA SENSORIAL Pesquisa apresentada no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes, como pré-requisito para a obtenção da nota relativa a Avaliação da Unidade II da disciplina de Teoria e Crítica da Arquitetura e da Cidade IV, orientada pela professora Talita de Azevedo Déda. Aracaju-SE 2020.1 INTRODUÇÃO Nós, seres humanos, temos um sistema biológico sensorial dotado de células especiais chamadas receptores, que captam estímulos e informações do ambiente. Assim, nossos receptores estão expostos em todos os momentos. Ou seja, ajudando-nos a perceber e a sentir os lugares aonde vamos. Na arquitetura, existe uma metodologia chamada arquitetura sensorial, Peter Zumthor, Juhani Pallasmaa e John Ruskin, são uns dos principais pensadores dessa chamada Arquitetura. Os três defendem o mesmo ponto, onde essa natureza não é apenas um fenômeno que se percebe pelo estímulo visual; é importante que os espaços projetados sejam eles públicos ou privados estimulem outros sentidos também, não só a visão, para que saibamos compreendê-los e vivenciá-los. De acordo com a visão de Pallasmaa (2005), pode-se notar que a arquitetura contemporânea é contemplada somente baseada no sentido da visão,em detrimentos dos outros sentidos. Estes sentidos têm sido excluídos pela cultura da sociedade ocidental moderna, esquecendo das qualidades sensoriais e das artes que a arquitetura poderia englobar. (Junior, 2018) E ainda afirma o autor que a visão era considerada desde muitos anos atrás como o principal sentido humano, por consequência disso quem projetava não se atendia aos demais sentidos, tornando às vezes, através de suas ideias um ambiente impessoal e estéril. A metodologia projetual influencia no comportamento e no bem estar do usuário em qualquer local, seja interno como externo, são uma série de fatores que interfere diretamente nesse aspecto, como: os ruídos que ouvimos, as imagens que vemos, a temperatura que sentimos, entre outros. Há cinco sentidos básicos aplicados nesse tipo de arquitetura (visão, olfato, tato, audição e paladar) que foram utilizados como recursos para aumentar a atenção e perceber a importância da arquitetura sensorial e como ela é crucial na conexão entre homem e o espaço para aqueles que projetam e tem uma linha de pensamento mais sensíveis. Essa estrutura usa da organização do espaço dos seus elementos, desde a escolha de terreno e dos materiais de construção até a locação de mobiliário para criar uma narrativa coesa e coerente do que aquele espaço quer disseminar a quem o habita (habitar aqui significa utilizar, estar inserido na arquitetura) ( Tavares,2019). Andar por esse campo sensorial significa também explorar o significado das coisas, e que o significado não está contido nas coisas em si, mas na consciência do sujeito que passa pela experiência sensorial. A força emocional está, portanto, “nas imagens transmitidas pelas coisas e não nas coisas mesmas” (KRPA, 2012, p.14). Sentidos e sensações são despertados a todo momento quando se habita ou visita um lar no qual é projetado em cima de características, necessidades e sentimentos de quem ali vai residir, a metodologia projetual da arquitetura sensorial abrange a todo tipo de pessoas, e ultimamente vem-se trabalhando com essa perspectiva para a inclusão de grupos de pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade física, motora ou psicológica, tornando assim o ambiente mais acolhedor e proporcionando a quem visita ou a quem habita uma experiência sensorial única. A exemplo disso se tem A casa dos sentidos, o qual foi um projeto social idealizado ao público em geral, mas seu principal objetivo é aproximar crianças autistas, trazendo de forma artística interativa e sensitiva inspirada pela arte a visão de mundo dessas pessoas que têm grande dificuldade de se comunicar e interagir. A casa foi dividida de forma que cada ambiente pudesse representar e aguçar um dos sentidos (visão, olfato, audição e paladar). DESENVOLVIMENTO Na residência que fica localizada na cidade de Canudos, no interior da Bahia em uma área na qual permanece afastada do centro, é completamente carregada de sensações e de evocação de recordações, essas duas perspectivas estão diretamente ligadas a metodologia da arquitetura sensorial no espaço construído. Tanto interna como externamente ela é dotada de sentidos perceptivos, signos representativos e elementos determinantes para a percepção do espaço como ventilação, iluminação, texturas, função entre outros. Os sentidos perceptivos na arquitetura são aqueles que nos conseguem despertar sensações únicas ao adentrar em um ambiente, que pode ser por meio da visão, tato, olfato, audição e paladar. A análise realizada nesta residência foi feita de ambiente por ambiente através da planta baixa e da perspectiva da mesma (IMAGEM 1 e 2). IMAGEM 1 - PLANTA BAIXA FONTE: DO AUTOR Na cor lilás se encontra a sala de estar e o corredor que dá acesso a alguns quartos, a sala é um ambiente totalmente ventilado e iluminado naturalmente, as suas aberturas se dão para a varanda que é uma área bem arborizada e tem uma belíssima paisagem, de lá, pode-se ouvir os cantos do passarinhos e as árvores balançando a quase todo momento. é um ambiente de permanência prolongada, na qual geralmente a familia se reune durante a noite, horário onde todos estão em casa. É um ambiente bem aconchegante, com uma cerâmica no tom de amarelo queimado que dá uma característica de uma residência retrô e atípica para os moradores da casa. O tato e a audição são os sentidos mais aguçados nessa ambiência, por meio de sentirmos os objetos ali presentes como eles realmente são, e de acordo com o pensamento de Pallasmaa em relação a audição, recorda em leitura que torna claro a capacidade do ser humano construir mentalmente associações com experiências auditivas vividas anteriormente. Já no corredor no qual é um ambiente de pouquíssima permanência não tem iluminação natural, é caracterizado simbolicamente por um aparador de fotos da família e também é ladeado por porta retratos nas paredes, dando a este ambiente uma característica sensorial única e a avocação de recordação. Na cor laranja encontra-se os quartos, os mesmo, assim como a sala de estar são bem ventilados e iluminados naturalmente durante o dia, as suas aberturas generosas de janelas antigas de madeira também se dão para a varanda, exceto o quarto 2 que tem um grande basculante de vidro de bolinhas, uma característica única dele, aberto para a área de serviço. Um dos elementos determinantes que caracterizam os quartos 1, 2 e 3 é o piso em lajota que dão a este ambiente a sensação de serem mais frios, juntamente com a pintura da parede no tom bege, entretanto os sentidos despertados ao entrar nesses quartos são olfato e tato, pois neles têm-se um cheiro único que vem de uma árvore de castanhola, localizada ao lado esquerdo na varanda, no entanto, neles se sente a sensação de que realmente se está em casa, longe do cheiro comum de apartamento e de fumaça oriunda de carros nos trânsitos de cidade grande. Além de tudo isso, este cheiro lembra uma pessoa da família que já faleceu. Tornando-o singular para quem ali habita. Quando se está pisando na sala e entra para os quartos já se sente a mudança de temperatura da superfície, ao pisar no quartos descalços o chão é frio, sendo assim o sentido aguçado naqueles ambientes também é o tato. Já nos quartos 4 e 5 o piso não é o mesmo, tornando-os diferentes dos demais, o quarto 4 tem uma característica única, nele tem uma porta, na qual fica aberta durante o dia e essa porta dá para a área de lazer, logo tem um pé de manga que possibilita ainda mais a ventilação do quarto e o cheiro da fruta quando é época do pé de árvore dar frutos, faz recordar as lembranças de infância das filhas dos donosda casa. É o maior quarto da residência, sendo ele dos donos da mesma, nele tem um guarda-roupa antigo de madeira que também exala um cheiro de lembranças. Ele é marcado simbolicamente por um grande espelho antigo e carregado de recordações da família que ali habita. Na cor azul se encontra a cozinha, um cômodo com um tamanho generoso e de aberturas de janelas também de grandes tamanhos, tornando o ambiente bem ventilado e também por estar perto de duas grandes árvores, mas geralmente as aberturas ficam fechadas para se poder cozinhar, o piso da cozinha é diferente dos demais da casa, é uma cerâmica branca com cinza no qual dá uma sensação de um ambiente tranquilo. Neste cômodo, o sentido mais aguçado é o paladar, pois o dono da casa gosta muito de cozinhar, por isso, cheiros diferentes são sentidos nessa ambiência. Um símbolo que é marca registrada daquela cozinha é um balcãozinho de madeira onde se encontra muitos doces como rapadura, nego bom, quebra-queixo entre outros, está aí uma coisa que nunca falta nessa cozinha. Esse grande espaço verde é a área de lazer, um ambiente semiaberto marcado por boas reuniões de famílias e amigos, local de pura diversão. É um cômodo simples sem revestimentos variados, o piso é de cimento queimado e as paredes também são pintadas num tom bege, nele encontra-se diferentes tipos de plantas que dão a este ambiente uma paz e um ar de sossego. Os sentidos perceptivos afunilado na área de lazer são quase todos, a visão que nos dá acesso a luz natural, ajudando-nos a manter o ritmo biológico , fazendo também a relação de cores/tons, texturas entre outros, o olfato por meio do cheiro do pé de manga e as outras plantas que ali se encontram, a audição por conta dessas árvores que balançam e fazem um barulho característico e por fim o tato, sentido que nos permite sentir os objetos e superfícies como realmente eles são. A característica marcante dessa área é o grande pé de manga, onde as filhas dos donos da casa brincaram toda a infância com primos e amigos, dando a esse ícone um forte significado e carregando-o de valor e sentimentos. A área de serviço na cor rosa é um ambiente também semiaberto, sua característica é ser frio, pode ser pelo fato de estar sempre molhado e assim o tornando frio em relação aos outros ambientes, o olfato é o sentido que se sobressai nessa ambiência, pelo fato de estar sempre com produtos de limpeza por perto e assim fazer com que esse sentido aguçe. A área amarela é a varanda, considera-se a melhor parte da casa, pelo fato de ser um cômodo semiaberto e estar diretamente ligada com o lado externo, esta adjacência proporciona a quem ali ficar conforto e aconchego, é uma área bem ventilada e iluminada naturalmente que exibe uma linda paisagem, proporcionando ainda ao ambiente mais aconchego aos moradores da casa. O principal sentido aguçado nessa área é a visão, pois quem olha para aquela paisagem se encanta e não se cansa de olhar. São despertados também o tato, olfato e audição, todos esses sentidos por meio do vento que toca na pele, dos cheiros vindo das plantas, os sons vindo dos pássaros entre outros que formam um conjunto de boas sensações. IMAGEM 2 - PERSPECTIVA FONTE: DO AUTOR] IMAGEM 3 - VARANDA IMAGEM 4 - VARANDA FONTE: DO AUTOR FONTE: DO AUTOR IMAGEM 5 - JANELA DA SALA IMAGEM 6 - VARANDA FONTE: DO AUTOR FONTE: DO AUTOR CONCLUSÃO Através do estudo realizado pode- se perceber a transcendência que a arquitetura sensorial pode possibilitar a qualquer espaço, seja ele público ou privado. Esta metodologia proporciona ao ser humano viver sensações únicas no ambiente em que ele estará inserido. Atestando de que modo o usuário, meio ambiente e arquiteto podem se relacionar para fazer parte de um projeto arquitetônico, tornando-o mais agradável, sensível, confortável para seus habitantes. REFERÊNCIAS http://168.197.92.160/bitstream/handle/10899/21081/JULIA%20COELHO.pdf?sequence=1& isAllowed=y https://www.google.com/search?q=arquitetura+sensorial+e+memoria&oq=arquitetura+senso rial+e+memoria&aqs=chrome..69i57.13990j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8# https://portalrevistas.ucb.br/index.php/CAU/article/view/11178 http://www.kubearquitetura.com.br/blog/arquitetura-sensorial.htm
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