Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Zeca Gonçalves - UNIFACS Angina pectoris e doença cardíaca isquêmica estável A angina pectoris geralmente é uma consequência de um desbalanço oferta/consumo entre uma atividade que aumenta a carga de trabalho ou “consumo”, o que resulta em um aumento na frequência cardíaca, pressão arterial ou ambos e na incapacidade de as artérias coronárias epicárdicas estreitadas (Capítulo 57) aumentarem o fluxo anterógrado ou “oferta” em resposta a este aumento no consumo. Tal desequilíbrio classicamente resulta em desconforto torácico (Capítulo 50) de intensidade e duração variáveis. A angina pectoris é geralmente definida como um desconforto no tórax ou áreas adjacentes causado por isquemia miocárdica. Classificação da Angina Pectoris: A escala de gradação da angina da Canadian Cardiovascular Society (CCS) é uma escala ordinal de quatro pontos amplamente usada que classifica a angina pectoris de branda (classe I: angina ocorrendo apenas durante a atividade física excessiva ou prolongada) à grave (classe IV: incapacidade de realizar qualquer atividade sem angina, ou angina em repouso) e inclui o espectro completo da angina de crônica estável a instável. Operacionalmente, a escala da angina da CCS permite que os médicos categorizem pacientes como brandos ou estáveis (geralmente classes I e II da CCS) versus graves ou instáveis (normalmente classes III e IV da CCS). Fisiopatologia: A angina é a expressão clínica mais frequente da isquemia miocárdica. A isquemia, que rapidamente se desenvolve quando surge um desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio do miocárdio, pode se manifestar clinicamente de muitas maneiras diferentes além de angina, desde ser assintomática (isquemia silenciosa) até angina instável, IAM ou morte súbita. Ela pode permanecer estável por muitos anos em pacientes selecionados ou pode ser rapidamente progressiva com uma mudança abrupta na frequência e intensidade ao longo de dias a semanas. A aterosclerose, a causa mais comum de isquemia miocárdica, pode evoluir durante anos sem manifestações de isquemia. Na maioria dos pacientes com cardiopatia isquêmica estável, o processo da aterosclerose envolve uma histopatologia essencialmente diferente (pequenos núcleos lipídicos com uma capa fibrosa espessa ou muito espessa e uma baixa tendência à ruptura) em comparação à SCA ou angina instável, em que o principal quadro histopatológico é de um grande núcleo lipídico com uma capa subjacente fina e inflamada, que abriga as placas vulneráveis ou de alto risco com alta propensão à ruptura. Dois mecanismos patogênicos principais podem resultar em isquemia miocárdica e angina no cenário crônico: a chamada angina de consumo, que é causada por um aumento no consumo miocárdico de oxigênio e da carga de trabalho e a angina de oferta, que é causada pela diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos do miocárdio. Embora a causa mais comum de cardiopatia isquêmica seja o estreitamento aterosclerótico das artérias coronárias epicárdicas resultando em obstrução limitante de fluxo ao fluxo sanguíneo, a doença arterial coronariana obstrutiva também pode ter causas não ateroscleróticas, tais como anormalidades congênitas das artérias coronárias vasoespasmo, ponte miocárdica, arterite coronária em associação com vasculites sistêmicas e doença coronariana induzida por radiação. Isquemia miocárdica e angina pectoris também podem ocorrer na ausência de doença arterial coronariana obstrutiva, como no caso de doença da valva aórtica, miocardiopatia hipertrófica e cardiomiopatia dilatada idiopática. Além disso, a cardiopatia isquêmica pode coexistir com essas formas de doença cardíaca. Manifestações clínicas Histórico: É importante reconhecer que há muitas causas de dor torácica, que a dor torácica semelhante à angina pode não representar doença cardíaca isquêmica, que a cardiopatia isquêmica provoca outros sintomas além de dor anginosa e que anormalidades não ateroscleróticas da artéria coronariana podem causar dor torácica isquêmica. A angina pectoris apresenta quatro características clínicas cardinais: o caráter do desconforto, seu local e distribuição, sua provocação e sua duração. O caráter de desconforto anginoso é tipicamente descrito como uma pressão que transmite uma sensação de estrangulamento e ansiedade. Em alguns pacientes, a qualidade da sensação é mais vaga e atípica (frequentemente em mulheres e pacientes idosos) e estes pacientes podem descrever o desconforto como uma sensação de queimação no epigástrio médio, ou como uma sensação desconfortável de dormência. O local e a distribuição do desconforto anginoso são predominantemente médioesternais ou retroesternais, mas podem ser precordiais. Radiação é comum. Provocação da angina é classicamente causada por esforço ou atividade física, estresse emocional, exposição ao frio, intercurso sexual ou ingestão de uma lauta refeição. A angina, que ocorre em repouso ou noturnamente, prenuncia muitas vezes uma mudança no padrão de estável para instável e pode indicar que há uma ruptura incipiente da placa que leva à SCA. A angina vasoespástica (ou de Prinzmetal) pode ocorrer espontaneamente em repouso ou noturnamente sem provocação. A duração típica de um episódio de angina pectoris é breve. Um episódio geralmente começa gradualmente e atinge sua intensidade máxima ao longo de um período de minutos antes de regredir. É incomum que a angina pectoris atinja sua intensidade máxima e mínima em menos de um minuto e é comum que os pacientes com angina ao esforço geralmente prefiram repousar, sentar ou parar de andar durante os episódios precipitados pela atividade física. Desconforto torácico que persiste por mais de 15 a 20 minutos, especialmente em repouso ou à noite, provavelmente representa SCA ou IAM. A angina pectoris típica geralmente é aliviada dentro de minutos com repouso ou uso de nitroglicerina sublingual, oral ou cutânea. A resposta à nitroglicerina sublingual geralmente é uma ferramenta diagnóstica útil, embora deva ser enfatizado que algumas dores não cardíacas (p. ex., espasmo esofágico) também podem responder à nitroglicerina. Apesar de o desconforto torácico ser geralmente o sintoma predominante na angina (estável) crônica, na angina instável, na angina (variante) de Prinzmetal, na angina microvascular e no IAM, em alguns pacientes, o desconforto torácico está ausente, é atípico ou não proeminente. Pacientes com cardiopatia isquêmica crônica podem queixarse predominante ou exclusivamente de dispneia, diminuição da tolerância ao exercício ou fraqueza. Outros pacientes podem apresentar um resultado anormal de teste ergométrico ou outras evidências de isquemia miocárdica sem quaisquer sintomas. Alguns pacientes irão se apresentar com arritmias cardíacas ou mesmo morte cardíaca súbita. Exame Físico: Muitos pacientes com doença cardíaca isquêmica estável apresentam exame físico normal, mas um exame físico diligente pode revelar achados que representem as consequências da isquemia miocárdica ou evidências de fatores de risco para doença arterial coronária. A inspeção dos olhos pode revelar um arco corneano e o exame da pele pode mostrar xantomas. Alterações arteriolares da retina são comuns em pacientes com doença arterial coronária que têm hipertensão ou diabetes melito. O exame cardíaco geralmente é de benefício limitado na avaliação de pacientes com dor torácica ou no estabelecimento de um diagnóstico de cardiopatia isquêmica. Durante um episódio de desconforto torácico, a isquemia miocárdica pode produzir uma terceira ou quarta bulha cardíaca. Diagnóstico e avaliação: Além de uma cuidadosa anamnese e exame físico, a avaliação de pacientes com cardiopatia isquêmica estável inclui o ECG de 12 derivações, a mensuração de marcadores inflamatórios e bioquímicos e testes diagnósticos não invasivos. O primeiro objetivoé avaliar a probabilidade de isquemia, de modo que uma avaliação adequada pode agilizar a terapia eficaz Eletrocardiograma em Repouso: Embora possam ser encontradas alterações focais com depressão do segmento ST e inversão de onda T no ECG em repouso de pacientes com doença cardíaca isquêmica crônica, mesmo pacientes com doença arterial coronariana anatômica extensa podem ter um traçado normal em repouso. Além da isquemia miocárdica, outras condições que podem produzir alterações de ST–onda T incluem hipertrofia e dilatação ventricular esquerda devidas à hipertensão de longa duração e doença valvar cardíaca (p. ex., estenose aórtica, miocardiopatia hipertrófica), anormalidades eletrolíticas, efeitos neurogênicos e drogas antiarrítmicas. A presença de novas alterações de ST–onda T no ECG em repouso, no entanto, pode ser útil para o diagnóstico de doença arterial coronária e pode se correlacionar com a gravidade da doença cardíaca subjacente. Exames Laboratoriais: Em pacientes com angina de início recente, ou agravamento dos sintomas, a dosagem de troponina pode distinguir IAM e SCA de doença cardíaca isquêmica estável. Todos os pacientes com angina crônica devem ter avaliação bioquímica de colesterol total, lipoproteína de baixa densidade (LDL) do colesterol, lipoproteína de alta densidade (HDL) do colesterol, triglicerídeos, creatinina sérica (filtração glomerular estimada) e glicemia em jejum. Testes não Invasivos: A realização de testes não invasivos para avaliação de isquemia miocárdica utilizando o teste ergométrico (em esteira ou bicicleta), a cintilografia de perfusão miocárdica com estresse, o ecocardiograma com estresse ou outras modalidades de diagnóstico mais recentes, como a ressonância magnética cardíaca ou tomografia com emissão de pósitrons é uma abordagem útil e clinicamente importante para o estabelecimento do diagnóstico e prognóstico em pacientes com cardiopatia isquêmica estável. Cada teste não invasivo tem uma sensibilidade e especificidade que, quando combinadas com uma probabilidade pré-teste do paciente , podem produzir uma probabilidade pós- teste de doença arterial coronária. A escolha entre os testes depende das características do paciente. Eletrocardiograma de Esforço: Um ECG de esforço é o exame preferido nos pacientes com suspeita de angina pectoris e considerados com uma probabilidade moderada de doença arterial coronária se o ECG em repouso for normal (i. e., os segmentos ST não são obscurecidos por doença cardíaca estrutural ou medicação), desde que os indivíduos sejam capazes de atingir uma carga de trabalho adequada. Cardiologia Nuclear: A cintilografia de perfusão miocárdica de esforço usando tomografia computadorizada com emissão de fóton único (SPECT) com exames eletrocardiográficos simultâneos é particularmente útil no diagnóstico de doença arterial coronária em pacientes com ECGs de repouso anormal e naqueles em que as respostas do segmento ST não podem ser interpretadas com precisão, tais como os pacientes com anormalidades de repolarização causadas por hipertrofia do VE, aqueles com bloqueio de ramo esquerdo e aqueles que recebem digital. Ecocardiograma com Estresse: O ecocardiograma bidimensional com estresse com exercício ou estresse farmacológico pode detectar isquemia regional identificando novas anormalidades de movimento da parede. Ressonância Magnética Cardíaca com Estresse: pode fornecer capacidade diagnóstica adicional para a detecção de presença de doença cardíaca estrutural, além de suspeita de doença arterial coronária. A RNM de coração com realce tardio com gadolínio é o meio mais preciso para diagnosticar uma cicatriz de um IAM prévio. Radiografia de Tórax: A menos que não haja histórico de IAM prévio, insuficiência cardíaca ou doença cardíaca estrutural, a radiografia de tórax é geralmente normal em pacientes com angina crônica ou doença cardíaca isquêmica estável. Angiotomografia de Artérias Coronárias: A angiotomografia de artérias coronárias é um método extremamente sensível para detectar calcificação coronariana, que está fortemente associada à aterosclerose coronariana e também pode fornecer angiografia não invasiva das artérias coronárias proximais. Cineangiocoronariografia Diagnóstica: A cineangiocoronariografia permanece o padrão-ouro para a definição anatômica de doença arterial coronária. Diagnóstico Diferencial da Angina: - Desconforto esofágico - Costocondrite - Hipertensão Pulmonar - Pericardite Outras Síndromes Anginosas Angina Variante ou Angina de Prinzmetal : O diagnóstico da angina variante ou de Prinzmetal é baseado na documentação de elevação transitória do segmento ST durante um episódio de dor torácica na ausência de uma estenose coronariana grave e fixa. Em geral, a angina variante de Prinzmetal é causada por um espasmo oclusivo superposto a uma estenose não grave de artéria coronária. Zeca Gonçalves - UNIFACS
Compartilhar